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Screvo meu livro à beira-mágoa.

Meu coração não tem que ter.


Tenho meus olhos quentes de água.
Só tu, Senhor, me dás viver.
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Só te sentir e te pensar
Meus dias vácuos enche e doura.
Mas quando quererás voltar?
Quando é o Rei? Quando é a Hora?
Quando virás a ser o Cristo
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De a quem morreu o falso Deus,
E a despertar do mal que existo
A Nova Terra e os Novos Céus?
Quando virás, ó Encoberto,
Sonho das eras português,
15
Tornar-me mais que o sopro incerto
De um grande anseio que Deus fez?
Ah, quando quererás, voltando,
Fazer minha esperança amor?
Da névoa e da saudade quando?
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Quando, meu Sonho e meu Senhor?
Fernando Pessoa, Mensagem.
Caracteriza o estado de alma do sujeito poético, expresso nos seis primeiros versos.

Justifica o recurso simultâneo à anáfora e à frase interrogativa a partir do sétimo verso do


poema.

Explica, com base nas duas últimas estrofes, por que razão o sujeito poético pode ser
considerado um profeta.

Identifica duas características do discurso lírico de Mensagem presentes no poema e


transcreve um exemplo significativo para cada uma delas.

A figura do herói está presente em muitas obras estudadas ao longo do ensino secundário,
embora a sua construção possa depender de diversos fatores.
Escreve uma breve exposição na qual distingas o herói em Os Lusíadas, de Luís Vaz de Camões,
do herói em Mensagem, de Fernando Pessoa.
A tua exposição deve incluir:
• uma introdução ao tema;
• um desenvolvimento no qual explicites, para cada uma das obras, uma característica que
permita distinguir o herói em Os Lusíadas do herói em Mensagem, fundamentando as
características apresentadas em, pelo menos, um exemplo significativo de cada uma das obras;
• uma conclusão adequada ao desenvolvimento do tema
Bem sei que há ilhas lá ao sul de tudo

Bem sei que há ilhas lá ao sul de tudo


Onde há paisagens que não pode haver.
Tão belas que são como que o veludo
Do tecido que o mundo pode ser.

Bem sei. Vegetações olhando o mar,


Coral, encostas, tudo o que é a vida
Tornado amor e luz, o que o sonhar
Dá à imaginação anoitecida.

Bem sei. Vejo isso tudo. O mesmo vento


Que ali agita os ramos em torpor
Passa de leve por meu pensamento
E o pensamento julga que é amor.

Sei, sim, é belo, é longe, é impossível,


Existe, dorme, tem a cor e o fim,
E, ainda que não haja, é tão visível
Que é uma parte natural de mim.

Sei tudo, sei, sei tudo. E sei também


Que não é lá que há isso que lá está.
Sei qual é a luz que essa paisagem tem
E qual a rota que nos leva lá.

Fernando Pessoa, Poesia do Eu, edição de Richard Zenith, 2.ª ed., Lisboa, Assírio & Alvim, 2008,
pp. 314-315.
Nas três primeiras estrofes, o sujeito poético descreve um lugar idealizado.
Apresenta duas características desse espaço e exemplifica cada uma delas com uma
transcrição pertinente.

Explica o conteúdo dos versos 3 e 4 e relaciona-o com a temática pessoana em evidência no


poema.

Explicita dois sentidos das anáforas e das suas variantes (versos 1, 5, 9, 13, 17 e 19), tendo em
conta o desenvolvimento temático do poema.
Do diálogo de José Saramago com o «passado» emerge, em romances como Memorial do
Convento e O Ano da Morte de Ricardo Reis, uma visão crítica sobre o tempo histórico
representado e sobre a sociedade desse tempo.
Escreve uma breve exposição na qual comproves a afirmação anterior, baseando-te na tua
experiência de leitura de um dos romances mencionados.
A tua exposição deve incluir:
• uma introdução ao tema;
• um desenvolvimento no qual explicites dois aspetos que são objeto de crítica pelo narrador,
fundamentando cada um desses aspetos em, pelo menos, um exemplo pertinente;
• uma conclusão adequada ao desenvolvimento do tema.
Começa por indicar o título da obra por ti selecionada.

Sofro, Lídia, do medo do destino.

A leve pedra que um momento ergue

As lisas rodas do meu carro, aterra

Meu coração.

Tudo quanto me ameace de mudar-me

Para melhor que seja, odeio e fujo.

Deixem-me os deuses minha vida sempre

Sem renovar

Meus dias, mas que um passe e outro passe

Ficando eu sempre quási o mesmo,

indo Para a velhice como um dia entra

No anoitecer.

Ricardo Reis, Poesia, edição de Manuela Parreira da Silva, Lisboa, Assírio & Alvim, 2000, p. 181.

Apesar da referência a «Meu coração» (v. 4), que remete para o campo das emoções, Ricardo
Reis assume uma atitude racional.
Tendo em conta os seis primeiros versos do poema, explicite em que consiste essa atitude
racional, bem como o motivo que leva o sujeito poético a assumi-la.
Transcreva a comparação presente no final do poema e interprete o seu sentido.

Complete as afirmações abaixo apresentadas, selecionando a opção adequada a cada espaço.

Do étimo latino ARENA derivaram as palavras portuguesas arena e areia. Do mesmo étimo
derivaram também as palavras ____a)____ . Na evolução de ARENA para areia, ocorreu, entre
outros processos fonológicos, a ____b)_____ . Por seu lado, na evolução de STELLA para
estrela ocorreu, entre outros processos fonológicos, a ____c)____.

O meu olhar azul como o céu

É calmo como a água ao sol.

É assim, azul e calmo,

Porque não interroga nem se espanta...

Se eu interrogasse e me espantasse

Não nasciam flores novas nos prados

Nem mudaria qualquer cousa no sol de modo a ele ficar mais belo.

(Mesmo se nascessem flores novas no prado

E se o sol mudasse para mais belo,

Eu sentiria menos flores no prado

E achava mais feio o sol...


Porque tudo é como é e assim é que é,

E eu aceito, e nem agradeço,

Para não parecer que penso nisso...)

Alberto Caeiro, Poesia, edição de Fernando Cabral Martins e Richard Zenith, 3.ª ed., Lisboa,
Assírio & Alvim, 2009, p. 57.

Relacione as comparações presentes nos dois primeiros versos com o sentido do quarto verso.

Selecione a opção de resposta adequada para completar a afirmação abaixo apresentada.


No âmbito da argumentação desenvolvida ao longo da segunda e da terceira estrofes, o
recurso à ____________, nos versos de 8 a 11, evidencia a ideia de que é pela visão que se
pode ___________________.

Explique a aparente contradição presente nos versos de 12 a 14.


O sujeito poético sofre, mas, ao mesmo tempo, está esperançoso.

Logo no primeiro verso, – "Screvo meu livro à beira-mágoa" – o "eu" lírico descreve que o seu estado de

alma é marcado pela dor, mágoa e tristeza. É, por isso, à "beira-mágoa" que ele exterioriza a sua

desilusão face à frustração de, no presente, ver a sua pátria moribunda. Contudo, embora através do

verso "Meu coração não tem que ter." (v.2) notemos vazio interior do sujeito poético, acredita que

o "Senhor" virá – "Só te sentir e te pensar / Meus dias vácuos enche e doura."(vv. 5-6) – ressuscitar a

pátria estagnada e devolver-lhe a alegria.


Notamos a recorrência a frases interrogativas a partir do sétimo verso que, a par com a anáfora,
sublinham o estado de espírito do "eu" lírico, realçando a sua incerteza em relação ao momento em que
o "Senhor" regressará – "Mas quando quererás voltar?" (v. 7). Apesar disso, enfatizam, ainda, a certeza
do sujeito poético em relação à sua chegada, por isso apela, de forma insistente, ao "Encoberto", para
que ele regresse e crie "A Nova Terra e os Novos Céus", ou seja, reerga a pátria e conquiste o Quinto
Império.
Concluimos, assim, que as frases interrogativas e a anáfora sublinham a ansiedade do "eu" lírico face à
vinda daquele que denomina "meu Sonho e meu Senhor", assim como a certeza de que isso acontecerá,
ainda que não saiba "quando".

O sujeito poético apela à vinda do "Encoberto", ainda que, nas duas últimas estrofes, esse pedido se
exprima de forma profética, como podemos notar pela forma mais íntima como o questiona, presente,
sobretudo, em marcas textuais como "Tornar-me" (v. 15) ou "Fazer minha esperança amor" (v. 18) que
anunciam a vinda do "Messias".
Percebemos, ainda, que o sujeito poético não só deseja a realização do "Sonho das eras português" (v.
14), como se apresenta como mensageiro desse desejo de todo o povo – a conquista do Quinto Império.

Ao longo da composição poética, notamos a presença da primeira pessoa do singular não só nas formas
verbais, como "Screvo" (v. 1), "Tenho" (v. 3), mas também em determinantes possessivos – "meu" (vv. 1 e
2) – ou pronomes pessoais – "me" (v. 4).
Para além desta marca, destaca-se a expressão da subjetividade do sujeito poético, a revelação do seu
estado de alma e dos seus sentimentos de tristeza e amargura em relação à pátria que vê no momento, o
que lhe provoca desânimo – "Meu coração não tem que ter." (v. 2).

A figura do herói é fundamental nas duas obras, ainda que com diferenças significativas.
Camões, em Os Lusíadas, canta os navegadores, os reis e todos os que se distinguiram pelas suas
ações, ou seja, destaca a vertente humana e histórica, os heróis corajosos que exploraram "mares nunca
dantes navegados", conduzindo-os ao estatuto de divinos.
Já a Mensagem apresenta heróis com uma dimensão mítica e simbólica, sem que possam incluir-se num
espaço ou tempo definidos. D. Sebastião não é o "ser que houve", mas sim "o ser que há", símbolo da
esperança de renovação da glória espiritual da pátria.
Assim, ainda que ambas as obras louvem a pátria, os heróis assumem valores diferentes.

O espaço descrito pelo sujeito poético caracteriza-se como um espaço de sonho e da imaginação –
«Onde há paisagens que não pode haver» (v. 2)/«Sei, sim, é belo, é longe, é impossível» (v. 13)/«E,
ainda que não haja» (v. 15); esse espaço é ainda perspetivado como promessa de felicidade – «tudo o
que é a vida / Tornado amor e luz» (vv. 6-7).

Nos versos 3 e 4, o sujeito poético estabelece uma comparação entre a beleza das ilhas e o «veludo»,
para sugerir a suavidade/a felicidade que o mundo pode proporcionar, se a composição dos seus
elementos for harmoniosa. O poema enquadra-se na temática do sonho e da realidade, na medida em
que as ilhas imaginadas permitem ao sujeito poético vislumbrar um mundo de plenitude a que, no entanto,
só pode aceder através do sonho.

As anáforas assumem um papel fundamental na estruturação do poema, introduzindo cada estrofe. Por
um lado, a repetição de "Bem sei" reforça a afirmação da consciência de que o espaço descrito existe
apenas no sonho, sendo por isso inacessível. Por outro lado, as anáforas mostram como o sonho é
inerente à essência do sujeito poético, como o afirma no verso 16, "Que é uma parte natural de mim.".
Em Memorial do Convento, é evidente o olhar crítico do narrador sobre:
‒ a prepotência do rei D. João V, patente, por exemplo, no recrutamento compulsivo de homens de todo o
país, escravizados e vivendo em condições miseráveis;
‒ a ostentação/megalomania do monarca português, patente, por exemplo, na sucessiva ampliação do
Convento de Mafra e na importação de materiais e objetos diversos;
‒ a violência/a opressão exercida pela Inquisição, patente, por exemplo, nos autos de fé;
‒ o contraste entre a miséria do povo e a riqueza/a opulência do rei D. João V e da Igreja, patente, por
exemplo, no facto de Baltasar e Blimunda dormirem no chão, enquanto o rei encomenda uma cama
luxuosa/dispendiosa para a rainha.

Em O Ano da Morte de Ricardo Reis, é evidente o olhar crítico do narrador sobre:


‒ a opressão vivida durante o Estado Novo, patente, por exemplo, no controlo exercido pela PVDE/pela
polícia política sobre a população e na existência de delatores;
‒ a repressão de manifestações de revolta, como a que ocorreu durante a sublevação dos marinheiros;
‒ a manipulação da informação transmitida pelos meios de comunicação social, por exemplo, sobre as
notícias da guerra na Europa;
‒ a propaganda política, patente, por exemplo, no enaltecimento de Salazar, perspetivado como um
modelo para os outros países/como o «salvador» da pátria.

Nos versos 1 e 2, o sujeito poético associa o seu “olhar azul” aos elementos naturais, nomeadamente ao
“céu” e à “água ao sol”, o que sugere a ideia de tranquilidade.
Assim, estas comparações simples com a Natureza revelam um olhar calmo e sereno, sendo a
justificação dada no verso 4 – “porque”, na observação do mundo, o “eu” lírico não se “interroga” nem se
“espanta”.
Deste modo, as comparações confirmam a ausência de pensamento abstrato, metafísico, por parte do
sujeito lírico, e reforçam a importância da sensação visual na “compreensão” do mundo, isto é, na mera
aceitação do que vê.

b.

No verso 12, com o recurso à oração subordinada adverbial causal, o sujeito poético apresenta a sua
justificação para o facto de recusar o pensamento abstrato, já que aceita a objetividade do mundo sem
questionação. Despindo-se de pensamentos e de emoções, o sujeito lírico
expressa a ideia de que a Natureza é constituída apenas por aquilo que os sentidos captam.
Contudo, ao referir, nos versos 13 e 14, que aceita sem agradecer essa bênção, há uma aparente
contradição, já que evidencia que essa visão é fruto de uma opção consciente, ou seja, pensada,
admitindo, então, que pretende fingir que não pensa.

Nos seis versos iniciais, o sujeito poético apresenta uma atitude racional, visto que assumidamente rejeita
qualquer tipo de mudança que se possa operar no seu ser, o que comprova que a razão suplanta a
emoção.
Dirigindo-se a Lídia, a sua confidente silenciosa, o “eu” lírico revela o seu sentimento de terror face à
mudança, que lhe provoca sofrimento. Assim, estando ciente de que o único modo de evitar esse
sofrimento e conquistar a serenidade possível é a aceitação voluntária do Fado, o sujeito poético
intelectualiza as emoções, assumindo uma atitude de apatia perante a inevitabilidade do momento fatal.

Através da comparação – “indo / Para a velhice como um dia entra / No anoitecer” –, o sujeito poético
recorre a um fenómeno natural para se referir à sua morte. Neste sentido, é estabelecida uma analogia
entre o fim de um dia, que de forma natural dá lugar à noite, e a passagem inexorável do tempo na vida
humana, para realçar o desejo do “eu” lírico de que o tempo passe por ele de forma impercetível,
aceitando a sua “noite”, isto é, o seu fim – a entrada na “velhice”, que conduzirá a uma morte tranquila.

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