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Capítulo XV-

Memorial do
Convento
Trabalho elaborado por:
-Miguel Rodrigues Nº14
Enquadramento na Obra

 A obra Memorial do Convento caracteriza-se pela


existência de duas narrativas simultâneas: uma de
carácter histórico (a construção do convento de
Mafra), a intriga principal e outra ficcionada (a
construção da passarola que engloba a história de
amor entre Baltasar e Blimunda) que corresponde
à intriga secundária.

 Capítulo XV corresponde a um excerto da intriga


secundária.
Contextualização

 D. João V manda vir de Itália o maestro


barroco Domenico Scarlatti, a fim de dar
lições de música à sua filha, a Infanta D.
Maria Bárbara. Scarlatti e Bartolomeu
tornam-se amigos, uma vez que partilham as
mesmas ideias e sonhos. O padre leva o
músico a S. Sebastião da Pedreira onde lhe
mostra o seu segredo (a Passarola). Nessa
visita Scarlatti fica a conhecer Baltasar e
Blimunda estabelecendo-se entre eles um elo
de amizade. Antes de se retirar, Scarlatti
promete voltar e trazer o cravo.
Estrutura Interna

 O contributo do “saber artístico” de Scarlatti na construção da


passarola;
 A conclusão da “obra” /Concretização do sonho resultante da
conjugação de saberes e esforços.
Resumo do Capítulo

 Análise do sermão de Bartolomeu Lourenço por parte de consultores do Santo


Ofício, acabando por passar na censura.
 S. Sebastião da Pedreira recebe o cravo de Scarlatti.
 Vontade de Scarlatti voar na passarola e tocar no céu.
 Ida de Baltasar e Blimunda a Lisboa (dominada pela peste), à procura de vontades.
 Doença estranha de Blimunda, após a recolha de duas mil vontades.
 Apoio de Baltasar e recuperação de Blimunda após audição da música de Scarlatti.
 Encontro do casal com o padre Bartolomeu de Lourenço, no Terreiro do Paço
 Remorsos de Bartolomeu Lourenço por ter colocado Blimunda em perigo de vida.
 Vontade de Bartolomeu Lourenço informar o rei de que a máquina está pronta, não
sem a experimentar primeiro.
Recolha de Vontades

Vontade - componente da nossa espiritualidade que não nasce connosco mas que está
subjacente aos nossos sonhos e objetivos; é o que nos dá animo; combustível dos
nossos esforços.

 Quando doentes ou debilitados, diminui essa vontade/garra;


 Ao morrermos a(s) vontades abandonam-nos, por isso Blimunda recolhe as
vontades, a pedido do padre, na situação de epidemia em Lisboa;
 Ato herege, condenado pela Igreja.
Caracterização das Personagens
0
02 03
1

Blimunda Sete- Padre Bartolomeu Domenico


Luas e Baltasar Lourenço de Gusmão Scarlatti
Sete-Sois
01

Blimunda Sete Luas e Baltasar Sete


Sóis
 As características destas duas personagens, que correspondem aos protagonistas da
intriga secundária, são transversais a toda a obra;
 Neste capítulo destaca-se a intensidade como algumas dessas características se
manifestam:
 A generosidade, disponibilidade e empenho de Blimunda na “recolha de vontades”
solicitada pelo padre Bartolomeu Lourenço;
 O altruísmo, a abnegação manifestados por Baltazar ao acompanhar Blimunda na
“recolha de vontades” assim como na doença que a assolou no regresso de Lisboa.
02

Padre Bartolomeu Lourenço

 Personagem multifacetada (padre, académico, inventor, sonhador);


 A conjugação desta heterogeneidade nem sempre foi pacífica já que o “académico”
ignora os fanatismos religiosos e sempre contestou princípios dogmáticos da Igreja;
 Este capítulo evidência muitas dúvidas e atitudes de Bartolomeu Lourenço pouco
coerentes com a sua posição de clérigo:
1. a obsessão por concretizar o seu sonho não o inibe de recorrer às capacidades
heréticas de Blimunda e em expô-la aos perigos da epidemia, na “recolha de
vontades”;
2. o sentimento de culpa relativamente à doença de Blimunda é acompanhado de muitas
dúvidas e incertezas acerca de Deus, revelando uma fé cada vez mais abalada;
03

Domenico Scarlatti

 Exerceu as funções de mestre-de-capela e professor da Casa Real de 1720 a 1729;


 Apesar de contratado pelo rei, revela liberdade de espírito suficiente para
acompanhar em segredo o projeto da passarola voadora tendo contribuído, com a
sua música, para a cura de Blimunda;
 Tal como Bartolomeu Lourenço, esta figura, embora ficcionada em “Memorial do
Convento”, existiu na vida real.
Relação entre Personagens
0
02 03
1

Blimunda Sete- Padre Bartolomeu Domenico Scarlatti /


Luas e Baltasar Lourenço de Gusmão Tríade
Sete-Sois / Casal
01

Blimunda Sete Luas e Baltasar Sete


Sóis

 Blimunda e Baltazar constituem um casal que vive um


amor sem regras, natural e instintivo. Ele tranquiliza-a
na sua maldição de ver por dentro, enquanto ela o ajuda
na carência da sua mão, completando-se um ao outro,
formando uma união perfeita.
02

Padre Bartolomeu Lourenço / Casal

 O padre Bartolomeu Lourenço mantém laços de


profunda amizade com Baltasar e Blimunda, formando
o trio que vai pôr em prática o sonho de voar, e com
quem, segundo as suas palavras, formam “uma trindade
terrestre, o pai, o filho e o espírito Santo”. Assim, o
trabalho físico e artesanal, de Baltasar, liga-se à
capacidade mágica de Blimunda e aos conhecimentos
científicos do padre.
02

Domenico Scarlatti / Tríade

 Scarlatti é cúmplice silencioso do projeto da passarola. A empatia e


amizade espontânea que estabelece com as outras três personagens
justificam o seu contributo artístico (musical) quer na conclusão da
passarola quer na superação da doença que atingiu Blimunda.
Conjugação de Saberes

Padre Bartolomeu
Lourenço (saber científico /
técnico)

Domenico
Scarlatti
(saber artístico)

Baltasar Sete- Blimunda Sete-


Sois (saber Luas
artesanal) (saber sobrenatural)
Aspetos simbólicos importantes

 Passarola - traduz a harmonia entre o sonho e a sua realização. Graças ao


sonho, foi possível juntar a ciência, o trabalho artesanal, a magia e a arte,
para construir a obra.

 Número 4 - está associado à transgressão religiosa já que a junção de um


quarto elemento, Domenico Scarlatti, faz com que se deixe o número divino
(três) para se passar ao símbolo da totalidade e à imagem da Terra.
Espaço

 Físico  Psicológico (Sonho / pensamentos /


memórias)
 Abegoaria – Quinta do Duque de  Neste capítulo o sonho das personagens é
Aveiro em S. Sebastião da Pedreira comum, o mesmo que partilham acordados
(onde se construía a Passarola); com o Padre Bartolomeu (construção da
 As casas dos doentes de Lisboa, ao Passarola) confirma o profundo
logo de toda a cidade (onde Baltasar e envolvimento de todos naquela obra.
Blimunda foram recolher vontades);
 Terreiro do Paço (onde Baltasar e
Blimunda se encontram com o padre
Bartolomeu Lourenço).
O Papel da Música

 A música é a mais aérea de todas as artes conhecidas


e vem, através de Scarlatti integrar a realização plena
da passarola acrescentando-lhe a componente estética
que lhe faltava. A convite do padre Bartolomeu é
aceite pela tríade, passando a participar, com
regularidade, no processo de construção
acompanhando com música.

 A música de Scarlatti vem mostrar o seu poder


curativo, o seu valor sobrenatural, tirando Blimunda
do estado de profunda inconsciência em que se
encontrava.
Tempo
 Tempo histórico: decorre no sec. XVIII

 Tempo da história (tempo em que decorre a ação, real e ficcionada):


 Tem duração de 28 anos;
 O cap. XV decorrerá no ano de 1720 e corresponderá, no mínimo a 2 meses,
 Com base em referências, nomeadamente:
 o sermão criticado mas não censurado pela inquisição;
 o facto de Scarlatti ter sido professor na Casa Real de 1720 a 1727
Narrador
Participação - geralmente, heterodiegético, sendo,
pontualmente homodiegético. Ex:.”…nós que da verdade
conhecemos parte maior…”
Posição – objetivo, mas manifestando, pontualmente,
subjetividade. Ex:.”…não faltava mais nada verem eles a
maquina de voar…”
Ponto de vista – omnisciente e interno
Figuras de estilo
 Metáfora – “As pessoas que encontravam no caminho eram arcas fechadas…”
 Comparação – “…ela sofrendo de uma insuportável náusea, como se regressasse de
um campo de batalha…”
 Pleonasmo – “…não se faria justiça mais justa…”
 Antítese – “…mais aplausos que sustos, mais admirações que dúvidas…”
 Hipérbato – “…dentro do corpo de qualquer de nós poderia Blimunda ver os
órgãos…”
 Ironia – “…o que toda a gente sabe é que tais pedras(…), são de soberana virtude
contra as febres malignas…”; “…com tudo isto parece impossível que ainda morra
gente…”
Ideia-Chave

A história da construção da passarola representa, no seu


conjunto, a força criadora que revoluciona o mundo, a
esperança num mundo livre e diferente, e o sofrimento que a
sua conquista acarreta para quem se atreve a lutar por ele.

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