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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS


DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

Realeza minóica e Realeza etrusca: convergências e divergências.

Antiguidade Ocidental.

Gabriel da Rocha Ucella


Matrícula: 202410346311

Rio de Janeiro
2024
Resumo: A seguinte atividade tem por objetivo definir, de forma clara e sutil, sobre a
Realeza minoica, concomitante às suas características presentes no mundo heleno e, também,
sobre a Realeza etrusca e suas características de destaque referentes a Roma antiga. Além disso,
será tangenciado, também, as divergências e as similitudes entre ambas.

1. Creta e a Civilização Minoica

A ilha de Creta trata-se de uma região situada ao sul do Mar Egeu, localizado no
Mediterrâneo entre o continente asiático e o europeu, especificamente, próxima ao sul da
Grécia. Sua região litorânea favoreceu no gradual desenvolvimento de atividades marítimas
comerciais entre os povos da região, o que Braudel (2001, p. 140) analisava a partir da intensa
conexão entre grupos diversos, abordando que durante II milênios a.C. a civilização de Creta
realizava contatos sociais e marítimos com povos litorâneos, em diálogo, Aristóteles1 também
aborda a localização privilegiada da ilha de Creta por ter presença em boa parte do mar segundo
o qual os helenos estão contidos.
Os palácios cretenses foram descobertos em torno do último século XX através do
dedicado trabalho arqueológico, encontraram-se Knossos, Phaistos, Malia, Palaikastro e
Gournia. Arthur Evans, britânico responsável pela escavação do palácio Knossos batizou a sua
recém-descoberta civilização cretense de “Minoicos”, quando, em sua ótica, associou os
compartimentos do palácio com o labarinto do Rei Minos. A prática de Evans é, certamente,
condenada pelo atual ofício arqueológico, Papadopoulos, um clássico arqueólogo
estadunidense, criticou ferozmente Evans em um artigo ao levantar que o europeu, ao nomear
e realizar alterações por si próprio, deu à Europa uma identidade pré-histórica por ao se
apropriar da cultura clássica:

1
Aristóteles, Política II: cap VII, v.1272

“It will be argued that Evans was among the first to give Europe a prehistoric
identity to rival the non-European cultures of the ancient Near East, by inventing and
appropriating the pre-Classical culture to which he gave the name ‘Minoan’”
(PAPADOULOS, 2005, p. 88).

A civilização minóica floresce na região centro-oriente da ilha cretense, onde


apresentava boas condições para, além do comércio marítimo muito usual devido os grandes
contatos entre os povos, a agricultura e criação de gado. Havia os diversos palácios surgindo e
um traço de urbanização na região, a população reunia-se em comunidades rurais isoladas,
assentamentos de aldeias em meio a centralização de um sistema palaciano (FLAMARION,
1990, p. 86).
Culturalmente dizendo, os minóicos eram muito ligados à figura feminina como central,
posto que baseava-se em uma sociedade matrilinear, o que correspondia no aspecto religioso,
segundo o qual cultuavam a “Grande Mãe”, representante da fertilidade e da terra. Além disso,
a mitologia é um destaque, principalmente ligado ao mito do Minotauro, que habitava o
labirinto.
Apontamentos dos estudos arqueológicos demonstram que durante a fase palacial em
Creta, as pequenas comunidades aldeãs residiram como as unidades básicas dos assentamentos
humanos. Essas populações rurais, mesmo com o colapso dos palácios e a vida urbana,
sobreviveram. Essa sociedade durante a realeza palaciana se originou a partir do
aproveitamento das condições favoráveis terrestres, portanto, a agricultura e a criação de gado
juntamente a cerâmica, que consistia no artesanato.
Havia uma forma de organização social, um “modo de produção doméstico”,
denominado assim por Mario Liverani, seria uma forma de organização sendo anterior à
palaciana. No “modo de produção doméstico” não havia divisão social do trabalho, era
inexistente uma diferenciação de classes, havia, em cada aldeia uma união através da agricultura
e do artesanato.
Segundo Ciro (2003, 153-154), o modo de produção palaciano seria uma consequência
da urbanização em si, processo que resultava no surgimento dos palácios. A economia dava-se
na divisão e especialização do trabalho, uma sociedade hierarquizada, sistema de propriedade
cujo incluía forma estatal – templos e palácios -, porém, também havia núcleos privados –
voltados à função, familiares e hereditárias.
Tratando-se sobre o Mito de Europa, grande mitologia da antiguidade, observa-se o
caráter inventado buscando a criação de uma identidade visando auto propagar-se, por diversos
autores, como o centro de difusão dos ideias de liberdade e prosperidade para o mundo. Esta
identidade tem mais relação com identidade do que com fator geográfico.
Estabeleceu-se através de narrativas míticas, construção a respeito de uma princesa
fenícia segunda a qual foi vista por Zeus, logo, apaixonou-se por ela e se metamorfoseou em
um touro, e assim, raptou a fenícia Europa. A narrativa romântica demonstra que não há
necessidade de explicações objetivas, é como se fosse um quebra-cabeça. Muitas narrativas
voltaram-se ao rapto de Europa para entender conforme um mito de fundação realizado através
de contatos culturais e, também, de estabelecimento de alianças.
Hegel, um filósofo eurocentrista fará o uso da identidade de Europa visando relatar os
brancos europeus como difusores da cultura, aproveitando-se dessa utilidade do mito para
hierarquizar o continente Europeu, inserindo-o no alto da pirâmide, um exemplo está contido
na abordagem de Grau:

“Europa é para Hegel centro e fim do velho mundo, o cenário da descoberta


do espírito a si-mesmo. Se a Ásia é o continente das origens, a África o da
uniformidade e a América o do futuro hipotético, a Europa é o continente da liberdade
real, a síntese da diferença e da unidade, a harmonia na diversidade, o lugar onde o
homem tem alcançado a maior consciência de sua liberdade ” (GRAU, 1993, 57).

2. Civilização etrusca

A civilização descendente da população indígena itálica ou os Etruscos, são povos dos


quais houveram dificuldades, segundo Finley (1991) por parte dos estudiosos para serem
desvendados fatos sobre suas culturas e suas organizações devido ao desconhecimento da
língua.
Segundo o autor, a partir dos anos 700 a.C houveram contatos destes povos com os
gregos emigrantes da região sulina da Península Itálica, o que resultava no empréstimo cultural
do alfabeto e da cerâmica grega. Ou seja, a cultura etrusca foi influenciada pela helena através
da assimilação cultural, o que possibilitou graças a estes contatos. Ao realizar a assimilação,
adaptaram uma versão própria de seu alfabeto baseado no alfabeto grego.
Em relação a teoria da origem oriental dos Etruscos, baseamo-nos na documentação
apresentada por Eduardo Brizio, em 1886, tal como relata Braudel:
“hoje em dia, ninguém duvida seriamente da origem oriental dos Etruscos
[...]. Em 1886, em Camínia, na ilha de Lemnos, a sul de Dardanelos, foram
descobertas duas inscrições funerárias do século VI, redigidas num idioma não grego
(a ilha só seria conquistada pelos Atenienses em 510)” (BRAUDEL, 2001, p. 229).

O idioma etrusco é um paradigma a ser decifrado ainda na contemporaneidade, trata-se


de uma língua não indo-europeia que pode ser lida – uma vez que constituiu seu alfabeto através
do heleno – mas que permanece incompreensível.
A forma de organização nas cidades independentes era estabelecida em formações
urbanas ao norte da Península Itálica, formavam comunidades e estabeleciam federações com
grupos aliados visando proteção mútua de cada um. A economia era proveniente de guerra e
também de pirataria, que seriam atividades marítimas comerciais, além disso, realizavam
também a atividade agrícola. Haviam atividades artesanais, produção de cerâmicas, eram,
ainda, habilidosos metalúrgicos – bronze e ouro.
O formato de governo na singular estrutura social etrusca era a realeza palaciana,
composto por uma sociedade aristocrática. Famílias de aristocracias locais formavam diversas
alianças com grupos da Liga etrusca.
Um aspecto cultural próprio dos etruscos é voltado aos enterros. Enterram seus mortos
em tumbas extremamente elaboradas, construíam como se fossem miniaturas de casas. Estas
tumbas continham uma enorme variedade de bens do sujeito(a) que havia falecido, objetos
artesanais e pinturas que retratavam aspectos da vida cotidiana em distintas situações.
A partir do século VI a.C. aproxima-se da desestruturação da Realeza Etrusca, após
realizarem um tratado de aliança com a ilha de Cartago objetivando, por fim, conquistar as
terras férteis da Sicília. O tratado visava impedir os gregos de expandirem em direção ao sul da
Península Itálica – região da Sicília que os etruscos possuíam interesse.
Os etruscos, de acordo com relatos de Píndaro, realizaram ofensivas com apoio dos
fenícios contra os entrepostos marítimos comerciais gregos. Os gregos, porém, recebem apoio
militar do tirano de Siracusa e os etruscos são derrotados na ofensiva. Após a derrota os etruscos
desestruturam-se pouco a pouco devido as perdas de recursos materiais.
Em 283 antes da era cristã, os etruscos são submetidos ao controle dos romanos,
perdendo toda sua originalidade cultural.
O chamado “Mito de Eneas” fora, também, utilizado fortemente como um constituinte
de uma identidade cultural, desta vez, a identidade romana, através da narrativa do poeta
Virgílio no I a.C, tal como Silva documenta: “A Eneida de Virgílio se insere em um contexto
maior [...] no qual os romanos procuravam definir sua identidade para si e para o mundo
exterior” (PIRES, 2016, p. 38) Finalizando sobre essa narrativa construída de maneira
paradigmática, Enéias, conforme construído simbolicamente pensado pelo poeta Virgílio, deu
um exemplo à sociedade romana de como que um romano deveria se portar, que tipo de deuses
honrar, dando um destino moralizante da identidade romana (Idem, p.38).

3. Similitudes e divergências

Um traço convergente entre ambas as civilizações é sobre as construções dos mitos –


Europa e Enéas - favorecendo a um ideal identitário, seja de hegemonia, centro do mundo e
seja também de uma maneira que deva e ater em uma sociedade específica.
A economia etrusca e minóica se diverge em aspectos, embora ambos realizem
agricultura e artesanatos específicos, os cretenses destacam-se no comércio marítimo,
sobretudo na comercialização de azeite, enquanto os etruscos voltam-se mais ao comércio de
artesanatos, joias e produtos de metal – bronze e ouro.
Ambos aproximam-se em aspectos de escrita, posto que os etruscos tiveram contatos
com povos helenos e, assim, assimilaram o alfabeto grego como referência para realizar o seu
próprio. O idioma diverge, muito mais porque a língua minóica é indo-europeia, enquanto que
os etruscos não possuem idioma indo-europeu, inclusive, não há descobertas válidas a respeito
do idioma deles, portanto, a despeito de seu alfabeto ser compreensível à leitura, sua língua
permanece incompreensível.
Na sociedade etrusca, as famílias aristocráticas tiveram um papel fundamental,
realizavam alianças entre ligas e eram proprietários de terras. Por outro lado, na sociedade de
Creta havia um governo monárquico, controlado por um rei.
Referências

BRAUDEL, Fernand. Memórias do Mediterrâneo. Terramar: 2001.


FINLEY, Moses. Aspectos da Antiguidade. Martins Fontes: 1991.
PIRES, Thiago de Almeida Lourenço Cardoso. REVISTA CANTAREIRA - EDIÇÃO 24 /
JAN-JUN, 2016.
PAPADOPOULOS, John. Inventing the Minoans: Archaeology, Modernity and the Quest
for European Identity. Journal of Mediterranean Archaeology – 2005 – pps. 87-149.
CARDOSO, Ciro Flamarion. Modo de Produção Asiático: nova visita a um velho conceito. Rio
de Janeiro: Campus, 1990.
CARDOSO, Ciro Flamarion. História econômica e História de empresas v.1 (2003). pps.
151-178
GRAU, Daniel Innerarity. Hegel y el romanticismo. Madrid: Editorial Tecnos, 1993.

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