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GRUPO I

Apresente as suas respostas de forma bem estruturada.

Parte A

Leia o poema.

Screvo meu livro à beira-mágoa.


Meu coração não tem que ter.
Tenho meus olhos quentes de água.
Só tu, Senhor, me dás viver.

Só te sentir e te pensar
Meus dias vácuos enche e doura.
Mas quando quererás voltar?
Quando é o Rei? Quando é a Hora?

Quando virás a ser o Cristo


De a quem morreu o falso Deus,
E a despertar do mal que existo
A Nova Terra e os Novos Céus?

Quando virás, ó Encoberto,


Sonho das eras português,
Tornar-me mais que o sopro incerto
De um grande anseio que Deus fez?

Ah,quando quererás, voltando,


Fazer minha esperança amor?
Da névoa e da saudade quando?
Quando, meu Sonho e meu Senhor?
Fernando Pessoa, Mensagem, edição de Fernando Cabral Martins,
Lisboa, Assírio & Alvim, 1997, pp. 81-82.

1. Caracterize o estado de alma do sujeito poético, expresso nos seis primeiros versos.

2. Justifique o recurso simultâneo à anáfora e à frase interrogativa a partir do sétimo verso do poema.

3. Explique, com base nas duas últimas estrofes, por que razão o sujeito poético pode ser considerado um
profeta.

4. Identifique duas características do discurso lírico de Mensagem presentes no poema e transcreva um


exemplo significativo para cada uma delas.
Parte B

Lê o poema.

Criação sonhada
Tanto tempo a pensar
divino esforço
que adormecendo
Deus sonhou consigo:

5 Sonhou braços e pernas


e cabeças,
sonhou paisagens
de mental pudor,
conversas calmas
10 com o quase feito

E esforçado ficou
e exausto se quedou
ao ver-se assim traído
pela obra criada

15 só em sonho

Ana Luísa Amaral, Inversos, Poesia 1990-2010,


Lisboa, Dom Quixote, 2010, p. 313.

4. Relaciona os versos 1 a 3 com o sentido da penúltima estrofe do poema.

5. Interpreta o sentido da segunda estrofe.

6. Seleciona a opção de resposta adequada para completar a afirmação abaixo apresentada.


Este poema de Ana Luísa Amaral é pautado pela liberdade formal. Assim, o eu despreza a rigidez
estrófica, métrica e rimática, como está patente
A. na classificação variável das estrofes, apostando também num estilo prosaico.
B. na classificação invariável das estrofes, apostando também num estilo prosaico.
C. na classificação variável das estrofes, recorrendo também a vocabulário onírico.
D. na classificação invariável das estrofes, recorrendo também a vocabulário onírico.
GRUPO II

Lê o texto.

Para o infinito e mais além


A biblioteca municipal da minha cidade foi inaugurada quando eu tinha uns oito ou nove
anos. Era um edifício moderno, que me lembrava o número oito, com paredes rasgadas por
muitas janelas e um chão de madeira escura tão perfeitamente envernizado que quase feria a
vista de quem por ele caminhava. Ainda hoje me lembro do cheiro que se respirava em cada
5 sala, acreditam? Passei horas da minha infância e adolescência dentro daquele espaço que era,
a anos-luz de distância, o que mais me fascinava no mundo todo que eu conhecia.
Hoje, quando olho para aquele edifício, já não é um oito que vejo, mas o sinal matemático
de infinito. O mesmo infinito que aquela biblioteca me deu. Foi ali, no silêncio, que realizei
as minhas primeiras viagens, mesmo sem nunca sair da cadeira forrada de azul que preferia em
10 detrimento de todas as outras. Foi ali que li as minhas primeiras revistas, quase sempre ladea-
da por dois senhores já avançados na idade que se debruçavam sobre os jornais desportivos.
Foi ali, naquele espaço de oito vezes infinito, que ouvi CD inteiros enquanto me entregava à
mágoa dos desgostos do amor adolescente.
A minha biblioteca tinha dentro o meu mundo todo. E aquele mundo era muito maior do
15 que eu podia compreender e agarrar. Mas eu queria e não desistia. Queria saber tudo o que
aqueles livros tinham para me dizer, queria ler todas e cada uma das histórias, queria conhe-
cer cada uma das músicas. Foi ali que li Fernando Pessoa pela primeira vez, muito antes de
poder sequer compreender um décimo da beleza da sua poesia. Foi ali que fiz, sozinha e à
mão, a análise do livro O Cavaleiro do Vento, de José Jorge Letria, que me valeu um prémio
20 num concurso da escola. Foi ali que vi a primeira exposição da minha vida. Foi ali que perce-
bi que o mundo estava todo dentro dos livros e que, quase sem querer, me apaixonei pelo
seu cheiro.
Há umas semanas, voltei à biblioteca da minha vida com os meus filhos. E sabem o
que me aconteceu quando cruzei aquela porta pesada que tão bem conheço? Nostalgia
25 e tristeza.
Nostalgia porque o cheiro continua igual e porque me vi, outra vez, menina e reverente.
Nostalgia porque o chão ainda brilha e há funcionários que não mudaram. Tristeza porque a
biblioteca estava quase vazia. Tristeza porque o mundo que existe naqueles livros não merece
que as mãozinhas pequeninas desistam de o procurar. E então prometi a mim mesma que vou
30 voltar com os meus filhos tantas vezes quantas puder. Recuso-me a ser conivente com o defi-
nhar de uma magia mais forte do que a praticada nos corredores de Hogwarts. Recuso-me a
fazer parte do grupo que se esqueceu de retribuir às bibliotecas o mundo que elas, tivessem
ou não a forma física do infinito, lhes entregou como quem abraça.
Carmen Garcia, in Público (texto adaptado, com supressões,
consultado em https://publico.pt, em dezembro de 2022).
1. Tendo em conta o primeiro parágrafo, a relação da cronista com a biblioteca municipal da sua cidade foi
pautada
A. pelo acesso a um mundo onírico.
B. por um deslumbramento avassalador.
C. por uma descoberta permanente.
D. pelo estranhamento inicial.

2. O facto de associar o edifício da biblioteca ao «sinal matemático de infinito» (linhas 7-8), Carmen Garcia
pretende destacar
A. a pluralidade das vivências que lá experienciou ao longo da vida.
B. o prazer e a fruição de todas as atividades que eram lá promovidas.
C. a pertinência que a biblioteca assume no contexto social da cidade.
D. multiplicidade de experiências que muito marcaram a sua mocidade.

3. A metáfora «A minha biblioteca tinha dentro o meu mundo todo.» (linha 14) revela
A. o poder que a literatura assumiu na vida de Carmen Garcia.
B. as memórias que a cronista guarda do seu percurso escolar.
C. a simbologia de um lugar marcado pela fantasia e pela paixão.
D. a riqueza do acervo literário que aquele espaço possuía.

4. Em «me apaixonei pelo seu cheiro» (linhas 21-22), o pronome encontra-se anteposto ao verbo, porque está
A. integrado numa oração subordinante.
B. dependente de uma oração coordenada.
C. dependente de um advérbio.
D. integrado numa oração subordinada.

5. A frase iniciada por «Foi ali que li» (linha 17) e a frase iniciada por «Recuso-me a ser conivente» (linha 30)
exprimem
A. a modalidade epistémica, em ambos os casos.
B. a modalidade apreciativa, em ambos os casos.
C. a modalidade epistémica, no primeiro caso, e a modalidade apreciativa, no segundo.
D. a modalidade apreciativa, no primeiro caso, e a modalidade epistémica, no segundo.

6. Identifica a função sintática desempenhada pelas expressões:


a) «que o mundo estava todo dentro dos livros» (linha 21);
b) «pelo seu cheiro» (linhas 21-22).

7. Indica o processo de coesão textual assegurado pela reiteração da conjunção «porque»,


nas linhas 26 a 28.
GRUPO III

«Há palavras que nos beijam


Como se tivessem boca.»
Alexandre O’Neill, Poesias Completas, 4.ª ed., Lisboa,
Assírio & Alvim, 2005, p. 64.

«São como um
cristal, as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.»
Eugénio de Andrade, Antologia Breve, 6.ª ed.,
Porto, Fundação Eugénio de Andrade,
1994, p. 35.

Num texto de opinião bem estruturado, com um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas e
cinquenta palavras, defenda uma perspetiva pessoal sobre o poder das palavras nas relações humanas.

No seu texto:
– explicite, de forma clara e pertinente, o seu ponto de vista, fundamentando-o em dois argumentos,
cada um deles ilustrado com um exemplo significativo;
– utilize um discurso valorativo (juízo de valor explícito ou implícito).

observações:

1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco,
mesmo quando esta integre elementos ligados por hífen (ex.: /dir-se-ia/). Qualquer número conta como uma única
palavra, independentemente do número de algarismos que o constituam (ex.: /2018/).

2. Relativamente ao desvio dos limites de extensão indicados – entre duzentas e trezentas e cinquenta palavras –, há
que atender ao seguinte:
− um desvio dos limites de extensão indicados implica uma desvalorização parcial (até 5 pontos) do texto
produzido; − um texto com extensão inferior a oitenta palavras é classificado com zero pontos.

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