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- nome = presença de uma máscara sobre a face existencial do sujeito está presente
em Nome de Guerra logo no título e é explicitada pelo narrador no capítulo lli,
quando é dito que Judite «não se chama assim» e que conseguira «depois de sérios
trabalhos aparentar toda uma naturalidade para esse nome de mulher, sem
denunciar que escondia o autêntico».
- [definição para o Outro] imagem de si para os outros - imagem reificada para se
proteger, a qual não consegue desencarnar - Não, não namoro. Quero dizer: namoro
e não namoro. Namoro, para os outros. Para os outros, somos namorados. -
Antunes consegue ver-se a partir do exterior da referida imagem - sugerindo a
possibilidade da sua libertação, libertação da máscara que veste para os Outros -
que o leva à expressão de uma crise, entre o Eu e o Si Próprio - será ao nível da
superfície que se começarão a perceber os primeiros sinais de uma alteração - o
sujeito aflora à superfície da máscara, - [revela, gradualmente, a sua intimidade]
- altera-a o suficiente para que se perceba a existência de movimentos interiores -
cena frente ao espelho - «visse o Antunes aquela tarde sair do hotel não o
reconheceria. A cara insípida tomara-se aguda e cortante, e tão afiada que tinha dois
gumes em cruz, no perfil e nos olhos»
- A vontade de aprofundar a investigação existencial torna-se intensa, ela é mesmo
a única ambição do protagonista, pois «Antunes queria saber claramente tudo
quanto se passava no seu íntimo. Pouco lhe importava saber se o seu desejo era
detestável desde o momento em que o soubesse» = Problema do nome, que se
torna percetível, para ele, na cena em que Judite o trata pelo nome próprio
- Luís - disse a rapariga. E ele ficou assombrado ao ouvir o seu nome, a sua vida
inteira, a palavra única do seu segredo na boca daquela mulher. Ele era Antunes para
todo o mundo e Luís daquela maneira para ninguém
- Antunes = nome de família, símbolo da socialização e da continuidade = aceitação de
um modelo alheio
- Luís = nome próprio, representa a afirmação da individualidade, a
intransmissibilidade do sujeito, a incomunicabilidade do Si Próprio
- esta dicotomia - transformação da personagem, que se deve apenas a si mesmo e se
reflete no seu exterior - o modo como entra apressado no hotel e não é deste modo
reconhecido pelo porteiro - VISÃO, a sua importância, na sua vertente existencial, é
dessa forma que a modificação do protagonista se vai dando a perceber, mesmo para
quem com ele partilha a intimidade
- O acto de «ver tem para Almada Negreiros uma significação absoluta, para além
do funcional ou descritivo. Por isso, quando Antunes, no capítulo XXI, quer
saber exatamente qual é o seu desejo, a resposta surge-lhe em “uma espécie de
visão fantástica”. A imagem de Judite sobrepõe-se à de Maria e substitui-a, numa
cena em que a imaginação do protagonista se equipara à sua capacidade de ver. De
resto, essa relação é válida para as outras personagens, nomeadamente para Judite,
que apresenta, como um condicionalismo de ordem simbólica, uma extrema
miopia. Ela não poderá desenvolver uma educação existencial idêntica à que se
irá processar em Antunes, pois a “sua imaginação não ia para além do que ficava
ao alcance das suas mãos. Não tinha distância a sua imaginação: era como a sua
miopia”
- alcance desse gesto é fundamental para que o sujeito se liberte da imagem
reificada em que os outros querem encerrá-lo, mas a sua prossecução depende
apenas do próprio sujeito, ou seja, representa a afirmação da sua individualidade
- [Nome de Guerra] “Ver ao longe é um dom especial de certas pessoas, sobretudo
daquelas que não é pelas realidades alheias que caminham. Não pode por
conseguinte ver ao longe aquele que põe a sua vontade ao serviço de qualquer acto
imediato que caiba dentro do espaço de tempo da sua própria existência.”
- “A relevância individual que se configura no caso de cada pessoa impele a um
confronto com a sociedade ou, pelo menos, a uma recusa da mera continuidade
proposta pela lógica da socialização. Assim, o protagonista não aceita ser
confundido com ninguém, nem permite que lhe digam que a sua história é igual à
de outros, antes contrapõe um grito incontido, que, precisamente por ser espontâneo,
é um sinal da sua libertação existencial: ‘Esta história é só minha’”.
- Mais adiante na narrativa, quando Antunes vai morar para a água-furtada, concluída a
relação com Judite, tem uma percepção exacta desse confronto, expresso na metáfora
da vontade dos astros: « Os astros mandam! E mandam uma coisa para cada um!
E esta ordem sereníssima dos astros é uma verdadeira anarquia para a
sociedade»
- contrário de Antunes - aquele que persiste na sua imagem reificada e não se
mostra capaz de se libertar da máscara
- Tio de Antunes - não está ao alcance daquele que persiste na sua imagem
reificada e não se mostra capaz de se libertar da sua máscara - porquê? não
consegue passar pela prova fundamental do isolamento - indispensável à
aprendizagem existencial, na medida em que são a expressão do período de crise
que a personagem deve atravessar para afirmar a sua individualidade - A recusa
em enfrentá-los impede o tio de se conhecer e leva-o a procurar insistentemente a
companhia alheia, pois a possibilidade da solidão adquire um peso cada vez mais
insuportável. Com efeito, sentir-se «sozinho excitava-o de tal maneira que não se
aguentava. Tinha por força que sair de ali, de estar sozinho. Senão, rebentava»
- = Judite, não consegue confrontar-se com o isolamento e fica irremediavelmente
afastada da possibilidade de se conhecer. A ela, o «tédio esmagava-a na solidão»,
pelo que «fugia horrorizada dos lugares pacíficos que lhe negavam a paz e ia
misturar-se na multidão para não se ver, para não se sentir». Abrigara Antunes no
seu quarto e precisava da sua companhia para se segurar aí, «mas quando ele ia à rua
ela ficava sozinha com o seu futuro, isto é, sem nada”
- O desejo de estar só prenuncia a capacidade para superar a crise que atravessa e, na
sequência da recordação de palavras de Judite, antecipa-lhe a ideia de que «perder o
medo era ganhar o conhecimento da vida»
- Durante um lapso de tempo, Antunes afasta-se da solidão para viver no quarto de
Judite, mas o sinal de que a sua crise não estava resolvida é dado quando ele
percebe que, após «tantos dias naquele quarto, começava a raciocinar, como nos
tempos em que vivia só». Por isso, abandona a vida com Judite e aluga uma
água-furtada, de onde pode contemplar a terra e o céu, o que o levará a concluir que
nenhuma <<janela de nenhum andar se pode comparar à independência de uma janela
- de telhado», pois esta proporciona, de uma forma extrema, o «espectáculo da
humanidade sem o contacto das gentes». A importância do isolamento como
condição para aceder à maturidade existencial adquire relevância pelo
contraponto entre o protagonista e as restantes personagens, o que permite ao
narrador afirmar que há «de facto diferença entre aqueles que têm capacidade
para suportar sozinhos o peso da atmosfera e aqueles que apenas ombro a ombro
resistiriam ao quotidiano»
- tem consciência do seu problema/ da sua crise e toma consciência disso rapidamente,
compreende limitar-se a construir a imagem que os outros desejavam ver - uma
máscara que impede a libertação do Si próprio
- tem consciência do seu problema/ da sua crise/ do seu confronto com o mundo -
Perante a impossibilidade de abarcar o mundo exterior e de passar a dominá-lo, o
sujeito volta-se para dentro de si, procura refúgio e segurança perante a incerteza
do que o rodeia. Os espaços descritos tornam-se um pretexto para a
movimentação flsica e mental do protagonista, cujas dúvidas e hesitações são
expressas desse modo, pois estar «a meio caminho do hotel» significa estar indeciso
entre dois comportamentos possíveis
- O que esse texto deveria contar era, afinal, um processo de educação existencial, ou
seja, a libertação da imagem reificada de Antunes, que impedia a expressão da sua
individualidade, dessa forma manifestando claramente a sua oposição a qualquer
tentativa de o instituir como mero prolongamento de valores alheios, fossem os dos
pais, do tio ou de quaisquer outras pessoas. Tratar-se-ia, em suma, de mostrar como
estivera «quase a prevalecer o legal, isto é, conforme a lei para todos, sobre o leal, ou
seja, conforme a lei para cada um”
A Narrativa Vertical