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Para que um signo seja considerado como marca no sentido técnico- jurídico do termo, é necessário
que tenha capacidade distintiva. “(…) a capacidade distintiva é o pressuposto essencial, por assim dizer
“ontológico”, de uma marca, decorre da obvia apreciação do que a marca é, em primeiro lugar, um signo
distintivo”2.
A capacidade distintiva é a aptidão para distinguir um produto ou um serviço, que provém de uma
empresa ou fonte produtiva dos produtos ou serviços provenientes de outra empresa ou fonte produtiva3. Daqui
resulta que a marca contradistingue não só produtos ou serviços, mas também a sua origem empresarial ou fonte
produtiva.
Sobre este importante requisito da registabilidade da marca, estabelece a alínea h) do artigo 110º do
CPI(M), que: Constituem requisitos para a protecção de marca “ Não constituir sinal de carácter genérico,
comum vulgar ou meramente descritivo dos produtos ou serviços a proteger”.
Assim, à partida não podem constituir marcas as denominações genéricas dos produtos que são o nome
através do qual o produto é conhecido. O empresário que produz pneus para veículos automóveis, decidindo
marcar o seu produto de modo a distingui-los dos fabricados pelos seus concorrentes, não deve assinalá-los com o
nome genérico do próprio produto “ pneus”. Procedendo de tal maneira, a função distintiva não seria exercida,
na medida em que o público não a compreenderia como marca 4. Se o produto ou serviço tiver mais de uma
designação própria, a proibição se aplica nos mesmos termos5.
1 De entre os tradicionais autores sobre esta matéria, cfr. FRANCISCHELLE, REMO, Sui marchi…ob. cit., pp. 87-92; CASANOVA, MARIO,
Impresa…ob. cit., pp. 469-472; v. tb., MANGINI, VITO, IL Marchio…ob. cit., pp. 147-159, na nota 1 da p. 147 este autor indica um conjunto de
respeitados autores que se debruçaram sobre a matéria.
2 LUIGI MANSANI, La capacidade distintiva como concepto dinâmico , Actas de Derecho Industrial, Volume 27, 2006-2007, Instituto de Derecho
6 Idem., p. 29.
7 Idem., nota 3 p. 28.
8 Exemplo se em vez de Água, se adoptasse a expressão “ guagua” ou em vez de televisor fosse “ telebisor” , este último exemplo extraímos da nota
448 da última obra citada de COUTO GONÇALVES, página 233.
9 V. Também., NOGUEIRA SERENS, A “Vulgarização”…ob. cit., pp. 68-74, sobre as diferentes hipóteses que reconduzem a marca genérica.
10 V. Desenvolvidamente, NOGUEIRA SERENS , “ A Vulgarização” …ob. cit., p. 68 e ss, nota 25, com vários exemplos, v. tb.,COUTO GONÇALVES,
Idem, p. 233, nota 449.; exemplo de marca Antibio face a expressão antibiótico.
11COUTO GONÇALVES, Idem., Telecom vs TV-ES, France Telecom, nota 450, p. 233, o autor extraiu esses exemplos da jurisprudência que cita na
referida nota.
12 V. NOGUEIRA SERENS, “ A Vulgarização”…ob. cit., nota 25, p. 70.
13 Idem., nota 4 da p. 29.
14 Idem., p. 77.
Para além das denominação genérica dos respectivos produtos, há também falta de capacidade
distintiva quando as marcas são constituídas por indicações descritivas conforme preceitua a al. h) do artigo 110º
do CPI(M). Sinal descritivo, é portanto, a denominação que indica, exclusiva e directamente, a produção (espécie,
lugar e tempo), qualidade, quantidade, destino, valor, ou qualquer outra característica15.
A este propósito NOGUEIRA SERENS16 apresentou o seguinte exemplo: “ Suponhamos que A
fabricante de portas-giratórias, pretendia registar como marca a expressão “ Sempre Fechada”. É evidente que
trata-se de uma indicação descritiva do respectivo produto. Toda a gente sabe que as portas giratórias andam
sempre fechadas e este é um dos motivos que originou a criação deste modelo de utilidade.
Ao se considerar que um sinal não possui capacidade distintiva em virtude do uso de uma expressão
que constitui uma indicação descritiva, podem existir dois fundamentos: 1º A falta de capacidade distintiva dessa
indicação descritiva, 2º e a necessidade de as preservar ou deixar à livre disponibilidade de todos os concorrentes.
Contudo, as indicações descritivas podem ser aceites como marca ou a capacidade distintiva não será posta em
causa, se forem relativas, por exemplo a indicação de um lugar não conhecido pelo público, pois este entenderia
que aquele sinal é uma designação arbitrária17.
Outro importante estudo sobre os sinais genéricos, usuais, descritivos e necessários (específicos
também se chamam)18, é o feito pelo autor francês PAUL MATHÉLY19 que diz : O sinal genérico é aquele que
define não directamente o objecto em causa, mas a categoria, especialidade ou género aos quais pertencem estes
objectos. O sinal é usual quando é geral e comumente utilizado para designar o objecto em causa. O sinal
descritivo é aquele que define, indica, ou evoca o objecto em causa, na sua natureza, nas suas propriedades ou nas
suas qualidades. O sinal necessário deve considerar-se abrangido pela alínea a) do artigo 7º RMC. Limita-se a
mencionar o nome do próprio produto.
Fim do artigo!
15 Idem., p. 234; no mesmo sentido, COUTINHO DE ABREU, Curso…ob. cit., p. 381, que dá exemplos sobre a qualidade, “ Pura Lã” para vestuário,
desenho de cinco estrelas para azeite; quantidade, “1 Litro” para vinho, ao destino, “Cabedais” para pomada, ao valor “Pechincha”, à época de
produção do produto ou de prestação de serviços “A toda hora”, para os serviços de uma clinica, à proveniência geográfica “Coimbra”…
16 “ A Vulgarização “…ob. cit., pp. 30 e ss.
17 V. Desenvolvidamente NOGUEIRA SERENS “ A Vulgarização” …ob. cit., pp. 33 e ss.
18 V. BRAUN, Précis…ob. cit., p. 108, nesta página, o autor cita nas notas 59-62, MATHÉLY.
19 Citado por AMÉRICO DA SILVA CARVALHO, Direito…ob. cit., p. 28, v tb., BRAUN, Précis…ob. cit., pp. 108 e ss, cita varias vezes MATHÉLY a