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3. Retórica e teoria política na obra de Cícero.

3.1. Acção de Cícero


Marco Túlio Cícero e o seu tempo; formação intelectual e vida pública, o ideal do 'otium cum dignitate'.
A epistolografia e a oratória ciceronianas; os tratados retóricos e filosóficos; Cícero e os poetae noui, o
contributo de Cícero para a difusão do pensamento grego; as principais escolas filosóficas do período
helenístico (cepticismo, epicurismo e estoicismo); o projecto ciceroniano de criação de uma literatura
filosófica em latim.

Bibliografia:
P. GRIMAL, Cicéron, Paris, Fayard, 1986. [trad. Espanhola em pdf]
B. F. PEREIRA, Retórica e eloquência em Portugal na época do Renascimento, Lisboa, INCM, 2012, 42-59, 87-127, 566-
655.
M. H. Rocha PEREIRA, Estudos, II vol., 2009 (4ª ed.), pp. 103-180.
M. H. Rocha PEREIRA, «Nas origens do humanismo ocidental: os tratados filosóficos ciceronianos», Revista da Fac. de
Letras, Porto, 1 (1985) 7-28.
A. COSTA RAMALHO, Cícero, Lisboa, Verbo, 1974, pp. 9-37.
J. M. ANDRÉ, La philosophie à Rome, Paris, PUF, 1977.
J. ANDRIEU, Le dialogue antique, Paris, Belles Lettres, 1954, caps. 16-17.
W. CAPELLE, Historia de la Filosofía Griega, Madrid, Gredos, 1976, pp. 411-567.
J. A. CROOK (ed.), The Cambridge Ancient History, vol. IX., Cambridge, CUP, 2008.
M. GRIFFIN, Philosophia Togata, Oxford, Clarendon Press, 1989.
R. HANKINSON, The Sceptics, London, Routledge, 1995.
C. HOOKWAY, Scepticism, London, Routledge, 1992.
C. LEVY, Cicero academicus, Roma, École Française de Rome, 1992.
A. LONG, Hellenistic Philosophy, London, Duckworth, 21986.
J. POWELL, Cicero the Philosopher, Oxford, Clarendon Press, 1999.
J. M. PIEL, Livro dos Ofícios de Marco Tulio Ciceram, o qual tornou em linguagem o Infante D. Pedro, Duque de Coimbra,
Coimbra, Acta Universitatis Conimbrigensis, 1948.
A. COSTA RAMALHO, «Cícero nas orações universitárias do Renascimento», Revista da Faculdade de Letras da
Universidade do Porto, II série, 1 (1985), pp. 29-46.
J. OSÓRIO, «Cícero traduzido para português no séc. XVI», Humanitas 37-38 (1986), pp. 191-266.
W. F. ALTMAN (ed.), Brill’s Companion to the Reception of Cicero, Leiden, Brill, 2015.
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De Cícero temos uma autobiografia no final do seu diálogo Brutus. Marco Túlio Cícero (Arpinum, 106
- Gaeta, 7. 12. 43 a. C.), embora de origem plebeia, nasceu no seio de uma família abastada
que lhe pôde proporcionar uma excelente educação. Em Roma, na companhia do seu irmão
Quinto, pôde ouvir os melhores mestres: estuda direito com os Cévolas, retórica com
Apolónio Mólon, um grego de Rodes, filosofia com Fedro, filósofo epicurista, Fílon,
filósofo académico que o leva a rejeitar o epicurismo, e ainda com Diódoto, filósofo estóico.
Domina perfeitamente o grego, traduz além de trechos de Homero e dos trágicos os
Phaenomena de Arato; aperfeiçoa os seus conhecimentos retóricos frequentando o forum,
onde escutava os oradores mais eminentes do tempo. Em 84 a. C. inicia a sua actividade de
advogado, de 81 a. C. é o primeiro discurso judicial que chegou a té nós, o Pro Quinctio,
iniciando uma carreira de orador que tornará o seu nome sinónimo da própria eloquência
(Quintiliano, IO 10.1.112). Dos 58 discursos remanescentes, alguns são justamente
considerados obras-primas da prosa latina, Pro Archia, Pro Murena, Pro Milone, Pro
Sestio, Pro Caelio, Pro Marcello, as In Verrem, In Catilinam. Ler Romana, ‘A eloquência
de Cícero’ (Catulo 49.1-7).
No entanto, não vamos estudar nem a sua oratória, nem as suas tentativas poéticas (De consulatu suo),
nem a epistolografia que tanto impressionou os humanistas do Renascimento (as mais de
setecentas cartas que constituem as 4 colectâneas Ad Familiares, Ad Quintum fratrem, Ad
Atticum, Ad M. Brutum).
Interessa-nos sobretudo o tratadista de filosofia e retórica por forma a conhecermos ainda que
parcelarmente essas duas dimensões da cultura antiga, que no ideal ciceroniano configuram
a própria sabedoria. De 21 tratados filosóficos compostos por Cícero, temos apenas 12:
Tusculanae disputationes, Academicae quaestiones, Paradoxa stoicorum, De finibus, De
natura deorum, De fato, De diuinatione, De officiis, De re publica, De legibus, De amicitia,
De senectute. Sobre retórica Cícero escreveu tratados técnicos como o De inuentione,
Partitiones oratoriae, Topica, e tratados teóricos como De oratore, Orator, Brutus ou ainda
o prefácio De optimo genere oratorum.
Repercussão de Cícero na Antiguidade, na Idade Média (o sábio, versões de Alonso de Cartagena e do
Infante D. Pedro), no Renascimento (o Tullianus stilus, o ciceronianismo), modelo da prosa
latina até ao séc. XIX, a hipercrítica (escola de Mommsen), caricatura de Cícero, reduzido
a transmissor e divulgador da filosofia grega, de muitos filósofos gregos apenas possuímos
citações feitas por Cícero.
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3.2. Cícero divulgador da filosofia grega.

‘Os mestres de filosofia de Cícero’, Romana, (Dos Deveres III.4.20)


formação filosófica: com mestres estóicos, Élio Estilo (gramático), Posidónio (em Roma e em Rodes),
Diódoto (seu hóspede); epicuristas como Fedro; académicos, Fílon de Larissa, Antíoco de
Ascalón, ecléctico conhecido por tentar conciliar três correntes filos. platonismo,
aristotelismo e estoicismo.
O grande século do pensamento grego tinha passado, durante o período helenístico da história grega, as
escolas filosóficas de Platão e Aristóteles, a Academia e o Liceu, evoluem para novas
doutrinas e sofrem a concorrência de novas correntes intelectuais; nesta época afirmam-se
sobretudo três escolas filosóficas, o cepticismo, o estoicismo e o epicurismo.
Embora seja possível encontrar a atitude céptica em filosósofos anteriores, tanto no campo da teoria do
conhecimento, como no da metafísica, ética ou religião, enquanto doutrina filosófica o
cepticismo surge com Pírron de Élis (360-270 a. C.) na transição do séc. IV para o séc. III
a. C.. Depois esta corrente entrou na Academia platónica, tendo então como seu máximo
expoente Carnéades, com o seu discípulo Fílon de Larissa e Antíoco de Ascalón o
cepticismo radical entra em crise derivando para o eclectismo.
É questão controversa a da definição exacta das doutrinas desta corrente filosófica, porque se põe o
problema das fontes, as principais fontes são tardias Diógenes Laércio e Cícero; com efeito
um dos textos de acesso a estas ideias é precisamente o tratado ciceroniano Academicae
quaestiones, diálogo em que Cícero analisa os prós e contras do cepticismo, servindo-se
dos escritos dos seus mestres Fílon e Antíoco. No essencial os filósofos desta corrente
negam a verdade do conhecimento sensorial e racional, professam um agnosticismo
gnoseológico (teoria do conhecimento) herdeiro do relativismo dos sofistas, no campo da
moral recusam a possibilidade de estabelecer valores universais e em matéria de religião
adoptam uma atitude agnóstica pondo em causa o conceito de divindade do politeísmo
antropomórfico, a teologia dogmática dos estóicos, bem como a doutrina epicurista dos
deuses. Face às exigências da vida prática, Carnéades formula a doutrina da probabilidade,
com seus três graus de verosimilhança.
Recepção do cepticismo em Roma, 'A embaixada dos filósofos atenienses', Romana (Plutarco, Catão
22.1-4). Plutarco conta que por 155 a. C. vieram a Roma numa embaixada 2 filósofos
gregos, um académico Carnéades, outro estóico Diógenes; noutras fontes surge ainda um
peripatético Critolau, mas nunca se refere a presença de um representante da escola
epicurista. Carnéades fascina a juventude com discursos à maneira sofista, a favor e contra
a justiça. Catão o Censor leva o Senado a expulsar os 2 filósofos; apesar da oposição anti-
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helénica, da resistência ao helenismo criou-se em Roma um clima favorável e de ‘Apreço


pela filosofia grega’, vd. Romana (Cícero, Do orador 2.137.154).
No entanto a influência do cepticismo em Roma foi escassa, e a sua divulgação deve-se mais a Cícero,
ainda quando o Arpinate cita essas doutrinas para as refutar
Maior repercussão entre os romanos teve o estoicismo
O estoicismo antigo, fundado por Zenão, séc. IV a. C., e teorizado sobretudo por Crisipo e Cleantes,
afirmava que o mundo, kosmós, foi criado pela divindade, theós, e que é governado pela
Providência ou Divina Razão, o lógos; que o mundo seguia o seu curso num movimento
cíclico de decadência e renovação, teoria do devir cíclico (à ekpyrosis 'conflagração
universal', segue-se a palingenesía, o renascimento); que o homem participa do lógos,
comprendendo as leis que governam o mundo o sapiens estóico pode ser feliz; como o
epicurismo procura resolver o probelma da felicidade individual do homem. Não temos
textos do estoicismo antigo, conhecemos sobretudo as teorias de Panécio, estóico do séc. II
a. C., e conhecêmo-las através de Cícero.
Ora este Panécio é um dos gregos que frequenta o círculo dos Cipiões, a quem se deve uma justificação
do Império Romano: como tendia para o proveito dos cidadãos era justo visto que impedia
os fortes de exercerem prepotêncais sobre os mais fracos e assegurava a paz sob a égide do
direito e da lei que é de origem divina. Cíceor no De officiis toma Panécio como modelo e
é grande ainda a sua influência no De re publica.
Outro divulgador do estoicismo em Roma foi Posidónio (135-51 a. C.), também uma das fontes de
Cícero no De officiis. Cícero e Pompeu foram ouvi-lo em Rodes, então grande centro
cultural; segundo P. GRIMAL Posidónio fazia da virtude da justiça o fundamento de toda
a vida social, facto que não podia deixar de seduzir os romanos, vd. ‘O estoicismo em
Roma: Posidónio’ Romana (Cícero, Tusculanas 2.25.61).
O interesse de um general por um filósofo seria incompreensível para os romanos do
período arcaico, embora o estoicismo se caodunasse perfeitamente com o espírito romano,
os romanos eram por assim dizer estóicos avant-la-lettre, os heróis lendários dos tempos
primitivos de Roma, Múcio Cévola, Régulo, encarnavam a figura do herói estóico. Mais
tarde no período imperial, teve esta doutrina enorme acolhimento em Roma (Séneca e
Marco Aurélio)
Pelo contrário o epicurismo teve pouco sucesso em Roma. Epicuro propunha também uma filosofia de
vida que tinha por fim alcançar a felicidade pessoal. Ideias centrais desta doutrina eram a
philía, a amizade, a abstenção da vida pública, o prazer como idela supremo no sentido de
ausência de dor (evitar os prazeres negativos, aqueles que satifeistos provocam novos
desejos), a ataraxia, isto é, o domínio de si próprio, atomismo, sensualismo gnoseológico,
explicação mecanicista do mundo, materialismo agnóstico; estas doutrinas repugnavam aos
romanos: por meados do séc. II a. C. dois epicuristas gregos tentaram abrir escola em Roma,
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mas foram ambos expulsos, a difusão do epicurismo em Roma será feita no séc. I a. C. por
um poeta latino Lucrécio com o seu poema De rerum natura.
No entanto a divulgação sistemática das correntes da filosofia grega será glória de Cícero.
A posição filosófica de Cícero, Romana, p. 59 (De officiis 2.2.8).
Cícero sente-se autorizado a adoptar uma posição ecléctica e sincretista: rejeita o epicurismo que
receitava a abstenção da vida política, prefere o estoicismo que ao invés defendia a acção,
a virtude activa, combinando-o com as doutrinas eclécticas do academismo, aceita o
probabilismo no que toca à teoria do conhecimento, mas recusa o cepticismo quado podia
por em causa o Estado ou a religião romana, nestes domínios, da política e da religião
mantém-se fiel ao estoicismo. Em suma procura conciliar a sabedoria grega com o espírito
romano, é nesta perspectiva helenizante, universalista, mas referado pelo particularismo
romano que Cícero formula o projecto de criação de uma literatura filosófica em latim.

Bibliografia
ANDRÉ, J. M., La Philosophie à Rome, Paris, PUF, 1977.
BRUNSCHWIG, J., Études sur les philosophies hellénistiques: epicurisme, stoicisme, scepticisme,
Paris, PUF, 1995 (FLUP, 1/VII/14).
FORTENBAUGH, W. W. - P. STEIMETZ (ed.), Cicero's knowledge of the Peripatos, New Jersey,
Rutgers University, Studies in Classical Humanities, 1989.
GRIFFIN, M. - BARNES, J. (eds.), Philosophia Togata: Essays on Philosophy and Roman Society,
Oxford, Clarendon Press, 1989.
GRIMAL, P., Le siècle des Scipions, Paris, Aubier, 21975, cap. VI.
GUILLEMIN, A. M., «Cicéron entre le génie grec et le mos maiorum», REL 33 (1955), pp. 209-230.
GUILLÉN, José, «Actitud filosofica de Cicéron», Helmantica 41 (1990), pp. 35-83.
GUITE, H., «Cicero's attitude towards the Greeks», Greece & Rome 9 (1962), pp. 142-159.
HANKINSON, R. J., The Sceptics, London, Routledge, 1995 (FLUP, 1H218s).
HOOKWAY, C., Scepticism, London, Routledge, 1992 (FLUP, 14H755s).
LEVY, C., Cicero academicus: recherches sur les Académiques et sur la philosophie cicéronienne,
Roma, École Française de Rome, 1992 (FLUP, 81/IV/311v).
LONG, A. A., Hellenistic Philosophy, London, Duckworth, 1974, 21986 [trad. esp. Madrid, 1981].
MacKENDRICK, P., The Philosophical Books of Cicero, London, Duckworth, 1989.
PEREIRA, M. H. ROCHA, Estudos de História da Cultura Clássica, vol. II, Lisboa, Fundação Calouste
Gulbenkian, 42009, pp. 125-143.
POWELL, J. G. F. (ed.), Cicero the Philosopher: Twelve Papers, Oxford, Clarendon Press, 1995.
RAWSON, E., Intelectual Life in the Late Roman Republic, London, 1985.
VALENTE, M. , L'éthique stoicienne chez Cicéron, Paris, 1956.
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3.1.2. Plano de criação de uma filosofia romana


Este projecto é exposto sobretudo no prólogo de 2 obras: De finibus 1.1.4 e Tusculanae 1.1.4.
Romana, Dos Limites Extremos 'as traduções latinas do grego', riqueza da língua latina', 'origens
helénicas da Cultura Romana'
Cícero rejeita as críticas que lhe possam fazer por se dedicar à filosofia: as críticas daqueles que não
admitem que um romano perca tempo com a filosofia, daqueles que toleram que se filosofe
moderadamente, daqueles que preferem ler as obras filosóficas nos originais gregos,
daqueles que afirmam ser a filosofia incompatível com a dignitas. Finalmente refuta a
eventual objecção de que ocupando-se da filosofia descurava os interesses da respublica.
Mas a proclamação mais veemente da necessidade de criar uma literatura filosófica em Latim é a aque
vem no prefácio às Tusculanae. Declara ter regressado à filosofia depois de liberto do
trabalho forense e senatorial (justificações habituais em Cícero); propõe-se escrever sobre
filosofia em latim (vd. bilinguismo dos estratos superiores da sociedade romana); afirma a
superioridade romana sobretudo naquelas qualidades que se atingem pela natureza e não
pelo estudo; aponta como qualidades especificamente romanas: grauitas 'seriedade,
gravidade', constantia 'constância, perseverança', magnitudo animi 'fortaleza', probitas
'honradez', fides 'lealdade', uirtus 'valor'; justifica a vantagem dos gregos na poesia e demais
artes pela antiguidade da cultura grega, tiveram os gregos Homero e Hesíodo ainda antes
de Roma ser fundada, e ainda com a falta de estímulos para a promoção dos estudos, honos
alit artes 'a honra fomenta as artes' (cf. Lusíadas 10. 145: No mais, Musa, no mais, que a
lira tenho/ destemperada e a voz enrouquecida,/ e não do canto, mas de ver que venho/
cantar a gente surda e endurecida./ O favor com que mais se acende o engenho/ não no dá
a pátria, não, que está metida/ no gosto da cobiça e na rudeza/ dua austera, apagada e vil
tristeza.). Cícero reconhece que apenas a oratória atingiu algum esplendor depois dos
Gracos, mas a filosofia «esteve abandonada até ao nosso tempo sem ter qualquer brilho nas
letras latinas», Tusculanae 1.3.5-6.
Jean Marie ANDRÉ (La Philosophie à Rome, Paris, PUF, 1977, pp. 68 sqq.) agrupa sugestivamente os
tratados filosóficos de Cícero por ciclos temáticos:
uma suma política, De re publica, De legibus
os fundamentos da ética, De finibus
a difícil procura da verdade, Academicae
o sentido da condição humana, Tusculanae
uma suma teológica, De natura Deorum, De fato, De diuinatione
duas biografias espirituais, De senectute/Cato maior, De amicitia/Laelius
as metamorfoses do supremo bem na sociedade, De officiis
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3.1.3. A questão da originalidade


Os tratados filosóficos e retóricos, à excepção do De officiis e do Orator, apresentam-se sob a forma de
diálogo, seguindo uma tradição inaugurada pelos sofistas, adoptada pelos discípulos de
Sócrates e consagrada por Platão. Este género tornou-se característico da prosa filosófica,
Platão situa a acção dramática no séc. V a. C., Sócrates geralmente está presente e muitas
vezes é o protagonista, por norma sua Platão nunca se inclui entre as personagens, embora
na República Sócrates tenha como interlocutores dois irmãos do filósofo, Glauco e
Adimanto.
Cícero, pelo contrário, situa os seus diálogos em dois momentos históricos:
- no tempo dos Cipiões (De re publica, De senectute, De amicitia), idealização
- no próprio tempo de Cícero, sendo ele uma das personagens (De legibus, a discussão
trava-se entre Cícero, Quinto e Ático, De finibus participam Cícero e dois amigos já
falecidos, Brutus); por sua vez a acção das Tusculanae decorre em Túsculo, numa das uillae
que Cícero possuía fora de Roma, e o De finibus em Cumas.
No De finibus Cícero confessa ter-se valido de apógrapha, cópias de modelos gregos; no De officiis
declara seguir Panécio e Posidónio, embora reclame originalidade no livro III, que afirma
ter composto Marte meo 'com as minha munições'. A hipercrítica do séc. XIX, da escola de
Mommsen, reduz por isso o autor latino a mero divulgador dos gregos, negando-lhe
originalidade, no entanto esse Cícero era uma caricatura (K. BÜCHNER) e como escreve
Woldemar GÖRLER «o método de atribuir o que é brilhante e lógico a um original grego
e todas as incongruências e dificuldades a Cícero está hoje definitiva/ posto de parte».
Eclectismo, tolerância, disponibilidade para ouvir os outros são características próprias da obra
ciceroniana, cf. De finibus 1.7.27, Estudos, p. 124.
Cícero afirma-se independente em relação aos sistemas filosóficos, Tusculanae 4.4.7; 5.11.32; 5.29.
Procura aliar a paideia grega ao mos maiorum dos romanos, o saber grego à experiência
romana, exalta a superioridade do direito romano, concedendo-lh elugar de relevo para a
formação do orador, procura sempre ilustrar os preceitos dos gregos com exempla
nacionais. Se numa carta a Ático (12.52.3) Cícero reduz o seu contributo filosófico ao
aspecto estilístico, noutra epístola da mesma colectânea (13.13.1), depois de ter escrito as
Academicae orgulha-se de ter redigido uma obra sem paralelo na filosofia grega.
Bibliografia
ANDRIEU, J., Le dialogue antique, Paris, Belles Lettres, 1954, c. XVI-XVII.
DAVIES, J. C., «The Originality of Cicero's philosophical works», Latomus 30 (1971), pp. 105-119.
GRIMAL, P. «Charactères généraux du dialogue romain», Information Littéraire 7 (1955) 192-198.
KUMANIECKI, K «Tradition et apport personnel dans l'oeuvre de Cicéron» REL 37 (1959) 171-183
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3.2. A concepção ciceroniana da História.


Cícero depois de aclimatar a filosofia e a retórica às circunstâncias romanas, terá pensado em fazer o
mesmo relativamente à história. Embora não chegue a realizar tal objectivo, no Deoraotre
aborda esta problemática sob a perspectiva teórica e no livro II do De re publica elabora
uma tentativa de história romana, desde a fundação da Urbe, mostrando como se formou
um estado real.
A reflexão sobre a actividade do historiador, a poética da história de que fala Cizek, mediatção sobre a
natureza da história e sua articulação com os outros ramos do saber, surge no De legibus,
na carta a Luceio (Ad Familiares 5.12), no De republica e no De finibus, mas
principalmente na obra retórica (De oratore, Orator, Brutus).
Romana, ‘Os Romanos podem rivalizar com os Gregos na história’ (De legibus, 1.2.5-6), Cícero
reconhece a existência de uma tradição analística de natureza religiosa e uma historiografia
mais recente de origem laica. Os analistas eram os autores dos anais, relatos dos
acontecimentos consignados ano a ano por ordem do pontífice, e depois afixados
publicamente para que o povo deles tomasse conhecimento. A historiografia laica suge no
decurso da segunda guerra púnica, com Fábio Pictor, Cíncio Alimento, Catão-o-Censor
(Origines), Pisão e Fânio. Cícero reconhece-lhes algumas qualidades mas lamenta a sua
ingenuidade, a redacção defeituosa da matéria, a aridez do estilo, a brevidade das narrativas;
vai ao ponto de considerar que Roma não apresentara ainda um verdadeiro historiador digno
desse nome. Como modelos propõe Heródoto e Tucídides, admite os commentarii desde
que feitos com o talento de um César.
A pobreza da Cultura Romana no campo historiográfico reclamava o talento e a eloquência de Cícero;
Na opiniçao dos seus amigos seria a pessoa indicada para levar a cabo tal tarefa; segundo o
seu amigo Cornélio Nepos, Cícero seria o único capaz de verter a história em linguagem
retórica, historiam digna uoce pronuntiare.
Na carta a Luceio (Ad Familiares, 5.12), revela-se mais nitidamente a concepção ciceroniana da história;
Cícero propõe um ideal repetido por Salústio, Tito Lívio e Tácito: estabelece a ideia de
'verdade' em história, distinguindo ueritas de gratia e amor, a ueritas deve servir a fides, a
lealdade para com o estadista e o Estado, a narrativa deve ser verosímil, credível, no sentido
retórico de fides, como o orador também o historiador deve buscar a credibilidade. Veritas
é identificada cpm fides.
No livro II do De oratore Cícero desenvolve igualmente estas ideias. No livro I Crasso postulara a
história como um dos ramos do saber que o orador ideal deve dominar na sua cultura
enciclopédica. Neste livro II António toma a palavra, para, por sua vez, fazer o elogio da
eloquência e expor o qu eentende por oratória. António trata da problemática da história em
duas partes: primeiro faz a crítica da historiografia arcaica (2.51.61), depois responde à
questão de como escrever a história (2.62-64).
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De oratore 2.15.62-63, Estudos, p. 140: a história é tarefa do orador; preceitos a observar pelo
historiador, não dizer falsidade alguma, ousar dizer toda a verdade, evitar qualquer suspeita
de favor ou aversão; depois a rerum ratio obriga à ordinem temporum e à regionem
descriptionem, deve o historiador atender à ordem cronológica dos acontecimentos,
descrever os lugares, apresentar as causas com rigor, giografar as principais figuras, dar a
conhcer as suas acções e carácter. Esta tem sido a interpretação tradicional deste trecho do
De oratore (P. G. WALSH, M. H. ROCHA PEREIRA, A. P. KELLEY, P. A. BRUNT).
Mas, como observa A. J. WOODMAN), é necessário situar este passo do De oratore no
seu contexto, António regressa à pergunta com a qual iniciara a sua exposição, se é ou não
a história tarefa do orador, por isso distingue numa perspectiva retórica pensamentos e
palavras, conteúdo e forma, a matéria, os dados de que se ocupa o historiador, a res, da
forma de expressão, os uerba, distingueos monumenta dos ornamenta, situa a história no
âmbito da oratória judicial, o historiador deve pois ser um bom advogado, imparcial,
verosímil, deve ser credível para poder persuadir os seus ouvintes/leitores, verdade é pois
indissociável da fides. Ora os preceitos enunciados, nota WOODMAN, não são mais do
que as regras da narratio, prescritas nas artes retóricas. A título de exemplo, Cícero já no
De inuentione (1.29) considerara indispensável à narratio o respeito pela ordem
cronológica, a temporum ordo. Portanto este ideal de ueritas defendido por Cícero não
corresponde também ao que hoje entendemos por verdade histórica, embora sempre
afectada pelas circunstâncias, pelas mentalidades, condicionada ideologicamente. A
verdade histórica no De oratore é pois antes verosimilhança, exigida pela eficácia
argumentativa, os dados da história transformam-se em argumentos, logo é necessário que
sejam credíveis, plausíveis, a fides.
Romana, ‘História e oratória’, De oratore 2.9.36 e 2.14.59; confere-se à história valor paradigmático,
trata-se de uma concepção moralista, história exemplar, a história com finalidade
pedagógica quando não mesmo didáctica, a história magistra uitae, deve instruir e, mais
ainda, fornecer modelos de conduta, ainda aqui o trabalho do historiador, o otium, deve
estar ao serviço do bem comum da Respublica.
Tendo em conta a perspectiva em que esta teoria da história é formulada, não devemos deixar de
reconhecer que é em Cícero que se encontra a mais completa reflexão sobre estas questões
na Antiguidade, evidente já no apreço com que se refere à história:
Orator, 34.120: Nescire autem quid ante quam natus sis acciderit, id est semper esse
puerum, 'não saber aquilo que aconteceu antes de se ter nascido é ser sempre criança'.
E logo depois conclui: Commemoratio autem antiquitatis exemplorumque prolatio summa
cum delectatione et auctoritatem orationi affert et fidem, 'ora a lembrança da antiguidade/do
passado e a alusão aos precedentes da história, além do maior prazer/ encanto/
traz/comunica ao discurso a um tempo autoridade e credibilidade/ crédito.
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Bibliografia:
ANDRÉ, J. M. - HUS, A., L'Histoire à Rome, Paris, PUF, 1974, pp. 173-181.
WOODMAN, A. J., Rhetoric in Classical Historiography, London, Routledge, 1988.
CIZEK, Eugen, «La poétique cicéronienne de l'histoire», BAGB (1988), pp. 16-25.
GAILLARD, J., «La notion cicéronienne d'historia ornata», Colloque Histoire et Historiographie. Clio,
ed. par R. CHEVALLIER, Paris, 1980, pp. 37-45.
MARCHAL, Luc, «L'histoire pour Cicéron», LEC 56 (1988), pp. 240-264.
RAMBAUD, M., Cicéron et l'histoire romaine, Paris , Les Belles Lettres, 1952.

3.4. Oratória e retórica.


eloquência, eloquentia, a faculdade natural, de eloquor 'falar, expor, dizer, anunciar, exprimir, indicar';
Cícero e Quintiliano opõem loqui 'falar' a dicere 'discursar', no entanto foram os compostos
de loqui que serviram para traduzir a terminologia retórica grega, por os compostos de
dicere (edictum, praedico) terem já particularizado o seu significado, assim eloquor 'falar
com abundância' ganha o significado de 'falar com arte ou eloquência'; donde eloquens,
eloquentia e outro derivados, elocutio por φράσις, circumlocutio por περίφρασις,
proloquium por πρόλογος.
oratória, designa o produto da eloquência, a prática discursiva, a oratio o discurso, no qual Cícero (De
officiis 1.132) distingue contentio 'debate, resposta' e sermo 'conversa, discussão'. Orator é
aquele que redige ou pronuncia uma oratio, primitivamente em Roma indicava alguém
investido de funções oficiais, religiosas ou políticas, por ex., os embaixadores; depois do
séc. II a. C. ganha um significado mais amplo
retórica, segundo a opinião mais comum ῥητορική (sc. τέχνη) deriva de ῥητήρ termo técnico usado, no
período clássico, para denominar políticos que intervinham em tribunais e assembleias,
teria sido criada no séc. V a. C. para designar o ensino dos sofistas. Esta ideia foi contestada
por Edward SCHIAPPA, «Did Plato coin rhetorike?», AJPh 111 (1990) 457-470. Para este
autor a palavra ῥητορική foi forjada por Platão, c. 385 a. C., no Górgias. Com efeito, antes
do séc. IV a. C., a retórica era referida por termos genéricos como λόγος e λέγειν, nem
Aristófanes, nem os trágicos, usam ῥητορική, os sofistas, Protágoras e Górgias, servem-se
sempre do vocábulo λόγος. Mesmo em Platão é palavra muito rara, até no Fedro surge
poucas vezes.; ao invés no Górgias ocorre cerca de noventa vezes. Como Platão cunhou
dezenas de palavras sufixadas em -ική 'arte de…' sobretudo para designar as artes do
discurso, ἐριστική, διαλεκτική, ἀντιλογική, seria estranho, nota Schiappa, que não tivesse
também cunhado ῥητορική. Outras razões haveria: o Górgias atacava a escola de Isócrates,
e o ensino dos sofistas; Platão estaria interessado em distinguir claramente a sua filosofia
11

do λόγος, da arte dos seus rivais, ao criar a palavra ῥητορική limitava e depreciava o campo
de interesses dos sofistas; por outro lado, o Górgias, composto após a condenação à morte
de Sócrates, resulta também da profunda desilusão do autor com a vida pública ateniense,
ῥητορική surgia pois como acusação ao ensino de Isócrates que produzia tais ῤήτορες, os
políticos dos tribunais e assembleias.
ῥητορική foi transliterada para latim sob as formas rhetorice ou rhetorica, por vezes substituída pela
expressão ars dicendi ou simplesmente por eloquentia. A mais antiga ocorrência da palavra
rhetorica encontra-se num fragmento de Énio da primeira metade do séc. II a. C.. Rhetor
designava em Roma o mestre de retórica que, sucededendo ao grammaticus, ministrava por
assim dizer o ensino superior.

3.4.1. A Retórica Clássica


3.4.1.1. Origens
Numa 1ª definição a retórica clássica é a teoria do discurso aplicada à oratória e aos géneros literários
tal como ela foi desenvolvida por gregos e latinos, distinguindo-se uma retórica primária,
voltada para a persuasão, arte cívica e política, de uma retórica secundária, o sistema de
preceitos que informa todos os outros saberes e artes, ler Quintiliano, Institutio Oratoria,
2.15 na trad. de J. Rosado de Vilalobos e Vasconcelos.
A retórica, fenómeno ocidental., se podemos falar da eloquência, como faculdade natural comum a
muitos povos, e da oratória como via de acesso ao poder nas civilizações do Oriente, na
China, na Índia, e mesmo entre os povos ditos 'primitivos', a verdade é que o último passo
na conceptualização das técnicas que conduziu à autonomia da retórica foi obra da cultura
greco-latina.
A Grécia foi o berço das artes do discurso (gramática, dialéctica e retórica); no entanto, a oratória
precedeu a retórica, há uma oratória e uma pré-retórica de natureza oral desde os primórdios
da literatura grega. Já os Antigos tinham consciência disto mesmo, por exemplo,
Quintiliano, na Institutio Oratoria, reiterando a opinião corrente, considera Homero fonte
e fundamento da retórica, modelo e inspirador de todas as partes da eloquência, modelo
insuperável em todas as qualidades oratórias (Hic enim, quem ad modum ex Oceano dicit
ipse amnium fontiumque cursus initium capere, omnibus eloquentiae partibus exemplum et
ortum dedit. Hunc nemo in magnis rebus sublimitate, in paruis proprietate superauerit.
Idem laetus ac pressus, iucundus et grauis, tum copia, tum breuitate mirabilis, nec poetica
modo, sed oratoria uirtute eminentissimus. Institutio Oratoria, 10.1.46).
Homero fala com respeito das palavras aladas e de oradores como Menelau, Ulisses, e Nestor. Nos
Poemas Homéricos manifesta-se uma crença nas possibilidades encantatórias da palavra
alada que, escapando-se do freio dos dentes, ganha força incoercível; a tradição oral do
discurso constitui-se factor de sociabilidade, Aquiles foi preparado para «saber fazer
12

discursos e praticar nobres feitos» (Fénix na Ilíada, 9.443), as duas vertentes da ἀρετή. Nos
Poemas figuram já algumas das questões mais conspícuas da história da retórica: a questão
da autoridade e credibilidade do orador (Telémaco), da necessidade de adequar o estilo ao
ethos de cada um (o discurso de Menelau é breve, claro, simples/ o de Ulisses abundante,
complexo, torrencial). A própria classificação dos géneros se encontra já aí prefigurada,
discursos 'judiciais' na Ilíada (I, XVIII), Odisseia (II), oratória epidíctica (Ilíada, XXIV,
elogios fúnebres de Heitor). E o canto IX da Ilíada, a cena da embaixada, com os discursos
de Ulisses, Fénix e Ájax, desde muito cedo foi entendido pelos Antigos como uma espécie
de retórica implícita. Como a Ilíada e a Odisseia se tornaram livro de texto nas escolas
gregas e latinas, a atitude homérica em relação à oratória acabou por interferir
poderosamente na concepção de orador da cultura greco-latina: pervive na imagem heróica
do orador que pela palavra impõe aos outros a sua vontade. A persuasão revela-se como o
principal meio de comunicação entre os deuses e os homens, como instrumento ao serviço
dos deuses e dos homens sábios, condutores de homens. A palavra é dom divino, em
Homero são divinos os arautos, os reis, os médicos, todos os que curam com o sortilégio da
palavra, o poeta, o profeta, o adivinho, o médico.

3.4.1.2. Os inventores da arte


Assim Empédocles (Agrigento, séc. V a. C.) que foi tudo isso, além de cientista e filósofo (descobriu a
respiração cutânea, formulou a teoria dos 4 elementos, terra, água, fogo e ar, e dos 2
princípios, Amor e Discórdia, até Lavoisier), foi apontado por Aristóteles como o inventor
da retórica. No séc. V, tinha-se desenvolvido já uma consciência retórica sofisticada (cf.
Euménides de Ésquilo, Nuvens, Vespas de Aristófanes e passos da obra de Eurípides,
Tucídides e Heródoto). No entanto, as origens da retórica não são claras, apesar da
indicação de Aristóteles, a tradição mais aceite é a de que a arte nasceu da oratória judicial:
a retórica teria surgido quando a democracia venceu a tirania em Atenas e em Siracusa, a
arte teria sido inventada, c. 476, em Siracusa, por Córax, e levada para a Grécia continental
pelo seu discípulo Tísias.
A Córax e Tísias dever-se-ia a primeira arte de retórica. Há duas tradições: 1. após a morte de Hierão,
Córax dirige a assembleia e estabelece um regime democrático, o êxito leva-o a fixar os
preceitos da retórica e a receber alunos contra o pagamento de honorários, a retórica surgira
da reflexão sobre a oratória política. 2. outra versão liga o nascer da retórica à oratória
judicial, depois da morte de Hierão e da expulsão de Trasibulo em 466, os cidadãos teriam
movido inúmeros processos judiciais para recuperarem os bens confiscados pelos tiranos,
a retórica ter-se-ia desenvolvido como resposta às necessidades da oratória forense (Brutus,
46: cum sublatis in Sicilia tyrannis res priuatae longo interuallo iudiciis repeterentur). A
principal inovação creditada a Córax foi a doutrina da probabilidade geral: entre duas
13

proposições uma tem mais probabilidade de estar certa do que a outra; nas mãos dos
sofistas esta teoria permitirá desligar a argumentação retórica do critério da verdade, há
factos que acontecem contra toda a probabilidade, logo factos contra a probabilidade são
prováveis, o improvável torna-se provável. A tradição que faz da Sicília o berço da retórica
e de Córax e Tísias os seus inventores apresenta um fundo de verdade: tanto Empédocles
como Górgias, um dos sofistas que mais concorreu para a difusão da arte em Atenas, eram
originários da Sicília, a retórica ganha importância com estabelecimento da democracia.
Embora nenhuma das obras de Tísias e Córax tenha chegado até nós pode-se presumir que
ambos terão contribuído para a sistematização dos preceitos retóricos, com efeito
Quintiliano reserva para os dois sicilianos o título de artium scriptores antiquissimi. (IO,
3.1.8).

3.4.1.3. A retórica grega no período clássico


Correntes retóricas nos sécs. V-IV a. C.
Durante os sécs. V-IV a. C. o processo de conceptualização do saber, no campo da retórica, desenvolve-
se seguindo três linhas orientadoras, que, segundo G. KENNEDY, hão-de perdurar e marcar
a história da retórica na cultura ocidental:
1. a retórica 'técnica', esta corrente produziu os manuais de retórica, respondendo às
necessidades da democracia, ocupava-se sobretudo da oratória judicial; dos 3 factores
intervenientes na situação discursiva (orador, ouvinte e discurso, Aristóteles, Rhet.
1.3.1358a) privilegia o discurso; tende a definir-se como arte da persuasão; neste linha
podemos situar a Retórica de Aristóteles e a Retórica a Alexandre; na tratadística latina
manuais como o De inventione e a Rhetorica ad Herennium;
2. a retórica 'sofística', começa com Górgias no séc. V, atinge o seu esplendor no séc.
seguinte (Isócrates); na época romana renascerá com a Segunda Sofística; tendia a enfatizar
a importância do orador; dirigindo-se mais à situação cerimonial, cultural, privilegiava a
oratória demonstrativa, desenvolvendo a técnica amplificatória, a elaboração estilística:
intensifica o processo de redução da retórica à literatura.
3. a retórica 'filosófica', esta abordagem surge no Fedro e no Górgias de Platão, nas
objecções socráticas à retórica tecnicista e sofística; desvalorizando o papel do orador,
preocupa-se mais com a validade do discurso e com os seus efeitos no ouvinte. Liga-se
estreitamente à lógica e dialéctica, prefere o género deliberativo, para Aristóteles (Rhet.
1.1.1354b25), o género mais nobre de oratória.
14

Bibliografia:
COLE, Thomas, The Origins of Rhetoric in Ancient Greece, Baltimore, The Johns Hopkins University Press, 1991.
KENNEDY, G., The Art of Persuasion in Greece, Princeton (NJ), Princeton Univ. Press, 1963.
MURPHY, James, «Orígenes y primer desarrollo de la retórica», Sinopsis histórica de la retórica clásica, Madrid, Editorial
Gredos, 1989, pp. 9-33.
HINKS, D. A. G., «Tisias and Corax and the Invention of Rhetoric», Classical Quartely 34 (1940), pp. 61-69.
SCHIAPPA, E., «Did Plato coin rhetorike?», American Journal of Philology 111 (1990), pp. 457-470.
SCHIAPPA, E., «Rhetorike: What's in a Name?», Quartely Journal of Speech 78 (1992), pp. 1-15.
WORTHINGTON, I. (ed.), Persuasion, Greek Rhetoric in Action, London, Routledge, 1994, pp. 3-25 e 46-68.
PEREIRA, B. F., Retórica e eloquência em Portugal na época do Renascimento, Lisboa, INCM, 2012, pp. 42-59 e 87-127.
KENNEDY, G., Aristotle: Α Theory of Civic Discourse, Oxford, OUP, 1991.
LÓPEZ EIRE, A., «Innovación y modernidad de la retórica aristotélica», A retórica greco-latina e a sua perenidade, Porto,
2000, vol. I, pp. 57-134.
15

3.4.2. A eloquência latina antes de Cícero (Brutus).


- discursos ou os seus sumários atribuídos a quase todos os grandes estadistas do período arcaico, e até
dos tempos lendários da Roma primitiva, em autores gregos como Dionísio de
Halicarnasso, Diodoro Sículo, Plutarco, Díon Cássio, em autores latinos, sobretudo mno
maior dos historiadores augustanos, Tito Lívio (note-se porém que estes discursos ou
sumários não têm qualquer valor informativo, pois reflectem a prática oratória do tempo do
historiador).
O Brutus é uma história subjectiva da oratória em forma dialogada composta em 46 a. C..; é ainda a
defesa de Cícero, a defesa da sua própria teoria. Para reivindicar a sua qualidade de orador
'ático' Cícero faz desfilar mais de 200 oradores romanos que valoriza diversamente
conforme as cinco partes da retórica, as três funções do orador e as três classes de estilo.
Cícero, durante a década de 40 a. C. foi acusado de asianismo (o estilo 'asiático' procurava
impressionar e prender a atenção do ouvinte através da fluência da dicção e de imagens
belas e abundantes, ou através da composição epigramática). O asianismo conduz à
prevalência do pathos sobre o ethos. Os aticistas, a corrente contrária, condenavam essa
exuberância de ornato, e abundância inventiva, recomendavam a simplicidade de Lísias
bem como a imitação de Tucídides e Xenofonte. O aticismo tinha então grande voga em
Roma, César segue esses preceitos nos seus Comentários despojados de ornato. Por isso
Cícero na Bruto faz uma história crítica da eloquência grega e latina (aquela de forma breve,
esta de modo mais pormenorizado), com a intenção de demonstrar que os aticistas do seu
tempo estavam distantes do verdadeiro modelo de eloquência ática, Demóstenes, pois nem
Tucídides nem Isócrates seriam modelos de aticismo autêntico.
Cícero, por esta altura, declarava-se também aticista, mas aticista à maneira de Demóstenes, isto é, com
um estilo cheio de uis, veemente, não à maneira de Lísias. Portanto um aticista não recorria
necessariamente a um estilo humilde, a expressão veemente caracteriza aticistas como
Licínio Calvo que, no dizer de Séneca, era uiolentus actor et concitatus e, segundo
Quintiliano, a sua oração era frequenter uehemens quoque. O aticismo privilegia o genus
humile, desinteressa-se da pronuntiatio; ora, para G. CALBOLI vai ser a prevalência do
aticismo, associada à preferência dos autores cristãos pelo genus humile e ao
desenvolvimento do monaquismo (S. Bento na sua Regra, 48, recomenda a leitura
silenciosa) que determinará na Idade Média a perda de importância da leitura vocal que
decorria sobretudo da prática retórica ligada ao genus uehemens (a doutrina dos genera
dicendi estava ligada à teoria dos officia oratoris, subtile in probando, modicum in
delectando, uehemens in flectendo, cf. Orator, 69).

Voltando ao Bruto, Cícero começa por referir, como primeiros mestres de oratória, os sofistas gregos
Górgias, Trasímaco, Protágoras, Pródico e Hípias, que ensivam o método de tornar a causa
16

mais débil a causa mais forte. Alude à resposta da ética de Sócrates e da eloquência de
Isócrates, aponta Péricles como o primeiro orador intruído nos preceitos da filosofia.
Como primeiro orador romano indica Marco Cornélio Cetego, mas acrescenta que, anterior ao fim da
2ª guerra púnica, já só conheceu o discurso de Ápio Cláudio Cego, proferido no Senado,
em 288 a. C., quando Pirro, rei do Epiro, propôs a paz a Roma. Ápio levou o Senado a
rejeitá-la; provavelmente foi escrito por algum ouvinte e depois conservado na família
como oração fúnebre.
- a laudatio funebris era justamente a forma mais comum da oratória epidíctica em Roma, género
especificamente latino que remonta ao elogio do primeiro cônsul, Bruto, embora se trate
por certo de um texto apócrifo; estes discursos laudatórios pronunciados dos rostra no
forum recorriam a fórmulas fixas, por isso Cícero fala com algum desdém destas orationes.
- da restante oratória arcaica temos escassas informações: Névio, o poeta satírico, usou a invectiva e o
ataque político contra os Metelos e Cipião o Africano, a prática oratória grega tal como ela
se reflectia na Comédia Nova Ateniense, encontra eco no teatro plautino, não podemos
todavia das falas mais retóricas das personagens de Plauto, inferir o estado da eloquência
latina coeva, visto que se torna muito difícil discernir o que é plautino/romano daquilo que
pertenceria aos modelos gregos.
- o primeiro grande orador latino, do qual se pode traçar com alguma nitidez o seu retrato é Marco Pórcio
Catão, Catão-o-Antigo, ou Catão-o-Censor (234-149 a. C.); ao que parece era muito
respeitado pela sua competência no campo do direito e da história, aliança frequente nos
oradores romanos até ao séc. I a. C.; ficou célebre a frase com que terminava os discursos,
et delenda Carthago, sinal da sua visão estratégica e da sua influência política; há notícia
de mais de 180 discursos pronunciados por Catão, conhecem-se citações de alguns dos seus
discursos em textos de autores gregos e latinos, e um trecho relativamente extenso da oração
intitulada Defesa dos Ródios proferida em 167 a. C. Cícero no Bruto procura reabilitar a
oratória de Catão, aponta como características do seu estilo o uso da anáfora e do assíndeto,
figuras desconhecidas do latim, e ainda da interrogação retórica, Cícero e mais tarde Aulo
Gélio lamentam no entanto a falta de ritmo na sua prosa, a ausência das cláusulas métricas;
os modernos a este propósito mostram-se divididos, Alan ASTIN afirma que Catão
desconhecia a teoria grega, E. FRAENKEL analisou o discurso dos Ródios e encontrou
nesses excertos inúmeras cláusulas, G. KENNEDY na esteira de Fraenkel recorda o
interesse de Catão pelas letras gregas, os seus contactos na Magna Grécia e na pp Grécia, a
contratação de um grego como tutor do seu filho.
O Círculo dos Cipiões, por meados do séc. II, desenvolve o interesse romano pelo teatro, pela história,
pela filosofia, mas parece alhear-se da retórica, no entanto Cícero no Bruto, 258, considera
Cipião, Lélio e Fílon bons oradores, acrescentando que cultivavam um estilo caracterizado
17

pela brevidade, pela subtileza, concisão e lógica, nos antípodas portanto da pompa e da
amplificação do asianismo.
Sobre os grandes oradores da geração seguinte, dos finais do séc. II, temos muita informação no Bruto
e indirectamente também no De oratore; com efeito, neste diálogo além de um
representante do grupo dos Cipiões, o jurista Quinto Múcio Cévola, encontramos como
personagens principais os oradores Marco António e Licínio Crasso.
Marco António, avô do triúnviro homónimo, foi cônsul em 99 e censor em 97, veio a ser condenado à
morte nas proscrições de Mário; enquanto orador é louvado no Bruto, 207, por Cícero pela
sua inuentio, dispositio, memoria e pronuntiatio, porém não merece aprovação a sua
elocutio, Cícero julga-o melhor na oratória judicial do que na deliberativa, notando ainda o
conhecimento superficial quer do direito quer da literatura grega, como Catão terá
composto um tratado retórico.
Licínio Crasso, cônsul em 95 e censor em 92, foi igualmente orador reputado, no Bruto, 143, Cícero
atribuí-lhe duas qualidades que faltavam a António, domínio do direito e estilo elegante, no
De oratore contrasta com António pelo seu saber enciclopédico, como no Bruto Cícero
considera-o precursor da sua própria latinitas e modelo do seu orador ideal.

3.4.3. A Rhetorica ad Herennium.


Durante a Idade Média, e até ao séc. XV, pensava-se que a Rhetorica ad Herennium era obra de Cícero,
corria sob a designação de Rhetorica noua ou Rhetorica secunda. A partir do Renascimento
passou a ser considerada de autor anónimo, actualmente alguns editores atribuem-na a
Cornifício, personagem tão desconhecida, quanto Herénio, o destinatário. Este manual é
um dos textos mais antigos da retórica latina e, sem dúvida, o mais completo. Alguns
autores, como J. MURPHY, datam-no de c. 90 a. C., outros, como G. KENNEDY,
consideram-no ligeiramente posterior ao De inuentione composto pelo jovem Cícero c. 84
a.C.. Produto talvez da escola de retórica de Lúcio Plócio Galo, o primeiro que ousou
ensinar a matéria publicamente, escola encerrada pelos censores em 92, a Ad Herennium
inaugura a tradição romana no campo da retórica, tradição que, pela permanência quase
inalterada das principais doutrinas, e pela sua conformidade com os sete tratados retóricos
ciceronianos, se pode chamar tradição ciceroniana.
Elaborada para a oratória judicial, a Rhetorica ad Herennium, filia-se na tradição peripatética; de
Aristóteles e de Teofrasto toma as ideias principais: a finalidade da retórica é a persuasão,
há três géneros de oratória, a arte divide-se em cinco partes, que devem ser adquiridas pela
arte, pela imitação, pela prática, a invenção associada à disposição e à elocução deve
alicerçar as seis partes do discurso (exórdio, narração, divisão, confirmação, confutação e
conclusão).
18

Combinando várias doutrinas gregas, apesar da primazia aristotélica, a Ad Herennium desenvolve as 5


partes canónicas da retórica, ao longo dos seus 4 livros. Nos 2 primeiros ocupa-se da
inventio. No terceiro livro trata as restantes partes da retórica, de forma breve a dispositio,
mais detidamente a elocutio, a que se segue uma curta exposição sobre a pronuntiatio, a
mais antiga que nos chegou, em que apresenta as qualidades da voz (magnitudo, firmitudo,
mollitudo) e os movimentos do corpo, termina o terceiro livro a memoria que tem aqui o
tratamento mais completo em manuais da Antiguidade. O livro IV é todo ele consagrado à
elocutio ou melhor aos géneros de estilo, suas qualidades e ornamentos, tropos e figuras.
As qualidades do estilo, adaptadas de Teofrasto, são elegantia (correcção e clareza),
compositio (ordenação cuidada das palavras), dignitas (uso das figuras). Elenca 45 figuras
de palavra e tropos (as últimas dez). Descreve 19 figuras de pensamento.
Se acolhe a teoria retórica dos gregos, não deixa atender ao contexto romano, quer pelos exemplos que
tira da história e da eloquência romanas, quer pela tentaiva de criar uma terminologia
retórica em latim, esforço vão, já que essas designações latinas depois serão comummente
substituídas pela terminologia grega.
Extremamente técnico, como reconhece a carta proemial, este tratado reflecte a cristalização da doutrina
retórica helenística em princípios do séc. I a. C.. Teve pouca influência na Antiguidade,
mas no séc. IV com S. Jerónimo e os tecnógrafos ganha popularidade, tornando-se texto
fundamental durante mais de mil anos. No Renascimento o livro IV e a sua teoria dos tropos
e figuras continuará a merecer muita atenção.
19

Bibliografia:
G. ACHARD, G. (ed.), Rhétorique à Herennius, Paris, Les Belles Lettres, 1989.
G. CALBOLI, G. (ed.), Rhetorica ad C. Herennium, Bologna, Patron, 1993 (2ª ed.).
ALBRECHT, Michael Von, Masters of Roman Prose, Leeds, Francis Cairns, 1989.
A. ALBERTE GONZÁLEZ, Historia de la retórica latina, Amsterdam, A. M. Hakkert, 1992.
L. CALBOLI-MONTEFUSCO, La dottrina degli status, Hildesheim, Olms, 1986.
W. DOMINIK, W. (ed.), A Companion to Roman Rhetoric, Oxford, Blackwell, 2007.
G. KENNEDY, G., The Art of Rhetoric in the Roman World, Princeton (NJ), Princeton UP, 1972.
A. LEEMAN, Orationis ratio, Amsterdam, Hakkertz, 1963.
J. MAY (ed.), Brill's Companion to Cicero: Oratory and Rhetoric, Leiden, Brill, 2002.
J. MURPHY, Sinopsis histórica de la retórica clásica, Madrid, Gredos, 1989.
E. FANTHAM, The Roman World of Cicero's De oratore, Oxford, OUP, 2004.
M. H. ROCHA-PEREIRA, Estudos de História da Cultura Clássica. I vol., Lisboa, Gulbenkian, 2003, pp. 531-554; II vol.,
pp. 58-94, 103-124, 188-208.

3.4.4. A retórica ciceroniana

Cícero, como Platão, ocupou-se tanto da ciência política (De Republica - República) como da arte do
discurso (De oratore - Górgias, Fedro).
Os tratados técnicos (De inuentione, Partitiones, Topica).
O De inuentione, composto por 84 a. C., pese embora o menor apreço com que Cícero mais tarde se lhe
refere, rudes commentariola juvenis, contém já algumas das ideias primordiais do
pensamento retórico do autor latino, defendidas depois no Do orador: sem eloquência
pouco adianta a cultura, é a oratória o fundamento da civilização humana, é a oratio que
distingue os homens dos animais, é a capacidade de o homem se exprimir a medida da sua
humanitas. Com efeito logo no início do De inuentione Cícero afirma com solenidade que
a sabedoria sem a eloquência pouco aproveita (parum prodesse) ao Estado, e que
eloquência sem sabedoria jamais é proveitosa e não raro prejudicial (nimium obesse
plerumque, prodesse numquam); no livro II Cícero expõe a doutrina da stasis. Lia-se como
manual para juízes e advogados, o De inuentione, Rhetorica Vetus, com a Ad Herennium,
Rhetorica Nova, foi a principal fonte da retórica clássica durante a Idade Média, D. Duarte
encarregou D. Afonso de Cartagena da sua versão para vernáculo.
As Partitiones, diálogo publicado por finais de 46 a. C., apresentam-se como conjunto de respostas
dirigidas ao filho Marco, a concisão é pois uma das suas principais características, trata-se,
todavia, de um excelente resumo das teorias retóricas ciceronianas. Discutem as cinco
tarefas do orador, as partes e divisões do discurso.
O De optimo genere oratorum (44) não é mais do que o prefácio de Cícero à sua versão dos discursos
forenses pronunciados por Demóstenes e Ésquines a respeito da coroa que Ctesifonte
20

pretendia que Atenas concedesse a Demóstenes como sinal de gratidão. As traduções de


Cícero, conhecidas até ao séc. V, não chegaram até nós.
Os Topica, último ensaio retórico, redigido, segundo confessa o autor, durante uma viagem marítima,
isto é, de memória, sem o socorro de uma biblioteca, partindo do livro II da Retórica
aristotélica e do catálogo dos tópicos relativos ao entimema, procura fundir inuentio
filosófica e inuentio retórica.
Os tratados teóricos
Os De oratore libri III de 55 a. C. sobre a formação do orador constituem juntamente com o Brutus e o
Orator (ambos de 46 a. C.) uma suma retórica, os oratorii libri, uma mesma obra em cinco
livros, o Brutus é uma história crítica da eloquência greco-latina, o Orator o retrato do
orador ideal.

Bibliografia:
B. F. PEREIRA, Retórica e eloquência em Portugal na época do Renascimento, Lisboa, INCM, 2012, pp. 42-59 e 87-127.
M. CLARKE, Rhetoric at Rome, London, Routledge, 1996.
W. JOST (ed.), Rhetoric and Rhetorical Criticism, Oxford, Blackwell, 2004.
G. KENNEDY, A New History of Classical Rhetoric, Princeton (NJ), Princeton University Press, 1994.
E. FANTHAM, The Roman World of De Oratore, Oxford, OUP, 2006.
W. GOERLER, «From Athens to Tusculum. Gleanig the Background of Cicero's De oratore», Rhetorica 6 (1988), pp. 215-
235.
J. MAY - J. WISSE (eds.), Cicero: On the ideal orator (De oratore), Oxford, OUP, 2001.
M. RUCH, Le préambule dans les oeuvres de Cicéron, Paris, Belles Lettres, 1958.
E. SCHÜTRUMPF, «Platonic Elements in the Structure of Cicero De oratore Book 1», Rhetorica 6 (1988), p. 237-258.
W. STROH, Eloquence et rhétorique chez Cicéron, Genève, Droz, 1982.
J. WISSE, «De oratore: Rhetoric, philosophy, and the making of the ideal orator», Brill's Companion to Cicero, ed. J.
May, Leiden, Brill, 2002, pp. 375-400.

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