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As teorias de transição entre o Behaviorismo Clássico e o Cognitivismo

Dados introdutórios

Qual o processo pelo qual as informações são absorvidas


e retidas ?

Como é que se podem tirar benefícios deste processo


para ajudar na aprendizagem, ou seja ajudar os alunos
a reterem a informação crítica?
Teoria do Processamento de Informação
Teoria do Processamento de Informação

Defendida por teóricos como:

Robert M. Gagné Richard E. Mayer

(1916-2002) (1947)
(Department of Psychology,
University of California)
Teoria de Aprendizagem de Robert Gagné

Transição entre o Behaviorismo (valoriza os


estímulos e respostas) e o Cognitivismo (valoriza
os processos internos da aprendizagem).

Pioneiro da Teoria de Processamento de


Informação.
(1916-2002)
Dados introdutórios

Informação - entra constantemente no cérebro pelos sentidos;

Muita informação - imediatamente descartada (não consciente);

Alguma informação - mantida por breve espaço, depois


esquecida;

Outras informações - retidas muito mais tempo, talvez durante


toda a vida.
Teoria do Processamento de Informação

Inspirada:

- Nos trabalhos Neo-Behavioristas (conceção mais complexa e elaborada


da aprendizagem; transição entre as teorias behavioristas e as cognitivas);

- Nos trabalhos de Edmund Tolman;

- No funcionamento do computador.
Teoria de Aprendizagem de Gagné

APRENDIZAGEM - modificação na disposição ou na capacidade


cognitiva do sujeito que não pode ser apenas atribuída ao processo de
desenvolvimento.

Ativada pela estimulação do ambiente exterior (INPUT) e provoca uma


modificação do comportamento que é observada como desempenho
humano (OUTPUT).

Gagné preocupa-se com o processo de aprendizagem, com o que se realiza


“dentro da cabeça” do indivíduo.
Teoria do Processamento de Informação

Edmund C. Tolman

- Importância dos Mapas Cognitivos, representações mentais da


informação circundante relevante para as intenções do indivíduo –
APRENDIZAGEM INTENCIONAL.

- Influências da Teoria da Forma – GESTALT.


Para Tolman:

➢ Aprendizagem não se explica pela mera reunião de conexões E-R;

➢ Aprendizagem – interiorização de um mapa cognitivo que o


organismo faz do meio;

➢ Investigação sobre a memória humana - ajudou na descrição do


processo através do qual a informação é lembrada ou esquecida - Modelo
de Processamento de Informação de Atkinson-Shiffrin (1968).
Teoria do Processamento de Informação

Fundamenta-se nos processos cognitivos como a atenção, a perceção e a memória;


reconhecem que a aprendizagem ocorre quando a informação é arquivada na
memória a longo prazo.
A aprendizagem e recordação baseiam-se no fluxo de informação que
atravessa o indivíduo;

A informação que é recebida pelos recetores sensoriais e alvo de


atenção é codificada, armazenada e processada de forma a poder ser
recuperada.

Input Output

Entrada da informação Saída da


informação/Aprendizagem

Processamento

Elaboração da informação
Informação entra nos recetores sensoriais, é-lhe dada atenção, é
codificada e depois armazenada e processada.

Processo de aprendizagem ENVOLVE:

1 - CODIFICAÇÃO - construção de traços de memória que constituem


abstrações baseadas nos aspetos mais salientes da informação;

refere-se ainda à representação mental de objetos ou acontecimentos


externos.
2 - ARMAZENAMENTO - corresponde à memória interna, ou seja à
persistência da informação ao longo do tempo (à semelhança como se
grava a informação no computador).
3 - RECUPERAÇÃO (output) - terminal de saída da informação do
processo de memória, ou seja ao uso da informação armazenada que
deve estar não só disponível, como também acessível ao indivíduo.
Teoria de Aprendizagem de Gagné

ROBERT GAGNÉ E COGNITIVISMO: IMPLICAÇÕES


PEDAGÓGICAS

https://www.youtube.com/watch?v=FaufOn99WRo - (4m 7 s)
Gagné distingue na APRENDIZAGEM:

EVENTOS EXTERNOS e INTERNOS

Estimulação que atinge o


estudante e os produtos
que resultam da sua
resposta.
As atividades internas que
ocorrem no SNC do estudante
Aprendizagem analisada através das seguintes fases:
1- Fase da motivação >>> expetativa;

2 – Fase da apreensão >> atenção, perceção seletiva;

3 – Fase de aquisição >> entrada de armazenamento;

4 – Fase de retenção >> armazenamento na memória;

5 - Fase de rememoração >> recuperação;

6 - Fase de generalização >> transferência;

7 - Fase de desempenho >> resposta;

8 - Fase de retoalimentação >> reforço.


GAGNÉ - a aprendizagem estabelece estados persistentes no
aprendiz; que ele denomina de Capacidades Humanas e que são:

> Informação verbal,

> Habilidades intelectuais,

> Estratégias cognitivas,

> Atitudes e

> Habilidade motoras.


ENSINAR é: orientar as condições exteriores próprias à
aprendizagem através da instrução

consiste num conjunto de eventos externos planeados

com o propósito de iniciar, ativar e manter a


aprendizagem do aluno.
Condições que fomentam a aprendizagem verbal:

1. A informação nova a aprender deverá ser apresentada num


contexto de aprendizagem significativo para que possa ser
codificada;

2. Os alunos deverão ter as estruturas cognitivas apropriadas


para absorver a informação nova;

3. Os alunos deverão conhecer o significado da maior parte das


palavras usadas na informação nova;
Condições que fomentam a aprendizagem verbal:

4. O propósito e utilidade para os alunos da nova informação devem ser


apresentados de forma clara;

5. Devem ser criadas oportunidades para exercitarem a retenção e


recuperação da informação verbal a partir da memória;

6. O professor ou instrutor deve chamar a atenção para as relações entre os


conteúdos que estão a ser aprendidos.
Condições de aprendizagem das competências intelectuais:

1. As competências que servem de pré-requisito para a aprendizagem


de outras competências devem ser aprendidas em primeiro lugar;

2. Competências simples que vão ser organizadas em competências


mais complexas devem ser recuperadas da memória a longo prazo;

3. As competências devem ser exercitadas numa variedade de contextos;


Condições de aprendizagem das competências intelectuais:

4. As novas competências deverão ser revistas e exercitadas


periodicamente;

5. Se necessário, podem ser utilizadas pistas ou mnemónicas para


ajudar os alunos a relembrar uma competência intelectual já
apendida.
Estratégias cognitivas:

Processos internos que os aprendizes usam para planear, controlar e


monitorizar a sua aprendizagem e pensamento - metacognição

Operam através de processos como:

- direcionar a atenção;
- selecionar padrões percetivos;
- decidir que informação na memória a curto prazo deve ser
ensaiada;
- selecionar sistemas de codificação para mover a informação para a
memória a longo prazo;

- selecionar uma estratégia para a recuperação da informação.

Aquisição de novas capacidades de


resolução de problemas.
Tipos de Memória

>>>> 1 - Memória ou registo sensorial

Através do registo sensorial recebemos diversas informações (visual, auditiva, táctil,


paladar e olfato);

✓ Informação do meio ativa recetor sensorial - momento de retenção da informação (em


bruto) é extremamente breve (meio segundo a quatro segundos) em que fica retida na
memória sensorial e depois desaparece rapidamente, se não lhe for dada atenção.

✓Memória conhecida como registo sensorial é denominada:

- memória icónica para os itens verbais;

- memória ecóica ou acústica para os itens auditivos.


Memória sensorial - retém apenas informação sensorial bruta, não processada - armazém
provisório (situado entre o meio exterior e a memória interna).

Traço da memória sensorial é breve e volátil, desaparece quase imediatamente a menos que
lhe seja dada ATENÇÃO.

Se se prestar atenção - informação é codificada e transportada do registo


sensorial para o armazenamento.

Necessário tempo para que esta informação se torne consciente.

Ex.: alunos são bombardeados com demasiadas informações ao mesmo tempo e não
lhes é dito quais os aspetos fundamentais a que devem ter atenção, podem vir a ter dificuldade
em apreender informações.
2 - Memória a curto prazo (MCP)

Informação recebida e à qual é dada atenção - transferida para a MCP.

✓ Sistema de armazenamento da informação codificada na memória


sensorial - MCP, ou memória de trabalho (aspeto mais importante é o facto
de ser ativa);

✓ MCP - consegue reter informação por tempo limitado; codifica 7 itens


distintos (+/- 2) que podem ser associados ou agrupados.
Elementos podem ser agrupados ou associados,
processados como um elemento comum.

O agrupamento ou associação é uma das técnicas de memorização, auxiliando


a recordação de estímulos visuais e auditivos.

Ex: OPECIBMSONARRADAR – OPEC IBM SONAR RADAR

Forma de reter informação na MCP: pensar sobre ela ou repeti-la diversas


vezes (estratégia para decorar um número de telefone, etc).
Diferenças entre indivíduos na memória a curto prazo:

fator que contribui para aumentar capacidade é o background de


conhecimentos; quanto mais se conhecer/ saber sobre algo, mais
competente e eficiente será a capacidade para organizar e absorver as
novas informações;

repetição é importante - quanto mais tempo um item permanecer na


MCP, maior a probabilidade de ser transferido para a memória de longo prazo.

IMPORTANTE:

- disponibilizar tempo para prática/treino dos conhecimentos;


- demasiada informação rapidamente pode levar a que alunos não
tenham tempo para a processar.
3 - Memória a Longo Prazo (MLP)

✓ Informação da MCP segue para a MLP, onde é processada e armazenada;

✓ MLP – memória prolongada ou definitiva, retém informação codificada


por toda a vida - memória permanente (nem sempre localizável e
utilizável).

✓ Nem toda a informação entra para a MLP: chave do armazenamento é o


estar suficientemente MOTIVADO.

✓ Informação é codificada e retida através de representações imagéticas e


verbais - Teoria do Código Dual - embora alguns refiram que podem também
ser codificadas as representações auditivas.
Recuperação e Esquecimento

✓ Armazenada na MLP a informação está disponível (nem sempre é


facilmente localizável..

✓ EMOÇÕES - papel muito importante, por vezes inibindo e outras


aumentando.

Emoções fortes proporcionam recordações muito completas –


memória relâmpago.
✓ ANSIEDADE inibe geralmente a memória.

Ex.: Alunos entram em pânico durante os exames, apesar de terem


estudado, tudo desaparece momentaneamente “Tive uma branca”.

Quanto melhor o material for aprendido e maior a familiaridade


com o assunto, menor a ansiedade;

As técnicas de relaxamento reduzem a ansiedade.


ESQUECIMENTO

✓ Esquecimento - incapacidade de recuperar a informação.


Mas, porque razões é que esquecemos?

Diversas teorias explicam o esquecimento.

>>> 1. Teoria do Declínio, Degradação ou Deterioração

>>> 2. Teoria da Interferência.


1. Teoria do Declínio, Degradação ou Deterioração

✓ Esquecimento decorre da deterioração do traço mnésico em função da


passagem do tempo (como acontece com as cores de fotografia antiga).

✓ Fragmento original de informação vai desaparecendo gradativamente, a


menos que façamos algo para o manter intacto.
✓ DECLÍNIO – perda passiva de um traço de memória, devida à inatividade ou
falta de ensaio (extinção no esquema behaviorista);

ocorre na fase de entrada (input) na MCP;

também ocorre na MLP (ritmo muito mais lento).

✓ Na Memória sensorial - perde-se em poucos segundos;

✓ Na MCP - se não for ensaiada, perde-se em menos de 1 minuto;

✓ Na MLP - também pode haver declínio, embora muito lento.


2. Teoria da Interferência

✓INTERFERÊNCIA – inibição da evocação de acontecimento(s) devida à


incursão de um outro acontecimento no conteúdo.

Pode ser de 2 tipos:

A - Inibição proativa - aprendizagens anteriores podem inibir as


posteriores;

B - Inibição retroativa - aprendizagens posteriores podem inibir as


anteriores .
Inibição proativa (IP)

anterior aprendizagem perturba a evocação de uma aprendizagem posterior;

material mais antigo atuou para a frente no tempo e atrapalhou os esforços de


recuperação do material mais recente .

Ex.: curso de espanhol num semestre e curso de francês no seguinte. No exame de francês a
evocação dos conhecimentos pode ser perturbada pelos efeitos da interferência causada pelo
curso de espanhol anterior.
Inibição retroativa (IR)
a aprendizagem do material novo atuou para trás no tempo e impede a evocação do
material mais antigo .

Ex.: Depois de ter completado o curso de francês a evocação do espanhol foi perturbada. O
conhecimento do espanhol teria ficado mais consolidado se não tivesse estudado o francês
durante o último semestre.
Conclui-se:
>>> Processode armazenamento da informação (aprendizagem) poderá ser perturbado
por aprendizagens passadas e futuras;

efeitos da interferência podem ser deslocados e compensados com a


organização dos antecedentes da informação.

Ajudas à recuperação da informação aprendida

✓ Informação processada - de pouca utilidade se não puder ser recuperada.

✓ Importante aumentar a capacidade do aluno para evocar e utilizar a informação


processada e para compensar a interferência.
1- Prática/ensaio – método mais utilizado para assegurar a aprendizagem,
deve ser durante períodos longos de tempo;

2- Ação – aprende-se melhor fazendo; aluno deve desempenhar a tarefa por si


mesmo;

3- Sobreaprendizagem - retenção mais longa e recuperação mais simples


quando o material é sobreaprendido, isto é, aprendido até um ponto para além
daquele em que foi dominado;

encorajar alunos a não desistirem, mesmo que considerem que o


material já está completamente aprendido; a sobreaprendizagem tem
especial importância nas áreas que os alunos acham mais difíceis.
4 - Compreender - realçar a compreensão dos conceitos, mais do que a repetição;

conhecimentos compreendidos - maior probabilidade de serem retidos mais


eficazmente;

aprendizagem conceptual autoperpetua-se; cada novo conceito propor-


ciona uma ancoragem que torna mais eficaz a aquisição de novos
conhecimentos e novos conceitos.

5 - Construção de uma base organizada de conhecimentos – aquisição e


recuperação facilitada quando é construída a partir de informação previamente
incorporada.

6 - Relacionar o novo material com a base nos conhecimentos existentes - quanto


melhor se organiza a informação e se relaciona com o que já se sabe, melhor é a sua
evocação.
7- Utilizar indícios de associação – ensinar o aluno a produzir indícios para
associações; recuperação da informação armazenada depende muitas vezes de
um indício que traz a informação de volta à memória de trabalho.

8- Estratégias mnemónicas – técnicas para auxiliar tanto a aquisição, como a


recuperação do material aprendido.

podem ser visuais (imagens, esquemas) ou verbais (rimas, siglas,


associações bizarras, etc) e são inquestionavelmente eficazes na ajuda à
evocação de informação.

Ex.: “ 30 dias tem Novembro, Abril, Junho e Setembro, 28 só há 1 e o resto é 31” ; “Anda,
cocha, põe-te em pé”.
Desenvolvimento e
Processamento de Informação

- Existem diferenças nítidas entre a capacidade da criança e do adulto em processar a


informação ao longo do desenvolvimento; existem períodos sensíveis/críticos no
desenvolvimento das capacidades de pensamento e de processamento de informação;

- Diferenças não se situam tanto na capacidade de registo sensorial, mas de processamento;

- Crianças processam estímulos mais lentamente;

- Crianças mais velhas possuem melhor memória do que as mais novas, graças à
linguagem, que permite utilizar mais categorias de armazenamento (depois um maior
declínio no estado adulto e idoso);
- Crianças mais velhas são mais capazes de focar e controlar os seus processos
atencionais, selecionando estímulos relevantes e ignorando os irrelevantes;

- A codificação múltipla só é possível para as crianças mais velhas, as mais novas


incorporam um número reduzido de dimensões;

- Com a idade, desenvolvem-se estratégias de ensaio mais organizadas e sistemáticas


(passagem da MCP para a MLP);

- As técnicas de associação ou agrupamento por categorias também se adquirem com


a idade;

- A idade também facilita as estratégias de recuperação relacionadas com a


metamemória (consciência das próprias capacidades de memória, conhecimento interno
da memória).
!!!!!!!!!!!!!!!
QUESTÕES ?

Maria Helena Martins

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