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LPSM – 24/02/2021

- pouco tempo para muito trabalho – pânico


- ponto em que estávamos na última aula – literatura francesa – para todos os efeitos, o simbolismo-
decadentismo é uma importação em Portugal de uma corrente essencialmente francesa (e belga)– era
urgente esta referência
- Baudelaire – grande profeta do simbolismo, onde começa o simbolismo – um poema
- um parágrafo de um manifesto do simbolismo – nome menos famoso, mas fundamental no que diz
respeito ao movimento
- uma peça dramática
- última página – importância particular – embora nos foquemos mais na poesia, a personagem
feminina, a princesa Mélisandre dará cartas enquanto arquétipo feminino, imaginário feminino em
toda a literatura simbolista
- tudo começa quando este homem prático encontra Mélisandre, uma jovem perdida na floresta – tudo
menos prática, concreta e real – Mélisandre não tem peso, enquanto Gouldeau tem peso – ela parece
um fantasma, puro espírito
- a personagem masculina pode ser colocada sob um microscópico, ela não – é meramente uma alma
- abre-nos grandes possibilidades técnicas e filosóficas
- o século XIX tem uma crença particularmente aguerrida quanto à potencialidade da ciência – a
geração de 70 acredita que as ciências vão resolver todos os mistérios da ciência – exatas e humanas
- química, medicina, biologia, psicologia, antropologia, sociologia – para todos os efeitos estas formas
de ciência vão resolver tudo – é esta a crença – Eça na década de 70
- mas vamos falar da década de 80 e 90, e de repente aquelas promessas da ciência parecem colapsar
– a ciência parece não resolver tudo – apesar das grandes inovações que se verificaram neste tempo
– comboio, transportes, telefones, caminhos de ferro, linha telefónica – mas estas inovações não
resolvem questões – quem sou? Para onde vou? Haverá vida após a morte? Será que podemos falar
com espíritos numa mesa de pé de galo? - a ciência tem limites – novos autores pretendem investigar
o que é misterioso, oculto e inexplicável
- a poesia e o teatro são excelentes instrumentos para a investigação do mistério e do transcendente
- já não interessa estudar os Maias, nem Luísa do Primo Basílio -estamos cansados da observação
científica, mas espantados com princesas como Mélisandre – não se pode estudar um fantasma, mas
podemos sonhar com ele – mas não é estudável, pode ser sugerida,...
- os autores que surgem de imediato não têm vontade de fazer ciência, nem política (se olharmos para
o teatro simbolista português, teremos de o comparar com António Patrício – um dos maiores
dramaturgos portugueses de todos os séculos – não temos uma enorme tradição teatral – embora
tenhamos de nos recordar de Gil Vicente. António José da Silva, Garrett, mas depois as coisas
começam a tornar-se infelizes e daí é uma injustiça não falarmos de António Patrício – recomenda a
obra “Pedro, o Cru”, mas a sua peça preferida é “Dinis e Isabel”, sobre o rei e a rainha santa, peça de
1919 – Mélisandre é de 1892, o que significa que este teatro simbolista português é muito tardio, já
houve Orfeu, Portugal Futurista – ler a obra “Dinis e Isabel” - leitura obrigatória – é uma história de
reis e rainhas, mas a rainha Isabel aparece-nos como nunca nos apareceu e terá muito a ver com
Mélisandre, terá algo de espírito – com certeza tem um corpo, podemos ouvi-la, tocá-la, vê-la, mas
este corpo é quase um acidente
- vale a pena lembrar que A.P. era um republicano convicto, diplomata em 4 continentes – é um
homem da política, da ação, mas quando agarra na pena para escrever, escreve sobre rainhas, não
sendo monárquico, não para defender ou atacar monarquias, mas porque esta figura da rainha santa
permite estudar um imaginário nada político, mas misterioso
-recusa da ciência, da política, da ação, deste mundo, da geografia – o que importa é o outro mundo
– não estão interessados na nitidez naturalista, mas no nevoeiro da imaginação, surrealista – não
querem ver, mas querem sonhar, não querem saber do microscópio, querem fechar os olhos e sonhar
- questão técnica da evolução teatral
- fim do século XVIII – ópera de Mozart em Viena – como funciona a iluminação ? Obviamente, faz-
se num lugar fechado, não há luz solar – mas para termos luz num espaço interior, é preciso um
batalhão de funcionários para acenderem previamente velas em todo o lado – plateia, palco, tribunas,
camarotes – dezenas ou centenas de velas – quando começar a ópera, não se apagarão as velas todas-
as velas acendidas permanecem acesas o tempo todo
- durante o tempo da peça, as luzes continuarão acesas, consigo ver o que acontece no palco, mas
todos os outros espaços também – explica o porquê de se fazerem negócios e agendarem casamentos
durante as peças, porque se podia ver, toda a gente vê toda a gente
- à medida que o século XIX termina, as iluminações a velas, são substituídas por iluminação a gás e
em breve teremos eletricidade
- no fim do século, conseguimos acender todas as luzes do teatro para toda a gente entrar, mas quando
a peça começa podemos desligar as luzes todas, exceto as do palco – quando conseguimos apagar
toda a comunidade humana e deixamos só o palco, as pessoas ficam sozinhas, os espetadores ficam
isolados na escuridão, olhando para o palco iluminado – é como sonhar
- ia-se ao teatro para estar em comunidade, para fazer negócios, mas agora é-se arrebatado por uma
noite artificial e os nossos olhos vão sonhando com a peça que está em palco – uma espécie de
contemplação e sonho
- a partir daqui, esquecemos o realismo, precisamos e algo da ordem transcendente
- saímos do contexto franco-belga e aproximamos-nos da realidade portuguesa
- cronologia:
- balizas que nos são úteis
- 1887 – Livro de Cesário Verde – livro póstumo editado por um seu amigo, Silva Pinto - morre em
1886 e é um autor inclassificável, que poderia ser contemporâneo do simbolismo, dependendo do
poema, encontraremos um Cesário romântico, realista/naturalista e até somos capazes de encontrar
caraterísticas de um simbolismo
- no mesmo ano, Camilo Pessanha, que nasceu em 1867, publica um soneto com este título - “Na
pasta do Abel Aníbal” - nunca explica quem é esta personagem, que acaba por deixar morrer –
primeiro poema publicado em Coimbra no periódico Gazeta de Coimbra – podemos defender o seu
tom simbolista, deste soneto, mas uma andorinha não faz sozinha a primavera, seja como for uma
data interessante
- Camilo publicando um primeiro poema
- 1888
- data de nascimento de Fernando Pessoa, quando Camilo Pessanha publica um tríptico de sonetos -
“Na pasta do Abel Aníbal” - o soneto anterior mais dois – depois conhecido como “Caminho” - uma
andorinha não faz a primavera – estes jornais circulam, mas não temos nenhum livro, mas um livro é
capaz de marcar mais do que um periódico que é facilmente esquecido
- 1889 – duas revistas
- Boémia Nova – dirigida por um Doutor Fausto, pseudónimo de Alberto de Oliveira, colaboram
também António de Melo e António Nobre
- na mesma cidade, mesmo ano, pouco tempo depois – Os insubmissos – Eugénio de Castro, Francisco
Bastos, João de Meneses, …
- estas revistas podem ser uma boa baliza para começarmos a falar de simbolismo em Portugal – não
é um soneto numa revista, são contribuições, com espaço a teorização e polémica, em revistas com
grandes números
- discutem – sobre o quê? Sobre questões formais, como cesuras dos alexandrinos – versos
tipicamente franceses de 12 sílabas – 6 sílabas – intervalo, pausa, cesura – 6 sílabas
- nesta altura, quer em França, quer em Portugal, vários autores começam a experimentar outras
cesuras – 8 cesura 4 ou 4 cesura 8 – ou outros modelos
- um fenómeno escandaloso – andaram praticamente à luta metaforicamente e literalmente por causa
destas questões de revolução na métrica
- estão muito preocupados com a Ideia platónica, espiritual, mas também fascinados com uma
revolução formal – esta questão da métrica acorda os autores para a luta
- por um lado, espiritualidade levada ao extrema, por outro o trabalho e forma do poema
- 1890 – Eugénio de Castro - “Oaristos” = diálogo íntimo, feito de segredos, de uma partilha espiritual
da intimidade entre marido e mulher – não é a conversa no meio da praça, pública e quotidiana –
primeiro livro de poesia simbolista portuguesa
- uma coisa são vários poemas de Camilo, outra são revistas, mas aqui temo um livro interior de um
autor que se afirma como simbolista e teorizará sobre a ideia de símbolo
- Raul Brandão – nasceu no mesmo ano de Camilo Pessanha e António Nobre – 1867
- 1891 – Eugénio de Castro “Horas”, aqui significam como quem diz “livro d ehoras” nas idade média,
livros que recolhiam orações religiosas e rezas para serem feitas de hora em hora – não significam
ciência, relógio – portanto, espírito, Deus, logo transcendentismo
- Luíz de Borja – pseudónimo de três autores
- 1892 – António Nobre - “Só” publicado em Paris
- 1894 – Eugénio de Castro publica três livros
- para todos os efeitos, nos finais do anos 80, não sei se podemos falar de simbolismo, mas na década
de 90 tantas obras – aquilo que era uma tentativa, um prenúncio, agora é uma escola com vários
autores

- antologia de poesia simbolista portuguesa com textos em pessoa – Fernando Cabral Martins –
estudioso do modernismo- editorial comunicação – recolhe vários textos
- simbolismo, saudosismo e modernismo literários portugueses – Fernando Guimarães – edições
Quasi
- vamos deixar de parte todos os autores, exceto EUGÉNIO DE CASTRO – valor inaugural, autor
muito ligado a leituras francesas, constrói ou tenta construir um simbolismo português à medida do
simbolismo francês
- prefácios das suas obras
- prefácio a “Oaristos”, texto de 5 páginas
- o livro de poesia abre em prosa -
- lugares comuns da poesia portuguesa
- Eugénio de Castro surge como critico literário, acusando a literatura portuguesa de ter caído nos
lugares comuns, nos estereótipos, é normalmente um amontoado de lugares comuns – finais do século
XIX – enumera alguns lugares comuns - ele vai querer evitar estes lugares comuns
- as rimas portuguesas estão estereotipadas – sim, os poemas têm de rimar – a rima é basicamente
obrigatória no final do século XIX
- vocabulário – franciscana pobreza
- misto – tipo de comboio com vários tipos de classes – decidiu-se meter no comboio da poesia,
embora mal acompanhado
- este livro é o primeiro livro que aparece em Portugal, defendendo a liberdade do ritmo
- Eugénio apresenta-se como capaz de uma revolução rítmica – não diz que traz uma nova ideia, uma
nova cosmovisão, um novo tema – a luta é forma, neste momento, material (polémica das revistas -
Preocupação com o ritmo)
- continua a defender as suas inovações – vocabulário escolhido e vário – palavras menos vulgares,
que podem dar aso à crítica – palavras caras que obrigarão os leitores a usar dicionário – mas ele não
quer saber – porque os utilizou? Prefere o termo preciso, porque pensa como Baudelaire que as
palavras, independentemente da ideia que representam, tem a sua beleza própria
- a beleza da palavra não depende do contexto, há palavras são belas por si próprias
copo (vernáculo) – taça (razoável) – gomil (sublime) – para ele, há palavras raras e belas e talvez -
tanto mais belas quanto mais raras – talvez uma palavra rara é mais bela à conta da sua estranheza
- Baudelaire – poeta francês – esta ideia de que as palavras e a sua forma têm uma beleza própria
- 1910 – novo acordo ortográfico – precisamente a geração de Pessoa, de Sá Carneiro teve de se
adaptar
- a palavra abysmo passa a abismo – pois bem, um poeta como Teixeira de Pascoaes recusou-se a
escrever com -i, porque para ele o caráter abismal da palavra estava definido no -y – olhamos para
ele, prolongamos esse traço e prolongamos até ao fundo e aí está o abismo – a forma da palavra
também é importante
- o tempo todo entre a ideia e a forma
- gosta de palavras raras, porque também, em 3º lugar, pela simpatia que lhe merece esse estilo
chamado decadente
- le style décadent – ele traduz do francês – está na origem do decadentismo – um estilo de gosta de
palavras raras
- a palavra vem de um verso famoso - “Je suis l'Empire à la fin de la décadence,” - Paul Verlaine – eu
sou o império no fim da decadência
- é estranho o sujeito lírico dizer que ele próprio é o império, um imperador, os habitantes do império,
os resistentes, os sobreviventes, o império não no auge do poder, mas sim na decadência
- palavra à partida negativa – como melancolia, tédio, depressão, doença
- autores que não estão interessados na saúde e se orgulham desses estados – as esperanças científicas
e os projetos políticos estão fora de moda – o que está na moda é um spleen – o poeta sublime é
aquele que sofre de spleen – uma espécie de melancolia espiritual, ou decadência da vida, do império,
da Europa, do mundo, da existência
- decadentismo – culto da doença, um culto da doença chique – não estamos a falar de doença física
– ninguém se orgulha de tal – é uma doença de espírito, na alma – a partir daqui temos de desistir da
nossa maneira de pensar e tentar imaginar uma outra em que estar/ ser decadente é estar doente de
uma maneira elevada
- Prefácio de Horas – tem apenas página e meia, nem isso
- o que aconteceu a Eugénio de Castro? Atentar à sua escrita
- quando um autor realista ou naturalista, ele quer ser completamente compreendido – ao fim de 5
páginas de Eça sabemos tudo – quem, quando, onde, como? - o texto é pura comunicação (não é bem
verdade, Eça está cheio de ambiguidades) – literatura transparente
- não interessa saber tudo, compreender tudo, mas sim sonhar, não usar a razão, mas usar o irracional
-algo está mesmo a mudar na literatura
- silva – floresta escura, nada tem a ver com o significado atual
- isotérica – misteriosa, oculta, pode ser entendida pelos que conhecem um código
- para os raros apenas – para poucos leitores
- enquanto os realistas querem escrever para toda a gente, os simbolistas querem escrever para poucos,
é uma espécie de clube
- os realistas querem um revolução popular, os simbolistas não querem, querem apenas escrever para
umas almas escolhidas – o realismo quer ser democrático, o simbolismo quer ser elitista – quando a
menos pessoas chegarem melhor, quanto mais elevado o poeta, mais difícil de compreender, quer ser
obscuro, quanto mais obscuro, mais mágico, mais transcendental, quanto mais transcendental, mais
inacessível à maioria – um elitismo agressivo, nada disfarçado, quer mesmo escrever para os raros,
para poucos – tem um pouco/algo de um clube secreto
- uma página obscura porque de agora a avante convém que a literatura o seja, da mesma maneira que
os sonhos o são, naturalmente
- um símbolo que passeia – não foi ele que inventou a palavra, está a seguir os seus mestres franceses
– usa a palavra como ponto de partida para a invenção de uma escola
- parece muito importante, usar nestas aberturas as palavras decadência e símbolo, é decadentista e
simbolista e até fala destes seus movimentos – parte de apresentação teórica – os poemas que se lhe
seguem são o local de experimentação prática
- um poema simbolista de Eugénio de Castro
- pdf que enviou – vai por outro exemplo – decisão de última hora
- do livro “Oaristos” - poema sem título, mas com uma pequena legenda “um sonho”, não é título
nem epígrafe, uma espécie de indicação, identificação – avisa que o leitor vai ler um sonho
- forte desequilíbrio rítmico
- uma quadra + uma estrofe de 11 versos
- apesar de tudo, este poema conta uma história, como é tradicional no século XIX, uma poesia
narrativa
- messe – campo cultivado, ceara
- enlourece – os cereais estão a ficar dourados
- estremece a quermesse – uma festa popular, incluindo um baile, vibra = os corpos dançarão
- que? Os camponeses? Onde? No campo? Que fazem? Dançam? Quando? Final do dia –
caraterísticas da narrativa
- estragamos o poema – perdemos a forma, as rimas internas, que são bastante excessivas – ficou
reconhecido até para efeitos de sátira – parece quase caricatura
- significa música, quando substituímos por uma linguagem coloquial, a música perdeu-se, o ritmo
morreu
- preocupação simbolista com a forma, ritmo, música, ecos, rima
- aliterações e rimas
- já vamos em duas reticências – o realismo gosta muito do ponto de final – pelo contrário o
simbolismo gosta de sonhos – estas reticências têm a ver com o caráter obscuro, incompleto e
misterioso do sonho – estamos longe da realidade
- a partir da indicação pensamos que o vamos ler é a representação de um sonho
- e as cantilenas de serenos sons amenos fogem fluídas, fluindo à fina flor dos fenos – tem algo de
música, algo de sonho, reticências misteriosas
- as estrelas ...- 5 instrumentos musicais, as três ultimas palavras aproximam-se, como isto é musical
- as aliterações -repetições de sons – a métrica
- as estrelas – 7 sílabas – redondilha maior, verso popular
- 7 – 7- 7 -7 – 6 – 2 ou 3 (2 maneiras) – 6 ou 7 – 2 ou 3 – 1 – 1 ou 2
- não é verso livre ainda falta um pouco, mas estamos quase lá, mas ainda não
- nova personagem – flor – será mesmo uma flor ou uma mulher chamada Flor ou à qual se chama
flor – pode ser tudo em diferentes quadras, é um sonho e, como tal, pode acontecer
- várias repetições – o que importa é o efeito musical da repetição
- fim – última quadra – 3h da manhã, acordo, incerto entre sonho e realidade, mas neste momento o
sonho acabou e eu estou no real – interrogações – uma quadra muito especial porque no início estamos
na realidade, depois um lamento pelo sonho perdido, onde foi tudo parar? Onde está o sonho? O que
de real há nele? - estou acordado e o sonho está perdido
- tenho certezas, voltei à lógica, vigília vs sonho
- 2 últimos versos – termina de maneira ambígua, porque mesmo quando estamos acordados, olhamos
pela janela voltamos a ver a flor dos flóreos fenos – já não sei se a realidade não é apenas mais um
sonho ou se o sonho é um reflexo da realidade e quem sou e onde estamos e… e… e… ??????
- há algo de muito novo

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