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PODER JUDICIÁRIO

Tribunal de Justiça do Estado de Goiás


Gabinete do Desembargador Guilherme Gutemberg Isac Pinto
AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº. 5457935.16.2023.8.09.0000

5ª CÂMARA CÍVEL

COMARCA DE ARAÇU

AGRAVANTE : MARIA DE FÁTIMA VILELA

AGRAVADOS : ESPÓLIO DE ANTÔNIO ALVES SOBRINHO

RELATOR : DES. GUILHERME GUTEMBERG ISAC PINTO

VOTO

Conforme relatado, trata-se de Agravo de Instrumento, com pedido


de efeito suspensivo, interposto por MARIA DE FÁTIMA VILELA, contra
decisão (mov. 202, dos autos em apenso nº. 0240141-22.2017.8.09.0013),
proferida pela MM. Juíza de Direito da Vara Judicial da Comarca de
Araçu, Dra. Denise Gondim de Mendonça, na ação de inventário, ajuizada
pelo ESPÓLIO DE ANTÔNIO ALVES SOBRINHO, representado por Marta Gonçalves
Lúcio, ora Agravado, que apresentou o seguinte desfecho:

[…] Inobstante às manifestações de eventos nº 183 e


200, verifica-se que, além do imóvel objeto de
usucapião, esta demanda possui outro bem passível de
ser partilhado, o qual não está embaraçado.

Nesse sentido, cuidando-se de ação proposta no ano de


2017, é mais prudente que este inventário prossiga.
Inclusive, tal medida melhor atende ao princípio da
celeridade, na medida em que a demanda de usucapião
poderá tramitar por vários anos, impedindo a partilha
dos bens desde já.

Saliente-se que esta medida não trará qualquer


prejuízo às partes, na medida em que, caso se confirme
a propriedade do bem objeto de usucapião em favor da
interessada, poderá esta requerer sua sobrepartilha
nesta demanda, a teor do que dispõe o parágrafo único

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do art. 670, CPC.

Assim sendo, indefiro o pedido de suspensão processual


formulado aos eventos nº 183 e 200. […]

Insatisfeita, a Agravante (MARIA DE FÁTIMA) requer a reforma da


decisão agravada, a fim de que seja deferida a suspensão da ação de
inventário até a prolação de sentença na ação de usucapião.

Sustenta a recorrente que ajuizou uma ação de usucapião


extraordinário, objetivando a propriedade do imóvel registrado sob o nº
R-R-2-2. 811, junto ao CRI de Inhumas, sendo que o referido bem pertence
ao inventário do agravado e, por essa razão, requereu o reconhecimento
da conexão do feito para julgamento conjunto.

Ao final, após discorrer sobre os fundamentos do seu pedido,


requer a suspensão da ação de inventário.

1. Da admissibilidade recursal

Nos termos do art. 1.015, parágrafo único do CPC, é cabível


agravo de instrumento contra decisões interlocutórias proferidas na
liquidação de sentença, cumprimento de sentença, processo de execução e
inventário. É o caso dos autos.

Com efeito, presentes os pressupostos processuais e inexistindo


questão preliminar ou de ofício a ser dirimida, conheço do recurso e
passo à sua análise.

2. Do mérito

Cinge-se a controvérsia devolvida a este juízo sobre a


possibilidade ou não da suspensão da ação de inventário, em virtude do
ajuizamento da ação de usucapião do imóvel pertencente ao patrimônio do
falecido Antônio Alves Sobrinho.

No caso, a agravante alega possuir a posse o imóvel registrado

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sob nº R-R-2-2.811 do CRI de Inhumas, faz mais de 43 (quarenta e três)
anos e, por essa, razão ajuizou a ação de usucapião nº
5208601.72.2023.8.09.0072.

Nesse sentido, tem-se, por necessário, a suspensão do processo de


inventário, tão somente no que toca ao bem acima descrito, diante da
existência de questão prejudicial, ou seja, alegação de usucapião
relativa à parte da herança, visto que, caso seja julgada procedente a
ação, caberá ao autor da ação um dos objetos do inventário.

Na situação em concreto, é pertinente a suspensão do trâmite do


inventário, na parte em que se refere ao bem imóvel, matrícula R-R-2-
2.811 até que se decida acerca da alegação de usucapião, discutida na
ação nº 5208601.72.2023.8.09.0072.

Não obstante a decisão agravada e as alegações da parte


contrária, prudente que o inventário, na referida parte, aguarde a
resolução de tal questão, posto que o prosseguimento do feito poderia
acarretar na realização da partilha do imóvel, em que pese a aquisição
de sua propriedade pela agravante.

Evidente a prejudicialidade da questão, pois caso seja


reconhecida a aquisição da propriedade na ação de usucapião, o imóvel de
matrícula nº 2.811 do CRI de Inhumas/GO deixará de fazer parte dos bens
deixados pelo Espólio, e consequentemente, não poderá ser partilhado
entre os demais herdeiros.

Necessário ressaltar que tal bem é arrolado nas primeiras


declarações, de modo que sua partilha poderia ser realizada de maneira
prematura.

Assim, ante a prejudicialidade envolvendo a alegação de aquisição


do imóvel por usucapião, prudente a reforma da decisão agravada para
determinar a suspensão do inventário por um ano ou até o julgamento da
referida ação.

Com base na teoria materialista da conexão, consolidada no artigo


55, §3º, do CPC, os processos que possam gerar risco de decisão
conflitante devem ser reunidos para julgamento conjunto, ainda que não
haja conexão:

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Art. 55. Reputam-se conexas 2 (duas) ou mais ações
quando lhes for comum o pedido ou a causa de pedir.

[…]

§ 3º Serão reunidos para julgamento conjunto os


processos que possam gerar risco de prolação de
decisões conflitantes ou contraditórias caso decididos
separadamente, mesmo sem conexão entre eles.

Ainda, conforme o artigo 313, inciso V, alínea “a”, do CPC,


necessária a suspensão do processo quando a sentença de mérito depender
do julgamento de outra causa:

Art. 313. Suspende-se o processo:

[…]

V – quando a sentença de mérito:

a) depender do julgamento de outra causa ou da


declaração de existência ou de inexistência de relação
jurídica que constitua o objeto principal de outro
processo pendente;

A propósito, eis a jurisprudência:

[…] 2. Não obstante o alegado pelos recorrentes, as


peculiaridades do caso possibilitam a suspensão do
inventário, visto que a alegação de aquisição do
imóvel via usucapião poderá afetar a partilha nos
presentes autos, sendo prudente a determinação de
suspensão do feito conforme prevê o artigo 313, inciso
V, alínea a, do CPC. 3. Eventual reconhecimento da
aquisição do imóvel via usucapião pelo herdeiro
poderia alterar o objeto da partilha, de modo que o
inventário deve aguardar a resolução da questão para
evitar que sejam proferidas decisões conflitantes. […]
TJPR – 11ª Câmara Cível – 0027926-37.2020.8.16.0000 –
São Miguel do Iguaçu – Rel.: JUIZ DE DIREITO
SUBSTITUTO EM SEGUNDO GRAU EDUARDO NOVACKI – J.
17.11.2020).

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Na hipótese dos autos, a ação de inventário e a ação de usucapião
são conexas em relação ao imóvel de matrícula nº 2.811 do CRI de
Inhumas/GO, bem como há risco de decisões conflitantes caso o inventário
seja julgado antes de analisada a alegação de aquisição da propriedade
do imóvel na usucapião, razão pela qual é possível suspender o trâmite
do processo de inventário até que referida questão seja julgada.

Dessa maneira, constatada a prejudicialidade entre o inventário e


a ação de usucapião, mister a reforma da decisão agravada para
determinar a suspensão da ação de usucapião tão somente quanto a
partilha do bem imóvel objeto da discussão.

3. Do dispositivo

Ante o exposto, CONHEÇO do recurso de Agravo de Instrumento e


DOU-LHE PARCIAL PROVIMENTO para, reformando a decisão agravada,
determinar a suspensão da ação de inventário nº
0240141.22.2017.8.09.0013, em trâmite na Vara de Família da Comarca de
Araçu, tão somente na parte em que se refere à partilha do bem imóvel,
matrícula nº R-R-2-2.811, pelo prazo de 1 (um) ano, podendo o inventário
tramitar em relação aos demais bens.

É como voto.

(Datado e assinado em sistema próprio).

DES. GUILHERME GUTEMBERG ISAC PINTO

Relator

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AGRAVADOS : ESPÓLIO DE ANTÔNIO ALVES SOBRINHO

RELATOR : DES. GUILHERME GUTEMBERG ISAC PINTO

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os presentes autos do Agravo de


Instrumento nº. 5457935.16.2023.8.09.0000.

Acorda o Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, pela Segunda


Turma Julgadora de sua Quinta Câmara Cível, à unanimidade de votos, em
conhecer do Agravo de Instrumento e dar-lhe parcial provimento, nos
termos do voto do Relator.

Votaram acompanhando o Relator, o Excelentíssimo Desembargador


Marcus da Costa Ferreira e Maurício Porfírio Rosa.

Presidiu a sessão de julgamento o Excelentíssimo Senhor


Desembargador Maurício Porfírio Rosa.

Esteve presente a Procuradora Geral de Justiça, a Doutora Estela


de Freitas Rezende.

(Datado e assinado em sistema próprio).

GUILHERME GUTEMBERG ISAC PINTO

Desembargador

Relator

Tribunal de Justiça do Estado de Goiás


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