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INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO BRASILEIRO

MARIA DA CONCEIÇÃO BELTRÃO

RUÍNAS DO CONVENTO DE SÃO


BOAVENTURA- VILA DE SANTO
ANTÔNIO DE SÁ: SÍTIO
ARQUEOLÓGICO FAZENDA MACACU

BELTRÃO​, Maria da Conceição


RUÍNAS DO CONVENTO DE SÃO BOAVENTURA- VILA
DE SANTO ANTÔNIO DE SÁ: SÍTIO ARQUEOLÓGICO
FAZENDA MACACU
R. IHGB, Rio de Janeiro, a. 169 (439): 101-112,
abr./jun. 2008

Rio de Janeiro
abr./jun. 2008
Ruínas do convento de São Boaventura - Vila de Santo Antônio de Sá:
Sítio arqueológico Fazenda Macacu

RUÍNAS DO CONVENTO DE SÃO BOAVENTURA - VILA


DE SANTO ANTÔNIO DE SÁ: SÍTIO ARQUEOLÓGICO
FAZENDA MACACU

Maria da Conceição Beltrão 1

Introdução

Ruínas do convento de São Boaventura

A propriedade, antiga Fazenda Macacu, onde estão as ruínas do con-


vento, pertencia a particulares e hoje, de propriedade da Petrobras – Pe-
tróleo Brasileiro S.A. será o local de instalação do Comperj – novo com-
plexo petroquímico do Rio de Janeiro.
O local se apresenta, enquanto objeto de estudo, como de grande
diversidade cultural, tanto de bens materiais quanto imateriais, com po-
tencial de contribuição em diversas áreas e com diferentes enfoques: o
processo de desenvolvimento do Rio de Janeiro; as características eco-
nômicas e o papel da Vila de Santo Antônio de Sá; as características eco-
nômicas vigentes entre o século XVI e século XIX; o transporte fluvial e
o impacto da introdução das vias férreas na economia do Rio de Janeiro;
as características das construções religiosas franciscanas; a formação re-
ligiosa no período colonial, dentre outros. Aspectos desta representativi-
dade e diversidade cultural serão ilustrados, a seguir.
A memória popular do local registra a lenda de que três potes de ouro
teriam sido enterrados no Convento quando de seu abandono. Essa lenda
1 -1 Sócia Titular do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro

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provocou a vandalização do local e dos restos mortais – provavelmente


frades e autoridades locais – que estavam enterrados na capela na Ordem
Terceira e, possivelmente, também na da Ordem Primeira.
A região apresenta ainda uma importante faceta da vida religiosa
nacional. Frei Galvão (1739-1822) era já desde muito, segundo a crença
popular, um santo capaz de realizar milagres e, em 2007, tornou-se o
primeiro santo brasileiro. Em 1761, Frei Galvão, com pouco mais de 20
anos, se mudou para o noviciado da Província Franciscana da Imaculada
Conceição que funcionava no Convento de São Boaventura de Macacu e
lá esteve por dois anos antes de se transferir para São Paulo. É em Macacu
que Frei Galvão presta seus votos. Frei Galvão é conhecido e acredita-se
que suas pílulas milagrosas – pequenos pedaços de papel com dizeres em
latim – produzam milagres.
O levantamento e estudo dos vestígios arqueológicos pré-coloniais e
históricos existentes visam ao reconhecimento da história local e regional
especialmente dada a inexistência de trabalhos de investigação anteriores
e conseqüente integridade do sítio. As prospecções e a pesquisa arqueoló-
gica visam buscar os subsídios para o conhecimento da história do local,
identificando a Vila de Santo Antônio de Sá – a segunda mais antiga do
Rio depois naturalmente da cidade do Rio de Janeiro até o séc. XVIII –
que se localizava à frente do convento de São Boaventura e era formada
pela casa da Câmara e a cadeia, a Igreja Matriz de Santo Antônio de Sá
e conjunto de casas térreas e sobrados, com vistas à constituição de um
museu a céu aberto. Será coletado material para análise, estudo e emba-
samento histórico da Vila e da região e a busca de sua representatividade
no processo de colonização e período colonial brasileiro.
As ruínas do Convento foram tombadas pelo Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional - Iphan - em 1980 e, posteriormente, foi
tombado também a nível estadual e municipal. O Sítio Arqueológico Fa-
zenda Macacu igualmente foi registrado nos Livros do Tombo do Iphan,
em 2000.

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Histórico da Região

Macacu
Bacia Clacaria de São José

Desde longa data, o homem pré-histórico habitava a região não só


de Itaboraí mas também as regiões circunvizinhas. Especificamente, no
município de Itaboraí, há uma riqueza de sítios arqueológicos e, dentre
estes, destacamos a depressão calcária de São José de Itaboraí e inúmeros
sambaquis e aldeias de índios Tupi-Guarani e, nas serras ao fundo da
planície, os Puri Coroado que integravam o tronco lingüístico Macro Jê.
Diversas ocorrências, ainda, de desenvolvimento da ocupação do territó-
rio e do período colonial ocorrem na região.
O primeiro e mais conhecido sítio localiza-se na Bacia Calcária de
São José de Itaboraí, sitio pré-histórico, é de excepcional importância por
ter sido considerado como do Pleistoceno Médio. Itaboraí é, sem dúvi-
da, o sítio arqueológico de maior profundidade e extensão temporal das
Américas, tendo várias dezenas de metros de profundidade e é composto
por camadas sedimentares cuja área fonte não mais existe. Aí, o homem
conviveu com espécimes da fauna pleistocênica tais como mastodontes,
preguiça gigante e tartaruga gigante.
Sambaquis são sítios conchíferos mais recentes de idade entre 8.000

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anos a.p.1 e 3.000 anos a.p.


Existem outros sítios que foram ocupados por outros grupos ain-
da mais recentes : aldeias de 1.000 anos antes da descoberta: os Tupi-
Guarani. Os vestígios arqueológicos relacionados aos Tupi-Guarani são
representados na área pelas aldeias e pelos acampamentos para a coleta
de moluscos.
A Baía de Guanabara, com grandes extensões de florestas densas,
protegida dos ventos e com boas “aguadas” (Mendes, 1969), correspon-
dia a uma das áreas do litoral mais densamente povoadas por indígenas e
de interesse estratégico dos europeus.
Nos primeiros anos após a fundação da cidade de São Sebastião do
Rio de Janeiro, a conquista das terras do lado esquerdo da Baía de Guana-
bara ocorreu de forma lenta, pois os tamoios continuavam a atacar os co-
lonizadores, utilizando a rede de caminhos que ligavam as aldeias. Con-
forme ocorria a conquista destas terras, sesmarias foram estabelecidas
no entorno da baía, assim como foram fundados aldeamentos indígenas
localizados estrategicamente para a defesa da cidade do Rio de Janeiro.
1 -1 a.p. – antes do presente.

Ruínas do convento de São Boaventura


Entre as terras recebidas pelos jesuítas no Rio de Janeiro, a mais im-
portante parece ter sido a de Macacu2, em 1571, correspondendo a doze
mil braças de ambas as partes do rio Macacu.
2 -1 As ruínas distam aproximadamente 70 km da cidade do Rio de Janeiro.

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A prática dos jesuítas era estabelecer suas terras e as dos aldeamen-


tos sempre próximas, o que resultava na fusão destas em termos da mo-
vimentação das populações indígenas na utilização de recursos naturais e
na dinâmica de trabalho para manutenção da Companhia de Jesus em ter-
ras brasileiras. A região do rio Macacu, onde se encontrava a propriedade
dos padres, é caracterizada por grandes manguezais (Área de Proteção
Ambiental – APA – de Guapimirim), que desde o século XVI é descrita
pelos cronistas franceses e portugueses devido à constante presença dos
indígenas para a coleta de ostras. A vegetação predominante nas áreas
elevadas, que correspondem às serras e morros, era a do tipo Floresta
Ombrófila Densa (Mata Atlântica) que, ao se aproximar de Maricá, entra-
va em contato com a restinga.
As terras próximas ao rio Macacu eram consideradas as melhores
para o plantino no entorno da Baía de Guanabara e atendia às necessida-
des de subsistência das populações que ai viviam. Também apresentavam
os recursos naturais mais apreciados por estas comunidades, moluscos e
peixes, complementados pela caça. Consta que em março de 1579 foram
solicitadas terras ainda devolutas no Macacu, em nome dos índios, sur-
gindo o aldeamento de São Barnabé. Eles costumavam freqüentar a lagoa
de Maricá para suas pescarias, e a área entre os rios Macacu e Guapi, onde
se observa hoje a presença de dezenas de sítios arqueológicos registrados,
principalmente no lado direito desse rio.
A importância da coleta de mariscos e a pesca para as populações
indígenas, mencionados por diversos cronistas e missionários, eram ativi-
dades com as quais os colonos também se beneficiavam para subsistência
dos índios cativos.
No século XVIII, várias propriedades rurais desenvolveram-se nas
adjacências do Macacu, prosperando como único núcleo urbano a vila
de Santo Antônio de Sá, com seu Convento franciscano de São Boaven-
tura. A vila era a mais próspera nesta região extremamente pantanosa, e
correspondia à sede de comarca cuja jurisdição também abrangia a Vila
de Magé.

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Histórico da Vila de Santo Antônio de Sá

Torre Sineira e Ruínas do Convento de São Boaventura

A Vila de Santo Antônio de Sá e o Convento de São Boaventura,


com uma história quase tão antiga quanto a chegada dos colonizadores,
retratam a estreita relação entre a Coroa Portuguesa e a Igreja Católica
no processo de colonização do território brasileiro. O Rio Macacu era o
mais importante que desembocava a nordeste do recôncavo da Baía da
Guanabara. Este rio era a via de escoamento de toda a produção agrícola
da região com destino direto à cidade do Rio de Janeiro. A localização
de uma vila às margens do Rio Macacu era economicamente muito in-
teressante, pois as vias fluvial e marítima eram as melhores opções de
transporte da época.
A Vila remonta a 1567, com a concessão de uma sesmaria a donatá-
rios em terras banhadas pelos rios Macacu e Cassarebu. A doação de ses-
marias fez parte do projeto de colonização portuguesa na Colônia depois
da primeira invasão francesa. Posteriormente, as terras foram doadas aos
jesuítas. Entre as terras recebidas pelos jesuítas no Rio de Janeiro, a mais
importante parece ter sido a de Macacu, doada por Miguel de Moura, es-
crivão da Fazenda d’El-Rei, em 1571, correspondendo a doze mil braças
de ambas as partes do rio Macacu (Serafim Leite, 1938). Pelos marcos
dos jesuítas descritos no documento de redemarcação no século XVIII,
estes ficaram com as terras da margem esquerda do Macacu, não incluin-
do as áreas do Caceribu, já que nos séculos XVI e XVII sesmarias foram
concedidas nestas áreas do Caceribu e tambem em Tapacoará (posterior-
mente S. Antônio de Sá e S. João de Itaboraí).
Na primeira sesmaria, fixou-se um povoado que se tornou Freguesia

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em 1612 com a construção de uma capela3 e permissão para a construção


de uma Igreja Matriz com pároco residente para ministrar os sacramen-
tos. A Capela, que dará origem à Igreja Matriz de Santo Antônio de Sá, foi
elevada a Paróquia em 1644, constituindo-se em uma das quatro primei-
ras criadas no recôncavo do Rio de Janeiro. Assim, Santo Antônio de Sá
foi a primeira povoação do Rio de Janeiro erigida em vila em 1697.
É possível que a importância econômica da região possa ser atribu-
ída ainda à descoberta do ouro no final do século XVIII e que a situação
da Vila apresentasse vantagens estratégicas pois, com a construção do
Caminho Novo para as Minas, a produção aurífera passa a ser escoada
pelo fundo da Baía da Guanabara. Ao tornar-se vila, a presença do Estado
se faz sentir, com a construção de um pelourinho em praça pública e uma
Casa de Câmara e Cadeia.
A região, rica em madeira, tem na sua extração importante fator eco-
nômico e significativo para o desenvolvimento e a economia local com
importância equiparada à agricultura representada pela lavoura da cana-
de-açúcar. No último quarto dos setecentos, o distrito de Santo Antônio
de Sá era o maior produtor de tábuas da Capitania fluminense.
Com o crescimento da população, foi construído um convento no lo-
cal, o de São Boaventura, que começou a ser erguido em 1660. A emprei-
tada era ambiciosa – só de fachada são 75 metros – e levou dez anos para
ser concluída. Trata-se da quinta construção desse tipo feita pela Ordem
dos Franciscanos do Brasil.
O Convento era dedicado à formação de religiosos e servia também
de abrigo para os frades que pregavam na área. Mas o seu principal obje-
tivo era a conversão dos índios. De acordo com as pesquisas, tamoios, tu-
pinambás, tupiniquins, puris e coroados viviam na região. E muitos deles
não aceitavam a presença dos frades, menos ainda a catequese que lhes
era imposta pelos religiosos.

3 -1 A construção de uma capela era a primeira providência para que uma localidade se
torne freguesia. Freguesia era sinônimo de paróquia – território sob jurisdição eclesiásti-
ca; esta torna-se candidata a vila com a residência de um pároco.

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A Freguesia tornou-se Vila em 1697, com o nome de Santo Antônio


de Sá, a segunda a ser fundada no Estado e a primeira do interior sendo
rota de penetração, um ponto de passagem importante para as tropas que
iam para o interior e também para as Minas Gerais. Rapidamente tornou-
se um importante entreposto comercial, abrangendo os atuais municípios
de Magé, Itaboraí e Rio Bonito.
As chamadas febres de Macacu (epidemias de cólera, malária e fe-
bre amarela) ocorreram entre 1828 e 1829, e logo depois em 1836. Com
as péssimas condições sanitárias locais e enchentes freqüentes, boa parte
da população, inclusive a religiosa, foi dizimada.
Paralelamente, novas rotas de acesso ao interior do Estado e, prin-
cipalmente, a Minas Gerais, foram sendo abertas, condenando a região
ao esquecimento. A vila entrou em franca decadência e, em 1868, a sede
do município de Santo Antônio de Sá foi transferida para “o arraial” da
freguesia de Sant’Anna de Macacu e, em 1875 a freguesia de Santo An-
tônio de Sá é anexada ao município de Itaboraí. Em 1872, o convento foi
fechado.
Nas proximidades do Convento, segundo os registros históricos, es-
tariam situados os remanescentes de uma cadeia, um cemitério, um pe-
lourinho, uma forca, além de outras construções da vila. Os pesquisadores
estão dispostos a encontrar essas construções e recuperar partes perdidas
da história do lugar, que começou a ser abandonado no século XIX. As
alfaias do Convento foram redistribuídas entre igrejas do Rio.

Metodologia

A diretriz conceitual e estas primeiras ações de pesquisa configura-


ram os ajustes do escopo, a integração das equipes multidisciplinares e a
definição das atividades e respectivas etapas. Nesta seqüência inicial, as
fases de execução foram planejadas de modo a efetivar as conexões me-
todológicas da Arqueologia às pesquisas históricas e aos trabalhos de ge-
orreferenciamento, ou seja, levantamentos topográficos e cadastrais que
foram executados no âmbito do projeto. Os registros visuais históricos e o

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estado atual, desde o início dos trabalhos, foram comparados com base no
cotejamento de cartas fotogramétricas e na sobreposição – tentativas – de
mapas e imagens.

Mapa de 1838 por major Rivierre – seleção

As leituras, da mesma forma que as análises bibliográficas e ico-


nográficas, foram enfocadas, em especial, para agregar e entrecruzar os
dados sobre o contexto atual com os levantamentos historiográficos, ca-
dastrais e topográficos. Assim, além dos registros com instrumentos e
inspeções visuais sobre o estado de conservação, trabalhos de verificação
e análise das referências históricas foram executados e possibilitaram a
definição de algumas áreas para sondagens e prospecções. Neste sentido,
afirma-se aqui que as primeiras sondagens de vestígios arqueológicos fo-
ram realizadas com base no conhecimento da situação histórica e atual,
verificando-se nestas análises, a organização urbano-arquitetônica da Vila
e do Convento, bem como os principais materiais e técnicas construtivas
das estruturas, onde se incluem os respectivos revestimentos.
Os trabalhos de pesquisa historiográfica estão sendo realizados em
bibliotecas e arquivos de Igrejas e Cartórios de Itaboraí e do Rio de Ja-

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neiro. São também efetuados contatos com funcionários de instituições


congêneres em São Paulo e Niterói para o levantamento de informações
bibliográficas e a verificação de dados iconográficos. Além da leitura de
livros e ensaios de reconhecidos estudiosos do assunto, foram elaboradas
interpretações e cruzamento de dados em documentos antigos com a aju-
da de moradores da localidade, guardadores e zeladores desses acervos.
O reconhecimento das estruturas conventuais para avaliação do es-
tado de conservação da estrutura conventual e da Torre Sineira da Igreja
Matriz de Santo Antônio identificou que estas mantêm grande unidade,
contendo aproximadamente 1.500 m2 de superfície, apresentando total
ausência de coberturas; poucas esquadrias; rachaduras estruturais nota-
damente nos arcos; perdas parciais de vergas e portadas, alvenarias e ar-
gamassas; presença de vegetação com árvores de grande porte e pátina
biológica (algas, fungos, liquens), samambaias, bromélias, além de casas
de marimbondo e de abelhas.
A inspeção visual e o cadastro inicial do Sítio foram complementa-
dos com atividades de Laboratório. Assim, foram especificados alguns
tipos de argamassas que, após coleta, foram encaminhadas ao Núcleo de
Tecnologia da Preservação e da Restauração (NTPR) da Universidade
Federal da Bahia, para análises e caracterização de traços.

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Metodologia de Campo – Prospecções

As atividades de prospecção nas áreas estudadas foram feitas por


acompanhamento de plantas cartográficas, levantamento topográfico e
registro descrito em campo, além de documentação fotográfica em papel
e digital.
A escavação foi precedida de limpeza total da área a ser escavada. A
metodologia empregada foi “superfícies amplas”, preconizada por Leroi-
Gourhan & Brézillon (1972) e adaptada por Pallestrini (1975).
As áreas, uma vez limpas, receberam um quadriculamento geral,
criando-se, conseqüentemente, uma malha identificada por letras em um
sentido e, perpendicularmente, por números. Desta forma, o local dos
achados arqueológicos (artefatos, estruturas e etc.) é identificado e inseri-
do no quadriculamento geral, obtendo-se uma visão do conjunto de toda
a escavação da área. O quadriculamento geral de todo o sítio foi feito
através de uma malha de 20 x 20 metros que delimitou as áreas a serem
decapadas. Posteriormente, esta malha foi detalhada em um quadricula-
mento de 2 x 2 metros.

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Possível Sobreposição da Vila – sem escala

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A decapagem das quadriculas foi feita, preferencialmente, por níveis


naturais, acompanhando a declividade do terreno de modo a recuperar os
pisos de ocupação e buscar os indicadores de abandono do sítio arqueoló-
gico, confirmando os dados históricos levantados.
Os restos faunísticos foram coletados em sua totalidade, inclusive
através do peneiramento dos sedimentos de forma a recuperar as peças
de pequena dimensão que não são visíveis de imediato durante a deca-
pagem.
Todo o material cultural evidenciado foi registrado por coordenadas
tridimencionais de modo a fazer a leitura da distribuição espacial dos
vestígios. As estruturas receberam o mesmo tratamento dado ao material
cultural.
Até agora, os enterramentos localizados foram encontrados, vandali-
zados e foram retirados pelos especialistas, quando possível, segundo téc-
nicas e métodos modernos da Antropologia Biológica. Foram coletadas
amostras de sedimento para análise polínica e, se possível, para datação.

Localização de Escavação no interior do Convento

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Todo sedimento retirado foi peneirado e as atividades de campo fo-


ram registradas em cadernos de campo, em desenho e fotografia.

Materiais Arqueológicos Coletados

O material recolhido em campo após higienização, triagem e acondi-


cionamento foi analisado para sua identificação e classificação.
A higienização foi feita em água corrente com escovas de cerdas ma-
cias e pincéis. Após a secagem em bancadas em local arejado, procedeu-
se à triagem. Esta foi feita de forma visual, separando cada objeto por
categoria tipológica: louça, cerâmica, vidro e metal. A análise minuciosa
se apoiou no uso de lupa, microscópio e consulta à bibliografia especia-
lizada.
A função de cada peça encontrada, sempre que possível, foi identifi-
cada e igualmente registrada a forma original do fragmento. A cada classe
de material, são estudados:
Louça – marca, lugar de origem, decoração, estilo, padrão, período
de fabricação, espessura e forma.
Cerâmica – tratamento tecnológico, manufatura, tipologia,
espessura, tipo de queima, decoração e forma.
Vidro – marca, lugar de origem, decoração, estilo, padrão, período
de fabricação, espessura e forma.
Metal – identificação de características particulares.

A etapa de restauração somente será executada posteriormente e


quando houver um número significativo de fragmentos.
O material arqueológico recolhido até agora é composto por frag-
mentos de louças; fragmentos de cerâmicas; pedaços de vidros e objetos
de metais.

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Peças Encontradas

Já foram encontrados e coletados em campo diversos objetos. A se-


guir, apresentamos uma seleção ilustrativa da amostra.

Bala de fuzil, serie 762 CBC

Cravos de ferro

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Manilha de grés4

Fragmentos louça de Xangai

4 -1 Grés – rocha sedimentar composta de pequenos grãos de areia unidos por um cimen-
to calcário.

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Louça Portuguesa, final do século XVII pintada à mão

prato de louça da marca “Willow”5

5 -1 Willow – marca de louça inglesa com início de fabricação em 1730 com duração de
2,5 séculos.

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louça ao estilo “chinoiserie” – 1782

louça branca, tipo “Royal Rin” 1762-1815

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prato de louça inglesa branca, tipo “Royal Rin”

louça inglesa, tipo Shell Edged, cor verde

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Louça Neobrasileira

Prendedor de cabelo de metal prata

Fivela e Botões de metal

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Alças de Caixão

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Moeda de 1811 com a coroa do Estado do Brasil

A capela da Ordem Terceira, que se apresentava com o piso e lápides


retirados, foi o local de onde saíram os enterramentos. Alem disso, os
esqueletos haviam sido removidos dos caixões, cujos fragmentos encon-
trados apresentavam-se recobertos por tecido verde e emoldurados por
fita também na cor verde e com percevejos pintados com esmalte dessa
mesma cor.
Todo o material osteológico humano foi encaminhado ao Laborató-
rio de Antropologia Biológica do Museu Nacional da UFRJ. Uma vez que
o material ainda se encontrava com resquícios de sedimento, procedeu-se
à sua limpeza e vistoria geral, com o uso de pincéis e escovas de cerdas
macias, sempre respeitando os agrupamentos das embalagens originais.
Alguns materiais mostraram-se úmidos e foram postos para secagem ao
natural, até que toda umidade aparente tenha sido eliminada. Fragmentos
esporádicos de tecidos e outros elementos associados ao sepultamento,
quando encontrados, foram limpos e acondicionados em sacos separados.

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Em uma primeira análise, pode se dizer que:


• o material encontra-se bastante fragmentado, embora as diáfises
da maior parte dos ossos longos estejam inteiras ou passíveis de
recuperação;
• análises prévias sugerem a presença de múltiplos indivíduos, oito
provavelmente, de idades variadas, mas jovens: um maxilar apresenta
significativa abrasão dentária e alguns ossos apresentam artrose;
• apesar da fragmentação, as condições gerais de preservação
macroscópica são boas, sendo a ação mecânica pregressa a
responsável pelos maiores danos ao material.

Restos Esqueletais I

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Restos Esqueletais II
Estruturas

As sondagens realizadas no sítio e em seu entorno revelaram:


1) no adro do Convento, o piso da entrada é do tipo tijoleira e as
peças de granito, que formam o degrau ou soleira na galilé, são do
tipo “peito de pomba”;
2) a existência de diferentes estruturas de tijolos, que podem configurar
alicerces de diversas estruturas da antiga Vila;
3) a existência de placas em granito, que possivelmente serviam para
pavimentar os caminhos que levariam ao antigo porto;
4) a existência de parte de um muro de arrimo na vila.
5) estrutura de uma cas com cômodos;
6) cercanias da torre Sineira.

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No interior do Convento foi registrada a provável existência de um


túnel que será objeto de investigação. Na margem oposta do antigo leito
do rio Macacu, hoje coberta de vegetação tropical, há o registro de algu-
mas construções.
No interior do Convento foi registrada a provável existência de um
túnel que será objeto de investigação. Na margem oposta do antigo leito
do rio Macacu, hoje coberta de vegetação tropical, há o registro de algu-
mas construções.

Soleira

peito de pombo

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Ruínas do convento de São Boaventura - Vila de Santo Antônio de Sá:
Sítio arqueológico Fazenda Macacu

Antiga Capela

A estrutura possivelmente corresponde à primeira construção aonde


viria a ser o Convento de São Boaventura.

Muro de arrimo

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Maria da Conceição Beltrão

Estaca no Piso Esquerdo da casa R1

Casa

Estruturas externa e interna da casa_1

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Ruínas do convento de São Boaventura - Vila de Santo Antônio de Sá:
Sítio arqueológico Fazenda Macacu

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Maria da Conceição Beltrão

LEGENDAS:
Elementos Arquitetônicos:
1. pedras fundamentais
2. pilastras estruturais
3. muro de contenção (pedra, bar-
ro e fragmentos de talha e tijolo)
4. alvenarias externas (espessura
média de 50 cm)
5. alvenarias internas-tijolos al-
ternadamente sobrepostos verti-
cal e horizontalmente (espessura
média de 30 cm)
6. possível dispensa
7. soleira
8. possível varanda, ou muxarabi
9. dobradiça
10. cravos
11. fragmentos de telha e tijolo
aproveitados na construção.

Croqui I construção em processo de escavação 19/03/2008

Cercanias da Torre Sineira

Pedras Estruturais

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Ruínas do convento de São Boaventura - Vila de Santo Antônio de Sá:
Sítio arqueológico Fazenda Macacu

Piso interior da torre sineira

Piso da casa 1 área II sul

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Maria da Conceição Beltrão

Parede externa do lado oeste área II casa 1

Conclusões

A Vila de Santo Antônio de Sá, comprovadamente, representou um


marco importante no Brasil Colonial. Os registros históricos são disper-
sos e merecem uma atenção maior do que foi possível no âmbito deste
projeto. Vários aspectos, dependendo do interesse, merecem persistir ser
levantados.
Alguns dos aspectos de maior interesse seriam:
• a relação escravocrata no Brasil Colonial;
• a colonização portuguesa no Rio de Janeiro;
• os recursos naturais disponíveis e explorados no Estado do Rio de
Janeiro nos séc. XVI a XIX;
• o impacto da exploração da madeira na realidade colonial;
• as rotas do ouro, com foco nas rotas secundárias.

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Ruínas do convento de São Boaventura - Vila de Santo Antônio de Sá:
Sítio arqueológico Fazenda Macacu

Vários temas são de interesse do projeto e da história da


localidade e do Brasil e merecem ser explorados.
Este é um primeiro esforço de entendimento do que acon-
teceu no passado.

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Relatórios Integrantes do Projeto:

Relatórios das Atividades de Pesquisa Arqueológica de Laboratório


– Elaine Gonçalves do Nascimento – Janeiro 2008 e Fevereiro 2008.
Relatórios das Atividades de Pesquisa Arqueológica de Campo – Ja-
cqueline Amorim - Janeiro 2008 e março 2008.

216 R IHGB, Rio de Janeiro, a. 169 (439):181-224, abr./jul. 2008


Ruínas do convento de São Boaventura - Vila de Santo Antônio de Sá:
Sítio arqueológico Fazenda Macacu

Relatório de Levantamento Histórico – Rosa Costa Ribeiro – Março


2008
Relatório de Restauro – Márcia Braga – Março 2008

ANOTAÇÕES sobre o Convento de São Boaventura e a Vila de


Santo Antônio de Sá

Principais datas e registros históricos

1567 – As terras do antigo distrito de Macacu foram concedidas em


sesmaria a Baltazar Fernandes e, em outubro deste mesmo ano, a sesma-
ria foi concedida a Miguel de Moura;
1571 – Miguel de Moura faz doação de sua sesmaria aos Jesuítas;
1612 – Os Jesuítas vendem parte das terras a Manuel Fernandes
Ozouro, que construiu uma Capela de Santo Antônio que foi o núcleo pri-
mitivo da Vila de Santo Antônio de Sá. Esta capela foi elevada à curato
em 1624;
1649 – No dia 20 de novembro, foi fundado o convento franciscano,
denominado Convento São Boaventura, iniciado com uma casa provisó-
ria;
1660 – Iniciou-se a reforma e ampliação do Convento, sob o coman-
do de Frei Gonçalo da Conceição. A obra durou 10 anos, sendo inaugura-
da em 4 de fevereiro de 1670;
1672 – Abre-se o noviciado;
1697 – A Freguesia tornou-se Vila, recebendo o nome de Vila de
Santo Antônio de Sá em homenagem a Artur de Sá Menezes, que pesso-
almente compareceu àquela região, para ali instalar todos os elementos
do Governo e Câmara, o que ocorreu em 20 de agosto. Situada no delta
dos rios Macacu e Casserebu, a Vila passou a atuar como importante en-
treposto comercial, abrangendo os atuais municípios de Magé, Itaboraí,
Sant’Ana de Japuíba e Rio Bonito, servindo de ponto de apoio obrigatório

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Maria da Conceição Beltrão

para aqueles que se dirigiam ao inóspito sertão de Macacu;


1710 – A Ordem III da Penitência foi estabelecida em Macacu;
1784 – Com a chegada dos novos religiosos, houve uma reforma no
Convento, quando foi demolido o corpo da igreja e todo o corredor da
frente do Convento, com a respectiva reconstrução. Nesta mesma época
teve início a construção da Igreja dos Terceiros e da Irmandade da Ordem
Terceira (criada em 1710), ao lado da Igreja do Convento;
1792 – Marca o início da decadência do Convento Macacu;
1828 – 1829 – Iniciou-se a decadência da região, assolada pela ma-
lária, as febres do Macacu que fizeram numerosas vítimas. Os moradores
amedrontados fugiram da Vila, e, por volta de 1836, as terras tornaram-se
improdutivas em conseqüência da formação de bancos de areia que, pro-
vocando o transbordamento dos rios e o alagamento das terras, tornaram
a região extremamente insalubre, com isso, o Convento ficou completa-
mente abandonado, começando a desmoronar;
1841 – Os frades franciscanos deixaram o Convento e, como marco
de sua retirada, entregaram no Convento de Santo Antônio, no Rio de
Janeiro, o inventário e as alfaias que guarneciam o Convento de São Boa-
ventura, que desde então, abandonado, vem sofrendo progressiva ruína.
1852 – O Provincial Frei Miguel de Santa Rita arrendou a Felicíssi-
mo Antônio de Oliveira a horta e “todo o campo existente dentro da cerca
em redor do Convento até ao portão grande do carro”. Os sucessores re-
novaram o contrato até 1859;
1922 – As ruínas e todo o terreno foram vendidos pela Província aos
Beneditinos, que mais tarde, em 1930, as venderam a outros, passando
então por vários proprietários;
A Vila de Santo Antônio da Sá extinguiu-se pelo desdobramento das
freguesias e pela construção da ferrovia, restando dela, apenas as ruínas
da torre sineira da Igreja Matriz do Convento.

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Ruínas do convento de São Boaventura - Vila de Santo Antônio de Sá:
Sítio arqueológico Fazenda Macacu

Relato do Pastor Daniel Kidder sobre a vila de Santo Antônio de Sá


e Convento de São Boaventura e a decadência da região.

Em 1845 foi publicado um livro escrito pelo pastor metodista Daniel


Kidder, missionário que chegou ao Rio de Janeiro em 1837 e aqui perma-
neceu até 1840.
Este livro, intitulado Reminiscências de Viagens e Permanência no
Brasil, contém, em seu Capítulo XII, uma das raras descrições sobre a
Vila de Santo Antônio de Sá, do Convento de São Boaventura e da igreja
matriz de Santo Antônio.
O Pastor Daniel Kidder descreve o Rio Macacu como um rio cauda-
loso, cercado por vegetação intensa em suas margens.
Mostra também que o local da Vila, embora na beira do rio, era tam-
bém um local escondido, mas de fácil acesso à baía, e portanto, ao Rio de
Janeiro, pois diz que ao subir o rio, bruscamente surge a Serra dos Órgãos
e antes de desembarcarem, avista-se os telhados da Vila de Santo Antônio
de Sá, descrevendo, também, uma ponte.
Observa que a Vila ficava em uma situação proeminente, de onde
se podia controlar a entrada e saída de embarcações que navegavam no
Rio Macacu, o que ocorria com freqüência na colônia, onde as cidades
localizavam-se em topografias elevadas, próximas às vias de acesso marí-
timo ou fluvial, isto, para facilitar a defesa contra invasores e possibilitar
o controle do escoamento da produção.
Afirmou também que a população era composta por cerca de 300
pessoas, o que confirma que, nesta época, tanto a Vila como o Convento
já estavam em franco declínio, devido às febres intermitentes que assola-
ram a região entre 1829 e 1835.
Sobre o Convento, descreve ele que era uma construção imponente
por fora, mas internamente mal-acabada e “caindo aos pedaços”.
Descreve a Igreja como “pobre em imagens”, ali somente encontran-
do a imagem de São Benedito.

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Maria da Conceição Beltrão

A seguir, refere-se aos dormitórios vazios no segundo pavimento


(nos conventos franciscanos as celas localizavam-se sempre no segundo
piso, havendo uma comunicação entre elas e o coro).
Certamente, à época da visita de Kidder – entre 1837 e 1840 – já se
encontrava em total declínio, pois ele também faz referência à Biblioteca,
onde ele viu apenas poucos livros, embora a sala fosse de boas propor-
ções.
Relata também que as terras ao redor do Convento não eram culti-
vadas, fato justificado pelo abandono do mesmo e da dacadência da Vila
de Santo Antônio.

A proteção do Sítio Histórico – Tombamento e Registro do Sítio


Arqueológico FAZENDA MACACU

Em razão da relevância histórica e arqueológica das ruínas do Con-


vento de São Boaventura, comparáveis, em importância, à das Missões
no Rio Grande do Sul, foram as mesmas objeto da proteção estatal através
de tombamento:
O primeiro pedido de tombamento partiu dos jornalistas Jean Maria
Linhares Bittencourt e Pierre Garnotel que, em reportagem n’O Globo de
9 de novembro de 1962, aludiram ao precário estado de tão importante
bem cultural.
Em 1978, através do processo n° E-03/33714/78, as ruínas do Con-
vento de São Boaventura foram tombadas pelo Inepac.
Em 1980, através do processo n° 690-T-63, foram as mesmas tomba-
das pelo Iphan, recebendo o número 476 de inscrição no Livro Histórico,
às fls. 82, e, inscrição n° 540 no Livro de Belas Artes, v. II, n° 02.
Em 1995, através da Lei n° 1.305, de 28 de junho de 1995, foram
tombadas pelo poder público Municipal, sendo incluído neste ato de tom-
bamento a torre sineira situada no lado oposto da praça então existente.
Assim, as ruínas históricas do Convento de São Boaventura torna-

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Ruínas do convento de São Boaventura - Vila de Santo Antônio de Sá:
Sítio arqueológico Fazenda Macacu

ram-se objeto de proteção cultural pelos três níveis de governo, federal,


estadual e municipal.
Finalmente, em julho de 2000, foi registrado no CNSA/IPHAN,
através da 6ª Superintendência Regional do Iphan, o Sítio Arqueológico
Fazenda Macacu, abrangendo a antiga Vila de Santo Antônio de Sá, sen-
do, portanto, as citadas ruínas objeto de inclusão no Cadastro Nacional de
Sítios Arqueológicos.

Caderno de Fotos

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Sítio arqueológico Fazenda Macacu

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