Você está na página 1de 18

REVISTA DA

I
ASSOCIAÇAO
I
PERSONAGEM: ALGUMAS
CONSIDERAÇÕES À Luz DO DIREITO
ELIANE Y. ABRÁO

INVENTOS INOUSTRIAIS:
A PATENTE DE SOFTWARE NO BRASIL - li
DENIS BORGES BARBOSA

A INTERPRETAÇÃO DO ARTIGO 130, INCISO III,


DA LEI DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL -
LEI Nº 9.279/96 - PELO TRIBUNAL DE jUSTIÇA
DO ESTADO DE SÃO PAULO NO
PERÍODO COMPREENDIDO ENTRE O ANO DE
1997 ATÉ O MÊS DE JULHO DE 2006
EDUARDO RIBEIRO AUGUSTO

A LEI DE PROPRIEDADE INDUSTRIAL E O


TRATAMENTO CONFERIDO ÀS MARCAS DE
ALTO RENOME E NOTORIAMENTE CONHECIDAS
RODRIGO LOPES

As AÇÕES DE PROPRIEDADE INDUSTRIAL E A


SUSPENSÃO DO PROCESSO EM RAzÃO DE
QUESTÃO PREJUDICIAL ExTERNA
FABIANO DE BEM DA ROCHA
Am~é r~~rmmA~t ~~~~~~~l
t~ IMIAMt~m m~IT~m~ A~ ~~LA~
~t Alm ~tN~Mt t~~mmAMt~Ié m~HW~A~
RODRIGO LOPES
Delegado de Polícia do Estado de São Paulo. Graduado pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
2° lugar na categoria de graduandos do I Concurso Anual de Monografias da ABPI

Sumário: Introdução- I. Marcas: Noções Gerais -:2. Marcas Notórias- 3. Diluição e Depeneração da Marca Notória- 4. Tutei~Jurisdicional das Marcas- 5. Declaraç,ão do Alto
Renome na Legislação Atual - Conclusões - Referências ·

INTRODUÇÃO esse sinal, imediatamente lembrará das qualidades do produto por


ele assinalado. Trata-se do fenômeno da notoriedade das marcas.
Não são muitos, ainda, os estudos que se dedicam à analise dos
institutos que compõem a chamada Propriedade Industrial, dentre Por sua vez, uma marca dotada de notoriedade é capaz de multi-
eles, a marca. plicar de forma considerável as vendas dos produtos nos quais
está aposta. Além dissç, as marcas notórias possuem um valor
Nos mercados regidos por princípios da livre concorrência e inicia~ patrimonial elevadíssimo, que compõe o ativo de uma empresa. A
tiva, as marcas adquirem cada vez mais um papel fundamental, já marca "Coca-Cola", por exemplo, é valorada atualmente em
que servem para individualizar os mais variados produtos e serviços, US$ 45.000.000.000,00 (quarenta e cinco bilhões de dólares),
distinguindo-os uns dos outros. Essa função de distintividade das valor este que compõe o patrimônio de seu titular, a empresa The
marcas não é importante apenas para os fabricantes e prestadores de Coca Cola Company.
serviço, mas também para os próprios consumidores, que poderão
Logo, é perceptível a necessidade de tais marcas possuírem um tra-
identificar facilmente no mercado o produto que desejam adquirir.
tamento diferenciado, gozando de uma proteção legal e jurídica efi-
Por meio de maciços investimentos em campanhas publicitárias, o caz a fim de coibir a ação daqueles que procuram atingir o sucesso
fabricante pode ver sua marca adquirir um elevado grau de conhe- profissional e econômico "pegando carona" na fama e no prestígio
cimento perante o público consumidor que, ao se deparar com das marcas notórias.

MOMSEN • Marcas
• Patentes
LEONARDOS
• Concorrência Desleal
&CrA • Transferência de Tecnologia
Desde 1919
Rua Teófilo Otoni n" 63- 100 Andar AY. NoYc de Julho .3147- conj.72 • Franchising
20090-080 Rio de .Janeiro, lU 01407-000 Siio Paulo, SI'
Telefone: (21) 2518-2264
Fax: (21) 2518-3152
Tcl: (11) .1884-6954
l<àx: (11) 3885-3147
• Direito de Informática
momsen@leonardos.com.br
ww-w./eonardos.com.br • Contencioso Judicial

REVISTA DA ABPI - Nº 90- SET/ÜUT 2007


ALEI DE PROPRIEDADE INDUSTRIAL EOTRATAMENTO CONFERIDO ÀS MARCAS DE ALTO RENOME ENOTORIAMENTE CONHECIDAS

1. MARCAS: NOÇÕES GERAIS 1.4. Origem das marcas


Enquanto a quase totalidade dos doutrinadores europeus afirma
1.1. Definição
que o surgimento das marcas ocorreu na Antiguidade, os demais
Não só entre os doutrinadores brasileiros, mas em toda a doutrina escritores situam esse surgimento na Idade Média.
mundial referente ao tema da Propriedade Industrial, encontram-
Os primeiros fundamentam a sua opinião com base nos objetos da-
se inúmeras definições de marca, cada qual ressaltando um aspec-
quela época descobertos, os quais continham a gravação de iniciais
to e sob uma óptica diferente.
em seu corpo. No entanto, cumpre ressaltar que essas iniciais não
No presente estudo, adotar-se-á a definição trazida pela Lei da possuíam um caráter mercantil, mas apenas indicavam a proprieda-
Propriedade Industrial (LPI), nº 9.279, de 14/05/1996, artigo de do objeto, razão pela qual se descarta no presente estudo a hi-
122, que conceitua a marca da seguinte forma: ''Art. 122: São sus- pótese do surgimento das marcas na era romana.
cetíveis de registro como marca os sinais distintivos visualmente
Logo, foi apenas na Idade Média que a marca começou a ser uti-
perceptíveis, não compreendidos nas proibições legais". lizada com um cunho econômico e mercantil, para indicar o esta-
Desse modo, a marca pode ser constituída de palavras, sinais grá- belecimento que o fabricava ou vendia, objetivando a conquista de
ficos ou figuras que identificam e distinguem um determinado pro- uma clientela.
duto no qual está aposta. O preceito legal ressalva que referidos Nos tempos modernos, a marca não aponta mais o produtor ou o
sinais não podem estar contidos nas proibições previstas em lei. comerciante do artefato, e sim está relacionada ao próprio produ-
, As referidas proibições estão enumeradas no artigo 124 da LPI, to. Assim, não possui mais a função primordial de indicação de
· dentre as quais se destaca a Impossibilidade de registrar marca que procedência exercida na Idade Média.
reproduza ou imite, no todo ou em parte, marca alheia já registrada. 1
1.5. Funções da marca
1.2. Espécies de marcas Houve uma evolução das marcas, que passaram a ter como função
As espécies de marcas estão elencadas no artigo 123 da LPI, e são principal individualizar os produtos e serviços, distinguindo-os de
as seguintes: outros idênticos ou semelhantes. O objetivo é evitar a possibilida-
i) marcas de produto ou serviço: são aquelas utilizadas para iden- de de confusão entre os mesmos e, conseqüentemente, proteger os
tificar e distinguir um produto ou serviço de outro id~ntico, seme- interesses do público consumidor, que não será induzido a erro
lhante ou afim, de origem diversa; pela existência de produtos assinalados com a mesma marca.
ii) marcas de certificação: atestam a conformidade dos produtos ou A partir do momento em que se individualiza um produto ou ser-
serviços com normas ou especificações técnicas, por exemplo, o viço, a marca também o identifica, razão pela qual há autores que
termo ABIC, que certifica a qualidade do café; sustentam ainda a existência de uma função identificadora.
iii) marcas coletivas: são aquelas utilizadas para identificar produtos No entanto, entende-se que a função identificadora da marca é in-
ou serviços provindos de membros de uma determinada entidade. trínseca à função distintiva, com ela até mesmo se confundindo
uma vez que, ao individualizar, identificar um produto ou serviço,
1.3. Formas de apresentação da marca a marca acaba por distingui-lo dos demais idênticos ou semelhan-
As marcas podem ser requeridas pela parte e concedidas pelo Ins- tes. Ao individualizar um produto, a marca indica, de forma indi-
tituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) de quatro for- reta, uma qualidade do mesmo. Isso porque o consumidor, ao vi-
màs diferentes: sualizar uma determinada marca, aposta em um produto ou
i) nominativas: compostas por uma ou mais palavras, em português serviço e associará a 'ele uma qualidade que os produtos assinala-
ou em outro idioma, que utilizam o alfabeto romano; dos por aquela marca possuem.
ii) figurativas: compostas por figuras, desenhos, símbolos ou qual- No entanto, para que isso ocorra, como assevera Maitê Cecília Fab-
quer letra ou número desenhados, isoladamente; bri Moro, é necessário um pré-conhecimento daquela marca por parte
iii) mistas: compostas pela combinação de elementos nominativos e do público consumidor, aliado ao fato de ser "de interesse de seu titu-
figurativos, bem como por palavras com grafia estilizada; lar a manutenção da qualidade do produto ou serviço oferecido" .2
iv) tridimensionais: constituídas pelo formato de um produto ou A marca possui duas outras funções interligadas: a função econô-
embalagem. mica, que se traduz no valor patrimonial da marca, adquirido pelo

I. ''Art. 124. Não são registráveis como marca:( ... ) 2. MORO, Maitê Cecília Fabb1i. Direito de Marcas: abordagem das marcas notórias na Lei
XIX~ reprodução ou imitação, no todo ou em parte, ainda que com acréscimo de marca 9.2 79/1996 c nos acordos internacionais. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003. p. 41.
alheia registrada, para distinguir ou certificar produto ou serviço idêntico, semelhante
ou afim, suscetível de causar confusão ou associação com marca alheia".

44 REVISTA DA ABPI - N9 90 - SET/ÜUT 2007


ALEI DE PROPRIEDADE INDUSTRIAL EOTRATAMENTO CONFERIDO ÀS MARCAS DE ALTO RENOME ENOTORIAME~TE CONHECIDAS

poder de atração exercido na mente dos consumidores, e a função podem ser objeto de registro, como disposto no artigo 122 da LPI.
de publicidade que, aplicada corretamente pelo titular da marca, Marcas olfativas (por exemplo, o cheiro de "Vick Vaporub"), não
capta a clientela e, conseqüentemente, aumenta consideravelmen- são registráveis no BrasiL
te o seu valor patrimonial. Superada essa etapa, é de rigor um exame mais cauteloso a fim de
verificar a existência de três requisitos imprescindíveis à validade da
1.6. Natureza jurídica da marca marca. São eles:
O tema da natureza jurídica das marcas é objeto de uma enorme i) distintividade: além de ser função primordial da marca, tam-
controvérsia. No entanto, o objetivo deste estudo não é analisar as bém é um requisito de sua própria existência, uma vez que um
teorias difundidas pelos mais variados autores. Neste trabalho, pre- signo, para ser definido como marca, deve individualizar os pro-
feriu-se adotar a teoria defendida pelo tratadista João da Gama dutos e os serviços nos quais está aposto, distinguindo-os de ou-
Cerqueira, classificando a marca como um direito de propriedade tros idênticos ou afins;
imaterial por tratar-se de um bem incorpóreo. ii) disponibilidade: este segundo requisito determina que a marca
Nas palavras do referido autor, é o direito sobre as marcas "um di- requerida pelo depositante não pode ter sido objeto de depósito an-
reito privado patrimonial, de natureza real, que tem por objeto bens terior ou apropriada por outra pessoa do mesmo ramo de ativida-
ou coisas incorpóreas, tal como os outros direitos que compõem o de, bem como não deve colidir com uma marca de alto renome nem
quadro da propriedade imaterial". 3 se enquadrar nas proibições previstas no artigo 124 da LPI;
A propriedade da marca é dotada das mesmas características da iii) licitude: o sinal distintivo requerido não pode ser contrário à ordem
propriedade do Direito Civil, ou seja, esse direito tem como carac- pública, à moral e aos bons costumes, nem possuir caráter enganoso.
terística a garantia de exclusividade de uso, gozo, fruição e a opo- Preenchidos todos esses requisitos, é de rigor a concessão do regis-
nibilidade contra terceiros. tro marcário, o que confere ao seu titular o direito de seu uso ex-
O próprio STJ já se pronunciou no sentido de que o Direito de Marca clusivo, nos termos do artigo 129 da LPL
é um direito de propriedade, com eficácia erga omncs. 4 Frisa-se, ape-
nas, que tal direito não recai sobre o produto no qual a marca está 1.8. Princípios aplicáveis ao Direito de Marcas
aposta, mas sim sobre a própria marca considerada de forma abstrata.
A Lei confere proteção às marcas devidamente registradas, a fim
de garantir o direito de exclusividade'na sua utilização por aquele '
1.7. Requisitos de validade da marca que a pediu primeiro 5• No entanto, essa proteção não pode ser ili-
Assim que um pedido de registro de marca é depositado junto ao mitada e, por isso, foram criados dois princípios que regem o Di-
INPI, esse órgão procederá à análise do signo a fim de verificar o reito de Marcas.
preenchimento dos requisitos legais. O primeiro é o princípio da territorialidade, segundo o qual a pro-
Em um primeiro plano, deve-se analisar se o sinal é visualmente teção da marca é restrita ao território do país em que foi concedi-
perceptível, pois somente os signos com tal característica é que da, não se estendendo aos demais. Assim, se o titular de uma

3. CERQUEIRA,]oão da Gama. Tratado da Propriedade Industrial. 2. ed. São Paulo: Re- especial, o INPI é o órgão onde, registrada a marca, se lhe atribui validade
vista dos Tribunais, 1982. v. 2, p. 760. erga omnes da propriedade( ... )". (grifas não constam do originai) RESP 12694-
4. "Comercial - Re~stro de marca · nome comercial. I -com o advento de norma que rege SP, Relator Ministro Waldemar Zveiter, Terceira Turma do STJ,J. 22. IO. 1991.
a matéria, nos afastamos (sic) do sistema que atribuía a ocupação (utilização prolonga- 5. Há uma flexibilização desta regra prevista pelo art. 129, parágrafo 1º, LPl que protege
da), meio que gerava a aquisição da propriedade da marca. Assim, vigente lei o usuário anterior.

Berkemeyer.
ATTORNEYS ANO COUNSELORS
Marcãs • Patentes • Direito de Autor •

REVISTA DA ABPI - N° 90 - SET/ÜUT 2007


4)
--------------~
ALEI DE PROPRIEDADE INDUSTRIAL EOTRATAMENTO CONFERIDO ÀS MARCAS DE ALTO RENOME ENOTORIAMENTE CONHECIDAS

marca no Brasil pretender assegurá-la na França, por exemplo, de- exame das marcas registradas anteriormente naquela mesma classe
verá requerer o registro da mesma também naquele país. em que se fez o pedido de registro, mas sim seu ramo de atividade -
Por outro lado, uma vez concedido o registro da marca pelo que muitas vezes não coincide com o segmento de mercado de ou-
INPI, esta gozará de proteção em todo o território nacional, não tras marcas idênticas ou similares já registradas naquela classe.
importando se ela é utilizada e conhecida apenas em um dos es- O princípio da especialidade também possui uma exceção, qual
tados da federação. Esse princípio é trazido pelo artigo 129 da seja, a marca de alto renome, que também será objeto de análise
LPI 6• Entretanto, há uma exceção ao princípio da territorialida- mais aprofundada no próximo capítulo.
de: a marca notoriamente conhecida, a qual será objeto de estu-
do no próximo capítulo. 2. MARCAS NOTÓRIAS
O segundo princípio é o da especialidade, que consiste em conferir à
marca proteção apenas no ramo de atividade em que foi registrada, 2.1. Notoriedade: definição e efeitos
isto é, restringe a proteção do signo distintivo aos produtos e serviços É fácil perceber que o intuito de todo produtor/comerciante é tor-
idênticos ou semelhantes aos indicados no momento do depósito. nar seu produto ou serviço conhecido dos consumidores, o que o
Com o intuito de facilitar a aplicação do referido princípio, foram cria- faz através de vultosos investimentos em propagandas, explorando
das pelo INPI as chamadas "classes", que agrupam produtos e servi- diretamente a marca aposta no seu produto ou serviço.
ços semelhantes, ou seja, destinados ao mesmo ramo de atividade. Com a veiculação de campanhas publicitárias em massa, a marca
Assim, a pe~soa que requerer junto ao INPI o registro de uma adquire um extraordinário coqhecimento do público consumidor
determinada marca deverá indicar, na própria petição, a classe que, ao se deparar com o signo distintivo, imediatamente associa-o
correspondente ao produto ou ao serviço assinalado pelo signo ao produto ou serviço por ele assinalado. Este é o exato momento
distintivo. em que pode ser reconhecida a notoriedade da marca. A notorie-
dade da marca produz efeitos tanto no âmbito jurídico como no
Uma vez deferido o registro, este conferirá à marca proteção
âmbito socioeconômico, os quais serão analisados a seguir.
apenas no ramo de atividade correspondente ao produto no qual
está aposta, podendo, portanto, existir outro registro para a A marca notória é dotada de uma reputação que nada mais é do
mesma marca, assinalando produtos ou serviços de ramo de ati- que o próprio grau elevado de conhecimento dos consumidores
vidade diferente. Exemplificativamente: é possível a coexistência ' aliado a uma transmissão de determinados valores diretamente re-
de uma mesma marca "Dove" assinalando produtos de higiene lacionados com a qualidade do produto por ela assinalado, tais
pessoal e produtos alimentícios, ou da marca "Veja" assinalan- como fama, luxo, prestígio, status social, dentre muitos outros.
do produtos de limpeza e periódicos, já que descartada a possi- Dessa forma, as marcas notórias produzem um grande poder de
bilidade de confusão entre os mesmos. O que não pode ocorrer atração do público consumidor, proporcionando ao seu titular o au-
é a duplicidade do registro de uma marca para produtos ou ser- mento das vendas de seu produto - e, conseqüentemente, as refe-
viços de um mesmo ramo de atividade, pois seria inevitável a ridas marcas adquirem um valor econômico inestimável.
existência de confusão.
É esta capacidade de atrair a clientela que faz com que a marca
Importante ressaltar, entretanto, que dentro de uma mesma classe notória seja alvo de constantes reproduções ou imitações 7, mere-
é possível que haja marcas de produtos ou serviços de ramos de ati- cendo, portanto, uma proteção jurídica maior a fim de se reprimir
vidades diferentes, assim, pode haver o registro de duas marcas o enriquecimento sem causa de terceiros que façam uso desautori-
idênticas ou similares que adotam a mesma classificação, sem que zado do sinal.
haja, no entanto, colidência entre as mesmas. Da mesma forma,
Por outro lado, da mesma forma que a notoriedade adiciona van-
pode ocorrer que marcas registradas em duas classes distintas per-
tagens à marca, trazendo benefícios ao seu titular, esta circunstân-
tençam ao mesmo ramo de atividade, gerando, portanto, confusão
cia também pode aniquilar completamente o signo distintivo. Isso
na mente dos consumidores. Isso porque as classificações são ape-
porque, através de uma notoriedade excessiva pode haver a associa-
nas uma forma adotada pelo INPI para ordenar administrativa-
ção da marca à denominação do produto, resultando na perda da
mente os registros.
distintividade do sinal, que se torna incapaz de individualizar o
Logo, percebe-se que, no momento da apreciação do pedido de re- produto. Trata-se do processo de degeneração da marca, que será
gistro de uma marca, não deve o INPI limitar-se tão somente ao analisado de forma mais aprofundada no próximo capítulo.

6. "Art. 129. A propriedade da marca adquire·se pelo registro validamente expedido, con· 7. Reprodução e imitação são dois fenômenos distintos. Enquanto a primeira constitui·se
forme as disposições desta Lei, sendo assegurado ao titular seu uso exclusivo em todo o como cópia, no todo ou em parte, da marca alheia, na imitação tem·se uma reprodução
território nacional, observado quanto às marcas coletivas e de certificação odisposto nos disfarçada, com a colocação de pequenas difer•nças, insignificantes, para driblar ajustiça.
ar~. 147 e 148". (grilos não constam do original)

46 REVISTA DA ABPI ~ N2 90 ~ SET/ÜUT 2007


A LEI DE PROPRIEDADE INDUSTRIAL EOTRATAMENTO CONFERIDO ÀS MARCAS DE ALTO RENOME ENOTORIAMENTE CONHECIDAS

2.2. Espécies de marcas notórias Vale frisar que a marca notoriamente conhecida excepciona apenas
2.2.1. Marca notoriamente conhecida o princípio da territorialidade, devendo, portanto, submeter-se ao
princípio da especialidade das marcas. Assim, a proteção de que
A marca notoriamente conhecida, como visto no capítulo ante- trata o artigo 126 da LPI restringe-se ao ramo de atividade do pro-
rior, é uma exceção ao princípio da territorialidade das marcas, duto em que a marca notoriamente conhecida está aposta, nada im-
com previsão expressa no artigo 6º bis da Convenção da União pedindo que terceiros peçam o registro de marca idêntica para pro-
de Paris (CUP), promulgada no Brasil pelo Decreto nº dutos ou serviços diferentes.
1.263/94, in verbis:
Conseqüentemente, o alto grau de conhecimento a que se referiu
Os países da União comprometem-se a recusar ou invalidar
anteriormente não deve ser constatado perante todo o público con-
o registro, quer administrativamente - se a lei do país o per-
sumidor do país em que se almeja a proteção, mas apenas perante
mitir -, quer a pedido do interessado, e a proibir o uso de
os consumidores daquele determinado produto ou serviço, ou seja,
marca de fábrica ou de comércio que constitua reprodução,
deve ser amplamente conhecida no ramo de atividade do qual per-
imitação ou tradução, suscetíveis de estabelecer confusão, de
tence o produto por ela identificado.
uma marca que a autoridade competente do país do registro
ou do uso considere que nele é notoriamente conhecida como Destaca-se que a verificação da possibilidade da marca constituir-se
sendo já marca de uma pessoa amparada pela presente Con- em notoriamente conhecida ocorrerá apenas quando outra pessoa, na
venção, e utilizada para produtos idênticos ou similares. O tentativa de aproveitar-se da fama e prestígio da marca estrangeira
mesmo sucederá quando a parte essencial da marca constitui não registrada, requerer junto ao órgão competente o seu registro.
' '
: reprodução de marca notbriamente conhecida ou imitação No entanto, inexistem critérios objetivos para a verificação e men-
suscetível de estabelecer confusão com esta. suração da notoriedade dessas marcas, sendo o meio mais eficaz a
Este dispositivo da CUP foi adotado pela Lei de Propriedade In- elaboração de pesquisas de opinião pública.
dustrial, que em seu artigo 126 inseriu, inclusive, previsão expres-
sa da possibilidade de indeferimento de ofício, pelo INPI, de 2.2.2. Marca de alto renome
marca que reproduza ou imite a marca notoriamente conhecida. 8 Por sua vez, a marca de alto renome é uma exceção ao princípio da
Assim, a marca notoriamente conhecida goza de proteção no país especialidade, com previsão expressa no artigo 125 da LPI: "Art.
em que possui elevado grau de conhecimento, sem necessidade, no 125: Àmarca registrada no Brasil considerada de alto renome será
' '
entanto, de estar previamente registrada. assegurada proteção especial, em todos os ramos de atividade".
Por exemplo, imagine-se uma marca estrangeira que não tenha sido Da simples leitura do artigo acima transcrito verifica-se que a marca
objeto de registro no Brasil, junto ao INPI, mas que é dotada de de alto renome será protegida em todos os ramos de atividade, ine-
um alto grau de conhecimento dos consumidores do produto por xistindo, assim, a possibilidade de qualquer registro, por terceiro, de
ela assinalado. Essa marca, por força do artigo 126 da LPI e do marca idêntica ou semelhante, seja qual for o seu ramo de atividade.
artigo 6º bis da CUP, gozará de proteção em território brasileiro, Logo, à marca de alto renome é conferido um âmbito de proteção
impedindo que terceiros se aproveitem da sua fama e prestígio. legal muito mais amplo do que aquele proporcionado à marca no-

8. '1\rt. I26. A marca notoriamente conhecida em seu ramo de atividade nos termos do § Iº A proteção de que trata este artigo aplica-se também às marcas de serviço.
art. 6º bis (I), da Convenção da União de Paris para Proteção da Propriedade Indu~ § 2º O INPI poderá indeferir de ofício pedido de registro de marca que reproduza ou
trial, goza de proteção especial independentemente de estar previamente depositada ou imite, no todo ou em parte, marca notoriamente conhecida."
registrada no Brasil.

PINHEIRO, NUNES, ARNAUD E SCATAMBURLO ADVOGADOS

RUA ]OSÉ BONIFÁCIO, 93 - 7° E 8° ANDARES- CEP 0 I 003-901 - SAO PAULO- SP


TEL.: (55) (11) 3291-2444- FAX: (55) (li) 3104-8037 I (55) (li) 3106-5088
E-mail: pinheironunes@pinheironunes.com.br
Home Page: www.pinheironunes.com.br

REVISTA DA ABPI - Nº 90 - SET/ÜUT 2007


4/
ALEI DE PROPRIEDADE INDUSTRIAL EOTRATAMENTO CONFERIDO ÀS MARCAS DE ALTO RENOME ENOTORIAMENTE CONHECIDAS

toriamente conhecida. Neste sentido, o elevado grau de conheci- Neste contexto, as marcas notórias assumem ainda mais importân-
mento da marca de alto renome deve existir não somente perante cia, pois têm um enorme poder de distinção, exercendo, dessa
os determinados consumidores do produto ou do serviço por ela as- forma, maior atratividade da clientela e aumentando consideravel-
sinalado, mas, sim, deve ser conhecida por todos os consumidores, mente as vendas dos produtos nos quais estão apostas.
independentemente do ramo de atividade. Ademais, às marcas dotadas de notoriedade são somados valores
Difere-se, ainda, a marca de alto renome da marca notoriamente relacionados com a qualidade dos produtos por elas assinalados,
conhecida pelo fato de que aquela, para almejar a proteção espe- tais como prestígio, fama, luxo, status etc. Por isso, tais signos dis-
cial prevista no artigo 125 da LPI, necessita de registro anterior tintivos são alvos constantes de reprodução ou imitação por tercei-
perante o Instituto Nacional da Propriedade Industrial.
Outro elemento caracteristico das marcas de alto renome é a sua repu-
ros que procuram desfrutar dessas qualidades no intuito de aumen-
tar os seus negócios. Dessa forma, as marcas notórias merecem
uma proteção especial, como foi explicitado anteriormente.
I
tação, que é a soma de um grau elevado de conhecimento com a trans-
missão de determinados valores pela marca; valores que necessariamen- Por fim, destaca-se que a notoriedade excessiva de uma marca pode
te devem estar relacionados com as qualidades do produto ou serviço. trazer algumas conseqüências negativas ao seu titular, que terá de
enfrentar os fenômenos da degeneração e da diluição de marca, que
São diversos os valores agregados a uma marca de alto renome:
serão estudados no próximo capítulo.
fama, prestígio, luxo, status social, celebridade, precisão, serieda-
de, saúde etc.
A fama de uma marca de alto renome é tamanha que, se um ter- 3. DILUIÇÃO E DEGENERAÇÃO DA l\:'IARCA NOTÓRIA
ceiro, em nítida hipótese de má-fé, apropria-se de tal signo para as- Como visto no capítulo anterior, as marcas de alto renome e noto-
sinalar produtos diferentes, provocaria prejuízos ao titular da riamente conhecidas têm enorme poder de distinção e, por conse-
marca, tendo em vista a associação causada na mente dos consumi- guinte, exercem uma forte atração de clientela proporcionando ao
dores. Por exemplo, se um fabricante de roupas utilizar a marca seu titular o aumento das vendas de seu produto.
"Kibon" para identificar os seus produtos, não resta a menor dú-
justamente por terem esse poder de atrair o público consumidor é
vida de que o consumidor, ao deparar-se com essas roupas, lembra-
que tais espécies de marcas são, indevidamente, utilizadas pelos
rá imediatamente dos sorvetes "Kibon", podendo causar enormes
concorrentes, que passam a identificar os seus produtos com mar-
prejuízos ao titular da marca. Daí a necessidade de se conferir uma
càs semelhantes ou até mesmo idênticas à marca notória, objetivan-
proteção a esse tipo de marca em todos os ramos de atividade.
do, com isso, desviar a clientela conquistada pelo titular da marca
Por fim, cumpre ressaltar que também nas marcas de alto renome de alto renome ou notoriamente conhecida.
há uma enorme dificuldade em se constatar e medir a sua notorie-
A existência de marcas idênticas ou semelhantes no mercado, pode
dade, a fim de que seja declarada como tal. Assim, o INPI editou
resultar em diluição ou degeneração da marca notória, cujo princi-
a Resolução nº 110/2004, regulamentando o procedimento para
pal efeito é a perda de sua distintividade e, portanto, de seu poder
aferição se a marca é ou não de alto renome. Tal resolução também de atração do público consumidor.
será objeto de estudo em capítulo específico.
A seguir, estudar-se-ão os fenômenos da degeneração e da diluição
e suas conseqüências jurídicas.
2.3. Importância das marcas notórias
Em mercados regidos pelos princípios da livre concorrência e iniciati- 3.I. Degeneração da marca
va, marcado pelo consumo de massa, é indiscutível a importância das
marcas de produtos ou serviços. Essa importância é retirada da pró- Degeneração é o fenômeno pelo qual uma marca perde a sua dis-
pria função essencial das marcas, qual seja: distinguir e identificar os tintividade por excesso de notoriedade, resultando na substituição
produtos e serviços idênticos ou semelhantes existentes no mercado. do nome genérico do produto pela marca que o identifica. Isso
ocorre em razão da imensa familiaridade do público consumidor
Por meio de uma exploração correta da marca, o fabricante conse- com a referida marca, que acaba sendo confundida com a denomi-
gue destacar o seu produto a fim de conquistar uma fatia cada vez nação do próprio produto.
maior do mercado e a liderança no ramo de atividade em que atua.
Nesse sentido é o conceito de degeneração de marca elaborado
As marcas também são importantes para os próprios consumido- pelo Prof. Fábio Ulhoa Coelho9:
res, pois por meio delas conseguem identificar o produto que dese-
"A degeneração de marca notória é um interessante fenômeno
jam adquirir, afastando a hipótese de erro ou confusão.
mercadológico, que se verifica quando os consumidores passam

9. COELHO, Fábio Ulhoa. Cu~o de direito comercio!. 6. ed. revista eatualizada de acor-
do com onovo código civil ealterações da LSA. São Paulo: Saraiva, 2002. v. I, p. 172.

48 REVISTA DA ABPI - N° 90 - SET/ÜUT 2007


ALEI DE PROPRIEDADE INDUSTRIAL EOTRATAMENTO CONFERIDO ÀS MARCAS DE ALTO RENOME ENOTORIAMENTE CONHECIDAS

a identificar o gênero do produto pela marca de um de seus fa- Inicialmente, o processo da degeneração, por decorrer de uma noto-
bricantes (cf. Sampaio, 1995). Marcas como aspirina, gilete e riedade excessiva, pode ser encarado como benéfico ao empresário,
fórmica encontram-se degeneradas, na medida em que deixaram que vê a sua marca largamente difundida no mercado, além de cons-
de identificar certo produto, fornecido por determinado empre- tituir-se na preferida pelo público consumidor. No entanto, após um
sário, e passaram a se referir ao gênero, incluindo produtos con- determinado lapso temporal, ocorre a completa associação da marca
correntes. A degeneração é altamente prejudicial ao empresá- à denominação do produto, resultando na perda da distintividade do
rio, porque a marca deixa de cumprir com a sua função sinal, que se torna incapaz de individualizar o produto.
essencial. Todos os investimentos em publicidade para tornar Frise-se, entretanto, que não basta a existência de uma notorieda-
notória a marca podem se perder, pelo exagero da notoriedade. de excessiva da marca para que ocorra o fenômeno da degenera-
Os investimentos para reverter o processo de degeneração em ção, sendo necessário, ainda, a associação marca-produto ocasiona-
curso, por sua vez, devem ser tão ou mais elevados, e sua eficá- da na mente do público consumidor.
cia não é garantida, podendo até mesmo contribuir para dege- O processo da degeneração leva a marca notória a perder a sua
nerar mais ainda a marca." principal função, qual seja, o poder de distinguir, de individualizar
Em complementação, afirma José Carlos Tinoco Soares 10 , que a um produto dos outros fabricados pelos concorrentes, gerando,
marca que adquire uma notoriedade excessiva, acaba por suceder assim, conseqüências jurídicas analisadas sob dois aspectos diferen-
o nome genérico do produto por ela assinalado. Por essa razão, so- tes: o aspecto objetivo e o aspecto subjetivo.
mente as marcas nominativas são passíveis de degeneração.
Isso ocorre, por exemplo, quando o consomidor confunde o próprio : 3.1.1. Degeneração sob o aspecto objetivo
produto com a marca que o identifica e, dessa forma, aponta a mer- Os adeptos da teoria que enfrenta o problema da degeneração da
cadoria desejada através da própria marca, sem distinguir os bens marca notória sob o aspecto objetivo defendem que o referido
dos concorrentes. sinal, uma vez degenerado, perde totalmente a sua capacidade
distintiva e, conseqüentemente, deixa de exercer a sua função,
Exemplificativamente: um estudante, ao dirigir-se à central de
qual seja, individualizar um produto frente aos demais existentes
cópias de sua universidade, solicita ao atendente que tire duas
no mercado.
"xerox" 11 de um documento, denominando o produto pela marca
do maquinário destinado à extração de cópias. O estudante não Portanto, ao perder a sua função distintiva, a marca deixa de exis-
está interessado no fato de que ta;s cópias reprográficas seja~ tir juridicamente, em raião do desaparecimento do pr~mordial re-
obtidas através de uma máquina da marca Xerox ou Lexmark, quisito de sua validade.
por exemplo. Essa teoria fundamenta-se na proteção do interesse público e do
Vários são os exemplos de marcas que são normalmente utilizadas comércio, procurando afastar a ocorrência de um monopólio inde-
como a própria denominação dos produtos que identificam: Catu- vido pelo titular da marca, por meio do uso exclusivo do signo que
piry, Pirex, Cotonete, Bombril, Chester, Fórmica, Chiclete, Gillet- passou a denominar o gênero do produto.
te, Lycra, Celofane, Keds, Xerox, Durex, Durepoxi, Band-aid, Dessa forma, ocorre a perda do direito marcário pelo seu titular,
Aspirina, Nuggets, Colomba Pascal, ]eep, Walkman, lsopor, Vic- que se vê impedido de proibir que terceiros utilizem o signo, por
trola, Tupperware, Granola, Modess, entre outras. ele registrado, para indicarem produtos ou serviços diversos.

10. SOARES, José Carlos Tinoco. Direito de morcas. São Paulo: Atlas, 1968. p. 104- II. Marca nominativa registrada na classe NCL 09.45-55, sob o nº 004.099.818, em
1®. . nome de Xerox Corporation.

VlElRA DE MELLO
ADVOGADOS

Av. Rio Branco, 277 8º Andar Rio de Janeiro 20047-900 RJ Brasil


Te!.: (21) 2524.1221 Fax: (21) 2544.8224 mail@vieirademello.com.br
www.vieirademello.com.br

REVISTA DA ABP! - N° 90- SET/ÜUT 2007


ALEI DE PROPRIEDADE INDUSTRIAL EOTRATAMENTO CONFERIDO ÀS MARCAS DE ALTO RENOME ENOTORIAMENTE CONHECIDAS

A jurisprudência já se pronunciou no sentido de permitir a utiliza- Não importa se o produto identificado pela marca semelhante é
ção de termos degenerados por terceiros 12, aduzindo, inclusive, a im- ou não diferente do produto assinalado pela marca original, pois
possibilidade de tais signos continuarem a figurar como marcas 1\ o objetivo dos concorrentes é "pegar carona" na fama e prestígio
tendo em vista que já se encontram até mesmo dicionarizados. conquistados pela marca notória, a fim de aumentar as vendas
No entanto, como no Brasil vige o sistema atributivo 14 de aqui- dos seus produtos.
sição das marcas, há uma crítica doutrinária quanto à aplicação Com isso, o mercado é invadido por marcas semelhantes ou até
das conclusões da teoria exposta, que causariam graves prejuízos mesmo idênticas às marcas de alto renome ou notoriamente conhe-
ao titular da marca que não teria concorrido para o fenômeno da cidas, que passarão a sofrer um desgaste sem tamanho, resultando
degeneração. na perda total de sua distintividade. Neste sentido, pondera José
Antonio Faria Correa que "quanto mais se incorpora a marca de
3.1.2. Degeneração sob o aspecto subjetivo terceiro a outras, de vários titulares, mais desgastado, mais desva-
Enquanto sob o aspecto objetivo o processo de degeneração decor- lorizado se torna o sinal distintivo" 15 •
re por vontade alheia a do titular, sob a óptica da teoria que anali- Essa imitação perpetrada pelos concorrentes propicia confusão e
sa o aspecto subjetivo, será a vontade do titular que contribuirá associação indevida na mente do consumidor, induzindo-o a erro,
para a efetivação do referido fenômeno. além de acarretar o desgaste e a perda do poder distintivo da
Segundo esta teoria, a degeneração ocorrerá de dois modos dife- marca original.
rentes. No primeiro, tem-s~ a degeneração da marca notória causa- Dessa forma, graves prejuízos são causados ~ imagem e reputação
da pela vontade do titular que, por meio de um comportamento do signo distintivo, bem como a seu titular, que terá direito de ação
equivocado, concorre para a efetivação do fenômeno em estudo. de responsabilidade civil contra terceiros que utilizem a sua marca.
Isso ocorre quando, por exemplo, o próprio comerciante veicula na
Na segunda hipótese, temos a diluição da marca notória por uso
mídia campanhas publicitárias que fazem associação entre a sua
do seu próprio titular que, embora não tenha a intenção, acaba por
marca e a denominação do produto por ela assinalado. Por exem-
diluí-lo. Tal fato é ocasionado por uma estratégia errada de marke-
plo: "o melhor danone é o da Danone"; "chester só da Perdigão"
ting do próprio comerciante, que assinala diversas espécies de pro-
ou "a colomba pascal é um bolo de páscoa".
dutos com a mesma marca notória, ocorrendo a diluição da sua ca-
No segundo modo, o c~merciante, ao invés de proteg~r a sua marca pacidade ~istintiva.
notória por todos os meios possíveis quando verificado o início da
A fim de ilustrar esse fenômeno, deve-se imaginar a seguinte si-
degeneração do signo, nada faz para impedir a vulgarização de sua
tuação: se um empresário utiliza a marca Kibon para indicar,
marca. E assim, ao não atuar de forma defensiva, o empresário de-
além de sorvetes, camisetas, motocicletas, televisões, móveis e ta-
verá suportar os efeitos decorrentes da degeneração de sua marca.
petes, o consumidor não mais associará imediatamente a marca
Kibon com sorvetes.
3.2. Diluição da marca
Assim, a marca notória perde a sua característica de unicidade, so-
A diluição da marca notória também é um fenômeno que acarreta frendo também um forte desgaste, que resultará na diluição da sua
a perda de distintividade da marca e pode ocorrer de duas formas capacidade de distinção, por culpa do próprio comerciante.
diferentes. A primeira, por meio de seu uso desautorizado por ter-
ceiros e, a segunda, por uso do próprio titular da marca. Enquanto o processo da degeneração atinge apenas as marcas no-
tórias nominativas, o fenômeno da diluição alcança as marcas no-
Na primeira hipótese, por possuírem grande poder de atração da tórias tanto nominativas como figurativas e mistas, como por exem-
clientela, as marcas notórias são desejadas pela concorrência, que plo, um uso desautorizado e contínuo de um símbolo considerado
a reproduz ou imita para identificar o seu produto. marca notória, enfraquecendo o seu poder distintivo.

12. "A ré não usa a expressão como marca. Usa-a como o homem comum usa, isto é, para 13. "Afigura-se-nos que o resguardo da palavra fórmica como marca não é mais possível, vez
indicar vôo fretado. Épalavra que ingressou no uso comum da população. Ao con- que incontrolavelmente do domínio público. Significa 'material fenólico, usado como
trário do que diz a apelante, a expressão consta não só da Enciclopédia Delta La- material isolante de eletricidade, revestimento de móveis', cf. Dicionário Barsa da Lín-
rousse, que não seria dicionário propriamente dito, mas da edição recente (1986) gua Portuguesa ilustrado (apud fls. 107)". RE 107.892- PR, Iª Turma do STF, rei.
do mais abalizado dicionário moderno da língua portuguesa (Aurélio, p. 392), com Min. Rafael Mayer, j. 23.05.1986, pub. DJ 27.06.1986.
o sentido de 'avião alugado', o que expressa o sentido acima, de vôo fretado. (... ) 14. Através do sistema atributivo, adquire-se a propriedade da marca por meio da conces-
Também não favorece a autora o fato de ser antigo o registro de sua marca. A ver- são, pelo órgão competente, do registro válido. Em posse de tal registro, o titular é im-
dade é que o ingresso da expressão se deu de forma irreversível, a ponto de já cons- buído de todas as garantias inerentes à propriedade da marca, não se podendo aceitar
tar no melhor dicionário de língua portuguesa. Para esse ingresso a contribuição da a perda da propriedade por simples degeneração do signo distintivo.
autora não foi, por certo, decisiva". Apelação Cível nº I06.567-1, TJSP, 8ª Câma- 15. CORREA, José Antonio Faria. "O Tratamento das Marcas de Alto Renome e das
ra, rei. Des. José Osório, j. 28.12.1988. Marcas Notoriamente Conhecidas na Lei 9.279/96". In: Revista da ABP/. n. 28,
maio/jun., 1997. p. 37.

REVISTA DA ABPI - N° 90 - SET/ÜUT 2007


ALEI DE PROPRIEDADE INDUSTRIAL EOTRATAMENTO CONFERIDO ÀS MARCAS DE ALTO RENOME ENOTORIAMENTE CONHECIDAS

No próximo capítulo, estudar-se-ão os meios aptos a tutelar os Os meios para proteção dos quais dispõe o titular de uma marca
direitos dos titulares das marcas de alto renome e notoriamente comum e o titular de uma marca de alto renome são os mesmos,
conhecidas, mais precisamente, a tutela jurisdicional atribuída com a ressalva de que este último pode pleitear a sua proteção em
aos referidos sinais. todos os ramos de atividade, enquanto o primeiro pleiteará apenas
no segmento de mercado em que atua.
4. TUTELA JURISDICIONAL DAS MARCAS O titular da marca, para impedir o uso de marca idêntica ou seme-
lhante por terceiros, poderá socorrer-se do Poder judiciário, ajui-
Neste capítulo, estudar-se-ão os direitos adquiridos pelo titular de zando ações específicas que serão estudadas a seguir. 16
uma marca devidamente registrada, assim como os meios aptos a
impedir o seu uso desautorizado por terceiros. 4.2. Ação anulatória de registro de marca
De acordo com o caput do artigo 165 da LPI, "é nulo o registro
4.1. Direitos provenientes do registro da marca
que for concedido em desacordo com as disposições desta Lei".
Como visto no capítulo 3, subseção 3.1.1 , o sistema de aquisição Assim, não pode haver registro de marca que se enquadre no rol
do direito sobre a marca vigente no Brasil é o atributivo, que, so- de proibições do artigo 124 da LPI, dentre as quais se destaca a
mente após obter o registro validamente expedido pelo INPI, o ti- proibição contida no inciso XIX do citado artigo (reprodução ou
tular poderá gozar dos direitos sobre a sua marca. imitação de marca alheia registrada).
O principal direi\o adquirido com o registro da marca é o de Logo, o titular de marca anteriormente registrada poderá requerer ,
propriedade, o qual confere ao titular o seu uso exclusivo em a nulidade do registro concedido para uma marca que reproduza
todo o território nacional, conforme preconizado pelo artigo 129 ou imite o seu sinal, com fundamento no artigo 124, XIX, LPI.
da LPI. Aqui, é importante ter em mente o âmbito de proteção de que dis-
O artigo 130, I a III, da LPI traz outros direitos conferidos ao ti- põe um sinal comum e uma marca de alto renome, como estudado
tular de marca registrada, quais sejam: o de ceder o seu registro, o na seção 4.I deste capítulo.
de licenciar o uso de sua marca e o de zelar pela integridade mate- A nulidade do registro de marca idêntica ou semelhante poderá ser
rial e pela reputação do seu sinal distintivo. pedida nos âmbitos administrativo e judicial. No primeiro, a parte
No entanto, o,direito fundamental é o de exdusividade na utiliza- interessada deverá instaurar o devido processo de nulidade, pe~an­
ção do signo distintivo, no qual está implícito odireito do titular de te o INPI, no prazo de 180 (cento e oitenta) dias, contados da
impedir que terceiros não autorizados façam uso de marca idêntica data da expedição do certificado de registro, nos termos do artigo
ou semelhante para assinalar produtos ou serviços idênticos, com 169 da LPI.
base no artigo 124, XIX, LPI. No entanto, o que interessa ao presente estudo é a tutela jurisdicio-
Por sua vez, o titular de uma marca de alto renome gozará do di- nal das marcas e, portanto, analisar-se-ão a seguir os aspectos im-
reito de impedir que terceiros utilizem marca idêntica ou semelhan- portantes da ação anulatória de registro de marca, que independe
te em qualquer outro ramo de atividade, por força do artigo 125 da do recurso administrativo, ou seja, não é necessário esgotar as ins-
LPI, pois, como visto no capítulo 2, trata-se de uma exceção ao tâncias administrativas para viabilizar a sua propositura, por força
princípio da especialidade das marcas. do que dispõe o artigo 5º, Xf..X\1 da Constituição Federal.

I6. Otitular da marca pode tentar uma solução amigável antes de iniciar o litígio, por meio prova, também, do interesse de agir do titular da marca, caso não seja obtida a conci-
do envio de uma notificação extrajudicial ou jud"Icial. Este.documento poderá servir de liação e seja necessário ingressar com uma me<I'Ida jud.Icial.

Gusmão~ Labrunie
Propriedade Intelectual

Av. Brigadeiro Faria Lima, 1485 - 12º andar- 01480-000 - São Paulo - SP
Fone: 00 55 11 - 21.49.45.00 Fax: 00 55 11 - 38.19.04.55
Site: www.glpi.com.br email: glpi@glpi.com.br
"1!1\:':"ff~~r·..,_! ..... ·'n"' "'~
~I;, ' •- •

REVISTA DA ABPI - Nº 90 - SET/0UT 2007 ~it.~d '·;'. íI


ALEI DE PROPRIEDADE INDUSTRIAL EOTRATAMENTO CONFERIDO ÀS MARCAS DE ALTO RENOME ENOTORIAMENTE CONHECIDAS

4.2.1. Prazo prescricional e legitimidade o que aconselha não seja retardada a prestação jurisdicional.
A ação de nulidade de registro de marca deverá ser proposta no (Agravo de Instrumento 35148/RJ, Relator Des. Federal]. E.
prazo de 05 (cinco) anos, contados da data de sua concessão, sob Carreira Alvim, Diário da Justiça- Seção 2, p. 84, 11.03.99)
pena de prescrição, 17 como reza o artigo 174 da LPI, por pessoa que
4.2.4. Antecipação dos efeitos da tutela jurisdicional
possua legítimo interesse ou pelo próprio INPI. No caso de ação vi-
sando anular registro de marca idêntica ou semelhante, terá legítimo Outro aspecto importante da ação anulatória de registro de marca
interesse o titular da marca-objeto da reprodução ou imitação. é a possibilidade de se antecipar os efeitos da tutela para o fim de
O titular do registro da marca cuja anulação é pretendida, assim suspender os efeitos do registro que se pretende anular ou até
como o próprio INPI, tem legitimidade passiva nesta demanda. mesmo suspender o uso da marca pelo seu titular com o intuito de
Este, quando não for autor, integrará o pólo passivo da demanda, evitar a ocorrência de danos irreparáveis ao titular da marca que foi
tendo em vista que, nas palavras de Lélio Denícoli Schmidt, "não reproduzida ou imitada. Tal previsão está contida no artigo 173, §
é só o Direito de Propriedade que integra a lide, mas também a le- único, LPI 19, e os requisitos para a concessão da liminar são os
galidade do ato administrativo que o criou" 18 • mesmos da lei processual civil (artigos 273 e 461).

4.2.2. competência 4.3. Ação de abstenção de uso de marca


A competência para processar e julgar a ação de nulidade de registro Como visto na seção 4.1, o registro validamente expedido confere ao
de marca é da justiça Federal, já que o INPI é uma autarquia federal titular da marca o seu uso exclusivo e, portanto, o direito de impedir
e, por cbnseguinte, possui foro privilegiado (artigo 175, LPI). A dis- • que terceiro desautorizado faça uso de sinal idêntico ou s'emelhante.
cussão na jurisprudência é quanto ao fato da ação ser proposta na sub-
A fim de impedir a continuidade do uso desautorizado por terceiro,
seção da justiça Federal do Rio de Janeiro -local da sede do INPI-,
o titular da marca reproduzida ou imitada poderá valer-se de ação de
ou no foro do domicílio do co-réu, predominando a primeira posição,
obrigação de não fazer, com fundamento no artigo 461 do Código de
com fundamento no artigo 94, § 4º, do Código de Processo Civil.
Processo Civil, objetivando a abstenção de uso do sinal contrafeito.
4.2.3. Efeitos da sentença Esta ação terá fundamento, também, nos artigos 124, XIX- que
Quanto à eficácia da sentença que declara a nulidade do registro impede o registro de marca objeto de reprodução ou imitação de
de,marca, esta será ex tunc, uma vez que a nulidade é absoluta e marca alheia anteriormente registrada -, e 130, III, da LPF 0•
erga omnes, pois trata-se de um direito real de propriedade. Pode-se, ainda, fund~mentá-la na prática de conco~rência desleal,
prevista no artigo 195, III, da LPF 1

Neste sentido, cumpre ressaltar que, face à retroatividade da sen-


tença que decreta a nulidade do registro, não se pode considerá-lo 4.3.1. Legitimidade
válido nem mesmo no intervalo de tempo entre a sua concessão e a
cessação de sua eficácia e, por conseguinte, o titular do registro A ação cominatória deverá ser proposta pelo titular da marca an-
anulado deverá indenizar o terceiro prejudicado por perdas e danos teriormente registrada, que é prejudicado pela reprodução ou imi-
ocasionados inclusive nesse período. tação de seu sinal. Por sua vez, deve figurar no pólo passivo da de-
manda o terceiro que pratica a contrafação, bem como seus
No entanto, o titular do registro anulado, se não agiu de má-fé ao
eventuais representantes comerciais.
depositar o pedido de registro da marca, terá direito de regresso em
face do INPI (artigo 37 da Constituição Federal), que possui res- 4.3.2. Competência
ponsabilidade objetiva por ter concedido um registro ilegal. Sobre
a responsabilização do INPI já se manifestou o Tribunal Regional A competência para processar e julgar a ação de abstenção de uso
Federal da Segunda Região: de marca é da Justiça Estadual, tendo em vista que o INPI não in-
Além disso, tendo a agravante realizado investimentos na área, tegra o pólo passivo desta demanda. Será competente o foro do do-
fundada num ato autorizado pelo INPI, poderá, eventualmente, micílio do réu, no entanto, deve-se atentar para a regra especial
voltar-se contra a autarquia para haver reparação dos prejuízos, contida no artigo 100, V, "a", do Código de Processo CiviP,

17. No entanto, será imprescritível a ação anulatória quando presentes os seguintes requisi- 20. 'Art. 130. Ao titular da marca ou ao depositante é ainda assegurado o direito de:
tos: a notoriedade do sinal impeditivo, a má-fé e a ilicitude do registro. (... ) III- zelar pela sua integridade mateiial ou reputação".
18. SCHMIDT, Lélio Denícoli. "O INPI nas ações de nulidade de marca ou patente: as- 21. 'Art. 195. Comete crime de concorrência desleal quem:
sistente, litisconsorte ou fiscal da lei?". In: Revista da ABPI. n. 26, jan./fev. 1997. p. 37. (...) III -emprega meio fraudulento, para desviar, em proveito próprio ou alheio, clien-
19. "Art. 173. A ação de nulidade poderá ser proposta pelo INPI ou por qualquer pessoa tela de outrem".
com legítimo interesse. 22. "Art. I00. Écompetente o foro:
Parágrafo único. O juiz poderá, nos autos da ação de nulidade, determinar liminarmen- (... ) V- do lugar do ato ou fato:
te a suspensão dos efeitos do registro e do uso da marca, atendidos os requisitos proces- a) para a ação de reparação do dano (. .. )".
suais próprios".

REVISTA DA ABPI - N° 90 - SET/ÜUT 2007


ALEI DE PROPRIEDADE INDUSTRIAL EOTRATAMENTO CONFERIDO ÀS MARCAS DE ALTO RENOME ENOTORIAMENTE CONHECIDAS

quando houver cumulação do pedido de abstenção de uso com pe- Discorrendo justamente sobre a necessidade da concessão de tute-
dido de indenização por perdas e danos. la antecipada em ações versando sobre propriedade industrial, o
professor Humberto Theodoro ]r. assim se manifestou:
4.3.3. Efeitos da sentença "No caso das ações em torno da propriedade industrial, por
A sentença que julga a ação de abstenção de uso procedente tem exemplo, de nada valeria, ou pouco valeria, proibir o uso do in-
por objetivo condenar o réu a cessar o uso da reprodução ou da vento patenteado ou da marca registrada se ao longo do demo-
imitação da marca alheia anteriormente registrada, sob pena de rado prazo da marcha processual o réu pudesse impunemente
multa pecuniária diária e demais medidas de apoio previstas no continuar a fazer o uso criminoso e a dispor livremente do pro-
artigo 46 I do Código de Processo Civil (busca e apreensão, in- duto de seu delito" 26 •
terdição de estabelecimento etc.), no caso de descumprimento A antecipação dos efeitos da tutela pode ser até mesmo na forma
do mandamento. de busca e apreensão dos produtos que contenham a marca contra-
feita, em conformidade com o artigo 209, § 2º, LPI, a fim de se
4.3.4. Antecipação dos efeitos da tutela jurisdicional
evitar prejuízos irreparáveis ao titular do sinal distintivo e à própria
É possível formular nos autos da ação de abstenção de uso de reputação deste.
marca o pedido de antecipação dos efeitos da tutela, tendo em vista
que o uso de marca idêntica ou semelhante por terceiro, por confi- 4.3.5. Perdas e danos
gurar ato de desvio de clientela (concorrência desleal), ocasiona Com o pedido de abstenção de uso de marca pode-se cumular o
danos de difícil reparação ao titular da marca que foi reproduzida :pedido de indenização por perdas e danos. O artigo 20927 da
ou imitada.' Além do desvio de clientela, outro dano com o qual se LPI prevê o direito do prejudicado de haver reparação pelas per-
depara o titular é a degradação de sua marca, quando utilizada rei- das e danos sofridos, em razão de prejuízos causados por atos de
teradamente por terceiros. violação marcária e prática de concorrência desleal. Os danos
Esse requerimento, que tem previsão expressa tanto no Código de materiais advêm em razão do ataque ao poder atrativo da marca
Processo Civil, em seus artigos 273, f2l e 46 I, § 3º2\ como no ar- anteriormente registrada, pois a imitação indevida de tal signo
tigo 209, § Iº da LPF 5, objetiva a imediata abstenção da contra- gera a sua banalização.
fação, sob pena de incidência de multa pecuniária diária, em caso Como visto, a marca possui enorme valor econômico, face à sua
de descumprimento da medida. distintividade. Se cessa essa distintividade em razão dàs reprodu-

23. '1\rt. 273. O juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar, total ou parcialmente, os 25. '1\rt. 209. ( .. )
efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde que, prova inequívoca, se conven- § Iº Poderá o juiz, nos autos da própria ação, para evitar dano irreparável ou de difí-
ça da verossimilhança da alegação e: cil reparação, determinar liminarmente a sustação da violação ou de ato que a enseje,
I -haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação; ou (__ _)" antes da citação do réu, mediante, caso julgue necessário, caução em dinheiro ou garan·
24. '1\rt. 46 I. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou tia fidejussória".
não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou, se procedente o pe- 26. Painel sobre marcas - Tutela Jurisdicional da Propriedade Industrial. In: Anais do V
dido, determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do Seminário Nacional de Propriedade Industrial, Belo Horizonte, ABPI, 7 e 8 de outu-
adimplemento. bro de 1985.
§ 3º Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio de inefi- 27. "Art. 209. Fica ressalvado ao prejudicado o direito de haver perdas e danos em ressar-
cácia do provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou mediante cimento de prejuízos causados por atos de violação de direitos de propriedade industrial
justificação prévia, citado o réu. A medida liminar poderá ser revogada ou modificada, e atos de concorrência desleal não previstos nesta Lei, tendentes a prejudicar a reputa-
a qualquer tempo, em decisão fundamentada". ção ou os negócios alheios, a criar confusão entre estabelecimentos comerciais, índus·
triais ou prestadores de serviço, ou entre os produtos e serviços postos no comércio",

))
REVISTA DA ABPI - N° 90 - 5ET/ÜUT 2007
ALEI DE PROPRIEDADE INDUSTRIAL EOTRATAMENTO CONFERIDO ÀS MARCAS DE ALTO RENOME ENOTORIAMENTE CONHECIDAS

ções e imitações perpetradas por terceiros, todo o investimento feito Há uma ampla discussão na doutrina sobre o cabimento da aná-
pelo titular da marca terá sido em vão, sendo necessária a devida lise incidenter tantum da nulidade do registro de marca. No en-
restituição de referidos gastos. tanto, no presente estudo adota-se a posição de que, tratando-se
Os danos morais, por sua vez, advêm da diluição e do enfraqueci- a nulidade, neste caso, de uma causa prejudicial ao deslinde do
mento causados à marca em vista de sua contrafação, o que abala feito, pode ser apreciada e decidida pelo magistrado, não sendo
consideravelmente a imagem que havia construído no mercado con- necessário, portanto, a propositura de ação específica no foro da
sumidor, como leciona Maurício Lopes de Oliveira28 • Justiça Federal.
Por fim, vale frisar que a simples contrafação da marca e a prática Isso porque, em razão do poder de cognição que possuem os juí-
de concorrência desleal geram o direito do titular à indenização por zes, estes devem conhecer e julgar todas as matérias preliminares
perdas e danos materiais e morais, como lecionado pelo tratadista ou prejudiciais argüidas pelas partes. Por outro lado, se a nulidade
Gama Cerqueira: do registro não constituir tão somente a causa de pedir ou o funda-
"A simples violação do direito obriga à satisfação do mento de defesa, mas sim o próprio pedido, não poderá o juiz de-
dano, na forma do artigo 159 do CC, não sendo, pois, neces- clarar essa nulidade, que deve ser objeto de ação anulatória peran-
sário, a nosso ver, que o autor faça a prova dos prejuízos no curso te a Justiça Federal.
da ação. Verificada a infração, a ação deve ser julgada Tratando-se de uma questão prejudicial, a decretação da nulidade
procedente, condenando-se o réu a indenizar os danos do registro da marca do autor serve apenas para fundamentar a im-
emergentes e os lucros cessantes (CC, artigo 1059), que procedência da ação de abstenção de uso e, portanto, não é passí-
' se apurarem na execução. E não havendo elementos que bastem vel de formar coisa :julgada.
para se fixar o quantum dos prejuízos sofridos, a indenização de-
verá ser fixada por meio de arbitramento, de acordo com o arti- 4.4. Ação penal
go 153 do CC.
A reprodução ou imitação de marca registrada, nos termos do ar-
(...) o fundamento da responsabilidade civil por atos ilícitos não tigo 189, P2, LPI, constitui crime contra registro de marca, apena-
se encontra no dano causado, mas no dolo ou culpa do agente,
do de 03 (três) meses a OI (um) ano de detenção ou multa.
tanto que a simples violação do direito alheio, indepen·
dente de prejuízo, é bastante para acarretá-la. (... ) Por O artigo 190, P, LPI, por sua vez, preconiza que também incor-
outro lado, pode-se sustentar que os atos de concorrência desleal rem em crime aontra registro de marca o importador, o exportador
';
violam o direito da concorrente de não ser molestada nas suas re- e ovendedor de produtos assinalados com marca indevidamente re-
lações com a clientela pelas manobras desleais de um competidor produzida ou imitada.
inescrupuloso, dispensando assim a prova do prejuízo" 29 . Logo, uma vez que a reprodução ou imitação de marca registrada
(grifos não constam do original) constitui crime contra a Propriedade Industrial, é possível o ajuiza-
O entendimento acima exposto também vem sendo adotado pelos mento de ação penal contra o infrator, a fim de puni-lo pela sua
nossos Tribunais. 30 conduta. A seguir, analisar-se-ão alguns aspectos importantes da
ação penal respectiva a estes crimes.
4.3.6. Nulidade incidental do registro de marca
Na ação de abstenção de uso é possível que o réu sustente como 4.4.1. Legitimados
matéria de defesa a nulidade do registro de marca do autor. Esse Os crimes contra o registro de marca somente se procedem median-
procedimento tem previsão expressa no artigo 205 31 da LPI para te queixa do próprio ofendido, ou seja, do titular da marca regis-
as ações penais, sendo estendido também às ações cíveis. trada que está sendo objeto de contrafação. Importante frisar que o

28. ''A obrigação do contrafator de marca famosa em ressarcir o legítimo titular do registro 31. ''Art. 205. Poderá constituir matéria de defesa na ação penal a alegação de nulidade da
por prejuízo à imagem e conseqüente dano moral". In: Revista da ABPI. n. 41, patente ou registro em que a ação se fundar. A absolvição do réu, entretanto, não im-
jul./ago., 1999. portará a nulidade da patente ou do registro, que só poderá ser demandada pela ação
29. Ob. cit., p. 1130 e 1288. competente".
30. "No caso, a imitação dos produtos Reebok e a atitude da suplicada com a pura e sim- 32. "Art. 189. Comete crime contra registro de marca quem:
ples comercialização dos produtos contrafeitos, assumindo o risco da venda dos mes- I - reproduz, sem autorização do titular, no todo ou em parte, marca registrada, ou
mos, causou danos materiais e morais passíveis de indenização, pouco importando se a imita-a de modo que possa induzir confusão; OJ
venda dos produtos contrafeitos se deu em pequena ou larga escala, eis que o evento, (... ) Pena- detenção, de 3 (três) meses a I (um) ano, ou multa".
por si só, gera a presunção de prejuízo, não logrando a parte ré elidir tal 33. "Art. 190. Comete crime contra registro de marca quem importa, exporta, vende, ofe-
presunção de veracidade, nos termos do art. !59 do C. Civil, eis que presen- rece ou expõe à venda, oculta ou tem em estoque:
tes a conduta da ré, o dano sofrido pelas autoras e o nexo causal entre a conduta e ore- I - produto assinalado com marca ilicitamente reproduzida ou imitada, de outrem, no
sultado". (grifos não constam do originai) TJRJ- Relator: Jorge Luiz Habib- 18ª Câ- todo ou em parte; ou
mara Cível- Apelação Cível n9 2414/99- j. 24.03.1999. (... ) Pena - detenção, de I (um) a 3 (três) meses, ou multa".

REVISTA DA ABPI - Nº 90 - SET/ÜUT 2007


ALEI DE PROPRIEDADE INDUSTRIAL EOTRATAMENTO CONFERIDO ÀS MARCAS DE ALTO RENOME ENOTORIAMENTE CONHECIDAS

titular deverá juntar aos autos a prova de seu domínio (a certidão mesmo foro competente para apreciar a queixa, uma medida prepara-
de registro expedida pelo INPI). tória criminal de busca e apreensão, com base no artigo 202 da LPI.
Por sua vez, deve a ação penal ser proposta em face dos infratores, Tal medida se procede sem a intervenção do infrator, face ao caráter
isto é, daqueles que praticam a reprodução ou imitação da marca sigiloso que possui, a fim de evitar a frustração da diligência de busca
ou, ainda, que importam, exportam, vendem, oferecem àvenda ou e apreensão. Realizada esta diligência, os 02 peritos que a acompa-
que têm em estoque os produtos assinalados com a marca indevi- nharam darão início à elaboração do laudo pericial que concluirá
damente reproduzida ou imitada. pela identidade ou não das marcas em cotejo, devendo entregá-lo em
Se o infrator for pessoa jurídica, a ação deverá ser intentada con- juízo no prazo de 03 dias, conforme prescreve o artigo 527 34 do Có-
tra os seus sócios ou diretores. digo de Processo Penal. Com a entrega do laudo, os autos são con-
clusos ao juiz para homologação do parecer técnico dos peritos.
4.4.2. Competência Assim, com base nesta prova produzida, pode o ofendido, no prazo
de 30 dias, apresentar queixa em face do contrafator.
O querelante poderá escolher entre o foro do domicílio do réu e o
foro do local onde foi praticada a infração para intentar a ação Estes são os principais aparatos que proporcionam ao titular de
penal privada. uma marca registrada a sua tutela jurisdicional a fim de coibir o uso
desautorizado por terceiro.
4.4.3. Prazo prescricional
O prazo prescricional para o ofendido apresentar a queixa é de 06 5. DECLARAÇÃO DO Á~TO RENOME NA LEGISLAÇÃO ,ATUAL
(seis): meses, contados a partir da data em que teve conhecimentÓ
da autoria da contrafação, em razão de tais crimes serem de menor 5.1. Lei nQ 5. 772/71: registro especial
potencial ofensivo. Na vigência do antigo Código da Propriedade Industrial (CP!),
Se realizada diligência preliminar de busca e apreensão, o prazo Lei nº 5.772/71, as marcas afamadas, então denominadas marcas
para apresentação da queixa prescreve 30 dias após a homologa- notórias 3S, também gozavam de uma proteção especial, nos termos
ção do laudo pericial que constatou a contrafação. No entanto, se do artigo 67 do CP!, in verbis:
iniciada essa diligência preliminar após o conhecimento da autoria Art. 67: A marca considerada notória no Brasil, registrada nos
dos fatos infracionais, este prazo de 30 dias deverá estar inserto no termos e para os ~feitos deste Código, terá asse,gurada proteção
p~ríodo de seis meses acima ref~rido. ' especial, em todas as classes, mantido o registro próprio para im-
O crime contra registro de marca, por ser de menor potencial ofen- pedir o de outra que a reproduza ou imite, no todo ou em parte,
sivo, será apreciado e julgado pelo Juizado Especial Criminal. desde que haja possibilidade de confusão quanto à origem dos
produtos, mercadorias ou serviços ou ainda prejuízo para a re-
4.4.4. Diligências preliminares putação da marca.
Com o intuito de criar as provas necessárias para a propositura da Com base na referida norma, o titular de uma marca com enorme
ação penal, o titular da marca registrada poderá ajuizar, perante o poder distintivo podia requerer, perante o INPI, a declaração de

34. 'flrt. 527. A diligência de busca ou de apreensão será realizada por dois peritos nomea- 35. A denominação "marca notória", adotada pela revogada Lei nº 5.772/71, foi substituí-
dos pelo juiz, que verificarão a existência de fundamento para a apreensão, e quer esla da pela expressão "marca de alio renome", prevista no artigo 125 da Lei nº 9.279/96
se realize, quer não, o laudo pericial será apresentado dentro de 3 (três) dias após o en- (LPI). O antigo Código da Propridade Industrial não !ralava das marcas noloriamen-
cerramento da diligência". le conhecidas.



Marcas e Patentes
Transferência de Tecnologia
CRUZEIRO/NEWMARC
• Contratos e Licenças PROPRIEDADE INTELECTUAL
• Direito Autoral AGENTE DA PROPRIEDADE: INTELECTUAL DESDE 1934

• Proteção de Software
• Nomes de Domínio
• Concorrência Desleal
Av. Paulista, 1499 • 18° andar
01311·928 ·São Paulo, SP • Brasil
e-mail: cruzeiro@newmarc.com.br Fone: +55 11 3170-1122
Internet: www.newmarc.com.br Fax: +55 11 3170-1120

))
REVISTA DA ABPI - N" 90 - SET/ÜUT 2007
--------------~

A LEI DE PROPRIEDADE INDUSTRIAL EOTRATAMENTO CONFERIDO ÀS MARCAS DE ALTO RENOME ENOTORIAMENTE CONHECIDAS

notoriedade do seu signo, o que, caso deferido o seu pedido, con- de defesa, quando da oposição a pedido de registro de marca de
feria-lhe um registro especial apto a impedir que terceiros obtives- terceiro ou do processo administrativo de nulidade de registro de
sem o registro de marcas idênticas ou semelhantes em qualquer marca de terceiro, em tramitação no INPI, nos termos e prazos
outro ramo de atividade. previstos nos artigos 158, caput, e 168 da LPI, respectivamente.
Esse registro especial ficava em vigor até o prazo de validade do re- Assim, apenas quando houver o depósito, por terceiro, de marca
gistro da marca. No entanto, ao titular, quando solicitasse a pror- idêntica ou semelhante, é que o titular de um sinal afamado pode-
rogação da sua marca, também cabia requerer a prorrogação da de- rá invocar a proteção prevista no artigo 125 da LPI, incidental-
claração de notoriedade já concedida. mente, ao apresentar oposição a esse pedido de registro. O INPI
Com o advento no Brasil da Lei nº 9.279/96, não obstante haver estabelece no artigo 5º da referida Resolução que o requerente da
previsão expressa acerca da proteção especial conferida às marcas proteção especial deverá instruir o ato de oposição ou do processo
de alto renome (artigo 125), não é mais possível ao titular de administrativo de nulidade com diversos documentos37 capazes de
uma marca afamada requerer, no âmbito administrativo, a decla- comprovar o alto renome de sua marca.
ração do alto renome de seu sinal distintivo, nem a prorrogação Por sua vez, o reconhecimento do alto renome implicará no indeferi-
das declarações concedidas sob a égide do CP!, como preconiza mento do pedido de registro da marca de terceiro, de acordo com o
o artigo 23 336 da LPI. artigo 3º38 da Resolução, e o INPI promoverá a anotação do alto re-
Não tendo a Lei de Propriedade Industrial previsto um modo de se nome da marca no seu Sistema de Marcas, que vigorará por 05 anos.
aferir o alto renome de uma marca, a fim de lhe assegurar proteção Diversos titulares de marcas já pediram e obtiveram, incidental-
especial em todos os ramos de atividade, alguns titulares de signos mente, o recbnhecimento do alto renome de seu signo39, como por
com grande poder atrativo e que gozavam do registro especial pre- exemplo a marca Kibon, de titularidade de Unilever N.V., que
visto na Lei anterior, propuseram ações judiciais para obtenção do apresentou oposição ao pedido de registro da marca Ki-Bona, aco-
alto renome. Tal espécie de ação será estudada mais adiante. lhida pela Comissão Especial do INPI 40 e, por conseguinte, teve o
seu alto renome anotado no Sistema de Marcas.
5.2. Resolução n9 110/2004 No entanto, algumas críticas são feitas à referida Resolução edita-
A fim de preencher essa lacuna existente na Lei de Propriedade da pelo INPI, sendo a principal delas o fato de se permitir apenas
Industrial, o INPI ~ditou a Resolução nº 11 0/2Q04, que regula- o reque\imento incidental do reconhe,cimento do alto renome de
menta a aplicação do artigo 125 da LPI e, em seu artigo 1º, dis- marca, quando presente uma tentativa de usurpação do signo dis-
põe, in verbis: tintivo. O problema está no fato de que muitos usurpadores não de-
Art. 1º: A proteção especial conferida pelo artigo. 125 da LPI positam, junto ao INPI, o pedido de registro da marca idêntica ou
deverá ser requerida ao INPI pela via incidental, como matéria semelhante àquela de elevado grau de conhecimento, o que impe-

36. "Art. 233. Os pedidos de registro de expressão e sinal de propaganda e de declaração Congelados para Cães Ltda. ME, na classe destinada à comida para animais; e c)
de notoriedade serão definitivamente arquivados e os registros e declaração permanece- marca Pirelli, de titularidade de Pirelli S.P.A., para identificar materiais elétricos e iso-
rão em vigor pelo prazo de vigência restante, não podendo ser prorrogados". lantes. Tal reconhecimento se deu na oposição apresentada ao pedido de registro de
37. Esses documentos elencados no artigo 5º da Resolução 110/2004 repelem muitas marca mista Pirel, processo nº 820970298, depositado por Pirel Comércio e Instala-
das exigências formuladas pelo INPI para aferição da notoriedade da marca, sob a ções Elétricas Ltda., na classe destinada a componentes elétricos.
égide da Lei nº 5.772/71. Dentre esses documentos, destacam-se os materiais que 40. Decisão proferida no pedido de registro de marca nº 818883634: "(...) Examinan-
comprovem: a) a fração do público usuário de outros segmentos de mercado que, do as alegacões da primeira opoente, verifica-se que a marca em tela reproduz o ele-
imediata e espontaneamente, identifica a marca essencialmente pela sua tradição e mento nominativo de suas marcas Kibon, muito embora o~ produtos que essas assi-
qualificação no mercado, mediante pesquisa de opinião ou de mercado ou por qual- nalam sejam totalmente distintos e inconfundíveis com os que a primeira visa
quer outro meio hábil; b) o valor investido pelo titular em publicidade/propaganda assinalar. (... ) A primeira opoente apresentou diversos documentos comprovando que
da marca na mídia brasileira nos últimos três anos; c) o volume de vendas do pro- o uso da marca no Brasil deu-se no início da década de 40, do século passado; que
duto ou a receita do serviço nos últimos três anos; e d) o valor econômico da marca a marca encontra-se registrada desde essa mesma década; a parcela de público con-
no ativo patrimonial da empresa. sumidor do produto assinalado pela marca, do conhecimento da marca, dos que iden-
38. 'fl.rt. 3º. Reconhecido o alto renome da marca, o INPI acolherá a oposição ou o pro- tificam espontaneamente a marca com os produtos, dos que reconhecem a tradição
cesso administrativo de nulidade e decidirá pelo indeferimento do pedido de registro ou dos produtos assinalados pela marca. Demonstrou que esses produtos são vendidos
pela nulidade do registro, independentemente de impedimentos outros oponíveis". em dezenas de milhares de estabelecimentos, em milhares de cidades, espalhadas por
39. Dentre as marcas que obtiveram o reconhecimento incidental do seu alto renome, estão quase todos os estados do País. Apresentou, ainda, dados referentes a volumes de
as seguintes: a) marca Hollywood, de titularidade de Souza Cruz S.A., para identifi- venda e valores investidos em publicidade. Vale dizer, a comissão entendeu que os do-
car artigos de tabaco e vestuário. Tal reconhecimento se deu na oposição apresentada cumentos apresentados foram suficientes para formar elemento de convicção sobre o
ao pedido de registro de marca nominativa Hollywood, processo nº 817437657, depo- prestígio e fama que desfrutam os produtos assinalados pela marca, de modo a con-
sitado por Atacado Hollywood Ltda., na classe destinada a vestuário; b) marca Me cluir pelo reconhecimento do alto renome da marca Kibon. (... ) Além disso, exami-
Donald's, de titularidade de McDonald's Corporation, para identificar produtos ali- nou-se a legalidade do pedido de registro em tela, em face do que dispõem as demais
mentícios. Tal reconhecimento se deu na oposição apresentada ao pedido de registro de normas da LPI, no que diz respeito à matéria, e conclui-se pelo indeferimento do pre-
marca mista MrDog, processo nº 819540927, depositado por Mr. Dog Alimentos sente pedido, pelos motivos anteriormente expostos".

56 REVISTA DA ABPI - Nº 90 - SET/ÜUT 2007


ALEI DE PROPRIEDADE INDUSTRIAL EOTRATAMENTO CONFERIDO ÀS MARCAS DE ALTO RENOME ENOTORIAMENTE CONHECIDAS

de o titular de almejar a proteção especial do artigo 125 da LP!, Assim, não obstante haver previsão expressa na LPI acerca da
pela via incidental. proteção especial assegurada às marcas consideradas de alto re-
Esses usurpadores utilizam normalmente os sinais contrafeitos, in- nome, esta lei não tratou das formas de se aferir e declarar o alto
dependente de submetê-los ao exame do INPI. Isso impede, mui- renome de uma marca para que seu titular pudesse gozar efeti-
tas vezes, que o titular da marca afamada pleiteie e consiga em vamente da proteção especial, o que gerou a propositura de
juízo a devida proteção, visto que não houve a prévia declaração ações almejando essa declaração. Apenas com a publicação da
pelo INPI do alto renome de seu signo, afastando, portanto, a pro- Resolução 110/2004, editada pelo INPI, é que se preencheu
teção em todos os ramos de atividade. esta lacuna, uma vez que referida norma estabeleceu a possibili-
dade de se requerer a declaração de alto renome pela via inci-
Outra crítica é feita ao parágrafo primeiro do artigo 14 da Reso- dental quando houvesse conflito entre o titular de uma marca
lução li 0/200441 , no sentido de que a ressalva que permite ao afamada e terceiros.
INPI solicitar novas provas, mesmo durante a vigência da anota-
ção de alto renome já obtida incidentalmente, impede os reais A doutrina já se manifestava no sentido de não haver a possibilida-
efeitos da proteção prevista no artigo 125 da LPI, já que obriga de de declaração a priori do alto renome de uma marca:
o titular a despender novamente todos os esforços para compro- "Na sistemática da nova lei, a tutela mais ampla a esses sinais
var o prestígio de sua marca. depende da verificação do fenômeno no momento em que se dá
a controvérsia. Não se cogita de declaração a priori, não se exige
Tal crítica não merece respaldo pois, como estudado no capítu-
que, antes do l,itígio, a marca tenha sido obj~to de juízo oficial a
• lo 3, a marca pode sofrer odenômenos de degeneração qu dilui-
respeito da latltude de seu conhecimento" 42 .'
, ção e, por conseguinte, perder o seu poder distintivo, desconsti-
tuindo-se do alto renome que outrora possuía. Assim, quando o No entanto, mesmo após a Resolução li 0/2004, entende-se que
INPI entender necessária a realização de nova comprovação da é plenamente possível a procura do Poder judiciário para declarar
fama e do prestígio de uma marca, não está contrariando o pró- o alto renome de uma marca, visto que, como exposto na seção 5.2,
prio dispositivo inserto na LPI (artigo 125), mas, sim, apenas há usurpadores de marcas que nem sequer solicitam o registro de
assegurando que não será concedida proteção especial a uma seu signo junto ao INPI. o que impediria o reconhecimento alme-
marca já degenerada, que não preenche mais os requisitos de jado pelo titular da marca afamada pela via incidental.
uma marca de alto renO/lle. O titular de'uma marca com enorme poder atrativo, de renome
que transcende o segmento de mercado para o qual ela foi origi-
5.3. Ação judicial para obtenção do reconhecimento do alto nariamente destinada, não podia - e não pode - conviver com
renome os riscos da degeneração e da apropriação por terceiros de seu
Como visto na seção 5.1, a LPI revogou o artigo 67 da Lei nº signo distintivo.
5.772/71, que permitia o requerimento de declaração de notorie- Caso se efetivasse essa degeneração ou a apropriação por terceiros,
dade da marca e a expedição de um registro especial a fim de lhe o titular da marca afamada sofreria uma considerável perda patri-
conferir a proteção em todos os ramos de atividade. monial, que não pode ser amparada por nosso ordenamento jurídi-

41. 'f'lrt. 14. O INPI promoverá a anotação do alto renome da marca no Sistema de Mar- processos de outorga de direitos marcários, ressalvados os casos em gue o INPI julgue
cas, que será mantida pdo prazo de S (cinco) anos. necessário determinar a producão de novas provas". (grifos não constam do original)
§ Iº Durante o prazo dessa anotação, o titular da marca de alto renome ficará disP,en· 42. DANNEMANN; SIEMSEN; BIGLER & MOREIRA Comentários à Lei da
sacio da apresentação de novas provas dessa condição nas demandas eventuais ·em Propriedade Industrial e correlatas. Rio de Janeiro/São Paulo: Renovar, 200 I. p.256.

-Marcas

CAMELIER ·Patentes
• Desenhos Industriais
·Software
PROPRIEDADE INTELECTUAL • Transferência de Tecnologia
• Segredo de Negócio
Orientação segura em propriedade intelectual, dirigida • Direito Autoral
por elevados princípios éticos. • Direito Concorrencial
·Contratos
Alameda dos Guainumbis, 571 -São Paulo- SP- Brasil - 04067-001
Tei./Fax: + 55 11 5071-7124
camelier@camelier.com.br • www.camelier.com.br

)l
REVISTA DA ABP! - N° 90 - SET/ÜUT 2007
ALEI DE PROPRIEDADE INDUSTRIAL EOTRATAMENTO CONFERIDO ÀS MARCAS DE ALTO RENOME ENOTORIAMENTE CONHECIDAS

co. A própria Constituição Federal, em seu artigo 5º, XXXV4\ mesmo nos países onde não está registrada, face o seu elevado grau
permite que o titular possa socorrer-se ao Poder judiciário, a fim de conhecimento em tal setor.
de se proteger de ameaças ao seu direito. 5. O princípio da especialidade assegura proteção às marcas ape-
Logo, já antes da referida resolução, em razão da omissão da lei, e nas no ramo de atividade em que estão registradas. Constitui-se em
mesmo agora, tendo em vista a restrição supracitada, cabe ao Poder exceção a este princípio a marca de alto renome, à qual é assegu-
judiciário a missão de reconhecer o alto renome de uma marca. rada proteção em todos os ramos de atividade, tendo em vista o ele-
Para tanto, deve-se intentar uma ação ordinária em face do INPI vado grau de conhecimento que possui em todos os segmentos de
e, portanto, perante a justiça Federal do Rio de janeiro. Esta ação mercado e à sua reputação.
é de natureza condenatória pois, além de reconhecer o alto renome 6. Em razão do enorme poder atrativo que exercem, as marcas no-
da marca em cotejo, deve expedir uma ordem ao INPI para que tórias são alvos de constantes reproduções e imitações por terceiros
proceda à anotação em seu sistema desta declaração, sob pena de que almejam o lucro fácil, aproveitando-se da fama e do prestígio
sofrer uma sanção. de tais signos. Por isso, sofrem os riscos da degeneração e da dilui-
É indiscutível o cabimento da referida ação, uma vez que não se ção, que acarretam na perda do seu poder distintivo.
pode deixar uma marca afamada a mercê de constantes e incessan- 7. O titular da marca tem o direito de seu uso exclusivo e, por con-
tes reproduções e imitações por terceiros que almejam um lucro rá- seguinte, o direito de impedir esse uso desautorizado por terceiros.
pido, "pegando carona" na fama e no prestígio de marcas alheias. Exerce tal direito por meio de ações judiciais que podem visar a
Por fim, cumpre ressaltar que algumas ma~cas já obtiveram o reco- anulação do registro de marca idêntica ou semelhante, a abstenção
nhecimento de seu alto renome pelo Poder judiciário, como por de uso, pelo terceiro, da reprodução ou da imitação, a respor\sabi-
exemplo, as marcas Goodyear, Dakota e Bic44 • lização criminal dos usurpadores, a condenação destes ao paga-
mento de indenização por danos materiais e morais causados à re-
putação da marca e ao seu titular.
CONCLUSÕES
8. Tendo em vista a possibilidade da perda de distintividade do
1. Marca é todo sinal com poder de distinção, visualmente percep- signo, é possível pleitear nestas ações a antecipação dos efeitos da
tível, desde que não compreendido nas proibições contidas na tutela, a fim de se evitar danos irreparáveis.
LPI. As marcas surgiram na Idade Média, com uma função de 9. Face à lacuna existent\ na Lei de Propriedade lnqustrial, o
indicaçã~ de proveniência. Atualmente, a função primordial das ' INPI editou a Resolução 110/2004, que regulamenta a aplicação
marcas é individualizar e distinguir produtos e serviços idênticos da proteção prevista no artigo 125 daquela Lei. No entanto, a Re-
ou semelhantes. solução restringe o requerimento do reconhecimento do alto reno-
2. A marca possui como requisitos de sua validade e existência a me pela via incidental, quando da apresentação de oposição a pe-
distintividade, a disponibilidade e a licitude, pois não pode ser con- dido de registro ou de processo de nulidade de registro de marca.
trária à ordem pública, à moral e aos bons costumes. 1O. Muitas vezes os usurpadores de marcas não requerem o regis-
3. O Direito de Marcas, assim como todos os direitos atinentes à tro do signo perante o INPI, impossibilitando, portanto, o requeri-
Propriedade Industrial, tem a natureza jurídica de um direito de mento da proteção especial pelo titular, por meio da via incidental.
propriedade imaterial, já que versa sobre bens incorpóreos. 11. Logo, cabe ao Poder judiciário a missão de reconhecer o alto
4. O direito sobre as marcas não é ilimitado: deve respeitar os prin- renome de uma marca, pois o titular de um sinal afamado não pode
cípios basilares da especialidade e da territorialidade. Este confere sujeitar-se à restrição da Resolução 110/2004 e ver a sua marca
proteção às marcas somente no território em que se encontram re- perder distintividade face ao uso desautorizado por terceiros, o que
gistradas. Excepciona este princípio a marca notoriamente conhe- lhe causaria considerável perda patrimonial, tendo em vista o valor
cida, que possui proteção - apenas no seu ramo de atividade -, ativo elevado que as marcas notórias possuem.

43. "Art. 5º, XX)0.! ·a Lei não excluirá da apreciação do Poder judiciário lesão ou amea- defesa, quando da oposição a pedido de registro de marca de terceiro ou do processo
ca a direito". (grifos não constam do original) administrativo de nulidade de registro em tramitação perante o INPI. Tal restrição, a
44. Trecho da sentença proferida pela 35ª Vara Federal do Rio de janeiro, nos autos da meu ver, demonstra mais uma vez a necessidade/utilidade da via judicial para declarar
Ação Ordinária nº 2003.51.01.507288-4, movida por Bic Brasil S/A em face do o alto renome da marca, pois muitas vezes um terceiro que se aproveita da marca co-
INPI:"(...) A LPI conferiu proteção especial às marcas de alto renome (art. 125), tal nhecida sequer registra a sua marca, fazendo com que o conAito não chegue ao conhe-
como previa para a antiga marca notória, mas deixou de especificar o procedimento cimento do INPI. (... )A questão não comporta grandes discussões, tendo em vista que
para o reconhecimento e a anotação do alto renome. A matéria finalmente foi regula- o alto renome da marca da autora (Bic) é inquestionável.( ... ) Ante oexposto, jULGO
mentada pelo INPI em 27/01/04, através da Resolução 110/2004, normatizando os PROCEDENTE o pedido para declarar que a marca Bic é de alto renome, com pro-
procedimentos para aplicação do mencionado art. 125. Entretanto, a Resolução prevê teção especial em todas as classes, conforme dispõe o artigo 125 da Lei 9.279/96, e
que o requerimento da proteção especial deve ser por via incidental, como matéria condenar o INPI a proceder às anotações administrativas cabíveis".

REVISTA DA ABP! - Nº 90 - SET/ÜUT 2007


ALEI DE PROPRIEDADE INDUSTRIAL EOTRATAMENTO CONFERIDO ÀS MARCAS DE ALTO RENOME ENOTORIAMENTE CONHECIDAS

12. Não resta a menor dúvida, portanto, da necessidade de se con- GUSMÃO, José Roberto d'Affonseca. "Marcas de alto renome,
ferir às marcas de alto renome e às marcas notoriamente conheci- marcas notoriamente conhecidas e usurpação de signos famo-
das um tratamento especial, com uma efetiva proteção legal e jurí- sos". In: Anais do XVI Seminário Nacional de Propriedade In-
dica, impedindo que terceiros de má-fé obtenham um telectual. 1996. p. 48-57.
enriquecimento ilícito às custas dos investimentos e esforços des- LEONARDOS, Luiz. "Marcas notoriamente conhecidas". In:
pendidos pelos titulares dos sinais afamados. Revista da ABPI. São Paulo: 1992. v. 5, set./out., p. 16-17.
MORO, Maitê Cecília Fabbri. Direito de marcas: abordagem das
REFERÊNCIAS marcas notórias na Lei 9.279/1996 e nos acordos internacio-
nais. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003.
CERQUEIRA, João da Gama. Tratado da propriedade indus- OLIVEIRA, Maurício Lopes de. ''A Obrigação do contrafator
trial. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1982.v. 2. de marca famosa em ressarcir o legítimo titular do registro por
COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de direito comercial. 6. ed. revis- prejuízo à imagem e conseqüente dano moral". In: Revista da
ta e atualizada de acordo com o novo Código Civil e alterações ABPI. São Paulo: 1999. v. 41, jul./ago., p. 41-44.
da LSA. São Paulo: Saraiva, 2002. ROCHA, Fabiano do Bem da. ''A Ação judicial para obtenção
CORREA, José Antonio B. L. Faria. "O fenômeno da diluição do reconhecimento do alto renome de marca". In: Revista da
e o conflito de marcas". In: Revista da ABPI. São Paulo: ABPI. São Paulo: 2000. v. 48, set./out., p. 41-44.
.1998. v. 37, nov./dez., p. 9-1 f· SCHMIDT, Lélio D~nícoli. "O INPI nas ações d,e nulidade de
. "O tratamento das mar~as de alto renome e das marcas marca ou patente: assistente, litisconsorte ou fiscal da lei?". In:
-----;toriamente conhecidas na Lei 9.279/96". In: Revista da Revista da ABP/. São Paulo: 1997. v. 26, jan./fev., p. 29-41.
ABPI. São Paulo: 1997. v. 28, maio/jun., p. 33-39. . "O reconhecimento incidental de nulidade de registro de
DANNEMANN; SIEMSEN; BIGLER & MOREIRA. Co- ----;ãrca ou privilégio de patente". In: Revista da ABP/. São
mentários à Lei da propriedade industrial e correlatos. Rio de Paulo: 1996. v. 22, maio/jun., p. 36-45.
Janeiro/São Paulo: Renovar, 2001. SOARES, José Carlos Tinoco. Direito de Marcas. São Paulo:
GOYANES, Marcelo; BIRENBAUM, Gustavo. "Marcas de Atlas, 1968.
alto renome e notoriamente conhecidas: cabimento de açao de- THEODORO JR., Humberto. "Painel sobre màrcas- Tutela Juris-
claratória para a obtenção da proteção prevista na Lei n. dicional da Propriedade Industrial". In: Anais do V Seminário
9.279/96". In: Revista da ABP/. São Paulo: 2005. v. 75, Nacional de Propriedade Industrial. Belo Horizonte: Associação
mar./abr., p. 51-68. Brasileira da Propriedade Industrial, 7 e 8 de outubro de 1985.

~-~---

"' MARCAS
---·- ------ ----------l
1 "'PATH!HS
MONTAURY PIMENTA RiodeJaneiro .
A~· Alm. Bnrroso. 139 J 1' andar
I
"' DIA riTO AU10AA~ MACHADO Centro CEP10031-005
"' CO~;Cüi1!1ÊNC!A OESl[Al
lel11 2524·0510. fax 111140-1524

., NOMES Cf DO~iiNIO
LIOCE São Paulo
1J TllANSf DE T((NOlOGIA [ r!lMJQUIA Advogados. Propriedade Intelectual Av_ Paulista, 37 J 4· andar
Bela Vista CEP O1311-902
o PROGRAMAS 0[ COMI'UfAOOR
lei li 1146-2723 . fax li 2246-1796
., IMHR~ET

"' LfGISLAÇÂO PU!lliC!fAfM.·?ROMOCIONAL mpml@monlaury .com.br


"' CONrENCIOSO ,IIJ01CIAL
_____ _..
www.monlaury.com.br

)9
REVISTA DA ABPI - N9 90 - SET/ÜUT 2007

Você também pode gostar