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E MUSEOLOGIA
COMPARTILHADA
Manuel Lima Filho
Nuno Porto
Universidade Federal de Goiás Comissão Editorial da Coleção Diferenças
Luis Felipe Kojima Hirano
Reitor
Camila Azevedo de Moraes Wichers
Edward Madureira Brasil
Alexandre Ferraz Herbetta
Vice-Reitora Carlos Eduardo Henning
Sandramara Matias Chaves Janine Helfst Leicht Collaço
Revisão
Ana Godoy
»» Prefácio......................................................................... 11
Nuno Porto
Manuel Lima Filho
Renato Athias69
Considerações iniciais
Este texto70 visa apresentar alguns elementos para um debate
sobre objetos xamânicos, objetos do mundo dos encantados, que
se encontram patrimonializados em instituições museais. Essa dis-
cussão não é nova –, em outro texto chamei de objetos vivos –, e já
está em pauta faz algum tempo tanto no Brasil quanto no exterior
(Athias, 2016a), principalmente no tocante aos estudos sobre his-
tória dos deslocamentos de objetos etnográficos para museus, e, so-
bretudo, relacionados a processos de patrimonialização, fazendo eco
Problematizando
Em outubro de 2017, faleceu Kuhêkê, o Krahô que tinha a
responsabilidade de guardar a famosa machadinha Kàjré dos Krahô,
que foi restituída à comunidade em junho de 1986, pelos gestores
do então Museu Paulista, após uma série de solicitações, gestões po-
líticas e de demandas concretas de restituição levadas a termo pelos
Krahô, liderados por personalidades importantes como Pedro Penõ,
pai de Kuhêkê. Esse processo de restituição de um objeto etnográ-
fico de um museu para o povo indígena foi o primeiro realizado até
então, para registrar esse fato.
Esse machado de pedra, denominado pelos Krahô de kàjré,
havia sido retirado da aldeia Pedra Branca, atualmente localizada no
nordeste do Estado do Tocantins, e levada ao Museu Paulista pelo an-
tropólogo Harald Schultz. Evidentemente, os Krahô conhecem muito
bem os detalhes desse deslocamento, dessa viagem da machadinha, e
os mantiveram na tradição oral do grupo, elemento importante, que
certamente facilitou a organização da demanda de restituição.
Figura 2 - Kuhêkê, o guardião da Machadinha Krahô
Referências
ABREU, Regina. Patrimônio Cultural: tensões e disputas no contexto de
uma nova ordem discursiva. In: LIMA FILHO, M. F.; BELTRÃO, J. F.;
ECKERT, C. (Orgs). Antropologia e Patrimônio Cultural: Diálogos e Desa-
fios Contemporâneos. Blumenau: Nova Letra, 2007.
LAGROU, Elsje Maria. O que nos diz a arte Kaxinawá sobre a relação
entre identidade e alteridade? Revista Mana, Rio de Janeiro, v. 8, n. 1,
p. 29-61, 2002.