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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO

LICENCIATURA PLENA EM HISTÓRIA (NOITE)

HISTÓRIA ANTIGA I

SOFIA CRISTINA PEREIRA DA SILVA

RESENHA CRÍTICA DOS DOCUMENTÁRIOS SOBRE EGITO


ANTIGO & MESOPOTÂMIA (SUMÉRIA)

Recife

2024
1- INTRODUÇÃO

1.1 – EGITO ANTIGO: CRÔNICAS DE UM IMPÉRIO

De início, analisando o material sobre o Egito Antigo sumariamente, é possível observar


que, em suas 48 partes, o documentário apresenta bastante clareza e boa
transmissibilidade dos conhecimentos egiptólogos com uma linguagem acessível e
didática. Através de um vasto acervo de imagens, vídeos e até mesmo reencenações de
episódios relevantes de sua cronologia, contando também com falas de pesquisadores e
especialistas na área, a obra apresenta a história do Egito Antigo desde antes da
unificação de Narmer, e segue a trajetória do vale do Nilo até Cleópatra, com
abordagens bastante aprofundadas sobre temas como: aspectos geográficos, religião, os
notáveis rituais de sepultamento, protagonismo feminino, dentre muitos outros.

1.2 – CIVILIZAÇÕES PERDIDAS – MESOPOTÂMIA: RETORNO AO ÉDEN

Em seus 46 minutos de duração, o sexto episódio da série Civilizações Perdidas, do


Discovery Channel, desenvolve, de forma um tanto sucinta, a relação entre a cultura
babilônica e as escrituras bíblicas, depois, trata, também muito laconicamente a fase
assíria da região do Tigre e Eufrates, e por último, traz um pouco da história dos
Sumérios, e seus mais notáveis legados para o mundo.

2 - MÉTODO

Para formular os aspectos que serão abordados nesta resenha, foram feitas anotações
sobre os pontos principais que os documentários transmitem, bem como referências às
citações feitas pelos pesquisadores durante as obras. Após isso, as informações serão
sintetizadas no texto a seguir, com o intuito de tecer uma crítica, assim como também
apontar as mais fundamentais semelhanças e diferenças.

3 – RESUMO

3.1 - EGITO ANTIGO: CRÔNICAS DE UM IMPÉRIO

O audiovisual se inicia a partir da descrição e análise das pinturas rupestres do vale do


Nilo, de quando ainda nem sequer sonhava em ser o Kemet (Egito). Logo no começo, e
durante todo o documentário, a importância da bacia do Nilo para o Kemet é enfatizada
com bastante vigor. É desenvolvido também, como os egípcios utilizavam de técnicas
de irrigação, sua relação com as enchentes e secas, o uso do rio para transporte de
cargas e até sua influência no calendário. Em seguida, o filme trata questões do Estado
egípcio e o sistema de governabilidade faraônico, no qual destaco a fala do pesquisador,
também egípcio, Tarek Tawfik: “O antigo Estado egípcio, desde o início, é um estado
nacional. Isso o diferencia de seus arredores. Naquela época, havia, principalmente,
cidades-estados, por exemplo a Babilônia, na Mesopotâmia. O Estado nacional do Egito
era muito distinto, porque estava no mesmo solo, com um só povo, e isso permaneceu
por 31 dinastias, por um período de quase três mil anos”.

O Kemet era composto de aproximadamente 42 nomos, onde cada um possuía um


comandante próprio, que reverenciava o Faraó, monarca e divindade. Sua extensão
territorial vai desde o delta da bacia do Nilo, até a Núbia, no nordeste africano.

Fonte: Blog Prof. Raphael


O primeiro imperador, Narmer, foi o responsável por unificar as regiões Norte (baixo
Egito) e Sul (alto Egito), através de batalhas que duraram anos. Sua coroa era composta
pelo ornamento tradicional das regiões do norte e sul. Juntas, representava uma imagem
de um Egito uno.

Fonte: Vida no Egito

Salvo em períodos de forte agitação social, o Egito era, em maior parte do tempo, um
governo centralizado. A religião politeísta possuía deuses que representavam as forças
da natureza (Rá = Sol; Anubis = Morte; Aton = Luz; Amon = Deus dos Deuses, etc).
Aspectos religiosos também envolviam a presença de figuras antropozoomórficas (meio
humana, meio animal), frequentemente usados como elementos legitimadores do
governo de um Faraó – usualmente esculpidos posando junto com esses elementos -
visto que isso significava que tal governo era validado pelos deuses. É também
mencionado no documentário que este fenômeno social também foi presente nos
impérios europeus das eras seguintes.

Fonte: Pinterest

Entretanto, assim como diversas crenças que perduram até hoje, o mito da criação
também é presente na cultura egípcia. Resumidamente, nela dizia que o Caos
predominava no mundo, até que Áton sai de dentro de um ovo, e Rá dá à luz a terra.
Muitos faraós durante o longo percurso do Egito incorporavam o nome das divindades
que eles adoravam aos seus próprios nomes, afirmando ser descendentes direto delas,
como por exemplo, Akenaton e Tutankâmon.

No entanto, é impossível falar sobre o Egito Antigo, sem mencionar a última


sobrevivente das 7 maravilhas do mundo antigo, as pirâmides. O documentário faz
questão de dedicar muito de sua atenção a essa temática. Construídas para servirem
como túmulos dos faraós e dos altos funcionários do governo - que acreditavam no
conceito de vida após a morte - as mega construções das pirâmides não foram feitas
logo na primeira tentativa. Com mais de 100 metros, a primeira tentativa de construir
uma pirâmide resultou num aspecto escalonado, em degraus. Em seguida, foi feito uma
pirâmide curva, na qual apresentou erros em seus cálculos de angulação. Por fim, a
primeira bem-sucedida Pirâmide Vermelha foi construída em Gizé, onde abrigou o
corpo do faraó Snefru. Entretanto, seu filho, Khufu (ou Quéops), era mais ambicioso, e
mandou erguer, também em Gizé, uma construção ainda maior: com 147 metros, era a
mais alta edificação que se possuem registros, daquele tempo. Elas não somente serviam
como verdadeiros templos do além-vida dos governantes, bem como foram importantes
para o sentimento de união do povo kemetiano.

Fonte: Ricardo Liberato / Wikipedia

Também imbuída na crença do pós-morte/além-vida, eram feitas nas mais importantes


personalidades da realeza, o processo de embalsamamento e mumificação. É
incomensurável a significância dos corpos mumificados para o estudo da história e da
arqueologia, como também para o presente. Aproveitando-se do natural conservação dos
corpos pelo clima quente e seco do deserto do Saara, os egípcios desenvolveram
técnicas de preservação dos cadáveres que demoravam dias para serem finalizados, e
juntamente com pão, vinho e itens de ouro, levavam o morto a vida pós morte com mais
conforto. O historiador Oliver Gauert sintetiza com precisão a crença dos povos do
Nilo: “Os egípcios tentavam preservar corpos humanos do melhor jeito possível, porque
eles acreditavam que o componente não-físico do ser humano só viveria se existisse
uma ancoragem física nesse mundo, e, para isso, o corpo tinha que ser preservado.”

Fonte: O Globo

No que tange as mulheres, a obra destaca o grande peso que exerciam nos campos
políticos e sobretudo religioso, por exemplo, as Esposas de Amon, que tinham a tarefa
de cuidar das necessidades da divindade na terra. Regine Schulz fala “Durante a XXVª
dinastia, sob domínio dos reis núbios, elas desempenharam um papel crucial. Elas eram
filhas de reis, e sua importância alcançaria o apogeu no império tebano. Como Esposas
de Amon, elas tinham não somente relevância religiosa, mas também política. O poder
delas era incrível, e pode ser equiparado ao dos líderes religiosos modernos. Sua enorme
influência tanto na religião, quanto na política, não deve ser subestimada de jeito
nenhum”. O audiovisual também evidencia Nefertari, escriba e esposa de Ramsés II. Ela
foi uma grande influencia na política das relações exteriores do Kemet, tendo auxiliado
diretamente na criação do primeiro tratado de paz entre os hititas e os egípcios.

Perto do final, a obra foca no declínio do império egípcio, com as crescentes invasões
persas no século V a.C, e alexandrinas no século III a.C., que puseram um fim ao
longínquo Antigo Egito. Primeiramente, aborda rapidamente a invasão persa e seus
impactos na cultura, como a mudança do meio de transporte do burro para o camelo, e
melhorias na infraestrutura hidráulica. No que diz respeito a invasão de Alexandre, sua
maior consequencia foi a construção da cidade portuária de Alexandria, que trouxe
novas agitações multiculturais ao tão antigo Egito. Também é útil destacar a criação de
novos deuses, como um sincretismo entre as crenças egípcias e gregas. A morte de
Alexrandre, e a divisão do seu império entre os generais resultou no que viria a ser a
última dinastia do Kemet, a dinastia de Ptolomeu.

Fonte: Revista Galileu

Outro assunto que é indispensável abordar quando se trata sobre o Egito, é a figura
enigmática de Cleopatra, a última faraó. Com sua inteligência e perspicácia, Cleopatra
seduziu os imperadores romanos Julio Cesar e Marco Antonio para conseguir recuperar
a autonomia do povo egípcio, que estava sob ameaça dos romanos. Após obter sucesso,
e governar brevemente o Egito final, sua imagem mundo afora era de uma prostituta.
Por muitos séculos, sua figura fora resumida a como a de uma messalina. Contudo, toda
a história do Kemet antigo morre um pouco quando Cleopatra comete suicídio, após ser
ameaçada por Otaviano, filho de Marco Antonio. Logo após a morte da última faraó, o
que era uma vez um império forte, imponente e acima de tudo, longevo, viraria uma
província do vasto e novo império romano.
Fonte: Wikipédia

Por fim, o documentário pincela brevemente sobre a Núbia, hora importante parceiro
comercial do Egito, hora inimigo militar. É provável que o ouro utilizado no dia a dia da
realeza tenha sido originado de lá. O povo núbio não deixou muitos registros escritos.

3.2 - CIVILIZAÇÕES PERDIDAS – MESOPOTÂMIA: RETORNO AO ÉDEN

Começando com shots do que se assemelham ao Jardim do Éden, numa honrosa menção
ao título do filme, o documentário aborda a Mesopotâmia numa perspectiva
decrescente, da história mais recente do período antigo (Babilônia), passando pelo
período médio (Assíria), e finalizando com o mais primitivo (Suméria). Sua descrição
dos babilônicos se limita a assimilações com os livros da bíblia, onde informam sobre
passagens que se situaram nas terras entrerrios, e uma rápida menção ao Código de
Hammurabi. Interrompendo abruptamente, o assunto muda para os Assírios, onde é
brevemente mencionado seus métodos violentos de guerra e sua rica ourivesaria, além
de passear brevemente sobre a tirania, porém novamente sendo interrompido na metade.
Contudo, os Sumérios tomam conta do documentário, nos últimos 15 minutos de tela,
que começam abordando a primeira obra literária já achada: a Epopeia de Gilgamesh. O
poema, que precede a bíblia por mais de dois mil anos, muito se assemelha a parábola
da Arca de Noé e do Dilúvio.

Dentre as invenções sumerianas, o audiovisual cita alguns: a roda, o governo,


jardinagem, o minuto de 60 segundos, o conceito da adolescência problemática e, claro,
a escrita.
Logo após, conta uma história sobre a cidade perdida de Ur e a tumba real (também
perdida), que conta com reencenações de como teria sido a morte das pessoas que foram
encontradas nesse último: Em um ritual de sacrifício, aprox. 75 pessoas da realeza
tomaram veneno, e morreram por ali. Suas ossadas só seriam descobertas após 5 mil
anos depois.

Finaliza descrevendo Bahrain, o que seria o “Paraíso na Terra”, que muito se parece
com a ideia do Éden, com rica fauna e flora e rodeada de água, e por ser uma ilha,
diferentemente do deserto onde se encontra a Mesopotâmia. O shot final é o mesmo que
o inicial.

4 – SEMELHANÇAS E DIFERENÇAS

Tendo como fonte os dois documentários para análise de semelhanças e diferenças entre
a sociedade egípcia e sumeriana, é necessário pontuar o contraste entre a quantidade de
informações trazidas pelas duas fontes, visto que uma possui 4hrs de duração, e a outra,
meros 15 minutos. No entanto, trarei algumas informações que também foram
fornecidas nas aulas.

SEMELHANÇAS EGITO x DIFERENÇAS EGITO x SUMÉRIA


SUMÉRIA
Estabeleceram-se em ambiente desértico A civilização egípcia durou mais do que a
suméria.
Dependiam do(s) rio(s) para o seu Na Suméria, os rios inundam antes da
funcionamento colheita, e no Egito, inunda depois da
colheita
Politeísmo No Egito, existe a vida após a morte, na
Suméria, não.
Presença de divindades benignas e No que diz respeito a governabilidade, a
malignas (Anu/ Marduk e Seth/Aton) Suméria possuía um governo
descentralizado, enquanto o Egito era
centralizado.
Sistema de irrigação avançado Apesar de ambas terem um sistema de
irrigação avançada, os Sumérios
dominavam mais a técnica.
Trigo e cevada como principais produtos Na Suméria, o comércio tinha mais
agrícolas intensidade.
Ambas possuíam escrita Escrita cuneiforme x escrita hieroglífica

5 – CRÍTICAS

5.1 – EGITO ANTIGO: CRONICAS DE UM IMPERIO

Minha primeira crítica ao doc. “Egito Antigo: Crônicas de um Império”, é sobre o


formato disponibilizado. Possuindo 48 partes de 5 minutos, o maior desafio não são as
frequentes pausas, mas sim, os anúncios no começo de cada vídeo que prejudica a
concentração de quem assiste. Fazendo uma conta rápida: multiplicando 48 por 5, dá
240, dividindo por 60, dá 4. São 4hrs de documentário, com frequentes pausas
procedidas por anúncios publicitários. Diria que estraga um pouco a experiência de
quem assiste.

Ainda sobre o documentário sobre o Egito, redireciono minhas críticas a composição do


elenco que interpreta os faraós egípcios: quase todos são brancos. Influenciados por
uma perspectiva eurocêntrica e hollywoodiana, ainda permeia na sociedade a ideia de
que o povo kemetiano não era negro, o que já fora provado como falácia. O povo
egípcio era preto, então, nada mais justo que interpretá-los dessa forma. Diante de tanto
aprofundamento trazido no documentário, a abordagem de diversos temas que são
relevantes até os dias de hoje, não entendo o porquê de não escolherem atores pretos
para interpretar os faraós e os kemetianos. Não somente nesta produção, mas também
em outras produções que visam mostrar o Egito.

Novamente, dentro dessa perspectiva, boa parte dos pesquisadores trazidos também são
em sua maioria, brancos e europeus. Salima Ikram, e Tarik Tawfik são uns dos poucos
nativos que estão presentes contando sua própria história. É importante delegar aos
africanos, e mais especialmente, aos egípcios, o domínio de sua própria história, e
sobretudo, o conhecimento sobre sua cor.

5.2 - CIVILIZAÇÕES PERDIDAS – MESOPOTÂMIA: RETORNO AO ÉDEN


Interrupções abruptas, foco demasiado no cristianismo, abordagens rasas caracterizam o
documentário “Civilizações Perdidas – Mesopotâmia: retorno ao Éden”. Os primeiros
22 minutos – de um vídeo de pouco mais que 45 minutos – são sobre a influência cristã
na ciência da arqueologia, e um pouco sobre a relação entre a babilônia e os escritos
bíblicos. Pouco se fala sobre a babilônia como um povo sem mencionar as escrituras
judaico-cristãs. A fala do narrador sofre um corte seco, no minuto 22:19, quando uma
imagem de flechas invade a tela. De repente, o assunto muda, e agora se fala sobre os
assírios. Também gostaria de compartilhar aqui, a mesma crítica sobre os pesquisadores
e os atores que aparecem nesta produção serem brancos. Dez minutos são reservados
para falar sobre os assírios. Do minuto 32:30 até o final do documentário, é apenas
exposto – e de nada aprofunda – sobre os sumérios. Muitos de seus legados são apenas
citados, sem ter uma boa dissertação sobre eles. Por fim, o foco desliza um pouco para
Bahrain, que fecha o doc com as mesmas cenas que se inicia.

Em suma, a disposição das cenas, e a visão/forma de se contar as histórias foram as


mais passíveis de críticas nesta resenha.

REFERÊNCIAS

https://www.youtube.com/watch?v=eUGt_7Q-HeA

https://youtube.com/playlist?
list=PLAr322Yg8UkDxwlEIgvRqXgxsB2xl5zmI&si=mLZUg4MUR-4BQzlk

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