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Mensagem, de
TERCEIRA PARTE
O ENCOBERTO
PAX IN EXCELSIS
I
OS SÍMBOLOS
Primeiro
D. SEBASTIÃO
O QUINTO IMPÉRIO
Só te sentir e te pensar
Meus dias vácuos enche e doura.
Mas quando quererás voltar?
Quando é o Rei? Quando é a Hora?
Segundo: Tormenta
Terceiro: Calma
Quarto: Antemanhã
…
Quinto
Nevoeiro
É a hora!
Valete, Fratres.
Excerto de uma carta de Pessoa a Francisco Fernandes Lopes
(1919)
Como atitude geral temos esta apenas: a criação de uma cultura
portuguesa; procuramos criar essa “cultura” positiva e
negativamente, se assim posso dizer. Criá-la positivamente de
duas maneiras: valorizando-nos pela apresentação de estudos de
ordem construtiva, original, ou de trabalhos literários da mesma
índole, e, não talvez por enquanto – por ser talvez impossível ou
difícil –, tentando criar, em pensamento como em imaginação
manifestados [..] um conceito do universo português. Criá-la
negativamente de uma maneira: destruindo com habilidade,
originalidade e vigor os ídolos da Terra dos Outros, que da Nossa
não vale a pena, pelo menos na orientação de que lhe falo; e esta
destruição envolve dois fins – o fim abstracto, intelectual e
universal de destruir o que é falso, e o fim nacional, concreto e
próximo de aliviar de más influências a mentalidade portuguesa.
[…] Procurámos uma cultura universal portuguesa. V.
compreende, não é verdade? Pergunto, porque (como V. já deve
ter verificado) estou hoje pouco lúcido. – Criar um pensamento,
uma atitude intelectual, da qual se possa dizer que, embora
universal, só de Portugal poderia ter partido – assim, talvez, o
intuito fique mais bem expresso. Esta orientação e
suficientemente larga, julgo, para que nela possam caber
numerosas teorias, numerosos pontos de vista. Ela envolve,
porém, a meu ver, uma certa limitação: em filosofia, um
intelectualismo qualquer, expressão da fidelidade que todos nós,
europeus, devemos à tradição helénica; em sociologia, a
repugnância pelos fenómenos cristãos decadentes – quais a
democracia radical, o socialismo, e o governo de coisa nenhuma a
que se chama bolchevismo; e, em matéria que é uma coisa e
outra, mas que se pode designar “matéria nacional”, a ruptura
com os tradicionalismos vários que, a par do servilismo para com
o estrangeiro, têm pesado sobre nós – tradicionalismo católico,
tradicionalismo antiindustrialista, etc…