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SOBRE A
NECESSIDADE DE PROMOVER
O R E I N O - U N I D O
D E
NAS
Q U A T R O P A R T E S DO MUNDO.
L I S B O A :
I 8 2 2.
Funiculus triplex difficile rumpltur.
Ecclesiastes. c. 4, u. 1 2 .
R E F L E X Õ E S
SOBRE A N E C E S S I D A D E
D E
D E QUE C O N S T A O REINO-UNIDO
D E
R E F L E X Ã O i.a
R E F L E X Ã O 2/
R E F L E X Ã O
R E F L E X Ã O 4-a
R E F L E X Ã O
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'dencías de Soa Magestade tendentes ao engrandecimento
do Brs, : bastará porém notar succintamente que para
melhor administração ecclesiastica e civil criou Sua M a -
jestade novas freguezias, novas c o m a r c a s , e a R e i a ç a õ
do Maranhaó: tem desannexado varias Províncias subal-
ternas dos Governos geraes, levantado m^lor numero de
t r o p a s , erigido escolas nas cidades principies, aberto es-
tradas , fabricado pontes, chamado colonos por meio de
mui úteis instituições agrarias, convidado os estrangeiros
por bons partidos, reprimido as incursões dos barbaros,
rnandado descubrir partes incógnitas do Sertaó , e pro-
curado desviar da America Ingleza para o Brazil a cor-
rente do3 emigrados Europeos, & c . Muitos destes traba-
lhos se achaó começados, e outros concluidos; e nelles
tem mostrado Sua Magestade tal empenho, qtve parece
haver-se esquecido de Portugal ; e bem que a execução
naó haja correspondido a seus piedosos desejos, naó pô-
de negar-se que o Brazil se acha assas augmentado de
1 8 0 8 para ca. De tantos cuidados he digno o Reino do
B r a z i l , já pela sua extensão que o torna capaz de popu-
laçaõ igual á de Austr * , F r a n ç a , ou R ú s s i a ; já pela
espantosa ab. i- ue seus productos v e g e t a s s , que
tem par s . consumo e exportaçaó; já pela copia df
: as n^ue-as mineraes que o fazem Monarchia verdadei-
nmente preciosa ; taes saó as pedrarias de varias espe-
lhes, o o u r o , e o f e r r o ; já em fim por sua ^ ' " . y a ó
geograficamente vantajosa nas duas Zonas , a Tor.-ida > e
Temperada Austral , tendo ao Nascente o mar , ao
Foente e Sul as terras de Hespanha , c ao Norte o mar
e a G o y a n a ; defendido ao Nascente pelo m a r , a o Nor-
te pelo mesmo m a r , e pelo A m a z o n a s , e ao- Sul pelo
Paraguay , e ortros rios. He sobre tudo apiissimo para
o commercio quer interno pelos muitos e grossos rios
oue o cortaô, e communicaó suas grandes e distantes
P r o v i n d a s , quer externo pela fácil reiaçaõ em que está
' c o m as outras partes do mundo; pois da Asia dista me-
nos que a Europa; tem defronte nossas te J ? Afri-
ca-, da Europa distaó suas Províncias mais - o v i n a s 1 1
mez de viagem , e communica-se facilmente - t -
Pacifico. Naó tem lugaies inhabitaveis pe ^xees.o do
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f r i o , como a Laponía : tem poucos esrereis pe!o nimíd
calor na parte mesmo que jaz na Zona Tórrida , pois
em Minas Geraes calse n e v e , e no cume das Cordilhei-
ras. A parte sita na Zona temperada goza do mesmo cli-
ma que Portugal. Ving2Ó--no Brazil todos os fructos da
Asia e Afric e grande pai te dos da Europa : os France-
zes juntáraó ~> Cayena huma collecçaó copiosa de ve-
getaes do Oriente , donde se propag;íraõ por vários jar-
dins botânicos d a Brazil. Podemos transplantar para o
Brazil os productos da A s i a , e por ventura dispensar-
nos de sustentar esses miseráveis restos de nossas antigas
conquistas. Se o Biazil carece de vinho, tem assas de
rntros fructos , pelos quaej o possa permutar com abun-
dância. Veja-se a dita Corographia do Padre A y r e s , e
, ÍÍS Viagens do Venerável D. Fr. Caetano Brandaó , im-
fressas nis memorias p ira a historia de sua vida, em
.isboa 1 8 1 8 tomo i.° Por estes justos motivos Sua M a -
gestade, imirando, e talvez excedendo seus Augustos-
maiores, se ha empenhado em dar ao Brazil a grande-
za que lhe compete, bem persuadido que he este o unicq
meio de tornar verdadeiramente inc' ,o nd£nte o seu Império.
Esta obra he de muitos annos; mas j.. nao he pequena
; :>ria o começa-la ; e se as Cortes ajudarem o Sc r.T- > j
. j m o esperamos, por ventura virá a reunir co.n os lou-
. c de Vencedor, o titulo ainda mais ilustre de Povoa-
dor, ' ^ " r a d o r . -j-
REFLEXÃO 6.*
R E F L E X Ã O 7,'
R E F L E X A O 3.'
R E F L E X Ã O io. s
R E F L E X Ã O u.V
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c i o s , que a q u e l l e , onde E l - R e i .naó- residir , deve ter
seu Governo Subalterno a E l - R e i encarregado de velar
em sçu augmento eprosperidade i n t e r n a , e n a defesa e x -
terna nos casos urgentes. Este G o v e r n o Subalterno go-
vernará P o r t u g a l , estando a Corte no B r a z i l , e gov"
nará o Bra - »" .. —o a Corte em Portugal. He da na-
tureza . o u s a s , que nos paizes remotos haja q u e m ,
em nome d ' E l - R e i , governe os habitantes desses p a i z e s ;
esta he a pratica de todas as Nações. Particularmente
Portugal dere ter no B r a z i l huma Capital preparada ( e s -
tando E i - R e i em L i s b o a ) para eíle se refugiar nos ca-
sos de grande p e r i g o , como em 1 8 0 7 ; c a s o , que se pô-
de r e n o v a r , mormente no estado de periuibaçaó da E u -
ropa , no qual os Monarckas desenvolvem tanta arrbi-
ç a ó , e os povos tanta inquietaçaó. Hum dos maiores
cuidados do G o v e r n o do Brazil deverá ser pôr- os meios
mais adequados para engrandecer aqnelle R e i n o pela
agiiculcura , e p o p u l a ç a ó , e eleva-lo ao maior gráo de
poder intrínseco de sorte que eLe seja o centro da maior
f o r ç a do R e i n o - U n i d o , e este possa hombrear com os
mais poderosos Estados do Mundo.
Parte 7. a Q u a l dava ser presentemente o lugar da
Corte do Monarca pertence ás Cortes decidi-lo; as Cor-
t e s , d i g o , compostas dos Deputados de todo o R e i n o , en-
viados pelas nossas Cameras das quatro partes do M u n -
do , pois he negocio de relevante i m p o r t a n c i a , e que in-
teressa a todos, e no qual todor devem ser o u v i d o s : e
pccrescento, que para este único caso só se deveriaõ
congregar Cortes Geraes de toda a N a ç a ó . T a ó impor-
tante o supponho! Esta. questão deve ser decidida unica-
mente peio interesse commum de todo. 1 R e i n o - U n i d o ,
e naó por c o m p e t ê n c i a s , e m u l a ç õ e s , caprichos , teimas ,
systemas cerebrino , e aéreos , nem taó pouco peio in-
teresse único de P o r t u g a l , ou peio único do B r a z i l , m a s
pela conveniência commum de todo o Reino-Unido. O
que convém a todo o R e i n o - U n i d o , convêm a todas as
suas partes. N a ó se pôde augmenr.ir huma com prejuízo
das outras , sem se prejudicar ao t o j o . E quem poderá
melhor julgar do que convém a todas, senaó os D e p u -
tados de todas í
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P rte 8." Para o frtmro, naó he racionarei decidir
agora qual haja de ser a Corte do Monarcha do Rei-
no-Unido. — Porque o mundo politico dá ratitas v o l t a s ,
tnó inopinadas, e extravagantes, que certo fora summa
temeridade, ou loucura ousar romper trévas do futu-
ro. Basta regular o presente, e aquella parte do futuro
que podemos alcançar com a previdencia co imum. Co-
mo no Governo Monarchico temperado, as Cortes se
devem congregar com frequencia , nellas se decidirá o
que for mais util a ambos os R e i n o s , devendo ambos
contentar-se com ter hum delles a C o r t e , e o outro hum
Governo Subalterno, como se pratica em todas as Na-
i úes - e sempre se praticou. Estes devem ser os bons
?o'-ri 'içypc de ambos os hemisferios. Naó queiramos
se< .i.^ -i perspicazes do que Deos nos fez. Os successos
lios ensinarão , se tivermos aquella ufania nacional, em
que consiste o verdadeiro patriotismo.
Parte Quando a Corte se mudar para o B r a z i l ,
deve estabelecer-se na Bahia ou Pernambuco. — Porque
aqui fica mais central ao R e i n o - U n i d o , e a Portugal.
An Reino-Unido; porque fica mais próxima de Portugal
com quem devem ser mais frequentes e importantes as
communicaçóes, e naó dista mais da Africa que o R i o
de Janeiro. Todos sabem a diíRculdade que há de nave-
gar do R i o de Janeiro para o Norte. A o Brazil fica
também mais central a Corte posta em Pernambuco, ou
T*a,hia , porque o Rio r>e Janeiro está proximo á extre-
midade do Sul do B r a z i l ; mas Pernambuco ou Bahia te-
laó para a parte do Norte do Brazil as Provincias de
G o i a n a , P a r á , M a r a n h a ó , P i a u h i , S e a r á , Paraiba ; ao
S''l as Provincias do Espirito Santo , R i o de Janeiro,
S . P a u l o , Sa.ua Cath; ina , R i o G r a n d e ; e no sertaõ
as Provincias cennaes de Minas Gerar-;, G o y a z e Mato
Grosso. Alem disto o clima do R i o ;>e diz ser doentio,
c de "enambuco e Bahia mais saudavel, e o da Bahia
até he ameníssimo, e fertilissimo, assim como o assento
da Cidade de Olinda em Pernambuco. T e m o R i o a seu
favor seu porto capacissimo e impenetrável; o da Bahia
ainda he mais vasto, mas aberro, e será preciso fortifi-
ca-lo com f o r t e s , e embarcaçc - de guerra: o de P e r *
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nambnco- tem menor capacidade , mas lie defensável mais
que o da Bahia. Naó ha lugar mais improprio para a Cor-
te do que o R i o de Janeiro: e basta d i z e r , que he mais
fácil a communicaçaó do Norte do Brazil com Lisboa
do que com o Rio. Para os trabalhos e apercebimen-
tos navaes tem A Bahia o melhor porto do mundo que
he h uma enseada de profundidade immensa, com mais
de i o léguas de capacidade, e toda salpicada de ilhas
de diversa grandeza , que apresentaó hum prospecto co-
mo o de Veneza. O que d i g o , digo também da Capital
do Governo Subalterno do Brazil.
A o diante se refutarão as objecções que se poderá
oppôr á doutrina desta R e f l e x ã o n . a
R E F L E X Ã O 12. a
R E F L E X Ã O iÇ
R E F L E X A Ô 14/
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lançarem suas vistas por todo o R e i n o - U n i d o , verão
tom mágoa a Religião Catholica atenuada em Portuga!
na sua parte mais essencial, que he a p u r ^ a e regula-
ridade dos costumes, isto h e , aparte pativ... c Ie verdade
que o culto p;iblico apparece em nossos Templos com
ostentaçaõ , talvez demasiadamente, magestosa : mas es-
ta linguagem de gesto he taõ pouco entendida do p o v o ,
que nas funcções mais solemnes se vem pessoas até de al-
guma i epresentaçaó conversando em bagatelas , e até rindo
com desprezo da R e l i g i ã o , e de seu Divino A u t h o r , e com
escandalo da mocidade, que facilmente aprende e trans-
mittc taó funestos exemplos. A ignorancia dos Dogmas
e dos proprios deveres he quasi geral. Por todas as cias-
ses reina o egoismo, e com elle a lascívia, o i w - a
má f é , a ambiçaõ , e mil outros vicios funestos « auc;e-
dade. Esta R e l i g i ã o , que he doce consoladora dos míse-
ros mortaes, se acha assas decahida em Asia e A f r i c a ,
e muito atrazada na A m e r i c a , podendo dizer-se com ra-
Zaó de nossas províncias Ultramarinas =5 Messis qttidtm
multa , operarii atitem panei. =1 Nas duas primeiras acha-
ráó fracos restos do que ella fora no século 16°, -•par-
te do 1 7 . 0 ; Templos arruinados, ou cheios de s i l v a s , a
F é amortecida, e eai partes extincta , o culto publico
desfigurado, os costumes quasi pagãos, excepto poucas
I g r e j a s , que po r misericórdia Divina c p conservaõ á som-
bra de nosso I m p é r i o , e nas quaes i u ó faltará que re-
formar. As duas provindas de Angola , e de Moçambi-
que offerecem hum sertaó immenso, onde a Fé he des-
conhecida, e pode: ia ganhar illustres triunfos. Veraó tam-
bém os Depiuados das Cortes o muito que ha para re-
formar nas repartições c i v i l , m i l i t a r , e mercantil. V e -
l a ó que conveniências podereme" tirar d lugares da
A s i a , que he actualmente o sorvedouro de nosso nume-
rário Na America veraó quanto importa continuar , <"•
apci.wiçoar os planos já começados por Sua Magestaae
para o angmenco daquelle novo Rei n o , ajudando-o com
suas luzes para levar ávante seus grandes desígnios. V e -
raó quanto importa adiantar a agricultura e a popula-
ça ó , que andaô de ordinário juntas, e se auxiliaõ r e d -
prgcam«nt Veraó ss a toleranci., religiosa he necessa-
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R E F L E X Ã O ifr. a
R E F L E X Ã O 17.»
R E F L E X Ã O 18.'
R E F L E X Ã O 19.*
R E F L E X Ã O 20^
R E F L E X Ã O tu*
R E F L E X Ã O 21?
R E F L E X A Õ
R E F L E X Ã O 24.*
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d Lisboa ? 4 i vasos Portuguezes em 1 8 1 9 : da mesma
G « -ta 1. 7 consta , que no Poito entráraó 88 no mes-
m o m o , quv >.o R i o de Janeiro entráraó 1 0 9 2 vasos só
do ' tzíI , ' e 1 2 0 da E u r o p a , A s i a , e A f r i c a , todos
Por ieze'~ N a mesma Gazeta se vê quantos entráraó
nos ... o. portos de P o r t u g a l ; e he fácil conjecturar
quantos entrariaó nos outros poi tos do Brazil como B a -
h i a , P e r n a m b u c o , M a r a n h a ó , P a i á , R i o G r a n d e , San-
ta Catharina , afóra outros menores , para naó fallarmos
nos das I l h a s , e nos de A f r i c a , e Asia. Vejaó-se a es-
te respeito as Gazetas de Lisboa , e do Brazil. Nossa
marinha r cantil crescerá , quanto mais crescer a agri-
cultura , « dustria da N a ç a ó pelas acertadas provi-
dencias ... j Governo. D e v e logo o Reino-Unido ter a
marinha de guerra proporcionada á grandeza e defesa da
m e r c a n t i l , aliás esta continuará a a n d a r , como até ago-
ra , expo c ás piratarias com tanta quebra dos- interes-
-** r Non a da Naçaó. Pôde aqui norar-se que a ma ri»
.Tr.a mercantil sendo o apoio do c o m m e r c i o , he também
a e;cola e viveiro da marinha de guerra ; deve por tan-
•a ajudar aquella. 2. 9 Ainda que ao R e i n o - U n i d o
i m p o r á t » . , a r toda a occasiaó de g u e r r a , deve com tu-
do aperceber-se para a susrentar com honra quando lhe
f o r inevitável. Ora a situaçaó do Reino-Unido offerece-
Ihe mais frequentes occasióes de guerra por mar do que
por terra, pela interposição do Oceano omnipotente, que
o põe em relaçaõ com innum p aveis Nações nas quatro
"Tites do g l o b o , quant. »rr 3 confina somente com
H e s p a n h o e s , e com ca l i a u a r o s . S e poit o R e i n o -
«~nido naó cuidar se amente no augmento da marinha
de g u e r r a , nem nod á defender-se dos bloqueios de seus
p o r t o s , nem c-. marques em suas costas m a r í t i m a s ,
nem taõ pouco \ a offender seus inimigos, fazendo
úteis div .soes, e o, portunas entreprezas, estragando os
seu* vasos m e i c a n t e s , e apresentando-se em batalha com
esperança de v i c t o r a . Assim o R e i n o - U n i d o será inepto
para a t a c a r , e impotente para resistir; e he este o ulti-
m o ponto de discr i t o , e ignominia a que pôde descer
huma N a ç a ó rn- aa. E quem acreditará que por nos-
303 p e c c a d u cneg» a esse ponto ? Se hoje tivessemos
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R E F L E X Ã O 25.*
R E F L E X Ã O 26'S
R E F L E X Ã O 27- 3
C o m tudo,,
R E F L E X Ã O z8. a
R E F L E X Ã O 30.*
r— a
Na Segunda Parte deste Opusculo refutarei huma
nuvem de objecções, que sei com <~ :teZí tem oppos-
to á doutrina destas Reflexões.
1
<57
PARTE SEGUNDA.
C.
RESPOSTA ÁS OBJECÇÕES
QUE SE P O D E M OPPOR
A S
DOUTRINAS ANTECEDENTES
*
A M P L I A Ç A Õ DAS MESMAS D Õ U l R i N A S .
O B J E C Ç Ã O i.
O B J E C Ç Ã O 2.*
^ j J E C ç A Õ
QBJE,CÇAÕ 4.1
O B J E C Ç Ã O 5. 8
O B J E C Ç Ã O 6. a
O B J E C Ç Ã O 7
O B J E C Ç Ã O 8.*
-
f mperio. Este parece ter sido o desenho do Marquez de
P o m b a l pelas reformas que nelle f e z ; e Sua Magestade
t
8r
O B J E C Ç Ã O p."
O B JE C ç A 5 io. s
O B J E C q A Õ li.*
P a r á , pela e x t e n s ã o , e embaraços da * .n
fim pcrque P o r t u g a l , sendo Reino pequeno, mas p j v o a r
d o , pode em pouco tempo juntar suas f o r ç a s , e dispor
delias com presteza no mar e terra. Ora o Brazil tem
que temer a sublevaçaó do3 escravos reunidos em Qui-
lombos , as incursões dos G e n t i o s , de que o Brazil
a b u n d a , e esraó em grande parte por d o m a r , e as guer-
ras tanto externas como civis entre as Províncias do
mesmo R e i n o , algumas das quaes saó taõ es anhas en-
tre '• - como os Hespanhoes e Portuguezes, e cada hu-
m n, > tem das outras huma dependencia i o r ç c ? a , que
, e as subordene. E m qualquer destes casos , se
o azil precisar de soccorros de fóra que N a ç a ó lhos
prestará mais promptos e generosos que Porcugal? Naó
saó por ventura bem c a r o s , t , ; gosos os auxilios es-
tranhos ? Q u e certeza tem o B r a z u de que os estrangei-
ros estaó promptos para lhos dar ? E que estes auxílios
( caso se lhe dem ) lhe seraó úteis, isto he , que os es-
trangeiros , entrando como a m i g o s , naó haó de passar
ouco a pouco a protectores , e em fim a dominadores í
E )e hum p a i z , como o Brazil he , rico de o u r o , de dia-
mantes , e de outras especies de pedrarias, de que es-
taó cheias a Europa , e índia ; além das minas de fer-
ro , e de outros m u i t o s , e variados productos, he na
verdade apperecivel a p o s s e , mormente para Potencias
que , como Rússia , França , e Áustria , possuem pou-
c a s , ou nenhumas colonias. Lembremo-nos do que nos
aconteceo na índia : este paiz atti ahio nossa c u b i ç a ; os
Hollandezes nos expulsáraó de l á : estes foraó expulsos
pelos Inglezes. E será possivel que o Brazil passe tam-
bém para mãos estrangeiras ?
I I . Precisa outro sim o Brazil de habitantes; pois
ainda que todo o povo da Peninsul? passasse para o B r a -
z i l , ainda assim naó ficaria este paiz medianamente po-
.•o 'o. A este respeito diz o Sobredito folheto , que os
m.lhores povoadores do Brazil naó saó os P o r t u g u e z e s ,
mas os estrangeiros. Q u e ridículo disparate ! P e r g u n t o ,
quem estabeleceo no Brazil esses 4 ou i milhões de ha-
bitantes, que se diz ter ? naó foraó os Portuguezes? N o -
te-se que desde 1 5 0 0 até 1 8 0 7 o governo do Brazil sen-
do mente cr 1 nial, naó pôde a popuTaçaõ prosperar
ta nu, ... • , e.n que Sua Magestade, convidando
c o l o n a , facultando ter fabricas, e promovendo-lhe a
industria , tem dado efectivamente notável augmento á
populaçaó, daquelle grande Reino. Concedo que os po-
voadores estrangeiros augmentaó o numer» : sei quePius-
Sia no século passadcJ, R ú s s i a , e a America Ingieza no
presente, e no presenre, e no passado, e nossos maio-
res desde o Senhor D. Aftonso I. se tem servido deste
m e i o ; e ainda accresccnto, que se o Governo chamar
povo dores de todas as Nações, crescetá mui j>ida-
mente a populaçaó do B r a z i l : e he esta a razaõ -
Sua Magestade os tem chamado. He porem incui. t
hensivel a razaõ porque o Author do duo folheto piete-
re os estrangeiros aos Fortuguezes. Estes saó simiihan-
tes na lingua , costumes, R e l i g i ã o , e leis aos Brazilei-
r o s , saó súbditos do mesmo G o v e r n o ; he tudo panno
da mesr a peça. A emigraçaõ voluntaria destes he fre-
quente , e naõ custa ao Lstado. Lá tem ou parentes que
os chamaõ, ou a quem se encostem. Os primeiros po-
voadores de S. Paulo eraó vadios que alli se estabelece-
rão ; os de Minas eraó pobres, e aventureiros, a quem
os Paulistas chamavaó por zombaria Inibo abai, ou ga-
linhas calçudas. A Província do R i o Giande do Sul em
i 8 c z tinha só proprietários de fazendas demarcadas:
e hoje he huma das mais importantes do B r a z i l , qu e
em 1801 derrotou os Hespanhoes , e ganhou as sete
Missões de que consta a Província do U r u g u a y , que
possuímos actualmente , e se ha postado com valor con-
tra as guerrilhas de Artigas. Assim que grande parte da
populaçaó do Brazil pouco ou nada tem custado ao Es-
tado. O Governo tem promovido mais ou menos esta
populaçaó distribuindo em tempos mais antigos as terras
do Brazil por donatarios, que á sua custa as povoátaõ;
e Sua Magestade fundador daquelle Reino tem feito ccm
este fim despezas avultadas , ainda que nem sempre L^.a
logradas. He por tanto evidente que o Brazil naó deve aos
estranhos o que pi esentemente he : mas primeiramente
a Portugal, e depois a Portugal, e a si. Se pois o B r a -
zil naó depende de Portugal, como diz o ^r dg
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A D D i Ç A o.
i
101
no B r a z i l , e que iodos convenhaó no Governo Monar-
chico temperado, desterrando a idéa de Republicanismo",
Entaó , postas estas condições, será util que a Sede da
Monarchia esteja no Brazil. Agora mesmo naó reprova-
ria que a Corte se transferisse para l á : mas entaó deve-
ria ser reforçada por forças de P o r t u g a l , porque o Brar
zil por ora naó tem forças para a defender; mormente
se continuar a querer dispor dos movimentos das tropas.
Este negocio pertence ás Cortes.
5. 0 Nas Instrucçóes dadas a seus Deputados pela Ca-
pitania de S. Paulo vem a fundaçaó de huma Cidade
Capital de todo o Brazil no centro desre paiz. — He
hum erro manifesto. A Corte deve ter relações com to-
da a Monarchia deve logo ser Cidade marítima , que
possa sustentar relações expeditas com P o r t u g a l , Afri-
ca , e Asia , e com as Nações estranhas: visto que o
Reino-Unido he Potencia m a r í t i m a , e deve cuidar mais
na marinha que no exercito de terra. A Cc.ite deve ser
central naó só ao Brazil mas a Monarchia. Ora o lugar
mais central á Monarchia he no Biazil o espaço que vai
da Bahia até R i o Grande do Norte.
6." Falia -se mais nas ditas Instrucçóes em estabeleci-
mento de Escolas , e Tribunaes. — Tudo isto he mui
u t i l , e depende de hum Plano geral para toda a Monar-
chia , feito segundo os cabedaes que h o u v e r , e segundo
o numero da populaçaó. He porém notável o quinao,
que os Paulistas daó a seus Irmãos Furopeos, entie os
quaes naó ha huma só Cadeira de Feicrmaria, arte de
que os G r e g o s , e Romanos DOS deixáraó excellentes tra-
c t a d o s , e que he hoje cultivada pelos Italianos, Ale-
mães , e Francezes pelo methodo da Medicina. Quanto
ao ensino mutuo pelo methodo de Ltnctwcr, como elle
sjippõe muitas classes de discípulos , ensinando os mais
adiantados aos mais atrazados , no que se assemelha ao
uso de nossos Decurióes, naó cuidem cs Srs. Paulistas
que dtzem alguma grande novidade, e saibaó, que só
pôde. ter lugar em ponto grande , nas terras muito popu-
losas, e naó em escolas frequentadas por poucos discí-
pulos.. Por isso creio que se contradizem querendo em
.1* **
101
ç a õ dos E m p r e g a d o s , os M e m b r o s da R e g e n c i a também
o saó. A esta Regencia naõ pôde pertencer a dcmarca-
ç a ó das raias do B r a z i l , porque estes negocies trataó-se
entre N a ç õ e s independentes, saõ negocios entre N a ç a õ
e N a ç a õ ; e por isso sò podem ser tratados pelo Goveo-
no Supremo de cada h u m a , e naõ pelas R e g e n c i a s , que
naõ tem Soberania em quanto vive o R e i .
O s Srs. Paulistas tem idéas muito sãs sobre a uniaõ
dos dous R e i n o s , e suas reciprocas r e l a ç õ e s , tendentes
a formar delles huma Monarchia poderosa. Admira po-
rém que sejaõ taó escassos, que hajaó repugnado con-
correr c o m sua quou* parte de dinheiro para o R i o de
J a n e i r o , e obrigado Sua Alteza a fazer as despezas
publicas com os rendimentos únicos da Província do R i o
de Janeiro. N i n g u é m approvará as expressões pouço re-
portadas com que fallaõ ás C o r t e s : taes expressões naõ
saõ dignas de* bons Portuguezes; eu as reprovo e repro-
varei em quaesquer papeis públicos. Nosso estilo deve
respeitar amor , união , e perfeita reciprocidade , quanto
o peimittem as circunstancias de cada p a i z , e o bem
c o m m u m de todos: pois todos somos filhos da mesma
patria.
C O N C L U S Ã O .
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N a õ falta quem vaticine a separaçaõ entre Portu-
g a l e B t a z i l c o m o p r o v á v e l , e talvez naó muito serô-
d i a , repetindo- a este respeito, que as Monarchias saó
ara a E u r o p a , e as Republicas para a America. D a
E òndade <3e D e o s , da prudência e actividade do G o v e r -
n o , e da notoria fidelidade da N a ç a õ esparamos ver frus-
trado taó abominável agouro. R e l e v a poiécn estar á ler-
ia , e reputar por inimigos todos os que dizem e espa?
l h a ó , foliando aos E u r o p e o s , que Portugal he metro-
p o l e , e que por isso naõ deve ceder em nada de seus
antigos direitos; que naó queiraó ser Colonia do B r a -
zil , paiz salvagem e barbaro; que he indifferente a
uniaõ com o B r a z i l ; que duas m i l léguas he espado mais
que E s t a n t e para divorciar os dous R e i n o s ; que vai
mais ti.armos unidos á Hespanha,. com a qual taremos
hum só Estado fechado pelos mares e invencível, no ca-
so de que a Corte passe para o B r a z i l , & c . T a m b é m
saó inimigos os que espalhaó , fallando aos Braziletros,
que elles naó precisão de P o r t u g a l , Reino pequeno e
pobre; que o Brazil tem em suas minas recuisos de io-
da a especie; que nunca lhe ha de faltar ouem o auxi-
l i e ; que . r a ó m a i s felizes com oC5overno R e p u b l i c a n o ,
como os Americanos Ingleze* , no qual todos r odem go-
vei ar por sua vez sem dependencia 'a arbitrariedade do
ministério, &c. & c . Estas v o z e s , < podem circular ca-
da vez m a i s , fazem huma guerra surda á integridade da
Rlonarchia. He certo que alguns estrangeiros nos maqu.naõ
esta desgraça. Para contramina-Ia releva muito dirigir a pi-
niaó dos Portuguezes e desengana-los de que tanto os Eu.
ropeos , como os Brazileiros saó f r a c o s , porque saó pou-
cos , t que por tanto só podem salvar se unindo-se. O mi-
nistério deve despregar toda a sua prudência e actividade,
ganhando a opinião publica, acautelando os m a l e s , e
empregando opportunamente a força para conter os dis-
túrbios de pessoas mal-intencionadas, e conservar a boa
ordem. Se minha fraca voz va'esse alguma c a u s a , eti
diria a todos os Portuguezes r nova crise em que se
achaó:
Portuguezes de ambos os hemisferios, reflecti no
"jue sois, e no que podeis vir a ser. Vossa fortuna es
tá nas vossas mãos. S e vos desunirdes, petdereís os fructos
das fadigas de sete século' tornar-vos-heis menos do
que s o i s ; e sereis a fabui.. das Nações. Se vos conser-
vardes unidos, honrareis o r me P o r t u g u e z , e lançareis
já os alicerces a hum dos mais fortes Impérios do Uni-
verso. Sua Magestade se declarou pelas reformas; cum-
pre-vos ajuda-lo. A s N a ç õ e s , ainda as melhor constituí-
d a s , e s t a ó , como os indivíduos, sujeitas a enfermidades:
destas he a mais funesta a divisão c i v i l : e!!e termina
de ordinário com a dissolução dos Impérios. Q u e forças
saó as vossas, se~as comparardes com as presentes de In-
glaterra , F r a n ç a , e A u s u i a í Estas Potencias tem por
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sua prudência e esforço grangeado huma grande?a e so-
lidez essencial. Esta vos falra ainda, e a esta aeveis as-
pirar desde j á , para ganhardes entre as Nações dignida-
de e respeito propriamente vossos. A esta taó alta digni-
dade vos convidaõ vosso nobre caracter, a bondade de
vossos vastos territoiios, e sua vantajosa situaçaó nas
quatro partes do mundo. Nunca de vós se diga que os
estrangeiros influirão em vosso Governo interno: toda a
influencia estrangeira he perigosa, e algumas vezes des-
tructiva. Nunca de vós se diga que naó soubestes arredar
de vossas bellas, e pacificas Províncias o fogo da dis-
córdia, eda guerra, que afflige os vossos vizinhos. Nun-
ca de vós se diga que por culpa vossa dissipastes o rico
patrimonio, que vossos maiores vos ganháraó por sua
virtude. Nunca vos esqueça que quanto mais unidos,
mais felizes sereis internamente, e mais formidáveis a
vossos inimigos. Que inexplicável desgraça fora , se os
mesmos, que com tanto denodo defendèraõ sua liberda-
de de portas a f o r a , succumbissem de portas a dentro
desunidos por suas paixões exaltadas, e pelo togo de hu-
ma liberdade mal entendida! Portuguezes, entregai a
E l - R e i , e ás Cortes a direcção de fossos destinos; e ro-
gai a Deos conceda a estas para o acerto o espirito de
sabedoria que assiste junto ao seu throno, e que ineli
ne constantemente para o bem o coraçaõ do Monarcha.
Omne regnum contra se divisum dtiolabitur.
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P R O T E S T A D A Õ.
F I M.
Pag. Li». Erros. Emendas.