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D o s cân o n e s s agrad o s às ale go rias

p ro fan as : a Laicização d o Zu m bi n o
Cin e m a

L ÚCIO R EIS FILHO1, A LFREDO S UPPIA 2

Re s u m o
O presente trabalho visa analisar a reconstrução do zum bi pelas m ãos do cineasta
George A. Rom ero. Sabe-se que a figura do m orto que retorna à vida, conectada ao
antigo ideal da vida após a m orte e ao sobrenatural, está presente nas m itologias
m ais antigas e na religião afro-caribenha do vodu. Nesse sentido, pretende-se
observar as im portantes contribuições de A N oite dos Mortos-Vivos: a laicização e
a recontextualização do antigo m ito, desconsiderando o seu caráter religioso e
conectando-o a um m om ento histórico contem porâneo, com rem issões ao pano de
fundo social e político e ao im aginário científico e tecnológico. Dessa m aneira,
Rom ero funda um m ito m oderno, cujos aspectos principais são a natureza
epidêm ica do horror e a vocação de crítica social.

Palavras -ch ave


Cinem a; George A. Rom ero; Mitologia; Religiosidade; Zum bi.

Abs tract
The current paper aim s to analyze the zom bie reconstruction leaded by the
film m aker George A. Rom ero. It is known that the figure of dead returning to life
can be connected to the ancient, supernatural belief on life after dead, which
appears in several m ythologies and religions from the globe, such as the African-
Caribbean voodoo. Thus, we intend to observe N ight of the Living Dead’s
im portant contributions: a new context for the ancient m yth and its secularization,
disregarding the religious character, connecting it to a contem porary historical
m om ent, with references to the social and political background and techno-
scientific im aginary. Then, Rom ero founded a m odern m yth whose aspects are the
epidem ical nature of horror and a deep social criticism .

Ke yw o rd s
Cinem a; George A. Rom ero; Mythology; Religiosity; Zom bie.

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M NEME – R EVISTA DE HUMANIDADES, 11(29), 20 11 – J AN / J ULHO
Publicação do Departam ento de História da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Centro de Ensino Superior do Seridó – Cam pus de Caicó. Semestral ISSN ‐1518‐3394
Disponível em http:/ / www.periodicos.ufrn.br/ ojs/ index.php/ m neme
1. Qu an d o o s Mo rto s s e Ergu e m d a Tu m ba

D
esde a Antiguidade, os m ortos que retornam à vida aparecem na m itologia
de diversas civilizações. Narrativas culturais ricas e extrem am ente
com plexas, cuja interpretação apresenta perspectivas m últiplas e
com plem entares, os m itos são considerados histórias sagradas por Mircea
Eliade (1986). Sendo assim , refletiriam um estado prim ordial das sociedades
tradicionais e arcaicas, nas quais os m itos perm aneceriam vivos, justificando e
fundam entando toda a atividade e o com portam ento hum ano. Quanto à natureza e
à função dos m itos, Eliade evoca as palavras de Bronislav Malinowski:

O mito [...] não é uma explicação destinada a satisfazer uma curiosidade


científica, m as um a narrativa que faz reviver uma realidade prim eva, que satisfaz
a profundas necessidades religiosas, aspirações morais, a pressões e a
im perativos de ordem social, e mesmo a exigências práticas. Nas civilizações
prim itivas, o m ito desem penha uma função indispensável: ele exprim e, enaltece
e codifica a crença; salvaguarda e im põe os princípios m orais; garante a eficácia
do ritual e oferece regras práticas para a orientação do hom em . O m ito, portanto,
é um ingrediente vital da civilização hum ana [...] (Malinowski apud Eliade,
198 6, p. 23).

As narrativas fabulosas, portanto, teriam o propósito de perm itir às pessoas


dar sentido ao m undo, explicando fenôm enos que não podem ser respondidos por
determ inados segm entos sociais. O conhecim ento m itológico tornaria o indivíduo
capaz de entender, de acordo com as suas crenças, as circunstâncias que o
envolvem .

Toda cultura tem seus m itos [...] Psicólogos e antropólogos sugerem que eles
desem penham papéis úteis: talvez os m itos sirvam com o um a espécie de
“ciência”, que explica por que o mundo é com o é, por que há hom ens e m ulheres,
com o o fogo foi criado, e assim por diante. Outra im portante função dos m itos é
que eles oferecem um a form a de m oralidade, legitim ando a ordem das coisas;
[...] há m itos para justificar a posição do chefe. Desse m odo, os mitos criam um
retrato do m undo em que as pessoas, ao longo de sucessivas gerações e por meio
da tradição, podem viver em confiança (Bowker, 1997, p. 182).

De acordo com Michael Page e Robert Ingpen (1985), as lendas de vam piros –
representados ora com o fantasm as, ora com o m ortos-vivos – parecem rem ontar ao
Egito Antigo e, provavelm ente, aos séculos m ais prim itivos. J osé Manuel Cueto
(20 0 9) nos lem bra que, segundo as narrativas nórdicas, os m ortos form ariam um
exército para acabar com os vivos durante o Ragnarök, a batalha apocalíptica que
resultaria no fim do m undo.
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Segundo Page e Ingpen (1985), na Europa Ocidental, durante a Idade Média,
um a crença bastante com um era a possibilidade do retorno da alm a dos m ortos
para assom brar os vivos. Nesse contexto, existiriam os revenants, fantasm as
inquietos que voltam eternam ente às cenas de assassinato (na situação de vítim as
ou perpetradores), e, em contraste com os espectros ordinários, transparentes, que
se m aterializam em form a de som bras, a palavra taxim definia os restos físicos cuja
alm a não podia descansar em paz.
Segundo Schm itt (1999), as “m entalidades” consistem não apenas nos
estratos antigos e persistentes dos pensam entos e dos com portam entos, m as nas
crenças e nas im agens, nas palavras e nos gestos que encontram plenam ente seu
sentido na atualidade presente e bem viva das relações sociais e da ideologia de
um a época.
Levando em conta essa atualidade, Schm itt sugere que a cultura cristã da
Idade Média am pliou a noção de fantasm a e concebeu para os m ortos outras
ocasiões de aparecer. A sociedade m edieval considerava a possibilidade do retorno
de certos defuntos para visitar os vivos, em geral aqueles com quem haviam
estabelecido laços julgados inalteráveis m esm o além da m orte. “Em um a cultura
em inentem ente religiosa e fam iliar à m orte e aos m ortos, a ‘crença nos fantasm as’
era adm itida por todos”:

Na sociedade m edieval, assim com o em m uitas sociedades tradicionais, a form a


particular de existência que se atribui aos defuntos depende do transcurso do
“rito de passagem ” da m orte – os m ortos voltam , de preferência, quando os ritos
dos funerais do luto não puderam efetuar-se norm alm ente (Schmitt, 1999, p. 17).

Philippe Ariès (20 0 3, p. 20 6) sugere um a “exaltação da m orte na época


rom ântica”, no com eço do século XIX. Cueto concorda ao sugerir que a literatura
do Rom antism o esteve sem pre atenta ao m orto, dada a quantidade de escritos
sobre am antes que vagam por cem itérios góticos – m ortos que regressam de suas
tum bas com o os m onges esqueléticos de El Miserere (1862), de Gustavo Adolfo
Bécquer. Ainda segundo Cueto (20 0 9, p. 33), Frankenstein ou o Prom eteu
Moderno (1818), de Mary Shelley – obra representativa da onda “neo-gótica” que
surgiu no rom antism o europeu novecentista 3 – , seria um a clara referência ao
m undo zum bi. A abom inação de Shelley não surge fruto da conjuração vodu,
tam pouco por causa de um vírus ou por m otivos desconhecidos, e sim pela ciência
com intenções divinas de Vitor Frankenstein, capaz de insuflar vida em um corpo
m ontado com partes de cadáveres. Cueto assinala que essa “exaltação da m orte”
tam bém pode ser identificada na obra de Edgar Allan Poe, em seu universo de
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enterrados vivos, espectros e ressuscitados. O conto The Facts in the Case of M.
Valdem ar (1845), por exem plo, trata de experiências na obscura zona de fronteira
entre a vida e a m orte. Posteriorm ente, H. P. Lovecraft tam bém escreveria histórias
com retornados.
Um a representação bastante peculiar do “m orto que volta à vida” pode ser
identificada no folclore afro-caribenho. De acordo com Page e Ingpen (1985, p.
231), os líderes africanos com erciaram grande núm ero de m em bros de suas tribos
no processo da escravidão. Em decorrência dessa relação m ercantil, os navios
negreiros desem barcaram sacerdotes nas Índias Ocidentais. Estes fundaram um a
religião cujo ritual depende de sua cooperação com os espíritos, em um lugar
geograficam ente definido: o Haiti. Segundo Peter Dendle (20 0 1), as raízes da
palavra “zum bi” inserem -se no contexto dessa religiosidade. Em sua etim ologia de
origem quim bunda, a palavra relaciona-se à idéia do m orto que se ergue da
sepultura e denota a im portância do conceito da ressurreição no interior do vodu.
Em últim a análise, o zum bi concentraria a alegoria 4 do antigo ideal da vida após a
m orte (20 0 1, p. 10 ). Luciano Saracino (20 0 9) explica que o zum bi vodu pode ser
um cadáver anim ado m ediante espíritos escravos, utilizado pelo bokor (o
sacerdote) para o seu benefício pessoal; ou então um a pessoa viva, em transe
hipnótico pela ação de poções e ungüentos de origem anim al ou vegetal. Conectado
à religião afro-caribenha, o zum bi vodu é caracterizado pelos seguintes signos:
“cam inha dando guinadas, realiza ações físicas de form a m ecânica, tem o olhar
congelado e desfocado, e fala com voz nasal”5 (Saracino, 20 0 9, p. 13).
Convém ressalvar que as associações entre a figura do zum bi, as religiões
afro-caribenhas e a feitiçaria não são autom áticas. A própria idéia de “feitiço” nas
religiões am ericanas de origem africana é sujeita a discussões. Além disso, o
discurso de ligação autom ática entre vodu e feitiçaria visando o m alefício,
vulgarm ente propagado no cinem a com ercial (notadam ente o cinem a anglófono),
revela um a perspectiva eurocêntrica que deturpa a realidade cultural afro-
caribenha e ignora suas nuances.

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2 . Pre lú d io ao “Mo rto -Vivo Mo d e rn o ”

Nas décadas de 1930 e 1940 , film es com o W hite Zom bie (Victor Halperin,
1932), Ouanga 6 (George Terwilliger, 1936), Revolt of the Zom bies (Victor Halperin,
1936), I W alked w ith a Zom bie (J acques Tourneur, 1943), entre outros, evocam a
discrim inação racial através da relação de subm issão e dom ínio entre o zum bi vodu
e seu m entor. Luciano Saracino (20 0 9, p. 19-20 ) considera W hite Zom bie a película
que inicia o subgênero do zum bi, e sugere que I W alked w ith a Zom bie visita tem as
com o o passado obscuro, os am ores proibidos, os tam bores negros e os rituais. Ao
m esm o tem po, o zum bi funcionava essencialm ente com o pano de fundo para
com plem entar um vilão hum ano, ou seja, representava antes um objeto de horror
visual que um a am eaça para os protagonistas.
Dendle (20 0 1, p. 3) observa que a representação do zum bi, nos anos 1930 e
1940 esteve ligada às suas “raízes folclóricas”, ora conectada à religião afro-
caribenha, ora à m itologia egípcia. Por exem plo, no britânico O Ressuscitado (The
Ghoul, 1933), dirigido por T. Hayes Hunter e produzido pela Gaum ont-British
Picture Corporation, Boris Karloff interpreta o Professor Morlant, egiptólogo
obcecado pela idéia da im ortalidade, alcançada por m eio de um contrato com
Anúbis.7 Mas os planos de Morlant são desrespeitados e o professor retorna à vida
com o um zum bi para se vingar daqueles que violaram a sua tum ba.
Por sua vez, os anos de 1950 e 1960 são considerados por Dendle um
“estranho período de transição” (20 0 1, p. 5), pois em bora o zum bi tenha escapado
do m odelo de representação ao qual estivera atrelado por duas décadas, o conceito
experim enta certa confusão sobre qual rum o seguir. A confusão se fez visível a
partir de 1950 , quando o term o quim bundo passou a ser utilizado na definição de
gêneros distintos de criaturas. Invasores m arcianos hum anóides (Zom bies of the
Stratosphere, Fred C. Brannon, 1952), seres subaquáticos (Zom bies of Mora-Tau,
Edward L. Cahn, 1957), jovens de classe m édia sob o efeito de drogas hipnóticas
(Teenage Zom bies, J erry Warren, 1959), peixes m utantes radioativos (The Horror
of Party Beach, Del Tenney, 1964) e andróides cibernéticos (The Astro-Zom bies,
Ted V. Mikels, 1968). Entretanto, certa veia de coerência pode ser encontrada nesse
potpourri conceitual. Film es com o Plano 9 do Espaço Sideral (Plan 9 from Outer
Space, Ed Wood, 1959) e Invasores Invisíveis (Invisible Invaders, Edward L. Cahn,
1959) “com partilham um a ansiedade com um ao insistir que os m ortos redivivos
não são, de form a algum a, sensitivos (...) Os corpos reanim ados são radicalm ente
distintos de qualquer concepção de m ente ou alm a” (Dendle, 20 0 1, p. 4-5).
Argum ento reconfortante o suficiente para que o zum bi, em bora um corpo hum ano
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reanim ado, seja tratado com o “Outro”, anim al ou escravo e, portanto, livrem ente
trucidado sem ônus ao hom em branco.
Dendle argum enta que, apesar de os m onstros serem um lugar-com um na
história do cinem a – dentre os quais figuram os vilões deform ados, os alienígenas e
as criaturas radioativas – , nos prim eiros film es de Hollywood havia claram ente
“um tabu não pronunciado” com relação à exibição em film e de “cadáveres
hum anos em decom posição” (20 0 1, p. 5). Segundo Philippe Ariès (20 0 3, p. 57), a
“decom posição” é o sinal do fracasso do hom em , traço bastante fam iliar nas
sociedades industriais da atualidade, e nesse ponto residiria o sentido do
“m acabro”. Entretanto, as produções cinem atográficas de 1960 representam um
ponto de ruptura, notadam ente para o gênero do horror. Mortos que Matam (The
Last Man on Earth, Ubaldo Ragona, 1964) abre cam inho para os tem as
genuinam ente perturbadores que em ergiram em finais da década de 1960 . Em
seguida surgiria o “m orto-vivo m oderno”, no m om ento que é considerado por
Dendle (20 0 1, p. 6) o período de estabilização do m y thos contem porâneo do
zum bi.

3 . A Laicização e a Qu e bra d e Tabu s

De acordo com Luciano Saracino (20 0 9, p. 39-40 ), no fim da década de 1960


nasceu um a nova vertente dentro do cinem a do horror denom inada gore, splatter
ou splatterpunk. A partir daí, a im agem do zum bi seria repensada. Segundo Dendle
(20 0 1, p. 6), dois film es contribuíram de form a significativa para a reconstrução do
conceito, acarretando o abandono da estrutura inicial de representação. Prim eiro, a
produtora independente britânica Ham m er Film s rom peria o duradouro tabu com
A Epidem ia dos Zum bis (Plague of the Zom bies, 1966), ao exibir cadáveres de
tem peram ento torpe em estado de decom posição. Dois anos depois, A Noite dos
Mortos-Vivos (Night of the Living Dead, 1968), da am ericana Im age Ten,
libertaria os “não m ortos” do controle m ístico de um m estre, papel desem penhado
pelo sacerdote vodu em produções anteriores. Assim , surgiria o m y thos
contem porâneo ao qual Dendle (20 0 1) se refere: um m ito essencialm ente corporal,
com zum bis dotados de anseios físicos e biológicos.
Contudo, é necessário destacar que enquanto A Epidem ia dos Zum bis foi
am bientada em um povoado inglês no ano de 1860 – um costum e da Ham m er,
segundo Saracino (20 0 9) – , George Rom ero trouxe os m ortos-vivos para o século
XX, reform ulando totalm ente a figura do zum bi. Em A N oite dos Mortos-Vivos, o
cineasta atribuiu aos m onstros um “propósito”, a necessidade de se alim entarem da
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carne hum ana; e relacionou-os à problem ática social e política do m undo
contem porâneo. No contexto dos anos 60 , a revitalização do zum bi teve com o pano
de fundo a Guerra Fria, o movim ento pelos direitos civis e toda a agitação da
década. Nesse sentido, o “m orto-vivo m oderno” torna-se um sím bolo da
“trivialização” do indivíduo, pois “altera a percepção da dignidade hum ana” e é
responsável pelo “declínio da insistência de que a vida é sagrada” (Dendle, 20 0 1, p.
5).
Com o nos lem bra Ben Hervey (20 0 8, p. 21), Ado Kyrou considera A N oite dos
Mortos-Vivos “un film politique” disfarçado de um (efetivo) film e de horror.
Segundo Hervey, a estética da obra ajudou a conectá-la às realidades
contem porâneas e às questões que estavam na ordem do dia em fins da década de
1960 : o racism o, o colapso da fam ília nuclear am ericana e a ressurreição do
conservadorism o político. Os críticos europeus Serge Daney e Elliot Stein fizeram
um a leitura do film e inteiro com o um a alegoria do ano de 1968 (Daney e Stein
apud Hervey, 20 0 8, p. 21), período m arcado pelos m ovim entos sociais contra a
Guerra no Vietnã, em favor dos direitos estudantis e por m aior liberdade individual
na vida cotidiana (Purdy, 20 10 , p. 249). Por sua vez, o próprio diretor George
Rom ero declarou que concebeu a história originalm ente enquanto tal e que a
interpretava durante a film agem . “Vivem os em um a casa de fazenda... (...)
conversam os m uito sobre os tem as que estavam no film e, a desintegração da
unidade fam iliar e a idéia de revolução e todas essas coisas” (Rom ero apud Hervey,
20 0 8, p. 26).
Portanto, considera-se A N oite dos Mortos-Vivos um film e político, o produto
de um a época contracultural.8 A partir do seu lançam ento, a figura do zum bi perde
o elo com a esfera m ística da religião. Desconectada de suas raízes folclóricas, passa
a pertencer ao universo da ficção científica, recorrendo à prem issa de um a
epidem ia que m ata os pacatos cidadãos am ericanos, apenas para revivê-los com o
m onstros canibais. Podem os falar desta form a: de um a “secularização” da figura do
zum bi, destacada da esfera religiosa para se coadunar ao contexto cultural, social e
político dos anos 1960 .
O prim eiro film e de Rom ero inaugurou um a nova franquia cujos ecos podem
ser ouvidos até hoje, inspirando produções em diversos suportes. A fórm ula
rom eriana se baseia em um jogo de “pega-pega” envolvendo alguns heróis
abandonados à própria sorte num a cidade-fantasm a repleta de zum bis, lutando
contra si próprios enquanto tentam escapar ilesos das criaturas e do contágio da
m isteriosa epidem ia. Em sum a, um m icrocosm o social testado em situação de

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extrem a beligerância e ruína institucional, definida por Charles Sellers com o um a
“era de m udança e inquietação social”.

Em 1968, [...] o país era atormentado por múltiplas crises internas e externas.
Pareciam tão esquivos com o sem pre os objetivos gêm eos da justiça social e
econôm ica. Política e culturalm ente polarizada, atolada até o pescoço em uma
guerra que não conseguia vencer, a nação chafurdava em descontentam ento.
Preocupados, alguns observadores diziam que a Am érica perdera sua coesão e
estava caindo aos pedaços (Sellers, 1990 , p. 395).

Encontram -se influências para a concepção rom eriana tanto nos film es de
Herschell Gordon Lewis – Banquete de Sádicos (Blood Feast, 1963), Maníacos
(Tw o thousand Maniacs!, 1964), Color Me Blood Red (1964) – com o na novela Eu
sou a Lenda (I am a Legend, 1954), de Richard Matheson, que originou o film e
Mortos que Matam (The Last Man on Earth, 1964), co-produção ítalo-am ericana
dirigida por Ubaldo Ragona e Sidney Salkow. A adaptação cinem atográfica da
narrativa de Matheson apresenta Vincent Price com o o derradeiro sobrevivente de
um a praga que devastou a Terra, transform ando os seres hum anos em um a m escla
de zum bis com m onstros vam pirescos, am bos m ortos-vivos que podem ser
narrativam ente associados à prem issa das epidem ias. A novela de Matheson deu
origem ainda a outras adaptações, com o O Últim o Hom em na Terra (The Om ega
Man, 1971), de Boris Sagal, e Eu Sou a Lenda (I am a Legend, 20 0 7), de Francis
Lawrence.

4 . As p e cto s d o “Mo rto -Vivo Mo d e rn o ”

4 .1. Crítica So cial

Em História da Feiúra (20 0 7), de Um berto Eco, George Rom ero explica que,
em seus film es, os m ortos que voltam à vida representam um a reviravolta radical
num m undo que m uitos dos personagens hum anos não conseguem com preender.
“Utilizo o sangue em toda a sua m agnificência para que o público entenda que
m eus film es são antes um a crônica sociopolítica dos tem pos do que (...) aventuras
com m olho de terror” (Rom ero apud Eco, 20 0 7). Na inquietude da era atôm ica, o
apocalíptico A N oite dos Mortos-Vivos registra um m icrocosm o de desestruturação
da fam ília nuclear em que a classe m édia e a própria nação acabam “devorando” a
si m esm as.

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A im portância de A N oite dos Mortos-Vivos reside na relevância da
representação m oderna do zum bi, que desata a correspondência entre m orto-vivo e
religião – construindo outra relação: a do zum bi com o m etáfora da corrupção
social e política, da falência do Estado e da fam ília m odelar. Em lugar da antiga
conotação m ística, George Rom ero introduziu um a epidem ia que transform a
hom ens em cadáveres andantes portadores de inexplicável instinto canibal. O
cineasta m antém ocultas as origens de sua criação, ao passo que busca exteriorizar
o fracasso das relações sociais. Em seus film es, os protagonistas hum anos
costum am dem arcar os zum bis com o o inim igo, m as a verdadeira am eaça não é a
crescente horda de m ortos-vivos e sim o tenso relacionam ento entre os
sobreviventes, um a alegoria da corrupção do tecido social e do colapso do m arco
civilizatório advindos da “epidem ia zum bi”.
Segundo J . Hoberm an e J onathan Rosenbaum (1983, 112), a influência de
Rom ero sobre o gênero foi incalculável. O conceito introduzido em 1968 pela
produção do cinem a independente foi decisivo para a prim eira onda de film es de
zum bis – as m ais de 30 produções que surgiram entre 1969 e 1977 – com destaque
para a série Tom bs of the Blind Dead (1971), de Am ando De Ossorio. A segunda
onda teve início com o italiano Zom bie (1979), de Lucio Fulci. Dessa m aneira, os
zum bis tornaram -se bastante populares nos m odernos film es de horror e ficção
científica e continuam inspirando núm ero crescente de produções em diversas
m ídias (cinem a, quadrinhos, videogam es). J ogos eletrônicos com o Doom , Half-
Life, Dead Space e as séries Resident Evil e Silent Hill, entre outros, parecem
inspirados, ainda que indiretam ente, nesse im aginário do zum bi revitalizado por
Rom ero.

4 .2 . O Mito Ro m e rian o e as N o vas Abo rd age n s

O alcance de A N oite dos Mortos-Viv os na cultura popular é de tal ordem que


os seus ecos podem ser identificados em várias m ídias. Os anos 1980 são
considerados por J osé Manuel Cueto (20 0 9, p. 83) um a “época-chave” para o
subgênero dos zum bis. Nesse período surgiram diversas produções sobre o tem a,
incluindo o videoclipe Thriller (J ohn Landis, 1983), no qual “os m ortos-vivos
deixam de lado o ‘rigor m ortis’ para m arcar um a das m ais fam osas coreografias da
história do rock”. O clipe tornou-se um clássico pela conjunção da m úsica de
Michael J ackson com os bailarinos e a coreografia, desenvolvida por ele e Michael
Peters, e a direção de J ohn Landis, que havia encantado o m úsico anos antes com o
seu Um Lobisom em Am ericano em Londres (An am erican w erew olf in London,
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1981). De acordo com Dendle, o vídeo m usical representou o “cruzam ento do culto
com a popularidade m ainstream ” (20 0 1, p. 8), e Thriller tornou-se a produção
inaugural da era dos videoclipes dirigidos por cineastas fam osos e com forte
influência do im aginário cinem atográfico.
Cueto (20 0 9) tam bém destaca a im portância da figura do zum bi nos
videogam es. Há m ais de vinte anos, o jogo Zom bi (1986), lançado para o
com putador Am strad, já se baseava no film e hom ônim o de Rom ero. Em seguida,
vieram The Evil Dead (1984); Ghost’n Goblins (1986), em terceira pessoa;
Splatterhouse (1988), clássico da desenvolvedora japonesa de videogam es Nam co;
Horror Zom bies from the Cry pt (1990 ); Zom bies ate m y neighbours (1993); a saga
de Doom , iniciada tam bém em 1993; Corpse Killer (1994); Flesh Feast (1998); o
violento Blood (1997); De-Anim ator (<http:/ / www.de-anim ator.com / >), flash
gam e online gratuito baseado nos contos de H. P. Lovecraft, e a série House of the
Dead (1998), entre outros exem plos.9
No final dos anos 90 , o interesse pelo tem a se expandiria com o sucesso de
Resident Evil (1996), conhecido no J apão com o Biohazard, jogo eletrônico lançado
pela Capcom para a plataform a Sony Playstation. O enredo, escrito pelo designer
gráfico Shinji Mikam i, trata de um a epidem ia de zum bis desencadeada pela
propagação de um vírus desenvolvido pela poderosa corporação farm acêutica
Um brella, que ocasiona a reanim ação dos m ortos e os coloca agressivam ente no
encalço de carne hum ana para seu sustento. Nota-se que os zum bis de Mikam i são
basicam ente idênticos aos de George Rom ero. Contudo, a estréia do jogo levou os
produtos inspirados na obra do cineasta a um a nova etapa de desenvolvim ento.
Em certa m edida, Resident Evil reconstrói o “zum bi m oderno” ao inserir
novos elem entos que salientam a idéia do contágio. De acordo com Neil Ferguson, 10
epidem iologista do Im perial College, Inglaterra, tal acepção reflete os m edos do
nosso tem po acerca dos perigos da m anipulação genética e da propagação de novas
doenças pelos laboratórios. Nesse sentido, considera-se Resident Evil um divisor
de águas que inspira film es recentes, com o Exterm ínio (28 Day s Later, 20 0 2), de
Danny Boyle, e o espanhol REC (20 0 7), de J aum e Balagueró e Paco Plaza. Am bos
propuseram releituras do tem a baseadas na prem issa da propagação de vírus
desconhecidos.
Atualm ente, os zum bis tam bém aparecem em livros, jogos eletrônicos,
histórias em quadrinhos e são hom enageados nas populares zom bie w alks, ou
“m archas de zum bis”, em que grupos de pessoas cam inham pelos espaços públicos
dos grandes centros urbanos fantasiadas de m ortos-vivos. Além disso, o conceito
fundado por Rom ero tem inspirado diretores do cinem a independente com o Eli
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M NEME – R EVISTA DE HUMANIDADES, 11(29), 20 11 – J AN / J ULHO
Publicação do Departam ento de História da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Centro de Ensino Superior do Seridó – Cam pus de Caicó. Semestral ISSN ‐1518‐3394
Disponível em http:/ / www.periodicos.ufrn.br/ ojs/ index.php/ m neme
Roth, de Cabana do Inferno (Cabin Fever, 20 0 2) e os brasileiros Rodrigo Brandão
e Tiago Belotti, de Era dos Mortos e Capital dos Mortos, respectivam ente (am bos
de 20 0 7).

5. D e bate

Enfim , percebe-se que a idéia do m orto-vivo – o cadáver que retorna à vida –


é recorrente na m itologia de diversas culturas desde a antiguidade. J á o zum bi,
especificam ente, tem suas raízes firm adas no solo haitiano, sob unção das crenças
afro-caribenhas. A partir das prim eiras décadas do século XX, a religião vodu
inspirou diversos diretores de cinem a a produzirem film es diretam ente conectados
ao folclore haitiano. Em 1968, a figura do zum bi é reconstruída pelas m ãos de
George Rom ero e passa por um processo de laicização/ secularização, suprim indo
ou am enizando o elem ento religioso. Dessa m aneira, Rom ero atribuiu ao zum bi
valor de crítica ao m om ento histórico vivido pelos Estados Unidos no final dos anos
1960 .
O “m orto-vivo m oderno” é o legado do cineasta am ericano para o cinem a e
para a cultura popular, sendo a reconstrução do zum bi de grande im portância para
os gêneros do horror e da ficção científica pelo seu im pacto sobre produções
audiovisuais recentes, nos m ais diversos suportes. São inúm eras as produções que
tiveram no paradigm a rom eriano sua idéia fundadora e que configuram ,
atualm ente, o am plo universo dos m ortos-vivos. O tem a evoluiu de tal form a na
cultura popular, sofrendo novas reconstruções, que hoje traz consigo não apenas a
carga do m edo ancestral da m orte, m as igualm ente os tem ores contem porâneos
relacionados à m anipulação genética e aos ideais de epidem ia e extinção da espécie
hum ana, em m uito expandidos pela série Resident Evil.
Vale destacar ainda que a figura do zum bi tam bém pode ser interpretada em
um a chave antropológica, culturalista ou pós-colonial, na m edida em que evoca o
conceito da im pureza, aspecto tabu na cultura ocidental. A idéia de im pureza em
diferentes culturas já foi detidam ente discutida pela antropóloga inglesa Mary
Douglas (1921-20 0 7), aluna de Edward Evans-Pritchard, fam oso antropólogo
britânico de m eados do século 20 . Logo nas prim eira páginas do livro que a tornou
célebre, Pureza e Perigo (1966), Douglas propõe a seguinte conclusão: “Tal com o a
conhecem os, a im pureza é essencialm ente desordem . A im pureza absoluta só existe
aos olhos do observador” (Douglas, 1966, p. 6).
Um arrazoado das contribuições e do pensam ento de Douglas pode ser
consultado em artigo do historiador britânico Peter Burke, publicado originalm ente
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Disponível em http:/ / www.periodicos.ufrn.br/ ojs/ index.php/ m neme
no caderno Mais! da Folha de S. Paulo, em 5 de agosto de 20 0 7, a propósito do
falecim ento de Mary Douglas em 16 de m aio do m esm o ano. Segundo Burke, “A
grande idéia de Mary Douglas foi a de que os conceitos de poluição e de tabu, tão
freqüentem ente em pregados para analisar o ‘pensam ento prim itivo’ ou ‘a m ente
selvagem ’, eram igualm ente relevantes para a com preensão do cotidiano dos
ocidentais, com o os ingleses” (BURKE, 20 0 7). Esm iuçando o pensam ento de
Douglas, Burke com enta ainda que

[...] aquilo que não se enquadra no sistema de classificação e, logo, ordenação do


m undo de um a cultura específica -ou aquilo que está no lim ite ou na m argem
desse sistema- é com um ente visto com o sendo am eaçador e, portanto, com o
im puro, sujo. Por que, por exem plo, os judeus e muçulm anos evitam comer
carne de porco? Porque tanto judeus quanto árabes eram povos pastoris, que se
alim entavam de seu gado, e os porcos não se enquadravam nos critérios que
definiam o gado (eles tinham cascos fendidos, como os bovinos, mas, à diferença
destes, não rum inavam ). De m aneira sem elhante, alguns grupos hum anos
enxergam outros com o m arginais, perigosos e sujos. Assim os m endigos são
vistos com o sujos por pessoas que têm dinheiro, e o m esm o acontece com as
prostitutas por parte das m ulheres respeitáveis, com a classe trabalhadora por
parte da classe m édia, com os judeus por parte de cristãos ou m uçulm anos, e
assim por diante. Logo, não é por acaso que os brasileiros se refiram aos
crim inosos com o sendo m arginais (BURKE, 20 0 7).

Entendem os que vale a pena cruzar a reflexão sobre o conceito de im pureza


de Mary Douglas com film es contem porâneos de ficção científica que
problem atizam a alteridade cultural. Porque a categoria do im puro parece
confortavelm ente aplicável a toda um a gam a de personagens dessa cinem atografia,
do velho conhecido zum bi (renovado por George Rom ero) aos alienígenas de Neill
Blom kam p em Distrito 9 (District 9, 20 0 9).

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Disponível em http:/ / www.periodicos.ufrn.br/ ojs/ index.php/ m neme
6 . N o tas

1 Historiador, especialista em J ornalism o Científico e m estrando do Program a de


Pós-Graduação em Com unicação da Universidade Federal de J uiz de Fora.
2 Professor de cinem a do Instituto de Artes e Design e do Program a de Pós-

Graduação em Com unicação da Universidade Federal de J uiz de Fora.


3 Antecedente ou pioneiro dos scientific rom ances à la Wells e Poe, Frankenstein or

The Modern Prom etheus tam bém é considerado obra prototípica, ou até m esm o
fundadora, do gênero literário conhecido a partir do século XX com o “ficção
científica”.
4 Considera-se “alegoria” um “m odo de representação sim bólica”. SEVCENKO,

1996, p. 118-9.
5 Livre tradução de: “(...) los siguientes signos: cam ina dando bandazos, realiza

acciones físicas de m anera m ecánica, tiene una m irada helada y desenfocada y


habla cin voz nasal”. SARACINO, 20 0 9, p.13.
6 Peter Dendle considera Ouanga um film e racista, por representar os nativos

com o m onstros, e lançar m ão de um a identificação sim bólica do negro com a


ignorância e com
o m al, e o branco com a pureza e a luz.
7 O deus da m orte e da m um ificação da m itologia egípcia.
8 Adotam os, aqui, a definição de Goffm an e J oy para a essência da contracultura

enquanto um fenôm eno histórico perene, “caracterizado pela afirm ação do poder
individual de criar sua própria vida, m ais do que aceitar os ditam es das autoridades
sociais e convenções circundantes, sejam elas dom inantes ou subculturais” (20 0 4,
p. 49).
9 Dados de acordo com :

http:/ / www.zom bies.com .br/ forum / lofiversion/ index.php/ t990 .htm l.


10 The infectious nature of the Zom bies. Entrevista com Neil Ferguson. Acesso em :

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