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AULA 1

FILOSOFIA ANTIGA
E MEDIEVAL

MINICURSO ONLINE E GRATUITO

FILOSOFIA 360°
PROF. DR. MATEUS SALVADORI
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1. INTRODUÇÃO AO FILOSOFAR Aquiles e a tartaruga) e Melisso.


- Pluralistas: Empédocles (quatro ele-
- Teoria, conceitos abstratos, especula- mentos que possuem as caracterís�cas
ção e fundamentos/raiz. do ser dos eleá�cos); Anaxágoras (ho-
- Como estudar? HF e AF via TF (nível meomerias, sementes); Leucipo e De-
fácil, médio e di�cil). mócrito (atomismo, materialismo e me-
- Ontológico, mentalís�co e linguís�co; canicismo).
ser, consciência e linguagem.
- Por que estudar filosofia? 1° curso; 2° 3. PERÍODO CLÁSSICO
curso; hobby... – vida intelectual.
- Sofistas: professores pagos, retórica e
2. PRÉ-SOCRÁTICOS argumentação; 4 grupos: a) primeira
geração (rela�vismo de Protágoras,
- Do mito ao logos: palavra (mito: con- ce�cismo de Górgias e Pródico); b) Erís-
creto; logos: abstrato); Lévi-Strauss: �cos; c) Sofistas Polí�cos (Crí�as e Tra-
explica�va, organiza�va e compensató- símaco); d) Naturalistas (Hípias e An�-
ria. Os orientais (Egito, Babilônia...) fonte).
eram prá�cos e os gregos especula�- - Sócrates: diálogo: a) ironia (perguntar,
vos; surgimento da filosofia: poesia do grego) e b) maiêu�ca (dar à luz);
(Homero e Hesíodo), a religião (pública condenado à morte por corromper a
de Homero e Hesíodo; órfica) e certas juventude e introduzir falsos deuses
condições socioeconômicas e polí�cas. (Deus é Inteligência que coordena
- Pré-socrá�cos (phisis, arché e cosmo- tudo). Socrá�cos menores: a) cínicos
logia): (An�stenes); b) cirenaicos (Aris�po); c)
- Monistas: Tales (água); Anaximandro megáricos (Euclides); d) Escola Élida
(ápeiron: infinito, ilimitado); Anaxíme- (Fédon).
nes (tentando entender o ápeiron – o ar - Platão: a) pirâmide; b) ontologia:
é o sujeito do predicado ápeiron); Pitá- causas da existência do sensível: i) ideia
goras (elementos dos números); Herá- (conteúdo do conceito); ii) demiurgo
clito (devir, fogo, dialé�ca, iden�dade (faz com que a ideia se encontre pre-
dos opostos, o ápeiron é o não ser o sente no mundo sensível); iii) receptá-
outro de si). culo informe (recebe o inteligível).
- Ontologia: Parmênides (o ser é, o não- - Aristóteles: a) diferenças: Platão (ma-
-ser não é; caminho do erro são os sen- temá�ca, âmbito transcendente, dialé-
�dos; os fenômenos/opostos estão �ca, diálogo) & Aristóteles (empíricas,
incluídos na unidade superior do ser; imanente, analí�ca, sistema�zação dis-
Zenão de Eleia (não há movimento: serta�va); b) lógica: propedêu�ca;
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c) ciências: 1) teoréticas: i) meta�sica: se independente dos outros. Tudo o


e�ologia (causas), ontologia (“ser em que é natural deveria ser feito aos olhos
si” – 10 categorias), ousiologia (subs- de todos. A riqueza, a fama, o poder e
tância) e teologia (Deus); ii) �sica; iii) as honras são coisas tolas. A vida cínica
psicologia (alma irracional – vegeta�va se concre�za em conduta inteiramente
e sensi�va/percep�va e racional/inte- livre, sem regras, sem metas. O cínico é
lec�va); iv) matemá�ca; 2) práticas: i) an�culturalista e ele defende a fadiga.
é�ca; ii) polí�ca; 3) poiéticas/produti- - 2. Epicuristas (aponia): Epicuro de
vas: i) retórica: metodologia do persua- Samos e Lucrécio. Há três �pos de
dir; ii) poé�ca: mimese e catarse. prazer: a) naturais necessários: precisa-
- Dialética: jogo de opostos; Heráclito, mos; b) naturais não necessários: preci-
Platão, Plo�no, Proclo, Agos�nho, Eriú- samos de vez em quando; c) não natu-
gena, Escola de Chartres, Cusa, Ficino, rais e não necessários: voltados à rique-
Bruno, Spinoza, Schelling, Hegel, Marx, za, honras e poder; devemos nos afas-
Lamarck, Darwin, Dawkins, Gould, os tar desses.
�sicos da teoria do Big Bang, Stephen - 3. Estoicos (apa�a): Zenão de Cí�o,
Hawking e tantos outros. Analítica: aná- Cleanto e Crisipo; Panécio e Possidô-
lise de proposição e sistema silogís�co nio; Sêneca, Epicteto e Marco Aurélio.
de argumentação; Parmênides, Aristó- Sêneca em Cartas a Lucílio: liberdade
teles, Alberto Magno, Tomás de Aquino, diante das inconstâncias da vida; prepa-
Scotus, Occam, Descartes, Leibniz, Kant, rar-se para a fortuna; tornar-se senhor
Frege, Wi�genstein, Filosofia Analí�ca, de sua vida; não se separar do mundo;
lógica atual e grandes �sicos como Gali- não temer a morte, pois cada dia mor-
leu, Copérnico, Newton e Einstein. remos e a maioria das pessoas não se
preocupa em viver bem, mas viver bas-
4. PERÍODO HELENÍSTICO tante; transformar a vontade em estado
constante, em ato, pois somente a von-
- Da helênica à helenís�ca, do ideal da tade não basta); Epicteto em Manual:
pólis para o ideal cosmopolita (o mundo há coisas que depende de nós e outras
é uma grande pólis), do homem citadi- que não depende de nós; não são as
no ao homem-indivíduo. Obje�vo: coisas que perturbam os seres huma-
alcançar a ataraxia (ausência de preocu- nos, mas são as avaliações; uma vida
pação – termo de Demócrito), mas por bem-sucedida é aquela em que desem-
caminhos diferentes: penhamos bem o nosso papel; Marco
- 1. Cínicos (autarquia): An�stenes e Aurélio em Meditações: o sábio deve
Diógenes de Sinope. O ideal é a autar- viver segundo sua natureza; controlar o
quia, o bastar-se a si mesmo e o tornar- seu discurso interior; alegrar-se com o
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que nos acontece; não desejar mudar a Fílon de Alexandria: primeiro a fundir
ordem do mundo; só fazer o que presta filosofia com teologia; filosofia mosaica
serviço à comunidade humana. com o método alegorese para interpre-
- 4. Cé�cos (afasia e epoché): Pirro, tar o significado oculto da bíblia. Logos:
Tímon, Arcesilau, Carnéades; Eneside- Deus segundo/Cristo.
mo, Sexto Empírico e Agripa. As coisas
são indeterminadas, incomensuráveis, 5.1. Patrís�ca:
indiscrimináveis e indiferenciáveis, não
tendo em si uma essência estável, - 1) Padres apostólicos (séc. I): Clemen-
sendo pura aparência. A�tude do sábio: te Romano, Inácio de An�oquia e Poli-
afasia (abstenção consciente de qual- carpo de Esmirna; discípulos direitos
quer juízo originada pelo reconheci- dos apóstolos.
mento da ignorância) e epoché (não - 2) Padres apologistas (séc. II, defen-
dizer nada, não expressar qualquer �po dem o cris�anismo dos filósofos recor-
de julgamento defini�vo) e isso o levará rendo a argumentos filosóficos): Aris�-
a ataraxia (imperturbabilidade). des, Jus�no, Taciano, Atenágoras, Teó-
- 5. Eclé�cos: Fílon de Larrisa, An�oco e filo, autor da Carta a Diogneto, Cle-
Cícero. mente e Orígenes.
- 6. Ciência, neo-aristotelismo, médio- - 3) Patrís�ca (propriamente dita, do
-platonismo, neopitagorismo e neopla- séc. III até o Início da Idade Média):
tonismo (Plo�no). - 3.1) Edito de Milão em 313 por Cons-
tan�no, Concílio de Nicéia (325), Concí-
5. FILOSOFIA MEDIEVAL lio de Éfeso (431), Concílio de Calcedô-
nia (451). Teólogos que se destacaram:
- Fim da filosofia an�ga pagã em 520 Eusébio de Cesaréia, Ário, Atanásio,
d.C., ano em que Jus�niano marca o fim Basílio de Cesareia, Gregório Naziaze-
de qualquer o�cio público pagão; há no, Gregório de Nissa, Nemésio de
aqui a importância da mensagem bíbli- Emesa, Sinésio de Sirene, Pseudo-Dio-
ca: subs�tuição do politeísmo grego nísio Areopagita, Máximo o Confessor
pelo monoteísmo; o criacionismo a e João Damasceno.
par�r do nada; do cosmocentrismo ao - 3.2) Patrís�ca la�na antes de Agos�-
teocentrismo; lei moral em Deus; a nho: Minúcio Félix, Tertuliano (CREIO
desobediência da lei causou a queda do PORQUE É ABSURDO: fé e razão são
homem (pecado original) e o resgate da irreconciliáveis e a fé é superior a
queda parte da vontade de Deus e não razão), Cipriano, Novaciano, Arnóbio,
do homem; do eros para ágape; novos Lactâncio, Ambrósio, Jerônimo e
valores (humildade) e história linear. Rufino.
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- 3.3) Santo Agos�nho: Cícero, mani- des.


queísmo, ce�cismo, neoplatonismo,
cris�anismo (santo Ambrósio): i) CRER - 1) fim do V – fim do IX: Boécio (“A con-
PARA COMPREENDER E COMPREENDER solação da filosofia”: a filosofia ensina a
PARA CRER: fé e razão são conciliáveis; verdadeira felicidade aos homens, que
ii) iluminação: na alma há a luz divina é nos aproximar de Deus e nos afastar
que ilumina a nossa razão; iii) Trindade: dos bens materiais); Escoto Eriúgena.
iden�dade substancial das três pessoas - 2) fim do IX – fim do XII: Anselmo de
sem hierarquia; iv) Criação ex nihilo: Aosta: Deus é a realidade das coisas
não é geração (pai e filho) nem fabrica- que nada se pode pensar de maior; crer
ção (objeto); v) razões seminais (se- para compreender; Abelardo: COM-
mentes); vi) tempo: surge com a criação PREENDER PARA CRER; Universais: i)
do mundo; antes, exis�a o eterno; vii) Realismo exagerado (“ante rem”: são
mal: meta�sico (o mal não existe, exis- entes reais subsistentes em si e por si;
tem apenas seres inferiores a Deus); radicalização do platonismo): Escoto
moral (o mal existe, e ele é fruto da von- Eriúgena, Guilherme de Champeaux,
tade má que tende a seres inferiores); Anselmo; ii) Nominalismo (como puros
�sico (consequência do pecado origi- nomes: posição cé�ca que rejeita o pla-
nal); viii) livre-arbítrio, vontade e graça; tonismo): Roscelino de Compiègne e
ix) história e as duas cidades. Ockham; iii) Conceitualismo (“post
rem”: existem na mente como concei-
5.2 Escolás�ca: tos abstratos): Abelardo; iv) Realismo
Moderado (“ante rem”, “post rem”, “in
- O pensamento proto-cristão termina re”: eles estão nas coisas sensíveis
na língua la�na com Agos�nho (V), na como suas conotações ontológicas; po-
língua grega com Máximo o Confessor sição mediana entre platonismo e aris-
(VII) e somente João Damasceno (VIII) totelismo): Boécio, Tomás de Aquino.
desloca o eixo de Platão para Aristóte- Escolas de Chartres e de São Vítor:
les. Há o desenvolvimento das Escolas Chartres: centro de leitura e interpreta-
(VIII-XIII) com três graus: a) la�m, bíblia ção dos clássicos (Platão) e valorização
e textos litúrgicos; b) 7 artes liberais (tri- do trivium (gramá�ca); São Vítor:
vium: gramá�ca, retórica e dialé�ca; aspectos mís�cos, ou seja, oração e
quadrivium: aritmé�ca, geometria, contemplação de Deus e seu fundador
astronomia e música); c) estudo apro- foi Champeaux.
fundado da sagrada escritura; e das - 3) séc. XIII: era de ouro da Escolás�ca:
Universidades (XII-XIII): nascem em Bo- i) filosofia árabe (Avicena e Averróis); ii)
lonha e Paris as primeiras universida- hebraica (Avicebron e Maimônides); iii)
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la�na: dominicanos (Alberto Magno e melhor do que outros e reconhecerá


Tomás de Aquino), franciscanos (Boa- cada imagem e o que representa, pois
ventura e Duns Escoto) e averroísmo já tereis visto as verdadeiras realidades
la�no (Siger de Brabante); escola natu- do belo, do justo e do bom”.
ralista-experimental de Oxford (Rober-
to Grosseteste e Roger Bacon). Tomás Teses centrais:
de Aquino: i) ontologia: apenas em a) sen�do da alegoria da caverna: da
Deus essência e existência coincidem; o doxa para a episteme;
mundo tem ser e na criatura o ser se b) definição das ciências mais indicadas
dis�ngue da essência, pois nela “tem” para a formação do filósofo e a liberta-
existência e não “é” existência, sendo ção dos sen�dos: da matemá�ca à
con�ngente; ii) teologia: cinco vias – dialé�ca;
movimento, causa, con�ngência, graus c) formação e a seleção progressiva dos
de perfeição e finalismo; iii) teoria do filósofos: formação �sica, militar, inte-
direito: lei eterna, natural, humana e lectual, matemá�ca e dialé�ca.
divina.
- 4) séc. XIV: crise – ruptura do equilí- Resenha do cap. VII da Obra A Repúbli-
brio entre razão e fé, Estado e Igreja, ca, de Platão:
an�clericalismo: Egídio Romano, Mar-
sílio de Pádua, João Wyclif, João Huss, O mundo da caverna representa o
Mestre Eckhart e Guilherme de mundo dos sen�dos, ao passo que o
Ockham: príncipe nominalista (navalha mundo diurno representa o mundo
de Ockham); autonomia da fé e da inteligível. Ambos possuem a respec�va
razão; CRER E ENTENDER. fonte de luz, ou seja, a caverna é ilumi-
nada por um fogo, enquanto o dia o é
ANÁLISE DO TEXTO “O MITO DA pela luz do sol. O fogo representa o sol
CAVERNA”, DE PLATÃO visível que ilumina nosso mundo sensí-
vel, enquanto o sol da alegoria, o Bem
Obje�vo: que ilumina o mundo inteligível. Exis-
Descrever as diferentes etapas de tem dois níveis de realidade: um nível
ascensão e educação de um filósofo inferior de sombras, de reflexos, e um
para a sabedoria suprema; é dupla a nível superior de realidades verdadei-
educação do filósofo: elevar-se à con- ras. Assim como o mundo diurno é mais
templação do Bem (sair da caverna); claro e mais real do que o mundo da
saber agir no meio dos homens na caverna, o mundo inteligível é mais
cidade (descer à caverna). Quando isso claro e mais real do que o mundo sensí-
ocorrer, o filósofo “verá mil vezes vel. A alegoria da caverna representa as
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diferentes etapas da educação e da pro- Através dos seguintes saberes: 1. Arit-


gressão do filósofo no sen�do da ciên- mé�ca: permite enumerar os seres
cia do Bem. Tendo-a alcançado, deverá unos, dis�ntos uns dos outros, onde o
ele orientar com sua sabedoria a condu- testemunho confuso e contraditório
ta dos homens e assumir o governo da dos sen�dos revela seres ao mesmo
cidade. Será forçado descer novamente tempo unos e múl�plos. Ora, toda
à caverna e, uma vez que se �ver nova- ideia, toda realidade inteligível é una e
mente habituado à obscuridade, estará idên�ca; 2. Geometria: nos leva a con-
em melhores condições de reconhecer ceber seres eternos e imutáveis. Toda
os verdadeiros modelos das imagens e ideia, toda realidade inteligível é imutá-
das sombras. Assim, poderá instaurar vel, perfeita, eterna; 3. Astronomia: não
não uma sombra de cidade, mas um deve unicamente permi�r-nos contem-
modelo de cidade perfeita. plar melhor o céu visível e o sol, que
traz luz e vida ao mundo sensível. Ao
Platão ressalta a importância das ciên- contrário, deve habilitar-nos a ver, além
cias que visarão preparar melhor a for- do céu visível, um céu habitado por
mação do filósofo. A educação, diz ele, seres e dotados de movimentos perfei-
consiste em voltar à alma do mundo tos que só a inteligência é capaz de per-
obscuro da opinião para a luz da verda- ceber; 4. Harmonia: não deve se limitar
de. De que maneira isso é possível? a nos fazer dis�nguir com mais clareza
Ensinando o filósofo a se liberar dos os sons, os acordes harmoniosos e dis-
sen�dos. Nesse aspecto, é que é ú�l a sonantes, mas também permi�r que
matemá�ca. Platão dis�ngue as seguin- nossa percepção vá além das harmo-
tes ciências: a aritmé�ca, a geometria nias captadas pelos ouvidos, isto é, as
(estereometria), a astronomia e a ciên- harmonias perfeitas que só a inteligên-
cia da harmonia. Tais ciências não cia pode conceber. Estas ciências reve-
devem ser estudadas sob o prisma de lam, assim, a existência de um mundo
seus fins u�litários, mas no que respeita inteligível. Mas elas o revelam como se
à arte da guerra, que entra na formação se tratasse de um sonho. Na verdade, a
militar do filósofo que é, em primeiro matemá�ca só nos dá uma ideia do
lugar, um soldado. Se a matemá�ca per- mundo inteligível graças a um apoio
mite uma melhor percepção das reali- sensível, material. É esta a razão pela
dades sensíveis, sua u�lidade reside, qual as matemá�cas cons�tuem apenas
essencialmente, na capacidade de des- um prelúdio para a dialé�ca; 5. Dialé�-
pertar e es�mular a inteligência. Deve ca: verdadeira ciência das realidades
ela permi�r que se saia do mundo sen- inteligíveis, ou das ideias. Na dialé�ca, a
sível (da caverna). Mas, de que forma? alma se eleva a uma visão de conjunto
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das ciências para ir além dos princípios ainda bem jovem, estudar matemá�ca,
ou das hipóteses que cada uma delas porém, sem constrangimento, como se
leva em conta, ou seja, ao conhecimen- se tratasse de um jogo, para dis�nguir
to do princípio não-hipoté�co do Bem. mais facilmente aqueles que revelam
Sem o conhecimento do bem, adje�vo mais inclinações para esta ciência; 2.
essencial da dialé�ca, o homem se Aos 20 anos: serão selecionados os me-
conduz cegamente e o filósofo não po- lhores dentre eles, e serão introduzidos
deria conhecer o que é verdadeiramen- os estudos matemá�cos sob um aspec-
te uma Cidade justa. Somente a dialé�- to sinté�co, a fim de se dis�nguirem
ca tem o poder de revelar o Bem ao aqueles que es�verem mais aptos para
homem versado nas ciências comenta- a dialé�ca. Somente aquele que é
das, e não é possível chegar lá senão dotado de espírito sinté�co é dialé�co;
por esse meio. Platão dis�ngue os graus 3. Aos 30 anos: os melhores, os mais
do conhecimento da seguinte forma: i) seguros, os mais sólidos, os que se arris-
Opinião (doxa): 1° Imaginação – eikasia cam menos a fazer uso abusivo e preju-
– sombras, imagens; 2° Crença – pistis – dicial da matemá�ca, à maneira dos
as coisas, os objetos; ii) Ciência (episte- sofistas, terão durante 5 anos a possibi-
me): 3° pensamento discursivo – dia- lidade de pra�car a dialé�ca. Devem
nóia – matemá�ca e geometria; 4° pen- renunciar ao uso da visão e de outros
samento intui�vo – noesis – dialé�ca. sen�dos e, assim, chegar ao conheci-
mento do ser apenas com a verdade,
Platão destaca a importância da seleção recorrendo unicamente às verdadeiras
e da formação progressiva dos filósofos. Ideias, ao invés de apoiar-se no teste-
O caminho resume-se no seguinte: for- munho incerto dos sen�dos. Só serão
mação �sica e militar, intelectual e ma- admi�das na arte da argumentação
temá�ca antes da filosofia (a dialé�ca). pessoas firmes e estáveis, por natureza;
Contudo, todo este ensino não deve ser 4. Aos 35 anos: serão obrigados a se
imposto pela força. Quem deverá par�- dedicarem, de novo, a ocupações mili-
cipar desses estudos comentados? tares e espor�vas, a fim de não perde-
Aqueles que reunirem, em primeiro rem os conhecimentos e experiências
lugar, qualidades �sicas e morais que nesses domínios. Assim, deverão voltar
caracterizem um soldado corajoso e, ao à caverna; 5. Aos 50 anos: os melhores,
mesmo tempo, disposições intelectu- que se dis�nguirem em tudo, se eleva-
ais. Em que idade? 1. Ao fim dos 2 ou 3 rão até à ciência do Bem. Terão sempre
anos obrigatórios de ginásio: são 2 ou 3 em vista o Bem como modelo e como
anos de ginás�ca obrigatória antes dos fim para governar a cidade e formar
20 anos; primeiramente, é preciso, seus sucessores – alternando ocupa-
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ções polí�cas com a contemplação filo- cação do filósofo na Cidade ideal: ele-
sófica e a prá�ca com a teoria. Quando var-se à contemplação do Bem – sair da
par�rem desse mundo a cidade os caverna –, saber agir no meio dos
venerará como deuses. Tanto o homem homens na cidade – descer à caverna.
quanto a mulher poderão realizar tal Quando isso ocorrer, o filósofo “verá mil
tarefa. vezes melhor do que outros e reconhe-
cerá cada imagem e o que representa,
Concluindo, um semelhante modelo de pois já tereis visto as verdadeiras reali-
cidade perfeita não é uma quimera. Sua dades do belo, do justo e do bom”.
realização é possível se um ou vários
filósofos passam a governá-la e se, para
começar, se protegerem as crianças de
menos de 10 anos, ainda não corrompi-
das pela educação de seus pais, que
devem ficar no campo. Sem dúvida, a
educação é o tema essencial do Livro VII
da obra A República. A reforma da
cidade pressupõe uma reforma da edu-
cação, em par�cular dos futuros filóso-
fos que assumirão a direção da polis.
Esta educação consiste em liberar a
alma da prisão e da obscuridade da opi-
nião comum. A educação não consiste
num saber superficial – mundo do devir
–, exterior da alma (sofistas), mas deve
fazer com que a alma se volte para o
essencial, isto é, para as essências, para
o Ser (o mais brilhante no Ser é o Bem).
No entanto, se desde a infância, a natu-
reza dessa alma fosse subme�da a uma
poda dos prazeres dos sen�dos, se
�vesse sido libertada desse peso, vol-
tando-se para realidades verdadeiras,
poderia vê-las com a mesma agudeza
com que vê as coisas para as quais
ainda se acha voltada. Da meditação
filosófica à ação polí�ca, é dupla a edu-

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