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fERNANOO FERNANDES DA SllVA

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HUMANIDADE

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OS BENS CULTURAIS
PROTEGIDOS PELA CONVENCÃO I

RELATIVA À PROTECÃO DO
PATR I Mô N 1'.o M·u NÓ IAL, :cu LTU RAL
E NATURAL, ºF 1972
. bens cµlturai;s pi;rtencentes ao patrimônio cultural
_:'·. -·.· definidos pela Convenção s~o 1:
· . •· .. : ··.,, .... ; . ...... . .;"-.;:~- r··:j·· :" .:.
\ . ... ,i_· '. .. • os monumentos: obras arquitetônicas, de escultura ou de pintu-
ra monumentais, elementos ou estruturas de nature za arqueo-
lógica, inscrições, cavernas e grupos de elementos que tenham
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' um valor universal excepcional do ponto de vista da história, da
...
arte ou da ciência;

• os conjuntos: grupos de construções isoladas ou reunidas que, em


virtude de sua arquitetura, unidade ou integração na paisagem,
-:: l tenham um valor universal excepcional do ponto de vista da
·,.
1 ,. história, da arte ou da ciência;
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... ~ . • :~-·.1....... :.-·.,; ·.,.---. os lugares notáveis: obras do homem ou obras conjugadas do
~- ;.:., .
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1,: .-: . homem e da natureza, bem como as zonas, até mesmo lugares
arqueológicos, que tenham valor universal excepcional do ponto
de vista histórico, estético, etnológico ou antropológico.

Os ELEMENTOS CARACTERÍSTICOS DO PATRIMÔNIO CULTURAL

A classificação dada pela Convenção procura atender às passiveis ma-


nifestações humanas por meio dos bens culturais imóveis: os monumen-
tos e os conjuntos compreendem realizações exclusivas da ação humana;
os lugares notáveis, as realizações conjuntas do homem e da natureza.
88 FERNANDO FERNANDES O>, SllVA :'}
OS BENS CUtruRA!S íiOT(GIOOS l'HA CONVENÇÃO REIATIVA Á PROTEÇÃO 00 PATRIMÔ~IO 89
J1
Ao longo dos anos, o Comitê, por meio de suas reuniões, formulou Cidades históricos yivosS
alguns conceitos para mrlhor caracterização dos bens culturais previs-
tos na Convenção2• Cidades que possuem uma função contemporânea, sem perderem
vestígios significativos de antigas civilizações. Consideram-se cidades
Os monumentos históricas vivas nos seguintes casos:

Assim denominados porque representam as grandes realizações • cidades tlpicas de uma época ou de uma cultura, preservadas em
humanas. quase toda a sua integridade, pois não-afetadas significativamente
....
-
_i:.~ · _~ por . qualquer desenvolvim~nco .posterior. Assim, caracterizam-se
Os conjuntos
pela identidade entre q bem inscrito e o cõnjunto da cidade, exigin-
do, portanto,. a sua proteção integral, a exemplo de Ouro Preto
(Brasil) e Shiban (Iêmen);
Os conjuntos, ou os Fhamado~ "sítios culturais" , são os locais que
agregam os bens cult1.1rais considerados de grande valor ao lado X cidades evolutívas, cuja parte histórica é claramente delimitada
daqueles de menor e.xpr~ssão. Nesse item procura-se conservar todo o em relação ao seu meio ~ontemporãneo .. São ·exemplos: Cu zco
conjunto onde o h9men_i habita e manifesta suas realizações. l: a con- , (Peru), Berna (Suíça) ~ Split (Croácia);
servação do ambiente hqmano. Essa concepção resulta diretamente da • centros históricos cuj_a dimensão espacial abrange exatamente o
Carta de Veneza e ~ ado.f_ada como·um dos princípios básicos de pro- perimetro da cidade ª'1tiga, atualmente englobada por uma cidade
teção conforme m,anife~tação do diretor-geral da Unesco na 16º moderna. São exemp,los ~ antiga cidade de Damasco (Síria) e
Medina d e Túnis (Turiísia);
Conferência-geral qa Or~anização.
Os conjuntos sãp cla~sificados em cidades mortas, cidades históri- • setores, áreas ou unidades isoladas que representam um estado
cas vivas e cidades novas do século XX. residual da antiga cidade desaparecida, mantendo, porém, as ca-
racterísticas que atestam sua origem daquela antiga cidade. Nessa
Cidades mortos hipótese, a área e as construções testemunham claramente o con-
junto desaparecido. Exemplos: Cairo islâmico (Egito) e o bairro de
Cidades antigas que não possuem vida contemporânea, outrora Bryggen, em Bergen (Noruega).
habitadas por civilizações hoje desaparecidas, que nos legaram irhponantes
vestígios dos periodos em que ali viveram, a exemplo de Timgad (Argélia), Cidades novos do século XX6
Mohe~jo-Daro (Paquistão), Machu Picchu e Chan Chan (Pem), Axum
(Etiópia), Sigiriya (Sri l.anka), Teotihuacán (Mb,ico), Hampi (Índia)\ Esta categoria de cidades não const-ava dos projetos d a
As cidades mortas, para Mounir Bouchenaki\são "sítios arqueológi- Convenção, tampouco foi objeto de debates nas reuniões
preparatórias. Ela é concebida com base nas sessões do Comitê do
cos, portanto inteiramente desabitados a não ser por seus guardiões, e
fora das horas de visita nenhum ruido de pisadas humanas perturba Patrimônio Mundial, principalmente em razão da inscrição de
Brasília na Lista do Patrimônio Mundial.
sua serenidade".

L-
90 fERNANDO FERNANDES DA SllVA os BENS CUll1JRA/S PiOTEGIOOS f'flA CON)IENÇÃQ tf WIVA A f't OTfcAo DO rATI!.......OWO 91

As cidades nov~s do século XX possuem uma organização urbana As cidades e os monvmentos


de inegável autent\cidaqe e claramente identificada. Essas cidades são
muito susceUveis ap proiresso econômico e social, possuem u-in futuro O Comitê do Patrimôni9 Mundial admite a inscrição de monumentos
. '
incerto e um deseqvolvijnento totalmente imprevisível. desvinculados do conjunto histqrico das cidades onde estão localizados.
São as proposituras ellJ, fav9r de realizações isoladas que exercem
Os lugares notávei.{ uma grande influência na histó.ria do urbanismo, como as praças de
Nancy (França) e Meidan-~-Sha.h d'Ispahan (Irã)9. e os monumentos de
Os lugares notáveis, pu os chamados sities mistos. são as realiza- valor universal evidente {nas sem nenhuma 'ligação especial com a
ções humanas e ~s açq~s E!ai- natureza. São também denominados cidade, ~orno, por exe~plg..a I?esquita de Córdoba (Espanha) e a ca-
bens mistos, cult~rais 'e n~t-;.ll'ais ou paisagens culturais. Trata-se tedral de Arhiens (Franç·a;!º.'.' ·
ainda de categorif1 CO}P pequena representatividade na Lista do
Patrimônio Mundj.al, pyis até 2002 apenas vinte e três sítios mistos LISTA DO PATRIMÔNIO MUNQIAL
estavam inscritos.
Entre os sítios 11üsto~. é interessante destacar as paisagens rurais, a A proposta de elaboraç~o da Lista do Patrimônio Mundial foi apre-
exemplo das vinicplas ~o sul da Europa e dos arrozais do Sudeste sentada por Robert Brichet; dur,J.nte o primeiro encontro de especialis-
Asiático, que consttrvarr\ técnicas tradicionais de produção, constante- tas' em 1968 11 • A proposta tir~ha como precedente o artigo 81! da
mente ameaçadas por Í,\1étodos modernos que visam atender à alta Convenção de Haia de 195f, que concedia uma "proteção especiál" aos
competitividade irppos{a pelo progresso econômico. As paisagens bens cullurais inscritos no Registro Internacional de Bens Culturais sob
ru'rais carecem de :1neio~ que conciliem a preservação das tradicionais Proteção Especial11 , desde que atendidas algumas condições, entre elas
técnicas de produção co'm as modernas formas de produçãoª. a não-utilização para "fins militares" 13 •
Os bens culturais e naturais de "valor universal excepcional" são aque-
Os sítios arqueológicos les inscritos na Lista do Patrimônio Mundial, e cabe ao "Comitê do
Patrimônio Mundial organizar, manter em dia e publicar a lista desses
Subjacente às noções de monumentos, conjuntos e lugares notáveis, bens que representam o patrimônio cultural e natural da humanidade" 14•
a Convenção reconhece o valor cultural dos sítios arqueológicos. É o Um dos principais objetivos do Comitê do Patrimônio Mundial
que se verifica pelas expressões "elementos ou estruturas de natureza desde sua primeira sessão, foi estabelecer um modelo de Lista d~
arqueológica" - monumentos -, "valor universal excepcional do ponto Patrimônio Mundial que representasse um número equilibrado de
de vista da história, da arte ou da cil!ncia" - conjuntos - e "lugares bens culturais e naturais de todas as áreas do planeta ' 5 • É a noção de
arqueológicos" - lugares notáveis. universalidade que permeia a Lista do Patrimônio Mundial, segundo
Os sítios arqueológicos não possuem necessariamente conteúdo Frederico Mayor Zaragoza, ex-diretor-geral da Unesco 16 : "Espera-se
estético, mas são de capital importãncia para investigações científicas que um dia a lista tenha um caráter plenamente universal e que sirva
por representarem uma arte desaparecida ou vestígios de relevante de referência definitiva das obras-primas da cultura é da natureza
petiodo da história de um povo. cujo desci.n o concerne, hoje, a todos os palses e a todos os homens".
92 FERNANDO FERNANDfS OA S!lVA OS BENS CUlMAIS PRO!EG!OOS pftA CON~ENÇÃQ !ElATIVA À PRO![ÇÀO DO PATRwo°i!O 93

A lista do Patri\nôni?: Mundial não é apenas uma enumeração arit- Estado para garantir íl exeçução desses objetivos. Periodicamente,
mética ou inventá~io dgs bens culturais e naturais. Ela foi concebida os Estados deverão tndicar nos relatórios que apresentarem à
para atingir uma s~rie dr propósitos, cabendo destacar entre eles: Conferência-geral da Un~sco as medidas legislativas e regula-
mentares ou quaisqu~r outras que foram adotadas para a aplicação
• limitar as opFraçõp do Comitê do Patrimônio Mundial a um da Convenção 23 ;
número razo~vel cl,e bens 17 • Essa premissa decorre da natureza • a comunidade intem\1cion_al obriga-se a cooperar para a proteção
jurídica do r~giml de proteção da Convenção, que contempla dos . bens culturais ij1scrifos na lista do Patrimônio Mundial,
apenas os ben~ de ')valor universal excepcional"; quando requerido pelo Es~ado interessado 21 ;
• alertar a opiqjão pµblica mundial da irnportânCij,if. do5. perigos • os Estados-partes na Çonvçnç~o obrigam-se a nã.Q_tomar qualquer
que ameaçam os b;ns culturais de interesse uni~rsaPª. À ampla medida que ameac~ direta ou indiretamente os bens do
publicidade e"{Tl toino desses bens estimula o interesse e a ge- patrimônio cultural discrirpinados pela Convenção2' .
nerosidade do· púbÍico em contribuir para sua conservação 19 ;
• servir de, instrum~nto de divulgação a serviço de campanhas Os critérios para insFfiÇÕJ) de um bem cultural na listo elo
internacionais· pro{povid~s para angariar fundos, facilitando a Patrimônio Mundial ··
identificação qos b~ns para os quais o público poderá ser solici-
tado a contri~uir. tm campanhas de grande vulto, quando os A Convenção outorga .ao ~omitê a competência para definir os
recursos do [und~ do Patrimônio Mundial eventualmente se critérios "com base nos q~ais tim bem do patrimônio cultural ou na-
tornarem insl).ficieiJtes, o levantamento de contribuições pela tural poderá ser incluídg" na Lista do Patrimônio Mundial26 • Os
população é e;~sencµi.12°. critérios adotados são aqüeles que definem valor universal excep-
;
cional do bem21 , sua autenticidade2ª e a comprovação ·de que o
Regime jurídico .do bem cultural inscrito Estado interessado adotou medidas protetoras adequadas ao bem
no lista do Patrimônio Mundial objeto de inscrição29 •

Os bens inscritos na Lista do Patrimônio Mundial, segundo Valor universo/ excepcional e representofividode e seletividade
Ludmila N. Galenskaya21 , submetem-se a um regime jurídico alicerça-
do em quatro plincípios: Conforme as Diretrizes, o Comitê considera um bem cultural de
• a soberania do Estado em cujo território situa-se o bem cultural é valor excepcional quando30 :
plenamente reconhecida e respeitada, assim como os direitos sobe- (i)-representa uma realização artlstica única, uma obra-prima do
ranos territoriais sobre esse bem e a legislação nacional aplicáveP2; gênio criativo humano ou;
• o Estado-parte na Convenção reconhece a obrigação primordial de (ii)-exerce grande influência, por um período de tempo ou den-
"identificar, proteger, conservar, valorizar e transmitir às futuras tro de uma área cultural específica do mundo, a respeito do
gerações" o patrimônio cultural mencionado no artigo 1~. Por sua desenvolvimento da arquitetura, das artes monumentais, do
vez, o artigo 5~ discrimina as medidas a serem tomadas pelo planejamento de cidades ou do modelo de paisagens, ou;
94 FERNANDO FfRNANDfS DA SILVA OS SfNS CU\TURAIS PROTEGIDOS PflA CO(MNÇÃO REIATIIIA Á PROTEÇÃO DO PATRIMÔr:ilO 95

(iii)-representa µm testemunho especial ou no tn!nimo excepcional· Essa orientação segue ps prjncípios da Carta de Veneza (1964) e foi
de uma civ~lização ou tradição cultural desaparecida; consagrada como um do~' prirÍFípios fundamentais que deveriam reger
(iv)-é um excepcional exemplo dE; um tipo de construção ou con- a proteção dos bens ·cult\irais imóveis durante os trabalhos
junto arquitetõI).ico ou paisagem que ilustre significativo(s) preparatórios da Conven~ão. Trata-se de uma concepção européia de
estágio(s) Qª hi~tória humana, ou; proteção que permeia a rrpiorip das decisões do Comitê. Ao longo dos
(v)-é um exemplo excepcional de ocupação humana tradicional anos, o Cqmitê adiou -OlJ rej~itou proposições de inscrição de bens
ou de uso ·de t~rra representativo de uma cultura (ou cul- culturais que continhafr! estiuturas de madeira, adobe ou outros
tura_s), es11ecial~ente q~ando se torna vulnerável sob o mateti.ais frágeis, com ba~e no'çritério da autenticidade3+. Isso porque,
. impacto de, mut~ções irreversíveis; .,...,~endo. altamente perecíveis, ta\~ materiais são facilmente substituíveis,
(vi)-é direta ou, clar~mente associado com eventos ou tradições _:;: ~desca~acterizando o corceitp de autenticidade formulado "pelo
vivas com idéías ou com crenças, com obras artísticas e Comitê. Entretanto, em aigurn~s ocasiões, o Comitê proferiu decisões
literâ~ias d.e importância universal excepcional (o Comitê que aparentemente não ~~gui{am com rigor o critério autenticidade,
considera ~iue ~~se critério deve justificar a inclusão na lista abrindo precedentes que,n.o ftituro, permitirão a inscrição de bens em
somente er[l exc;_!!pcionais circunstâncias ou aliadas a outros condições similares. É o cas9 da in.scrição do centro histórico de
critérios). ·, ' Va:rsóvia, Polônia (C :io), i::omentada por Léon Pressouyrels.
Expressão do urbanismo .'inedifval, o local foi totalmente dinamitado
É admissível a inscrição de bens culturais 1:1a Lista do Patrimônio pelos nazistas durante a ~egu11da Guerra Mundial. Ao final do con-
Mundial com base.em u'rn
ou mais critérios que informam o valor uni- ílito, o centro histórico <li
Var~óvia foi reconstruído, atendendo a sua
versal do bem. A &,randf maioria das inscrições foi sustentada em dois forma original. '· :'
ou mais critérios3t, · O Comitê aceitou sua propo:;ição de inscrição, como exemplo único
O Comitê adotq tamq,ém os critérios de representatividade e seletivi- de reconstrução ex nihil de um bem cultural, atendendo aos argumen-
dade de modo a precisai a noção de valor universal excepcional. Assim, tos de desejo de enraizamento do povo polonês ao seu passado e dos
a representatividaqe assegura a escolha de bens que contemplem todas excelentes métodos científicos empregados pelos arqueólogos e
as áreas geográficas do mundo, e a seletividade, os bens que possam arquitetos poloneses para restauração daquele centro histórico. Assim,
melhor expressar em cada região o valor universal excepcionaP1• para o Comitê, a autenticidade manifestou-se por meio de técnicas
empregadas para a reconstrução do bem.
O critério "autenticidade" Outro tema que promete debates nas sessões do Comitê do
Patrimônio Mundial é a visão do Japão a respeito de autenticidade.
Os bens culturais considerados autênticos são aqueles que atendem O Estado japonês, que ratificou a Convenção em 30 de junho de
à sua concepção original, em "modelo, material, artesanato ou ambi- 1992, possui interpretação diversa sobre o critério autenticidade, em
ente"3). O critério "autenticidade" privilegia o aspecto exterior do bem, razão de sua peculiar cultura, que se expressa, entre outras formas,
tomando-se secundário apurar se sua utilização era a mesma na época por estruturas construídas com materiais perecíveis, como a madeira
em que foi concebido. e o adobe)6 •
OS BENS CUlTURAIS PROTEGIDOS PElA CONVfNÇÃO REIATIVA À PROTEÇÃO DO Pf.TRL'AOr,Í10 97
96 FERNANDO f ERNANDH DA SllVA

Dada a impos:;ibili<lade da manutenção da integridade física dos A escolha sele~iva e repre~ntativa dos bens culturais, conforme
bens imóveis de Qrigerf1 japonesa, por meio dos materiais originais, o exposta no item "Valor ~nivet~al excepcional e representatividade e
conceito autenticidade' naquele país caracteriza-se pela transmissão, seletividade""'°, é feita seiund9" as várias listas indicativas fornecidas
para as futuras ge,i·açõe~, do know how arquitetônico desenvolvido para pelos Estados interessado~ ao Spmitê do Patrimônio Mundial. As listas
a construção de t~mplq;;, palácios e moradias. Pela perspectiva japone- indicativas asseguram ao~ Con,titê, mediante a comparação entre os
sa, a reconstituiç~o tq~al dos templos na sua forma original, pelos bens culturais situados em div~rsos Estados, selecionar o bem cultural
meios tradicionai~·~, de ~onstrução, é a verdadeira autenticidade de sua que melhor corresponda ~:ps ctjtérios exigidos para a inscrição na Lista
l
cultura37 • A conce.pção japonesa prorpete uma reavaliação do conceito do Patrimônio Mundial''·
autenticidade de {orma Rue se possa abarcar um número maior de bens . ~J!lt

culturais c~-m o cl~ro o~jetivo de tômar a Lista do Patrimônio Mundial A LEGITIMIDADE PARA t~ppqg A INSCRIÇÃO DE UM
mais próxima da pnive}salidade. BEM CULTURAL NA LISTA ·oo f ATRIMÔNIO MUNDIAL

A proteção nqcionq/ do bem Os Estados-partes na C01JVénção são os suJeHos de Direito


·•. 1-
Internacional reconhecid9? pe{p Comitê como partes legitimas para
As medidas l,'rote~pras exigidas pelo Comitê do Patrimônio requererem a inscrição d~ um: bem cultural na Lista do Patrimônio ·
Mundial atendem ·às df;;posições da seção II dá Convenção, que disci- Mundial. Esse posicionam~nto,
., firmado pelo Comitê em sua primeira
~
plina as obrigaçô<~s est~~ais para com a proteção do patrimônio cultu- sessão, tem como fundam~µto q artigo 11, parágrafo 1~. da Convenção,
ral. As medidas s~~l
váti~s.
•;•
destacando-se aquelas de caráter legislativo que confere somente aos ~stad()s-partes a tarefa de apresentarem, "na
medida do possível", inveptáriQs dos bens situados em seu território e
em âmbito nacignal : .t, outras, em razão de peculiaridades que ' J
envolvam o bem \ultur}l. que possam ser incluídos tJa Li~ta do Patrimônio Mundial.
., · Na mesma ocasião, o C0mitl do Patrimônio Mundial deliberou que
INVENTÁRIO DOS BENS CULTURAIS: os bens culturais situados em território de Estado não-signatário da
LISTA 1ND1CATIVA38 Convenção e em territórios não-nacionais, como a sede das Nações
Unidas em Nova York e a região da Antártida, não poderiam constar
A lista indicativa39 , ou inventário dos bens culturais, é um ins- da Lista do Patrimônio Mundial+i.
trumento de importância estratégica a serviço do Comitê .do Trata-se de um posicionamento coerente com os princípios que
Patrimônio Mundial para seleção dos bens culturais de "valor uni- serviram de parâmetro para a formulação da Convenção, en tre eles o
versal excepcional". de que a base da proteção deveria residir nos Estados.
A lista indicativa é uma seleção prévia dos bens culturais que Entretanto, a inscrição da "cidade velha de Jerusalém e suas
poderão ser inscritos na Lista do Patrimônio Mundial num prazo de muralhas" (C 148), deliberada pelo Comitê, desconsiderou con-
cinco a dez anos. O bem inscrito na lista indicativa pode ser objeto de ~rovérsias sobre qual Estado exercia a soberania territorial sobre
uma assistência preparatória a ser executada pelo Comitê do aquele bem.
Patrimônio Mundial.
98 FERNANDO FERNANDES DA SI LVA
OS BENS CUllURAIS PROTEGIDOS PELA COr-!YENÇÃC1 RflATIVA À i'IIOTEÇÃO DO PATIINIÓNiO 99

A inscrição dq "cidade velha de Jerusalém e 0 PROCEDIMENTO DE JtlJSCR)ÇÃO DE UM BEM


suas muralhas''
'
na 'Listo
. do Patrimônio Mundial CULTURAL NA LISTA DO ATRl~ÔNIO MUNDIALf
Uma das decis(Íes m~is controvertidas do Comitê fo~ a inscrição da Todo bem cultural p9de ser inscrito na Lista do Patrimônio
cidade velha de JtrusaJém e suas muralhas, proposta pelo governo Mundial, cumprindo ~s cq(érios definidos pelo Comitê do Pa·
hachemita da Jqrc\!nia, 'purante a primeira sessão extraordinária ocor- trimônio Mundial e o rqquisJfo prévio do consenti men to do Estado
rida em Paris em ~etemvro de 198143 • interessado 45 . ' •

Na ocasião, a pi:,oposti; sofreu fone oposição dos Estados Unidos, com


a-alegação de que 9-Est"Pº de lsrael, pelo fato de ser o responsável pela O processo de inscriçãq derr1i!nda duas etap~ ;El.istin.tas.
administraçã~ d~-l9C;l ~ 'fontrolador de fato da área, deveria ser consulta- Na primeira, o Estado iqjeresi~do inventaria o Bém cultural e aplica as
do sobre a inscrição dj bem, pois o parágrafo 3~ do artigo 11 da medidas necessárias para süa pr~_teção. Essa etapa atende ao disposto na
Convenção prescreye qu; a "inclusão de um bem na Lista do Patrimônio seção II da Convenção, q~e diS:çiplina as obrigações a serem seguidas
Mundial não poder~ ser f~ita sem o c~nsentimento do Estado interessado". pelos Estados signatários p~ra a j?roteção do patrimônio cultural. A pro-
Presente à sessãçi, a dtlegação jordaniana argumentou que Jerusalém teção nacional é executada;medi~nte uma política legislativa, e, depen-
representava as re!,igiõe~ judaica, cristã e islâmica e que seu governo dendo das peculiaridades i:iue ~nvolvam o bem, o Estado requerente
não se utilizava do. Comjtê ou de suas deliberações para reivindicações propõe um plano de gestão para µma proteção mais eficaz46 .
. m
políticas. Jerusalém é l\fil patrimônio comum da humanidade e seu Na segunda etapa, a solicitaç~o da inscrição do bem cultural é sub-
estatuto não pode ~er d~cidido no âmbito do Comitê. metida ao exame e à deliqeraç~o do Comitê após prévia consulta ao
O Comitê rejeitpu ai alegações dos Estados Unidos, argumentando Icomos. O Comitê poderá Jeferfr ou rejeitar a proposta de inscrição do
que a delegação isfaeleq,se não poderia participar da reunião e, conse- bem•1 após prévia consulta 1o E~tado interessado1 ª. Em várias ocasiões,
qüentemente, ser çonst\ltada, pois o Estado de Israel não era Estado.- o Comitê reconheceu o valor universal excepcional do bem cultural
parte na Convenção. Alegou ainda o Comitê que a cidade velha de proposto, mas adiou a inscrição até que o Estado interessado tomasse
Jerusalém e suas muralhas constituem um "marco histórico", cuja medidas adequadas de proteção'9 •
preservação era imprescindível, em consideração à síntese de diversas A inscrição do patrimônio cultural de cidades brasileiras foi pro-
manifestações de distintos períodos históricos. posta pelo governo federal por intermédio do Ministério das Relações
No curso dos debates, as delegações não fizeram qualquer ressalva Exteriores mediante dossiês encaminhados ao !cornos, instruídos com
sobre a competência do reino da Jordânia para fazer a propositura. Muitos o nome do patrimônio e dos bens que o constituem, sua localização
oradores evocaram mesmo que o parágrafo 3~ do artigo 11 da Convenção geográfica, as medidas de proteção e a justificativa de seu "valor uni-
assegura a inclusão de um bem na Lista do Patrimônio Mundial, objeto versal excepcional".
de reivindicação de soberania ou jurisdição por parte de vários Estados Esses dossiês inicialmente foram preparados pela extinta Secretaria
sem prejudicar os direitos das partes em litígio. do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Sphan) , órgão federal
Ao final, a inscrição foi deferida por catorze votos a favor, um con- competente para tombar bens culturais em âmbito nacional'º.
tra e cinco abstenções••.
/00 ffRNANOO IERNANOES DA Sll'IA OS BENS CutlUiAIS PROTEGIDOS PEIA C()Nvj'NÇÁO IELATIVA À PiOTEÇÃO 00 PATRWÔNIO 101

Os exemplos 9e Owo Preto (MG), Olinda [PE), Salvador (BA), Entretanto, o dossiê eh1boraeo pelo governo brasileiro e o parecer
Congonhàs (/v\~), 8içasília (DF), São luís (MA), Diamantina (MG) do Icemos convergiram em stÍ,\1s conclusões sobre o inegável "valor
e Cidade de Qoiás {GOJ ' . universal excepcional" do pem.:··
. ' Fundada em 1537 pelo pq:nuguês Duarte Coelho, Olinda teve
Conjunto arquilf:!lônic9 e urbanístico de Ouro Preto (MG) rápid o desenvolvimento devi;lo ao cultivo da cana-de-açúcar na
(C 124), 198Q.SI ' . região nordestina'1 • ' ,,.

Ape_sar de numerosos afaque;.; estrangeiros nos séculos XVI e XVII,


O conjunto arqyitetô1,üco e urbanístico de Ouro Preto, antiga cidade que provocaram saques e ?esn{~ição_ da cidade, subsiste um conjunto
de Vila Rica, foi inipito pa lista do Patrimônio.,lv1undial por represen- das mais antigas casas e igfejas 'pa América56 • A cidade ainda con?erva
tar um dos mais ilnpor~antes\:entros históricos do estilo barroco do em suas colinas construçõ~s qu.~ testemunham os períodos colonial e
século XVIll, cujo perío~o ·foi denominado "Idade do Ouro". imperial do Brasil5'. · ; ·

A antiga Vila Rita, fun.dada em 1738, teve seu ápice durante o sécu- Em seu parecer, o prór;rio r,;omos reconheceu que ·o essencial do
lo XVIII e desenvol,yeu l\Fll estilo barroco peculiar em relação às outras tecido urbano da cidade díga dq século XVIII'".
áreas do Brasil. P,itualr{°jenre, é o testemunho de importante ciclo Com base nesses dados; C> ceptro histórico da cidade foi inscrito na
'histórico da miner~ção ~lo ouro e de outros metais preciosos. Lista do Patrimônio Mundial sop os critérios (ii) e (iv), por reunir, em
Esses foram os ,princ;jpais argumentos apresentados pelo governo suas construções, estágios ~igniQcativos da história do Brasil e do con-
brasileiro para a in~criç~p do bem na Lista do Patrimônio Mundial. O tinente americano. ' '·
Comitê do Patrim_~nio Mundial deferiu a inscrição do patrimônio Em âmbito federal, à épçica de.: sua inscrição, o centro histórico havia
cultural daquela cj,d ad(com base nos critérios (i) e (iii)12 : a cidade sido tombado pelo Sphan, sob o titulo "Acervo Arquitetônico e Ur-
contém importante'acervo das obras de Aleijadinho, características do banístico da Cidade de Olinda"5~. A cidade também foi erigida à categoria
estilo barroco e representa importante período da história da' colo- de "monumento nacional" em 198060• Na esfera municipal, cabe destacar
nização das Américas. a lei n'2 4.119/796 1, que criou o Conselho para a Preservação dos Sítios
Quanto às medidas de proteção, o governo brasileiro argumentou que Históricos de Olinda, órgão competente para tombar os bens imóveis e
o centro urbano havia sido 'tombado nos termos do Decreto-Lei ne 25/37 53. móveis da cidade62 , o Centro para a Preservação dos Sítios Históricos de
\
Olinda, para exercer <\ proteção dos bens culturais tombados nos termos
Centro histórico. de Olinda (PE) (C 189), 1982 da lei municipal61, o instituto do tombamento no município 6\ e o Fundo
para a Preservação dos Bens Culturais de Olinda61•
O centro histórico da cidade de Olinda foi inscrito na Lista do Patri-
mônio Mundial durante a 6° sessão do Comitê do Patrimônio Mundial. Centro histórico de Salvador (BA) (C 309), 1985
O Icomos, por parecer proferido em maio de 1982, opinou pelo
adiamento da inscrição, argumentandó, entre outros motivos, que as Em 1985, é inscrito o centro histórico de Salvador com base nos
autoridades brasileiras não demonstraram claramente os meios a serem critérios (iv) e (vi)66 • Na ocasião, o governo brasileiro sustentou que
implementados para a proteção do centro histórico1• . Salvador conservava a estrutura urbana original do século XVl67•
102 fE I NANDO FERNANDES DA SllVA
OS BENS CUI.TURAIS PROTEi:JIDOS !'€IA CON, ENÇÃO RflATIVA À PROTEÇÃO DO PATRIMÔNIO 103

A cidade foi um centro administrativo e econômico dos mais Em seu conjunto, as qbras de Aleijadinho representam um estilo
notáveis do Brasil ~ntre ~ metade do século XVI e a metade do século barroco brasileiro próprio; tipi~p. entre o final do século XVIII e o iní-
XVIII, destacando:~e. p;ra tanto, a posição estratégica de seu porto, cio do século XIX, distint() do parroco europeu. Como bem salientou,
considerado um dq~ mai~ importantes do mundo português durante o no dossiê brasileiro, Marc~s Vipicios Vilaça, as obras do genial artista
Brasil Colônia, po~t.o de ~onvergência entre o comércio português e os são as "últimas expressõeJ de yalor universal das artes religiosas e da
países ultramarino~68 • tradição contra-reformista'.' 73 • :'
O Icomos reitergu o posicionamento brasileiro, acrescentando que Em síntese, o gover110 t1rasileiro realçou a importância de
o centro histórico cfe Salv,~dor deveria ser inscrito com base no critério Aleijadinho na hi_stória uni vers~l da arte e enfatizou o conjunto de sua
- ; iv, por ser um emi~ente }xemplo de estrutura urpana da Renasçen.~ , obra em Congonhas' comq' reprp.sentativa de um estilo barroco único e
tomando-se, pela ~ensid,ade dos monumentos reunidos, a capital pdr de criação artística única: ~em izual.
excelência do nordeste brasileiro. Por outro lado, a inscrição do bem
A proposição de inscriç~p foiJi.1stificada com fundamento nos critérios
cultural com base ;o crit~rio vi devia-se ao fato, segundo o !cornos, de (i), por "representar uma r~aliza\ão artística única, uma verdadeira obra
ser um dos princip~is pqntos de convergência das culturas européias, de arte do espírito criador {mmirio", e (v)r+, porque associada às crenças
africanas e ameríndias dos séculos XVI a XVIII69 • e a eventos de significativa impqrtãncia.
O centro históri~o de"salvador h~via sido tombado pelo Sphan em
ó Icomos acolheu os ~j'gurrf~ntos do Brasil, sustentando, porém. a
julho de 1984 7º. Apteriqrmente, a Lei Municipal n'! 3.289/83 disci- inscrição com base nos ~;rité~os (i) e (iv). aceitos pelo Comitê do
plinava os meios 9e pn;\teção de bens culturais já tombados indivi- Patrimônio Mundial. ·
dualmente pelo Spl,~an. ·
Do ponto de vista jurídico e administrativo, o governo brasileiro
ofereceu ao Comitê a garantia de que o bem estava tombado em nível
Santuário de Bom Jesus de Matozinhos, Congonhas (MG) federal, com base nos artigos 17 e 18 do Decreto-Lei n 2 25/37, e em
{C 334), 1985
nível estadual, de aco;do com a Lei n2 5. 775/71.
Cabe mencionar que no dossiê elaborado pelo Sphan as autoridades
Congonhas, em Minas Gerais, representa a tipica cidade bra-
municipais informaram sobre a instalação de um senriço de iluminação
sileira da "Idade do ouro" , que encontrou seu ápice em meados do
na área para facilitar o acesso do público, bem como sobre ·a criação de
século XVIII.
um serviço de polícia exclusivo para a salvaguarda do conjunto".
Nessa cidade encontra-se um conjunto arquitetônico e escultural
construído por Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, considerado Conjunto urbanístico de Brasília {OF) (C 445), 1987
o principal artista americano da época coloniaF 1• O conjunto
arquitetônico compreende a Igreja de Bom Jesus, cuja construção foi
Brasília é a primeira cidade moderna inscrita na Lista do Patrimônio
finalizada em 1772, o átrio, decorado com as doze estátuas dos profe-
M:mdial. O plano da cidade, idealizado por Lúcio Costa, segue os
tas do Antigo Testamento, esculpidas entre 1800 e 1805, e os passos,
princ!pios básicos da Carta de Atenas de 1933". Uma cidade estrutu-
isto é , as sete estações da Via Crúcis, alojadas em pequenas capelas,
rada em áreas, cada qual com uma função específica (área monumen-
igualmente eschlpidas por Aleijadinho, entre 1796 e 180011 . tal, onde se concentram os prédios da administração, área residencial,
104 FE ! NANOO FfRNANOES OA SILVA os BENS CUlTURAJS Pl10 TEG1005 PELA co,NENÇÂO RELATIVA À PROTEÇÃO 00 PATRL"'IÓNJO 105

área gregária e área de la~er), separadas por vastos espaços naturais que em outubro daquele ano, ~iq,lic)tando o "conceito de bem cultural" pro-
se comunicam pelq traç;,do das grandes vias. tegid~ pelo plano piloto d 1 Bras1liaª2 • O decreto assegurava a manutenção
A inscrição de ~rasílij na Lista do Patrimônio Mundial é coerente do plano piloto de Brasília medipnte "... a preservação das características
com a expressão upatnni:ônio cultural'' adotada pela Convenção, que
0 essenciais das quatro esc<\/as c:Ustintas em que se traduz a concepção
abarca inúmeras fo~as de manifestações culturais sem uma delimi- urbana da cidade: a monuú1entf!l, a residencial, a gregária e a bucólica"ª1 .
tação temporal preiisa. · Brasília foi inscrita nfi Li.sta do Patrimônio Mundial em 11 de
No plano nacior1,al, a Jnscrição de Bras!lia foi peculiar em relação a dezembro de 1987, em rÚzão 'dos critérios (i) e (iv).' Posteriormente,
·:.: ~
outras cidades bra~peira~. O centro histórico de Ouro Preto e o san- em 1990, a área do plaaj, pi1pto, tal qual definida pelo Decreto n~
tuário de Bom Jes4,5 de Í"'1ª~ªnhos. eram bens culturais tradicional- 10.829/87, foi tom_bad~ Jl'.~o ~phanª\ taml:>ém sob a influência dessa
·. - l' . .
mente protegidos -~m npssl'õrdenamento jurídico. O primeiro foi inscrição, suscitando deba,te no ~entido de saber se um bem cultural da
declarado monum~}ito tjp.cional em 193311 : o segundo, tombado no espécie de Brasília, uma '.!cida9.e dinâmica e moderna"ª\ poderia ser
plano federal em 1~39. Ainscrição desses bens culturais na Lista do objeto de tomba~ento no~ tenJ.los da leg!~lação federal.
Patrimônio MundiaJ não i,;oduziu mudanças significativas no ordena-
mento jurídico bra~íleiro.! Centro histórico de Sqo Lu(2 (lvtA) (C 821 ), 1997
/! ~·
Brasília, pelo coÍ1trãrir, não possuía nenhuma política legislativa
protetora até mead~s de" 1987. Esta tem início _por influencia direta A representação brasil~ira d~fendeu a inscrição do centro histórico
do processo de insçrição da cidade na Lista do Patrimônio Mundial. de São Luís pelo fato d~ , repi'~sentar uma construção arquitetônica
~

Em maio de 19&7, o parecer do Icemos foi favorável à inscrição úrtica portuguesa do períqj:lo cylonial pela generosidade dos materiais
da cidade, .por rec:;pnheier seu "valor universal excepcional", mas empregados nas construçõ~s e_;,ela utilização de materiais únicos, não
.f •
opinava pelo adia111ento' da inscrição até que as autoridades gover- encontrados em outras CO\lStru:;ões brasileiras daquele período, como
namentais provide"9ciasstm condições mínimas para a salvaguarda os azulejos refinados utilizados na decoração e na proteção térmica86 •
do plano piloto 76 • " ·•
Ó centro histórico, principal objeto da inscrição, compreende o núcleo
Na reunião do bureau do Comitê do Patrimônio Mundial em junho original da cidade, que data do século XVII, e os quarteirões interiores,
de 1987, a delegação brasileira argumentou que havia um grupo de tra- que retratam a expansão u rbana e datam dos séculos XVIIl e XIXª7 •
balho constituído por representantes do Ministério da Cultura, do Como prova do interesse na proteção, a representação brasileira ale-
Sphan, do governo do Distrito Federal e da Universidade de Brasília, · gou que, nos últimos vinte anos, foram recuperados dezenas de
para concluir, em agosto daquele ano, estudo que subsidiasse a elabo- quarteirões, mais de duzentos edifícios de interesse histórico e dois
ração de uma legislação especifica para a proteção do plano piloto79 • grandes imóveis industriais do século XIX, adaptados às Íunções
Nesse sentido, o bureau recomenqou a inscrição da cidade desde que modernas88 • A representação brasileira defendeu a inscrição do bem na
as autoridades brasileiras adotassem uma legislação específica que asse- categoria cultural, do tipo conjunto, conforme o artigo 1Q da Convenção
gurasse a proteção da criação urbana de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer8". Relativa à Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural, de 1972 ,
A fim de obter a inscrição ainda em 1987 , o então governador do mas não fez menção aos critérios previstos nas Direl1izes. Por último,
Disttito Federal.José Aparecido de Oliveira, editou o Decreto nQ 10.829ª1 , alegou que o bem fora tombado nos termos do Decreto-Lei n.~ 25/37.
FERNANDO FERNANDES DA SILVA 107
OS BENS CUtl\JWS PROTEGIDOS PEl4 CON\l~NÇÁO REWlVA À PROTEÇÀO 00 PATilMÔNIO

O komos recomendou a inscrição do bem com base nos critérios um exemplo tlpico d.~ un{~ cidade colonial adaptada às particulari-
(iii), (iv) e (v).' adot;_dos pelo Comit!, com a seguinte observação: "O dades do meio ambí~nte ·fom a utilização de materiais típicos da
centro históricq de S~o
~ ,
Luls é um exemplo excepcional de cidade colo- região, fonnando um t.onjtinto único e notável.
nial portuguesq:. adaptada às condições climáticas da América do Sul ' A representação ~fasil~f ra defendeu a inscrição com base nos
equatorial e pr~~ervaâa de fonna notável com o seu tecido urbano har-
0

moniosamente jnteg{ado ao seu meio ambiente naturalªº".


.
critérios: (ii)u pelo fatêí de ( .cidade representar o modo de vida adota-
~ .. do pelos exploradort s e' fundadores d e cid ades por tuguesas e
brasileiras em face da 1istãn~ia da mãe pátria e da costa ~rasi~eira; (v)96 ,
Centro hisfó(ico cf,e Diamantino (MG) (C 890), 1999 pelo fato de representaJ o úlfimo exemplo· de ocupação mtenor do ter-
l ~? ritório brasileiro da forina p'raticada nos séculos-XVIII e XIX9 1 • -""':
~ J.
- Diamantina .poSSt_li um conjunto arquitetônico e urbano t[piêo O lcomos defendeu a ins.crição com base no critério (ii) porque o
dos séculos XVÍII e XIX e representa o ápice da exploração de di~-
·~ !Ç centro histórico é uru ex~mplo de cidade européia adaptada às
mantes ocorrid@ na inesrna época. O centro histórico forma com a condições climáticas. ?wgr{ficas e culturais d o centro da América do
serra dos Crista"is uni~ paisagem cultural que justifica a inscrição do Sul, e no critério (iv) µ,~elo n.:iotivo. de aquele bem cultural representar
conjunto na li~ta dq Patrimônio Mundial. Os critérios defendidos uma estrutura urbana e"~rqu\tetônica típica das populações da América
pela representação brasileira para fundamentar a inscrição foral'!}: do St,11, que aproveitan:{ da 1relhor forma possível o material retirado
(ii)90 pelo fato ~e D.(amantina representar um período do séculç do meio ambi~nte alirdo ~o desenvolvimento de técnicas locais.
XVIII permeado, por 'descobertas do território brasileiro pelos aven- Justificativas adotadas t~mb(m pelo Comitê do Patrimônio Mundial08 •
tureiros em buica d~ diamantes e pelos representantes da Corof •' ~=
enviados à regiãp, prypiciando a formação de uma cultura extrema., A INSCRIÇÃO DE UM ~EM ~ULTURAL NA LISTA
mente original; (iv)91 pel'o fato de o conjunto urbano d~ Diamantin~ DO PATRIMÔNIO MUNDIAL' EM PERIGO
apres~ntar uma situação mista de espírito aventureiro e de fonte de
refina.mento, características significativas da história humana; e (v) 91, Nas hipóteses em que são necessários grandes trabalhos para a sal-
pelo fato de ser um dos últimos exemplos representativos da for- vaguarda de um bem cultural ameaçado por "perigos sérios e concretos"
mação territorial e cultural do Brasil9i. que poderão levá-lo ao seu desaparecimento, o Comitê poderá inscrevê-
O Comitê adotou a inscrição do centro histórico com base nos lo na lista do Patrimônio Mundial em Perigo, quando então passará a
critérios (ii) e (iv), adotando as mesmas razões apresentadas pela re- ser objeto de assistência internacional imediata99 . Como salienta
presentação brasileira e pelo Icomos9•. O centro histórico de Diamantina Azedine Beschaouch 11JO , relator do Comitê do Patrimônio Mundial, em
está tombado desde 1938. sua 16ª sessão, a inscrição de um bem na lista do Patrimônio Mundial
em Perigo não constitui uma sanção, mas a "constatação da condição de
Centro histórico do Cidade de Goiás (GO) (C 993), 2001 um bem que necessita de medidas de salvaguarda e de meios para asse-
gurar os recursos para esse fim". .
A Cidade de Goiás constitui u m testemu nho importan te d a ocu- A inscrição de µm bem na Lista do Patrimônio Mundial em Perigo
pação e da colonização do interior do Brasil. A concepção urbana é apenas o inclui em uma outra categoria de bens, cuja assistência
J

108 FER NANDO FERNANDES DA SILVA OS BENS CULTURAIS PSIOTEGIDOS PEIA CóNl/fNÇÃO ~EIATNA À PROTECÃO DO PATRW.ÓNIO 109
,•

internacional é dift;renciada daquela prestada aos bens inscritos na Procedimento para in;criç4o de um bem cultural
no Listo do Potrimôni~ Mutidiol em Perigo
Lista do Patrimõnig Mut')dial. • . .,
As hipóteses 4,iscriminadas na Convenção que motivam a
inscrição de um b~m cylmr;il na Lista do Patrimônio Mundial em Uma vez propo~ta a i1,1scn<;,í10 de um bem cultural na Lista do
Perigo'º' são as se1;,ruint7-s: "ameaça de desaparecimento devido à Patrimônio Mundial em ~erigq~ o Comitê adotará um programa de
degradação acelen;Fia; prnjetos de grandes obras públicas ou pri- meios corretivos para a s~~ salíçaguarda desde que o Estado respon-
vadas; rápido dese1Jvolvü:nento urbano e turístico; destruição devida sável seja consultado. A eh,i~oração desse programa motiva o Comitê a
à mudança de utilipção::ou de propriedade de terra; alterações pro- solicitar que o Estado req!.~ere~te preste informações sobre o estado
--: fundas devidas a u{na c~.usa destonheçida: abandono por quaisquer atual do bem, O$ perigos ]ilfe o 4:meaçam e a real possibilidade de apli-
razões; conflito ary1ado.. que haja irrompido ou ameace irromper; cação de medidas protetorJs pavi, sua salvaguarda. .
catástrofes e catac:J.ismq?; grandes incêndios; terremotos; desliza- O fornecimento de tais {11fortÍpções não impede que o Comitê envie
mentos de terrenqs; erppções vulcãnicas; alteração do nível das uma missão de observador~\ qu~lificados, do lcomos ou de outra orga-
águas; inundações i mar;~motos". nização, para avaliação d~ real fStado do bem e proponha os meios
As Diretrizes complert\rntam as hipóteses de inscrição de bens cul- necessários para sua proteçi!o ení relação aos perigos que o ameaçam 106•
turais na Lista do P~,trimqnio Mundial em Perigo. Essas hipóteses com- Apuradas essas informa,~ões,t- o Comitê deliberará sobre a inclusão
preendem dois gruµ,,os: "ijerigo comprovado" e "perigo iminente"1º2• ou não do bem na Lista dQ'ratrÚ.nõnio Mundial em Perigo 1º7•
As pertencentes ~o prip1eiro grupo são as seguintes: "grave deterio- A inclusão do bem na (Jsta c{p Patrimônio Mundial em Perigo terá
..
,'• ~

ração do material; grave ~leterioração da estrutura e/ou das caracterís- "difusão imediata", sendo ~ Est~~o responsável informado da decisão
ticas ornamentais; '.grav~· deterioração da coerência arquitetônica e com a maior brevidade 100• • ~
urbanística; grave ~eteri~ração do espaço urbano ou rural, ou do A assistência internaciorw.l, a j,rincípio, consiste no fornecimento de
ambiente natural; p~rda ;ignificativa da autenticidade histórica; grave importância significativa, pelo Fundo do Patrimônio Mundial, para
perda da importância cultural". financiamento dos meios necessários para a proteção do bem, e na
As hipóteses que caracterizam perigo iminente são: "modificação instituição de um sistema de acompanhamento por parte de experts
da condição jurídica do bem de forma que diminua seu grau de pro- que examinarão regularmente as condições do bem 109 .
teção; carência de uma política de proteção; efeitos ameaçadores dos Com base nos exames regulares do bem, decorrentes desse sistema
projetos de planejamento territorial; efeitos ameaçadores do plane- de acompanhamento, o Comitê, após prévia consulta ao Estado
jamento urbano; eclosão ou ameaça de conflito armado; mudança responsável, poderá tomar qualquer uma das seguintes medidas:
progressiva em virtude de fatores geológicos, climáticos ou outras constatar se há necessidade de medidas adicionais para a salvaguarda
causas ambientais". do bem; excluir o bem da Lista do Patrimônio Mundial em Perigo, se
Até dezembro de 2000; 33 bens culturais e naturais estavam verif\cado o desaparecimento do perigo que o ameaçava; excluir o
inscritos na Lista do Patrimônio Mundial em Perigo 1º1. A cidade velha bem· de ambas as listas, se constatada a perda das características que
de Dubrovnik, na Iugoslávia (C 95) , é a primeira inscrita por força de motivaram a sua inscrição na lista do Patrimônio Mundial' 1º.
conflito armado, hipótese prevista pela Convenção 10•· 1º1 •
11
OS BENS OJIJUIWS PROTEGIDOS PflA CONVf\lCÃO R~~TIVA À ~ROTEÇÂO 00 PATRMÔNIO _.. 111 ;
110 FERNANDO FERNANDES OA SllVA i

çultural da Lista do Patrin1ônio Mundial e a se abster de prestar a


A SANÇÃO: EXCLUSÃO DO BEM CULTURAL
cooperação internacional. .: i
DA LISTA DO PATRIMÔNIO
.•
MUNDIAL
..-:; . Até meados dos anos 90inenl1um bem cultural e natural havia sido i1
excluído da Lista do Patrim~nio \Aundial. Apenas em relação à Reserva
A exclusão do bem .. cultural
;,
da Lista do Patrimônio Mundial é da Biosfera de Srebarna, )3ulg~ria (N 219), inscrita na Lista do
admissivel em duas hipq~eses: quando o bem deteriorado perde as li
Patrimônio Mundial em Pedgo, iri;,taurou-se um procedimento para sua
características que d~ram fausa a sua inscrição na Lista do Patrimônio exclusão de ambas as listas {em épnclusão definitiva até o presente11• .
Mundialli 1, ou nos casos e!TI que as qualidades intrínseca~ do bem cul- .. J li
1'
I'
tural foram ameaçadas, na época _de _sua inscrição, pela ação do 1:
1!
homem, e os meios êorretivos necessáriÔs apresentados pelo Estadó- !=
parte não foram executados no prazo proposto 112 •
A primeira hipótese decorre da própria concepção da lista do
Patrimônio Mundial: a inscrição de um bem cultural, à luz da
Convenção, é legitima quando constatado seu "valor universal excep-
cional", de acordo com os critérios estabelecidos pelo Comitê do
Patrimônio Mundial. Portanto, sem as características que permitam o
enquadramento do bem cultural em qualquer um daqueles critérios,
cessam as condições que legitimaram sua inscrição.
A segunda hipótese decorre das obrigações impostas pela
Convenção aos Estados-partes. A não-execução das medidas protetoras
fere as disposições contidas na seção II da Convenção.
O não-cumprimento das obrigações significa a ruptura do pacto l
de compromissos mútuosul, um dos fundamentos teóricos da :i:,:

Convenção Relativa à Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e


Natural, de 1972. O pacto de compromissos mútuos compreende
uma relação entre Estados e comunidade internacional, que se /•
t,
obrigam a proteger o patrimônio cultural da humanidade. Nesse ):
sentido, a Convenção contém uma seção (II) destinada a disciplinar l:
as obrigações estatais protetoras dos bens culturais, e uma outra í·
seção (V), a estabelecer os benefícios oferecidos pela comunidade l"
internacional em contrapartida à proteção nacional, o que constitui ''·
!
um regime de cooperação internacional.
O rompimento desse pacto legitima a comunidade internacional,
representada pelo Comitê dQ Patrimônio Mundial, a excluir o bem
112 FERNANDO FE RNANDES DA SllVA OS BENS CUlruRAIS PROTEGIDOS FEIA CON'yENCÀQ .!EIATNA À PIOíEÇÀO 00 PATKIMÔN;O 113
'

junho de 1994. Paris: Unesca.


NOTAS 35. lo convenlion du patrimoine mo.rdiol, vingl ans aprés. Paris: Editoro Unesco, 1992, p. 12.
1. Artigo 1° do Convenção. 36. léan Pressouyre, op. cil., p. 12. ·
2. Convenção Relativo à P1oteçõo do Patrimônio Mundial, C~lturol e Natural, de 1972, qrtigo 1•. 37. Eizo lnagoki. 'Aulhenticity ln 1~ can11:1xt of Japonese wooden orchiteclure· . ln: The Wcrld
3. A respeito dos cidade~· mortos, d. documento SC/84/Conf. 004/9, Unesco, Buenos Aires, Heliloge Newslener. n• 6, p. ó-7, dezembro de 1994. Paris: Unesco.
2 de novembro de 19S4, p. ~; Diretrizes, porógrofo 27, item i. 3 8. Arligo 11, parágrafo 2•, da c;nvenç().o.
4. 'As ruínas do passado( ln: O,Correio do Unesco. Ediçóo brasileiro, n• 10, ano 16, p. 12, 39. Terminologia adorada nas sessô.es do Çomilê do Patrimônio Mundial.
outubro de 1988. Rio.peJone!ro: Fundação Getúlio Vergas. 40. Cf. página 93. X ..- ·
5. A respeito dos cidades· hlstóri~Í;,s vivos e suas espécies, Conf. documento SC/84/Conf. 41. Documento SC/84/Conf. 004,' Unesi,o. Buenos Aires, 2 de novembro de 1984, p. 8 .
004/9, Unesco, 8uen9.s Aire~: 2 de novembro de 1984, p. 6 . 42. Documenlo CC-77 /Conf. 001 (9, Un~sco, Paris, 30 de setembro de 1977, p. 4.
6. Documento SC/84/C;,nf. 00,4/9, Unesco, Buenos Aires, 2 de novembro de 1984, p. 5; 43. Sobre a teor dos debeles a resr.;eilo dg inscrição da cidade velha de Jerusalém e suas mura-
Qireltizes, porógrofo 2?, item Qi. lhas, Conf. documenta CC-81 /,Canf.,908/2, Unesco, Paris, 30 de setembro de 1981.
7. Diretrizes, porógrolos J5 o 42. 44. Ê importô'nte registrar o posicionáment9 e a .juslificolivo das delegações que marcaram pre-
8. Documento SC/84/C9,nl. 001/9, Unesco, Buenos Aires, 2 de novembro de 1984, p. 9· 1O. sença durante aquela sessão !q. docurento CC-81/Conf. 008/2, anexa IV):
9. ld., p. 6-7; Diretrizes, 'parógrajo 30. a - Abslenções: ·. ··
1O. Documento SC/84/Conf. OOj/9, Unesco, Buenos Aires, 2 de novembro de 1984, p. 7; Austrália: par considerar o regime ju1idico de Jerusalém indefinido e suo soberania, não
Diretrizes, porógrolo 3 J • · resolvid.o .. Porlonto, umo decisci~ lovorével à inscrição poderio levar o umo palilizaçõa que
11. Documento SHC/CS/\!7/5, \.)nesco, Paris, 26 de janeiro de 1968, p. 20. ameoçosse a repulaçõo e a efi~àcio cJ.o Comitê e da co,w~nção. Não obslonte, reconhece
12. Artigo 8°, poràgrofo 6~. - a grande importância do cidocji, velhq. de Jerusalém; ·
13. Artigo a•. porógrolo H. oline<J b. · Fr~nço: sem desconhecer, entre~nta, q valor universal do sírio d~ Jerusalém do ponto de visto
14. Artigo 11, parágrafo 4... do (onvenção Relativo à Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural do história, da cultura e da reli~iôo;
e Natural, de 1972. •~ !: llàlia: sem desconhecer o alio }alar ri,,ligioso !;udoico, cristão e muçulmano! e cultural dos
15. Documento CC-77/CJnl. 00\(9, Unesco, Paris, 30 de selembro de 1977, p. 3. povos daquela região. · ··
16. 'Um patrimônio mundiaj'. ln: g Correio do Unesco. Edição brasileiro, n• 10, ono 16, p. 12, b - Favoráveis:
outubro de 1988. Rio µe Jone.lro: Fundação Getúlio Vergas. Chipre: par considerar o cidade excepcional do ponto de visto religioso e cultural. Endosse as
17. Documenta SHC/MDA 7, Unêsco, Paris, 30 de junho de 1971, p. 24. argumentos da delegação jordaniana na sentido de que o inscrição não possui nenhum outro
18. lbid. . . significado a não ser nos termas abjelivodos pela convenção;
19. Documento SHC/MD/4, Unesco, Paris, 10 de outubro de 1969, p . 25. Egito: por alender ôs disposições da convenção e par considerar Jewsalém ocupada um ler·
20. Documento SHC/MD/17, Unesca, Paris, 30 de junho de 1971, p. 24. rlt6rio arábe, sobre o qual deve ser exercida a soberania árabe;
21. lnlernolianal cooperolion ln cultural affoirs. ln: RCADI, v. Ili, Jomo 198, p. 293·304, 1986. República Federal da Alemanha !hoje República Alemã):-pelo 'valar universal excepcional' que
22. Artigo 6•, paràgrofo 1•. o sitio representa, sem que essa propositura seja alribuída a um Eslado particular;
23. Arligo 29. Nepal: par razões puramente culturais, ao reconhecer o "valor universal excepcional' do bem.
24. Convenção Relotivo 6 Preleção da Patrimônio Mundial, Cultural e Natural, de 1972, orligo 6º, Esse velo favorável em algum momento pode ser considerado um reconhecimenlo do sobera-
parágrafo 1", c/c o artigo 7". nia por porte de qualquer pois;
25. lbid., orligo 6°, par6grafo 3•. Suíça: por considerar a lmportõncia cultural e histórica excepcional da cidade velha de
26. lbid., orligo 11; parógrafa s•. Jerusalém; observo, caniudo, que, em razão do plano de parlilha das Noções Unidos de
27. Convenção, /d., artigos 1° e 11, parágrafo 2º; Oirelrizes, poràgrafo 24, alínea a, 1947, Jerusalém deveria perlencer a um Estado órabe palestino independenle, nõo pertencen-
itens ia vi. do, porlanlo, nem á Jardônio nem o Israel.
28. lbid., parágrafo 24, alínea b, ilem i. c - Conlróríos:
29. lbid., parágrolo 24, alínea b, ilem ii. Estados Unidas: reconhecem o valor cultural, histórico e universal de Jerusalém, mos abm·
30. lbid., parágrafo 24. vam que essa decisão~ marcado par um cerro grau de palilizaçõa e confraria os parágralos
31. Lista do Pa!rimônio Mundial. Disponível em: http://whc.unesco/heriloge.hlm. Acesso em: 1° e 3° do artigo 11 da convenção.
19/02/03. 45. Convenção Relolivo 6 Preleção do Património Mundial, Culrural e Norural, de 1972, artigo 11 .
32. Documento CC·Bl/Conf. 003/6, Unesca, Paris, 15 de janeiro de 1982, p. 9. 46 . DireJrizes , porõgralo 24 , alinea b, item ii.
33. Oirelrizes, parógrafo 24, alínea b, ilem 1. Tradução nossa. 47. Convenção Reloliva à Preleção do Palrimônio Mundial, Cultural e Natural, de 1072, orligo
34. '.Authenlicity and lhe vvorld heriloge convention·. ln: The World Heriloge Newsleller, n• 5, p. 16, 11, parágrafo 2°.
114 FHNAND0 fUNANDfS DA SILVA
OS BENS CUITUtAJS PROTi'GlOOS PEIA CQNVENÇ,\O RaATIVA APmTEC.i.O 00 PATR~ 115
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48. /d., artigo 11 , porógr\io 6•.


49. São os co~os da cidocj~esqij!IO de Bogehorl (C 321 J. Bonglades~. em que o Comité condl· 69. Parecer do lcomos, julho de ]985, p. 2·3.
clonou a inscti,;õo d~e qll{i os ouloridodes daquele pais mudassem o !roçado de uma 70. Tombado no livro Atqueolôgii,:o, Ern,,grólico e Poisaglstico, sob número 86. em 19 de julho
rodovia profelada pot~ ser qjnstcuída no lnteclo, do bem cuhurol; e dos ruínas do moslelro de 1984, nos leemas do Declela-lei,n• 25/37.
budislo Vihora de Pah\,,pur Jq 3221. Bangladesh, inscrição odiado olé que m ouloridodes 71. Oossi~ poro instruir o inscrtçõq_ da sojuório de BomJesus de Motozinhos no lista da Patrimônio
daquele pois suspe~ssem p ptospecçõo mineral próxima do maslelro. Cf. Documenlo Mundial, p. 49. ·· .,
SC/84/Conf. 004/~, Unes~p. Buenos Aires, 2 de novembro de 1984, p. 16-18. 72. Parecer do !comas, p. 1·2.
50. A Sphan foi exllnla gela Le(n• 8 .029/90, sendo suas olribuições transferidos poro o 73. Dossiê poro Instruir o inscrl!;_ÕO dq sontu6rlo de Bom Jesus de Motozinhos no listo do
lnslilulo Bcosilei,o do'._Patrim~nlo Culturol (IBPCI. Atuolmenle, o 6,gõo federo! responsó· Polrimõnio Mundial, p. 50-5].
vai pelo proteção d~s ben~ culturais é o Instituto do Patrimônio Hisrórico e Artístico 74. Cf. página 94.
Nocional !lphon). ,. :, 75. ld., p. 47.
51. Oossiê apresentado ~lo g~rno brosileito pato if>~ir a'i~~criçõo do conjunlo orquilelõni· 76. Copílulo li.
coe urbon!sllco de O~ro Ptet.\l, eloborodo pot Lu~C3onzogo Teixeira, p. 1· 17. 77. Decrelo n• 22.928. de 12 d~ julho Je 1933-:-.
52. Cf. p6gino 93 e 94. 1 !· .l
78. Parecer do !comas, maio de 987, P· 3: .~ ~
53. O conjunto hislórico f9i lombiido primeiromente no Livro Belos·Attes, em 20 de janeiro de 79. O tt>sumo dos negociações 1,JOIO º ;.inscrição do polrimônia cultural de Brosilio consla do
1938; ptocesso 070-1;38; n(i,inero de inscricõo, 39; número do !olho, B. Posteriormente, em lelegramo enviado pelo entõ1 minisl[P dos Reloçõ;,s Exrerlores, Robe,ta de Abreu Sodré 00
15 de janeiro de 19ª6, ocojrerom dois lombomenlos: o primeiro, no livro Histórico, v. 1; ~ov~rn.odar do ~!slrito ~ede(ol, Joif Aparecido de Oliveira. Cf. dossiê poro inslr;;t 0
número de lnscrlçõoJ 512; riúmero da folho, 98; e o segundo, no l ivro Atqueológico, 1nscriçaa de Bros,l,o na Lisra ya Parr1mõnio Mundial, relex dotodo·de 1• de ·ulho de 1987
Etnográfico ~ Paisogislico; núifiero de inscrição, 98; número do folho, 47. sem numeração. · .· t ·
54. Parecer do lcomos, Poris, molo de 1982, p. 2. 80. Essa decisão consro do lelex ~nviodo pelo então ministro dos Relações Exreriores. Roberto da
55. lbid., p. 1. i :'. , Abreu Sodré, ao governador pa Dis!(ito Federal, Jos~ Aparecido de Oliveira darodo de 1•
56. Dossiê poro instruir o frimiçõ<J do centro histórico de Olinda no Lisro do Polrimônio Mundial, de julho de l 987. . :; '
caderno n• 1, anexo ~. ilem ;?: 'Jus~ficolivo do inscriçã o no 'lisro do Polrimãnio Mundial' - 8 1. O lexlo do decreto foi public~do nQ Diário Oficio/ do Ois/rito Federal de 14 de aulubro de
Bem Cultural', p. 59·; :i 1987, p. 194-195.
57. Dossiê poro lnWulr o ipscriçãy do cenlto histórica de Olinda no listo da Porrimõnio Mundial, 82. O plano piloto de Brosilia é Y.efinidq pela lei n• 3.75 1 de 13 abril de 1960.
caderno n• 1, anexo i.>, ilem .5: 'J11slilicalivo da inscrição no 'lislo do Patrimônio Mundial' - 83. Decreto n• 10.829/87, orligr, 2•. ·
Bem Cultural", p. 57. ( • 84. Tombado sob o denominação 'Conjunro Urbonístiço de Brasília Construido em Decotrêncio
58. Parecer do Icemos, P~[is, ma~o de 1982, p. 2. d? Plano-piloto', em 14 de 1porço ~e 1990, processo 1.305·T·90; livro Histórico. v. 2,
59. lniciolmenle, o ocervq_orquilajônico e urbanístico do cidade de Olinda foi tombado nos ler- numera de folho, 17; número·pe insçriçõo, 532.
mos da Decreto-lei n• 25/37, no livro Belas·Arles, 1, sob o número 487, em 19 de abril 85. Expressão c~nhado por Ant0nio Pedro Alcântorc em parecer proferida em nome da
de 1968; e no mesmo dolo, no livro Hlsr6rico, 1, sob o número 412; livro Arqueológico, Coordenodono de Proleçõo do Sphan, em 20 de fevereiro de 1990. favoróvel 00 tombo·
Etnogr6fica e Paisagístico, sob o número 44. Quonlo o este último, outro tombamento foi rea- mente do plano piloto. CI. Processo de lambomenlo instaurado pelo Sphan, p. 6<!-7 l .
lizada para ampliar o 6rea prolegida em 4 de junho de 1979, Inscrita sob o número 75, 86. CI. Parecer do ICOMOS, selembro de 1997, p. 6.
no livro Arqueológico, Ernogr6fico e Poisagislico. 87. lbid., p. 7.
60. lei n• 6.863, de 26 de novembro de 1980, publicada no DOU em 27 de novembro de 88. lbid., p. 6.
1980. 89. lbid., p. 9 (tradução livrei.
6 1. Oossfê pato insltuir a inscrição do cenlro histórico de Olinda no lislo do Patrimônio Mundial, 90. Cf. pagino 93.
caderno n• 2, p. 41·53. 91. CI. pagino 94.
62. lei Municipal n• 4 .11 9/79, artigo 2•, 1. 92. Cf. p6glno 94.
63. lbid., orligo 10, copul. 93 . Cf. Parecer do lCOMOS. setembro de 1999. p. 38.
64. lbid. , artigos 14 o 23. 94. tbid.. p. 42.
65. lbid. , artigos 24 o 28. 95. Cf. página 93.
66. Cf. p6gino 94. 96. CI. p6gino 94.
67. Dossiê poro instruir o Inscrição do cenlra histórica de Salvador no lisla do Patrimônio Mundial, 97. CI. Parecer do !COMO$, serembro de 2001, p. 6.
ilem 5: 'Juslificdtivo da inscrição no 'Lislo do Palrimõnio Mundial' - Bem Cultu1ol'. p. 91 . 98. lbid., p. 9.
66. Jbid., p. 92. 99. Convenção Relolivo ó Ptoléçõo da Potrimõnio Mundial, Cultural e Natural, de 1972. artigo
1 l, patógrofo 4°.

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