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HISTÓRIACONCISA PE H)RTUGAL

Estado, que não tardou a pagar com a própria vida esse


delito. Acusado de traição, o rei não teve força para o salvar,
apesar da o inião eral de ue estava inocente. Qs nobres
faziam constar que o cute o que lhe decepou a cabeça o
RCa
ogo apos a ac mação, foram convocadas cortes, tam-
bém segundo a forma tradicional. Aí se tomaram as providên-
cias para fazer face à guerra, que todos consideravaminevitá-
vel. Foi votado um subsídiomuito elevado: a décimamilitar
(10%'dos haveres individuais), que montava a 1 cru-
o ano seguinte, es valor foi
Era uma tributação muito mais
qua quer das exigidas durante o período filipino, as nã
m notícias de ue tenha provocado uai.êuer rotestos.

55—A Guerra da

Estava-se então na última da uerra dos Trint


anos. Fran a e a Es anha dis 1aeurcy
peia nos cam os de batalha. guerra entre os dois países,
esenro ou-se em várias regiões da Europa
(a fronteira os Pirenéus, o Franco Condado,os Países
xos, a Alsácia,a Alemanha e a Itália) e só te inou e 1€*59
com o Tratado dos Pirenéus, que consagrava o co
durante todo o reinado d João IV,
as o era óe militares não tivesem assumidogrande enver a-
a campa as
ura. guerra mitou-se, durante muitos anos,fracassos,
com alternativas de êxitos e de partes. mas Du-
sem consequências decisivas para qualquer dasanizar a defesa,
rante esses anos foi ossívela Po al o arrnas e cava os
recons n-ur as ortalezas conse i oficiais
ra a guerra. guerra, provas
s cama as o ulares deram, durante a
por relatórios
transmitidos nao por on es portuguesas, masatravessaram a
militares espanhóis. Em 1641, forças inimigas
outras, atacaram a al-
fronteira de Trás-os-Montes e, entiV
Depois de uma
deia de Moimenta, concelho de Vinhais.
Saber 123— 14
luz. ec

'2109
Ã$$l$ãgc,e
na iglvjetl
defsa furiosa,setenta morad01esrefugiaram-se
a combater. Vencidos
tinham fortificadoe onde continuaram porque, explicao
por fim, foram todos pasados a cutelo que, exceptuada
relatório, «é tal a obceca@ destes rebeldes misericórdiaou
uma velha, não houve nenhum que pedis.9 No ano seguinte, as
$•que dissesse 'Viva el-rei D. Filipe'». Santa Luzia, prÓximo
de
tropas espanholasentraram no forte operação escreve que «os
•de Elvas. O oficial que comandou a ouco dextros,mas
soldados rtu eses se mostraram fracos ue aceitase gri
mui o rebel e» ao ouve m umcoIsso e ser mo o ar
"Viva el-rei D. Fili e tivera or
n aro ao ulti o». re atorio conc . « en o or ueses,
são to os assim sacados os nobres leais._no—IO fonte da
ue az os «nobres ems»
época: « ogam com um pau e 01s Icos. ontemponzam
, com el-rei D. João e fazem obras que lhes podem servir de
desculpacom el-rei D. Filipe. Cá têm um pé e lá outro, cá o
corpo e lá o AI ns estão pagos para sabotar a
erra, «Sto é, que saiam as naus a e, que nao aJa ga es,
q se malogremarmadas e frotas, que se desfaça a bolsa,
que não se façam cavalos nem infantes, que não. se paguem
ates nem dêem cevada àqueles, que não se criem potros, que
não se peleje nas ocasiõesde urgência, que não se fortifiquem
as praças». (A Arte de Furtar, cap. MJVI.)
O' Tratado dos Pirenéus representou para nós o momento
mais perigosOda guerra. Uma das poucas concessõesque a
França tez_àEspanha nese tratado foi a de cessar o apoioao
nosso país, que até então fora seu aliado. As tropas espanho-
Ias, libertas da guerra europeia, puderam e o voltar-se em
força contra Portugal. Foi por esta altura 660 que foram
contrêtados os serviços do conde de chombero que veiopara
o nosso país acompanha o or seiscentos oficiais e soldados
e que desenvoveu uma nte acção na
modernizaçãodas técnicas militares. em consequên-
Inglaterra ecebemos
auxflio de a ns 1 de militares e
Esses ac ores, e a acçao multo enérgica do conde e
— Melhor, valido de D. Afonso VI, que então dirigiaa
política portuguesa, permitiram r face às randes ofetFl-
vas do exército espanhol. Em 1663 este ocupou
- ( 46/2'
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&boçou o avan o sobre Lisboa, mas f • ompletamente derro-


ta o na ba o menaal. Em 1665 um xército
muito numeroso foi aniqui o na ba a d ontes Claros
que teve efeitos decisivosna marcha da guerra e represen a o
último esfor o mili r es anhol ara a recon uista de
ortu a .
ntretanto, em Espanha, morrera Filipe IV. A situação
económicado país era de descalabroe a situação política
muito melindrosa; a Fran a e o imperadorda Alemanha
iniciavamas uas manobraspara he ar o rono e s n a.
m or ga , a aspn•açao e paz ornara-semulto Intensa.
guerra absorvia todos os recursos do País. A situação econó-
mica tinha-se agravado constantemente desde a R€stauração.
A opinião interna estava dividida; as camadas populmvsnão
tinham confiança na nobreza; quando os Espanhóisconquis-
taram Evora, houve em Lisboa tumultos populares dirigidos
contra os nobres e Castelo Melhor utilizou esse descontenta-
mento em seu proveito. Mas também o povo estava cansado
da guerra e disposto a apoiar qualquer mudança política que
Conduzisseà paz.

56—0 golpe de Estado de 1667e a paz

A vida política foi agitada, já no fim da guerra, pela


questão da deposição do rei.
Quando D. João IV morreu, em 1656,o herdeirodo trono
(D. Afonso VI) tinha treze anos. Faltava portanto um ano
para atingir a idade que, segundo o direito tradicional, se
exigia para o exercício do poder pessoal. A lvgência foi por
isso ax%qunida pela rainha viúva, D. Luísa de Gusmão. Mas o
novo rei era inválido; uma doença infantil deixara-o defei-
tuoso e mal podia andar. Os adversários pretenderam cons-
tantemente que, além disso, era imbecil e semidemente, mas
os partidários atribuíam essa acusação a manejos políticos. O
certo é que a regente conservou o poder durante seis anos,
portanto mais cinco do que o tempo imposto pela menoridade
do filho.
Em 1662,um jovem nobre que a regentetinha nomeado
para o serviço do rei, o conde de Castelo Melhor, resolveu
212 JOSÉ HERMANO SARAIVA

apoderar-se do governo e para iso manejou o rei por formaa


pôr tenno à regênciae a miciar o reinado. Uma grandeparte
da nobreza apoiou o movimento, que aliás se limitou a um
golpe de palácio. E Castelo Melhor começou a governarna
qualidade de escrivão da puridade, cargo Dalatino aue não
istia de e s tempos de D. S
s ava-se numa perigosa e decisiva da guerra dá
independência. O conde deu provas de grande energia na
conduçãoda guerra, e no seu tempo as tropas portuguesas
*tiveram vitórias decisivas. A Espanha, exausta pelas derrotas
sofridas na Europa, sentia dificuldade em continuar na ofen-
siva, contra um adveisário fraco como Portugal.Cas-
telo Melhor pensou que era a altura de redobrar de esforços
para obter grandes vantagens na paz. Aos preparativos milita-
juntou os diplomáticos e procurou captar o apoio da
França casando o jovem rei com uma princesa francesa.
Depois de negociaçõesdificeis, Luís XIV acabou por concor-
dar com o casamento com uma filha do duque de Nemours,
Maria Francisca Isabel abóia, que ainda era parente dele.
Afonso VI casou*e e logo no ano seguinte se firmou
um acto militar entre u al e a França.
as nessa a ura Ja os no res es avam descontentescom
Castelo Melhor, que impunh om dureza o prosseguimento
de uma guerra de que el já tavam fartos. Tambémse
dizia que o rei era impotenF e com Isso a independência
épodia vir a corrvr risco, por falta de herdeiropara a coroa.
Ora o rei tinha um irmão, D. Pedro, heÑleiro do trono se não
houvesse filhos de Afonso VI. À volta dele se foram juntando
os que queriam acabar com o poder do valido.
Com o casamento do rei desencadeou-sea A rainha
e D. Pedro depressa se entenderam para obrigar Afonso a
Castelo Melhor. Pouco depois, a rainha saiu do paql)
e declarou-serefugiada num convento, solicitandoao cabido
da sé de Lisboa a do casamento com base na
impotência do rei. D. Afonso VI, sem ninguém que o defen-
desse, assinou um documento em que declarava fazer «desis-
tência destes seus reinos para todo o sempre em a pesoa do
Sr, Infante D. Paro e em seus filhos, legítimos descendentes'
com a declaração que do melhor parado das rendas deles
reserva Cemmil cruzadosde renda em cada ano». Meteram-
HISTÓRIA' CONCISA DE PORTUGAL
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-no a boldo de um navio e levaram-no para os Açores,


pasou alguns anos prisioneiro. Acabou a vida recluso onde
numa
sala do paço de Sintra. Entretanto, o cabidoda Sé declarou
casamento nulo por falta de consumação D. Pedro o
com a rainha e ovemou, com o título casou
mor o Irmao
acontecimentos deu-se o nome de «cabala fran-
cesa» porque os agentes políticos que acompanharam
a
rainha a Portugal tiveram papel muito activo nos aconteci-
mentos. Isso fez surgir hipóteses engenhosasà volta do assun-
to. Mas as razões aparentes desnecessi uaisquer outras: o
desejo da paz e a rivalidade dos es ue assaram a
dominar a governa -o logo que o conde
sa r
Logo no ano seguinte 166 depois de um'a negociação
apressada em que foram aceites as condições que, anterior-
mente, Castelo Melhor tinha re foi assinado o acordo
que esta elecia a paz: a Espanha reconheciaa independência
de Portugal, devolviam-se de parte a parte prisioneirose
povoações conquistadas e a Espanha conservaria para si a
cidade de Ceuta onde o domínio português não chega a ser
restaura( o por, enl 164(),o fidalgo que a governava ter
optadÔpela obediência a Filipe IV.

57 —A diplomacia da Restauração

A união dinástica«teve por efeito arrastar definitivamente


Portugal para o contencioso político europeu.
A ligaqñocom a Espanha fez-se num períodoem que
Europa estava dividida em dois blocos políticos inimigos e
rivais: a Casa de França e a Casa de Atustña. Essa polari-
zaçño de forças vinha da primeira metade do século XVI e
provocara as longas guerras entiv Carlos V e os reis de
França, guerras em que toda a Europa ocidental interveio.
Mas Portugal conseguiu permanecer à margem do conflito.
Ora, em 1580, Portugal passou a ser uru dos Fstados da
Casau$ Áustria, isto é, integrou -se n tlin dos blocos ern
veio a dar-se em plena Guelra,
214
nzñ40 JOSÉ HERMAN SARAIVA

do nova fase da mesma oposiçãode forças.A


iplomacia portuguesa teve por objectivo fazer sair o Paisdo
bloco da Casa de Austria, que a Fspanha liderava, e fazê-lo
aftrar no bloco oposto.
Esse objectivonão foi de fácil realização.Para os nossos
diplomatas parecia evidente que devíamos ser aceites como
aliados pelos inimigos da Espanha, visto que estávamos em
guerra com a Espanha. M ess aíses ti ham mais a
ganhar em nos te co s do a liados.
nossa aJu a na uropa pouco pesava; mas
posi -es comerciaise de fortalezas estrat- icas de valor deci-
SIVO ara o om ruo comércios u tramannos, Ja então
isputados pelos países europeus, e essas osi -es odiam-nos
se fradas mais facilmente sendo in os do ue sendo
mi os. O resu tado geral da diplomacia a estauração 01
pois o de que saímos de um bloco, mas não conseguimos
entrar no outro, e pagámos com as posiçõesorientais e com
Importantes concessões económicas na metrópole as •Vanta-
gens que tentámos conseguir no quadro político europeu.
As batalhas diplomáticas começaram ainda antes das
militares. Logo nos primeiros meses de 1641 Portugal enviou
misóes diplomáticasa Roma, à. França, à Holanda, a Ingla-
terra, à Dinamarca, à Suécia.
A missão de Roma fracassou completamente. O rei de
Espanha, chefe do bloco da Casa de Austria, era simultanea-
mente o suporte político da causa católica, então em luta
com os protestantes. Os a as recu or isso a reco-
nhecer a inde ndêncla ortu uesa não o
só em 1669 0 papa
luta pelo apoio da Inglaterra durou muitos anos. Em
1641 edimos uma aliança militar, mas o mais que se conse-
lu foi um tratado de amizade e comércio,no qual ambasas
partes se comprometiama não aderir a qualquer guerra feita
contra a outra, e os mercadores ingleses ficavam com liber-
dade de fazer o seu comércionos domíniosultramarinosde
Portugal nas condiçõesque os Portugueses (tratado
de 1642). Mas pouco dep»is começaram em Inglaten•a as
lutas entre o rei e o Parlamento.Carlos I foi executadoe
implantou-sea república e depois a ditadura deaCromwel'
nafivkd¿
CONCISA DE
EJML14Ézz4
HISTÓRIA RTUGAL

O lvi de I or ugal procurou manter-se neut


es ua ra de partidários do rei refu fiou-seno estuário do Te•o
e a par Ir qui ez ruerr ( e conso a nave ra 'âo in 'l 'a.
Esteve-seà beira da guerra; uma es uadra in esa blo ueou o
Tejo e interceptou a nave ra "10 ara o rasi • no mente,os
ng (ses apoiaram os Persas, que nos conquistaram Orrnuz.
Para restabelecer as boas relações tivemos de aceitar o tra-
tado de 1654:em troca da paz abrimos aos Ingleseso comér-
cio com o Brasil, Africa e domínios orientais, fixámos em 23 %
o impostoa pagar pelas mercadoriase manufacturas inglesas
importadas por Portugal e obrigámo-nos a recorrer aos navios
ingleses sempre que necessitáswrnos de fretar embarcações
estrangeiras. De todas as cláusulas, a que Portugal teve maior
relutância em aceitar foi a que autorizava os mercadores
inglesesestabelecidos em Portugal a praticar a sua religião.
Cromwell chegou a mandar ao Tejo a esquadra para
impor a ratificação, que (lemorava.E 16 o
nha, terrninada a lon a erra com a h•an•a, ficava com
mos a solici ar a a lança militar inglesa. Negociou-seentão o
casamento de uma princesa portuguesa, D. Catarina, filha de
D. João IV, com o rei de Inglaterra, Carlos II. Portugal
entregava Tânger, em Africa, e Bombaim,na India. mer-
cadores ingleses foram então autorizados a estabelecer feito-
rias nos domínios portugueses, especificando-seno tratado as
cidades de Goa, Cochirn, Diu, São Salvador da Baía, Pernam-
buco, Rio de Janeiro. Portugal comprometia-seairyla a trans-
ferir para a soberania inglesa as terras que QS nos
tinham arrebatado na India, se os Ingleses as pudesem
.xeconquistar, e a dividir com a Inglaterra o trato cla canela
da ilha de Ceilão, se acaso o reconquistássemos.•bm troca, a
In laterra mandaria a Portu al dois re imentosde cavalariae
OIS e m antaria, pres ria assistencia com a sua a
no caso e mvasao e na u a con ra os piratas e dispun a-se a
romover z entre Portu al e a Holanda (Tratado de
Ite a 1 1661 ste trat í iod e
economica e o e omínio da di lomaci tânicas
ortu Foi em grande parte evido à dos
dip omatas ingleses que, sete anos mais tarde, se assinou a
paz com a Fspanha, contra o desejo dos di franceses.
f,tíutz JOSÉ HERMANO SARAIVA
216

TambémZ•oma frança as foram dificeis.Em


1641, os nosos pedidos eram optimistas e ambiciosos:a
formação de um bloco de nações para uma guerra geral
contra a Espanha. Os Franceses esquivaram-se. O pedidomais
modesto de uma «liga formab "(isto é, obrigação de que a
França não fizes9 a paz com a Espanha sem que a Espanha
não fizessetambém a paz com Portugal) não foi atendido.
Aproximava-seo fün da Guerra dos Trinta Anose nós, como
adversários da Fspanha, reclamávamos um lugar na conferên-
cia da paz. lugar equivaleria a um reconhecimento geral
da nossa independênciae ao fim da guerra. Mas não conse-
guimos ser admitidos e ficámos fora dos rfratados de VStefá-
lia. Nan sequer a França aceitou patrocinar a posiçãoportu-
guesa na negociaçãodirecta com a Espanha, que terminou
pelo Tratado dos Pirenéus: servimosde moeda de troca, e
a andonar Portu al à sua sorte foi das poucas concessõesue
a Fra ez ao a vasarl Apesar diso, o condede
astelo Melhor vo tou a tentar obter o apoio franc&,e para
isso casou o rei de Portugal com uma princesa francesa. Mas
o auxflio militar nunca se chegou a concretizar, porque entre-
tanto se concluia a paz, e a ligação política com a França não
foi duradoura.
Também com a Holanda as nossas propostas começaram
por ser as de paz que inclusse a restituiõ dos domínios
ocupados pelos Holandeses durante a filipina e
de liga ofensiva contra a Espanha. Apenas se conseguiuuma
az or dez anos e esa az só funcionouna Euro a porque
luta com os continuouno rasil e na Africa.
erminada a tre a os n o an e eraram-se e
uase t ainda nos restava no Indico e no P í
ó an 1661foi possive esta e ecer a paz definitiva: a Ho-
landa man inha as suas conquistas,Portugal renunciavaaos
seus direitos e pagava indemnizações, os mercadores holande-
obtinham vantagens no coméréÍoportuguês.
A situaçãofoi pois por toda a parte a mesma: a nossa
*-confiançana solidariedade intemacional não se confirmou».a
Europa aproveitou o ensejo para se a o
posi es co omais. versao pa notica que afribui ao domínio
espanhol a en•ocada do império só contém meia variado
porque as perdas mais graves foram o preço da R6tauraqá0•
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