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Expresses Portugus 12.

ano

Textos Informativos Complementares

SEQUNCIA 2

EXP12 Porto Editora

Nevoeiro
O poema aponta para um tom geral de disforia, de tristeza e melancolia, marcado
por palavras e expresses de negatividade, caracterizando uma situao de crise a
vrios nveis: poltico: Nem rei nem lei, nem paz nem guerra (repare-se na sucesso do
advrbio de negao nem); crise de identidade, tambm: este fulgor bao da terra / Que
Portugal a entristecer / Brilho sem luz e sem arder / Como o que o fogo-ftuo encerra (note-se o vocabulrio e imagstica disfrica: fulgor bao Portugal a entristecer brilho sem
luz e sem arder novo oxmoro reforado pela preposio, marca de ausncia, sem);
crise de valores morais, da alma: Ningum sabe que coisa quer, / Ningum conhece que
alma tem, / Nem o que mal, nem o que bem (de novo as palavras que marcam a negao os pronomes indefinidos ningum, o advrbio nem).
A situao , em sntese, de incerteza, de indefinio: Tudo incerto e derradeiro. /
Tudo disperso, nada inteiro. / Portugal, hoje s nevoeiro
Mas, porque e isto afirmado no verso central da 2.a estrofe em discurso parenttico algo ficou, consubstanciado na nsia distante que perto chora, e justamente
porque Portugal hoje nevoeiro, (tambm) a Hora! (teremos que ter em conta que,
segundo a lenda sebastianista, o Rei redentor regressaria numa manh de nevoeiro).
A Hora, maiusculada, mas de qu?
Pessoa no o diz, mas todo o livro o significa: a Hora de partir, de novamente conquistarmos a Distncia / Do mar ou outra, mas que seja nossa! como se dizia no poema
da 2.a parte, Prece de assumirmos o sonho, cumprindo o nosso destino de sagrados por Deus e portadores do seu gldio, do seu sinal assim a Obra nascer de novo,
como em Mar Portugus e poderemos viver a verdade / que morreu D. Sebastio.
Assim sendo, temos que ler Mensagem justamente como a epopeia da era que h de
vir, a do sonho feito realizao, a da loucura, divina, porque assumida conscientemente, e interrompida, de D. Sebastio, de D. Fernando, do Infante e dos outros heris
expectantes evocados por Pessoa.
PAIS, Amlia Pinto, 2006. Para Compreender Fernando Pessoa. Porto: Areal

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