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Silva Rodrigues
Poemas Resgatados
da Lixeira
Segunda Edição
Título Original
Primeira publicação em
2022
2ª Edição
Reservados ao autor
ISBN: 978-65-00-51621-0
CDD —B869.
Informação
Nota da Edição
Suicida.
de livro de bolso.
Silva Rodrigues
Martinópolis,2022
Poemas Dedicados a Lixeira
R.I.P
Aos queridos vermes que corroerão minha carne dedico
este poema.
Quero que se findem meus dias e nos meus versos fundem-
se abadias, que cultuem o mundo, o mais puro do profano
amor das dores.
E que após o circo dantesco encerrar-se, grafem na minha
lápide, com fezes e sangue: “Aqui jaz um se’’. E só assim
talvez, eu vá para o inferno de uma vez.
Mas praquê tão funesto meu deus? Eu digo de morte pois
ela é de todos os espíritos a excepcional sorte.
Que a lâmina da foice do fim me corte, e que eu vá para o
mais eterno e sublime fim.
A danação meus versos! De coração que se vão, para o
lugar onde todos os versos estão: Na cova com seus
autores.
De nada adiantou comunicar ao mundo dores e amores,
alguns leram, outros mais sábios ignoraram.
E a vala foram, é este o poder da palavra: te mandar
pravala, pois a mão que escreve o que acalma é a mesma
que todas as estruturas abala.
Bem como a boca que beija é a mesma que mal deseja.,
quero a morte bem como o cego ver
Quero a morte bem como o político poder
Quero a morte tanto quanto posso querer
Mas querer, tu sabes, não é poder.
Ao menos quero ser coroado, pela morte, pelos vermes
corroído, pelos corações abandonado, por todos esquecido.
[7]
Poemas Dedicados a Lixeira
[8]
Poemas Dedicados a Lixeira
Choro do Solitário
Nesta noite vazia, de eterna agonia, não tenho ninguém
para conversar
Nem um corpo para abraçar
Um ombro para chorar
Alguém que me dê prazer.
Por isso fico a vaguear
Sem ninguém encontrar
Então só me resta escrever.
Para minha insanidade não se esvair
E meus demônios não tomarem conta de mim enquanto
sigo assim
Por este mundo de coração vazio a andar
Sem ninguém,
Ninguém que goste de mim.
[9]
Poemas Dedicados a Lixeira
Story
Bastou um olhar do meu lugar para se aproximar, e
conversar sobre minhas intenções de aproximar nossos
corações, e ali ficar.
Para eternizar em nossas memórias, nossas lindas e curtas
histórias, que cabe ao tempo alongar, para nos dizer, o que
vai ser de mim e você, e como nosso fim será.
Fomos juntos, desbravar nossos mais profundos,
conversando sobre diversos assuntos, reunidos não fomos
revelados, mas escondidos, por temos sentimentos
proibidos e não aceitados.
O que fosse, não era para ser, eu e você seremos ou
seríamos? Não dá para saber o que é agora o tempo dirá,
talvez uma vez, quem sabe mais, nossas memórias se
alonguem até para um aqui jaz.
Onde fizemos nossas trilhas, dançamos nossos tangos e
cantamos nossas quadrilhas, não escondemos o que
pensamos, tudo isso em uma cova viva em nossa mente,
daqui pra frente será uma lápide de tudo aquilo que pode
ser a união de dois sentimentos.
Que se unem em uma paixão, insistente, que não some, e
que arde constantemente.
[10]
Poemas Dedicados a Lixeira
Existência
Existo, logo sou?
E se sou, eu vivo?
Ou existo e sobrevivo?
Afinal, o que é ser, senão ser o que se é.
Tentar não ser, é nadar
Contra a maré
E ser levado pelas correntezas das
Incertezas do ser ou
Existir
É como perguntar:
Prefere morrer ou respirar?
E a morte aqui é a do
Espirito
Que morre a cada: será que sou, ou só existo?
Há algumas dúvidas que não tem resposta
E quando tem, a gente não gosta.
E há casos, em que nos perdemos na dúvida existencial,
quando deveríamos nos debruçar
Sobre a dúvida crucial:
Se levamos a vida que queremos, se vivemos uma vida de
mentiras ou se vivemos a vida real.
[11]
Poemas Dedicados a Lixeira
[12]
Poemas Dedicados a Lixeira
Flores
Flores me remetem a amores.
E esses, me remetem a dores.
Essas, que senti um dia. Quando descobri que ambos
Andam lado a lado.
Como as flores sobre o gramado.
Flores, tem diversas cores, assim como há diversos amores
Do Eros até o filia.
As flores me remetem a tudo isso, até mesmo a alergia.
Mas gosto mesmo é do gira, que tira do sol a sua energia.
[13]
Poemas Dedicados a Lixeira
[14]
Poemas Dedicados a Lixeira
Mil e um haicais
Pensando nos tempos bons
Que agora não voltam mais.
IV
Um dia serei um bom fingidor, destes que escrevem versos
fantásticos
E que o público aplaude e elogia
E enquadra em escolas e em movimentos literários...
Mas para isso, preciso antes, morrer.
[15]
Poemas Dedicados a Lixeira
Quedas de Narciso
De primeira eu vacilei
E nem vi que eu cai
No meu ego tropecei
E no chão me encontrei.
Na segunda eu jurei que não ia tropeçar
Novamente, e acabei no mesmo lugar
Que acabaram grandes reis
Desesperados pra voltar.
Então eu prometi que iria mudar
E Odin imitei, decidi me enforcar, e muita atenção eu
chamei
Decidi aproveitar.
Por fim eu não mudei
Continuei a tropeçar
Pelos menos estive ao lado de iguais reis
Que me deram sua coroa para usar.
[16]
Poemas Dedicados a Lixeira
Sextina do Adeus
Adeus, a todos os atores da vida
Aqui, se encerra todo esse teatro
Levo comigo as belezas de uma existência
Insignificante e sem prazeres
Reais, nem carnais.
Infeliz, vivi uma vida de cenas.
Perfomadas de cima de um palco
Com uma plateia ansiosa por me ver cair, escorregar e ir
Rumo ao chão
Despencar como ícaro ao ver o clarão do sol, mas
Tudo que vejo é escuridão.
Para mim não há nada mais falso que
A luz, que sem rumo me conduz
Para o fundo do abismo, para
A agonia infinita de um
Mero solipsista, ao qual as regras da vida, a dor dita.
Ah! ínfima, efêmera e fútil alegria
A ti não dedico versos, e jamais
Dedicarei, me doei aos demônios
E diante deles me tornei rei
Na agonia, na dor, escrevi meus
Melhores versos, disto eu sei.
[17]
Poemas Dedicados a Lixeira
[18]
Poemas Dedicados a Lixeira
[19]
Poemas Dedicados a Lixeira
[20]
Poemas Dedicados a Lixeira
Tangamarindo sofrido
Então a banda toca
Um tango um samba um rock
Sentado à mesa eu bebo do meu
Uisque.
O sabor quente, sim quente como o
Diabo que vive dentro de mim
Que atormenta meus versos, que me
Põe a escrever assim.
Como quem não sabe o dia de amanhã
E no dia seguinte desperta
Infeliz de ter acordado, infeliz de ter sobrevivido
Infeliz de ser poeta.
E ser escritor do próprio livro de rimas, mal arranjadas e
Esquematizadas, mal vividas.
[21]
Poemas Dedicados a Lixeira
Solau da edificação
Esse prédio, esta construção
Me lembra de tempos fugidios
Que angustiam meu coração
Queria eu amar esta construção.
Mas estes empresários e engenheiros
Enrijeceram meu coração, colocaram vigas, areia
E cimento calcário e pedra.
E me transformaram num exemplar
De alguém
Que se tornou amargo por perder o teu lugar.
[22]
Poemas Dedicados a Lixeira
Os amores passam e
Com eles vão também as dores
Que ressaltam as alegrias.
[23]
Poemas Dedicados a Lixeira
[24]
Poemas Dedicados a Lixeira
[25]
Poemas Dedicados a Lixeira
Fechei o livro
Fim de verdade
Voltei a realidade.
[26]
Poemas Dedicados a Lixeira
Carro corre
Que o tempo escorre
Pelo escapamento.
[27]
Poemas Dedicados a Lixeira
Roda mundo
Gira vida
O mundo gira
A vida capota.
[28]
Poemas Dedicados a Lixeira
Veloz e atroz
Como se sem voz
O peito gritou.
[29]
Poemas Dedicados a Lixeira
Entrei no ônibus
Sentei no banco
E agora, a vida segue?
[30]
Poemas Dedicados a Lixeira
Teatro vivência
Essa é a vida.
É o teatro que criamos todo dia
É a nossa hipocrisia de cada dia.
[31]
Poemas Dedicados a Lixeira
[32]
Poemas Dedicados a Lixeira
Máscara não
Esconde.
O como, o porquê
Nem onde.
[33]
Poemas Dedicados a Lixeira
Se eu te amasse
Eu diria
Ou talvez, escreveria.
[34]
Poemas Dedicados a Lixeira
[35]
Poemas Dedicados a Lixeira
Coral
Teu olhar moreno me fascina
suas ondas de cachos me afogam
Sua pele negra me chama.
Um dia talvez chegaremos a
ficar juntos., mas por enquanto
Nos mantemos distantes.
Sozinhos acompanhados, nos iludindo
Com outros que apenas cobrem
Instantes.
Beijando bocas diferentes de várias gentes
Que não tem o mesmo sabor de antes.
Quero ainda te levar pra um
Bistrô
Poder tomar vinho contigo te chamando de amor
Acabar um dia, com essa agonia e
Essa dor.
Por enquanto não fiz isso, mas
Ainda vou.
[36]
Poemas Dedicados a Lixeira
De verdade
Olho pro lado
Quem há
Que não mentiu uma vez?
[37]
Poemas Dedicados a Lixeira
Pássaros
Os pássaros voam livres acima de mim
voam
voam
voam
voam
voam
Todos esses que pelo céu se vão, ocultam minha visão aqui
no chão.
Se não posso nem sequer voar, sem ter que pegar um avião
ou um jatinho...
[38]
Poemas Dedicados a Lixeira
[39]
Poemas Dedicados a Lixeira
[40]
Poemas Dedicados a Lixeira
As horas passam
e com elas a vida.
Vivemos num relógio
sem ponteiro e sem
Saída.
[41]
Poemas Dedicados a Lixeira
Lá em Cartagena
Longe de Pirapó
Pula um peixe.
[42]
Poemas Dedicados a Lixeira
Volks
Quer dizer:
Vou e quis.
Wagen
Quer dizer:
Perambulem.
[43]
Poemas Dedicados a Lixeira
Esta hora
Que não passa
Quando quero.
[44]
Poemas Dedicados a Lixeira
Já não se fazem
Passados como antes.
Vivemos tudo num presente
Constituído de instantes.
[45]
Poemas Dedicados a Lixeira
Antes de viver
Morra.
Antes de morrer, tome um café.
[46]
Poemas Dedicados a Lixeira
Semanário
No início disse ele ‘’haja verbo’ e faltou o sujeito da ação
No segundo dia:
Quem faz?
Terceiro:
Precisamos de alguém para que se conclua a ação, o ato por
si só não basta
Quarta: Amanhã é quinta, depois é sexta, deixa pra outro
dia
Na quinta não se faz nada, é prelúdio de sexta.
Sexta:
[47]
Poemas Dedicados a Lixeira
O vento vem
Trazendo poeira e poluição
Se eu pudesse não respirar...
[48]
Poemas Dedicados a Lixeira
Sobre Haicais
Bashô escreveria melhor
Sobre isso
Mas todos sabem disso.
[49]
Poemas Dedicados a Lixeira
[50]
Poemas Dedicados a Lixeira
Meio dia
Todo dia
Troco a meia.
[51]
Poemas Dedicados a Lixeira
Tal-vez
Me ocorreu que eu poderia
Ter outra vez.
[52]
Poemas Dedicados a Lixeira
Sério
Para sorrir não precisa de
Critério.
[53]
Poemas Dedicados a Lixeira
[54]
Poemas Dedicados a Lixeira
[55]
Poemas Dedicados a Lixeira
Creio que
Aqui
Cai cáqui.
[56]
Poemas Dedicados a Lixeira
[57]
Poemas Dedicados a Lixeira
Quatro rodas
Quatro estações
Quatro comemorações
Uma vida.
[58]
Poemas Dedicados a Lixeira
Sus
Na fila de espera
Uma enfermeira me seduz.
[59]
Poemas Dedicados a Lixeira
Festa
Acho tudo isso muito lindo
Muita bela a decoração
Mas que horas passa o busão?
[60]
Poemas Dedicados a Lixeira
Cinquentanos
Se senta anos
Se tenta anos.
[61]
Poemas Dedicados a Lixeira
Dor e glória
Morro, senhor, de a ela amor
E por ela de amor
E dela de amor, morro
Morre?
Amo a como a mim você amou
Do monte mais alto ao morro mais
Médio.
Se não a vejo, morro de desejo e tédio
Morre?
Ah como eu morro! Se morro...morrido...
De tédio, sofrido, não ver ela é um sacrilégio
É melhor não ter nascido.
Morre?
[62]
Poemas Dedicados a Lixeira
Indagação
Talvez eu devesse parar
Não dá frutos escrever, nem rimar.
É, talvez eu devesse parar...
[63]
Poemas Dedicados a Lixeira
Antítese
Claro como escuro
Confuso como conciso
Simples como mais raro
Humilde como narciso
Recente como o passado
Fraco como se fortalecido
Falante como se calado
Lembrado como esquecido
Contrário como se do lado
Aliviado como dolorido.
[64]
Poemas Dedicados a Lixeira
Sangue
De morte falemos e oremos, pois, é o que mais vemos
De morte, não de sorte, pois isso não temos
Conversemos de morte e de sangue
Pois o tempo urge.
Que falemos, e debate façamos, de morte e de sangue
Como nas ruas, onde ele todo escorre, e todo
Dia alguém morre.
Então falemos disso.
Nas paradas mortais, onde há sangue e morte
Em lugares pobres, todos locais: sangue e morte
A tal da sorte de todos os jornais: não, não para não
iguais, para esses: sangue e morte.
Sangue e morte, sangue e morte,
Sangue e morte, todo dia sangue, morte e tal.
Todo dia, todo dia, todo dia no jornal.
Só sorte e sangue, e morte.
Nas ruas, morte, você sabe o local
Lá tem gente, tem muita gente, e muito sangue tropical
E também tem morte.
Sangue e morte, no jornal
Sangue e morte nas ruas
[65]
Poemas Dedicados a Lixeira
Na vida, em todos
Sangue, e também morte, muita morte.
[66]
Poemas Dedicados a Lixeira
Desafeto local
Morto o corpo preto no chão
Motivo: cobrou uma divida
Para poder fazer uma refeição.
O jornal viu e ouviu, horrorizou
E chocou, a população foi as ruas
Mas, ninguém ouviu.
[67]
Poemas Dedicados a Lixeira
Você
Você ainda pensa em mim?
Tem dias que me pego te vendo andando
Me diz como anda, e como vai
Se está bem ou se está mal
Tem visto a lua? Tem sorrido?
Me fale algo que eu não saiba
Conte todos os seus segredos novamente, vamos tocar
nossas almas como naquele dia.
Você ainda pensa em mim?
[68]
Poemas Dedicados a Lixeira
Exorcismo quinto
(num verde pasto)
Enfim a paz sinto nesse lugar.
Sem logos, sem marcas, sem massas nem milionários
querendo me controlar.
O mundo está indo rumo ao fim e não há nada que possa
parar
Mas sinto que enfim atingi a paz que queria
Sonho hoje como sonhei quando pequeno um dia.
Vazio e vazio e vazio e vazio e solidão mais solidão.
Só, e nada mais, estou eu e com paz no coração
Só eu e cristo, lado a lado. E ele me conforta: não tema
mais filho, você está curado das suas dores mesmo que a
terra esteja morta.
Não há nada mais, sem motivo para lutar.
Mas o que, adiantaria?
Se planto um ipê ali, e vem a máquina o derrubar?
Não terei filhos, não vou semear a terra.
Não viverei aos trinta, não sei se sobreviverei a guerra.
Mas cristo e Oxóssi me confortam, me perdoem por fazê-
los esperar.
A paz me domina, mesmo sabendo que tudo vai acabar.
Adeus, é o fim do fim dos tempos, tentar lutar agora é o
último e o mais fraco dos argumentos.
[69]
Poemas Dedicados a Lixeira
[70]
Poemas Dedicados a Lixeira
Exorcismo VI
Escrevi alguns versos, sei que alguns não
Rimaram valores nem utilizaram a poesia da alma
Não sou bom em fingir, alguns trechos não
São versos, são eu.
[71]
Poemas Dedicados a Lixeira
[72]
Poemas Dedicados a Lixeira
[73]
Poemas Dedicados a Lixeira
Criarte
Minha mente sangra
Grafite e eu
Estanco com a folha.
[74]
Poemas Dedicados a Lixeira
[75]
Poemas Dedicados a Lixeira
[76]
Poemas Dedicados a Lixeira
Fluxo
As folhas vão sendo levadas pela enxurrada de água pelo
meio fio
Assim?
[77]
Poemas Dedicados a Lixeira
[78]
Poemas Dedicados a Lixeira
[79]
Poemas Resgatados da Lixeira
Rondó Improvisado
[81]
Poemas Resgatados da Lixeira
[82]
Poemas Resgatados da Lixeira
[83]
Poemas Resgatados da Lixeira
Mãe
A ti devo todo meu amor
E toda minha compaixão
Sei que dias lhe causei dor
E feri teu coração.
E por isso peço perdão
Por ter lhe magoado
E agido sem razão.
Lembro de dias do breve passado, um passado quase perfeito.
Onde sempre estava ao seu lado, com a cabeça deitada em
seu peito.
E por ti era consolado,
Me afugentava em seus braços
Dos meus maiores medos.
[84]
Poemas Resgatados da Lixeira
Alguns Haicais
I
Aqui, neste cômodo
Jaz,
A minha paz.
II
Fixada no chão
A arvore faz sombra
Sobre meu coração.
III
Sentado sozinho
No banco da praça
Um homem chora.
IV
Solto um grito
Ali parado, do meu lado
O sofá maldito.
[85]
Poemas Resgatados da Lixeira
[86]
Poemas Resgatados da Lixeira
Soneto da Vida
A vida bem vivida é pouco falada
Emotiva, alegre e agitada
Cheia de comida e bebida
Esta é, a vida bem vivida.
[87]
Poemas Resgatados da Lixeira
[88]
Poemas Resgatados da Lixeira
[89]
Poemas Resgatados da Lixeira
Prelúdios Noturnos
Abre - se alas/ entra o cão/ noite fria/ Marivalda traz o
blusão/
Deite se/ liga a televisão/ Aumento do feijão/ Que
terrível/
Mostra o peito/ satisfação/ não deste jeito/ Nesta posição/
Marivalda, aqui Marivalda.../ Lá fora frio/ Dentro um
arrepio/
Aí minhas costas Marivalda...
[90]
Poemas Resgatados da Lixeira
Poemas Ensaios
I
Coração, aonde vai coração?
Me dê inspirações, dessabores.
Me dê uma canção.
Para que eu possa cantar
E dizer quais são os prazeres
Que me causam o ato de amar!
II
Debaixo do ipê:
O que ninguém vê, e ninguém diz,
Abraçados, um casal feliz.
III
Embaixo do ipê rosa um casal se abraça
E se beija.
Um velhinho se espreguiça, uma criança boceja.
Uma mãe observa as crianças correndo
Um cachorro late enquanto persegue um gato.
Todos gostam do ipê rosa, isso é fato.
IV
Amar fortemente é para poucos
Como diz um ditado: Ame aos poucos.
É tudo uma questão de esperar que a hora irá chegar.
[91]
Poemas Resgatados da Lixeira
[92]
Poemas Resgatados da Lixeira
[93]
Poemas Resgatados da Lixeira
Prenúncio de morte
Este é meu último e primeiro
Livro, ao menos escrevi um, e das
Garras da tristeza criativa não sou
mais cativo.
Feliz fui, feliz vivi, morrerei chorando
Mas saiba que em vida sorri.
Não tenho muito a dizer sobre minha morte, só que minha
vida será entregue a sorte.
E ao lado de meus ídolos sentarei, chorei, sorri, sofri, em
meu pequeno
reinado em vida fui rei.
[94]
Poemas Resgatados da Lixeira
Ato de renascer
Nas linhas há vida
São cheias de rima
Na caneta, a tinta
E por trás de tudo
Há um suicida.
O poeta é sujeito que comete constante suicídio
A cada verso que escreve: morre.
E na próxima estrofe já está revivido.
[95]
Poemas Resgatados da Lixeira
Vá ser feliz!
Vá viver a vida!
Correr pelos belos campos
Da natureza
Beber da água mais pura
Experimentar das comidas mais gostosas...
Veja tudo, coma tudo!
Seja feliz...
É o que me dizem
Enquanto me olho no espelho e arrumo minha gravata.
[96]
Poemas Resgatados da Lixeira
A cinza
A cinza voa pelo ar como ave, sua cor escura completa o
cenário azul marinho do céu polvilhado pelo branco das
nuvens.
[97]
Poemas Resgatados da Lixeira
Mercurial
Tive aos treze, era azul
Como as araras, voava
em campo.
Como as araras, sumiu.
Se foi pelos ares como
Meu sonho de ser jogador.
Levou consigo o amor
pelo esporte, todo azar,
Toda sorte e toda dor.
As araras sumiram, e a chuteira
velha eu doei
Os dias se consumiram
e eu nunca mais voei.
[98]
Poemas Resgatados da Lixeira
[99]
Poemas Resgatados da Lixeira
Debaixo do ipê
O que ninguém vê, nem diz
Abraçados, um casal feliz.
[100]
Poemas Resgatados da Lixeira
Viver?
Não sei dizer,
Confusão.
[101]
Poemas Resgatados da Lixeira
Adeus? Jamais
É um até logo
E nunca mais.
[102]
Poemas Resgatados da Lixeira
Platônico
Seus cabelos cacheados
Me provocam e neles quero me enrolar
Envolve-la em meus lábios
E infinitamente te amar...
Porém não posso te amar
Pois há outro em meu lugar
Que teve a sorte de antes de mim te achar.
[103]
Poemas Resgatados da Lixeira
Indagações
Porquê o quase dói como o que foi?
Porquê o para sempre finito
Destrói mais que o para sempre eterno?
Porquê os amores longos
Nos tornam reis
E os curtos nos transformam em subalternos?
[104]
Poemas Resgatados da Lixeira
[105]
Poemas Resgatados da Lixeira
Tangamarindo nove
(este versa sobre poesia)
Hoje não tem poema
Amanheci feliz, sem dilemas.
Quero ver as flores rosas
Que cheiram mel.
Ver as nuvens brancas que enfeitam o céu.
Quero poetar num dia sem poesia
Esquecer de escrever, de cantar e sofrer
Como poeta estou ausente, não há nada
Em mim que se descontente
Com o sol a pino, a pinga amarga e a dor
Latente, que só quem é poeta sente.
Uma necessidade de rimar no dia em que o espirito devia
descansar...
[106]
Poemas Resgatados da Lixeira
[107]
Poemas Resgatados da Lixeira
[108]
Poemas Resgatados da Lixeira
Comédia soneto
Há um vazio do tamanho de deus no home
Este vazio, que não é quente nem frio
Se chama fome.
E nos deixa a andar desvario.
Digo asneiras como o presidente
Incomodo como um dente ciso
Podem até não me considerar gente
Mas em meus versos me faço vivo.
Digo fato e ali me mato
Por dizer verdades não
Sou acatado, e por isso
Descontinuado.
[109]
Poemas Resgatados da Lixeira
[110]
Poemas Resgatados da Lixeira
Gramamor
Amoramar
Roma ama
Rama ama
Armaoma
O amor, ama?
Amorama
[111]
Poemas Resgatados da Lixeira
Pátria brasileira
Ouvi dizerem que nos estados unidos
Os poetas são valorizados
Os carros são mais bonitos
E nós não somos roubados.
Que lá todos creem em deus
O dinheiro escorre pelos hidrantes
Aqui? Nem o preço da cachaça é como antes...
As mulheres são loiras, brancas de cabelo liso.
As daqui? Nem isso...
Queria que aqui fosse diferente, que aqui
Fosse o que quiséssemos, não o que querem da gente.
[112]
Poemas Resgatados da Lixeira
Epifania
Adeus meu amor
A ti dediquei
Versos meus
Que agora são teus.
De amargurar até
Morrer
Sem poesia sentimental
Poder escrever.
Retorna a mim
Os versos meus, amor
Pois são meus escritos
De dor.
[113]
Poemas Resgatados da Lixeira
[114]
Poemas Resgatados da Lixeira
[115]
Poemas Resgatados da Lixeira
Canção
Ah meu deus que agonia...
Penso nela toda noite e dia
Mas quem diria que a moça com quem
Fiz planos durantes anos
Ela mesmo os destruiria.
Agora fico aqui, dia e noite me lamentando
Do sorriso dela vou me lembrando
Ah meu deus, que agonia!
Penso nela toda noite e dia
Enquanto isso, ela vai vivendo
Vai beijando e vai sorrindo
E eu vou chorando e vou sofrendo.
Ela a vida vai seguindo
Eu a vida lamentando.
Ah meu deus que agonia!
[116]
Poemas Resgatados da Lixeira
Ovoned?
Sabe, sabia que sou sábio?
Se sim, só saia se sozinho se sente
A gente tem que cuidar da gente.
Vamos, escove os dentes.
[117]
Poemas Resgatados da Lixeira
[118]
Poemas Resgatados da Lixeira
Amor
Fogo e depois fumaça.
O beijo, e a paixão devassa
mandam embora a solidão
Que dá espaço pra imensidão
De vários amores, febris e fortes.
[119]
Poemas Resgatados da Lixeira
Romeu e Julieta
O escuro um dia acordou se sentindo claro
Pensava haver em si menos escuridão, por isso
Se achava um escuro raro, em meio a toda a escuridão.
O escuro tinha um bom coração, e gostava de uma garota
claro
Por ela, ele morria de paixão.
E por ela, tinha um amor raro, desses de aquecer o coração.
Então lá se foi a escuridão
Mostrar a ela seu amor caro, para sua surpresa
Ela também o amava, e disse
Sim a aquela paixão.
Claro-escuro a melhor junção
Como dia e noite eles viveram a partir de então.
Mas o pai de claro não gostava dessa relação, seu nome era
luz e ele
Odiava a escuridão.
Fez de tudo para acabar com o amor
Brigava com claro e agredia a escuridão
Até que um dia ele triunfou e conseguiu pôr um fim a
relação
Até hoje escuro tenta se encontrar com claro, mas quando
luz chega
Ele espanta a escuridão.
[120]
Poemas Resgatados da Lixeira
Resgate
Meus poemas são mais podres
Que o que tem na lixeira
Sangro minhas dores nas linhas
Na esperança de quem alguém os leia.
[121]
Poemas Resgatados da Lixeira
Sol
Foi de manhã que
A janela aberta permitiu
Que a luz entrasse no meu coração
E acendesse a chama que iluminou minha
Visão
Logo que a escuridão sumiu.
[122]
Poemas Resgatados da Lixeira
A praça
Ali naquela praça histórias mil se fizeram
Crianças que se conhecem por acaso, se tornam amantes e
logo casam.
[123]
Poemas Resgatados da Lixeira
Vazio
Aqui nesse vazio houve um dia
Que tinha dentro dele horas.
E também minutos, que traziam mais dias e horas
E dentro delas, momentos.
Curtos, longos e infinitos
Grandes como anos.
[124]
Poemas Resgatados da Lixeira
[125]
Poemas Resgatados da Lixeira
Improviso de miliquinhentos
Portu-guês veio
Por tu sal
Que portou seis
Por tu: Qual?
Diz que não é inglês
Se não for será qual?
Aí pôs seis
Para o portu-guês
Só não sei em que porto-qual?
[126]
Poemas Resgatados da Lixeira
Clamor
Me deixe ler poesia!
Quero afogar minhas mágoas
Em Andrade
Quero chorar minhas dores
Em Cecilia.
Faça de mim o que quiser
Arranque minha alma cansada
Me deixe com fome por dias
Faça o que lhe couber
Mas por favor
Só me deixe ler poesia...
[127]
Poemas Resgatados da Lixeira
Rondô da Morena
Amor vem que lhe espero
[128]
Poemas Resgatados da Lixeira
[129]
Poemas Resgatados da Lixeira
Risos
São o remédio da alma
Um dia.
[130]
Poemas Resgatados da Lixeira
Antropofagia poética
De um
Rosas oram horas
Flores rezam rezas.
De noite
Açoite num afoito
Aceite, que alguns tem
Na dor, deleite.
Jogral
Neste jogo
De quente frio
Agua e fogo
Não jogo.
Ador
Adores, o dourado
Adora ser adorado
Quanto mais melhor, adulado.
Luxo
Tive luxação
De repartição
Uns juntavam muito nesta tal divisão.
Agora
De política a gatos fofos
Todos iam para ágora antes de voltar
Aos cafofos.
Lágrima
Rola baldeia e faz rotatória
[131]
Poemas Resgatados da Lixeira
Privi
Me privei do que nunca tive
Me abstive de ir aonde nunca estive
E fui chamado de humilde.
Légio
Comer estudar sobreviver, ou quase.
Depois morrer.
Essa é a sorte que alguns tem.
Ratos e roots
Roots roots rats rats rats
Algum passado presente doente
Relembrado matado.
Doramingo
Estabelecido por alguém
Que disse ser ler marcial divina
Hoje temos, que trabalhar nele também.
Defenda
De buraco em buraco de rocha em rocha
Ao fundo mais fundo profundo como onde enterraram
meu passado? Caio.
Jornal
Jogaram um cadáver do quarto andar
O São Paulo ganhou semana passada
Alta do gás
[132]
Poemas Resgatados da Lixeira
[133]
Poemas Resgatados da Lixeira
Esgoto
Se eu não tivesse tanto passado talvez teríamos futuro...
Talvez a gente fosse feliz
mas é sempre talvez e talvez e
talvez
quem sabe, a gente nunca tenha vez
porque o nosso tempo se esgotou...
[134]
Poemas Resgatados da Lixeira
Como?
[135]
Poemas Resgatados da Lixeira
A gente corre?
Corre
Corre
Corre
Morre
Corre
Corre
E
O
S
A
N
G
U
E
[136]
Poemas Resgatados da Lixeira
C
O
R
R
E
Escorre
Escorre
Corre.
Corre
Corre
Morre
Morre
Morre
Morre
Morre
[137]
Poemas Resgatados da Lixeira
Morre
Morre
Morre
Morre
Morre
Morre
Morre
Morre
Morre
Morre
Morre
Morre
Morre
Morre
Morre
[138]
Poemas Resgatados da Lixeira
Fézs
[139]
Poemas Resgatados da Lixeira
Das inutilidades
[140]
Poemas Resgatados da Lixeira
Só
E nada mais
Mas
Quando olho para trás
Vejo todos meus erros
E o que aprendi
E o prazer que isso me traz.
Porém só
E...nada mais.
Quando olho me vejo e as vezes choro e desejo
Deixar tudo pra trás
E ficar só, nada mais.
Nada.
Nada mais.
Tudo isso em um segundo, mas olho ao redor, e vejo o
mundo, de uma forma melhor.
E volto atrás.
Torno a ficar só, nada mais.
[141]
Poemas Resgatados da Lixeira
De Poe e Emas
[142]
Poemas Resgatados da Lixeira
D
De palavras em brasas e geladas e rasas
que exaltam rosas e voam com suas asas.
Que avoam em ondas e surfam em modas
De coisas toscas e horas tortas, de vivo em roupas, de rosas
mortas.
[143]
Poemas Resgatados da Lixeira
Sobrenada
[144]
Poemas Resgatados da Lixeira
Tangamarindo quinto
[145]
Poemas Resgatados da Lixeira
Carta
Gostaria de fazer uma carta a João
Falar como é viver em um lugar onde as nuvens descem ao
chão
Dizer sobre a água, o sabor daqui lembra suco de caqui e
mamão
As ruas são tortas, sobem e descem e voam a esquina
É um bom lugar, não há assassínio senão o do mar
Que cobre os rabiscos na areia, e matam ilusões de um
desatento.
Gostaria de dizer isso a João, mas ele não acreditaria, e a
lontra-pombo correio já partiu.
[146]
Poemas Resgatados da Lixeira
Já se
Deram conta que talvez as sobrancelhas nos traiam?
Como saber se a mentira é corroborada por ela?
Quem há que diga seguramente que sua sobrancelha
também
Mente, quando a gente mente?
[147]
Poemas Resgatados da Lixeira
E disse ele:
Certa vez eu fui lá, e estava lá
Tinha tudo lá
Era um bom lugar, mas onde fica
Não posso falar.
[148]
Poemas Resgatados da Lixeira
[149]
Poemas Resgatados da Lixeira
Lá em xique xique
Lá em xique xique da Bahia há uma morena a me esperar
[150]
Poemas Resgatados da Lixeira
! ... ; .
A História de um Relacionamento
[151]
Poemas Resgatados da Lixeira
Bravata
[152]
Poemas Resgatados da Lixeira
O gol
[153]
Poemas Resgatados da Lixeira
Mil vezes
[154]
Poemas Resgatados da Lixeira
Como canto
[155]
Poemas Resgatados da Lixeira
Bolso de calça
[156]
Poemas Resgatados da Lixeira
Breguenaite
Thingado
Lê se: Coisado
Que para se conjugar as coisas tem que ter jingado
Caso contrário se toma uma rasteira por bobeira e acaba
com o rabo todo sujo no chão.
E ninguém merece tomar bandão de palavra errada e ser
repreendido em prol da correção
Mas eu digo pois falo que num futuro hipotético eu diria (
ou eu já disse e não sabia?) que as vezes temos que ter
rebeldia
E lutar pelo nosso lugar ao sol em pleno dia
E dizer: Vrido crebado não cisconde em lugar errado ou cê
sai de cu cortado.
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Poemas Resgatados da Lixeira
Copo de café
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Poemas Resgatados da Lixeira
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Silva Rodrigues
Poemas Resgatados da Lixeira