Você está na página 1de 6

Consolidação | EDUCAÇÃO LITERÁRIA

PORTUGUÊS |12.º ANO


Poesia dos heterónimos, Ricardo Reis

I. O fingimento artístico: o poeta «clássico»

• Neoclassicismo: revivalismo da cultura da Antiguidade Clássica (sobretudo a grega).


• Neopaganismo: hierarquização ascendente – animais, homens, deuses e Fado que a todos
preside.
• Epicurismo: demanda da felicidade e do prazer relativos; indiferença perante as emoções
excessivas e preferência pelo estado de ataraxia (serenidade e ausência de perturbação ou
inquietação).
• Estoicismo: aceitação das leis do Tempo e do Destino; resignação perante a frágil condição
humana e o sofrimento; culto da autodisciplina e da abdicação voluntária de sentimentos e
compromissos.
• Horacianismo: carpe diem (fruir o momento com moderação).
• Classicismo como máscara poética.
• Contemplação da Natureza e desejo de com ela aprender a viver; afastamento social e rejeição
da práxis (proatividade).

II. Reflexão existencial: a consciência e encenação da mortalidade

• Consciência da efemeridade da vida, da inexorabilidade do Tempo e da inevitabilidade da


morte.
• Tragicidade da vida humana.
• A vida como «encenação» da hora fatal (previsão e preparação da morte): despojamento de
bens materiais, negação de sentimentos excessivos e de compromissos.
• Intelectualização de emoções e contenção de impulsos.
• Vivência moderada do momento (o presente como único tempo que nos é concedido).
• Preocupação obsessiva com a passagem do Tempo e com a inelutável morte (apesar do esforço
empreendido na construção da máscara poética).

III. Linguagem, estilo e estrutura

• Linguagem culta, erudita e latinizante.


• Estilo e forma complexos espelham o conteúdo.
• Tom didático e moralista (conselhos expressos no imperativo ou no conjuntivo com valor
exortativo).
• Tom coloquial na presença de um interlocutor.
• Ausência de rima (verso solto).
• Predomínio de construções sintáticas subordinadas e com influência da sintaxe latina
(alteração da ordem padrão dos constituintes sintáticos).
• Privilégio do presente do indicativo e uso frequente da primeira pessoa do plural.
• Recursos expressivos predominantes: anástrofe, metáfora, aliteração, apóstrofe.
Poesia de Ricardo Reis EM EXAME

639| 2009| 2.ª fase


639| 2013| 1.ª fase
639| 2016| 2.ª fase
GRUPO I

Apresente as suas respostas de forma bem estruturada. o


639| 2018| 2.ª fase
PARTE A

Leia o poema.

Prefiro rosas, meu amor, à pátria,


E antes magnólias amo
Que a glória e a virtude.

Logo que a vida me não canse, deixo


5 Que a vida por mim passe
Logo que eu fique o mesmo.

Que importa àquele a quem já nada importa


Que um perca e outro vença,
Se a aurora raia sempre,

10 Se cada ano com a primavera


Aparecem as folhas
E com o outono cessam?

E o resto, as outras coisas que os humanos


Acrescentam à vida,
15 Que me aumentam na alma?

Nada, salvo o desejo de indif ’rença


E a confiança mole
Na hora fugitiva.
Ricardo Reis, Poesia, edição de Manuela Parreira da Silva,
Lisboa, Assírio & Alvim, 2000, p. 64.

1. Compare a atitude do sujeito poético com a dos outros «humanos» (verso 13), tendo em conta a
oposição simbólica entre «rosas» e «magnólias», por um lado, e «pátria», «glória» e «virtude», por outro
lado (versos 1 a 3).

2. Interprete o sentido da segunda estrofe, à luz da filsof ia e vida de Ric ar do Rei s.

3. Explicite, com base no conteúdo dos versos 7 a 18, dois aspetos que evidenciem o modo como o sujeito
poético perceciona a passagem do tempo.

Prova 639.V1/2.ª F. • Página 2/ 8

Você também pode gostar