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R E F L E X Õ E S

SOBRE A

NECESSIDADE DE PROMOVER

UNIAÕ DOS ESTADOS


DE QUE CONSTA

O R E I N O - U N I D O

D E

TORTUGAL, BRAZIL, E ALGARVE

NAS

Q U A T R O P A R T E S DO MUNDO.

L I S B O A :

NA TYPOG. D E ANTONIO RODRIGUES GALHARDO,

I 8 2 2.
Funiculus triplex difficile rumpltur.

Ecclesiastes. c. 4, u. 1 2 .

Omne regnum divisum contra se, desolabi-


tur; ct omnij civitas, vel d ÍIUS divisa contra
t e , noa stabit.

Mattb. c. 12, v. 2j\


3

R E F L E X Õ E S
SOBRE A N E C E S S I D A D E

D E

PROMOVER A UNIAÕ DOS ESTADOS

D E QUE C O N S T A O REINO-UNIDO

D E

PORTUGAL, BRAZIL, E ALGARVE


NAS

QUATRO PARTES DO MUNDO.

J E n t r e os Augustos M o n a r c h a s , que tem gove~iado t


tes R e i n o s , naó ha algum cujo império se haja -csigna-
lado por maior n u m e r o , e variedade de acontecimentos ,
já g l o r i o s o s , já d e s g r a ç a d o s , como o de Sua Magestade
Fidelíssima o Senhor D . Joaó V I . Hf para elle de sum-
iria gloria a constancia , com que sempre repugnou hu-
milhar-se ao orgulho de N a p o l e a õ , e a ousadia de sua
retirada para o Brazil entre as mais arriscadas circuns-
tancias: assim como para nós o he nossa firme, e here-
ditária fidelidade em tempos taó calamitosos, e o valor
Com que derrotámos os exercitos F r a n c e z e s , levando as
Quinas Portuguezas até B o r d e o s , e Tolosa. Estes esfor-
ços p o r é m , que parece deviaó ser coroados d<: mais so-
lida prosperidade, tem sido ao contrario concrapezados
pelas mais graves desventuras. Entre estas sohresahem
notavelmente o Tratado de 1 8 1 0 , celebrado corr Ingla-
terra , que decepou a industria n a c i o n a l , e nos tem rou-
l i *
4
bàdo muitos milhões; a abertura dos portos do Liazi! a
toias as n a ç ó í s , que arruinou nosso commercio com
aquálle vasto e rico paiz , e abateo nossa marinha; e a
falta de hum bem calculado systema , que satisfizesse ás
precisões, e dependencias dos Portugueses Europeos, e
unisse estreitamente os Reinos de Portuga!, B r a z i l , e
A g a r v e s [elos vínculos de recíprocos in:e:esses. Naõ fal-
lo no desperdício da fazenda publica, e na enormidade
da divida nacional; na arbitrariedade dos empregados, e
no total desmazelo com que eraõ tratados todos os meios
e rectirsos da prosperidade da N a ç i õ . Estes e outros
males saó de publica notoriedade: Sua Magestade os re-
conhece na carta á Regencia em i 8 z o sobre a convoca-
çaó das Cortes; e he da uitima urgência applicar-lhes
opportunamente o efficaz remedio. Para atalha-los se
congregáraó as presentes Coi tes G e r a e s , que Sua Mages-
tade prometteo approvar pelo decreto de 24 de Feverei-
ro de 1 8 : 1 .
As Cortes se propozeraõ f o r m T a Constituição da
Mor.archia , ou antes reformar 1 antiga Cons ituiçaõ
L
Portugueza. Depois deste imporr... -cto he da
maior necessidade tratar seriamente do systema dí in r i-
ma união, e solida perpetuidade do Reino-TTr>'<J...
os outros negocios saõ de importancia intenor a este:
pDi: d f que serve alfaiar internamente esta grande casa
cia nossa M o n a r c h i a , se naõ cuidarmos primeiro, na fir-
meza de suas partes integrantes, e na sua segurança fu-
tura? Deste systema ainda se naõ começou a tratar se-
riamente : e , bem que tarde, he chegada a occasiaó dç
o formar. Ella he opportuna , e.he por. tanto agora que
os Procuradores da N a ç a õ , unindo seus esforços com os
do Augusto Soberano, que a Piovidtncia nos deo na
sua misericórdia , devem levantar pot um pouco os olhos
do pequeno Reino de Portugal, para os estenderem des-
de o Oyapòk até o Paraguai.
He d^adipirar que os nossos periodicos, taó fecundos
em discursos, taó pouco se occupem deste importantíssi-
mo assumpto ; similhantes ás toupeiras que só enxeiv
gaó.os oojectòs immediatos. N o r..° 39 do. Astro da Lu-
wann. ven. hu. 4 breve dheurso sobre o lugar onde El-Rei
5"
Aeve U SM Corte. O Sr. Eento Pereira do C a r m o enun-
ciou depois algumas noções a este respeito na sessaó de
30 de Janeiro de 1 8 2 1 , e nt>3 outras em que íoi discuti-
da sua moçaõ sobre a convocaçaô dos Procuradores do
U l - r a m a r ; o Sr. Francisco Soares Franco conheceo a
importancia desta matéria na sua obra Melhoramentos,
& L F.m Coin . a publicou Antonio d Oliva e Sousa
O Projecto para o estabelecimento politico do Reiíw-Unidv,
e depois a AiLlic/iõ ao Projecto, em 8.° 1 8 2 1 . C o m o
poiém Sua Magestade houve por bem approvar a Cons-
tituição que as Cortes estaó f a z e n d o , esta pia e magna-
nima resolução devendo excitar entre E l - R e i e a N a ç a ó
huma nobre competência de amor e generosidade, he
também hum dos mais fortes motivos para, que as C o r -
tes se empenhem em diiigir sua prudência, e activi-
dade a conservar, e estreiur a uniaó destes R e i n o s , e
a.cimentar sua fuiuia grandeza.

R E F L E X Ã O i.a

Depoi? 1 " 7 - .n que os reinos de Hespanha se


\uv>aõ ' lo casamento de Fernando e I s a b e l , excepto
Poru.p , ""rreçQu este a ser Potencia da 2." ordem. —
Antes daquelie anno dividida a Hespanha nos pequenos
reinos de Leaó , Castella , A r a g a ó , N a v a r r a . C n ? ,
& c . , que successivamente se foraõ reunindo, nao unha
Portugal muito que ter-er .de seus vizinhos, que naó era
fácil ligarem-se para o privarem de sua independencia. M a s
depois daquella reunião, e mormente em tempo de C a r -
los V . , jí naó podia por si competir com as immensas
forças de Hespanha , e começou a sotf rer os incommo-
dos , a que esiaó sujeitas as potencias da 2.3 oídem. N a ó
os sentio em tempo dos Senhoies D. M a n o e l , D. J c a õ
I I I . , e D. Sebastiaó. Morto poicm o C a l d e a i R e i , Sa-
l e r n o . que foi i n v a d i d o , o c c u p a d o , possuído, e esma-
gado pelos tres Filippes de Hespanha ; e se r -'nado do
ultimo destes ties Portugal recupeiou sua I beicr.de, m ó
o, deve tanto a suas f o r ç a s , quanto á má nimstri.^j
do governo ITespanl.ol , e ás g u e n a s pez qt-t o Jis-
trahiaó com F r a n ç a , C a t a l u n h a , - Ho!i Po.tugal
6
conheceo sua natural fraqueza ; e por isso se tornou a!-
liado de I n g l a t e r r a , assim como Hespanha he sua natu-
ral inimiga. Na guerra de 1 7 6 z foi auxiliado por Ingla-
t e r r a ; e em 1 8 0 8 , e seguintes elle naó poderia por suas
próprias f o r ç a s , e sem auxilio de Inglaterra , expulsar
os francezes commandados por J u n o t , S o u l t , e Masse-
na. E m fim todos sabem que Portugal ' . c f r a c o , porque
he pequeno, sendo huma quinta parte da Península Hes-
panhoia.

R E F L E X Ã O 2/

P o r t u g a l , como Potencia da i . a o r d e m , tem soffrí-


do perdas gravissimas. — Nossos historiadores nos tem
deixado a dolorosa narraçaó dos estragos causados em
Portugal pelos tres F i l i p p e s , e a o seu governo de 6 0 an-
nos devemos a perda total da maior parte de nossos es-
tabelecimentos na í n d i a , a tomada de A n g o l a , e de
grande parte do Brazil pel landezes; a exacçaó de
horrendas contribuições, e as commu.is cui.j-^ipçóes de
tropas empregadas fóra do serviço de Portugal Occ. C o -
mo Hespanha he seu inimigo nato , e I n j L - . c r r a sua ai-
líada , he Portugal obrigado a acautelar-se d a q u e l l a , e
a c. esta sacrifícios enormes. E c o m o elle naó tem
forças por si só respeitáveis, e nem sempre tem Minis-
tros tao hábeis como D. Luiz da Cunha , e o Marquez
de P o m b a l , pari. iIludir as ambiciosas pertençóes de hu-
ma , e a avareza da outra , he forçado a contemporizar
com ambas. Esta pequenez e dependencia de Portugal o
tem obrigado a entrar em guerras pen.iciosas, quando
mais lhe convinha conservar sua neutralidade, ou a
comprar esta á custa de grandes sommas. Daqui tem
nascido tratados n o c i v o s , e pouco airosos j e sirva de
exemplo o de Commercio de 1 8 1 0 . P o r isso os estran-
geiros ciara.jente dizem que Portugal he colonia de
Tn lar^cra. T m fim naó será fácil decidir quaes nos tem
sido -«ezados, se nojsos inimigos declarados, ou
n o s s r j alli" ' e piotectores.
7

R E F L E X Ã O

Todas as nações ( e Portugal também) devem pro-


curar engrandecer-se em territorio, populaçaó, e rique-
zas. — A mesma necessidade, que obriga todos os ho-
mens a entrar em sociedade c i v i l , os leva naturalmente
a engrandecer seu poder. Todos aspiraó a existir, e a
melhorar sua existencia. Quanto mais forte he a Monar-
c h i a , mais segura está de ataques externos. Contra a
força , ctteris paribus, só se resiste com ourra foi ça. Ora
a força das Monarchias consiste na grandeza do territó-
rio , 'populaçaó, e riquezas. Na guerra passada, que
transtornou a Europa , todos os pequenos Estados cahi-
raó ; as grandes Potencias, como Austra , Rússia, e Prús-
sia forao abaladas, mas naó prostradas. Portugal desde
seu principio aspirou a engrandecer-se; e como naó po-
dia faze-lo na Europa, formou novos estados nas outras
tres partes do mundo, obrando feitos taó admiraveis,
que ( c o m o diz o nosso insigne Amador A r r a e s ) para
JC celebrarem com o dcy do ornamento de louvores he fie-
assaria hw : -- itltsiial. He verdade que os pe-
queros r tados saò melhor governados que os grandes
intertiur.ivi. " 1 porque he menor o nnmeio de objectos
sobre que se emprega a attençaõ do govetno; he meno«
complicada a ordem dos subalternos, e he me: 01 es-
tancia entre El-Rei e o ultimo dos súbditos. Com tudo
as Potencias pequenas s a ' sempre secundarias, e por is-
so expostas aos incommodos indicados na Reflexão 2 /
E que maior incommodo, que maior desgraça pai a as
Potencias secundarias , que o temor dc serem involvidas
nas questões ^xctadas entre as Potencias maiores , e a
consciência continua de que alguma vez podem ser pre-
za de algum vizinho mais poderoso? Importa pois que
o Governo do Reino-Unido medite seriamente m s meios
dc torr.ar-se o mais forte que lhe for possivel. Para o
effeituar tem mais de meio caminho andado" ' preci-
sa de conquistas ; basta-lhe augmentar a i pularaó
vastíssimos Estados que posfue ; tem as princi
da riqueza das nações, resta-lhe aproveita-- ela * d. $•
s
tria. Por ventura naó he já tempo de deixarmos de ser
pupilios ? E com effeiro ,

R E F L E X Ã O 4-a

O R e n o - U n i d o possue paizes proprios para vir a


ser huma d... maiores ÍVIonarchias do Mundo. — Alem
dos restos das conquistas do Oriente, tem elle na Africa
Orienral cerca de 2CO léguas de costa desde o Cabo das
Correntes até Cabo D e l g a d o , e outro tanto pouco mais
ou menos em A n g o l a , afora as Iihas do Atlântico , e
outros estabelecimentos menores no Continente. Na Ame-
rica possue o vastíssimo Reino do B r a z i l , quasi igual
á Europa em extensão , e superior em riquezas naturaes.
N a Reflexão seguinte se verá que elle he aptissimo pa-
ra formar hum Império verdadeiramente independente.
E m todos os sobreditos paizes tem o Reino-Unido os
prodnetos de quasi todo o U n i v e r s o , e riquezas immen-
sas de quasi todos os generos. Bem entendêraó isto os nos-
sos Monarchas Brigantinos , se tem desvelado , como
á proíu , por conservar e am; ' — esre<- oaizes, princi-
palmente o Brazil. Veja-se jistona do Brazil, por
Biaucbamp, e a Corograp^a do Padre A y n " irr~ essa
no R i o de Janeiro em 1 8 1 7 , 2 v. 4 . 0 , livro presente-
;..-r»te clássico nesta matéria , e que todos os Estadistas Por-
tu^utzes devem ter e ler com attençaó. O aggregado de
tantos paizes offerece ao Reino-Unido hum local vastíssi-
m o para immen'i populaçaó , ministra-lhe infindas rique-
z a s , e lhe faci.ita o commercio com todo o mundo pe-
las muitas escalas , portos , rios , que naó tem , e na-
ções com quem confina. E que desmazelo será o nosso,
se desprezarmos estas vantagens, que a Providencia pa-
rece te.-nos quasi exclusivamente concedido?

R E F L E X Ã O

Sua M ^estade, depois que passou para o B r a z i l ,


iom J .veladamente a peito fazer deste Reino hum
3
Est:.'jo cu ordem. — P a r a demonstração desta R e f l e -
xão rele. indicrv com individuaçaó as muitas provi-

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9
'dencías de Soa Magestade tendentes ao engrandecimento
do Brs, : bastará porém notar succintamente que para
melhor administração ecclesiastica e civil criou Sua M a -
jestade novas freguezias, novas c o m a r c a s , e a R e i a ç a õ
do Maranhaó: tem desannexado varias Províncias subal-
ternas dos Governos geraes, levantado m^lor numero de
t r o p a s , erigido escolas nas cidades principies, aberto es-
tradas , fabricado pontes, chamado colonos por meio de
mui úteis instituições agrarias, convidado os estrangeiros
por bons partidos, reprimido as incursões dos barbaros,
rnandado descubrir partes incógnitas do Sertaó , e pro-
curado desviar da America Ingleza para o Brazil a cor-
rente do3 emigrados Europeos, & c . Muitos destes traba-
lhos se achaó começados, e outros concluidos; e nelles
tem mostrado Sua Magestade tal empenho, qtve parece
haver-se esquecido de Portugal ; e bem que a execução
naó haja correspondido a seus piedosos desejos, naó pô-
de negar-se que o Brazil se acha assas augmentado de
1 8 0 8 para ca. De tantos cuidados he digno o Reino do
B r a z i l , já pela sua extensão que o torna capaz de popu-
laçaõ igual á de Austr * , F r a n ç a , ou R ú s s i a ; já pela
espantosa ab. i- ue seus productos v e g e t a s s , que
tem par s . consumo e exportaçaó; já pela copia df
: as n^ue-as mineraes que o fazem Monarchia verdadei-
nmente preciosa ; taes saó as pedrarias de varias espe-
lhes, o o u r o , e o f e r r o ; já em fim por sua ^ ' " . y a ó
geograficamente vantajosa nas duas Zonas , a Tor.-ida > e
Temperada Austral , tendo ao Nascente o mar , ao
Foente e Sul as terras de Hespanha , c ao Norte o mar
e a G o y a n a ; defendido ao Nascente pelo m a r , a o Nor-
te pelo mesmo m a r , e pelo A m a z o n a s , e ao- Sul pelo
Paraguay , e ortros rios. He sobre tudo apiissimo para
o commercio quer interno pelos muitos e grossos rios
oue o cortaô, e communicaó suas grandes e distantes
P r o v i n d a s , quer externo pela fácil reiaçaõ em que está
' c o m as outras partes do mundo; pois da Asia dista me-
nos que a Europa; tem defronte nossas te J ? Afri-
ca-, da Europa distaó suas Províncias mais - o v i n a s 1 1
mez de viagem , e communica-se facilmente - t -
Pacifico. Naó tem lugaies inhabitaveis pe ^xees.o do
10
f r i o , como a Laponía : tem poucos esrereis pe!o nimíd
calor na parte mesmo que jaz na Zona Tórrida , pois
em Minas Geraes calse n e v e , e no cume das Cordilhei-
ras. A parte sita na Zona temperada goza do mesmo cli-
ma que Portugal. Ving2Ó--no Brazil todos os fructos da
Asia e Afric e grande pai te dos da Europa : os France-
zes juntáraó ~> Cayena huma collecçaó copiosa de ve-
getaes do Oriente , donde se propag;íraõ por vários jar-
dins botânicos d a Brazil. Podemos transplantar para o
Brazil os productos da A s i a , e por ventura dispensar-
nos de sustentar esses miseráveis restos de nossas antigas
conquistas. Se o Biazil carece de vinho, tem assas de
rntros fructos , pelos quaej o possa permutar com abun-
dância. Veja-se a dita Corographia do Padre A y r e s , e
, ÍÍS Viagens do Venerável D. Fr. Caetano Brandaó , im-
fressas nis memorias p ira a historia de sua vida, em
.isboa 1 8 1 8 tomo i.° Por estes justos motivos Sua M a -
gestade, imirando, e talvez excedendo seus Augustos-
maiores, se ha empenhado em dar ao Brazil a grande-
za que lhe compete, bem persuadido que he este o unicq
meio de tornar verdadeiramente inc' ,o nd£nte o seu Império.
Esta obra he de muitos annos; mas j.. nao he pequena
; :>ria o começa-la ; e se as Cortes ajudarem o Sc r.T- > j
. j m o esperamos, por ventura virá a reunir co.n os lou-
. c de Vencedor, o titulo ainda mais ilustre de Povoa-
dor, ' ^ " r a d o r . -j-

REFLEXÃO 6.*

A o exemplo de Sua Magesrade devem todos os Por-


tuguezes do Reino-Unido empenhar-se em que nossa
Monarquia saia do estado de Potência se undaria, c
pe!o augmento do Brazil e terras de Africa passe a Po-
tencia da i. a ordem. — Na Reflexão 2,' se indicarão os
•••vis mos males que Portugal tem padecido por ser
Potencia s^undaria. Na Reflexão 4. a se mostrou que o
E e ' n o r iu" Me passar a Potencia da i. a ordem. Na
- Re" •' - acaba de ver que Sua Magestade se des-,
^ •'; 'o tal. He notorio que as cinco Provin-
C-uf de P 0 1 ' com o Algarve formão hum Estado caó
II
pequeno) que sempre ha de Ser Potencia secundaria, e
iimiluante a hum p y g m e o entre gigantes. L e g o naó temos
outro algum meio de nos engrandecermos senão o augmento
de nossas provincias Ultramarinas. Estes saõ os desígnios
de Sua Magestade. E que motivo ha para naó approvar-
m o s , e quanto nos for possivcL ajudaiTT". esta taõ glo-
r i o s a , como util empresa? Por que nac emos a nosso
Império o vigor e estabilidade que lhe competem? P o r
ventura já nos esquecemos dos males a que nos ha sujei-
tado nossa fraqueza politica? Quereremos antes figurar
entre as Nações independentes como automatos, obran-
d o naó o que entendemos, que nos c o n v é m , mas o
que as Potencias mais foites nos ordenaó imperiosamen-
t e , e por seu a r b í t r i o , e i n t e r e s e í Reparemos nó exem-
plo c e outras Nações modernas e antigas. Hespanha se
ieforçou pela reuniaó de todos os pequenos Reinos da
Península : Inglaterra pela dos Reinos de Irlanda , e Escó-
cia : Áustria pela dos Estados de Bohemia , Hungria , e
outros de L a l i a e P o l ó n i a : Rússia pela das Provincias se-
paradas de S u é c i a , Polonia e Turquia Scc. para naó
faliar 110 engrandecimento dos P e r s a s , G r e g o s , e R o -
manos , a cujo exemplo nossos maiores se arriscáraó cor
•despeja/' > denodo a mares nunca d'antes navegados par"
engi\uiuec v . seu Império. Se foi obra generosa de seu
valor deixar-nos este vasto pátrimonio, he agora de'"H -
nosso conserva-lo intacto, e transmitti-lo a nos< des-
cendentes mais amplificado. Que absurdo naó fora zelar-
mos tanto nossa liberdade de portas a dentro , e descui-
dar-nos de nossa independencia de portas a fora ? C o m o
se o primeiro passo para a liberdade naó fosse a indepen-
d ê n c i a . Q u e desdouro naó seria o dizer-sef, que os P o r -
tugaezes saõ intrépidos ém conquistar, mas inertes, e
desleixados em c o n s e r v a r , e engrandecer ? Assim uue
por todos os titnlos , necessidade, interesse, honra e pon-
donor nacional todos 03 Poi tugue7.es de ambos os he-
misférios devem conspirar com o S o b e r ia execuçaó
deste illustre e complicado desígnio. . estad^ co-
m e ç o u , pertence ao povo ajuda-lo: a u. '--{k
nossa. Nós estamos na maior c r i s e ; tr ' -w^cxurpiv
g b u i o s , e melhorar a naçaó e r 1 iqdoí ramos da a d-
tj,

ministraçaó publica. A s Nações e os Políticos estrangeí-


ÍOS tem os olhos fitos em nós : huns assentaráõ que a nos-
sa Monarchia pode ser grande e podeiosa, outros talvez
o neguem , porque Sua Magestade naõ tem subalternos
hábeis e fieis o sirvaó como devem. Se pois dirigir-
mos nossos ' Ços, ecoopeiarmos.com o Soberano pa-
ra a eonser\ e engrandecimento de nossa bella Mo-
narchia , seremos poderosos, respeitados, e felizes.

R E F L E X Ã O 7,'

As. Cortes devem , quanto antes, conformando-se


com as intenções d ' E ! » R e i , e com a bem entendida von-
tade da N a ç a õ , procurar a integridade, e engrandeci-
mento do Reino-Unido , com preferencia a outros assump-
tos de menor importancia. — A s Cortes devem exprimir
a vontade, legitima da Naçaõ ; ora na Reflexão anteceden-
te se m o s u c u , que a Naçaõ deve conspirar com E l - R e t
em procurar a integridade e augmento de todo o Reino-
Unido , principalmente pelo augmento das Províncias ul-
tramarinas. Mais: As Cortes se ap Ilid"^ '"Wtes Geraes
la Naçaõ Portugueza: no n.° 16 das iiases declaraõ
e a Naçaõ Portugueza saõ todos os Portuj ^ze? de
.unbos os hemispherios; e no n.° 6 declaraõ, qjv a lei
f
idamental obrigará aos Portuguezes do U l t r a m a r , logo
que seus legítimos representantes manifestem ser esta a
«ua vor.iadí. E porque E i - R e i jurou approvar a Constitui-
ç ã o feita pelas C o r t e s , segue-se que estas por sua pro-
piia instituição, e por vontade d'El-ttei devem cuidar na
reforma de toda a Monarchia. Desta reforma a parte
mais essencial he o cuidado -de sua integridade, e do
augmenro de seu poder, principalmente na p t .ite que he
mais capaz deste augmento. Ora esta parte he o Ultra-
mar e particularmente o Brazil. Deste assumpto se deve
tratar janto antes, como de negocio da primeira impor-
tancia : por •<• da integi idade da Monarquia depende nos*
sa nr Psen ,
"CÍ/l.) e da reforma da Constituição nos-
S;' ..ta. De que serve formar o melhor pia*
• n p .,u u w 'ícçaô de hum palacio, ou r^ta o bom
governo de. cP ' farr i a , se as.paites ituegrantes -do.
*3
paTac'o, como paredes e tecto carecem de firmeza , e a
iam...a de cabedaes? Tem-se tratado nas Cortes direitos
banaes , coutadas , caudelarias ; Inquisição, Capitanias
mores Sic. Todos estes assumptos saó assas importantes:
com tudo logo que se offerecer a occasiaó de tratar da
conservaçaó, e uniaó dos Estados U l : v a r i n o s , mor-
mente do B r a z i l , devem cessar outros • cios de menor
porte , e seguirem-se depois. Cem efft ^ \lonaichia nao
se perde se os ditos assumptos secundários se descutirem
este anuo ou o que v e m ; mas se alguma das partes prin-
cipaes do Reino-Unido se separar , a causa publica ou
•se arruina, ou corre summo risco. Se no vórtice de nos-
sa revolução o Brazil se desunir de P o r t u g a l , ou as Pro-
víncias Ultramarinas humas das outras, ainda que tenha-
mos internamente a melhor Constituição do mundo, nao
obstante seremos internamente f r a c o s , como Saxonia des-
membrada na Paz g e r a l , ou como Satdenha e Nápoles-,
que ha pouco cedèiaó ao poder da Áustria. Se porém
conservando o Ultramar naó cuidarmos em seu augmerr-
t 0 j naó elevaremos nossa bella Monarchia ao gráo de
poder de nue precisamos para nossa segurança externa:
seremos pobre» e f r a c o s , podendo ser rices e fortes; se-
remos ^milhantes ao possuidor de grandes prédios, -s.
que us iu.5 aproveita. Temos Províncias nas quatro p
tes do Mundo: a separaçaó de qualquer delias diminue
a extensão do Reino-Unido ; o desmazelo em pior- , e r
sua prosperidade diminue nossa torça e poder im.inseco:
pelo contrario a conservaçaó e augmento parcial de ca-
da huma concorre para o engrande. mento total da Mo-
narchia. Nem se diga q u e , naó offendendo nossos vizi-
n h o s , o direir, das G e n t e s , e os tratados nos defende-
rão. O d e o mais firme e inviolável saô exercitos nu :
tneiosos e aeuer. idos, com muitas e bem apercebidas
•esquadras. Nossos tratados com as Potencias mais for-
te- seraõ similhantes á sociedade do Lobo com o Cor-
deiro.
H

R E F L E X A O 3.'

As Cortes devem quanto antes fixar suas vistas par-


ticularmente no vasto Reino do Brazil. — A revolução do
Brazil est.í em parte verificada, havendo começado n a l -
gumas Provi <s por vontade dos habitantes, e n'outras
por ordem à-t «inverno. Ignoramos porém onde ella irá
parar. Já na Bahia se derramou sangue, e mais ainda em
Pernambuco, pelo choque dos partidos. Circufaó por lá
idéas de confederaçaó republicana : ha indivíduos de varias
condições, castas, e cores : ha livres , e escravos; Por-
tuguezes reinóes, e indígenas; A f r i c a n o s , e índios; e
castas mistas daquellas tres raças com varias gradações
de cores. Houve no século passado huma sublevaçaõ em
Minas G e r a e s , e neste outra em Pernambuco ainda mais
seria. A escravatura he numerosa, e superiores em nu-
mero os pretos aos brancos : os escravos aborrecem os
l i v r e s , e os de huma cor aos da outra. Se algum parti-
do republicano se levanta > e toma c o r p o , veremos re-
produzidos no Brazil os espantosos estragos da America
:Hespanhoia; e se os negros se subiev.. , veremos reno-
V" las as horríveis scenas da Ilha de S. Domingos. Além
':to quem nos certifica de que alguma Naçaó estrangei-
ra invejosa de nossa futura gloria naó tenha actualmen-
te .evolucionado o B r a z i l , atiçando o fogo dar discórdia,
a fim de cortar em flor nosso poder nascente ? E se eu
disser que os ínglezes, e Hespanl.oes Americanos tem
effeccivamente olfer.-cido munições e armas a algumas
Províncias se quizessem levantar-se ? E m fim o Brazil ! e
capaz de desafiar a cubiça de Potencias ambiciosas, co-
mo já desafiou a dos Holiandezes. Convém pois descon-
fiar mais para errar menos; olhar muito ao l o n g e , e
acautelar tudo. Se perdermos o B r a z i l , dir-se-ha de nós
que nos levantámos a £4 de Agosto p.ira darmos hr>na
queda mortal; e que havendo grangeado taó vasta ÍVlo-
narchia nu. íq v a l o r , 4 perdemos por nosso desma-
zelo.
R E F L E X Ã O p. a *

As Cortes naó devem tratar do melhoramenio e re-


forma de nossas Províncias do U l t r a m a r , sem que pri-
meiro se achem reunidos nossos Procurai. •> Ultrama-
rinos. — Nossas Cortes compostas sómer 'e Pi ©cura-
dores E u r o p e o s , reptesentaó somente o povo de Portu-
gal , e A l g a r v e : e só depois de reunidos os Procurado-
res das outras tres partes do mundo, lie que nossas Cor-
tes seraó propriamente Geraes e Ecuménicas. Ora se os
Deputados Pbi tuguezes estaó frequentemente disciepan-
do em assumptos proprios de P o r t u g a l , como poderáó
HJpc acertar nos negocios do Ultramar? Alem de que
quem nos certifica de que os Deputados Ultramarinos
háveraõ por bom quanto os Deputados Europeos tiverem
decidido relativamente a seus paizes ? Por isso as Cortes
se tem havido com sisudeza, naó começando a tratar
negocios do Ultramar senaó ao compasso que vinhaõ
chegando Deputados de 'á. A celebraçaó das presentes
Cortes era imprevista , e meio anno antes ninguém So-
nhava na sua installaçaó: era logo impossivel que oS
D e p i r ^ d e * viessem instruídos em todas as matérias qu®
houvessem de ser tratadas; e era mais fácil que os De-
putados Ultramarinos conhecessem as cousas de Portu-
gal , que os de Portugal as do Brazil. Juntos pois os
rYocuradores de toda a M ó n a r c h i à , o Europeo ouvirá
com utilidade e prazer ao A f r i c a n o , e Americano dis-
ce-rerem sobre os negocios particulares de seus paizes:
as <.,. estóes seraó mais" maduramente discutidas « acerta-
damente decididas; e naó duvidarei dizer que os Procu-
radores aprenctera^ Huns dos outros o estado presente das
Cousas em cada Província , e as reformas que for util
praticar , segundo a variedade das circunstancias ; e vol-
ta-ió r sua patria cheios de verdadeiro amor ao GcVer-
rio e á Nr.ç.ió , o qual iraó accender em seus constituin-
tes. Observaremos neste lugar, que a MonTCÍiia i'ortu-
gueza he ma!- 'ifKcil de governar que algumas c7.-.
ainda que ma >res, como Prússia, e Âustri e iste ,
la dispersão de suas Províncias, variedade t . N a ç õ e s -
r6
que a compõem, edifferença de R e l i g i ã o , condições, e
interesses. Demanda pois seu bom governo a maior mas-
sa de conhecimentos individuaes, e os maiores esforços
da parte dos empregados em qualquer dos ramos piinci-
paes da administraçaó publica. Quaes deveráõ pois ser
os conhecir-.T „os Procuradores dos P o v o s , seus R e -
presem.,. . Deputados nas Cortes Geraesí

R E F L E X Ã O io. s

Importa formar com brevidade o systema de uniaõ


das partes da Monarchia , para que o Reino-Unido seja
tal na realidade, e naó , como até agora , no P O E U se-
mente — Antes da partida de Sua Magestade para o Bra-
zil existia este systema accommodado ás circunstancias
desse renpo. Posta depois a Corte no B r a z i l , mudáraó-
se as relações deste Reino com Portugal} e dos mais
Estados com a C o r t e ; e por isso de duas huma , ou de-
via conservar-se o antigo systema modificado porem se-
gundo as novas circunstancias, 011 formar-se outro syste-
« a . Com tudo nenhuma destas duas cousas se praticou ;
nem se fizeraó mudanças senaó para jpeior;-taes como a
abertura dos portos a todas as nações; a extensão do
tractado de commercio de 1 8 1 0 a todo o Reino-Unido,
e por conseguinte a todo o Brazil também ; e a limita-
çaó dos poderes, que Sua Magestade, partindo para o
R i o de Janeiro, dera mui amplos á Regencia. Daqui se
seguio sumrno desgosto nos Portuguezes Europeos,
veio aguar o justo prazer que lhes causavaõ as grandes
victorus alcançadas para libertar sua p -* , restituir
a Coroa a Sua Magestade. Se^ o-se mais a decadencia
da Marinha, e a falta de ouro que os estrangeiros varrem
dos mais recatados cantos do Reino-Unido: e se os es-
trangeiros \\ diziaõ , que Portugal he Coloiia de Ingla-
terra , agora podem também dizer que saó Colonia de
I . . 0 ' ~ r e--1 P o r t u g a l , B r a z i l , e Algarve. Este systema
he uo m r s necessário, supposta a dispeiaaC de nossa
Monarchia pelas quatro partes <io mundo, o desenanjo
'7
em que ficou depois da guerra , c a necessidade de lhe
dar a força de que he capaz. E quem imaginara , que.
desde 1808 até agora ainda naó appareceo tal systemaí

R E F L E X Ã O u.V

Neste systema deverá dec!arar-se, ou , eparar-se e


ter disposto o lugar onde El Rei deve ter sua Corte. -—
Estamos checados á questão a mais espinhosa , e odio-
sa de nossa politica presente. Portugal e Brazil saó as
únicas partes da Monarchia, que podem querer a Coite
para s i , e cada hum deites Reinos tem razoes que jul-
gará mui fortes e justificadas. No dito breve discurso so-
bre o Inçar onde EL-Rei deve ter a sua Cone, se diz
que ÍI.V. deve ser livre o te-la onde mais útil for ao Rei-
no-Unido. O Sr. Oliva reconhecendo que muitos naó
tem proposto esta questão pelo receio de desgostar o pu-
blico, naó duvida com tudo declarar explicitamente que
a Corte deve estar no Brazil. Sc sobre este ponto se con-
sultarem as Cortes d? • v u o p a , talvez dec.daó que a
Corte deve estar em Lisdu.* , |4 porque lhes fica mais pró-
xima , já porque naó he do interesse das mais poderosas
qui^-sJccn do Atlântico se excite huma Potencia f o r t e ,
mormente estando costumadas a tratar Portugal como Rei-
no da segunda ordem. Se se consultarem os Portuguezes
Europeos e Ultramarinos , ve-los-nemos discordes , deci-
dindo cada qual segundo sua vaidade ou interesse, mor-
mente aquelles que aspiraó a obter mercês por valimento,
c os que vivem deste valimento. Naó he poiá por taes
pihicipios que se ha deiesolver taó importante questão,
mas sim pelo grande axioma salus popttli suprema. Itx
esto, isto h e , pelo maior bem possível da maior parte dos
Cidadãos. Para dar pois alguma luz a este complicado
assumpto devidirei a ^uestaó em partes.
Parte i. :1 A Corre deve estar no lugar mais proprio
para conservar a integiidade, e promover o ,facil e
prompto augmento do Reino-Unido. = Todas as nações
se regulaó n<v este principio, ainda que variem' em
applicaçao. Hespanha , F r a n ç a , Áustria, e-Toscatu iera
a Corte no lugar mais central; Inglaterra, e Rússia
3
i8 '

tem sua Corte á beira-mar pelas conveniências eom-


m e r c i o , e da Marinha. T u r q u i a , N á p o l e s , e Ho!landa
a tem em lugar central e marítimo. Assim cada Nuçaó
de ordinário escolhe, para Corte o lugar que se reputa
mais vantajoso nara o bem geral de toda a N a ç a ó . P o r
este princip. o Reino-Unido dirigir-se nesia esco-
lha , e mai orupulosamente que outras N a ç õ e s , para
algumas das quaes pode ser mais ou menos indifíerenie
o lugar de sua C o r t e , mas naó para o R e i n o - U n i d o ,
que tem Províncias dispersas, extensíssimas, e que pre-
cisão de ser conservadas, povoadas, e por todos os mo-
dos melhora-las. L o g o a Corte deve estar no lugar mais
proprio pára conseguir estes fins, dos quaes depende a
perpetuidade, e a futura grandeza da N a ç a ó Portup-up-"*
Parte 2. a Piesentemente he necessário que „ ie
esteja em Lisboa. — Porque trata-se de se reformar a
M o n a r c h i a , cortando o p o d r e , e conservando o saõ.
Açhaó-se congregadas as Cortes G e r a e s para effeituar
esta necessaria reforma. Sua ?''agesrade mudou a C o r t e
para Lisboa para residir junto ás C o r t e s , e com ellas-
promover as reformas de que precisamos, H e logo ne-
cessário que a Corte GSteja presentemente em Lisboa,
Sua Magestade assim o reconheceo, e todo o F e i n o - U n i »
do o deve igualmente entender.
Parte Por alguns annos será indifferenie que a
C o r t e esteja de cá ou de lá do Equador. — Porque ain-
da que a populaçaó PortugueZ" E u r o p é a , inclusas as
Ilhas a d j a c e n t e , seja menor que a p o p u l a n õ U l t r a m a -
r i n a . com tuuo esta se acha muito dispersa nas q u " r
partes do M u n d o ; e mesmo no B r a ? ' ! a p o p u l a ç a ó , . - i -
do maior que a de P o r t u g a l , com tudo avulta menos
pela sua dispersão n u m paiz qu< i igual á ^uropa. Pelo
contrario a populay 5 Européa , ainda que m e n o r , está
com tudo mais unida , e por isso pôde o G o v e r n o dis-
por delia com mais promptidaó, e energia , e des: m
neira acudir ás outras Províncias do U l t r a m a r , sem que
se''- preciso que a Corte passe para o B r a z i l : com tan-
t =m que hajA a necessaria vigilanci. sua con-
servação , - a u g m e n t o , recommendadas nas R e f l e x õ e s
7 / e 8. a L o g o , róde a C i n e por alguns annos estar n*
J
9
F.uro' , sefii que por isso corra grande risco a conscr-
vaça da Monarchia. Com tudo,
Parte 4.a Concluída e promulgada a Constituição,
naõ parece absurdo que a Corte se mude para o B r a z i l ,
ainda que naõ seja absolutamente necessário. — i.® Por-
que a Pessoa d ' E l - R e i , e toda a R e a i Família estaõ
mais seguros no Brazil que em PortuS" 1 ' ^e quaesquer
ataques externos. P o r t u g a l , como Reino pequeno, pôde
ser occupado em pouco tempo por seus i n i m i g o s , com
summo risco da Pessoa d ' E l - R e i , e da R e a l Família. N o
tempo do Senhor D. Joaó I. os Castelhanos cercáraõ
L i s b o a , e chegáraó a Aljubarrota , onde foraõ derrotados.
Filippe II. o tomou sem grande difficuidade. Reinando
0 Senhor D . Jose os Hespanhoes corrêraó as raias de
1 ras-us-Montes, e Beira. Junot entrou ein Lisboa em
i 3 o 7 - , e depois delíe Soult tomou o P o r t o , e Massena
chegou ás Linhas de L i s b o a , onde foi rebatido, naõ pe-
los Portuguszes s ó s , mas pelo exeicito alliado. Portugal
só por si naõ pôde emp>. nender contra a Hespanha guer-
ras offensivas, e nas defensivas huma batalha perdida
pôde reduzi-lo a extremo perigo. Se pois a Corte esti-
ver em Portugal , naõ terá E l - R e i nos últimos apei tos
outro refugio m a i s , que entregar-se á discrição dos ma-
r e s , se estes lhe naõ forem vedados. Pelo contrario n'um
R e i n o espaçoso, como o B r a z i l , pôde o Monarcha re-
tirar-se de humas para outras províncias, como na ulti-
ma guerra fizeraõ Francisco II. , e os Reis de Prússia ,
Sardenha, e Nápoles. He por tanto o Brazil por'sua ex-
tensão mais proprio, que P o r t u g a l , para a consérvaçaõ
da Real F a m í l i a , e d ' E l - R e i . E com efteito se Portugal
tem sido algumas vezes vencido, o Brazil pelo contrario
nunca o foi , ao menoc todo elle. E quem o ha de ven-
cer? O s Hespanhoes seus vizinhos nem para isso ten\
f o r ç a s , nem interesse: elles possuem paizes extensíssi-
m o . que ainda naõ povoáraõ, nem povoarão taó c e d o ,
assim como os Portugueze3 no Brazil. As Potencias E u -
ropcas nunca foraõ felizes em soas guerras contra a A m e -
rica , quaes foraõ os Inglezes contra seus Irmãos. A - e-
ricanos, e contra os Hespanhoes; e os FranceZes, e
Hollandezes contra o Brazil.* Se pois E i - R e i conservar.
S *
20
ara sempre a Corte em Lisboa , que d e v e i fazer -> So-
erano do Reino-Unido , se para o f u t c o se 'excitar ou-
tra guerra taó tempestuosa como a de i 8 c y ? Deverá a
C o r t e , que he o centro do G o v e r n o , e donde dimanaó
as providencias tendentes ao bem g e r a l , d e v e r á , d i ^ o ,
voltar segun ' - i para o B r a z i l , e andará a s s i m , co-
mo ambulan , , ora para lá , ora para cá do Equador ?
N a ó causaria tal mudança a maior desordem na publica
ádminisíraçaó ? N a ó he pois ab.;urdo que a Corte esteja
no Brazil como o lugar mais livre de perturbações e x -
ternas, e p o r isso mais seguro para E l - R e i , para a R e a l
F a m í l i a , para a mesma C o r t e , e por conseguinte para
a boa administraçaõ e governo do Reino-Unido. 2." O
B r a z i l he o lugar mais central do Reino-Unido F "*
começa na f o z do Minho e raia de Galliza , e sc emen-
de até M a c á o , e Ilhas do T i m o r e S o l o r ; de sorte que
os dous extremos saõ estas I l h a s , e Macáo na A s i a , e
Portugal na E u r o p a : no meio destas extremidades estaõ
as Ilhas e P r o v i n d a s continent d ' A t r i c a , c o Brazil.
O Brazil dista menos que Poriug da A s i a , he parallelo
a A f r i c a , e dista de Portugal h u m m ? Z de viagem ou pou-
co mais ou menos. 3. 0 O Brazil despovoado, como está ,
tem com tudo naó só maior extensão , mas até mais povo
que Portugal. E l l e terá de 4 a 5 milhões de habitantes , que
podem subir a 30 ou 4 0 nas i Jades futuras. Portugal
porem diz-se ter ^ milhões sómenre: e por mais que di-
ga o Sr. Oliva no seu Additanunt" ao seu projecto , nun-
ca terá 6 milhões ao menos neste século Veja-se a
Memoria do Sr. José Joaquim Soares de Barros inse 'a
nas Memorias Economicas da Academia Re.il das Scitii-
cia , tomo i . ° Pode aqui notar-se que a populaçaó cor-
tuma de ordinário equilibrar-se .orno os hquidos. E m
quanto o Biazil es. .r despovoado, e offerecer bons es-
tabelecimentos, na-" "essará a emigraçaô de cá , e he es-
ta a causa principal da menor populaçao de Portugal.
4 o . O Brazil no estado de infancia , em que se acha y
precisa de cuidados mui sérios, e nunca interrompidos,
d : ,-arte do G o v e r n o , para lhe dar lenta e gradualmente
o engrandecimento que pode t e r , e de que a N a ç a ó pre-
ciza para i a Potencia d" i . a ordem. Este augmentg naó
21
pócíe ter tan'o lugar cm P o r t u g a l , como n-> B t a z i l .
Aqui basta remi v e r , r e f o r m a r , e m e l h o r a r , quanto o
permitre a pequena extensão deste R e i n o ; mas no B r a -
zil importa c i e a r , c o t i s e i v a r , p r o m o v e r , e a m p l i f i c a r ;
e isto n u m paiz dc extraordinária ex"e-- r ó , e che:o de
immensos recursos, c c.:b?d.ies nativo?. O a quem duvi-
da de que a presença do Monarca r.aquelL R e i n o pôde
concorr er muitíssimo para aquelle angmentò? E com
efteito p tem concoiiido. A populaçaó se tem a u ° m e n -
tado notavelmente depois da passagem da Corte para lá.
N a R e f l e x ã o 5.! indicámos os desvelos de Sua Magesta-
de no engrandecimento doBraZil. Ora se isso se tem pra-
ticado em tempos de g u e i r a , e , finda e s t a , com huma
rr.çaó chamada v i c i o s a , qual -será o áugmento
Co Drazil quando os esfoiços do u b v e r n o ajudados pe'as
C o i t e s , forem mais maduramente c a l c u l a d o s , e mais
energicamente executados ? P o r todos estes motivos affir-
mamóS que mesmo nr tempo presente, concluídos ôs
trabalhos das C o r t e s , t<aó patece absurdo que a Corte
se estabeleça no B r a z i l , ainda que esta mudança naó se-
y rí absoluta necessidade. Porém
Parte 5." Concluída e publicada a Constituição tam-
bém naó parece absurdo que a Corte se conserve em
Lisboa. i . ° Porque o Reino-Unido he Monarchia A m e -
r i c o - E u r o p é a , que deve sustentar relações mui impor-
tantes com as outras Cortes da Europa. Estas relações
"ora as outras Coites J a Europa pedem ser mui vanta-
josas ao Brazil em quanto ao c o m m e i c í o , e á conserva-
çi-.ó da paz. Se pois for útil que a Corte esteja em Por-
tugal para a melhor expedição e acerto destes n e g o c i o s ,
he de razaõ qu ella se conserve. 2. 0 O Brazil naó pre-
cisa ainda da presença d ' E l - K e i . Sendo hum paiz pouco
p o v o a d o , e d e Províncias pouco conne cas entre s i : e por
'anto sendo ou parecendo mais util presença d ' E I - R e i
j.a Ei.topa , devem convir nisto os Po:tuguezes A m e r i c a -
nos. C o m tudo
Parte 6.' Quer a Corte esteja em Lisboa , quer no
Brazil , parece que deve haver huma Capital naqnelie-
dos dous R e i n o s , onde E l - R e i naó residir. — ^orque ca-
da hum dos dous R e i n o s ten al affluencia de nego-

4
22
c i o s , que a q u e l l e , onde E l - R e i .naó- residir , deve ter
seu Governo Subalterno a E l - R e i encarregado de velar
em sçu augmento eprosperidade i n t e r n a , e n a defesa e x -
terna nos casos urgentes. Este G o v e r n o Subalterno go-
vernará P o r t u g a l , estando a Corte no B r a z i l , e gov"
nará o Bra - »" .. —o a Corte em Portugal. He da na-
tureza . o u s a s , que nos paizes remotos haja q u e m ,
em nome d ' E l - R e i , governe os habitantes desses p a i z e s ;
esta he a pratica de todas as Nações. Particularmente
Portugal dere ter no B r a z i l huma Capital preparada ( e s -
tando E i - R e i em L i s b o a ) para eíle se refugiar nos ca-
sos de grande p e r i g o , como em 1 8 0 7 ; c a s o , que se pô-
de r e n o v a r , mormente no estado de periuibaçaó da E u -
ropa , no qual os Monarckas desenvolvem tanta arrbi-
ç a ó , e os povos tanta inquietaçaó. Hum dos maiores
cuidados do G o v e r n o do Brazil deverá ser pôr- os meios
mais adequados para engrandecer aqnelle R e i n o pela
agiiculcura , e p o p u l a ç a ó , e eleva-lo ao maior gráo de
poder intrínseco de sorte que eLe seja o centro da maior
f o r ç a do R e i n o - U n i d o , e este possa hombrear com os
mais poderosos Estados do Mundo.
Parte 7. a Q u a l dava ser presentemente o lugar da
Corte do Monarca pertence ás Cortes decidi-lo; as Cor-
t e s , d i g o , compostas dos Deputados de todo o R e i n o , en-
viados pelas nossas Cameras das quatro partes do M u n -
do , pois he negocio de relevante i m p o r t a n c i a , e que in-
teressa a todos, e no qual todor devem ser o u v i d o s : e
pccrescento, que para este único caso só se deveriaõ
congregar Cortes Geraes de toda a N a ç a ó . T a ó impor-
tante o supponho! Esta. questão deve ser decidida unica-
mente peio interesse commum de todo. 1 R e i n o - U n i d o ,
e naó por c o m p e t ê n c i a s , e m u l a ç õ e s , caprichos , teimas ,
systemas cerebrino , e aéreos , nem taó pouco peio in-
teresse único de P o r t u g a l , ou peio único do B r a z i l , m a s
pela conveniência commum de todo o Reino-Unido. O
que convém a todo o R e i n o - U n i d o , convêm a todas as
suas partes. N a ó se pôde augmenr.ir huma com prejuízo
das outras , sem se prejudicar ao t o j o . E quem poderá
melhor julgar do que convém a todas, senaó os D e p u -
tados de todas í
23
P rte 8." Para o frtmro, naó he racionarei decidir
agora qual haja de ser a Corte do Monarcha do Rei-
no-Unido. — Porque o mundo politico dá ratitas v o l t a s ,
tnó inopinadas, e extravagantes, que certo fora summa
temeridade, ou loucura ousar romper trévas do futu-
ro. Basta regular o presente, e aquella parte do futuro
que podemos alcançar com a previdencia co imum. Co-
mo no Governo Monarchico temperado, as Cortes se
devem congregar com frequencia , nellas se decidirá o
que for mais util a ambos os R e i n o s , devendo ambos
contentar-se com ter hum delles a C o r t e , e o outro hum
Governo Subalterno, como se pratica em todas as Na-
i úes - e sempre se praticou. Estes devem ser os bons
?o'-ri 'içypc de ambos os hemisferios. Naó queiramos
se< .i.^ -i perspicazes do que Deos nos fez. Os successos
lios ensinarão , se tivermos aquella ufania nacional, em
que consiste o verdadeiro patriotismo.
Parte Quando a Corte se mudar para o B r a z i l ,
deve estabelecer-se na Bahia ou Pernambuco. — Porque
aqui fica mais central ao R e i n o - U n i d o , e a Portugal.
An Reino-Unido; porque fica mais próxima de Portugal
com quem devem ser mais frequentes e importantes as
communicaçóes, e naó dista mais da Africa que o R i o
de Janeiro. Todos sabem a diíRculdade que há de nave-
gar do R i o de Janeiro para o Norte. A o Brazil fica
também mais central a Corte posta em Pernambuco, ou
T*a,hia , porque o Rio r>e Janeiro está proximo á extre-
midade do Sul do B r a z i l ; mas Pernambuco ou Bahia te-
laó para a parte do Norte do Brazil as Provincias de
G o i a n a , P a r á , M a r a n h a ó , P i a u h i , S e a r á , Paraiba ; ao
S''l as Provincias do Espirito Santo , R i o de Janeiro,
S . P a u l o , Sa.ua Cath; ina , R i o G r a n d e ; e no sertaõ
as Provincias cennaes de Minas Gerar-;, G o y a z e Mato
Grosso. Alem disto o clima do R i o ;>e diz ser doentio,
c de "enambuco e Bahia mais saudavel, e o da Bahia
até he ameníssimo, e fertilissimo, assim como o assento
da Cidade de Olinda em Pernambuco. T e m o R i o a seu
favor seu porto capacissimo e impenetrável; o da Bahia
ainda he mais vasto, mas aberro, e será preciso fortifi-
ca-lo com f o r t e s , e embarcaçc - de guerra: o de P e r *
24
nambnco- tem menor capacidade , mas lie defensável mais
que o da Bahia. Naó ha lugar mais improprio para a Cor-
te do que o R i o de Janeiro: e basta d i z e r , que he mais
fácil a communicaçaó do Norte do Brazil com Lisboa
do que com o Rio. Para os trabalhos e apercebimen-
tos navaes tem A Bahia o melhor porto do mundo que
he h uma enseada de profundidade immensa, com mais
de i o léguas de capacidade, e toda salpicada de ilhas
de diversa grandeza , que apresentaó hum prospecto co-
mo o de Veneza. O que d i g o , digo também da Capital
do Governo Subalterno do Brazil.
A o diante se refutarão as objecções que se poderá
oppôr á doutrina desta R e f l e x ã o n . a

R E F L E X Ã O 12. a

Se cm algum tempo a Corte se mudar para o B r a -


z i l , deve entrar no systema de que falíamos a creaçaõ
da R e g e n c i a , que governe Portugal e Ilhas adjacentes
em falta e nome d'Ei-Rei , munida com os necessatios
poderes. — Digo que deve haver em Portugal Regencia ,
e naó , como quer o Sr. Oliva , V i c e - R e i ; porque na
Regencia seraó as matérias discutidas , e decididas por
pluralidade de v o t o s , e tem menos Ju^ar a ai bitrarieda-
de. A quantidade do poder da Regencia deve medir-se
pela necessidade do p o v o , e esta juigar-se pela distancia
da Corti., e pela natureza dos negócios e dependeríeis.
N o dito Breve Discurso se diz que os empregos e mer-
cês de menor entidade sejaó conferidos pela Regencia ,
e os provido? sejaó mettidos logo de posse. A isto ac-
crescentaria eu que se E l - R e i quizer assignar as Provi-
sões, devem estes papeis ir e vi'- sem despe?as das par-
tes , como se E l - R e i estivesse cm L i s b o a , onde deve
sempre considerar-se residente em quanto ao despacho
destes negocios. Com e(Feito a mesma natureza das
sociedades civis requer imperiosamente se dè á Regência
o. poder correspondente ás necessidades dos povos. E l - R e i
lho deo em Novembro de 1 8 0 7 ; mas depois coarctou-
l h o : e que .se seguio dahi ? o desgosto geral. Sé este
desgosto s j naó evita , conferindo á Regencia a auinorig
dade competente, o povo afflicto murmurará, e por
ventura cogitará de outro Governo que melhor o satis-
faça , similhante ao e n f e i m o , que nunca está quieto em
quanto naó acha alivio a suas dores. O povo de sua par-
te naõ desmerece que á Regencia se confira similhante
authoridade , naõ só pela distancia em que se achará da
C o r t e , mas também pelas constantes pi ovas domais acri-
solado amor que ate agora tem dado a seus Monarchas,
e assignaladamente a Sua Magestade. He porem este as-
sumpto de taó relevante ponderaçaó , que só elle deman-
da a mais seria reflexão das Coi tes. O que digo da R e -
gencia de P o r t u g a l , digo também da Regencia do Bra-
Zil estando a C o n e em Portugal.

R E F L E X Ã O iÇ

D e v e outro sim entrar no dito systema o regulamen-


to das relações commerciaes entre os Lstados que com-
põem o Reino-Unido. — F.stas relações paiecem de to-
do quebradas, e as Províncias Portuguezas tem mais re-
Jaçaó com os estranhos, que conisigo m e s m o , ou antes
p„.ccem colónias e paizes tributários das outras Nações.
Acontece-nos quasi o mesmo que acontecia aos Régulos
da índia submettidos ás condições que nossos V i c e - R eis
lhes impunhaõ. Sabe-se que até 1H07 os productos^do
Brazil destinados para consumo da E u r o p a , vinhaó a
Pp;tugal donde se derramavaó pelas Nações Européas.
Tínhamos entaó os vasos necessários para a carreira do
B r a z i l ; tínhamos a maruja correspon^.ite ao serviço da-
quelles vasos; tínhamos os fretes ; tínhamos o uso e pra-
tica do mar. Mas depois que os portos do Brazil se abrí-
í a õ a todas as N a ç õ e s , todas aquellas vantagens foraó
a menos. Nunca a marinha Portugueza , n'out:o tempo
a inveja dos estranhos, sofíreo golpe mais destruidor.
US negociantes de outras Nações foiaó estabelecer casas
de negocio no B r a z i l , e seu maior desvelo he varrer para
fóra quanto ouro se cunha. Cuidou o Ministério, que
abrindo os portos a todo o mundo, chamava para o Bra-
zil o numerário das Nações estrangeiras; mas enganou-
g e , porque ellas, se levaó os frutos do Brazi 1 , tambeni
4
lhe -vendêM suas manufacturas, que acfrsó assas consta
mo naqueUes povos onde os que podem , vestem pannos
Inglèzes. Fazem o mesmo que seus irmãos de Portugal-,
que vendem aos estranhos as lãs finíssimas que l a v r a ó ,
para as receberem delles já manufacturadas a pezo d<.
dinheiro. Forte desleixo! A este respeito cumpre n o t a r ,
que os productos , que os estrangeiros importa6 no B r a -
z i l , sendo de ordinário manufacturas, valem mais qut.
os piodiiótòs que de lá expoi taõ , que de ordinário saõ
fructos, que avultaó mais e valem menos, que as ma-
nufacturas, Por isso nossas fabricas deviaõ "decahir, e
em qianto se naô reformar tal abuso nunca teremos fa-
bricas. Forte desleixo! forte desampaio! He porem cer-
tíssimo que a parte mais complicada daquelle na
he esta que trata das relações comme-rciaes ae ... .. a s
partes do Reino-Unido: e a este respeito me occorrem
os seguintes princípios: l . ° Fazer que o numerário cir-
cule por toda a Monarchia , e quanto for possivel naõ
saia para fora delia. Sei que este principio será de diffi-
cil e x e c u ç ã o , porque a Monarchia tem tantas entradas
e sahidas , quantos saó os portos marítimos, e rairs que
o dividem de outros paizes nas quatro partes do muuuo.
C o m tudo por que naõ faremos o mesmo que os Ingle-
zes que tem a arte de attrahir a si o numerário das in-
numeraveis Nações com quem confinaõ? 2.° Que ne-
nhuma das pattes do Reino-Unido receba de fóra quaes-
quer generos q<ie puder haver de sua lavra e indusrr. :
isto h e , que vivamos mais do nosso, e menos do alhêo",
pois temos para isso com abundância. Assim o B i a z i l r e -
ceberá só de Portugal e Ilhas v i n h o , azeite, e s a l , e as
manufacturas qne nossa industria fabricar : e Portugal
re-aberá só do Brazil a r r o z , assacar, café , m a n d i o c a ,
páa de tinta , courama , 8cc. O mesmo digo das terras
de A f r i c a , como Madeira, Cabo Y r erde, & c .
o commercio entre as províncias do Reino-Unido fa-
ça só em vasos nacionaes, com tripulaçaõ nacional. 4.°
Que oa direitos impostos a nossos navios empregados nes-
te commercio sejaó mais favoráveis que os direitos im-
postos aos estrangeiros que frequentaó nossos portos : de-
Y&;ido noáp navegaçaó mercantil reputar-se como feita
-7
tia w s i n a C o s t a , pouco mais ou menos. E por tanto
5.® Como naó será possivel, nem talvez conveniente ve»
d.-.r aos estrangeiros totalmente o commercio directo do
B r a z i l , importa augmentar-lhes os direitos nas alfande-
gas , alliviando-os, como fica dito, aos vasos nacionaes.
6.° Ha géneros que deveráó ser prohibidos em todo o
Reino-Unido: e saõ todos os que podem atrazar a indus-
tria do povo. Quanto aos generos de mero l u x o , se a
Naçaõ se acha pobre, devem ser prohibidos , ou fabri-
cados no Reino. F, quem pode duvidar de nossa pobieza
actual ? 7. 0 Sobre tudo importa atalhar á sahida do ou-
ro para fóra do Reino-Unido. Os Inglezcs tem sacado
de Portugal sommas espantosas: e ja eu disse que as
casas de negocio dos estrangeiros recentemente estabele-
cidas no tírazil varrem o ouro de todos os retretes da*
quelie R e i n o : e he huma verdade. Releva notar aqui
que o favor concedido nas alfandegas aos nossos géne-
ros, naó prejudica is rendas publicas. Se favorecermos
o commercio dos estrangeiros, estes nos alagarão com
seus generos , como ha pouco fizeraó com o seu g r a ó ,
e os Inglezes estaó fazendo com suas manufacturas as-
sim nos Jevaráó o dinheiro, e chegaremos a tal ponto
de pobreza , que nem ainda teremos dinheiro para com-
prar esses generos estrangeiros, ainda que baratos. Quan-
do o Governo favorece os estrangeiros para ganhar pe-
las alfandegas, he a Naçaó saqueada por dous ladrões,
jíelos estrangeiros que levaó o numerário, e pelo pró-
prio Governo que atraza a industria publica, para en-
cher o Erário de dinheiro, que nem sempre se appliea
para utilidade commum.

R E F L E X A Ô 14/

N a ó devendo as Cortes tratar a proposito dos me-


lhoramentos do B r a z i l , e outras Provincias do Ultramar
sem se acharem reunidos todos os competentes Procura-
dores ; entaó depois dê juntos veraó o que pudéramos
ter sido, o que somos, e o que podemos vir a ser; e
bem assim os meios mais adequados para procurai m o s ,
e elfeituarmos nossa futura grandeza. — Sá as Cortes
4 *

i
28
lançarem suas vistas por todo o R e i n o - U n i d o , verão
tom mágoa a Religião Catholica atenuada em Portuga!
na sua parte mais essencial, que he a p u r ^ a e regula-
ridade dos costumes, isto h e , aparte pativ... c Ie verdade
que o culto p;iblico apparece em nossos Templos com
ostentaçaõ , talvez demasiadamente, magestosa : mas es-
ta linguagem de gesto he taõ pouco entendida do p o v o ,
que nas funcções mais solemnes se vem pessoas até de al-
guma i epresentaçaó conversando em bagatelas , e até rindo
com desprezo da R e l i g i ã o , e de seu Divino A u t h o r , e com
escandalo da mocidade, que facilmente aprende e trans-
mittc taó funestos exemplos. A ignorancia dos Dogmas
e dos proprios deveres he quasi geral. Por todas as cias-
ses reina o egoismo, e com elle a lascívia, o i w - a
má f é , a ambiçaõ , e mil outros vicios funestos « auc;e-
dade. Esta R e l i g i ã o , que he doce consoladora dos míse-
ros mortaes, se acha assas decahida em Asia e A f r i c a ,
e muito atrazada na A m e r i c a , podendo dizer-se com ra-
Zaó de nossas províncias Ultramarinas =5 Messis qttidtm
multa , operarii atitem panei. =1 Nas duas primeiras acha-
ráó fracos restos do que ella fora no século 16°, -•par-
te do 1 7 . 0 ; Templos arruinados, ou cheios de s i l v a s , a
F é amortecida, e eai partes extincta , o culto publico
desfigurado, os costumes quasi pagãos, excepto poucas
I g r e j a s , que po r misericórdia Divina c p conservaõ á som-
bra de nosso I m p é r i o , e nas quaes i u ó faltará que re-
formar. As duas provindas de Angola , e de Moçambi-
que offerecem hum sertaó immenso, onde a Fé he des-
conhecida, e pode: ia ganhar illustres triunfos. Veraó tam-
bém os Depiuados das Cortes o muito que ha para re-
formar nas repartições c i v i l , m i l i t a r , e mercantil. V e -
l a ó que conveniências podereme" tirar d lugares da
A s i a , que he actualmente o sorvedouro de nosso nume-
rário Na America veraó quanto importa continuar , <"•
apci.wiçoar os planos já começados por Sua Magestaae
para o angmenco daquelle novo Rei n o , ajudando-o com
suas luzes para levar ávante seus grandes desígnios. V e -
raó quanto importa adiantar a agricultura e a popula-
ça ó , que andaô de ordinário juntas, e se auxiliaõ r e d -
prgcam«nt Veraó ss a toleranci., religiosa he necessa-
29

ria m Reino-Unido , e em que termos se" deve permit-


tir. Este he ho ; e hum dos assumptos , reputados por al-
guns por i™noi tantissimos, como se a tolerancia fosse
algum ren to heroico para encher a barriga de paó , e
bolsa de dinheiro! Ora ouçaõ meus leitoies este ponto
resolvido em duas palavras. A tolerancia he absolutamen-
te necessaria em Asia e A f r i c a , porque o numero dos
Cathohcos he mui pequeno , e por isso se extinguio a
Inquisição em Goa. A tolerancia he escusada cm Poitu-
g a l , e Ilhas adjacentes; pois sem ella temos sido r i c o s ,
grandes commerciantes, e nossas Províncias assns povoa-
das. Se expulsos os M o u r o s , e os Judeos no fim do se-
;ulo fomos riquissimos, e ha pouco o fomos desde
o Govt no do Senhor D. Jose até 1 8 0 7 , está claro que
a toierancia que nos deve enriquecer he a boa economia
publica. Mas se quizermos accelerar a populaçaó do B r a -
zil , he a tolerancia hum dos meios mais adequados. A
introducçaó de povoadores estrangeiros foi sempre ado-
ptada pelos Governos povoadores. Resta poicm averi-
guar primeiro se convém admittir no Brazil colonos he-
terodr'os , pois podem admittir-se Catholicos somente:
lesta ver se admittidos os colonos heterodoxos, deveráõ
esres estar misturados com os Catholicos, ou , como m e
p a i e c e , a«s gtiar-se-lhes territorio separado em que vivaõ.
N o Brazil ha muitos tei renos desoccupados, mormente
no Pará á beira do a m a z o n a s , e de seus rios collateraes.
Estes pontos, e outros connexos com estes , devem as
Cortes examin:" - maduramente, naó nor princípios abs-
tractos de Metaphisica politica , mas pela. experiencia in-
sinuada pela historia das Nações. Examinaráõ outro .sim
o modo de domesticar os Iniiios bravos, e dc lhes fazer
ouave o jugo uc nossa R e l i g i ã o , e império, sem lhes
apegar nossos vícios. V e r a õ como se diminuirá a impor-
r->r;ió dos escravos , corno se tornaráó úteis á propaga-
ção existentes no B r a z i l , e por que maneira se mes
poderá dar alforria , sem prejuizo de seus senhores. A
agiicultur.a merece no Brazil a maior franqueza, e tor
dos os subsidios possíveis, removendo-lhe os obstáculos,
animando os fazendeir ^ pela fácil sahida de seus frutos.
.Verão mais as Cones j s recursos que podeiuç, tirar dos

productos de todo o R e i n o - U n i d o , immensos na varie-
dade , e quantidade para as A r t e s , paia a Marinha , e
para outros u s o s , a hm de diminuirmos nossa dependen-
cia dos generos estrangeiros , e nos sustert. >s de nossa
casa. Muito deve a N a ç a ó aos sábios Socios da Acade-
mia R e a l das S c i e n c i a s , em cujas Memorias Económi-
cas se achaõ excellentes doutrinas sobre o presente as-
sumpto. Seria util termos huma Flora dos Vegetaes do
R e i n o - U n i d o : já a temos de P o r t u g a l ; mas faltaó B r o -
tcros para a fazer completa dos vegetaes do B r a z i l : e
he vergonha de3Cuidarmo-nos da Historia Natural deste
R e i n o , que possuímos desde 1 5 C O , quando agora andaó
discorrendo pelo seu interior sábios estrangeiros, fazen
do collecções de seus productos, cujos trabalhos '* '
publicando pela imprensa; e nós os com pi amos a pezo
de dirihei.o, se queremos saber o que se passa em nos-
sas províncias. Q u e v e r g o n h a ! que desmazelo! Huma
rica Flora Braziliensc nos indicaria as varias especies dc
madeiras de construcçaõ de que abundaô as florestas do
B r a z i l , os vegetaes úteis para tintas, para m e d i c i n a , e
outros u z o s , de que a Monarchia se pôde p r o v e r , escu-
sando a importaçaó de generos estrangeiros. V e r a ó tam-
bém as C o r t e s , que vegetaes e animaes se podem trans-
plantar para o Reino-Unino. S e lá temos no Brazil a
cana de assucar da C a i e r m a , que se àiz introduzira o
S r . Joaó Severiano Maciel , ou o Coronel L i m a : anterior-
mente se introduzio a pimenta; e Sua Magestade mandou
vir para o R i o de Janeiro o chá da China por interven-
ç ã o do Doutor A r r i a g a , Provedor de Macáo. Assim po-
deremos juntar no Brazil • grande parte dos vegetaes do
O . ' e n t e , e prescindir talvez da posse dos lugares da
A s i a que nada nos utilizaõ. V e r a ó outro sim as Cortes se
convém prohibir a lavra das minas de Ouro e pedrarias,
cuto trabalho nos empobrece desviando nossos poucos bra-
ç o s das inexhauriveis minas da agricultura , e enrique-
c e os estrangeiros , que atrahem a si o melhor destes pre-
ciosos productos. V e r a ó em fim as estradas que convém
abrir á proporção que houver pés que as trilhem , para
c o n n a n c a r as distantes partes deste I m p é r i o G i g a n t e ;
c s canáes ^ue se d a v e ^ a b r i r , as cachoeiras e saltos que
se rodam d e m o l i r , as pontes que convém fabVicar, pa-
ra com moda passagem dos habitantes, e fácil exporta-
ç a ó dos itumenáo, fiuctos do paiz. & c . & c . Nossas Cor-
tes conend ..uonramente este magestoso quadro, vera5
nelie o ben. formado embrião do mais rico e populoso
império do Universso, conceberão a honrada ufania coi-
respondente á nossa futura grandeza ; faraó valer os he-
róicas feitos de nossbs maiores , que com seu sangue , e
escoimada fidelidade nos grangeátaó taó importantes E s -
tados, e do fundo de seus tumuios nos estaó clamando,
que os conservemos, e os deixemos á nossa posteridade
mais engrandecidos. A Naçaó Portugueza, e as gera-
ções presentes, e futuras ajuizarão da prudência e activi-
dade de Mssas Cortes no desempenho de taó complica-
da como g.oriosa parte de seus trabalhos.

R E F L E X Ã O ifr. a

O Brazil no estado em que ora se a c l n , precisa


de Portugal. — Acha-se esta asserção demonstrada no
dito Breve Discurso, e no projecto do Sr. Oliva. i . ° O
Brazil precisa de populaçaô ; ainda que elle possa cha-
mar povoadores estrangeiros, cemo a America Ingleza ,
nunca os achará taó analoges á populaçaó que já t e m ,
Como os Porêug-uezec F.uropeos, similhantes na c o r , lin-
guagem , R e l i g i ã o , l e i s , e costumes; em fim panno do
mesmo corte. 1 ° He glande lucro para qualquer naçaó
hum consumidor -»r(o de seus productos. Ora Portugal he
consumidor certo cios productos do B r a z i l , já g-^tando-os
m> p a i z , já «r«rega-ndo^os ao consumo das Nações Euro-
péas. O Brazil terá em Portugal a melhor escala pa-
ra o sen commeicio corr a Europa por meio dos muitos
portos que este ultimo t e m , môimente o de Lisboa orne-
th'-- ou hum dos melhores do m u n d o , provido de bom
i i w a l e i - c , Arsenal , e petrechos navaes. Para o Levante
tem o B r a z i l , Cabo-Verde , A n g o l a , Moçambique, G o a ,
e Macáo. No Mar Paci-firo naó íeiia difficil occupar pa-
ra escala alguma das mu as Ilhas do espaço que medêa
entre Asia e A m e r i c a , vhamado Polynesia. Para o Bra-
zil saber quanto lhe vai P o r t u g a l , lembre- ? que a
America Ingleza pagaria bem caro ter na Europa hum
porto, que muito tem desejado ter para abrigo de seus
vesos. 4. 0 Em estado de guerra com a Europa Portugal
será a vanguarda e o baluarte do Brazil , ue lhe pôde
sei vir de centro ou. apoio de suas operações militares, e
iisiio.de seus navios e commercio. 5. 0 O Brazil tem eni
Portugal hum manancial fecundo dos melhores vinhos,
azeites, e outros géneros para seu consummo. 6.° O
Brazil he presentemen;e Potencia fraca , porque he no-
va e mal povoada. Ainda que a populaçaó de todo o
liei
no-Unieio se traspassasse para o B r a z i l , ainda assim
este Reino naó teria a parte quinta de Sua populaçaó
possível. Que saó 4 3 5 milhões de habitantes, a maio r
parte de cor negra ou fusca, e ametade ou mais de
ametàde escravos , espalhados n'hum espaço ue 44 grãos
de latitude, e 30 de longitude; cujas Províncias estaó
avulsas humas das outras por bosques immensos, sem es-
tradas , e sem dependencia necesaria: cujos habitantes
$aõ outros tantos elementos heterogéneos, e sem aqueiie
patriotismo é amor fraternal que se acha nos Portugue-
zes Europeos; cujo terreno he agricultado por escravos
comprados nas costas de Africa? Precisa por tanto o Bra-
zil de hum poder que reúna as vontades divergentes de
seus habitantes, e contenha as causas intrínsecas da dis-
solução de suas partes. Este poder está em Portugal. Por
isso digo que por ora o Brazil precisa de Portugal co-
mo o pupillo precisa do tutor, até adquirir pela maior
populaçaó , educaçaó c i v i l , e uniaó de suas partes a
consistência de Reino. Entaó , disse eu na Reflexão 1 1 . *
que a Corte deve estar no Brazil. Por ora naó he d í
absoluta necessidade a mudança da Corte. Os Estados
fracos reunem-se huns aos ourr-'- para s^ '«marem for-
tes: o Brazil por ora he f r a c o , logo deve conservar se
unido aos outros Estados da Monarchia. A épocha em
que o Brazil tentar separar-se de Portugal será também
a épocha da dissolução e inteira ruina da Monarchia L u -
sitana nas quatro partes do^ Mundo. ~
3-3
i . T •. • - .r •
R E F L E X Ã O

O B r a z i l ainda depois de elevado ao maior p o d e r ;


p.aô deve prescindir de P o r t u g a l , e isto por decencia ,
e interesses proprios. — O s R e i s do Brazil no mais ele-
vado auge de seu p o d e r , tendo sua Corte no B r a z i l ;
nunca poderáó esquecer-se de que saó P o i t u g u e z e s , des-
cendentes dos inclytos Monàrchas de P o r t u g a l , e que
Portugal he o esclarecido solar de sua Augusta F a m í l i a :
nem os Brazileiros poderáó esquecer-se de que P o i t u g a l
he a Metropoli do B r a z i l , isto h e , que o descubno cm
1 5 0 0 , que o conquistou, christianisou , agricultou ^ iden-
tificou c o m s i g o , e o defendeo com grande dispêndio de
sangue e cabedaes, e q u e , em f i m , o dispoz para ser
exaltado á cathegoria de R e i n o . Q u a l seria pois o des-
douro dos Soberanos do B r a z i l , qual a ignominia da-
cuelles povos se abandonassem P o r t u g a l , e s u patna de
h e r ó e s , cujas façanhas saó attestadas naó tanto pela
»enna de nossos Historiadores, e pelo clarim de nosros
Í oetas,
J
quanto pela voz dessas mesmas Nações onde
f o r a ó arvoradas nossas Q u i n a s , e se estabeleceo nosso
Império ? Q u e ingratidaó seria a do R e i n o do Brazil j,
se em algum tempo quebrasse as relações filiaes que o
ligaô com P o r t u g a l , a que elle deve i c \ existencia, e
representação como filho de taó illustre pai ? V e j a m o s
porém se o B r a z i l interessa em separar-se de P o r t u g a l ,
l o g o que se repute assás poderoso para sustentai-se. i . °
A l g u m a s das razões produzidas na E.eflexaõ antecedente
montraõ a dependencia em que o B r a z i l está de Portu-
gal ; e provaó também que sua uniaõ com Portugal lhe
será sempre vantajosa. P o r q u e ; naó lhe será sempre util
ter em Portugal hum consumidor certo de seus produ-
c : o s ? Portugal q u e , com as I l h a s , tem acima de 7, mi-
lhões de habitantes? N a ó lhe será util ter em Portugal
buma excellente escala d e c o m m e r c i o por onde pôde der-
r a m a r seus productos pela E u r o p a , e particularmente
por Hespanha , até por contrabando , como o tabaco?
Sendo muito de notar que sempre a Europa ha de ser a
maior consumidou dos pioductos do B u z i l . P o r ventu-
%
34
r.t em estaío de guerra naõ lhe será útil Portugal qu-t
militar, quer mcrcahrilmente ? Se Portugal esr ia as Pro-
víncias Ultramarinas para ter os producios one naó la-
v r a , por que deverá o Brazil desprezar Poi-mgál, onde
tem frucíos que lhe faltaó ? z.° Portugal e ^razil uni-
dos formrrõ h uma Potencia Americo-Européa, que figu»
lárá com atithoridade igual á de Hespanha, ou Prússia
entre as Potencias da Europa ; seu pezo será maior na
ba'ança dos Monarchas Europeos; e seraó mais vantajo-
sas e respeitadas suas transacções com as outras Poten-
cias ; donde refultaráó summos interesses, e distincta
honra a rodo o Reino-Unido. E qual será a representa-
ç ã o desra illustre Monarchia , quando ella tiver na Ame*
itca 40 ou 50 milhões de habitantes? 3.° S<* " Rrazil
desprezar P o r t u g a l , qual será a sorte deste pequeno R e i -
no í Se ficar independente, pôde tornar-se inimigo d o
Brazil. Se se une á Hespanha , elle a reforçará pela ac-
cessaõ de suas P r o v í n c i a s , e pelo baluarte de seus ma-
res. Entaó ' e a Hespanha fizer guerra ao B r a z i l , esr»
lhe será mais pelada , e elle se arrependerá <Je havr*
abandonado Portugal. 4. 0 M a s se o Brazil quer saber
quanto vale P o r t u g a l , pergunte a Inglaterra se o que-
rerá acceitar, no caso que lho dem ? P o r ventura pôde
ser indiflerente a ;iosse de hum Reino taó vantajosamen-
te siruado, po\v 'do dehuma N a ç a õ valorosa, bem mo-
figèrada , e fie!, e que goza do melhor clima do Mun-
d<"), com excelientes portos para o commeicio de todoS
«s mares ?

R E F L E X Ã O 17.»

Portugal naó pôde passar sem o Brazil. — i . ® Por»


i U g a l , Como Rei rio pequeno, deve estar ligado com aU
g'ima Potencia mais f o r t e , que o a p o i e , ou r e f o r ç a r á
conáervándo-sé unido aos Fstados por elle déscnberbsi
conquistados, e engrandecidos. Destes dous par tidos o
p rim eito hé péssimo, e o segundo vantajoso; deve Jogo
Éácolher o segundo, conservando-se unido ao Brazil. V e -
Jaõ se as Reflexões 1 3 , 2 . a , e segjinres, cuja doutrina
s e m ' a p p l i t 1 ô neste luga- Portugal unido «10 B
«it terá neste hum consumidor certo de seus generos
agr ; e d e suas manufacturas; equanto mais cres-
cer a popuiaçaó do Brazil maior será o consumo doa
yrociuçios de Portugal. Nesta Primavera de i8i|t esta-
mos vendo a grande quantidade de vinho que sahe par»
o Brazil da- colheita de 1 8 2 0 . JV-rima dissemos q«e Por-
tugal será Consumidor certo d;os productos do- Brazil »
agora. dizemos que o Bi azíl será consumidor certo dc»
Jjr.oductos de Portugal. Poitugal separado do B r a z i l ,
pôde ter a e»te por seu inimigo, que lhe occupe os es-,
ub.eleçimentos de Asia e Atriça., se alguma Potencia»
te^c.eira. os naó preoccupar: e ficará reduzido ao quer ÇJW
antes do Remado do Senhor D. Joaó I. Nossas terras
de / f , - ; c a ao Sul' da Linha fiaad parailelas e mais pró-
ximas ao Brazil do que P o r t u g a l , e por isso talvez
ganhem mais unidas- ao- Brazil que a Portugal. Se tal
acontecesse , naó se tornariaó por ventura inúteis nossast
façanhas Ultramarinas, esquadras, soldados, c o l o n o s , ,
despezas de dinheiro, tudo em fim, restando-nos sómen-
íe memoria para recordar a gloria de nossos tempos he-
í o i c o s , e olHos para chorar nossas perdas 5 4 ° Portugal
pôde ser sustentaJo pelo Brazil em tempo de guerra na ;
Europa. Esta guerra naó acontecerá facilmente senaó
Com Hespanha. Caso a haja pode Portugal ser soccotri-
do pelo Brazil com navios e dinheiro: com o dinheiro
pôde prover-se de munições, e chamar tropas auxiliares
para reforçar seu? exercitos. Além disto ou a -Hespanha
recupera sua A m e r i c a , ou naó. Se perde a America se-
tá mais fraca que o R e i n o - U n i d o , ao menos daqui a al-
guns annos: se a recupera pôde o Brazil atacar a A m e -
jjea Hespanhola, e fazer huma diversão util a Portugal.
5 . Portngal, ceparando-se do Brazil arrisca-se a ser Pro-
víncia de Hespanha: se tal acontecer, o nome Portu-
guez ficará extincto na E u r o p a , e mais obscurecido que
no tempo dos tres Fílippes, sem a menor esperança de
resubelecer-se. H e verdade que agora parece que Ingla-
terra, e França o naó haó de consentir para embaraçar
o engrandecimento de Hespanha: mas quem sabe se as
circunstancias mudaráó í Quem sabe se para o futuro
agrajiari o que agora.se íeprovaí Ou se será impossível -
5 *
embiraç.ir a sujeição de Portugal á H e s p a n h a ? Huma d ^
razões por que Inglaterra protege o Reino-1 m d o , lie
porque o Reino-Unido he colonia de Inglaterra: se pois
Portugal se separar do Brazil terá menos que dar , e ha-
verá por tanto da parte de Inglaterra menor razao para
acudir a P o r t u g a l ; e a t é , s e n ' o u t r a parte se lhe com-
pensarem os lucros que tira de P o r t u g a l , talvez naó du-
vide ceder de sua antiga e generosa alliança com P o r -
tugal. Donde se segue que P o r t u g a l , devendo zelar sua
independencia , deve por tanto reforçar-se com os Esta-
dos que compõem o R e i n o - U n i d o , e naó se ater aos
Y i z i n h o s , e alliados: logo Portugal precisa do B r a z i l ,

R E F L E X Ã O 18.'

D o que fica dito se c o n c l u e , que os R e i n o s de P o r -


tugal , B r a z i l , e A l g a r v e com os mais Estados annexos
devem empenhar-se, e forcejar por se conservar u n i d o s ,
c identificadas o mais estreitamente que for possível. —•
Estes tres Reinos unidos podem vir a ser m u i t o , mas
desunidos arriscaó-se a perder-se de todo. S e a d c u n i a c
começasse agora entre elles , quem sabe aonde e n a iria
p a r a r ? Q u a l seria a sorte das Ilhas adjacentes? Q u a l a
dos Estados de A f r i c a e Asia? Q u a l a das P r o v i n d a s do
B r a z i l ? A s desgraças resultantes desta espantosa dissolu-
ç ã o seriaó em verdade incalculáveis, e extremamente
funestas. Portugal ficaria inteiro como d'antes: qual se-
ria porem o partido que tomariao os povos do B r a z i l ?
Q i e eonflittos se excitariaó e n - e partido* opposcos? Q u e
discord'as entre os povos da mesma Província , e entre
humas e outras P r o v i n d a s ? Q u e occasiaõ mais opportu-
na para alguma N a ç a ó ambiciosa sc apodt ar das Pro-
víncias m u s expostas a titulo de protecção? E n t a ó se
desenvolveria de maneira terrível a ambiçaó com todos
os vicios que a acampanhaó. Todos quereriaó ser G o v e r -
nantes , todos se repatatiaô S o l o n s , e L y c u r g o s . M a s des^
viemos a v i s t a de taó lastipiosas s c e n a s ; bastantes nos
tem offerecido a Ilha de S. D o m i n g o s , e a A m e r i c a
Hespanhola. B j e n o s - A y r e s he Estado republicano , c u j a
G o v e r n o m i a u n t a s v e z e - , quantas se levantaó pariidQ*
37
mais forres. T e i ' r a ' F i r m e rem sido o t h e a t r o d a guerra
mai. atro. O M é x i c o s o f f i e convulsões. P e r ú , e C h i l e
a n d á n ó e . n D - c r . a viva. Mais de hum milhaõ de habitan-
tes tem perecid . E quem nos abonará que se naó pegue
â o B r a ^ l este incêndio destruidor? Esperamos que tal naó
icon .ça pela bondade de D e o s , providencias acertadas
do G o v e r n o , e bom caracter dos P o r t u g u e z e s , cujo
brazaó foi sempre a fidelidade, e o amor da Patria.
Lembremo-nos porem que importa v i g i a r , atalhar o m a l ,
desfazer as causas da desunião, e advertir que nunca o
perigo esteve mais proximo.

R E F L E X Ã O 19.*

P o r t u g a l , ainda que a C o r t e esteja no B r a z i l , pô-


de ser bem governado. — P o r ventura naó agiadará es-
ta asserçaõ a alguns Portuguezes E u r o p e o s , a huns ce-
gos por paixões particulares , • a outros porque tendo vis-
ta curta naó podem alcançar com ella o grande quadro
da Monarchia P o r t u g u e z a , e alguns talvez porque igno-
f „ presente estado das cousas. C o m tudo se lhes naó
agrada. , L.star-me-ha convencê-los. Portugal pôde ser
bem g o v e r n a d o , se naó for tratado como c o t o n i a , isto
H e , se tiver em si authoridade posta em nome d ' E l - R e i ,
á qual os povos recorraó sem i n c o m m o d o ; e se forem
bem reguladas suas relações com as outras paites da
M o n a r c h i a , mormente com o B r a z i l , de maneira que
,e repai taó com a posi-ivel igualdade os c o m m o d o s , e
j s incommodos: em fim >p feita a p lhor Constituição
p o s w e J , esta se executar pontualmente. H e por tanto
necessário para o bom governo de Portugal aquelle sys-
tema de que - ' a q " 1 r emos foliado. H e necessaria a m a i s
escrupulosa eicolha do* empi egados em todas as repar-
tições , e iinpor-lhes a mais estreita -esponsabilidade pe-
cxat-io desempenho de suas obrigações. S e o empre-
gado publico as naó-cumpre deve ser r e m o v i d o , e obri-
gado a restituir o damno. S e he aprimorado em seus
d e v e r e s , e he desprezado pelo G o v e r n o , desanima-se ,
•torna-se indolente, e ás vezes máo. Se o Governo o at-
í e n d e , e o r e m u n e r a , torna-se mais a c t i v o , e anima-se
3?
a fazer sacrifícios pela Patria. He necessário, outro sitfli
fomentar a agricultura e industria da Naçaó , imp* sòr
mente os tributos correspondentes ás f o . ç ^ e necessida-
des do Esrado, trazer na maior oídem a economia pu-
blica , a administração do E r á r i o , a paga dos ordenadas
aos funccionarios, e diminuir o afiieSso do lúxo. Come-
çando o exemplo pela C o n e e Nobreza. A este respeito
estamos em apuradas çir-cunstancias; temos ao mesmo
tempo pobreza, perguiça, vaidade, e luxo. Impo: ta
em fim cortar o, poxlie., c, conservar, e melhorar o bom
que temos. O Governo deverá chamar a si. todas as ipj
formações necessarias Sobre o estado das cousas, esobre
o que for converiíepte émeodar e r e f o t m a r , as quaes in-
formações pôde receber das C a m e r a s , e dos funcciona-
r i o s , segundo suas repartições, e d e pessoas babfis:"Des-
ta arte viverão os Portuguezes s a t i s f e i t o s a i n d a que 3
Corte esteja no. Brazil. Com efFeito Psrtugal passou sem
a presença d ' E l - R e i desde 1807. Neste tem|jo obrámos
os mais gloriosos feitos de armas. Contra a Regencia
posta nesse anno por E l - R e i naó houve, queixas graves.
Começou a havê-las quando os poderes antes conf'.Ím-S
amplamente, lheforaó depois, coarctados < ew.,uá..ió nel-
la pessoas , que podiaó talvez ser melhor occu padas
noutros empregos. Desdf entaó as mercês mais insignifir
cantes, v. g. liuma Carta de S a n g r a d o r , eraó dadas no
R i o de J a n e i r o , para engrossar os ordenados das pessoas
empregadas na Corte. Muitas destas mercês eraó vendi?
d a s ; ao menos esta he a fama. A Regencia desauthori*
sada pelo G o v e r n ^ , e alem dis*o sem ordenado c - devi*
desanimar-se, vendo "«'<" .ó podia, fazer o bem que
convinha, e entendia. L)isse-se que suas representações a
E l - R e i eraó pouco attendidas, porque er-^ontravaó op*
posição no Ministério do Brazil. Os empregados públi-
cos naó dependiaõ muito da R e g e n c i a , e tendo valimen-
to na Corte estavaó impunes. As contas dadas contra ei-
les podiaó ser inutilizadas por alguns contos. A Rcgen»
cia reduzida talvez a menos que huma Secretaria de Es*
t a d o , devia desanimar-se, e guebrar no zelo do bem
publico. Assim os abusos forao de mais a mais. A in-
troduejaó dos gráos* contra os clamores de. algumas Ca»
39
rnerf- oí proprietários, as r e n d a s , os rendei-
r o s , i os v v í v ^ ó dessas lendas. O e m p e n h o , e o fa-
vor , imigo» fataes da boa o r d e m , occupáraó o lugar
do mei "•imento e da justiça : afirouxáraó todas as m o -
las d? adininrstraçaó publica : exasperou-se a paciência
da N a ^ a ó , e a•final appareceo o acontecimento de 24
de Agosto. Concluo pois qne o vicio daquella má admi-
nistração naó vinha das c o u s a s , vinha dos homens. N a ó
era impossível governar bem P o r t u g a l ; naó se queria
governa-lo bem. O que poiém Portugal deseja he o b o m
g o v e r n o , quer E l - R e i esteja presente, quer naó.

R E F L E X Ã O 20^

Ainda que a Corte esteja no B r a z i l , P o r t u g a l , sen-


do bem g o v e r n a d o , naó he fácil que se separar do l\ei-
no-Unido. - i . ° P o r t u g a l , sendo bem g o v e r n a d o , co-
m o J ,e fa pôde s e r , naó tç.rá motivo para se separar
do G o v e r n o , com que he f e l i z , , e adoprar outro que
ignr—' <j Ua l sera. 2. 0 Portugal sendo f r a c o , , porque he
pt ; ue. - « - a c h a n d o por isso db apoio- d t outra N a ç a ó
mais I b i X c , naó he natural se separe do R e i n o - U n i d o , ,
mcrmente estando costumado a ésta uniaó ha muitos an--
nos , e experimentando , se o G o v e r n o for prudente, in-
teresses e vantagens taó essenciaes, como he a sua boa
cortservaçaó. 3. 0 H e bem sabido o amor que a N a ç a ó
P^rtugtieza tem a seus T J èis na^uraes; e que nenhuma
t tra apresentará facilmei h ?, se>ie de M o n a i c h a s
is m a d o s , e mais amantes de seu povo. L . a este
a m o r Habitual, transmittido por muitas g e r a ç õ e s , r e n o -
vado nos mais an<"rac!c. trances da Moriarchia , e con-
tinuamente fomentado 'a liçaó dc nossos Historiadores
e P ó e r a s , ' e i r e pélas .antigas do j naó pôde e x -
tin^ 'c-s? senaó ou por hum G o v e r n o «.cintemen- e máo
ou poi hufrta inteiía dissolução dos costumes. 4." Sabe-
mos lambem que P o r t u g a l . mítica fez destas mudanças
mais o j menos estrepitosas, senaó quando se tíaó a c l u -
v i bem com o G o v e r n o que tinha. S e as desgraças pu-
blicas nascem de causas naturaes, os povos as softrem
c o m r e s i g n a ç ã o , porque tanto a- ausas cpmo s desgra-
40

ças saõ necessárias. Assim nossos maiores s o f f i è r n ? a í


que o s a l í l g i r a ó no governo dos Senhores f ). Sanc'io 1. ,
e D. D u a r t e , a pesie do Reinado do Senhor D. Sebas-
t i a õ ; e nós a fome e as malinas de 1 8 1 0 , e 1 8 1 1 . M a s
se as desgraças publicas piovém da malícia e, vontade
dos h o m e i s , lie natural que os povos desejem c reme-
d i o , arredando a causa de seus m a l e s : e por isso a N a -
çaó fez as mudanças que acontecèraõ no R e i n a d o do S e -
nhor D . Sancho I I . , por morte do Senhor D . F e r n a n d o ,
110 Reinado de Filippe I V . , no do Senhor D . A í f o n -
so V I . , e em 1808. O que succídeo em Portugal se lè
também na historia de todas as Nações. Assim como os
p a r t i c u l a r e s , assim também os povos quando se achaó
e n f e r m o s , desejaó restabelecer-se. O máo governo he de
ordinário o author dás r e v o l u ç õ e s , e n t ô os mesmos
povos. L o g o P o r t u g a l , em quanto for bem g o v e r n a d o ,
naó tem. motivo para se separar do R e i n o - U n i d o , mor-
mente naó sendo elle habituado a r e v o l u ç õ e s , -pela^sisu-
deza de sins habitantes. E com effeito se chegasse a se-
p a r a r - s e , que partido tomaria ? Iria metter-se debaixo
dos pés dos Hespanhoes, ou dos- Francezet - - qu
a b o r r e c e , porque estes assim lho merecèraó ? C o n s e r -
var-se-hia Monarchia independente , mas da segunda , ou
terceira ordem > e comprimida daqui pela ambiçao e or-
gulho de H e s p a n h a , e dalli pela insaciavel cubiça e al«
iotârias de I n g l a t e r r a , figurando na Europa como S a x o -
nia , e menos talvez que S a r d e n h a , e Nápoles ? Ou e m
fim adoptaria Portugal a torma R e p u b l i c a n a , da qu. I
a o diante fallaremos mais largamente í Occorre-me ne$;h
Iu<*ar a triste idéa da falta que ora sentimos de homens
grandes. J i naó temos C u n h a s , e Pombaes que f a ç a ó
respeitar o Ministério. Faltaó-r,. < u e n e r a e s da primeira
c l a s s e ; faltaó-nos Aimirantes coirvo Ne'son 1 tendo mui-
to bons O í f i c i a e s , soldados, e marinheiros. A q u i l e s
Varões de superior'esléra nos saó bem precisos, mor-
mente agora que a Monarchia forceja por engrande-,
cer-se.
41

R E F L E X Ã O tu*

/ -> Bràzil naó convém o Governo republicano fe-


derati o. — Naó he deste lugar fallar com extensão so-
bte « U.WKU. forma de G o v e r n o , sujeito sobre que se
ha esct ipto tanto, sem que por isso deixe de haver mais
ou menos desconcertos em qualquer especie de G o v e r n o ;
havendo a experiencia demonstrado, que a melhor fórma.
de Governo he aquella , em que os homens saó mais ap-
l i c a d o s ao trabalho, e mais virtuosos. C o m tudo a mais
ligeira liçac da historia, que em politica he huma das
fontes dos w-VecimentoS, e guia seguia para o bom
anerto , nos faz v e r : i.° Que os primeiros Estados do
Mundo eraõ Monarchias. 2." Que alguns povos da G r é -
cia, e depois os R o m a n o s , e alguns outros adoptáraó a
fórma republicana , da qual volverão para a Monarchia.
1 . " Quç as Republicai se naó tem conservado senso em
quanto naó m a hum grão de poder , que as faz su-
periores a seus vizinhos em riqueza : tacs furaó R o m a
er.r. is antigos, e França entre os modernos. O nimio
podei . sempre a causa intrinscca d i ruina das R e -
iublicas. 4. 0 Que na escolha da fórma de Governo in-
Í ! lem muito os hábitos , costumes, indole , e até as preoc-
cupaçóes particulares de cada Naçaõ. Assim achamos
Republicas só na E u r o p a , e Monarchias na Asia e Afri-
c a : failo das Republicas, e M o n . i c h i a s notáveis. 5 . ° Q i e
».em havido no mundo n.J-»- - ume ro de Monarchias que
\e Republicas; e na Eu-cpa sa^euioj, que acabáiaó as
.vvepjjlicas de Hollanda , Génova , Veneza , e França , con-
vertendo-se ou incoipotando-se em Monarchias. 6." Q i e
o despotismo - :'••»• : ue lodo o bom G o v e i n o , tem lu-
g a r , o Real e Mi/.i. erial nas Monarchias, e o demo-
c i a t i c o , e a>istocrati.o nas Republicrs. Por isso algumas
Na y v"w tem adoptado a fó:ma do Governo misto de R e -
publica e Monarchia, a fim de gozarem das vantagens
de ambas as f o r m a s , e diminuir os incommodos. Assim
obrátaó Inglaterra, França. &:c. 7. 0 A Republica Helvc-
tica , e outras de igual ou menor foiça c u n o Hambur-
g o , naó podem beivii de e x e m p l o ; porque naó saó R e -
0
42
r

publicas senaõ em quanto seus poderosos vizinhos con-


sentem que o ;ejaó. Atem de q u e , He Est t-ot>' e
continental, sem meios de poder engu.ue se ta
Replublica H e l v e t i c a ; e Hamburgo está rodead .tos-
Estados d ' E l - R e i de Prússia e Dinamarca e 1 • isso
obiigada mais a conservar s e , que a cuida. v. g ' a n -
decer-se. 8.° Naó pôde também servir d e . e x e m p l o a R e -
publica dos Estados Unidos da America. A s circunstan-
cias extraordinarias em que começou esta confederação , .
a leváraó a adoptar a fórmn republicana. Inglaterra occu-
pada com guerras contra H e s p a n h a , Ftançr , e Hollanda
naó pôde empregar na America as forças n essarias pa-
ra a subjugar. A Confederaçaó era ajud j.vlos inimi-
gos de I n g l a t e r r a , e umndo-se com estes reforçou a liga
contra Inglaterra. Ak'm disto naó confina com Estados po-
derosos que possaó ambicionar sua conquista. Q u a l será
porem a sorte futura desta R e p u b l i c a , c o m p ' r a do refu-
g o de todas as Nações da l i u r o p a , sem unu ><!<? e fir-
meza de r e l i g i ã o , e unidos pelo interesse, e cu Ik.os
pelo temoi da pena e i v e i ; mormente quando augmenta-
das suas riquezas , apparecerem nella homens a r
s o s , como nas Republicas de F r a n ç a , e I , e os
costumes chegarem a mais alto ponto de dissolução „
nossos vindouros o veraó. 9 . ° Q . i a n t o a P o r t u g a l , por duas
vezes que vagou o Throno , por motte dos Senhores D .
F e r n a n d o , e L). Sebastião, nunca nossos maiores adoptá-
raó a fórma republicana Particularmente a respeito da
0
revolução de 1 6 4 0 , nosn uiz de Menezes no Por
tugal Re<*ittrado, ^ue i>e r\ iu a fórma republicn
pela diffaença das N:içÕa, e o defeito que os Pon .^ut-
zes padecem na difftcnld-idc da unian.

Applicando ao Brazil estas brp- •'ações, pare-


ce absurda a idéa de estabelecer ci.o r* systema repu-
blicano federativo; porque este sys.-ma he ig orado da
N a ç ã o Porttigueza: e opposto a nossos hábitos, op.iaoi-s j>
c luxo. Sendo Portugal M o n a r c h i a , naó pederá o B r a -
zil arvorar-se em Republica sem se desunir de Portugal s
o que lhe naó c o n v é m , pela R e f l e x ã o 1 5 e 16. M a i s :
O Brazil constando de muitas P r o v i n ^ i s g r a n d e s , mui
distantes, e despovoadas - precisa p a u se a u m e n t a r , vis?
43
tc " " T ainda n" ' i f a n c i a , de hum centro de poder don-
de hc pr»> de" as se expeçaó com e n e r g i a , e a torça
c promptidaó: ora naó ha G o v e r n o mais energico que
o ív. v.rchico. E m fim o caracter geral da N a ç a ó exclue
ciar - 'jnrp • fòrma republicana-, como advertio o douto
I). íz cie Menezes acima citado. H e provérbio que os
Poruiguezes querem todos ser F i d a l g o s , e figurar. He
por tanto mais acertado m e l h o r a r , como estamos fazen-
d o , o syscema M o n a r c h i c o , a que o Brazil está habi-
tuado , e que he o mais apto para promover sua futura
g r a n d e z a , 'o que experimentar systemas novos. A s ex-
periências mormente nestas m a t é r i a s , siò mui perigo-
sas. T o r r o a 'erubrar o que tem passado na A m e r i c a
.Hespanhola.

R E F L E X Ã O 21?

Tleino-Unido deve procurar conservar-se em paz j


• t m d o quanto lhe for p o s s i v e l , guerras o f f e n s i v a s , e
p e r c e b e n d o se para as defensivas. — x.° Por necessida-
d e . w i « e o Reino-Unido tem Provincias mui n c a s ,
e dispersas nas quatro partes do M u n d o , que saó face;S
de conquistar-se, e que por isso podem desafiar a cobi-
ç a dos Estados poderosos. He verdade que o R e i n o - U n i -
do tem boa tropa de t e r r a ; mas caiece da força que
-mais precisa lhe h e , a Saber, a força n a v a l , para con-
t e r os p i r a t a s , e acud'*- a ou .esquer a r q u e s projectados
cm suas extensíssimas c>' — .- ° ^ » : u g a l , I l h a s , B r a -
. A f r i c a , e Asia. Todos sabemos as imrttensas per-
das que havemos s o f f r por falta de m a r i n h a , do que
ao diante f a l l a r " m < " om maior individuaçaó. 2.° A Mo-
rarchia dev<- e m p p v <-se em ganhar o gráo de f o r ç a ,
e poder ^ q - e he ,ap.iz. Resta-lhe pois muito que f a -
?»<•; te-.i de' reparar os damnos da guerra passada , dos
quaes o mais avultado he a divida publica; tem de re-
f o r m a r os a b u s o s , e restituir a oídem em todas as re-
partições ; tem de atigmentar sua populaçaó no U b r a -
m a r , e de preparar o B r a z i l para ser Monarchia podero-
sa : em fim , de fazer o que em seus Estados fizeraõ
e r a tempo de paz Frederico TI. de Prussic., P e d r o o
6 *
44
Grande da R ú s s i a , e seus Successores: o ou» n* A- e
ricanos Inglezes vem f e : t o , e o que nbr.-ir enti rós.
os primeiros Reis de Portugal para augiiioi>o d s i3
Estados. Todos estes trabalhos demaridaó piojecr ma-
duramente meditados, e vigorosamente exec v-W 0m-
bra da paz. A guerra, inimiga f.;tal do g u . e i o I ima-
n o , atrazaria e transtornaria quaesquer piiucipios de me-
lhoramento. Lembremo-nos do que fomos desde o M i -
nistério do Marquez .de Pombal até 1 8 0 7 . Nunca a N V
çaó teve nos tempos modernos tantas riquezas, ainda
que se compare proporcionalmente com cai 1 huma das
outras Nações F.uropéas. D i a s foraó as cau « de tama-
nha prosperidade , a boa economia pub' . | :a com a
actividade da industria da N n ç a õ , e a paz de que quasi
sempre gozou. Se a paz externa he necessaria , muito
mais p he a interna , e a boa untaõ de toda a Naçaõ.-

R E F L E X A Õ

Para mais firmemente consolidar a uniaõ das divr-,-


sas partes da Monarchia deve o Governo do i>.
do estabelecer, e conservar a opinião publica. — Opi--
niaó publica he o conceito qus os povos fazem das ope-
rações do G o v e r n o ; e esta opinião seiá b o a , quando se
mostrar que as operações do Governo também o saó.;
isto h e , que ellas saó taó sisudamente preparadas, e
taó prudentemente d i r i g i a s e e^eituadas, que seu resul-
tado he a maior ' aivel do maior numero
possível a >s cidadaos. Então iodos se persuadem,
naó ha Governo melhor que o s e u , ou ao m e n o s , que
o seu he o melhor possível. C o m '->1 Governo naó he
fácil haver sedições, e tumultos * s : ^ causa p u b l i -
ca he também a particular de cad um * todos conspl-
raó para o mesmo f i m ; que he a conservaçat d a q u e ' ^
Governo que os torna ditosos: o patriotismo he g r a l . ;
ninguém pensa mudar de Governo , porque se acha bem ;
nem he fácil que alguma das partes de tal Monarchia
se lembre de separar-se das outras. J í se v è , que conse-
guir esta boa opinião he hum dos rr " " S esforços da
rfudencia \ industria l v m a n a j e v- que « obtiveraõ •
45
os gloriosos titulos cie P o v o a d o r e s , L a v r a d o -
r , t rr Principes, Pais da P a t r i a , e outros de
i mais s o l i d a , que os de L i d a d o r e s , Conquistado-
ra Assoladores do genero humano. Ainda mais difílcit
j^p - c ^ r e s t a 0 p j n ; 5 depois de adquirida, e para o
fa. .r ieleva nisto que o G o v e i n o nada obre de que pos-
sa ser arguido ou por inepto c imprudente em c o n c e b e r ,
ou por frouxo e temerário em executar. Como pois será
possível que ganhe ou conserve aquella opinião o G o v e r -
no , quando hoje publica leis , que á manhã saõ dero-
gadas, < annulladas, ou explicadas? Quando naó
cuida rr em prevenir os crimes que em puni-los ?
Quando a i u í justiça distributiva repartindo os prémios,
e as mercês contra as leis estabelecidas, e segundo o ca-
p r i c h o ? Quando escolhe mal os empregados p ú b l i c o s ,
tirando-os de classes privilegiadas , sem attençaõ ao mé-
rito pess - , e á ordem estabelecida pelas leis. Assim vi-
filho de fidalgos feito logo Capitaó de infan-
ter a , o de hum Desembargador do P a ç o feito C o r r e -
o r , e hum tropel de rapazes, alguns i m b e r b e s , fei-
tt póra , havendo tantos Advogados traqueja-
dos <• t o r o , e na applicaçaó das l e i s , inteiramente es-
quecidos. Entaó os benemeritos, sendo desprezados, tor-
naó-se descontentes, e perdem os b i i o s , em quanto os
indignamente despachados vaõ infelicitar a N a ç a ó , pra-
ticando roubos , e fazendo-SP algumas vezes os V e r r e s
de seus districtos ; do- 'e - i l m carregados d» riquezas
-lue despeidiçaõ em , deixando os povos
irados e indispostos contra o G o v e r n o qi - os nomea-
r a , atabafando as jstas queixas dos povos com empe-
nhos e d i n h e i r o . sendo algumas vezes promovidos a
melhores jostos premio de sua insolência, ficando
por i n d e ^ " ' * 7 ' " o.: j n e m e r i t o s , que foiaó preteridos, e
oov' saqueados. C o m o ganhará o G o v e r n o a opinião
p ú n i c a j quando os povos vem mal applicadas as tendas
que lhes saó exactamente e x i g i d a s ; que a decima he pa-
ga , mas que a tr«pa anda mal paga ; que o commercio
naó lie p r o t e g i d a , que as artes e industria esmorecem i
que se obstr>-° os mananciaes da comrnum prosperida-
d e , e que ao mvoino tempo os tributos s aggravaó*
46

Como se sustentará esta opinião, quando as leis ain


que óptimas naó se executaó , e se admire u cosf .me
de as violar ? Quando se observa em todo o corp .a
Naçaó certa frouxidão e insensibilidade nas cousa? eli-
giosas, e publicas, e decidida tendencia par." a a-- za ,
prazeres, ostentaçaó, l u x o , modas, e frioleiras, i / m -
ptomas sempre evidentes do presente estado morboso , e
algumas vezes da próxima ruina da Naçaó ? Quando em
fim o bom exemplo naó começa pela C o r t e , mas daqui
desce o escandalo, e se propjga por todas as classes ?
Muitas saó as maneiras por que o Governo pode deca-
hir de opiniaó , além das que acabo de menr >nar. Sem
esta boa opiniaó lie impossível que rei 1 ger ..íentc o
espirito publico. Este espirito he como innato aos Por-
tuguezes: os Inglezes Americanos levantáraõ-se : os Hes-
panhoes andaó em revolução: mas tacs fenómenos nun-
c a apparecèraó entre nós senaó com a rapide*. do relam-
pago. Convém pois sustentar, f o m e n t a r , e poi
modos fortificar , e consolidar estas excellentes disposi-
ções de nossa Naçaó. O bom Governo estabelecerá \
boa opiniaó publica; esta facilitará a obedí»"""'» . a
sincera e prompta obediência cimentará a unidaae e a
prosperidade da Monarchia.

R E F L E X Ã O 24.*

A sítuaçaó dos Estados do Reino-Unido exige que


este tenha mais foro~ ..... iua d e t e r i a , paia consei-
var a uniaó entre suas Províncias* — i . ° Entre
Províncias situadas e dispersas nas «'uatro part j do Mun-
d o , deve haver relações frequente t' .jente commer-
c i o e s ; assim como entre ellas eo^ " ^ z e s estranhos. Ora
estas relações cumpre sustentarem-s. com r. corres-
pondente ao valor e importancia > as mesmas. Ma* a
única força capaz de as sustentar he a marinha de guer-
ra. Sabemos que o Reino-Unido tem grande marinha
mercantil , de que precisa para o commercio de seus
E s t a d o s , sem embargo de esta se achar decnhida pela
abertura dos portos aos estrangeiros. " ^ a z e t a de Lis-
boa de 1 8 . 0 n.° 7 , consta haverem entrado na barra

1
47
d Lisboa ? 4 i vasos Portuguezes em 1 8 1 9 : da mesma
G « -ta 1. 7 consta , que no Poito entráraó 88 no mes-
m o m o , quv >.o R i o de Janeiro entráraó 1 0 9 2 vasos só
do ' tzíI , ' e 1 2 0 da E u r o p a , A s i a , e A f r i c a , todos
Por ieze'~ N a mesma Gazeta se vê quantos entráraó
nos ... o. portos de P o r t u g a l ; e he fácil conjecturar
quantos entrariaó nos outros poi tos do Brazil como B a -
h i a , P e r n a m b u c o , M a r a n h a ó , P a i á , R i o G r a n d e , San-
ta Catharina , afóra outros menores , para naó fallarmos
nos das I l h a s , e nos de A f r i c a , e Asia. Vejaó-se a es-
te respeito as Gazetas de Lisboa , e do Brazil. Nossa
marinha r cantil crescerá , quanto mais crescer a agri-
cultura , « dustria da N a ç a ó pelas acertadas provi-
dencias ... j Governo. D e v e logo o Reino-Unido ter a
marinha de guerra proporcionada á grandeza e defesa da
m e r c a n t i l , aliás esta continuará a a n d a r , como até ago-
ra , expo c ás piratarias com tanta quebra dos- interes-
-** r Non a da Naçaó. Pôde aqui norar-se que a ma ri»
.Tr.a mercantil sendo o apoio do c o m m e r c i o , he também
a e;cola e viveiro da marinha de guerra ; deve por tan-
•a ajudar aquella. 2. 9 Ainda que ao R e i n o - U n i d o
i m p o r á t » . , a r toda a occasiaó de g u e r r a , deve com tu-
do aperceber-se para a susrentar com honra quando lhe
f o r inevitável. Ora a situaçaó do Reino-Unido offerece-
Ihe mais frequentes occasióes de guerra por mar do que
por terra, pela interposição do Oceano omnipotente, que
o põe em relaçaõ com innum p aveis Nações nas quatro
"Tites do g l o b o , quant. »rr 3 confina somente com
H e s p a n h o e s , e com ca l i a u a r o s . S e poit o R e i n o -
«~nido naó cuidar se amente no augmento da marinha
de g u e r r a , nem nod á defender-se dos bloqueios de seus
p o r t o s , nem c-. marques em suas costas m a r í t i m a s ,
nem taõ pouco \ a offender seus inimigos, fazendo
úteis div .soes, e o, portunas entreprezas, estragando os
seu* vasos m e i c a n t e s , e apresentando-se em batalha com
esperança de v i c t o r a . Assim o R e i n o - U n i d o será inepto
para a t a c a r , e impotente para resistir; e he este o ulti-
m o ponto de discr i t o , e ignominia a que pôde descer
huma N a ç a ó rn- aa. E quem acreditará que por nos-
303 p e c c a d u cneg» a esse ponto ? Se hoje tivessemos
48

de sustentar por mar huma guerra séria , que seria da


nós? 5. 0 Por honra nossa devemos tratar . .-ou- tar
nossa moribunda marinha. Escusado he anegar o e .em-
plo dos Inglezes, que pòr huma das mais poderosa -.ia-
xinhas do Mundo sustentaó seu commercio. e su; im-
mensas possessões do U l t r a m a r , e ha pouc iraó
as forças navaes de F r a n ç a , Hespanha, Hollanda , e
Dinamarca. De casa temos exemplos de maior antigui-
dade , e admiraçaó. Antes daquellas Nações varremos os
mares com fortes, e numerosas Esquadras, ensinámo-las
a navegar mares incognitos, que devassárr ~>s com tal
audacia , qual he celebrada por nossos Chro: 'stas, e pe-
lo clarim de nossos Poetas. Em 1497. p - u Vasco da
G a m a a descobrir a carreira da índia, .m l - j ^ J partic
Pedralves Cabral para a índia com 1 $ v e l a s , e desco-
brio o Brazil. E m i ç o i mandou E l - R e i D. Manoel ao
Mediterrâneo huma Esquadra de mais de \ vasos bem
armados: e no mesmo anno partio para a índia Joaó da
Nova com 4 náos. E m 15C2 foi segunda vez o mesn.o
V a s c o da Gama com 1 0 v e l a s : em 1 5 0 5 Aífonso de
Albuquerque com 6 , aos quaes se foraó seguindo ' n, •
nio de Saldanhç com $ , Lopo Soares com 1 ^ , e ou-
tros: sendo no Reinado daquelle invencível Príncipe,
seus Successores até Filippe II. o porto de Lisboa hum
íecundo viveiro de Esquadras. Nossas Armadas defendiaõ
nossos Estados com innumeraveis fortalezas na í n d i a , e
auxiliavaó as Nações amigas. Mas eraó esses os nossos
tempos heroicos., os temi c .enturosos de nossa mari-
n h a : hoje porém ^untamos 64 '.asos aprezados, ou qí)°
m a d o s , e 16 saqueados, referido^ pela Mnemosine ow
1 6 de Outubro de 1 8 2 0 , afóra oui os que depois passá-
raõ por igual sorte. Que ignomini; : C^ul -íaior escravi-
daó ! Vemos que Suécia , e Dinan a- - 1 com menos for-
ças tem melhor marinha; e o Re..io-Uniao de Portu-
g a l , B r a z i l , e Algarve , a Naçaó descubridora do C i e n -
t e , a Patria dos G a m a s , dos M a g a l h ã e s , dos Pedral-
v e s , dos Corterreaes, edos Albuquerques ludibriada pe-
los piratas, e inferior talvez em malinha a T u n e s , e a
Argel. Pouco ha que o aventureiro ;-ord Cochrane as-
sustou o B r a z i l : e que Armada ú . i .aios ..6s para lhe
49
op7>ôr, se elle viesse de maõ armada contra aquelle R e i -
n o : Os piíatas rem seu ninho huns no Mediterrâneo,
outro - na A m e r i c a ; elles cruzaó os mares das Ilhas ad-
jacen - s , farejaó as costas de Portugal, e B r a z i l , e só
lhes '[ta vir roubar nossos navios surtos dentro de nos-
sos i ortos. E que forças temos para lhes estorvar os
cruzeiros, e para destruir seus navios? Estas forças em
caso de aperto podem pedir-s^ á Inglaterra, e esta as
apromptará com brevidade, porque as tem de sobejo:
ellas porém nos ficaiáõ mais caras, do que se as sosten-
tassemcs prr prias. Ignoramos por ventura que pelo T r a -
tado de 1 8 * 0 estamos pagando á Inglaterra segunda vez
e com usi a i>*.rrdente, as despezas que já lhe pagámos
da guerra _om F r a n ç a , em que militámos por n ó s , e
por eila? 4. 0 E m fim o Reino-Unido tem marinheiros
mui aptos, e possue principalmente no Brazil taõ copio-
sas floresta' le madeira de construcçaó , que parece que
a Providencia havendo inspirado ao Senhor D. Diniz
preparar" a futura gloria marítima desta Náçaó pela se-
menteira do Pinhal de L e i r i a , e dado aos Portuguezes
^/oé}-;; tendência, e affòuteza para as emprezas n a v a e s ,
t 'Z tamuem dar-lhes no Ultramar abundantes bosques
creados pela natureza, e nos está chamando a occupar
o lugar que entre as Potencias marítimas dignamente
'nos compete.
Quanto ás tropas de terra, já observou nosso gran-
de politico D . Luiz da Cunha que nossa situaçaó em
Europa he vantajosa, poi^ - confinamos com Hespa-
n h a , ainda que mais pode.osa; e.pi, : ;o he este o paiz
onde á proporção pod p mos ter maior numero de tropas.
N o Brazil onde confí íamos só com os Hespanhoes, e
com os Franc:^es -c Caienna, somós defendidos por
grsndes despovoadt , e rios, onde a guerra se naõ faz
como na Europa. He pois escusado sustentar no Brazil
tatu., tropa de t e r r a , como se diz que elle tem. Basta-
lhe a necessaria par. a politica interna, e pára defender
as costas marítimas: tudo o mais deve ser marinha: e
•como aquelle Reino só pôde investir-se seriamente por
m a r , quanto mai.- :e augmentar a força n a v a l , mais
-seguras e s t a r á su«. e menos trppa de terra lhe
7 '
SO
serí precisa. C o m eíFeito que maior absurdo w - r "utis
exercitos luzidos em tempo de p a z , 1 em P o r g a l ,
e outro no B r a z i l , onde naó saó necessários, e c ecer-
mos de marinha , que taó precisa nos he ? N a r trtce
que vai tudo ás avessas? Accre^cento ma' - e o
R e i n o se chama Unido , he incoherencia distinguir dons
Exércitos chamados hum de Portugal , outro do Brazil.
A m b o s devem formar hum só E x e r c i t o , sujeito á mes-
ma numeração. Já que em Portugal ha 24 Regimentos
de I n f a n t e r i a , pode esta numeraçaõ continuar pelos ou-
tros Regimentos de Infanteria da America , sia , e A f r i -
ca , desigaando-os pelos números 26, 28 , 2 9 ,
30 , Scc. O mesmo digo dos Regimente.» de '^rla ,
e A r t i l h a r i a ; e outro t a n t o , e com mais razaõ d i b o
também da Marinha. E m fim , se P o r t u g a l manda desta-
camentos para a A m e r i c a , por que razaõ naó haó de
sahir da America destaeamantos para outras partes ? N e -
nhum Regimento de linha deve ser fixo; porqu - al-
quer R e g i m e n t o pertence á f o r ç a armada do R e i n o - U n i -
do. Nada de Regimentos de P o r t u g a l , do P a r á , -'as
Ilhas> do R i o de J a n e i r o , de Pernambuco 7OCK
saó Regimentos do R e i n o - U n i d o 3 todos devem marchar
para onde os mandarem.

R E F L E X Ã O 25.*

O R e i n o - U n i d o pa< - " u t ^ - r promptamente em se-


engrandecimento, ' , -ar-se sem demora das t
cunstancias presentes da Europa. — Portugal ornado de
Touros, que por seu valor ganhou na passada guerra , e
admirado por toda a E u r o p a , ac -s? ° m profunda pa?
çpm todas as Nações poderosas. ' ois ue 24 de A g o s -
to de 1 8 2 0 acha-.se todo o Reino-Unido ^ n e n h a d o n-
mais árdua empreza , que he reforma dos al " o s , e o .
augmento de seu poder. He agora pois este R e i n o o es-
pectáculo de todas as N a ç õ e s , que "onhecendo a vanta-
josa 'siruaçaó de nossos Estados > s a aptidaó para todo
o genero de engrandecimento, e a? "iccunstancias favo-
ráveis em que nos achamos para . ' e c a r , e adian-
tar , e s t a ' observando o que f a z e m v s 3 os úns que no$
<l
p.opotr,^ , os meios, que empregamos, nossos acertos,, e
tan, 1 .: nossos erros. Já que pois nos achamos em p a z ,
f ,p:o com os piratas, inimigos de todo o M u n d o , e
naó erá diífícil conserva-la ; naó deve por tanto o G o -
verr j perde'' tempo. O plano de nosso engrandecimento
lie na verdade vasto: tiiita-se de rotear e povoar gran-
des e ferieis sertões, de livrar da oppressaô nosso com-
mercio , e f a b r i c a s , de augmentar "a Marinha de guer-
ra , de dar toda a possível solidez aos Estados de nossa
grande M o n a r c h i a , & c . Este plano, d i g o , he vasto:
mas saõ pc.\ ventura apoucados os ânimos dos Portugue-
zes ? Saõ tiles taó acanhados em brios, que naó possaó
eíiei r "^"' isca empreza á sombra da p a z , quando sabe-
mos que >Jbrái'aõ outras maiores no ardor da guerra í
Convém pois aproveitaxmc-nos das circunsrancias presen-
tes. As guerras excitaó-se com frequencía; e excitadas
arrastaó mu.tas vezes comsigo as Nações humas apoz as
outras. Se agora m"is que nunca he a paZ r.ecessaria ao
Reino-rUnido , deve logo aproveitar-se da que felizmente
desfructa, e naó descançar affouto á vista da contingçn-
Çia das cousás humanas.

R E F L E X Ã O 26'S

Todas as partes do Reino-Unido devem fazer hu-


mas ás. outras os sacrifícios necessários para o bem geral
de todo elle. Declarar oorcnt quaes devaõ ser estes sa-
..oa he obra de assas . . f f ^ M a d e , e que por isso
Uemanda a mais sisuda e reHectida circunspecção. — Os
homens naó se uníraõ em sociedade senaó para sua mu-
tua prosperidade inte.na, e defeza externa; e por isso
assim como no co oo humano os membros sáos se e m -
penhaõ na saúde uos enfermos, assim também na mes-
ma sociedade os Cidadãos devem acudir huns pelos ou-
tros , e as partes quer grandes, quer pequenas da M o -
narchia devem auxiliar-se mutuamente, segundo as for-
ças. de h u m a s , e a necessidade das outras. Ora a estes
auxílios chamo eu sacrifícios. A denegaçaõ voluntaria
destes sacrifícios Mima declaraçaó manifesta da pou-
«a c o n t a , c - tota* ucsprezo que se faz da p°rte neces»
7*
sirada por pouco importante. A este respeito o v " e r v ei
o seguinte: i . ° Q i e estes sacrifícios ' ">m ser pr sta-
dos segundo as forças das partes que os t a z e m , 3 se-
gundo a importância, e valor das partes necess : d a s :
or e x e m p l o ; maiores soccorro. podem dar Portuga ou
Ê , a z i l , que as Ilhas T e r c e i r a s : maior importancia tem
estas Ilhas , que T i m o r e Solor. 2.° Q u e qualquer P o -
tencia deve estar prevenida paia acudir prompta e e f i -
cazmente ás partes necessitadas com os auxílios proprioS
da natureza da mesma P o t e n c i a : v. g. se a Potencia
f o r m a r í t i m a , deverá ter sempre prestes bo;. Esquadras
apercebidas para os casos opinados , e inopinados, parai
que sendo necessaria alguma expedição pror ~ta
se naó retarde por falta ja de g e n t e , comi u o p a , e m ; ,
r i n h e i r o s , já de marinheiros; mas o auxilio seja presta-
do efHcaZ e opportunamente. 3. 0 Que. succ~dendo que
alguma das partes maiores ou menores da Monarcnia
haja soffrido perdas procedidas de causas naturaes, ou
politicas , r s outras partes illesas devem concorrer para
o reparo daquellas perdas debaixo da boa direcção da
G o v e r n o . 4° Q u e aquella parte da N a ç a ó se achar
atrazada em algum ramo da prosperidade p u b l i c a , como
populaçaó , industria , estradas , pontes , portos, & c . »
devem as outras partes menos necessitadas concorrer pa-
i a prestar áquellas os competentes melhoramentos. 5 . 0
Q u e nenhuma parte da mesma N a ç a ó deve pertender
augmentos ou melhoramentos sr^eriores á sua importan-
c i a , ou com prejuí- 01 -' partes que tiverem igual"
Valor e importancia na mesma N a ç a ó . N a ó seria por
ventura absurdo que Moçambique ertendesse tanto des-
velo e attençaó da parte do G o v e i ^ o , como P a r á , e
R i o Grande do S u l » Sendo inferior a estas duas P r o v í n -
cias , que alem de suas riquezas saó os d ^ i s baluartes,
huma ao N o r t e , outra ao S u l do Brazil ? 6.° Que ne-
nhuma das partes, da mesma N a ç a ó por mais florecente-
que se presuma , deve assentar que naó precisa das ou-
tras. O Mundo politico dá tantas v o l t a s , e as relações
entre os povos do Mundo admittem t?ira v a i i e d a d e , que-
se reputa hoje por necessário o que r se desprezou,
N o l i u o te; po lizemys pouco caso flv Caba de Boa-Jbs^
53
p.»ranç">, que he hoje a melhor escala da carreira <Jâ
índia, Se em de Gôa tomássemos para Capital dos
Estados da Índia a Ilha de C e i l a ó , ou o u t r a , talvez
segi iramos melhor nosso Império na Asia. Por isso
nem.uma das partes d v mesma Monarchia- deve des-
prezar as outras; pelo contrario devem todas tratar-sc
naó só com justiça, e franqueza, mas também cora
amor e estima. Iw sobre este artigo poderá fallar-se ao
diante com mais inu iduaçaó.
Por estes ou ouaos princípios se poderáó determi-
nar os sacrifícios que as partes do Reino-Unido dever-
naturalmense fazer humas ás outras. Com tudo he esta
r
ó difficil-pela dispersão das Províncias da Mo-
.archia , c it iedade de interesses, que para se resolver
a aprazimento das partes, deve ser tratada: nas- Cortes
Geraes de toda a Naçaó , a fim de elucidar melhor os
interesses de cada Província, e atalhar as. queixas dos
que se julgarem lesados. Entaó os povos naó d i r a õ q u e
os regulamentos, que a este respeito se fizerem, saó obra ,
do Ministério mal aconselhado, ou interessado, e impu»
f a r a ó só a s i , ou a seus Representantes os erros.,, que.-
notarem em similhantes regulamentos. Com tudo para.
satisfazer ás queixas dos p o v o s , convém que o G o v e r -
no se porte de maneira que os povos se persuadaó t que
se faz o bem que he possível.

R E F L E X Ã O 27- 3

Deve o Governo fomentar o amor entre os indiví-


duos , e entre as p; es de que consta o Reino-Unido,
— Saó naturses as antipathias e simpathias, de que ora
sabem , ora se ignoraó as causas. As antipathias entre
iSaçóes pode-' ser úteis; mas entre as diversas partes
da mesma Naçaó sempie saó perniciosas, pois delias
nascem aversões, odios, doestos, i i x a s , e ás vezes guer-
ras declaradas. Entaó- o Governo prudente ora tira as
causas , ora lhe atalha os effeitos. Sabemos que no R e i -
no-Unido ha opposiçaó entre escravos e livres, entre-
pessoas de dive- c * c o r , e no Brazil entre indígenas ç
x s m o e s , & c . ; e ,sta opposiçaó deve o G o r i n o extin-
54
guír ou diminuir. Se a. discórdia nasce de-4esjgnald»ce
de diiqitys., convcm estabelecer a igualdade. Assim o
lez S,enhor D. Jose abolindo a distinqçao entre os Chris-
tãos noves., e os. Chii$táo$ vtiho,.; o dando, aos índios
do Brazil a. liberdade. O rrçpsino djgo, da opposiçac crir
tre as diversa? classes, da Naçaó ,, corno Nobres, e Pie-
beos; Ecclesiasticos., e Secir.ares; Lavrador e?., e Negor
çiantes, &çc, Os, Portugaezes opeo/i-peTà maior parte
naó conhecem o valor de nossas te 1 .as Ultramarinas, e
por isso he natural que as, naó estimem quanto ellas me-
r.ecenr; porque igitoti nulla. citgjaa. Por que ra.Zaó pois
naó ha de haver hu.ma. Cpcpgr^Ha de tpdo o Reino-Uni-
d o , pela qual tqdo q Porcuguez, conheça o/valo* de nos-
sa Monarchia? Porque, razaó naó. se h-»õ A ^ u i u d a r o -
corpos de tr opa "de lit>ha^ do, Brazíp£<ita_/ o i ^ t u g a l , ' è ^ e .
Portugal papr^o "Brazil os d e l y m ^ ^ P r õ v r n a a m r a
joutra,? U s Romanos assim" ó taziao , tendo exerci tos nu-
merosíssimos. Por que razaó npó haó de ser guarnecidos
CS lugares. Africa com destacamentos militares ora de
P o r t u g a l , ora do B r a z i l , enviados por turno? Como
haó de os povos, provincianos amar os da C a p i t a l , sai
bendo que na. celebração. da$ Festas Nacionaes, e n a
creaçaó de monumentos públicos d,e mero adorno se gas-,
taó sommas immçnsas., em quanto as pontes quebradas
por occasiaó da guerra se achaó em gaande parte sem,
reparo com grande perigo de vida da g e n t e , e dos ani-
ma es ? De que servem á Naçaó esses sumptuoso' 1 -
quetes dados nas grandes f r t a s , em quanto tantos po-
bres rebentão de f o m e , e toda a Naçaó geme sob o pe-
zo enorme da divida publica ? De que servem á. Naçaó,
theatros adornados com luxo oriental, para representa-
ções corruptoras, ou pelo menos occiosas, em quanto
tanta $ Igrejas ameaçaó ruina, ou já a s a f f i ê r a ó , e ca-
recem dos necessários ornamentos; as Igrejas, d i g o ,
consagradas pela Religião, e até pela política, para a
formaçaó e reformaçaó dos costumes, e santificação das
almas, sem o que as leis, e a politica he nada ? Como
poderáó os povos amar o G o v e r n o , amar os Agentes do
G o v e r n o , e ter zelo pela causa publica, vendo taes des-
perdícios? Como podem ter zelo òs empregados .publi-
5-5
c c „ , v n d o que "os lugares públicos saó dados por f a v o r ,
e contra as leisJ Como se haó de amar as Províncias
humas ás outras vendo que os cuidados do Governo ten-
dem -íais para o dngrandecimento de humas , que das
outras? Mais pudéramof" dizei-; e concluiremos reflectin-
do que o Governo deve restringir-se á possivel econo-
mia. Casa onde naó ha paó todos raihaó. Que deve re-
partir seus :UIU..L. com a possivel igualdade entre to-
das as Províncias d>. '\eino-lJnido. Que deve acautelar-
se de perturbar a ig^ 'dade dos direitos que competem,
a cada individiduo. Q deve ter a policia a mais vigi-
lante e activa. Que deve acautelar que certas classes nac
-'•n as outras. Que deve informar-se dos desgos-
jí publrcuo_ i de suas causas para lhes acautelar o ef-
f e i t o , e das fttv .'ssidades publicas desta ou daquella P r o -
víncia para as remediar. E m fim deve remover toáas as
causas aa discórdia, persuadido que a causa publica naó
prospera sem os unanimes esforços dos povos, e que es-
ta unanimidade naó terá l u g a r , quando a discórdia desu-
ne os Cidadãos. E por que naó ha de o Governo fazer
reimprimir nossas Chronicas, para inflammar os espin--
tus pela leitura de nossas façanhas; ^ue ;=;

As verdadeiras nossas saó tamanhas,


Que excedem as sonhadas fabulosas,
Que excedem R o d a m o n t e , e o vaõ Rogeiro a
E O r l a n d o , inda que fora verdadeiro í c j

C o m tudo,,

R E F L E X Ã O z8. a

Entre o? meio - de fomentar a uniaó das Provindas


do Reino-Uniuo n c o primeiro o augmento da Religião
Catholica. — A historia nos diz que a Religião , havendo
começado com o homem , he coeva á sociedade domes-
tica, e anterior á sociedade civil. Sabemos que elia ha-
vendo começado, e tendo de acabar com o genero hu-
m a n o , he neste l^ngo intervallo a consolaçaó dos míse-
ros mortaes , e mais firme apoio da sociHade civili
pois ensinando os D o g m a s da Providencia e Justiça D i -
vina , e da existência da vida futura f e l i z , ou desgraça-
da , obriga os homens naó tanto pelo medo das Autho-
ridades h u m a n a s , quanto pelo t e m o r , e amor de D e o s ;
isto h e , por motivos d e consciência ao exacto cumpri-
mento das leis , do qual depende a felicidade de todas
as sociedades. Entre todo» os c u l t o s , naó seiá dilficil
mostrar que a R e l i g i ã o Catholica b „ .fv.is apta para
a felicidade dos indivíduos, e das .Deidades, já pela pu-
r e z a , e excellencia de sua m o r a 1 , já porque nos otfere-
ce os meios proprios de nos juí:ificarmos com D e o s , e
de cobrarmos as forças necessárias á nossa natureza cor-
rompida para obcervarmos as leis. Consultando n o r e ^
nossas historias s a b e m o s , que nossos Mona r -"<»s tratara?
c o m igual zelo a R e l i g i ã o , e a po!' , servindo-se de
huma para apoio da outra. A C r u z de Christo era arvo-
rada nos mesmo lugares onde também o eraó as nossas
Quinas ? porque apoz o Soldado hia de ordinário o M i -
nistro da Religião. Os Missionários eraó escolhidos par-
ticularmente das Ordens R e l i g i o s a s ; e os J e s u í t a s , to-
mando como sua a vastíssima Seara da pregaçaó do
E v a n g e l h o , Cu.iqu!"táraó para a R e l i g i ã o , e para o E s -
tado , só pela força da p a l a v r a , muitas Nações barba-
ras , cujos terrenos saó hoje Províncias florescentes. Es-
tes Missionários nos valêraó por E x é r c i t o s , e a seu cons-
tante zelo devemos em grande parte a conquista , civili-
z a ç a ó , e primeiras instituições do Brazil. H e huma ver-
dade tristemente demonstrada pelo nosso estado presen-
t e , que o immenso vasio caasado na prégaçaó do E v a n -
g e l h o r - l a extineçaõ dos Jesuítas, ainda até agora todas
as outras Ordens Religiosas o naó pudéraõ, ou naó tem
querido encher. He todavia necessário enche-lo: e he
•este hum dos pontos mais essenciaes de nossas presentes
r e f o r m a s , e hum dos mais úteis en.,;;Jgos que se pôde
dar ás Ordens Religiosas, Destas depois de reformadas
podem sahir Operários E v a n g é l i c o s , que substituaó o lu-
gar dos A n c h i e t a s , d e S . Francisco X a v i e r , dos Silvei-
r a s , e V i e i r a s ; os quaes adiantaráó nossas conquistas,
ganharáó almas para o C e o , e conciliarão veneraçaó e
respeito a nosso I m p é r i o : para que se naó diga nem da-
S7
Sueíies barbaras ES pUrvuli pxierftni pinem, et r,m erat
qut f.-anx-uet. eis r : nem de nós o que li , nao sei onde,
que os Portuguezes saõ mais proptios para àcsfructar e
destruir, do que para conservar e aperfeiçoar: e oxa:a
esta asserção naó tora provada com tantos exemplos
Outros Estados .poderão talvez passar ,sem Frades Mis-
sionários: o Reino-Unido naó pôde. Se os Missionários
se naó. ura,-em ^ classe dos Frades., dpude nos Jiaõ ds
vir ? A Religião cou. ccu a decahir no Ultramar com a
exiincçaõ dos Jesuítas; e sem fazer a apologia desta Or-
dem digo , que apenas s .-> voz emudecco, 'toda cila foi
a menos; mulatas cst colu, . A o lançar os olhos
-iclos sertões dé Africa., e A m e r i c a , a Religião e a po-
<
1' 6 j...: *ni. aquella pela desventura temporal c eter-
na de tantas a.. ' " S , e esta pela separaçaó, de povos que
unidos a nossq Império podiaó augmentar noisa popula-
ção. Voltando .os olhas para a E u r o p a , oxalá nos pudé-
ramos-gabar de que a Religião de nossos Pais se acha
em Portugal em estado florescente! A educaçaõ moral
e ReligioSft, que fórma os bons costumes, que saó a
base do edifício social, s ; vem em bastante desamparo.
Ella.depende dos cuidados desvelados e asr^uos dos pais
,e das pessoas publicas, principalmente dos Parochos.
Mas que ha de ser quando os pais saó ignorantes, ou
perversos, e quando os homens públicos saó escandalo-
sos , e commertem injustiças i Com quem ha de apren-
d e r , ou que ha de aprender a mocidade? Os Parochos
instruindo os povos nas doutiinas da F c , e da Moral
C h r i s t á , e fortific.ind" *>.? com os Sacramentos, os pie-
paraó para a felicidade da vida presente e d a f u t c a . Ora
naó custaria mostrar que o Ministério Parochial se acha
em assís decadencia. Naó ha a igualdade possível no
T V Í Ç O das ParochiaS ; porque humas saó mui penuenas,
01'l - mui grandes ; Sumas bem ai redondadas , e'outras
de territorio taõ desv^-rado, que ficaõ humas incluídas
e encravadas dentro das outras; o que torna desigual o
serviço delia». Os Parochos tem huns grande renda , ou-
tros mui pouca, e apenas para comer , sendo os primei-
ros cavalheiros, os segundos peões , e dando assim oc-
Sasuó de relaxaçaó a estes a pobreza, e áquelles a ri-
ÍJ
58
queza j cohtra a vontade de Jesus C n r i s t o , qtie e n . b e -
leceo a Jerarchia F.cclesiastica no maior ou ménoi g"áo
d e poder espiritual, e naó de riquezas. A s P.-rochias saõ
humas c o l l a d a s , e outras amoviveis , e muitas destas s.iõ
dadas a quem por menos as serve. Esta distincçaó m ó
era conhecida no tempo dos setenta Discípulos. Quando
se pertende huma I g r e j a , logo se inquire: quando r e n d e ?
e por isso m u i t a s , mormente as m -S , Saõ da-
das por e m p e n h o s , e valimentos . ate por d i n h e i r o ; e
lembro-me ter ouvido que a Ci a R o m a n a se queixara
ao Ministério da Senhora Rait ia D. Maria I. dos mui-
iCS requerimentos que lá app?.reciaó a pedir ao Papa dis-
pensas de simonias. E r a justo que houvesse hum C a ^
cismo de doutrina, que Fosse o mesmo v - oda
r a r c h i a : ainda naó appareceo. Conclu que a R e l i g i ã o
demanda o s m a i o i e s cuidados d o G 'erno nas quatro par-
te* do Mundo. N o U l t r a m a r podem os Frades ser já
M : s s i o n a r i o s , já Parochos. O Venerável D. Fr. Caetano
B r a n d ã o - o s d e s e j a v a , mas naó os achava para Paiochos
de seu va. o Bispado , porque os naó havia ; e a g o i a he
moda d i z e r , naó haja Frades. Eiles naó podem de sua
parte escusr. taó santo ministério , pretextando seu
Instituto: se por este profe<saó vida mais^ perfeita q u e
os Seculares , que maior perfeição que expor a vida por
seus irmãos? O u r o tanto fazem os S o l d a d o s , e nao sao
Frades. P o r ventura quererão ser mais perfeitos que os
Apostolos , aos quaes Jesus Christo disse =s Euntes, (e
n a ó manatUs) p-jiicate Ev.in?e'ium omni crcatur<ei c
O Reino-Unido precisa me d . Marias c o n t e m p l a t i v a s ,
que de. M^rthas laboriosas. Lembrarei neste lugar que a
Senhora D. Maria T. , por Carta R e g i a de 1 7 de J u n h o
de 1 7 7 8 , pedio aos Bispos de Portugal sollicitassem C i f
rigos para irem acud r ao R e i -> de A n g o ' a , po
constar =3 que a administraÇaó dos " " nentos, o Cul
to D i v i n o , a p r é g i ç a ó do E v a n g e l h o , e todos os mais
actos de R e l i g i ã o se achaó quasi sem e x e r c í c i o , ou pou-
c o menos que abandonados naquelle infeliz R e i n o ; e que
havendo nelle grande numero de I g r e j a s , todas necessá-
rias em taó vasto continente , hum is estavaó arruinadas ,
ôutras oceupadas por Ministros hurr absolutamente ira^
59
possibilitados por a n n o s , e achaques J e outros de cos-
tumes t a e s , que em lugar de as s e r v i r e m , as prosti-
tuiaó. S a õ palavras foimaes da dita Cai ta R e g i a . N o
mesmo ou talvez peior estado se acharia entaõ ^a R e l i -
gião na Província de Moçambique. V e j a se a Conta da-
o i por Jeronymo José Nogueira sobre esta P r o v i n d a no
I n v e s t i g a i - PortugueZ. Pergunto agora naó havia em
1 7 7 8 Frades t . n r'o. g a l , e talvez mais que hoje ? Ou
era possível que os i>. cei dotes Seculares deixassem suas
casas para passarem ao "Jlrramar í A Angola , e ao B r a -
zil loraó mandados depois .Barbadinhos, chamados de
leal i a , para Missionários, em quanto os Mosteiros de
1- estavaó cheios de Frades. Mas assim devia s e r ,
•^mrque sempi\. nos agradáraó mais as prendas estrangei-
ras , até Frades Missionários. Estes Barbadinhos reduzi-
rão a arte a Lingua de Angola , da qual também ha huni
Diccionaiio. Nossas Cortes tem tratado de diminuir o
numero dos Frades em P o r t u g a l ; e talvez lhes haja es-
capado o meio mais adequado, que he Sua r e f o r m a , e
emprego util á R e l i g i ã o , e ao Estado. A reforma se re-
duz a poucos pontos: dar-lhes hum largo snfficiente pa-
ra sua sustentaçaó; obriga-los a hum curso de estados
uniforme em todas as Otdens ; e ao exacto cumprimento
de suas obrigações; e encariega-los de nossas Missões
ena Asia , Africa , e America. S e isto se e x e c u t a r , estou
certo que ha de haver menos vocaçaó para entrar nas
R e l i gióes por accommodaçaó. O t i o v e r n o , que deve pro-
teger a Religião por piedade, e por politica , e cjue c j -
nhece perfeitamente a utilidade que os Frades teu; cau-
sado empregados nas Missões, lesolverá o melhoi modo
de os empregar , e de fazer que a v o z , e o 2e!o destes
Obreiros Apostolicos chegue até onde ha penetrado nos-
sa espada e bravura. O* que dizem que os Frades saõ
nocivos á jiopulíiçao, em parte tem l a z a ó , e em parte
naó. Os mãos Frades saó nocivos i os bons naó o podem
ser. P o r ventura era nocivo á populaçaó o celibato d o
Padre V i e i r a , quando reduzia a obediencia d e nosso I m -
pério milhares de índios do B m z i l ? E eraó esteteis ou-
tros Missionários, ouando c o n v e t t i a ó , a l d e a v a ó , e t e d u -
z U ô á vida c i v i l , « chnstá N a ç õ e s inteiras i Muitas des.
8 *
6o
tas Nações fazem hoje boa parte da populaçaõ Brasíli-
c a , conhecidas algumas pelo nome de Aíissoes.
A' vista do que fica dito se vê ; obrigaçao em que
estamos a alguns Periodiqueiros P o r t u g u e z e s , que em
vez de inculcarem a pureza , e augmento da R e l i g i ã o
Calholica , nos inculcaó a tolerancia illimitada , e a libp -.
dade de consciência. M a s a q u é m pré??ó »Ues «ias uou-
trinas ? S e he aos Portuguezes, r Se it...uraó a c a s o ,
que o P o v o Portuguez perderá tur , mas naó a sua R e -
ligião ? Que necessidade ha de doutrinas que nem en-
chem a barriga de p a õ , nem ? oolsa de dinheiro, nejn
Corrigem os costumes, antes p e r v e r t e m , e arruinaó ?
Assentaõ por ventura que com taes doutrinas c
de huma vez os males públicos? Já n? \ t í l e x a ó
fallei da tolerancia. E m quanto poren. a liberdade de
consciência , que necessidade ha de a i n c u l c a r , quando
sabemos que a maior parte das consciências andaó rela-
xaua- , = praticamente soltas? A liberdade de consciên-
cia em m 'erias de R e l i g i ã o he hum absurdo reprovado
por todas a.- Nações , e opposto á segurança do Estado.
Sabemos qu- - m R e l i g i ã o a parte pratica depende da
especulativa, úr* , ois he livre a qualquer seguir a theo-
j ía religiosa que quizer, ser-lhe-ha também livre seguir
praticamente as doutrinas que mais lhe agradarem , ain-
da que absurdas e impias. Mas a quem se inculca a li-
berdade de consciência ? Aos doutos, ou aos ignorantes ?
Os primeiros conhecem que as relações entre^ Deos e os
homens saó immutaveiã , e como a R e l i g i ã o nasce des-
tas relações também será i m m í i t a v e l , isto h e , só h u m a ,
e naó . a , e que he perpetua. Conhecem também que
hum systema religioso, e perfeito só pôde s e r o b r a de
D e o s ; e que por isso foi necessária a_ R e v e l a ç a ó : todos
os systemas formados só pela raz "> *-õ i m p e r f e i t o s ,
porque ou permUtem v í c i o s , o« aocangem todas as
doutrinas necessarias, ou peccaó na sua demonstraçaó.
Ora como he possivel que os verdadeiramente doutos co-
nhecendo isto, admittaõ a liberdade de consciência ? A o s
ignorantes porém he impossível a liberdade de consciên-
cia. Como p o i e m elies escolher entre os diversos c u l t o s ,
ssir. os co. para; 1 ? C a a w os haó dc ™ ' w a i ; sero o s $ « v
6i
ntiecer? Coftto os haõ de conhecer se saõ ignorantes, e
nunca us pudéraó estudar? Por isso a Religião das pes-
soas rudes he toda sectaria , isto he , fundada na autho-
ridade. E m fim a prova decisiva da divindade, e verda-
de de qualquer culto s . ó os milagres. Esta prova h e ,
decisiva e proporcionada á capacidade de todos.
L,misto is obrou estupendos, e deo poder á Igreja para
se obrarem quaiic-, -> necessidade o pedia. Ora nenhuma
Religião he provada por milagres senaõ a ChristS. Naõ
lia doutrina mais per. rosa ao Estado do que a liberdade
de consciência, ella h va ao indifFerentismo , ou á im-
piedade, isto h e , a ne ..itima R e l i g i ã o ; ambas estas
' " " s a s saõ fataes á sociedade. A sociedade de atheos he
iiuwa ; a de nerversos he tuibulenta ; e só a dos virtuo-
sos he feliz. Aos Apostolos desta perniciosa doutrina
perguntaria eu se s.-rá também livre a qualquer Cidadaõ
seguir o Codigo Civil que mais lhe agradar , o de sua
N a ç a õ , ou das estranhas; ainda que naõ mude d" • i : z ?
Mais pudera dizer: çoncluirei porem es a R e f l e x ã o
dizendo, que o Governo d e v e , para m e " - j r consolidar
o R e i n o - U n i d o , e promover a obediência is leis , e até
para augmento da população, deve, » e u , zelar a
pureza da Religião , e seu augmento , e propagaçaõ en-
tre os batbaros, pelos meios que tem taó opportunos.

R E F L E X Ã O 30.*

Hum dos maiores erros que Portugal pôde commet-


ter he unir-se á Hespanha. — Ainda que saibamos que a
massa da Naçaó Portugueza he deste sentimento, sabe-
mos com tudo, que tem havido, e por d e s f a ç a pôde
haver ainda, quem se incline para a nossa uniaó conv
hiespanha ; fundando-se em que he miserável a sorte dos
pequenos F.stadoo, " mo se disse na Reflexão 2 . a ; pelo
que lhes seria menos incommodo viverem unidos a hu-
ma Potencia grande. A historia do Senhor D. Joaó I . ,
de Filippe I I . , e do Senhor D. Joaõ I V . mostraõ com
quanta verdade dizia C a m õ e s :
Que lambem dos Portuguezes
Alguns Taidoies houve algumas vezes.
62
Para desenganar pois alguns aHucmados, se os Tia;
juntai e-nps. esta Re.lex.iõ , nacjn.il semoscra que hum dos
maiores erros que Po.tugal pode c o m m e t t e r , he nni.-sc
com Hespanh.,. A esta uniaó repugna a amipathi*
das dtjiiS N r f Ç o e s , começada desde o principio da nossa
M o n a r c n i a , s Vivada por tantas g u e n a s , e pelo om;ii-
e ufania Hespanhola , elevada ao maior au<\- pelos
tres F i l i p p e s , e até agora nunca in.er-- , mormen-
te depois que o . Reis de Hespaniia em mostiado decla-
rada a m ^ ç a ó de possuir Poituga! o que ultimamente
patente.itaó pe ! o infame Tratado d Fontainebleau, e pe-
ia invasaó deste Reino em toe / . Hesp.inha nunca amou
a Po;tug<il: tem-lhe feito o mal possível; t e m e - o , n.
n a õ o estima; e a indisposição inveterada tem sacrifica,
do suas propilas vantagens. Declarando-se inimiga de
P o r t u g a l , attrahio contra si a indisposição de Inglater-
r a , da qual ha recebido perdas gravíssimas. Os Fiance-
Zes r 1 " ' " i í r a ó com í futura conquista de P o r t u g a l : envwl-
vèraõ-na en. suas guerras contra Inglaterra , e lhe fize-
rdó perder su - marinha defronte de T r a f a l g a r . P o i t u g a l
da sua p a r t e , tem feito sacrifícios enormes a Inglaterra
pára se defender m. rlespanha. Assim tem Inglaterra sò
r e c o l h i d o , e recolherá todo o fructo da indisposição de
I-Iespanha contra P o r t u g a l ; verificando-se o provei bio t r
Dum duo litigant, tertius gaudet. — Pelo c o n t r a r i o , se
Hespanha conhecendo melhor seus interesses, houvera
tratado a Portugal com mais justiça e generosidade, tal-
v e z tiveraó acontecido menos guerras entre ambas as
R í o n a r c h i a s , e estas se achassem hoje mais floreceites.
V i j a - s e Daarte Ribeiro de M t c e d o na Satufa^ao Politi-
ti a Maxim erradis. S e pelos acontecimentos pas-
íados podemos con|cccurar os f u t u r o s , a uniaõ de P o r -
t u g i ' com Hesp.inha será funestíssima áonelle. A tnsto-
ria dos tres F J i p p e s offerece o qn».1. J mais horrível da
barbnrie e tyrannia Hsspanh. la ; e de boa mente remet-
temos nossos Leitores para os F.sçriptore» de nossas des-
g t a ç i s , como D. Luiz de M e n e z i s , L a Cled-*, e ou-
tros. Esta mesma barbaridade se esteid>a a outros Esta-
dos da Mon v c h i a H^spanhola , c o n o N i p >les, e Paizes
B a i x o s . E q'i3 outra cousa p o d a esperar-s•.- daquella Na-
«3
Ç * , Ç e wnrava em açougues os índios da America
pata pa^-o de seus c á e s , e reproduzia no M é x i c o , e Pe-
ru mais esapiedat' .s atrocidades que os Hnnnos, e V a n -
dalos ? Por mais humanos que , supponhamos os Hespa-
nhoes em nosso t e m p o , com tudo seu caracter he o
Tsesmo em g e r a l , e as causas de nos opprimirem seraó
"mas. Que o caracter he o m e s m o , di-lo-haó me-
lhor que Americanos Hespanhoes , os quãés nos
poderáó referir os uespotismos dos Governadores daquel-
las Províncias, <- e : r : i ó huma das causas do levanta-
mento daquelles povos, l e outro sim evidente que a cau-
sa de nos opprimirem qu ' nos dominavaó , era a des-
"onnança de que nos subi.ahissemos à sua tyrannia : e
o as mesmas causas produzem os mesmos èffeitos „
se nos unirmr' á Hespanha, deveremos esperar igual
( s e naó ainda peie sorte. Naó valeo a nossos m a o r e s
em t ç 8 t , para alliviar suas desgraças, nem a facilida-
de com que se entregáraõ á Hespanha, nem o esplendor
da Nacáó Portugueza já entaó huma das m - ' .aunge-
radas da E u r o p a ; nem taó pouco o imprud' .te F i l i p p e ,
esse Demonio Meridiano, se acordou do . nenso poder
que adquiria pela accessaó illegitima ' ,f> 1 lugal ; ror-
nando-se o Monarcha mais formidável da E u r o p a , e po-
dendo
Dar sintas leis ás terras mais estranhas
D'umbas as í n d i a s , d'ambas as Hespanhas.

Naó se lembrou, nem e l l e , nem seus successoreS


dos cabedaes immensos que 'e Portugal t i r a r a ó , das nu-
merosas recrutas que faziaõ , e do valor , e fidelidade
Com que nossos Cabos os serviaó tóra do R e i n o , supe-
rior a todo o elogio. Seu empenho era esm..gar este
F v - ' " > e reduzi-lo a lenos de Provincia ; e te-lo-hiaõ
Conseguido, s n . naó acudira em 1Ó40. 3. 0 Por-
tugal , sepafiindo-se ^o Brazil , e querendo unir-se a ou-
tra Potencia deve escolher aquella que for capaz de lhe
fazer m r s bem que mal. Acabimos de ver que Hespa-
nha n.ió h e p o p e i s a para lhe fazer b e m , pois lhe tem fei-
to muitos e gravíssimos m a l e s : agora vejamos se ella
lhe p ó i e fazei b^nij «jueiéiidg-o. A f l i t a m e n t e di^o que
6.\
r a õ pôde: porque toda a Potencia cujos negócios domés-
ticos, e externos se achaõ em desordem, he fi.aca : tal
he a Hespanha. Externamcn e , sabemos que nas guer as
contra Inglaterra sempre perde , ainda mesmo em tem-
po de Carlos III.,, q te foi hum dos melhores'Reis da.
Hespanha. Os reinados 'de Carlos I V . , e Fernando V I I .
saõ t a l v e z ' o s mais infelizes depois da invasão dos M<>" •
r'os em tempo de Rodrigo ultimo Rei dns Godos. T o -
da a Monaiciia Hespa-viola está em dissolução. 0 < Es-
tados da America estaõ insurgidos; e os da bui opa in-
quietos. .Sua marinha he fraca c 110 a nossa : seu exer-
cito he i proporção inferiu" ar» IOSSO : sua divida fcie es-
pantosa : e he incerto quando , -cu se poderá o G o v e r n a
daquelle infeliz Reino reunir as Provincias, e animo»-
discord.es, e dar solidez a toda a Monarchia. Lo^o *.
.uni.10 de Portugal com Hespanha he util só a e , t t , e
prejudicial á juelle, tomando-o participante das desgra-
ç a s , de Hespanha: n'huma palavra Poitugal mudaria de
m „ ' r\?.ri peior. 4." A E u r o p a , ao menos presentemen-
te , naó consentiria nesta uniaõ, para embaraçar o en-
.grandecimsr~ de Hespanha; e o d i a , em. que se effei-
tuasse esta „ niaó mal fadada, seria o principio de guer-
ra contra a i-enmsuia. E que lucro tiraria o pacifico
Portugal de se metter nestes embaraços ? Ganharia tan-
to , como no tempo dos Filippes, em que perdea a ín-
dia , e teve de recuperar as terras perdidas na America t
e Afríca. 5. 0 P o r t u g a l , unindo-se á Hespanha , seria hu-
ma Província desta Monarchia, e os Portuguezes per-
tenceriaó á mesma classe que os Aragonezes, os Anda-
l u z e s , os Castelhanos, e os G a l l e g o s : perderia _este
Reino sua dignidade, e Reis naturaes; objectos taó sa-
gradoi , pelos quaes nossos maiores sofFrêraó tantos tra-,
balhos, e despezas, e ganháraó tantas batalhas: em fin
o Nome Portuguez desapparecer ; a da classe das Nações
independentes; e os Hespanhoes . .autelariaó que naó
tornássemos a levantar cibsça. Naó basra dizer que Por-
tugal podia unir-se á Hespanha sem perder a cathegofia
de R e i n o ; pois sabemos, que Filippe II. foi taó prorn-
pto em jurar nas Cortes da Diomar de 1 5 8 1 guardar os
foros e privilégios aoj Portuguezes, como eoi lhos que^
"brat na primeira occasiaô; e seus successores imitarão
taó fielmente seu detestável e x e m p l o , que em 1640 os
PortugtieZts antes qiiereriaó ser governados pelo T u r c o ,
que pelo Rei das Hespanhas , e das índias. Este caracter
oppi essor, e pérfido naó desmentirão os Hespanhoes na
g lei ra passada. O Exercito Anglo-Luso foi o paliad o
da liberdade Hespanhola, e o apoio de todas as opera-
ções militares ÍO.-.TU1 OS Francezes, sem o q u a l , derro-
tados vergonhosamente os exercitos Hespanhoes, mui
pouco valetiaó suas '..cantadas guerrilhas. Este exercito
lhes g-nhou Ciudad-Llo. r i g o , ' " " d a j o z , e S. Sebastiaõ
de Biscaia; e ganhou out.v - I n as memoráveis batalhas
d - Fuentes d e O n o r , A l b u e i a , T o r m e s , V i c t o r i a , P a m -
plona, e arrojou os Francezes para lá dos Pireneos. Nos-
sas tropas soccorrêraó C á d i s , e restauráraõ Olivença.
Com tudo ainda noi naó restituirão esta ultima Villa ,
sem embargo da declaraçaó feita no Congresso de V i e -
na a este respeito. Também naó basta dizer que estabe-
lecido o Sysrema Constitucional em ambos os R e i n o s ,
podem estes estar unidos: porque nenhum.- Constitui-
ç ã o , a melhor possivel, tem a virtude d mudar as
inclinações, o u , como os Sacramentos. .e.mttir pec-
cados, donde nascem as desgraças particulares e publi-
cas. Alem de q u e , resta saber se os Hespanhoes saõ ca-
pazes de hum Governo Constitucional t a l , qual agora
tem. A experiencia por ora naó depóe a seu f a v o r , vis-
tas as bem notorias perturbações que affligem aquella
infeliz Monarchia desde Janeiro de 1 8 2 0 para cá. O ca-
racter das duas Nações ht n diverso. Entre nós ha
p a z , nos Hespanhoes discosdia. Basta o que tenho dito
para desenganar alguns, se ainda os h a , que conservem
alguma affeiçaó ao Governo de Hespanha. Naó me pa-
receo airoso para nós o protesto que se fez em Lisboa
em Novembro dc de fazermos huma Constituição
mais liberal que a Hespanhola. As Constituições politi-
cas pertencem á Filosofia M o r a l ; ora em Filosofia he
vicio ser sectário. A melhor Constituição Portugueza
naó he a Hespanhola , ou Franceza , ou Ingleza , ou ou-
tra mais ou menos liberal que aquellas; mas sim a mais
própria para cimentar a felicidade dos Portuguczes.
9
66
Demorei-me aTgum tanto nesta Reflexão tet ap«
parecido em 1820 certo folhetinho , que incu 'ava nossa
uniaó com Hespanha , e promettia a Portugal grandes
vantagens desta uniaõ.

r— a
Na Segunda Parte deste Opusculo refutarei huma
nuvem de objecções, que sei com <~ :teZí tem oppos-
to á doutrina destas Reflexões.

1
<57

PARTE SEGUNDA.
C.

RESPOSTA ÁS OBJECÇÕES
QUE SE P O D E M OPPOR

A S

DOUTRINAS ANTECEDENTES
*

A M P L I A Ç A Õ DAS MESMAS D Õ U l R i N A S .

E > H codas as N a ç õ e s , e em todos os tempos ha Spu-


rios M e l i o s , e Catilinas, parricidias da sua pátria: ha
Cesares , e Octavianos usurpadores da Soberania ; ha ar-
bitristas de imaginaçaó exaltada, e turbulenta; ha inno-
V dores fogosos, e estouvados; e ha ânimos capitozos,
eobs*'-idos. Ha também pessoas bem intencionadas, que
ou por í g , ^ .'a , ou .alta de reflexão adoptaó opiniões
menos prudentes, quanto lhes naó chega a luz da
verdade, E sendo a matéria das precedentes Reflexões
taó relevante , e connexa com os interesses de tantas Pro-
víncias, e de tantos indivíduos, naó admira que haja
muitos que por ventura pensem sobre o estado presente
d e nossas cousas de modo diverso do que havemos se-
g u i d o , huns em tudo, outros em parte: mó»mente hor
8 *-
68
je , q u e , dada a liberdade da imprensa , todo jucrem
í a l l a r , e fallar de tudo com fundamento, ou in elle.
A s objecções que vou, a referir e r e f u t a r n a ó saó ima-
ginadas por mim , ellas andaó na boca de todos , e ou-
tras podem ler-se na i." Carta do Compadre de Lisboa,
no Folheto em Francez impresso no R i o de J a n e i r o , nas
obras do Abbade de Pradt, no Pc " tguez^ no Cam*
piao , no CidadaS Liiterato , &'C. Mas antes de come-
ç a r , rogo a meus L e i t o r e s , se os '«• í v e r , que se ins-
truaó a fundo sobre estas n a t e s i r - , despidos de toda
a p i e o c u p a ç a ó , e levados J - ,spintito de p a t r k . ^ m o
tao natural aos bons Portugu . e s , pezem fielmente na
balança da razaó as objecções , e as respostas. Isto lhes
rogo por serviço de D e o s , e da Patria. A causa publica
naó requer solistas, que teçaó arenf s eloquentes, c ap-
paratosas; mas homens honrados, Portuguezes fiéis, e
pp »dores profundos.

O B J E C Ç Ã O i.

D i r a õ alguns Portugoezes E u r o p è o s , ou mal infor-


m a d o s , ou mais interessados , que a Corte do Reino-Uni-
do deve estar sempre em Portugal. — Respondo. Esta
he a opinião do Cidadnõ Litterato; e a contraria he a
m i n h a , e a do Sr. Oliva. U na R e f l e x ã o i i . a mostrai
que a R e a l Familia , e a L-orte podem estar mais segu-
ras no Brazil que em Portugal nos grandes perigos: que
o Brazil he a lugar mais central de toda a Moaarchia :
que já tem mais populaçaó que P o r t u g a l ; e que pela
assistência da Corte crescerá n v i t o em poder.
respondendo aos que querem p. "a serr/"e a C o r u em
Lisboa , e ampliando a dita RefleA..o, aigo claramente
que os Portuguezes Europeos naó tem forças para a de-
fenderem nos grandes perigos. Até ao meado do século
passado, pouco mais ou menos, os exeieitos-contavaó-
se de ordinário por dezenas, e raramente por centena?
C o m taes exercitos campeava Carlos V . , e se i Ilustrara o
os Turenu», os Marlboroughs, os Eei w i k » , e outros.
6o

MdS em tempos mais próximos a nós contaõ-se os gratt-


des exercites por centenas, e alguns chcgsó a meio mi-
lhão. A g o r a mesmo contra o insignificante R e i n o d e . N á -
poles moveo Áustria isOç&cco h o m e n s , afora as tropas
da R ú s s i a , que se puzpiaó em matcha. Portugal nunca
poz em campo i c c ^ c c o de tiopa de l i n h a , nem talvez
com as M i l í c i a s : nunca teve 5C^CC0 de l i n h a , nem
ajnda na guerra passada, na qual apresentou maior nu-
mero de ti opas re nas campanhas anteriores. Na bar
talha das Linha E l v a s tinjamos 8<&cco i n f a n t e s , dos
só 2 ^ 5 0 0 u a o r ^ o ? 2 ^ 5 0 0 cavallos , 4C0 a g u a s ,
e 7 peças de campanha i . a de M o n t e s - C l a i o s , a ulti-
ma daqueUa guerra tínhamos I 5 ^ C C 0 infantes, e 5 ^ 5 0 0
cavallos P o r t u g u e z e s , que era naquelle tempo hum e x -
ercito mui luzido. Se pois alguma força superior atacar
L i s b o a , parece-nos bem que a C o i t e . , e a R e a l Família
sejaô preza do vencedor í Defende-las-hemos com nossa
fidelidade, e boa vontade? Gostaremos de o u . .. ^orte
esteja ora em P o r t u g a l , ora no B r a z i l , ev osta em suas
mudanças ás mudanças politicas da E u u . ? Quem nos
certifica de que ella ha de achar sempre esra.sua flu-.
ctuaçaó os mares f a v o r a v e i s , e livres de i n i m i g o s , e o
B r a z i l com os braços abertos para recebe-la ? Se Portu-
gal tivesse as forças de I n g l a t e r r a , França , ou Hespa-
nha , tinha sobejos motivos para pertender a perpetua
Conservaçaó. da Corte em Lisboa ; porque tinha suficien-
tes forças para defende-la, E l i e p o i é m , similhante a hu-
ma pequena fita, conv ^14 léguas de c o m p r i d o , 40 de
l a r g o , e com 3 milhões de Habitantes , poderá com taó
apoucado t e r r e n o , e forças defender a C o i t e d ' E l - R e i
ridelissimo do Reino-Unido de P o r t u g a l , Brazil , e A l -
..irrp? Onde tem e ' ' e 10C&CCO infantes, . 2C&CC0 ca-
... com ' 'm treni de auilheria correspondente para
receber as visitas dos Hespanhoes, quando s ó s , ou jun-
tos com os F r a n c e z e s , quizerem ( c o m o já f i z e i a ó ) dar
hum passeio até Lisboa í Donde ha de vir a F o r t u g a l
huma soffrivel armada para brigar com seus inimigos no
m a r , ou fazer oppoitunos desembaiquês nas suas costas
marítimas?. Nossos disignios e pçjtençóes devem medir-
se segundo nossas f o i ç a s ; e tora estranha,el sandice
70

çuerer abarcar o C e o com as m ã o s ; e que maior Iou«


c u r a , que expor a C o r r e , e a R e a l Família a p e r i g o s ,
de que ja toi seriamente ameaçada , e que efrectivãmen-
te ja sentio ? Sabe-se que o Padte V i e i r a aconselhava ao
Senhor D. Joaó I V . , e o Marquez de Pombal ao S e -
nhor D . José 1. letirarem-se ao B r a z i l , se naó pudessem
com as torças de H w p o n h a : e o Senhor D . Joaó V I .
retirou-se para la , porque naó pôde resistir a seus inimi-
gos. Da sem duvida grande honra a * 5 Poituguezes E u -
ropeos a saudade que mosu \ó por seu Alonarcha ausen-
te , e sua alegria quando o - ->-nte: mas se ciles
sacrificarem laó generosos sentii lentos ao bem geral da
Monarchia , e a futura grandeza do Reino-Unido ( v/n-
tet amor pitrÍ£) elles merecerão os maiores elogios da
posteridade pela ternura de seu c o r a ç ã o , e prudência de
seu espirito; e naó exporão a causa publica, pertenden-
do cousas cuja decisão demanda a mais profunda medi-
taçaó das Cortes. Lerrrbremo-nos que somos o espectá-
culo das N a ^ ó e s , e hum passo errado em politica pôde
arruinar por h .na vez nossa Monarchia.

O B J E C Ç Ã O 2.*

Podem replicar os Portuguezes E u r o p e o s , que se


Portugal naó tem forças para resistir a seus i n i m i g o s ,
pôde soccorrer-se aos pronvptos auxílios de seus antigos
i.e generosos alliados. — A taó impolitica opinião já res-
pondeo o Auihor do manuscripto attribuido a Napoleaó ,
!e rerrrettido de Santa Helena , dizendo Q u e o povc- ,
que ama -sua gloria , e sua liberdade de ninguém deve
.confiar sua deteza senaó de si proprio. s Além de q u e ,
ignoramos quanto nos ficaó caros taes a u x i l i o s , e o que
temos soffrido por sermos Potencia da 2." or d e m ? ( R e -
flexiô 2. a ) He verdade que naó ha N a ç a ó , que possa
g a b u - s e de que nunca precisa de outras; ha porém esta
d i f F i r e n ç a , que as grande Potencias só recorrem aos soc-
corros alheios em casos extraordinários e r a r o s , sirni-
lhaattfí á-s pessoas r i c a s , que pedem emprestimos em
4
i
7l
.„sos extraordinários: mas 1 .ncias pequenas precisão
de outras nos perigos ordinaiios: e ccmo Portugal con-
fina com Hespanha , por isso qualquer guena com esta
o reduz a grande p e r i g o , e o toina dependente de soc-
corros estranhos. E que perda de interesses públicos, e
de honra , naó sair desta espécie de escravídaó ignomi-
niosa , tendo tantos e taõ foceis meios paia faie-lo 1 :

^ j J E C ç A Õ

Diraõ outro s i m ; que assim ccmo os"outros M o -


narchas fugitivos de seus Estados pela. guerra passada,
se recolherão a su*s respectivas Coites pela.paz g e r a l ,
assim também Sua ivlagestade devia logo que cessou .
causa de sua ausência restituir-se á antiga C o i t e , como
havia promettido, e depois de voltar conseivar-se - , ella.
— Respondo negando a paridade. Aquelles Monarunas,
huns esiavaõ fóra de seus E s t a d o s , ccmo Luiz X V I I I . , e
deviaó recolher-se pela paz g e r a l : mas S " a Magestade
vivia dentro dos seus. . Outros estavaó són. te fora da
C o r t e , como E l - R e i de, Serdenha que vivia naquella
I l h a , e E l - R e i de Nápoles na Ilha de Sicilia; os quaes,
feita a p a z , voltáraõ, da parte menos notável pára a
principal parte de seus Estados: pois Serdenha vai me-
nos que as Piovincias continenies daquelle R e i n o , Seci-
lia menos que o Reino de Nápoles; e por esta mesma
razaõ Sua Magestade naó vo. ou a Portugal para se en-
grandecer pelo augmento do Brazil. O nosso Monarcha
tanto reconheceo a necessidade de sua residencia no B i a -
2 u , que declarou por Coite a Cidade do R i o de Janeiro
p .-creio que pi I k . u . Melhor f o r a , sedtclarasse por
Corte a B a h i a , ou Pernambuco como se disse na primeira
parte. Pessoas néscias ou pieoccupadas estranháraó aquelle
Decreto e a peimanencia d ' F l - R e i na A m e r i c a , contra
a piomessa que fizera de voltar logo que se removesse a
causa que motivara sua partida , e saudosa ausência: mas
sem r a z a õ ; poique a vontade dos Heis r a ó he livre,
mas subordinada, ao bem geial dos povos que > Provin,-
r*
dencia confiou a seu império. Assentou potém Sua M a -
gestade que sua residencia no Brazil era de absoluta ne-
cessidade para o augmento do tfeino-Unido , e que sua
volta para Lisboa empeceria áquelie augmento, e talvez
á sua conservaçaõ. Agora pois que E l - R e i se acha em
P o r t u g a l , o tempo mostrará se foi ou naó prudente
aquellc -arbítrio de Sua Magestade. Além disto aquella
R e a l promessa foi feita em circunstancias que depois
variáraó pela seiie de muitos, e inopinados acontecimen-
tos. Depois de 1807. o Brazil fn : ' o R e i n o , soblevá-
raó-se as Américas Hespí. h o L j em ioda do B i a ? ' ! , os
portos deste novo Reino loiau abertos a todas as Na-
ç õ e s ; as idéas de liberdade, c o espirito de insurreição
se tem demasiadamente declarado, e porpagado na Ame-
r i c a , e até n o B r a z i l , & c . Que succederá pois se a Cor-
te se conservar sempre em Lisboa í Di-ga-o o Abbade de
P r a d t , agoureiro funesto da desunião dos dous Reinos.
Isto mostra também a circunspecção com que se deve
designar oTugar da residencia do Monatcha.

QBJE,CÇAÕ 4.1

Outros d i r a ó , que o augmento do Brazil pouco in-


teressa aos presentes, e por tanto naó convém que nos
embaracemos com seu augmento. — Respondo : as socie-
dades civis saó pessoas moraes, cu a duraçaó , ainda que
contingente, he mais prolongada que a vida dos indiví-
duos. Se pois he propriedade do ente racional trabalhar
para -si e para os outros , mormente devem as socieda-
des civis traçar o quadro de sua grandeza, cjuer presen-
t e , quer futura. Assim tem obrado as Nações m a i v f a -
•migeradas do Mundo, e assim obráraó também nossos
maiores. Quando se arrojáraó áos m a r e s , descobrirão ,
e povoáraó Ilhas desertas, fundáraó colorias em A s i a ,
e A f i i c a , e no B r a z i l , trabalhavaó naó só para s i , mas
também e principalmente para seirs descendentes. Oxalá
foraó elles mais venturosos em suas emprezas! Oxalá
nunca as 'usas quilhas houveraó arribado ao M a l a b a r , ç
73
Vnsco d . G a m a surgisse antes nos portos do B r a z i l !
Oxa-lá houvéramos dispendido no augmento deste R e i n o
mais vizinho a nós tantos c a b e d a e s , e vidas que gasta-
mos na conquista da índia que perdemos, e que he ho-
je o monumento de nosso v a l o r , e o sorvedouro de nos-
so dinheiro! Se ao principio dirigíramos nossos cuidados
Íiara o B r a z i l , este R e i n o seria agora o dobro do que
l e , e naó estaríamos longe de hombrear com as gran-
des Nações do Mundo. S e o B r a z i l nos pôde agora ser
u t i l , quanto mais c< 'scer mais util nos será. O r a elle o
h e , , ^'v.o mostramos na P r i r ;ira Parte. N a ó digo po-
rem que no~s despojemos para engrandecer o B r a z i l , es-
te R e i n o já tem sufficientes elementos de sua grandeza.
A j u d a r os o u t r o s , naó he o mesmo q airuinar-se a s i :
e se para seu augmento importar que Corte esteja no
B r a z i l , devem convir nisto os Portuguezes E u r o p e o s ,
por seu proprio interesse , pois que este está ligado c o m
o interesse conimum.

O B J E C Ç Ã O 5. 8

H e opinião commum entre o v u l g o , que a ausência


d ' E l - R e i ha sido a causa da ruína ds Portugal. — R e s -
pondo: a decadencia de Portugal tem data mais antiga.
Antes da sahida de Sua Magestade para o Brazil ji ti-
nha havido emprestimos ou pedidos, e papel-moeda. N a -
poleaó extorquia do G o v e r n o gi andes s o m m a s ; a guerra
com França precedeo á sahida d ' E l R e i paia o Brazil.
N a sua ausência obrou a N a ç a ó taó heroicos feitos de
a r m a s , que estando elle presente, de certo os naó hou-
V.' feito maiores. E n t r e tanto havia dinheiro, e poc
jseo ninguém se queixava da ausência d ' E I - l l e i . Pinda a
guerra , os males públicos naó f i n d á r a ó , antes se agra-
váraó. Começou o dinheiro a e s c v c e a r , já pela execução
do tratado de Commercio de 1 8 1 0 , já pela introdncçaó
perniciosa de graõ estrangeiro, já pelas remessas de
grandes sommas para R o m a , e para o B r a z i l , já em
ntn pelo l u x o , entre,nós cresce í o m a n o s a pobie-
10
74
2a ; e desde então "omeçáraõ as queixas. Noutras repar»
tições naó se emendavaó os antigos abusos, a estes ac-
cresciaó outros , e por tanto dobravaó-se as queixas. O"
povo errava na designação da causa de seus m a l e s : di-
zia que E l - R e i empobrecia o R ° i n o pelas avultadas som-
m a s , que delle tirava ; mas naó se queixava das mais
enormes sommas que lhes levava o commercio, e o pro-
prio luxo. Os males sentiaô-se; e em vez de se lhes
assignar por causa a viciosa administração publica, di~
zia-se que a causa de todos elles err- •» -"".enci 1 d ' E l - R e i ,
e que o remedio heroico 'ta a volta da CôY. - p;..u Lis-
boa. Naó nos demoraremos n„ individuaçaó dos defei-
- daquellu administração, os quaes andaõ assoalhados,
até com demasii» r em todos os periódicos. Só direi que
. > ívem atnlha-los quanto f o r possi"el, começando desde
huma vida n o v a , como a do peccador sinceramente
dependido:: e sobre tudo convém começar já já a or-
denar aquel'e systema de- relações entre os Estados des»'
ta nossa ta„ preciosa Monarchia de que fallámos na Pri-
meira Parte , a fim de que o numerário circule com a
possível proporção por toJa ella. Os qoe fazem a objec-
ç ã o que estamos refutando cuidaó que estando E ! - R e i
em L i s b o a , todas as cousas voltaó exactamente ao esta-
do em que eraó antes da sahidà d ' E l - R e i . He este hum
erro grosseiro. O Brazil he agora R e i n o ; seus portos
esraó francos ao commercio estrangeiro: o Brazil quere-
rá de ora em diante gozar das attribuiçóes de R e i n o , e
talvez de Império; e já re vô que naó consentirá de
bom grado que Portugal receba de lá as sommas que
antes r e c i b i a , parte das quaes he necessaria para as des»
pezas publicas , e pai ce passa para os estrangeiros pelo
commercio desigual, que com elles temos: o que tudo
sonvem remedi ar.

O B J E C Ç Ã O 6. a

N a õ tem faltado quem drga que o Brazil dista de


Portugal 2000 léguas, e que esta distancia prejudica ao
bom govçrno de P o r t u g a l , no caso que a Corte esteja
Bo Biazil. — Respondo: a este respeito notaremos quç
75
Portugal nunca se acordou desta distancia, quando a
Corte estava em L i s b o a , isto he , antes de 1 8 0 7 para
se engrandecer no Brazil ; nem taó pouco outra dobrada
distancia o estorvou de estabelecer na índia Oriental
hum formidável Império, Nunca as maiores distancias
encurtáraó o voo ao valor' Pcrtuguez em tempos cm que
a navegaçaõ era mais difficil pela imperfeição da a t t e , e
menor o conhecimento das derrotas marítimas. Quando
porém a C^ te se achava no B r a z i l , entaõ, sem embar-
g d* n pe. 1 çaõ.da n a u i c a , he que os Portugue-
Zes liuroj-eos adveru -<e entre Portugal e o Brazil me-
deiaó 2COO léguas! H c na erdade mui fraca esta objec-
ção. Os que a propõem querem d i z e r , que ainda que o
povo Ultramarino seja o quádruplo , ou o décuplo do
de Portugal, ainda assim tem menos valor politico que
o povo Partuguez E u r o p e o ; e por tanto que o Europeo
deve g o z a r , e o Ultr amarino sentir todos os incommo-
dos desta dita distancia: que as diversas p n t e s do R e i -
no-Unido naó devem fazer sacrifícios humas ás o u t r a s ,
mas sim o Ultramar deve fazer sacrifícios a Portugal:
que o Ultramar he servo de P o r t u g a l , visto que sof*
f i e mais incommodos: que se o Ultramar para se alli-
viar daquelles incommodos se separar de P o r t u g a l , naó
deve este embaraçar-se com i s s o , com tanto que conser-
ve em Lisboa a C o r t e , e ainda que com esta separaçaõ
Portugal seja hum pequeno Reino , e Lisboa fique redu-
zida a Cabeça de Comarca , & c . Scc. & c . B e m sei eu
o que estes falladorrs ineptos desejariaó. Quereriaõ que
o Brazil distasse de Portuga. . a n t o , quanto delie distaõ
as Ilhas adjacentes: mas além de que só a Deos perten-
c e a distribuição dos Impérios , devem lembrar-se que
nesta hypothese talvez o Rei de Portugal naó fosse Rei
do Brazii. Oxalá os Portuguezes de ambos os hemisfé-
rios se lembrassem antes dos meios de se unirem cada
vez m a i s , em vez de semear discórdias por meio de dis-
iutas perigosas sobre preferencias, distancias, e outras
Í utilidades, advertindo que hum punhado de Portugue-
zes juntos na E u r o p a , outro punhado dispersos pelo Bra-
zil , e menos de meio punhado em A f r i c a , * Asia , fra-?
cos já por seu pouco numero e dispersão, mais fracos
IO *
7<5
3e fornaô se se desunem em vontades, e se naó estive-
rem dispostos a fazerem os mútuos sacrifícios necessarioJ
paia sua commum conservaçaó , e prosperidade do R e i -
no-Unido. Oxalá pudera eu encasquetar-lhes que os in*
commodos resultantes destes sacrifícios saó muito maii
leves que os males, na verdade hon i v e i r , que podem
nascer daquellas disputas!

O B J E C Ç Ã O 7

H a outro sim quem diga que o Brazil fie presente»


mente hum baldio a respeito de P ' " ® a l , e que será
necessário despojar Portugal para o povoar e engrande-
cer. — R e s p o n d o , que o Brazil agora mesmo taó bal-
dio , como h e , tem mais populaçaó, e he mais rico
que Portugal Se pelas alfandegas se avaliar exactamen-
te a importância aos productos exportados de cada hum
destes paizes, talvez se conclua que Portugal he char-
neca , e o B azil o Paraíso , pelo3 muitos e mui precio-
sos productos que este c r i a , e exporta. Com tudo seu
actual atrazamento he hum mal que pôde diminuir dia-
riamente, e será millo daqui a alguns annos. Que eraõ
em seus princípios Athenas, Carthago , e R o m a ? Com-
paremos o que era a America Ingleza em 1 7 7 6 com o
que he agora. Quanto menos valia Pottugal no tempo
do Senhor Conde D. Henrique, do que depois em tem-
po do Senhor D. Diniz i F, com tudo deste pequeno
principio sahio a presente M o n a r c h i a , bem como da
pequena bolota o robusto carvalho. A conquista de P o r -
tugal custou a nossos maiores ondas de sangue; nós po-
rém naó temos no Brazil nem de derrotar em sanguino-
lentas batalhas exercitos aguerridos, que nos disputem
o terreno palmo a p a l m o ; nem de forçar praças impe-
netráveis como É v o r a , S a n t a r é m , e Lisboa. Todo o
nosso apparato no engrandecimento do Brazil se reduz a
duas cousas, pratearia, e actividade. Se pois nossos
maiores t n ^ o trabalháraó por ganhar este pequeno can-
tinho da Em o p a , que desmazelo será o nosso se naó
77
animarmos a populaçaó, e augmento de faó vastos E s -
tados que a Providencia nos confiou ? Oh se este vastís-
simo , e precioso pai2 pertencesse aos Inglezes, ou Fran-
c e z e s , quanto elles o estimariaó ! E ha em Portugal
quem o avilte chamandr-lhe baldio, e charneca, como
ao diante direi! Oh se os Portuguezes conhecessem o
bem que possuem ! Oh si sua bctia vorivt! Naó digo
com isto que se despoje Portugal paia ornar o B r a z i l :
nem o riu eiró pôde com taes sacrifícios, nem o se-
g' -••'do '.sa .i!es. Estas e.nprezas naõ demandaó pres-
sa, se obiaõ de hum jacto: se porem houver p u~
dcncia, e actividade, o Brazil será cada anno menos er-
mo , cada anno cresceremos em poder, cada anno nos
aproximaremos n : s ao grão de Potencia primaria, a
que devemos ai t >i.a.. Portugal deve ser restituído da mi-
séria em que se acha a estado mais florecente, porque
o merece, he o primeiro R e i n o , e o solar da Monar-
c h i a , e assim convém ao R e i n o - U n i d o , para cuja con-
eervaçaõ concorre mui poderosamente; o Brazil porém
deve ser augmentado sem damno dos outros Estados, se
he que de véras queremos ter alguma representaçaó po-
litica , e naó andar sempre debaixo dos pés de quem nos
uizer trilhar. Se ha algum Portuguez, em cujo enten-
imento naõ caibaó taó claras verdades, desde já o ac-
clanio ante o Ceo e a terra por sandeo, e estúpido, ou
por inimigo declarado de sua patria , e totalmente dege-
nerado dos brios e fidelidade de nossos maiores. E que
me diraõ esses falfadores , quando daqui a algun 3 annos
as charnecas do Brazil vale<em cada huma mais que
Portugal? Quando Pernambuco valer m a i s : Bahia valer
m a i s : Minas valer m a i s : Maranhaó valer mais: R i o de
Janeiro valer m a i r : R i o Grande do Sul valer m a i s :
Mato G r o s s o , taõ extenso como G e r m a n i a , valer mais:
e o Pará , maior que nossa Península , valer mais que
o pequeno Porrugal? Quaó poderosa será entaó em u-
quezas, e gente esta M o n a i c h i a , quando cy.da huma da-
quellas Províncias, e outras que omitto, igualarem a
Portugal ? De quantos Portugaes constará entaó o Rei-
no-Unido! Reflecti nisto, ó charlatões; l^d» e estudai,
palradoies presumidos; estudai a histgiia UO YOSSO p a i z ,
78

• esua g e o g r a f i a , mineralogia, zoolog : a , firologia , com-


m e r c i o , e relações com oiuios povos do M .ndo, e de-
pois faltai i que estou certo n;>ó vomitareis tanta sandi-
ce. Que vei gonha , se se perdei em por nossa culpa tan-
tos Poi tugaes, que estaó a forriar-se !

O B J E C Ç Ã O 8.*

Antes da volta de Sua Magestade a Lisbo- , a cida


pí.s c o, e a cada canto se ouvia g r i t a r : se El-Rei naó
volta para P o r t u g a l , seremos colonis ' ;ueremos ser
colonia. Será possível que a At.?—-i .^.nlia colónias na
Europa ? Virá a ser colonia hum Keino fundador de co-
Ionias ? Estas vozes se ouviaó, e repetiaó com huma es-
pecie de enfase , e d e indiguaçaõ; ficando mui pagos de
si os que as diziaó , como se disseraó alguma sentença
digna de Apollo. — Passo a responder-Ihes definindo a
palavra colonia. i . ° Se por colonia se entende hum paiz
povoado de habitantes vindos de outro paiz , chamado por
isso Metropoli, he certo que em quanto o Mundo, for
M u n d o , o Brazil ha de ser colonia de P o r t u g a l , e Por-
tugal metropoli do B r a z i l , porque este recebeo daquelle
ou por meio daque!le os habitantes , que naó saó indi-
gen i s : assim como Portugal recebeo seus habitantes dos
F e n i " ; . ' 3 , Carthaginezes, R o m a n o s , Judeos, e d e outios
p o v o s , que nas idades posteriores nelle se er.tabelecêraõ ,
em maior ou menor numero. Nesta accepçaõ pois nunca
Portugal será colonia do Brazil.
2.° Entende-se outro sim por colonia hum paiz que
he menos favorecido que sua metropoli, pelo Governo
supremo de todo o E s t a d o ; isto h e , aquelle que goza
de menos vantagens, e soffre maiores incommojos, que
a m'ítropo!i: e he neste sentido que Portugal naó quer
ser colonia. Para dar a esta matéria a luz que he possí-
vel , observarei o seguinte: i . ° E m quanto aos cargos
públicos, o Senhor D. José habilitou todos os Cidadãos
das quatro partes do Mundo para os obterem ; como po-
rém a Corte estava em Lisboa era diíftcil aos Portugue-
79
jes Ultramarino! o recurso ao Monarcha em quaesquer
dependências de Graça, ou Justiça, tanto quanto era
maior sua distancia da Corte. Neste sentido sempre o
Ultramar foi menos favorecido, naó pelo Governo mas
pela natureza. Naó he deste lugar individuar a pratica
daquelles tempos a respeito daquellas dependencias. 2.°
E m quanto aos encargos públicos, he certo que Portu-
gal loi sempre mais colonia que o B r a z i l ; porque em
quanto ac Tributos icnpre o Brazil pagou m e n o s , e
P o r t J g a l S VPÍ. -nais do que cada hum podia. O BinZ 1
nunca f p r e f a ç õ e s Dominicaes, que tanto pez .3
no Poituguez liuropeo, e só pagava o d i z i m o , o qu
to do ouio das m i n a s , o real d ' a g o a , e as passagens,
e naõ sei que mais ' ° ainda h o j e , sem embargo de S ; a
Magestade haver ntado os tributos, com tudo pa-
ga menos que Portugal; e neste sentido sempre Portugal
toi mais colonia que o Brazil. Em quanto ás Guer-
ras, que consomem tanto os cabedaes, como as v i d a s ,
a tomada do R i o de Janeiro por Duguay T r u i n , e as
guerras occasionadas pelas contestações com Hespanha á
ce c.i da Colonia do Sacramento, e limites no R i o G r a n -
de do S u l , e as escaramuças contra o bandoleiro Arti-
gas naõ foraõ mais que arranhadellas passageiras no
grande corpo daqnelle Reino G i g a n t e , se se compara-
rem com as de 1 7 6 2 , 1 8 0 1 , e a ultima contra os Fran-
cezes , taó desas rosa como gloriosa para P01 tugal. Du-
rante esrn poríiosa briga o Brazil gozava dos fructos da
p a z , em quan o Portugal advogava a causa da Monar-
chia com peida de tantas vidas no B u s s a c o , em Albue-
r a , T o r m e s , V i c t o r i a , e Tolosa. L o g o por esta parte
também Portugal tem sido mais colonia que o B r a z i l .
porque tem padecido m a i s , e esre menos. 4. 0 F.m quari-
to ao Commercio nem Porrugal era colonia até 1 8 c ; ,
nem o B r a z i l ; porque ainda que o commercio do Bra
zi! com a Europa era feito por P o r t u g a l , com tudo p
«sre prudentíssimo arbítrio o numerário circulava po»
ambos os paizes; e assim mesmo sempre o Brazil teve
mais riqueza que Portugal. Se o commercio do Brazil
era menos l i v r e , também lhe era mais u t i l , porque af-
fastava delle o-appeute dos generos estiangetros, e 0
8o

luxo devorador,' e impedia a sahida do numerário para


as Nações estrangeiras, em cujas máos podia converter»
se algumas vezes em instrumento de nossa oppressaõ.
C o m esta boa criação era em 18C7 0 Brazil hum paiZ
de summo v a l o r , e importa '.cia. Hoje porem abertos os
portos aos estrangeiros, esies nos levaó parte do dmhei-
1 0 , vaó alimpando o o u r o , e por este nos deixac fi.i-
n h a s , c h i t a s , v o l a n t e s , filós, traquitanas de alto pre-
ç o , quinquilherias, e outras manufacturas, p r cuja f r a -
gilidade trocamos cegamente a solidez -laqu Ue precioso
metal. 5. 0 Considerando o estado de I jrtug.. 1820,
R e i n o naó era colónia , p e q u e ainda era menos de
c o i o n i a , naó pela ausência da C o r t e , mas pelo rn.io
g o v e r n o , ou administraçaó destru -iva ; vindo o mal
naó da natureza das cousas rv-, vicio dos homens.
Destas breves observações se vê , que Poitugal sem-
pre foi mais coionia que o B a z i l , e que a uruca van-
tagem que levava ao Brazil era ter a Corte mais próxi-
ma para seus r e c u r s o s , e dependências. Debalde pois se
queixaó os Portuguezes Europeos de que eraó c o i o n i a ,
e clamaõ que o naó querem s e r ; pois realmente sempre
o f o r a ó , e haó de ser mais que o Brazil ; porque sem-
pre sobre elles c a r r e g o u , e ha de carregar maior pezo
de incommodos do que sobre o Brazil. Costumaõ as me-
tropolis arrogar a si certas vantagens sobre as c o l o n i a s ,
e com r a z a ó , pois dispendèraó cabedaes, e suor para
as crear e augmentar, e tem por isso sobre ellas ceito
direito de propriedade. C o m tudo nossos Monarchas nun-
ca ^ssim obráraó com o B r a z i l , e sempre mostráraõ
summma predilecção para com este pare , similhantes á
mâi affectiva , que reserva para seu filho mais novo to-
da a ternura de seu a m o r : nem ha hum só dos da au-
gusta Familia de B r a g a n ç a que se naó haja assignalado
ou por novas desenhei t a s , ou pela fundaçaõ de alguma
r.r,va Província , ou pelo melhoramento das antigas; que-
rendo com mais acerto e utilidade conipensar-se no Bra-
zil das perdas do Oriente , e preparar assim pouco a
ouco aquelle giande paiz para assento de hum grande

-
f mperio. Este parece ter sido o desenho do Marquez de
P o m b a l pelas reformas que nelle f e z ; e Sua Magestade

t
8r

ac ja de receber o f r u c t o , achando nelle seguro asilo.


Que importa pois fazer para que P o r t u g a l , e o Brazil
naó sejaó coloniasí i . ° Em quanto ás relações com a
C o r t e , e mercantis convém formar quanto antes aquelle
systema de que tenho f a l l a d o , entre as diversas partes
da Monarchia. 2. 0 E m quanto aos tributos, como sem-
pre os Portuguezes Europeos os soffiêraó mais pezados,
he justo dar-Ihes algum allivio; no que sua Magestade
começou entender , mandando crear huma Junta para
o exame d< s F o r a e s , e as Cortes tem também desvpla-
damente r %.lhadi. E m fim devem todas as partes
da Monarci.ia estar promptas para fazer mutuamen r '
crificios racionaveis, e naó quererem mais do q u e , r
gundo seu v a l o r , l h : pôde competir. Na Primeira Par-
te exposemos a neces.n' .de destes sacrifícios, nem ces-
saremos de inculca-h. /issim como no corpo humano
cada membro faz as funcçóes que por sua essencia lhe
compet n , assim também deve acontecer nas socieda»
des.

O B J E C Ç Ã O p."

He mui frequente nas pessoas do v u l g o , e ainda


em algumas outras que presumem ser mais que o vul-
g o , o dizerem: Que Portugal he Reino mais a n t i g o ,
M e t r o p o l i , e conquistador dos Estados Ultramarinos ;
que nelle nasceo E l - R e i , e nascèraõ, reináraõ, e faílc-
cêraó seus antepassados, os quaes de Portugal governá-
raó os outros Estados; e que por tanto a Corte naó de-
ve jamais sahir de Portugal. — R e s p o n d o : concedo os
princípios, e nego a consequência. Se o lugar da Cor-
te deve regular-se p»." antiguidade, entaõ nunca ella
sahiria de G u i m a r ã e s , on Coimbra. M a s o bem com-
mum que a transferio para L i s b o a , ( salus populi) este
mesmo deve decidir da sua localidade. Lisboa , além ae
outras vantagens de sua situaçaó, era o lugar mais cen-
tral , quando a Monarchia se reduzia a P o r t u g a l , e A l -
garves , e nossas conquistas valiaó menos que a Metro-
j>oli. Mas quando o B r a z i l , por seu progressivo „ugmeiw
11
82
t o , valer mais que Portugal ( e ainda mais que Hespa-
n h a ) já Lisboa deixa de ser centrai, e o centro do maior
poder passa para o Brazil. T a l he a contingência das
cousas humanas; o que agora convém, daqui a pouco
empece. Naó he logo por paixões, interesses, caprixos ,
e antiguidades que se deve decidir o lugar da C o r t e ,
mas pela lei geral das sociedades =5 Salus populi supre-
ma lex esto. — Se fosse possivel conciliar o augmento
do Reino-Unido, e a elevaçaõ da Monarchia a Poten-
cia 'ima ri a com a perpema permanenci." d? Corte em
L i s b o a , conviria eu de bom grado, c, e a r nca
de Portugal. Com tudo nuem pôde p cve.i o fu-
tu : Quem diria ha 50 annos que a Corte passaria pa-
ra o Brazil? Q i e dalli voltaria pa- ^ortugal em 1 8 2 1 ?
Qiern sabe se outra catastrofe . ra sahir outra vez de
Lisboa para o Brazil ? R e p i t o , que a utilidade do Rei-
no-Unino ieconhecida pela Naçaó em Cortes G e r a e s ,
decidirá do lugar da Corte. A esta commum uálidade
devem os Portuguezes sacrificar suas pertençóes", e naó
querer preferir o apparente ao r e a l , e a vangloria , e
vaidade instável á solidez, e perpetuidade de sua Io-
navehia. Fallo com os Portuguezes de ambos os hemis-,
rios.

O B JE C ç A 5 io. s

Refuta-se o Compadre de Lisboa.

Das doutrinas até aqui expostas relativamente á ex-


istência d.i Corte no B r a z i l , he declarado, mas inepto
'mpugnador o Cmpadrt de Lisbona sua Primeira Car-
i.npi-essa neste aino de 1 8 2 1 . Nesta Carta come-
pag. o dito Compadre a refutar o dito Breve
JL)i>-nrso, onde El-Rei deve ter sua Corte, publicado no
n.° e seguintes do Astro da Lusitania; e sem apre-
sentar huma refutaçaó naó digo nervosa, mas nem ain-
da verosímil do dito Breve discurso , naó faz mais que
misturai círculos com quadrados, o falso com o insipi-
83
CO, desvairando com manifesto despejo as palavras e
sentido do texto que quer impugnar. Deixando porem
estas minúcias, e alguns erros de Geografia em que o
dito Compadre he hum tanto bizonho, passarei a exa-
minar os motivos por que o dito Compadre quer a Cor-
te em Lisboa perpetuamente.
i.° Estando a Corte no Brazi! , a uniaõ dos dous
Reinos será ruinosa e oppressiva a Portugal, o qual se-
rá o pigneo nas mãos do gigante, OH O pombo nas unhas
da aguia. — Respondo: posto o systema de que s< tem
falido -as F e f l e x ó e s , podem ambos os Re os ser
bem governados, e sem elle seraó mal govern
desunidos. Este systema naó he hum ente de razao j1-
le já foi annuncia o relo Decreto de Sua Magesta-
de de 2 de Junho dr 6 ; mas até agora naó teve ef-
íeito, e de se naó .^eituar procedêraó as desgraças que
temos soffiido. Em quanto á similhança do gigante e
pigmeo, perguntaria eu ao Sr. Compadre: em que tem-
po do governo da Dynaítia Brigantina deixou Portugal
de estar encostado a algum G i g a n t e , para resistir a seus
in nigos ? Na guerra da acclamaçaó naó foraó seus gi-
gantes todos os inimigos de Castella ? Na de 1762 naó
foraó seus gigantes os In^iezes commandados pelo Con-
de de La Lippe? Naó fauo na guerra de 1801 , que naó
sendo mais que huma escaramuça , assim mesmo pario a
perda de O l i v e n ç a , e o glorioso tratado de Madrid:
nem taõ pouco nesta ultima , de que fomos testemunhas.
Ora se desde que a Hespanha faz huma só Monarchia,
Portugal he obrigado a soccorrer-se a algum G i g a n t e ,
qual será mais amigo o Gigante estrangeiro, que arra-
nha quando quer, e sem d ó , e ás vezes esmaga, ou o
Gigante Brazil que he filho de Portugal, que natural-
mente respeitará seu i.iclito P a i , e que ainda que queira
naó poderá arranhar, sem arranhar também em si pro
p r i o , quero d i z e r , sem oífender seus proprios ir r er"
ses? Se de Portugal foraó para o Brazil as encimes
sommas que constaó do Relatorio do Sr. Manoel Fer-
nandes T h o m a Z , desta arranhadela teve o Governo cul-
pa . por naó haver estabelecido aquelle taó necessário
í y s t e m a , indicado no Decreto dito de 2 de-junho de
11 * 1
84
I R I 6 , e que taõ preciso he. Sobre tudo he imprópria a
similhança do pombo, e da aguia. Portugal, e Brazil
naó saó de especie diversa, como as pombas e a s a g u i a s :
pois que saó dous Reinos da mesma N a ç a ó , e por isso
melhor se assimiihariaóa duas águias reages, e de taó ge-
nerosos alentos, que bem unidas, haó de aftugentar
qualquer attrevido que tentar occupar-lhe o ninho.
2. 0 O mesmo Compadre de Lisboa he hum pouco
pagaó em noticias, e geografia do B r a z i l , qrando d i z ,
que -> Brazil he nada comparado com Portugal, isto he,
d si'1'jiopHlãçaÕ. — Sabemos com certeza - popula-
; B r a z i l , excluindo os selvagens, excede a de
Po.tugal. He opinião commum que a de Portugal he de
5:000:000, e naó pôde ser muito * s ; a do B r a z i l ,
diz o Diccionario de Vosgien , /arís 1 8 1 $ , he de 2, a
4 milhões; outros asseguraó 4 3 5 milhões, contando a
escravatura , que também he gente.
He também nimiamente litteral, quando d i z ,
que o clima do Brazil he ardente, e pouco sadio, e que
o Brazil está hoje reduzido a humas poucas de hordas de
negrinhos, pescados nas costas de Africa, únicos e só ca-
pazes de supportarem, e naõ por muito tempo, os darde-
jantes raios de huma Zona abrazadora. — Naó ha san-
dice igual a esta. Cuida o Compadre de Lisboa que to-
dos os paizes da Zona Tórrida saó por isso torrldos, e
inhabitaveis ? Que delirio! Saiba pois que a parte Meri-
dional do Brazil está na Zona Temperada; que os pai-
zes da Zona Tórrida saó tanto menos cálidos quanto
mais se elevaó acima do nivel do m a r ; que em Minas
Geraes cahe neve: e se elle quizer ler nossas historias,
verá o grande numero de Nações que habitayao o Bra-
zil quando o descubrimos. Estas Nações eraó índios, e
naó Negros. Q j e quer dizer hordus de negros no Bra-
zil ? Os negros do Brazil saó encravos de seus Senho-
r e s . e naó formaó hordas, isto h e , familias de selva-
gens. Que quer dizer negros pescados nas costas de Afri-
ca í Os negros naó saó peixes, saó indivíduos racionaes
reduzidos a* escravidaó , e vendidos aos Europeos, que
os levaõ 3 America para os empregar na cultura da cer-
r a , e no trabalho dos engenhoi. Esta negociaçao tem
O- ^ l e z e s procurado arruinar sob côr de filantropia i
mas com o nm de arruinar nossa agricultura.
4.° He em fim dfscomedido o dito Compadre quan-
do d i z , que o Brazil he paiz, selvagem, inculto, e terra
de macacos, dos pretos, e das serpentes, is-c. Mas deixe-
mos as inepcias deste escriptor burlesco, que sem geo-
grafia , sem estatística , e inteiramente hospede da ma-
téria de que f a l i a , quer antes brincar insulsamente , que
pensar cem seriedade nos mais graves assumptos. Ditos
picantes podem ser mui perigosos, e dar causa á ruina
dos' Impcri-ij.

O B J E C q A Õ li.*

Ou çamos agora os Portuguezes A m e r i c a n o s : o B r a -


z i l , diraó a l g u n s , naó precisa de Portugal no estado
em que ora se a c h a , e p o r isso pôde prescindir de Portu-
gal. He esta a opinião do Author de hum folheto im-
presso no R i o de Janeiro neste anno de 1 8 2 1 . — R e s -
pondo : o Brazil naó precisa de Portugal para ter o que
já t e m ; precisa sim para ter o que ainda lhe falta. E
que lhe falta ainda í Falta-lhe muito.
I . Precisa de huma Potencia , ou f o r ç a externa a
e l l e , que o d e f e n d a , e proteja. Q u e m lhe acudio con-
tra os F r a n c e z e s , Hollandezes, e Hespanhoes com mui-
tas e fortes armadas desde i ç c o até 1 8 0 8 ? E depois que
lá está a C o r t e , para que se tem chamado tropas de
Portugal para repellir o bandoleiro Artigas, e reforçar
a C a p i t a l , e outros pontos importantes contra qualquer
i n v a s a ó i Desta força externa a si precisa o B r a z i l ,
já porque sendo seus povos a g r í c o l a s , e negociantes, e
precisando de empregar sua pouca populaçaó no augmen-
to do povo , loteamento de terras incultas, e nas fabri-
cas necessarias ao p a i z , naó pôde distrahir seus habitan-
tes para a milícia , e por isso nas R e f l e x õ e s da Primei-
ra Parte dissemos que ao Ueino-Unido convém muito
conservar-se em p a z ; já porque será algumas vezes mais
fácil acudir de Portugal ao Norte do B r a z i l , do que do
Sul do mesmo R e i n o , V. g. do R i o G r a n d e do Sul ao
86

P a r á , pela e x t e n s ã o , e embaraços da * .n
fim pcrque P o r t u g a l , sendo Reino pequeno, mas p j v o a r
d o , pode em pouco tempo juntar suas f o r ç a s , e dispor
delias com presteza no mar e terra. Ora o Brazil tem
que temer a sublevaçaó do3 escravos reunidos em Qui-
lombos , as incursões dos G e n t i o s , de que o Brazil
a b u n d a , e esraó em grande parte por d o m a r , e as guer-
ras tanto externas como civis entre as Províncias do
mesmo R e i n o , algumas das quaes saó taõ es anhas en-
tre '• - como os Hespanhoes e Portuguezes, e cada hu-
m n, > tem das outras huma dependencia i o r ç c ? a , que
, e as subordene. E m qualquer destes casos , se
o azil precisar de soccorros de fóra que N a ç a ó lhos
prestará mais promptos e generosos que Porcugal? Naó
saó por ventura bem c a r o s , t , ; gosos os auxilios es-
tranhos ? Q u e certeza tem o B r a z u de que os estrangei-
ros estaó promptos para lhos dar ? E que estes auxílios
( caso se lhe dem ) lhe seraó úteis, isto he , que os es-
trangeiros , entrando como a m i g o s , naó haó de passar
ouco a pouco a protectores , e em fim a dominadores í
E )e hum p a i z , como o Brazil he , rico de o u r o , de dia-
mantes , e de outras especies de pedrarias, de que es-
taó cheias a Europa , e índia ; além das minas de fer-
ro , e de outros m u i t o s , e variados productos, he na
verdade apperecivel a p o s s e , mormente para Potencias
que , como Rússia , França , e Áustria , possuem pou-
c a s , ou nenhumas colonias. Lembremo-nos do que nos
aconteceo na índia : este paiz atti ahio nossa c u b i ç a ; os
Hollandezes nos expulsáraó de l á : estes foraó expulsos
pelos Inglezes. E será possivel que o Brazil passe tam-
bém para mãos estrangeiras ?
I I . Precisa outro sim o Brazil de habitantes; pois
ainda que todo o povo da Peninsul? passasse para o B r a -
z i l , ainda assim naó ficaria este paiz medianamente po-
.•o 'o. A este respeito diz o Sobredito folheto , que os
m.lhores povoadores do Brazil naó saó os P o r t u g u e z e s ,
mas os estrangeiros. Q u e ridículo disparate ! P e r g u n t o ,
quem estabeleceo no Brazil esses 4 ou i milhões de ha-
bitantes, que se diz ter ? naó foraó os Portuguezes? N o -
te-se que desde 1 5 0 0 até 1 8 0 7 o governo do Brazil sen-
do mente cr 1 nial, naó pôde a popuTaçaõ prosperar
ta nu, ... • , e.n que Sua Magestade, convidando
c o l o n a , facultando ter fabricas, e promovendo-lhe a
industria , tem dado efectivamente notável augmento á
populaçaó, daquelle grande Reino. Concedo que os po-
voadores estrangeiros augmentaó o numer» : sei quePius-
Sia no século passadcJ, R ú s s i a , e a America Ingieza no
presente, e no presenre, e no passado, e nossos maio-
res desde o Senhor D. Aftonso I. se tem servido deste
m e i o ; e ainda accresccnto, que se o Governo chamar
povo dores de todas as Nações, crescetá mui j>ida-
mente a populaçaó do B r a z i l : e he esta a razaõ -
Sua Magestade os tem chamado. He porem incui. t
hensivel a razaõ porque o Author do duo folheto piete-
re os estrangeiros aos Fortuguezes. Estes saó simiihan-
tes na lingua , costumes, R e l i g i ã o , e leis aos Brazilei-
r o s , saó súbditos do mesmo G o v e r n o ; he tudo panno
da mesr a peça. A emigraçaõ voluntaria destes he fre-
quente , e naõ custa ao Lstado. Lá tem ou parentes que
os chamaõ, ou a quem se encostem. Os primeiros po-
voadores de S. Paulo eraó vadios que alli se estabelece-
rão ; os de Minas eraó pobres, e aventureiros, a quem
os Paulistas chamavaó por zombaria Inibo abai, ou ga-
linhas calçudas. A Província do R i o Giande do Sul em
i 8 c z tinha só proprietários de fazendas demarcadas:
e hoje he huma das mais importantes do B r a z i l , qu e
em 1801 derrotou os Hespanhoes , e ganhou as sete
Missões de que consta a Província do U r u g u a y , que
possuímos actualmente , e se ha postado com valor con-
tra as guerrilhas de Artigas. Assim que grande parte da
populaçaó do Brazil pouco ou nada tem custado ao Es-
tado. O Governo tem promovido mais ou menos esta
populaçaó distribuindo em tempos mais antigos as terras
do Brazil por donatarios, que á sua custa as povoátaõ;
e Sua Magestade fundador daquelle Reino tem feito ccm
este fim despezas avultadas , ainda que nem sempre L^.a
logradas. He por tanto evidente que o Brazil naó deve aos
estranhos o que pi esentemente he : mas primeiramente
a Portugal, e depois a Portugal, e a si. Se pois o B r a -
zil naó depende de Portugal, como diz o ^r dg
88

folheto, pergunto como podem o*"Lv-tueueze» .< o


puzeraó naquelle estado, ser colonos inrenores a >s es-
trangeiros , que nunca lhe fizeraó , nem escaó lazendo
bem ? Alem disto os estrangeíios saó de ordinário ou
inimigos dissimulados, ou pouco fiéis. Como naó tem
relações com o paiz para o qual passaó , onde naõ tem
patria, nem parentes, por isso naó tem empenho no
augmento , e nos interesses desse p a i z , e seu patriotismo
he seu particular augmento, e interesses. Per isso os
Chi; as naó petmittem aos estrangeiros penetrar no inte-
rior ao Império. Quando os Governos chamaó a seu
pai:: ,-^lonos estrangeiros tem de fazer com estes gros-
sas uespezas para os estabelecer, e Ihr« "-^har as von-
tades: pelo contrario o Porr.T- .uadeiro em qual-
q u e r parte do Reino-Unido tem o mesmo caracter.
Sendo pois os povoadores estrangeiros mais c a r o s ,
e menos fieis, e por isso menos úteis ao Estado que os
Portuguezes, por que razaô preferirá o Author do fo-
lheto os primeiros aos segundos ? Será porque os Portu-
guezes Saó mais f r o u x o s , eaquelles mais activos e indus-
triosos ? Se tal pensou, enganou-se. O homem tem fa-
culdades , em cujo exercício regular consiste a industria:
mas as faculdades seraó inertes, se naó foreta desperta-
das , e aguilhoadas pelas necessidades quer naturaes,
quer factícias. Quanto mais se augmentaô ou diminuem
as necessidades, tanto se augmenta ou diminue o exer-
cício das faculdades, isto h e , a industria. Como pois
quer o dito Author que o Portuguez Americano seja
taó laborioso, como o da E u r o p a , habitando aquelle
n'um paiz mais fértil que P o r t u g a l , onde os fructos se
perdem por falta de braços , onde os barbaros indígenas
naõ precisão de trabalhar , mas vivem de c a ç a , pesca ,
e algumas plantações ? Como quer que trabalhe com
seus braços o homem que pôde manter quem o sirva
como c r e a d o , ou como escravo i Muito se engana o di-
to Author se imagina que os estrangeiros vaõ ao Bra-
zil dar quináo aos Braziíeiros em actividade: haó de fa-
zer como elles fazem , e como fazem todos em todo o
Mundo. Os pobres trabalhaõ pelo seu braço , e os ricos
usaó da br&çigçjn alheia- T a x a r porém de frouxidão aos
89
Ycr 'uezes Tr.õ ' boriosos na agricultura cm Portugal-,
tac «; —- c o i f a d o s na g u e r r a , taô arriscados , e
av•• v-enos no m a r , e que na Ameiica fundaraó ts^e
Império que o Auihor affitma poder passar sem Portu-
g a l , he o mais absurdo disparate de hum Escriptor E s -
tadista. A meu ver , a fiouxidaó dos Brazileiíos vem cie
duas c a u s a s , a s a b e r , da pouca populaçaó , e d< grande
fertilidade do p a i z : logo porém que a populaçaó se nug-
m e n t e , e com esta as necessidades, entaó crescera ou-
tro sim a industria. Querer porém que hum paiz mais
rico que P o r t u g a l , onde os negociantes milionários saõ
mais que em Portugal , e os productos immer,?o:- m
variedade , e quantidades, seja mais industrioso que. Por-
t u g a l , isto naó h' / e n s a r , he delirar.
Se pois aquelle desorientado Escriptor queria acon-
selhar bem a Sua M a g e s t a d e , naó devêra affirmar que
o Brazil em nada depende de Portugal. Esta proposição
poderia ser verdadeira, se P o r t u g a l , e Brazil fossem
duas grandes N a ç õ e s , como entre os Romanos o Impé-
r i o do O r i e n t e , e o do Occidente. M a s naó he a s s i m :
os Portuguezes Europeos saõ p o u c o s , e os Brazileiros
rambem saõ poucos; e se n'algoma tempestade politica
se salvarem u n i d o s , devem dar graças a Deos. Deveria
pois aquelle Author dizer a Sua Magestade: J." Q u e
para augmentar a populaçaó do R e i n o - U n i d o procure ci-
vilisar os índios pela voz dos Missionários, e pelo en-
g o d o do c o m m e r c i o ; que diminua os impedimentos ma-
trimoniaes, ou facilite sua dispensa; e que promova os
rnatrimonios entre as diversas castas do Brazil , no que
pôde ser ajudado pelos P a r o c h o s , e pelos Ministros T e r r i -
toriaes, e Cameras. 2.® Q u e descarregue as Cidades gran-
des de sua populaçaó , espalhando-a , e acompassando-a
por pequenas e bastas aldêas. 3. 0 Q u e continue a izen-
rar de tributos por alguns annos os novos povoadores de
alguma nova aldèa. 4. 0 Q u e imponha ás Camaras a obri-
g a ç a õ de fundar cada anno alguma pequena povoayaó
em seu districto. 5. 0 Q u e procure fazer navegareis os
rios para a p a s s a g e m , e transporte da g e n t e , e dos fru-
(ptos, e que continue no trabalho da abertura de estra-
12

d a s , proporcionadamente ao numen habif-f
se projectou fazer navegarei o R i r J í k . • - < -la
dsspejar os pjoductos de Minas G ó r a è s , e exp i-íoâ
pelo porto da Província do Espirito Santo. Nenhum
paiz no Mundo tem mais caudalosos r i o s , nem mais
aptos para a c o m m u n . c a ç a ó , que o Brazil. 6." Que so-
bre tudo regule bem o commercio , quer interno, quer
e x t e r n o ; porque a venda dos fructos trará dinheiro; e
com o dinheiro crescerá a agricultura , e industria, e
por conseguinte a populaçaõ. 7 . 0 Q u e em quanto aos
povoadores prefira sempre os Portuguezes aos estrat j e i -
/os. ' '-a-se como os Inglezes tem povoado Bahia Bota-
n i c a , e outros lugares de Nova-Hollanda com possoas
de má conducça , que saó o refugo dc Inglaterra. E naõ
temos nós também porçaõ desta relê ? E m quanto aos
estrangeiros, admittaó-se t a m b é m , e para isso convém
approveitarmo-nos dos distúrbios da E u r o p a , e socegar-
mos os nossos. S e houver d i n h e i r o , podem pôr-s^ agen-
tes em vários portos da Europa para os c o n v i d a r , e
conduzir: altas, façaó-se-Ihes bons partidos, e elles iraó.
I I I . C a r e c e mais o B r a z i l de vinho , azeite, e sal ,
e alguns outros productos. D i z porém o Author do f o -
l h e t o , que o Brazil os haverá mais baratos vindo de ou-
tros p a i z e s , que de P o r t u g a l , e que na concorrência
sempre haõ de vencer os de P o r t u g a l , e que se agora
os naõ vencem , he porque pagaó mais direitos nas al-
fandegas , que os Portugueses. A este respeito observa-
rei: Duvido que estes productos èxcedaó em bonda-
de aos de Portugal. Os vinhos do Douro passaõ pelos
mais valentes da Europa-, os das Ilhas pelos mais deli-
cados , para naó fallar nos da C h a m u s c a , B a i r r a d a ,
C a r c a v e l l o s , B u c e l l a s , e Setúbal. Nosso azeite pôde
tornar-se igual ( s e já o naó h e ) e talvez superior a o
melhor da Europa , logo que geralmente se aperfei-
ç o e sua feitoria. Donde c o n c l u o , que o Brazil n a ó
pode receber estes tres generos melhores em qualidade
de fora , que de P o ^ u g a l . O sal Portuguez he optimo.
2. 0 Ou nós consideramos estes dolis R e i n o s u n i d o s ,
ou naó. S e os suppómos Unidos, devem estabelecer-
9*
c» fc> ~ 3 1fand' iàâ de ambos direitos mais moderados
par? os generos nacionaes que para os estrangeiros, pa-
ra que se" facilite mais a compra, e consumo dos nacio-
naes, e o dinheiro fique na Naçaó ; pois naó ha peior
economia que dar dinheiro paia fora. Os estrangeiros
nos daó o exemplo; e se os naó imitarmos, passaremos
por gente privada do senso commum. E por isso digo
que mais vale comprarmos os nossos generos, ainda que
mais caros, que os estrangeiros , ainda que mais baratos.
Applico isto ao v i n h o , azeite, e sal , e a quaesquer ou-
tros generos que Portugal pôde exportar para o Brazil-
Se porém suppomos o Brazil separado de P o r t i - ^ , pu-
dera ganhar, recebendo ( s e r e c e b e r ) mais em conta d?
maó dos estrangeiros aquelles ditos generos: mas ga-
nhando por huma p a r t e , perderá muito mais por outra.
E que perderá com >»tp o Brazil? Perde muito: perde
3 milhões de consumidores certos de seus copiosos pro-
ductos ; pois os Portuguezes Europeos podem entaó com-
prar a quem quizerem os generos da America. Perde a
posse de P o r t u g a l , e quantos auxilios de qualquer ge-
nero este Reino lhe pôde prestar; sujeita-se a te-lo por
i n i m i g o , & c . Vejaõ-se as Reflexões da Primeira Parte.
He por tanto sofistica a asserçaõ dos Portuguezes
Americanos quando a f i u m a õ , que o Brazil pôde passar
sem Portugal. Se querem dizer que tem tudo o necessá-
rio para os usos communs da v i d a , naó lho n e g o ; pois
qual he o paiz habitavel, que naó tenha com que man-
ter seus habitantes com mais ou menos abundancia? Se
porém querem d i z e r , que o Brazil separado de Portugal
pôde ser já Potencia independente, ou he e r r o , ou fan-
farronada, ou animo hostil, e apostado a perder tudo.
Por ventura advertíraó já o quanto custa sustentar a in-
dependencia? Onde tem elles hum Erário rico para acu-
dir a tempo a todas as despezas? Onde boa esquadra
para apparecer no mar com dignidade ? Onde huma po-
pulaçaó numerosa, b a s t a , ehomogenia nos sentimentos,
e no espirito publico? Que pezo pôde o Brazil ter ago-
ra em suas relações com as Potencias estrangeiras ? Co-
m o poderio auxiliar-se reciprocamente suas Provincias
remotas, e despovoadas? Reparem nas Potencias graiv-
I» *
92

des da Europa. Áustria com 30 rr .,0 ' es


teme F r a n ç a , e Rússia ; França teme Áustria , e la-
te rra , -, e os povos do Brazil naó tem que temer
sendo 4 3 5 milhões, edestes mais de metade escravos,
e todos dispersos por ^um paiz nmenso? Naó ha maior
delirio. Reparem nos fructos que os Hespanhoes haó ti-
rado de sua independencia. A grandeza do Brazil esta
ainda em flor. Quando sua populaçaõ avultar m a i s , e
se extinguir a escravatura , entaõ poderáó talvez blázo-
na r que naó precisão de ninguém. Se em fim por Oo-
?rno independente entendem o Republicano, q-ie maior
peste ^,dem desejar para sua patria ? Quererão lá por
entura os A r t i g a s , os B o l í v a r e s , e os Puyrredons ?
N a ó advertem os tumultos ha pouco acontecidos no R i o ,
B a h i a , e Pernambuco? Oh se eu tivera cem bocas pa-
ra despedir por cada huma a voz do trovaó , eu clama-
ria aos Portuguezes Europeos, e Americanos: — Uni-
vos , uni-vos , ò filhos da mesma patria ; suffocai vossos
paiticulares interesses , ou antes sacrificai-os á vossa
commum conservaçaõ. Se arruinais a patria, estais per-
didos. Se vos unirdes sereis salvos. Funiculus triplex dif-
Jicilt rtunpnur. N a ó basta esse sangue inutilmente derra-
mado em Angra , Pernambuco , e Bahia ? T a ó numero-
sa he vossa popul c i õ , que seja indifferente diminui-la
pelo ferro ? Que n«uor mal vos faria hum inimigo de^
ejarado ?

Ne, ptteri, ne tanta animis assuescite bella;


Neu patri£ validas irt viscera veriiie vires.

He por tanto absurda a asserçaó do Author do di-


to folheto, he subversiva da ordem publica, e tenden-
te a desunir as fracas forças do Reino-Unido, a per*
Jer o que nossos maiores gratgeáraó com tanto e s f o r ç o ,
infatuar a imtginaçaó dos Braziíeiros menos reflecti-
dos , e a decepar ao nascer a fortuna e grandeza do
Reino-Unido. Deve ter-se por a x i o m a , epe quem quer
que espalha opiniões tendentes á desunião , leva o fico
em sei propna interesse, e he por tanto inimigo dá
patria. ---
93

Examinaó-se as opiniões do Sr. Oliva em seu Pro-


jecto, e AddiçaÕ.

Naó posso concordar com o Sr. Oliva nos artigos


seguintes:
i.° Quando opina, que haja deus Congressos hum
no P>razil , e outro em Portugal. Porque, que querem
dizer dons Congressos ? Onde se haó de tratar os nego
cios communs de todo o Reino-Unido, como os per-
tencentes á p a z , g u e r r a , c^mmercio, tributos, e leis
geraes, & c . , senaó em hum Congresso Geral ? Se ha-
vendo dous Congressos, estes divergirem em opiniões
sóbre o mesmo assumpto, que terceiro Congresso OS
conciliará ? As relações entre as partes do Reino-Uni-
do podem variar notavelmente de anno para anno; e
como poderáó tomar-se com acerto novas providencias
em Cortes particulares ? Os Romanos senhores do Mun-
do naó tinhaó mais que hum só Senado; e nós taó pou-
cos teremos dous Congressos ?
2. 0 Naó concordo com o Sr. Oliva quando d i z , q u e ,
estando a Coite no B r a z i l , haja em P ortugal V i c e - K e i ,
o qual seja , havendo-o , parente d L l - R e i , mas nunca
o Príncipe Herdeiro. — Parece-me que se a Corte esti-
ver no B r a z i l , deve em Portugal haver Goveino que a
substitua ; e ás avessas se a Corte estiver em Portugal
deve haver no Brazil aque" l o v e r n o . Deste Gover no
quer seja RegencÍ3 , quer Vice-Reinado, naó acho ra-
zaõ para ser excluído o Príncipe Herdeiro. Sendo R e -
gencia , por que naó ha de ser Presidente desta o Frin-
cipe Herdeiro? A instrucçaó do Princpe Real naó con-
siste só em conhecimentos theoreticos , mas principal-
mente nos practicos, e proprios de sen olficio. Assim
edecou Carlos V I . sua filha , a grande Imperatriz Ma-
ria Thereza. Nomeadas pois para a Regencia as pessoas
mais hábeis, quem duvida, que o Príncipe Real seu
Presidente aprendei á com taó hábeis mesa es a —te de
94
reinar , e se habilitará para subir - .> i Srr.no. e 5 te
esteja em Portugal, quer no Brazil ?
2,.° Naó concordo cm que, estando a Corre no Bra-
z i l , seja vedado a El-Rei vir a Portugal", como diz o
Sr. Olira. Naó ha raZaó por que estando El-Rei n u m
dos dous Reinos naó possa ir ao outro, sem mudar a
Séde do Império, ou a qualquer outra parte dos Esta-
dos Portuguezes, se o quizer fazer para se informar do
que se passa, conhecer melhor as precisões dos povos,
vê-los, e ser visto destes. Naó obráraó assim seus Ante-
passados ? E naó o fazem os grandes Monarchas da Eu-
ropa , que naó só visitaó hoje seus Estados, mas até
viajaó pelos alheios, sem se fiarem em seus Embaixa-
dores , que tem habilissimos, para tratarem seus nego-
cios mais segura , e expeditamente ? Oxalá nossos Mo-
narchas Brigantinos naó fc.;;ó - . caseiros! Que mal
pôde ir ao Reino se Sua Magestade, ou o Príncipe R e a l
visitarem Lisboa, P o r t o , Pernambuco, Maranhaó , Ba-
h i a , as Provindas internas do B r a z i l , e ainda as I l h a s ,
para ver o que se passa, a oppressaó dos povos, as fon-
tes da riqueza da N a ç a ó , as causas de sua pobreza, os
melhoramentos factiveis, e mil cousas, que sò per si
.podem conhecer bem, e naó por informações?
4. 0 He rigorosa , e tendente a desunir os dous Rei-
nos a prohibiçaó do Sr. Oliva , de que os Porruguczes
residentes no Brazil possaó ter propriedades em Portu-
gal , e vice versa. Com esta prohibiçaó ficaó os Portu-
guezes mais estranhos entre s i , que com os estrangei-
ros ; pois sabemos que *>s Portuguezes tem proprieda-
des em Hespanha, e os Hespanhoes em Portugal, e
que os Portuguezes recebem heranças de paizes esuan-
geiros, e os estrangeiros as recebem de Portugal. Se es-
ta prohibiçaó tende a embaraçar a sahida do numerá-
rio de Portugal para o B r a z i l , deveria primeiro appli-
car-se aos paizes estrangeiros, para se nao dizer que so-
mos pródigos com os estranhos, e cainhos com os nos-
sos. Quando a Corte estava em Lisboa até 1807 a cor-
rente do dinheiro dirigia-se do Brazil para Pottugal ; e
disto «aõ testemunhas tantas casas r i c a s , e palacios fim-
95
dados c^ti din - a Brazil em P o r t u g a l , e tantas
sommas u^ entes em Portugal, e nas outras
N a ç c , s , sacadas uo Brazil. A Carta de hum habitante
da Bahia, Lisboa 1 8 2 1 , diz que =3 O ouro das Coló-
nias Portuguezas registado desde o descubrimento das
Minas do Brazil até 1 7 5 5 , e levado á Europa sobe a
4C0 milbóes de peças. Posta depois a Cot te no B r a -
z i l , aquella conente de dinheiro dirigia-se de Portugal
para o Br ' . i l ; e este segundo R e i n o , segundo o R e l a -
tório do Sr. Fernandes T h o m a z , ganhou a Portugal pe-
lo g! o do commercio dous milhões e meio em i 8 i p , e
1 8 2 0 , e he este giro o que mais dinheiro leva d - Por-
tugal para o B r a z i l : que por isso releva tazer quanto
antes aquelle systema , de qu. tenho f a l l a d o , das rela-
ções entre todas as partes do Reino-Unido. O dinheiro
que os particulares levac de hum para outro R e i n o , naõ
faz grande differença. He todavia de espantar, que os
Portugu-zes sejaó taó ciosos c o m s i g o , e taó despejados
em vasar seu dinheiro nas m i o s avaras dos estrangei-
ros ! Que deli r i o ! Na maó dos estrangeiros! E sem ne-
cessidade ! Que sandice! Na maó dos estrangeiros! E
por bagatellas! Que demencia ! O Sr. Oliva naó se lem-
brou das grandes sommas que saó remettidas do Brazil
para Portugal a pessoas particulares: pois só os Estu-
dantes do Brazil gastaõ em Coimbra de ^cofo a 4CC& réis
por anno. cada hum
Naó convenho em fim com o Sr. Oliva quando
quer que a Corte esteja sempre no Brazil. Já disse que
esta questão he mui comphcad" e deve decidir-se pela
maior utilidade publica , o l h e to a todas as circunstan-
cias quer internas, quer externas.
97

A D D i Ç A o.

Havendo escripto estas Reflexões em 1 8 2 1 , preven-


do os successos futuros do B r a z i l , eis que neste Março
de 1 8 2 2 chegaó noticias do Brazil de novos tumultos
excitados pelas Ordens das Cortes relativas á aboliçaó
dos Tribunaes no R i o , e á volta de Suas Altezas Reaes
para Lisboa. Já dantes havia suspeita desces tumultos; e
agora apparecem o Despertador Braziliense, a Mala'
gueta, as Instruções dadas pelos Paulistas a seus Depu-
tados, e outras noticias. Anteriormente haviaó as Coites
determinado que E l - R e i naó sahisse para fóra de Portu-
gal , e Algarve sem licença das C o r t e s , e que a Consti-
tuição regularia o Brazil quando os Deputados Ultrama-
rinos aapprovassem. Sobre tudo isto seja-me licito, com
o respeito devido á N a ç a ó , e a seus Illustt es Represen-
tantes , e a nosso sábio G o v e r n o , expor minhas humil-
des Reflexões. __
1° Queixaõ-se os Portuguezes Americanos nos ditos
papeis que para o Brazil se enviáraó tropas de Portugal
contra o parecer dos Snrs. Deputados do Brazil. —- R e s -
pondo, que naó tem r a z a ó ; l . ° Porque o exercito de
Portugal e do Brazil he hum só exercito, e naó dous:
e tanto pôde ir tropa de cá para l á , como de lá para
cá. 2. 0 O Commando do exercito nunca esteve á dispo-
sição dos povos, ou de seus representantes, mas per-
tence ao Poder E x e c u t i v o , que pôde destacar parte del-
le para onde julgar conveniente: e por tanto ó povo
naó deve embaraçar-se com os movimentos das tropas.
O contrario disto he anarchia. Esta repugnancia de
alguns individuos do Brazil á passagem de tropas de cá
para lá naó lhes he decorosa, pois faz lembrar que os
motivos daquella repugnancia não saó patrioticos. Que
mal faz ás praças marítimas ter antes huma guarniçaó
forte que fraca í Huma guarniçaó que contenha os tumul-
a s internos , defenda aquelle novo Reino de insultos repen-
» $>8
t i n o s , e q u e possa acudir a outros pr ^ " i ç a d o s com
piompto auxilio? Nossas historias t . t a ó w:n.ias ue facios
desta natuieza. Recusar porem ter a tropa que pôde ser
u t i l , he facto extiaoidinaiio. F. que tropa sobeja pôde
ter o B r a z i l , mal p o v o a d o , " distante de P o r t u g a l ?
Q u e he hum batalhaó ou hum regimento de mais n'u-
ma praça marítima? O B r a z i l está pouco aco c .:umado a
ror e soliier muitas tropas acumuladas, como Portugal.
V e n h a õ para Portugal as tropas do B r a z i l , e íós as re-
cebemos com gosto. H e necessário pois costumar o exer-
cito do Reino-Unido a estes m o v i m e n t o s , e ao us., do
wiar. 4 s grandes Potencias da Europa fazem acampa-
m e n t o s , e e v o l u ç õ e s , ou grandes manobras, em tempo
de p a z m a s o Reino-Unido deve também costumar sua
tropa a andar e m b a r c a d a , pois he Potencia marítima ,
a fim de poder transportar-se de qualquer parte do R e i -
no-Unido para outra qualquer para onde for preciso par-
tir. N a ó ha maior peste para a sociedade que a insubordi-
nação do e x e r c i t o , e a audacia do povo em querer re-
gular os movimentos das tropas.
z.° R e c e i a ó os povos do Brazil que o c o m m e r c i o se re-
duza ao estado antigo çm que os estrangeiros eraó excluí-
dos do Brazil. — A abertura dos portos do Brazil aos
estrangeiíos he hum dos mais profundos golpes que se
tem descarregado no Reino-Unido. i . ° G o l p e no numero
dos vasos mercantis: pois antes daquella abertura devia o
R e i n o - U n i d o empregar maior numero de vasos no trans-
porte dos productos do Brazil que a g o r a : isto h e , fal-
taó na marinha Portugue? " n t o s vasos mercantes, quan-
tos saó os vasos estrangen empregados na exportaçaõ
dos p r o d u t o s do Brazil. 2. G o l p e no numero dos m a -
rinheiros , o qual deve d i m i n u i r , diminuindo o numero
dos vasos. G o l p e no interesse dos f r e t e s ; isto h e , o
lucro do transporte dos productos do B r a z i l passa de
nós para os estrangeiros. 4. 0 G o l p e no poder maríti-
m o do R e i n o - U n i d o ; isto h e , o Reino-Untdo será tanto
n a s fraco por mar quanto for menor o numero de navios
e de marinheiros do Reino-Unido. 5. 0 G o l p e na disciplina
e uso do m a r : isto h e , quanto for menor o numero dc»
99
« a v i o s , e dos ti-nKeiros, tanto mais a Naçaó se de3-
habituara do uso do m a r , e mais crescerá a toi ça marí-
tima dos estrangeiros. 6. Golpe nos cabedaes da N a ç a o :
isto he , diminue-se na massa tota! do numerário circu-
lante toda a quantia, que os estrangeiros lcvaó pelos
f r e t e s , e peia venda dos productos nacionaes. Naó sei ia
ais mais aceitado que os Portuguezes do B r a z i l , ou de
P ortugal levassem seus productos em navios seus onde
quizessem ; e prohibir aos estrangeiros compra-los e con-
duzi-los do B r a z i l , petniittindo-lhes compra-los em Por-
tugal ? Naó cresceria assim a marinha mete.-.»';! do R e i -
no-Unido í Veja-se quanto as outras Nações saó a este
respeito ciosas, e acauteladas. Se porem parecer mai?
acertado naó excluir os estrangeiros dos poitos do B r a -
zil , ao menos augmeniem-se-lhes os direitos de maneira
que o commercio Portuguez seja mais favorecido. H e
este hum dos mais importantes artigos do systema das
relações que deve haver entre as partes do R e i n o - U n i d o ,
a he de esperar que se tomem aibitrios taõ prudentes
que as partes desta Monarchia façaó humas ás outras 03
sacrifícios racionaveis, sem que humas se engrossem
com damno das outras, com prejuízo evidente de todas.
3. 0 Querem os Portuguezes Americanos ter no Bra-
zil hum Governo que suppra a falta da C o r r e , e pre-
sença d'E!-Rei. — He justa esta sua pertençaó: porque
se Sua Magestade em 1 8 0 7 deixou em Portugal este
Governo , por que razaó agora que voltou para L i s b o a ,
o naó haó de ter os Brazilèiros r Por isso Sua Mages-
tade attendendo a esta necessidade commetteo sua A u -
thoridade no Brazil a Sua Alteza o Principe R e a l . De-
veráó porém as Cortes regular a quantidade de poder
que se deve attribuir áquelle G o v e r n o , attenras as dis-
tancias , e o numero e necessidades do povo. E m quan-
to aos Tribunaes, parece que deve haver no Brazil naó
hum Tribunal Supremo de J u s t i ç a , mas dous; hum ao
S u l , outro ao Norte. A o Sul está criado o do R i o de
Janeiro, e ao Norte parece dever-se criar outro, assim
como se criou huma Relaçaó no Maranhaó. Será na ver-
dade incommodo terem de recorrer ao R i o , ou a Lis-
l
i *
ico
boa os povos'do P a r á , M a r a n h a õ , v . Ceara, &e.
H e este outro artigo que demanda assas ii.cdicaç.ió. Im-
po; ta também que o Cioverno posto por E l - R e i no B r a -
zil tenha jurisdicçaó para conceder as G r a ç a s , e Mer-
cês : deverá porem regu!ar-se a natureza destas, e o mo-
do com que se devem conceder. Ha certas Mercês que
I" I-Rei deve immediatamente conceder: outras as conce-
dei á aquelle G o v e r n o , o qual pôde nomear alguns dos
empregados públicos, e E l - R e i deverá depc.s assignar
o c ritnlos dessas M e r c ê s , & c . Isto que digo do Brazil
estando a Corte em L i s b o a , digo também cie Por .gal
eitarvV -1 < " v , t e no Biazil. Nenhum dos dous Reinos he
coionia do o u t r o , e convém acudir ás necessidades de
imbos.
4. 0 Desejaó os Portuguezes Americanos a Corte no
B i a z i l . — Segundo o que fica dito nas Reflexões antece-
dentes, e nas respostas ás objecções, se vô o que se
lhes deve responder. Por ora naó parece haver motivo
justo para esta m u d a n ç a ; mais ao diante poderá ser
util fazer-se. Para ella se fazer deve o Brazil conter
huma populaçaõ de pessoas livres superior á de Portu-
gal. Ora a populaçaõ livre do Brazil he inferior á de
P o r t u g a l , segundo se d i z : a livre e escrava he na ver-
dade superior: mas os escravos reputaõ-se por c o u s a s ,
excepto se elles quizerem também ser pessoas, e domi-
nar por seu turno sobr e os b r a n c o s , como em S. Do-
mingos. H e necessário que esta populaçaõ conste de
maior numero de pessoas livres , e que a escravatura
avulte m e n o s , e se v? " idualmente extinguindo. H e
necessaiio que o B r a z i l apresente ao menos em alguma
de suas Províncias huma populaçaõ u n i d a , e contigua,
e naó dispersa , como agora tem , por huma superfície
immensa ; a qual por isso he tanto mais fraca , quanto mais
derramada. He necessário que os povos do Brazil dem
provas do mais sincero patriotismo, e que se naó repi-
taó as scenas de Pernambuco no tempo dos Governado-
res Montenegro, e Luiz do R e g o , e as que houve na
Bahia , e R i o de Janeiro : e finalmente cjue se extingac
todos os symptomas de partidos e facções que exrsten

i
101
no B r a z i l , e que iodos convenhaó no Governo Monar-
chico temperado, desterrando a idéa de Republicanismo",
Entaó , postas estas condições, será util que a Sede da
Monarchia esteja no Brazil. Agora mesmo naó reprova-
ria que a Corte se transferisse para l á : mas entaó deve-
ria ser reforçada por forças de P o r t u g a l , porque o Brar
zil por ora naó tem forças para a defender; mormente
se continuar a querer dispor dos movimentos das tropas.
Este negocio pertence ás Cortes.
5. 0 Nas Instrucçóes dadas a seus Deputados pela Ca-
pitania de S. Paulo vem a fundaçaó de huma Cidade
Capital de todo o Brazil no centro desre paiz. — He
hum erro manifesto. A Corte deve ter relações com to-
da a Monarchia deve logo ser Cidade marítima , que
possa sustentar relações expeditas com P o r t u g a l , Afri-
ca , e Asia , e com as Nações estranhas: visto que o
Reino-Unido he Potencia m a r í t i m a , e deve cuidar mais
na marinha que no exercito de terra. A Cc.ite deve ser
central naó só ao Brazil mas a Monarchia. Ora o lugar
mais central á Monarchia he no Biazil o espaço que vai
da Bahia até R i o Grande do Norte.
6." Falia -se mais nas ditas Instrucçóes em estabeleci-
mento de Escolas , e Tribunaes. — Tudo isto he mui
u t i l , e depende de hum Plano geral para toda a Monar-
chia , feito segundo os cabedaes que h o u v e r , e segundo
o numero da populaçaó. He porém notável o quinao,
que os Paulistas daó a seus Irmãos Furopeos, entie os
quaes naó ha huma só Cadeira de Feicrmaria, arte de
que os G r e g o s , e Romanos DOS deixáraó excellentes tra-
c t a d o s , e que he hoje cultivada pelos Italianos, Ale-
mães , e Francezes pelo methodo da Medicina. Quanto
ao ensino mutuo pelo methodo de Ltnctwcr, como elle
sjippõe muitas classes de discípulos , ensinando os mais
adiantados aos mais atrazados , no que se assemelha ao
uso de nossos Decurióes, naó cuidem cs Srs. Paulistas
que dtzem alguma grande novidade, e saibaó, que só
pôde. ter lugar em ponto grande , nas terras muito popu-
losas, e naó em escolas frequentadas por poucos discí-
pulos.. Por isso creio que se contradizem querendo em
.1* **
101

todas as Fre%utzias « c o l a s pelo m i t h o J o de Lenínsttr.


Este poderá ter lugar quando no Brazil houve. muitas
Cidades como L e a ó , P a r i s , Londres, e outras taes.
7 . " E m quanto ás Universidades ( Cap. z.° N. 8. ) he
}usto que as haja no B r a z i l , n ois já ha muito que a
América Hespanhola as tinha. Mas os Srs. Paulistas saõ
escassos em pedir. O Brazil pôde precisar de duas; hu-
m i ao Sul > que pôde estar em S. Paulo , outra ao N o r -
te , quando houver fundo para as m a n t e r , e ^ovo pro-
prwionado. He verdade que se pôde já ir fundando hu-
m a , e esperar op^ortunidaJe para fundar, a outra, «'aó
sei po-ém r o r que motivo os Srs. Paulistas naó querem
a Tneologia nas Universidades, e remettem seu ensino
rnra os B i s p o s , que tem pouca renda para as despezas
^ne seu ensino exige. Parece me que vaó errados: i.*
Porque se desviaó da pratica geralmente recebida, nem
a Universidade pode ter este nome faltando-lhe a Theo-
logia. 2. 0 Porque occupando-se a Theologia na demons-
tração das verdade» religiosas, nunca ella foi taó neces-
sária como agora em que a Religião he atacada por to-
das as maneiras. Porque sendo a Religião o alicerce
da boa politica, convém sustentar aquella, para que esta
naó vaciiie. 4. 0 Porque .he indecente a hum grande R e i -
no naó ter em todas as disciplinas homens abalisados, os
quaes se formaó taes nas escolas das Universidades.
, 8,° No Cap. I.° §. dizem os Srs. Paulistas que
os Deputados das Cortes devem ser de igual numero os
de Portugal, e os do Brazil. — Sobre isto lembra-me
dizer, i . ° Que naó será r Ivez preciso para o futuro
hum taó avultado numero cte Deputados: e bastará me-
tade dos que hoje h a , para as futuras Cortes. 2. 0 Que
o numero dos Deputados deve regular-se pela populaçaó ,
3 por isso virá tempo, e n que os Deputados Ultrama-
rinos haó de exceder os Europeos e;n numero, isco h e ,
quando o Ultramar tiver maior p o p u l a p ô l i v r e : e por
isso convém ter as mais apuradas relações da populaçaó
de toda a Monarchia. 4. 0 Que por ora naó devem os
Deputados do Brazil repugnar vir ás Cortes de Portu-
gal , porque saó menos em numero; quando porém elle?
i°3

f o r e f ma!s numerosos, porque a populaçaó do B r a z i l


tambc.u o h e , entaó naó devem os Deputados de P o r -
tugal ir ao Brazil assistir ás Cortes. P o r tanto o que os
Srs. Paulistas pedem no dito §. 7 . 0 he muito para o pre-
sente , e pouco para o futuro.
9, 0 E m quanto ao §. 6.° do mesmo C a p . i . ° , em
que se falia dos Conselheiros de E s t a d o , cjuizera ea
que tudo se fizesse com o c o n c u r s o , e aprazimento d o
Rei, e N a ç a ó , visto que a fórma do G o v e r n o he
Monarchia Constitucional; e por tanto q u e - a N a ç a Ó apre-
»er..asse a E l - R e i listas triplicadas, ou quadruplicadas,
para que elle escolhesse para Cc.rselheiros os que qui-
z e s s e : quizera mesmo que na nomeaçaó de Deputados
de Cortes o povo nomeasse numero d u p l o , ou t r i p l o , e
E l - R e i escolhesse, ficando os outros para Substitutos
dos que fossem escolhidos por E l - R e i para Deputa-
dos.
1 0 . ° A s idéas que os Srs. Paulistas patenteiaó em
quanto a o C o m m e r c i o quer interno, quer externo ( Cap. t
§. 4 . 0 ) saó na verdade mui sólidas; pois querem que
jhaja liberdade no c o m m e r c i o ; mas que esta liberdade
naó prejudique aos interesses recíprocos dos dous R e i -
nos. Elles conhecem que engrossar Portugal á custa do
B r a z i l , e engrossar o Brazil á custa de Portugal he
destruir o R e i n o - U n i d o , minando-o pouco a pouco. O s
embaraços que tinha algum dia o commercio interno de
Jiuma para outta Provincia devem desterrar-se. Os Srs.
Paulistas conhecem que do bem regulado c o m m e r c i o ,
uer interno , quer ( e principalmente ) externo, depen-
3 e a prosperidade das Nações.
11. I-Ie- igualmente solioa a representação dos Srs.
Paulistas de que a R e g e n c i a posta no Brazil seja presi-
dida pelo Príncipe R e a l , como n'outra parte dissemos.
( C a p . 2. 0 §. Parece-me porém que a Regencia de-
v e ser nomeada por E l - R e i : porque ella deve compor-se
das pessoas mais abalizadas da N a ç a ó , que todas juntas
reunaó todos os conhecimentos políticos- Ora ninguém
pôde melhor conhecer estas pessoas que E l - R e i , e seu
Conselho. A i c m disio» se a E l - R e i pertence a nomea»
i04

ç a õ dos E m p r e g a d o s , os M e m b r o s da R e g e n c i a também
o saó. A esta Regencia naõ pôde pertencer a dcmarca-
ç a ó das raias do B r a z i l , porque estes negocies trataó-se
entre N a ç õ e s independentes, saõ negocios entre N a ç a õ
e N a ç a õ ; e por isso sò podem ser tratados pelo Goveo-
no Supremo de cada h u m a , e naõ pelas R e g e n c i a s , que
naõ tem Soberania em quanto vive o R e i .
O s Srs. Paulistas tem idéas muito sãs sobre a uniaõ
dos dous R e i n o s , e suas reciprocas r e l a ç õ e s , tendentes
a formar delles huma Monarchia poderosa. Admira po-
rém que sejaõ taó escassos, que hajaó repugnado con-
correr c o m sua quou* parte de dinheiro para o R i o de
J a n e i r o , e obrigado Sua Alteza a fazer as despezas
publicas com os rendimentos únicos da Província do R i o
de Janeiro. N i n g u é m approvará as expressões pouço re-
portadas com que fallaõ ás C o r t e s : taes expressões naõ
saõ dignas de* bons Portuguezes; eu as reprovo e repro-
varei em quaesquer papeis públicos. Nosso estilo deve
respeitar amor , união , e perfeita reciprocidade , quanto
o peimittem as circunstancias de cada p a i z , e o bem
c o m m u m de todos: pois todos somos filhos da mesma
patria.

C O N C L U S Ã O .
i • I .?<• .»
v
' • .' , . ' . • . ^ -v 3 > -1
N a õ falta quem vaticine a separaçaõ entre Portu-
g a l e B t a z i l c o m o p r o v á v e l , e talvez naó muito serô-
d i a , repetindo- a este respeito, que as Monarchias saó
ara a E u r o p a , e as Republicas para a America. D a
E òndade <3e D e o s , da prudência e actividade do G o v e r -
n o , e da notoria fidelidade da N a ç a õ esparamos ver frus-
trado taó abominável agouro. R e l e v a poiécn estar á ler-
ia , e reputar por inimigos todos os que dizem e espa?
l h a ó , foliando aos E u r o p e o s , que Portugal he metro-
p o l e , e que por isso naõ deve ceder em nada de seus
antigos direitos; que naó queiraó ser Colonia do B r a -
zil , paiz salvagem e barbaro; que he indifferente a
uniaõ com o B r a z i l ; que duas m i l léguas he espado mais
que E s t a n t e para divorciar os dous R e i n o s ; que vai
mais ti.armos unidos á Hespanha,. com a qual taremos
hum só Estado fechado pelos mares e invencível, no ca-
so de que a Corte passe para o B r a z i l , & c . T a m b é m
saó inimigos os que espalhaó , fallando aos Braziletros,
que elles naó precisão de P o r t u g a l , Reino pequeno e
pobre; que o Brazil tem em suas minas recuisos de io-
da a especie; que nunca lhe ha de faltar ouem o auxi-
l i e ; que . r a ó m a i s felizes com oC5overno R e p u b l i c a n o ,
como os Americanos Ingleze* , no qual todos r odem go-
vei ar por sua vez sem dependencia 'a arbitrariedade do
ministério, &c. & c . Estas v o z e s , < podem circular ca-
da vez m a i s , fazem huma guerra surda á integridade da
Rlonarchia. He certo que alguns estrangeiros nos maqu.naõ
esta desgraça. Para contramina-Ia releva muito dirigir a pi-
niaó dos Portuguezes e desengana-los de que tanto os Eu.
ropeos , como os Brazileiros saó f r a c o s , porque saó pou-
cos , t que por tanto só podem salvar se unindo-se. O mi-
nistério deve despregar toda a sua prudência e actividade,
ganhando a opinião publica, acautelando os m a l e s , e
empregando opportunamente a força para conter os dis-
túrbios de pessoas mal-intencionadas, e conservar a boa
ordem. Se minha fraca voz va'esse alguma c a u s a , eti
diria a todos os Portuguezes r nova crise em que se
achaó:
Portuguezes de ambos os hemisferios, reflecti no
"jue sois, e no que podeis vir a ser. Vossa fortuna es
tá nas vossas mãos. S e vos desunirdes, petdereís os fructos
das fadigas de sete século' tornar-vos-heis menos do
que s o i s ; e sereis a fabui.. das Nações. Se vos conser-
vardes unidos, honrareis o r me P o r t u g u e z , e lançareis
já os alicerces a hum dos mais fortes Impérios do Uni-
verso. Sua Magestade se declarou pelas reformas; cum-
pre-vos ajuda-lo. A s N a ç õ e s , ainda as melhor constituí-
d a s , e s t a ó , como os indivíduos, sujeitas a enfermidades:
destas he a mais funesta a divisão c i v i l : e!!e termina
de ordinário com a dissolução dos Impérios. Q u e forças
saó as vossas, se~as comparardes com as presentes de In-
glaterra , F r a n ç a , e A u s u i a í Estas Potencias tem por
i o6
sua prudência e esforço grangeado huma grande?a e so-
lidez essencial. Esta vos falra ainda, e a esta aeveis as-
pirar desde j á , para ganhardes entre as Nações dignida-
de e respeito propriamente vossos. A esta taó alta digni-
dade vos convidaõ vosso nobre caracter, a bondade de
vossos vastos territoiios, e sua vantajosa situaçaó nas
quatro partes do mundo. Nunca de vós se diga que os
estrangeiros influirão em vosso Governo interno: toda a
influencia estrangeira he perigosa, e algumas vezes des-
tructiva. Nunca de vós se diga que naó soubestes arredar
de vossas bellas, e pacificas Províncias o fogo da dis-
córdia, eda guerra, que afflige os vossos vizinhos. Nun-
ca de vós se diga que por culpa vossa dissipastes o rico
patrimonio, que vossos maiores vos ganháraó por sua
virtude. Nunca vos esqueça que quanto mais unidos,
mais felizes sereis internamente, e mais formidáveis a
vossos inimigos. Que inexplicável desgraça fora , se os
mesmos, que com tanto denodo defendèraõ sua liberda-
de de portas a f o r a , succumbissem de portas a dentro
desunidos por suas paixões exaltadas, e pelo togo de hu-
ma liberdade mal entendida! Portuguezes, entregai a
E l - R e i , e ás Cortes a direcção de fossos destinos; e ro-
gai a Deos conceda a estas para o acerto o espirito de
sabedoria que assiste junto ao seu throno, e que ineli
ne constantemente para o bem o coraçaõ do Monarcha.
Omne regnum contra se divisum dtiolabitur.
/

P R O T E S T A D A Õ.

O Author deste Opuseulo declara que_, em quanto


d i z , naó he tençaó sua ofíender a R e l i g i ã o , o Estado,
ou as propriedades de cada individuo; e se inadvertida-
mente offendeo algum destes tres Artigos, declara outro
s i m , que desde já se retracta, e o ha pot naó dito.

F I M.
Pag. Li». Erros. Emendas.

8 28 que naó tem que r;m


9 Goyana Guiana
16 40 deserranjo desarranjo
M ser os bons ser os sentimentos dos bons
24 10 0 que digo 0 que digo da Corte
4 sustermos sustentarmos
31
2
5 qualquer naçaó qualqu naçaó ter
30 Corte deve estar Corte pode estar
15 do que Partugal do que a Portugal
H
3 he colonia h e , na opinião dos estran-»
geiros, colonia
6 0 accesso 0 excesso
58 17 Pstugal Portugal
42 20 cível civil
46 29 commercio is commerciaes
47 26 omnipotente omnipatente
52 15 já de marinheiros já de munições 1
55 4 dngrandecimento engrandecimento
62 14 e a indisposição e a :sta indisposição
10 matesias ma' crias
« 11 espiritito espirito
70 7 Hesponha Hespanha
á 6 hotriveir horríveis
82 Unino Unido
8-7 29 postado jortado
Bp. 22 algoma alguma J

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