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Exercícios de exame- Fernando Pessoa Heterónimo

Parte B- 2020

Leia o poema.

Sofro, Lídia, do medo do destino.


A leve pedra que um momento ergue
As lisas rodas do meu carro, aterra
Meu coração.

Tudo quanto me ameace de mudar-me


Para melhor que seja, odeio e fujo.
Deixem-me os deuses minha vida sempre
Sem renovar.

Meus dias, mas que um passe e outro passe


Ficando eu sempre quási o mesmo, indo
Para a velhice como um dia entra
No anoitecer.

Ricardo Reis, Poesia, edição de Manuela Parreira da Silva,

Lisboa, Assírio & Alvim, 2000, p. 181.

1. Apesar da referência a «Meu coração» (v. 4), que remete para o campo das emoções,
Ricardo Reis assume uma atitude racional. Tendo em conta os seis primeiros versos do
poema, explicite em que consiste essa atitude racional, bem como o motivo que leva o
sujeito poético a assumi-la.

2. Transcreva a comparação presente no final do poema e interprete o seu sentido.


3. Complete as afirmações abaixo apresentadas, selecionando a opção adequada a cada
espaço. Na folha de respostas, registe apenas as letras – a), b) e c) – e, para cada uma
delas, o número que corresponde à opção selecionada em cada um dos casos.

Neste poema, evidenciam-se diversas características da linguagem e do estilo de


Ricardo Reis. Duas dessas características são:

‒ A existência de um interlocutor, identificado através de um recurso expressivo, a


____a)____, que está presente no verso 1;

‒ A musicalidade, para a qual contribuem tanto a aliteração, por exemplo no


____b)____, como a própria estrutura métrica da ode, na qual se verifica ____c)____ .

Correção

1. Devem ser abordados os tópicos seguintes, ou outros igualmente relevantes:

‒ O sujeito poético evidencia uma atitude racional ao intelectualizar as suas


emoções/ao recusar (voluntariamente) a mudança/ao procurar a serenidade;
‒ O sujeito poético assume essa atitude racional devido ao sentimento de terror
face à mudança/ao destino, que lhe provoca sofrimento.

2. Devem ser abordados os tópicos seguintes, ou outros igualmente relevantes:

‒ Transcrição da comparação – «indo / Para a velhice como um dia entra / No


anoitecer»;
‒ Interpretação da comparação – tal como o dia termina lenta e gradualmente,
também o sujeito poético deseja que o tempo passe por ele de forma impercetível,
encaminhando-o tranquilamente para a «velhice» (sem que isso lhe provoque
sofrimento).

3. a) 2; b) 2; c) 1.
Parte A- 2018

Leia o poema.

Prefiro rosas, meu amor, à pátria,


E antes magnólias amo
Que a glória e a virtude.

Logo que a vida me não canse, deixo


Que a vida por mim passe
Logo que eu fique o mesmo.

Que importa àquele a quem já nada importa


Que um perca e outro vença,
Se a aurora raia sempre,

Se cada ano com a primavera


Aparecem as folhas
E com o outono cessam?

E o resto, as outras coisas que os humanos


Acrescentam à vida,
Que me aumentam na alma?

Nada, salvo o desejo de indif’rença


E a confiança mole
Na hora fugitiva.

Ricardo Reis, Poesia, edição de Manuela Parreira da Silva,


Lisboa, Assírio & Alvim, 2000, p. 64.

1. Compare a atitude do sujeito poético com a dos outros «humanos» (verso 13),
tendo em conta a oposição simbólica entre «rosas» e «magnólias», por um lado,
e «pátria», «glória» e «virtude», por outro lado (versos 1 a 3).

2. Interprete o sentido da segunda estrofe, à luz da filosofia de vida de Ricardo


Reis.

3. Explicite, com base no conteúdo dos versos 7 a 18, dois aspetos que evidenciem
o modo como o sujeito poético perceciona a passagem do tempo.
Correção

1. Para comparar a atitude do sujeito poético com a dos outros «humanos», devem ser
abordados os tópicos seguintes, ou outros igualmente relevantes:

‒ O sujeito poético opta pela adoção de uma atitude contemplativa/pela fruição do


belo/natural/efémero («rosas» e «magnólias»), recusando os valores da «pátria», da
«glória» e da «virtude»;
‒ Os outros «humanos» preferem a «pátria», a «glória» e a «virtude», que representa o
esforço/o sofrimento/a entrega a causas (pessoais e sociais) /a constante busca de
superação.

2. Para interpretar o sentido da segunda estrofe, à luz da filosofia de vida de Ricardo Reis,
devem ser abordados dois dos tópicos seguintes, ou outros igualmente relevantes:

‒ Recusa das emoções fortes/busca da tranquilidade (ataraxia) – «Logo que a vida me


não canse» (v. 4);
‒ Indiferença perante a passagem do tempo – «deixo / Que a vida por mim passe» (vv.
4-5);
‒ Passividade/atitude contemplativa/ausência de ação – «Logo que eu fique o mesmo.»
(v. 6).

3. Para explicitar o modo como o sujeito poético perceciona a passagem do tempo, com
base no conteúdo dos versos 7 a 18, devem ser abordados dois dos tópicos seguintes, ou
outros igualmente relevantes:

‒ Passagem irreversível do tempo/tempo perspetivado como duração, patente na


referência à repetição cíclica das estações do ano;
‒ Circularidade do tempo cósmico, o que é testemunhado na natureza («Se a aurora
raia sempre» – v. 9; «Se cada ano com a primavera / Aparecem as folhas / E com o
outono cessam?» – vv. 10-12);
‒ Preferência pelo momento presente (carpe diem), através da valorização da «hora
fugitiva» (v. 18);
‒ Consciência da fugacidade da vida – «E a confiança mole / Na hora fugitiva» (vv. 17-
18).
A- 2017

Leia o poema XXXVI de «O Guardador de Rebanhos». Se necessário, consulte a nota.

E há poetas que são artistas


E trabalham nos seus versos
Como um carpinteiro nas tábuas!...

Que triste não saber florir!


Ter que pôr verso sobre verso, como quem construi um muro
E ver se está bem, e tirar se não está!...

Quando a única casa artística é a Terra toda


Que varia e está sempre boa e é sempre a mesma.

Penso nisto, não como quem pensa, mas como quem não pensa,
E olho para as flores e sorrio...
Não sei se elas me compreendem
Nem se eu as compreendo a elas,
Mas sei que a verdade está nelas e em mim
E na nossa comum divindade
De nos deixarmos ir e viver pela Terra
E levar ao colo pelas Estações contentes
E deixar que o vento cante para adormecermos,
E não termos sonhos no nosso sono.

Fernando Pessoa, Poesia de Alberto Caeiro, edição de Fernando Cabral Martins e Richard Zenith, 3.ª ed.,
Lisboa, Assírio & Alvim, 2009, p. 72
1. Nas três primeiras estrofes, são abordados dois processos de criação poética. Explicite esses
dois processos, tendo em conta, por um lado, as comparações presentes nos versos 3 e 5 e, por
outro lado, o sentido do verso 4 e o conteúdo da terceira estrofe.

2. Interprete o verso «Penso nisto, não como quem pensa, mas como quem não pensa» (v. 9),
atendendo à especificidade da poesia de Alberto Caeiro.

3. Explique o modo como as sensações e a comunhão com a natureza são valorizadas na quarta
estrofe do poema. Fundamente a sua resposta com elementos textuais pertinentes.

Correção

1. Na resposta, devem ser abordados os aspetos seguintes, ou outros igualmente


relevantes.

– Processo de criação poética dos «poetas que são artistas» (v. 1):
• Trabalho minucioso/rigoroso/artesanal, à semelhança do trabalho do carpinteiro e do
pedreiro;
• Poesia pensada/consciente.

– Processo de criação poética dos poetas que sabem «florir» (v. 4):
• Ato involuntário/espontâneo;
• Em harmonia com a própria natureza, «única casa artística»; logo, o único modelo de
arte.

2. Na resposta, devem ser abordados os aspetos seguintes, ou outros igualmente


relevantes.

• Existência de uma contradição entre aquilo que o sujeito poético afirma («não como
quem pensa, mas como quem não pensa») e o que ele faz («Penso nisto»).

• Recusa do pensamento puro e valorização das sensações.

3. Na resposta, devem ser abordados os aspetos seguintes, ou outros igualmente


relevantes, devidamente fundamentados com elementos textuais.

– Valorização das sensações:


• Privilégio da realidade captada pelos sentidos (vv. 10 e 17);
• Negação/recusa do pensamento (vv. 11-12).
– Valorização da comunhão com a natureza:
• O «eu» é um elemento da natureza tal como as flores, partilhando com elas uma
«comum divindade» (v. 14);
• A «Terra» é a mãe natureza, acolhedora e protetora (vv. 15-17).

Parte A- 2016

Leia o poema. Se necessário, consulte as notas.

Só o ter flores pela vista fora


Nas áleas largas dos jardins exatos
Basta para podermos
Achar a vida leve.

De todo o esforço seguremos quedas


As mãos, brincando, pra que nos não tome
Do pulso, e nos arraste.
E vivamos assim,

Buscando o mínimo de dor ou gozo,


Bebendo a goles os instantes frescos,
Translúcidos como água
Em taças detalhadas,

Da vida pálida levando apenas


As rosas breves, os sorrisos vagos,
E as rápidas carícias
Dos instantes volúveis.

Pouco tão pouco pesará nos braços


Com que, exilados das supernas luzes,
Scolhermos do que fomos
O melhor pra lembrar

Quando, acabados pelas Parcas, formos,


Vultos solenes de repente antigos,
E cada vez mais sombras,
Ao encontro fatal

Do barco escuro no soturno rio,


E os nove abraços do horror estígio,
E o regaço insaciável
Da pátria de Plutão.
Ricardo Reis, Poesia, edição de Manuela Parreira da
Silva, Lisboa, Assírio & Alvim, 2000, pp. 36-37
NOTAS

Áleas (verso 2) – caminhos ladeados de árvores ou arbustos.


Estígio (verso 26) – relativo ao Estige, rio dos Infernos na mitologia grega.
Parcas (verso 21) – três divindades da mitologia romana que representam o destino: uma preside
ao nascimento, outra ao casamento e a terceira à morte.
Plutão (verso 28) – deus dos Infernos, na mitologia romana.
Quedas (verso 5) – quietas; imóveis.
Scolhermos (verso 19) – escolhermos.
Supernas (verso 18) – supremas; superiores.

1. Explicite três traços da filosofia de vida exposta nas quatro primeiras estrofes.
Fundamente a resposta com transcrições pertinentes.

2. Justifique o recurso à primeira pessoa do plural ao longo do poema.

3. De acordo com o conteúdo das três últimas estrofes, explique o modo como o sujeito
poético perspetiva a morte.

Correção

1. Nas quatro primeiras estrofes, é exposta uma filosofia de vida que se caracteriza
por:

– Um gosto pela fruição estética da natureza – «Só o ter flores pela vista fora / Nas
áleas largas dos jardins exatos / Basta para podermos / Achar a vida leve.» (vv. 1-
4);
– Uma escolha da serenidade, o que conduz a uma atitude contemplativa – «De
todo o esforço seguremos quedas / As mãos, brincando, pra que nos não tome / Do
pulso, e nos arraste.» (vv. 5-7);
– Uma atitude epicurista, que valoriza o prazer moderado – «Buscando o mínimo
de dor ou gozo, / Bebendo a goles os instantes frescos,» (vv. 9-10);
– Uma consciência da brevidade da vida, que conduz ao desejo de fruição do
momento presente (carpe diem) – «As rosas breves, os sorrisos vagos, / E as rápidas
carícias» (vv. 14-15).

2. O sujeito poético expõe um conjunto de normas que devem ser seguidas por todas
as pessoas de modo a facilitar a vida humana e a aligeirar a dor provocada pelo
facto de a vida ser efémera. Neste sentido, o uso da primeira pessoa do plural – que
surge nas formas verbais «podermos» (v. 3), «seguremos» (v. 5), «vivamos» (v. 8),
«escolhermos» (v. 19), «fomos» (v. 19), «formos» (v. 21) e no pronome pessoal
«nos» (vv. 6 e 7) – decorre de uma atitude normativa (ou exortativa) assumida pelo
sujeito poético, incluído nessa primeira pessoa do plural.
3. O sujeito poético perspetiva a morte de acordo com a conceção própria da
antiguidade clássica, evidente:

– Na ideia de que a vida humana é comandada pelo Destino, ou pelas Parcas, e de


que as almas atravessam o rio Estige e chegam aos Infernos, à «pátria de Plutão»
(vv. 21-28);
– Na aceitação da morte, momento a que se deve chegar sem apego a nada e
apenas recordando o que foi agradável, para que o sofrimento não seja tão penoso –
atitude estoica (vv. 17-20).

Parte A – 2014

Leia o poema.

Cada coisa a seu tempo tem seu tempo.

Não florescem no Inverno os arvoredos,

Nem pela Primavera

Têm branco frio os campos.

À noite, que entra, não pertence, Lídia,

O mesmo ardor que o dia nos pedia.

Com mais sossego amemos

A nossa incerta vida.

À lareira, cansados não da obra

Mas porque a hora é a hora dos cansaços,

Não puxemos a voz

Acima de um segredo,

E casuais, interrompidas sejam

Nossas palavras de reminiscência

(Não para mais nos serve


A negra ida do sol).

Pouco a pouco o passado recordemos

E as histórias contadas no passado

Agora duas vezes

Histórias, que nos falem

Das flores que na nossa infância ida

Com outra consciência nós colhíamos

E sob uma outra espécie

De olhar lançado ao mundo.

E assim, Lídia, à lareira, como estando,

Deuses lares, ali na eternidade

Como quem compõe roupas

O outrora compúnhamos

Nesse desassossego que o descanso

Nos traz às vidas quando só pensamos

Naquilo que já fomos,

E há só noite lá fora.

1. Relacione o sentido do primeiro verso com as referências à Natureza presentes


nos versos 2 a 4.

2. Refira as normas de vida expostas nos versos 5 a 24 e fundamente com


respostas textuais pertinentes.
3. Explicite os valores simbólicos do espaço e do tempo em que ocorrem as
recordações do passado.

4. Explique o conteúdo das duas últimas estrofes enquanto conclusão do poema.

Correção

1. A resposta pode contemplar os aspetos que a seguir se enunciam, ou outros


considerados relevantes.

No primeiro verso, o sujeito poético expõe a ideia de que tudo ocorre num contexto preciso,
determinado pelo curso natural das coisas. As referências à Natureza presentes nos versos 2
a 4 sustentam esta ideia, fornecendo exemplos concretos. Estes mostram que a cada estação
do ano corresponde um ambiente específico: no inverno, há frio e neve e é na primavera que
as árvores florescem.

2. De acordo com os versos 5 a 24, é importante:


– Viver de forma moderada e tranquila – «Com mais sossego amemos / A nossa
incerta vida.» (vv. 7 e 8);
– Evitar todo o esforço inútil – «Não puxemos a voz / Acima de um segredo» (vv. 11 e
12);
– Lembrar o passado de forma ligeira, despreocupada e breve – «E casuais,
interrompidas sejam / Nossas palavras de reminiscência» (vv. 13 e 14);
– Rememorar as histórias «que nos falem» (v. 20) da «infância» (v. 21).

3. A resposta pode contemplar os aspetos que a seguir se enunciam, ou outros


considerados relevantes.

As recordações do passado ocorrem:


– Numa noite de inverno, que, metaforicamente, corresponde à velhice;
– À «hora dos cansaços» (v. 10), propícia à rememoração e ao diálogo calmo e íntimo;
– À «lareira» (vv. 9 e 25), espaço associado ao conforto e à proteção.

4. A resposta pode contemplar os aspetos que a seguir se enunciam, ou outros


considerados relevantes.

As duas últimas estrofes sintetizam as ideias apresentadas anteriormente. Reafirma-se


que a passagem do tempo conduz inevitavelmente à noite da vida e à recordação do
«outrora» (v. 28). Chegado este momento, deve adotar-se uma atitude serena,
semelhante à dos «Deuses lares» (v. 26), e rememorar o passado de modo a tornar a
passagem do tempo aceitável e agradável no presente.
Parte A- 2011

Leia o poema.

Na casa defronte de mim e dos meus sonhos,


Que felicidade há sempre!

Moram ali pessoas que desconheço, que já vi mas não vi.


São felizes, porque não são eu.

As crianças, que brincam às sacadas altas,


Vivem entre vasos de flores,
Sem dúvida, eternamente.

As vozes, que sobem do interior do doméstico,


Cantam sempre, sem dúvida.
Sim, devem cantar.

Quando há festa cá fora, há festa lá dentro.


Assim tem que ser onde tudo se ajusta —
O homem à Natureza, porque a cidade é Natureza.

Que grande felicidade não ser eu!

Mas os outros não sentirão assim também?


Quais outros? Não há outros.
O que os outros sentem é uma casa com a janela fechada,
Ou, quando se abre,
É para as crianças brincarem na varanda de grades,
Entre os vasos de flores que nunca vi quais eram.

Os outros nunca sentem.


Quem sente somos nós,
Sim, todos nós,
Até eu, que neste momento já não estou sentindo nada.

Nada? Não sei...


Um nada que dói...

Álvaro de Campos. Fernando Pessoa. Lisboa:


Ática, 1944 (imp. 1993). - 56.

1. As sensações do sujeito poético são determinantes para a construção de uma certa ideia
do quotidiano feliz. Identifique duas sensações representadas nas quatro primeiras
estrofes, citando elementos do texto para fundamentar a sua resposta.

2. Caracterize o tempo da infância tal como é apresentado na terceira estrofe.


3. Explique a relação que o sujeito poético estabelece com os «outros» nas seis primeiras
estrofes do poema, fundamentando a sua resposta com referências textuais.

4. Relacione o conteúdo da última estrofe com as reflexões apresentadas nas duas estrofes
anteriores.

Correção

1. A resposta pode contemplar os tópicos que a seguir se enunciam, ou outros


considerados relevantes.
Nas quatro primeiras estrofes do poema, encontram-se representadas sensações visuais e
auditivas, através dos elementos seguintes:
– «Que já vi mas não vi» (v. 3) – sensação visual;
– «As crianças, que brincam às sacadas altas, / Vivem entre vasos de flores» (vv. 5-6) –
sensação visual;
– «As vozes, que sobem do interior do doméstico, / Cantam sempre» (vv. 8-9) – sensação
auditiva.

2. A resposta pode contemplar os tópicos que a seguir se enunciam, ou outros


considerados relevantes.
Na terceira estrofe do poema, o tempo da infância é caracterizado:
– Por um ambiente de despreocupação feliz, sugerido pelo acto de brincar («As crianças, que
brincam às sacadas altas, / Vivem entre vasos de flores» – vv. 5-6);
– Pela não consciência da passagem do tempo («Sem dúvida, eternamente.» – v. 7).

3. A resposta pode contemplar os tópicos que a seguir se enunciam, ou outros


considerados relevantes.
A relação que o sujeito poético estabelece com «os outros» nas seis primeiras estrofes é
marcada pela diferença:
– Os «outros» são felizes, como se deduz dos elementos referidos no texto – alegria aparente
(v. 2 e v. 4), brincadeira (v. 5), flores (v. 6), canto (vv. 8 a 10), festa (v. 11);
– O sujeito poético considera-se à parte e diferente deles – «São felizes, porque não são eu.»
(v. 4), «Que grande felicidade não ser eu!» (v. 14).
4. A resposta pode contemplar os tópicos que a seguir se enunciam, ou outros
considerados relevantes.
A dor e o vazio expressado na última estrofe, particularmente no verso «Um nada que dói...» (v.
26), decorrem das reflexões desenvolvidas nas duas estrofes anteriores. O sujeito poético
questiona-se quanto aos «outros» (v. 15) e aos seus sentimentos, concluindo que:
– Cada outro é um eu (v. 16); só é possível sentir enquanto «eu» ou «nós» (vv. 21-24);
– Não se pode saber o que eles, os «outros», sentem (vv. 17-20); existe uma incomunicabilidade
essencial entre os seres humanos, de que resulta a consciência individual separada de cada eu.

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