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LPSM – 19/03/2021

- Camilo Pessanha – expoente do simbolismo português


- Saudosismo – escola autónoma – Teixeira de Pascoaes – Jaime Cortesão com obra literária e
historiográfica, filósofo Leonardo Coimbra – mais autores – são um coletivo inter-artístico e cultural,
vários domínios do conhecimento e do pensamento – pintura
- figuras finais
- saudade – uma certa imagética e mitologia da essência nacional – é um trabalho da portugalidade,
de imagens, mitos, inspirações, figuras mais ou menos religiosas portuguesas – que tem de ser feito
em português e feita por e para portugueses – temos qualquer coisa de umbilicalista – autores olhando
para o seu próprio umbigo
- ponto de situação: lembrar que há algo comum entre simbolistas e saudosistas – o caráter de sugestão
da poesia, que está pouco interessada em dizer e conhecer, mas sim em sugerir, sonhar
- algo de distinto – Pessanha convidava a desistir de tudo, Pascoaes parece abrir um caminho místico
e a partir daí muito capaz – podemos conhecer o universo, apesar de tudo é possível conhecer aquela
pecadora que é redentora – o poema é lugar de encontro do além e do aquém – tudo é capacitante,
torna o sujeito capaz de escrita, de imaginação – em suma, enquanto Clepsydra me paralisa, Pascoaes
coloca-me em movimento, ainda que espiritual uma possibilidade, uma abertura de caminhos, de
facto
- datas e de título,s até títulos de revistas – Águia- a partir de 1912 é a revista dos saudosistas – a
segunda série começa em 1912, termina em 1921 – 10 anos de existência, muitos números, e depois
continuará a existir em novas séries, com outros autores – terá 5 séries
- a que interessa é a de feição saudosista que divulga, publica e edita durante 10 anos
- 1912 – torna-se a revista saudosista – existe um jovem completamente desconhecido, nascido em
1888, que decide colaborar na revista e envia um primeiro artigo teórico-crítico para a revista, que o
publica – Fernando António de Nogueira de Pessoa – está fazer 24 anos – de onde vem, quem é, o
que já fez? Ninguém sabe, ainda não publicou nada – é um desconhecido, um anónimo,
provavelmente já escreveu milhares de páginas de versos, de prosas, de prosas ficcionais, teóricas, de
todo o género e formato e feitio e gosto – que se contradizem umas às outras, assinadas por estranhos
nomes ingleses – guardados na gaveta, na arca – tudo é privado
- em 1912 começa uma forte amizade com Sá Carneiro – começam a trocar textos e a influenciar-se
um ao outro – o recolhimento, o caráter privado desse diálogo
- na verdade, decide finalmente estrear-se, publicar-se – está há anos a escrever e pela primeira vez
decide arriscara publicação – o jovem decide estrear-se como autor de textos críticos sobre literatura,
o que é quase enganador, porque isso o apresentaria como crítico literário
- “A nova poesia portuguesa sócio- logicamente considerada” (in A Águia, 2ª série, nº 4, abril de
1912): http://arquivopessoa.net/textos/3090
- argumenta desde logo pelo título sócio- logicamente – o que sabe ele sobre sociologia? O que
aprendeu sobre sua conta e risco, não tirou nenhum curso
- jovem desconhecido que pelo título parece ser sociólogo – quanto a este texto publicado numa
revista saudosista, organizada praticamente e sobretudo por Pascoaes, o que tem este jovem a dizer
num artigo com este título?
- primeiro, enquanto leitor sociológico, Pessoa está interessado em pensar a literatura do país à luz da
sociedade = cultura, política, civilização, uma leitura de literatura de autores individuais, do ponto de
vista de uma dimensão coletiva – como é que uma certa sociedade constrói uma certa literatura? E
como explica esta a sociedade? . ligação entre o indivíduo e a sociedade coletiva em torno – axioma
do artigo – caminho caminhável, podemos seguir por esta pista e ver no que dá
- a maneira como se estabelece uma relação entre o indivíduo e a coletividade – é uma ligação frágil
– parece estar à procura de uma lei que legitime as ligações entre a parte e o todo -a argumenta que
em certas circunstâncias de crise social, aparece sempre um autor maior – parece querer estar a
empurrar os argumentos para essa tese
- Crise Social – Autor – acaba com uma grande tese – citação - “Pode objetar-se que o atual momento
político...” - afirmação problemática, nós em 1912 estamos num momento político reles e mesquinho
– 1ª república desde 1910 – um mundo em convulsão, cheio de problemas e debate – pois bem, ele
entende que estamos num momento sócio-logicamente menor - “é precisamente por isso...” - supra-
Camões – ele diz que vem nem mais nem menos um Supra-Camões – tal como em tempos uma crise
sócio-política da Inglaterra no século XV, provocou o surgimento de Shakespeare – aqui esta crise
provocará o surgimento de um supra-Camões
- dizer isto é demasiado agressivo – como pode estar alguém acima de Camões? É perfeito, não se
pode ultrapassar – o Pessoa diz o contrário, vem aí um superior – assegura que é uma lei, não um
desejo, nem um pesadelo, puramente uma lei das coisas, diz ele a partir da sociologia
- quem é? Quando virá? Autor de quê? Em que data? Este crítico não responde a nada disto, apenas
anuncia que algo de profecia, mas não se pode esclarecer quem é o tal Messias – o texto termina
apelando à criação de um supra-Portugal de amanhã – indícios de Mensagem?
- estranha teoria da literatura – profetizar a chegada de um supra-Camões???
- Texto número 2:
- “Reincidindo” (in A Águia, 2ª série, no 5, maio de 1912): http://arquivopessoa.net/textos/3095
- na verdade, não traz nada de novo muito novo – o título reincidindo – insistindo, recapitulando, uma
espécie de repetição do primeiro texto – deve ter-se apercebido de algum espanto, de alguma
incompreensão – deve ter sentido os leitores perplexos – antes de avançar em novos textos, é preciso
esclarecer, explicar, acrescentar, reincidir – é um texto de revisão, de confirmação
- exemplo -ele que fala da nova poesia portuguesa, que está a ser publicada e a futura nova poesia
portuguesa do supra – Camões – 2 versos de Teixeira de Pascoaes
- A folha que tombava /Era alma que subia – 2 versos do poema - “Elegia”, do livro Vida Etérea
(1906), elogia Teixeira de Pascoaes – este jovem aparece como crítico e não como poeta, além disso
publica na Águia, portanto deve ser saudosista, além disso mostra-se próximo da escola de Pascoaes,
elogiando-o
- comenta dizendo que não a folha que tombava era como alma que subia, não é uma metáfora, não
é uma comparação, é um acontecimento religioso, uma fusão de contrários, a folha é alma, a matéria
é espírito, este mundo é também o além, nós somos deuses – contrários fundidos numa unidade só
- elogia Pascoaes no núcleo do trabalho saudosista – jovem crítico na revista certa elogiando o poeta
certo e os versos certos – aparentemente ganhamos um saudosista novo
- termina com a insistência na profecia do supra-Camões que há de vir, nada de novo, já dito em abril,
agora aconteceu uma coisa, a meio deste artigo elogia-se Pascoaes, mas no fim diz-se que vem aí um
supra-Camões – mas juntando informação esse supra não é Pascoaes, porque já escreve e o supra-
Camões há ainda de vir – todos aqueles que já publicaram, não podem ser esse supra-Camões, o
Messias ainda há de vir
- terceiro texto - “A nova poesia portuguesa no seu aspeto psicológico” (in A Águia, 2ª série, nos 9,
11 e 12, setembro, novembro e dezembro de 1912): http://arquivopessoa.net/textos/3101
- muito longo, não cabe num só número da revista – 9,10,11,12
- psicologicamente significa que agora vamos ter a psicologia do sujeito, do indivíduo, do singular,
agora já não é o todo, mas a unidade do poeta, do criador
- esboço de teoria – considera que a nova poesia se define por três caraterísticas – o saudosismos tem
três grandes caraterísticas – poesia do vago, do subtil, do complexo
- vago – o decadentismo, o simbolismo e o saudosismo são – Mélisandre, a senhora da Minha Musa
sim, claro estamos perante objetos vagos
- subtil – sim, claro que é, e pormenorizada e detalhada – o simbolismo também era, por sinal
- complexa – sim, é
- Fernando enquanto teorizador, parece ser obcecado pelo algarismo três – sempre que quiser estudar
algo, é sempre 3- tríade de adjetivos, portanto, estamos perante uma nova literatura, uma nova poesia
saudosista que parte dos princípios do vago, do s8btil, do complexo
- o supra levará ao extremo estes três pontos – atingirá um super vago, um supra subtil e um trans-
complexo – vêm destas caraterísticas e vai levá-las ao infinito
- último texto:
- “Uma réplica ao Sr. Dr. Adolfo Coelho” (in República, 21 de setembro de 1912):
http://arquivopessoa.net/textos/3105
- não traz nada de muito novo, tem apenas o interesse de representar uma resposta esclarecedora de
Pessoa ao leitor escandalizado Adolfo coelho, que pertence à geração de 70, neste momento é um
ancião, um sobrevivente, que está ativo, leu os textos de Pessoa em a Águia, escreveu um texto um
pouco escandalizado, julgando que Pessoa estivesse a ser delirante – aqui está a resposta – sintomático
encontro entre um dos últimos representantes de uma geração, junto de Pessoa, representante de uma
última geração – estranhou a profecia do supra-Camões – Pessoa reafirma tudo o que tinha dito
- Adolfo não pode aceitar, Pessoa agarra-se violentamente a esta teoria
- Pascoaes? Não sabemos o que pensa – na primeira edição, talvez o considere um cúmplice
saudosista – depois chegam estas profecias – mesmo que Pessoa elogie Pascoaes, os saudosistas
devem sentir-se divididos quanto a Pessoa, por um lado acolhem, por outro, daqui a pouco terão de o
despedir – em 1914, A Águia se recusa a aceitar uma publicação de Pessoa, o drama estático O
Marinheiro – quem se terá fartado? Quem terá decidido vetar Pessoa? - vai precisar de uma nova
revista – 1915 – Orfeu
- chocar o público, é contestá-lo e Pessoa quer muito chocar – já se prende com o que vem a seguir
- a saudade em vez de ser uma prisão do passado, é capacitante de nos fazer fazer algo, é um abrir de
portas no futuro, pode contemplar o passado, mas contempla também o dia de amanhã – saudade é
uma porta aberta para ao amanhã – uso paradoxal
- a verdade é que Pessoa vai ter de se expor então como poeta
- estreia poética de Fernando Pessoa – par de poemas publicados numa revista – A Renascença, em
fevereiro de 1914 – Impressões do Crepúsculo – poemas I e II
- poema 1 – em quadras, de inspiração popular
- poema 2 – uma única longa estrofe, de longos versos – não tem título – em rigor, teria que falar do
conjunto, poema I e II
- documento do professor
- poema II na íntegra
- o poema sem título abre com a palavra de pauis, plural de paul = pântano e o pântano não é nem rio,
nem terra, não é firme, não é navegável – está a meio
- este poema dá origem a uma estética, a um movimento – paulismo – os autores de Orfeu falarão de
poesia paùlica
- 1º verso – onde está o verbo nuclear, roçar é infinitivo pessoal, não chega para verbo nuclear
- como assim pauis de? Não se compreende, pauis de roçarem? Como assim? O quê? Ânsias – porquê
outros em maiúscula?
- empalidece – finalmente um verbo – hora maiúscula – hora espiritual
- baloiçar de cimos de palma – fazem-me pensar em Canção Monótona, vagas paisagens, subtis
paisagens – fala em 1912 de vago, subtil e complexo no saudosismo
- aqui, o que era vago tornou-se vago, o subtil, tornou-se extremamente subtil, e o que era complexo
está a tingir requintes de enigma, de complexidade – é como s eu crítico de 1912, estivesse agora em
1913 a escrever um poema que será publicado em 14, mas na verdade antes de sair da revista, já
circula entre amigos – não temos de esperar por 1914, para Sá Carneiro ser influenciado – talvez já
tenhamos paulismo em 1913
- dois lugares particularmente agressivos – Fluído de auréola, transparente de Foi – como assim?
Transparente de foi? Terceira pessoa do singular? Pretérito perfeito? Extremamente agressivo na sua
obscuridade – ainda, por cima, no poema I escreveu quadras ao jeito popular, praticamente acessíveis
– poema II mais obscuro – espécie de provocação, experimentação radical, como s eu poeta Pessoa
estivesse a dizer “eu consigo escrever poesia simples, mas também tão complexa que o leitor nada
compreende e de resto toda a poesia saudosista a comparar comigo é facílima este poema é do mais
obscuro que se pode criar” - quer chocar, ultrapassar o saudosismo, de alguma maneira este poema
existe por si próprio, mas existe sobretudo contra outros poemas, outras estéticas, estamos em guerra

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