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Prova 1º Bimestre/6º semestre – Prof.

Guilherme Nucci

Matérias: Causas de extinção da punibilidade (prescrição, morte etc),


homicídio, eutanásia, ortotanásia, suicídio, infanticídio, aborto.

CAUSAS EXTINTIVAS DA PUNIBILIDADE

Causas de isenção de pena x causas extintivas: Casos em que a conduta


nasce punível (típica, antijurídica e culpável) e vem um evento que extingue a
punibilidade. O mais óbvio é o cumprimento da pena.

Isenção da Pena: Na isenção da pena, o crime nasce impunível, como nos


casos do art. 181 do CP (escusas absolutórias). No entanto, ainda que o
crime quando praticado seja punível são várias as causas (além do
cumprimento da pena) aptas a extinguir o poder de punir do Estado. São
as causas extintivas da punibilidade. Há um rol não taxativo de causas
extintivas da punibilidade no art. 107, do CP:

1. Morte do agente: A morte do agente extingue a punibilidade.


Antigamente a punição transcendia a figura do agente, inclusive atingindo
outras gerações. Ex: Tiradentes foi morto enforcado, esquartejado, e ainda
infâmia até a 5ª geração. Quanto ao estado de pessoa se exige certidões e
atestados. Polêmica: Extinção da punibilidade com base em prova inidônea
(que não se pode confiar) da morte. Três posições:

a) A sentença está errada, mas transitou em julgado e a coisa julgada


penal é sempre soberana se favorável ao réu (se não, cabe revisão
criminal, não existe revisão criminal pro societate), é um direito humano
não ser julgado duas vezes pelo mesmo fato, se já foi julgado e foi
absolvido, não pode ser julgado novamente (o inquérito, em regra, não
faz coisa julgada material, salvo no caso de manifestação de judicial
pelo arquivamento por atipicidade); Paccelli sustenta, como em alguns
países, que não poderia ser processado pela memória histórica do fato,
pelo mesmo contexto fático; não há prazo para pedido de revisão
criminal e não há um limite de vezes em que se pode pedir a revisão.
b) A sentença é nula, pois o procedimento é irregular. No entanto, pela
ausência de instrumentos processuais que permitam a declaração da
nulidade, terá efeitos perenes. Em tese a decisão nula não gera efeitos,
isso só na teoria, pois somente perde efeitos após decretação de sua
nulidade. Consegue atacar uma sentença condenatória nula, por meio
de revisão criminal; sentenças absolutórias são nulas e gerarão efeitos
perpétuos.
c) Pacífica orientação do STF de que a sentença é inexistente, ou seja,
basta ao juiz ignorá-la e continuar o processo. Uma sentença produzida
por um juiz competente não pode ser inexistente. Tudo aquilo que está
nos autos não existe, é como se nunca tivesse existido aquela sentença.
Abarca a situação da prova inidônea por certidão falsa.

2. Abolitio criminis: Quando há norma posterior que revoga a


prática de um determinado crime.

3. Anistia, Graça e Indulto: São formas de indulgência soberana,


ou seja, perdão do Estado.
a) Anistia: É a lei que esquece um determinado fato como crime.
Se for lei, a competência é do Congresso Nacional. Pode ser
total ou parcial (esquecer o caráter violento, diminuir a pena,
etc.). Pode ser própria, se concedida antes da condenação, ou
imprópria se acontecer depois. Afasta os efeitos penais, mas não
os extrapenais. Os efeitos extrapenais na lei de Anistia
persistem, há o pagamento de indenizações, mas foi esquecido
do ponto de vista penal. Problema de autoanistia, a Corte
Interamericana de Direitos Humanos declarou que são inválidas,
por exemplo, a autoanistia de Pinochet. Foi o que se tentou
buscar no STF, afirmava-se que não poderia porque se anistiar
os militares teria que anistiar os guerrilheiros, mas não cabe tal
argumentação, pois só a autoanistia é vedade, a anistia de
terceiros poderia.
b) Graça e Indulto: São espécies de indulgência soberana,
outorgadas pela Constituição à Presidência da República. É uma
prática no Ocidente, nos EUA os Governadores dos Estados
podem conceder tal indulgência soberana. É a parcela de poder
penal outorgada ao Executivo – cada Poder deve ter uma parcela
de poder. Executar a pena não é poder, é apenas a
concretização do Poder do Judiciário, é servir. A parcela de
poder do Executivo é o perdão. Justificativas Históricas: (i)
ruptura de governo que quer invalidar os atos do governo anterior
(ex: Revolução Francesa e a queda da Bastilha, como forma de
romper com a prisão de viés político); (ii) Reequilibrar o
sofrimento da pena se a qualidade da sanção foi maior que a
previamente imaginada; a duração da pena deve ser então
abreviada. O Indulto é espontâneo e coletivo, a graça é
individual e provocado.

Limitação Constitucional a indulgência soberana: A CF proíbe expressamente


a anistia e graça para crimes hediondos e equiparados. Mas a CF não foi
expressa quanto ao Indulto. O STF entendeu que quando ela se vale da
expressão graça ela a utiliza em sentido amplo, trata-se de uma expressão
extensiva (quando a lei diz menos do que quis dizer). Em regra, não cabe
interpretação em desfavor do réu no Direito Penal, mas há a exceção do
argumento a fortiori. Problema: não há vedação expressa ao indulto para os
crimes hediondos e equiparada, é necessário perceber que as expressões
“graça” e “indulto” não são utilizados na legislação com sentido unívoco. Ao
tratar dos poderes da Presidência, a CF se vale apenas da expressão indulto.
Também busca alcançar a graça. A lei das execuções penais também não se
vale da expressão graça tratando-a como “indulto individual”. Partindo de tal
incerteza terminológica o STF pacificou a inviabilidade de indulto para crimes
hediondos e equiparados: se é proibido o perdão individual e provocado, com
mais razão será vedado o perdão coletivo e espontâneo (indulto). O STJ
aceitou indulto humanitário (em 2015 – acórdão 291275) para crimes
hediondos e equiparados, não que seja pacífico, é o indulto pelas condições de
saúde do preso, quando o preso não possui mais condições de autogestão, de
cumprir atividades comuns. A súmula 545 do STJ pacificou que a prática de
falta grave não interrompe a contagem do prazo para o indulto. Não cabe ao
Judiciário criar requisitos para a concessão, sob pena de interferir na seara do
Poder Executivo. O Indulto pode se projetar tanto para o passado, quanto para
o futuro.

4. Decadência (art. 103, CP; arts. 24 e 30 CPP): Deve ser


reconhecida a decadência se na ação penal privada ou na pública
condicionada não for exercido o direito de queixa ou representação no prazo
legal. O prazo legal é de 6 meses contados a partir do conhecimento da
autoria.

5. Perempção (art. 60, CPP): A perempção só é viável na ação


penal privada. Hipóteses: (i) se o querelante não dá andamento ao processo
por 30 dias; (ii) se falecendo o querelante ou sobrevindo sua incapacidade não
há sucessão no processo em 60 dias; (iii) se o querelante deixa de comparecer
a ato no qual deveria estar presente; (iv) se o querelante não pede condenação
nas alegações finais; (v) se o querelante for pessoa jurídica e se extinguir sem
deixar sucessor.

6. Renúncia ao direito de queixa: é específica para ação penal


privada, é a prática de ato incompatível com a vontade de processar. Pode
ser expressa ou tácita. A renúncia é comunicável, ou seja, se oferecida a um,
beneficia todos os autores e partícipes. A renúncia é possível até o
oferecimento da queixa.

7. Perdão do ofendido: Também é específico da ação penal


privada, é possível desde o início da ação, até o trânsito em julgado. É
bilateral, ou seja, deve ser oferecido pelo querelante e aceito pelo querelado.
Tanto o oferecimento do perdão quanto o aceite podem ser expressos ou
tácitos. A inércia do querelado em se manifestar sobre o perdão significa aceite
tácito. O oferecimento do perdão é comunicável, mas não o aceite.
8. Retratação (art. 342, CP): Desdizer o que disse. “Eu disse, agora
estou voltando atrás”. A retratação extingue a punibilidade nos crimes: calúnia,
falso testemunho e difamação. Deve ser feita até a sentença. Quem se
retrata admite que o fez e acaba por gerar prova para o cível. A retratação no
falso testemunho é comunicável, mas não na calúnia e na difamação.

9. Perdão Judicial: Possibilidade de o juiz deixar de aplicar a pena


se a entender desnecessária. Na doutrina tradicional, só é possível nos casos
expressamente previstos em lei. A pena, portanto, perde sua função. Para
outra parte minoritária da doutrina, poderia ser aplicado o perdão judicial em
outros tipos, mesmo sem expressa previsão legal, por analogia in bonan parti.
Pode na receptação culposa, homicídio culposo, injúria, delação (no caso da
delação se relaciona com “troca” da punição do delator pela punição de outras
pessoas, relaciona-se não com desnecessidade, mas uma necessidade
imperativa de outra(s) punição(ões). A lei proíbe a condenação apenas com
base na delação premiada.

10. PRESCRIÇÃO:

É a perda do poder de punir do Estado em razão do decurso do tempo. É


uma pressão sobre o Estado para que não demore, a pena deve ser célere,
pois a pena que demora muito é um sofrimento injustificável sobre o acusado.

Justificativas da Prescrição:

i- O tempo enfraquece a prova, levando a resultados indesejáveis


(absolver culpados e condenar inocentes).
ii- A prescrição incentiva a celeridade do processo penal, dando
efetividade à garantia constitucional de julgamento em prazo
razoável (art. 5º, CF). Ela serve também como meio de
operacionalizar aquelas demandas que não tem mais necessidade e
razoabilidade na punição.
iii- Perda das finalidades da pena: O tempo faz perder as finalidades da
pena.
Espécies de Prescrição:

I- Prescrição da pretensão punitiva: é a perda do poder de punir do


Estado, que não consegue no prazo determinado em lei a certeza da
culpa. O Estado tem um tempo para obter o trânsito em julgado.
a) Termo inicial: Art. 111, CP:
(i) Dia da consumação;
(ii) Nos crimes tentados, é no dia do último ato da tentativa (se o
sujeito iniciou o ato e não conseguiu consumar, será o último ato);
(iii) Nos crimes permanentes (aqueles cuja consumação perdura no
tempo, condicionada a vontade do autor, a manutenção da
consumação depende da vontade do autor), será do dia em que
cessou a permanência;
(iv) Nos crimes de bigamia e falsificação de assentamento de registro
civil, é do dia em que o fato se torna público;
(v) Nos crimes contra dignidade sexual de criança ou adolescente
será do dia em que a vítima completa 18 anos ou da data em que
oferecida a ação penal se anterior (só aplicável aos crimes
praticados depois de 17 de maio de 2012, pois é contrária ao réu,
então só vale para os fatos posteriores).
b) Prazo: O prazo prescricional será calculado de acordo com tabela
prevista no art. 109, Código Penal, que tem como critério a pena. Qual
pena?
i- Antes do trânsito em julgado para a acusação, deverá ser
considerada a pena máxima em abstrato. Ou seja, quando a
acusação não puder mais recorrer.
ii- Após o trânsito em julgado para a acusação, deverá ser utilizada a
pena fixada no caso concreto. Quando a acusação se conforma e
não recorre, há a não reformatio in peius, não pode piorar a pena já
imposta.
c) Causas Suspensivas da Prescrição da Pretensão Punitiva: Causa
suspensiva faz cessar o fluxo do prazo prescricional que volta a correr
do ponto em que parou.
i- Art. 116, CP: Enquanto não resolvida em outro processo questão
prejudicial da qual dependa a existência do crime. Ex: bigamia, e tem
outro processo julgando a anulação do primeiro casamento.
ii- Enquanto o sujeito cumpre pena no estrangeiro.
iii- Art. 366, CPP: Citação é o ato de ciência do processo, ao qual se
chama ao processo. Não pode ser processado em absencia. Se o
réu for citado por edital, não comparecer e não constituir advogado,
será suspenso o processo e o prazo prescricional. A súmula 415 do
STJ esclarece que a suspensão do prazo prescricional não poderá
superar o prazo prescricional calculado a partir da pena máxima em
abstrato. Quanto tempo pode ficar suspenso? Na prática dobra o
prazo, pode ficar suspenso até o prazo prescricional.
iv- Período de prova da suspensão condicional do processo (art. 89 da
Lei 9099/95).
v- Expedição de carta rogatória para citação até o seu cumprimento
(art. 368, CPP).
vi- Suspensão do processo contra parlamentar determinada pelo
Congresso Nacional (art. 53, §5º, CF). Para que o judiciário não
possa interferir demais no legislativo. Se o Congresso manda parar o
processo, suspende o processo.

d) Causas Interruptivas da Prescrição da Pretensão Punitiva: Causa


interruptiva faz cessar o fluxo do prazo prescricional que volta a correr
do zero, do início.
i- Recebimento da denúncia ou queixa. Não é da data do
oferecimento, e este não interrompe.
ii- Pronúncia. A impronúncia não interrompe.
iii- Decisão confirmatória da pronúncia. O juiz pronuncia, a defesa
recorre, quando confirma também interrompe, para desestimular a
prescrição, pois será interrompida a prescrição.
iv- Publicação da Sentença ou do Acórdão Condenatório recorríveis.
Sentença absolutória ou de extinção da punibilidade não interrompe.
Obs1: O acórdão que apenas confirma a sentença condenatória
interrompe? (i) Sim, pois pelo efeito substitutivo dos recursos não
existe acórdão confirmatório, mesmo se confirmar condenação é
condenatório; (ii) Não, pois se fosse essa a intenção do legislador
teria usado a expressão “confirmatório”, como o faz no inciso III, foi o
que entendeu o STF no RE 751394 (não está pacificado). Obs2: O
acórdão que confirma a condenação e incrementa a pena,
interrompe.
e) Espécies de PPP (*):
i- Prescrição em abstrato: Tem como critério para o cálculo do prazo
prescricional a pena máxima em abstrato, e pode ocorrer a qualquer
tempo, até o trânsito em julgado da condenação.
ii- Prescrição Retroativa: Tem como critério para o cálculo do prazo
prescricional a pena em concreto, e ocorre antes da decisão
condenatória. Obs: para crimes praticados a partir de 05 de maio de
2010, não se admite prescrição retroativa em lapso anterior à
denúncia ou queixa. Gustavo entende como inconstitucional, pois se
trata de isonomia entre o lapso temporal após a denúncia e lapso
temporal anterior.
iii- Prescrição Superveniente ou Intercorrente: Tem como critério
para o computo do prazo prescricional, a pena em concreto e ocorre
em lapso posterior à decisão condenatória. Obs: O trânsito em
julgado para a acusação não interrompe a PPP. É apenas uma
condição para que se possa trabalhar com a pena em concreta.
iv- Prescrição Virtual ou Antecipada ou em perspectiva: Os tribunais
superiores não admitem, mas é utilizada no 1º grau. É a antecipação
do reconhecimento da prescrição retroativa com base na pena que
seria fixada (virtual) na condenação. Trabalha-se com chance e com
risco. Muitos juízes não decretam a extinção da punibilidade por falta
de previsão legal e preferem a extinção do processo por falta de
interesse de agir na espécie utilidade (o processo não é mais útil,
pois de antemão já se sabe que haverá a prescrição). A súmula 438
do STJ proíbe o reconhecimento da prescrição virtual. Toda causa
extintiva da punibilidade é matéria de ordem pública, então o juiz
pode reconhecer de ofício ou a pedido da parte.
II- Prescrição da pretensão executória: É a perda do poder de punir
do Estado, que não consegue no prazo determinado em lei tornar
efetiva a pena já certa (para a acusação).

O Estado já tem uma pena certa, agora precisa ser efetiva, precisa se dar
cumprimento da pena.

a) Termo Inicial da PPE: art. 112 do CP, pela letra da lei, a


prescrição executória começa a correr do trânsito em julgado para
acusação. Correm, portanto, dois prazos prescricionais paralelos,
da prescrição superveniente e da prescrição da pretensão
executória. Pela letra do art. 112, I, CP, a PPE começa a correr
na data da revogação do sursis ou do livramento condicional ou
ainda do trânsito em julgado para a acusação (letra da lei). Há
entendimento, hoje minoritário, que apesar da letra da lei, a PPE
deve iniciar com o trânsito em julgado para as partes, pelo
princípio da actio nata, ou seja, enquanto inviável o exercício do
poder ou direito não deve correr prescrição.
b) Prazo da PPE: Será sempre calculado tendo como critério a pena
em concreto e a tabela do art. 109, CP.
c) Causa suspensiva da PPE: Não corre PPE enquanto o sujeito
está preso por outro motivo.
d) Causas Interruptivas: (i) a reincidência – quando o sujeito
reincide interrompe a PPE. (ii) início ou continuação do
cumprimento da pena o condenado foge, ao ser apanhado
começa a correr do zero. Obs: PPE em caso de fuga, a PPE será
calculada com base na pena que resta cumprir.
e) Efeitos da PPE: A PPE atinge apenas o efeito principal da
condenação, que é a pena, os efeitos secundários persistem.
Obs: Ao réu reincidente, o prazo da PPE será acrescido em 1/3.

Observações Gerais sobre Prescrição:

i- Nos termos do art. 119 do CP, no concurso de crimes a prescrição


será calculada para cada infração isoladamente. Nos termos da
Súmula 497 do STF, quando se tratar de crime continuado a
prescrição será calculada com o desprezo do aumento da pena
decorrente da continuidade. Despreza-se a exasperação, pois a
prescrição deve ser calculada para cada crime isoladamente (art.
119, CP).
ii- Ao réu menor de 21 na data do fato ou maior de 70 na data da
sentença, o prazo prescricional será reduzido pela metade.
Quando o recurso é evidentemente procrastinatório será contado a
idade de 70 anos. A princípio a data a ser considerada é a da
sentença, será do acódão quando: (a) quando for competência
originária do tribunal; (b) se o acórdão reforma a sentença (HC
86320).
iii- Prescrição da Pena Restritiva de Direito: mesmas regras da privativa
de liberdade.
iv- Prescrição da Multa: Se a multa for cominada ou aplicada de forma
cumulativa a pena privativa de liberdade, prescreverá no prazo desta.
Multa junto com pena privativa de liberdade prescreverá junto, ideia
de que o acessório segue o principal. No entanto, se a pena de multa
for a única cominada ou aplicada, prescreverá em dois anos, nos
termos do art. 114, I, CP. Na prescrição executória da multa não
serão consideradas as causas suspensivas e interruptivas do CP,
mas sim da lei fiscal.
v- Prescrição da Medida de Segurança: No caso do inimputável será
sempre calculada a prescrição com base na pena em abstrato, quer
a punitiva, quer a executória. A sentença que determina a imposição
de medida de segurança é absolutória imprópria, de tal modo que
não interrompe a PPE. Ao semi-imputável será possível calcular PPP
em concreto e PPE tendo como base a pena em concreto fixada na
sentença.

HOMICÍDIO

A vida pode ser classificada como endouterina (crime de aborto) ou


extrauterina (homicídio, participação no suicídio, infanticídio).
A expressão “durante o parto”, que caracteriza o infanticídio, permite concluir
que a vida extrauterina se inicia com o começo do parto. O parto se inicia: (i)
Parto natural - com o rompimento da bolsa amniótica, em razão das contrações
uterinas. (ii) Parto Cirúrgico - com a primeira inserção ou primeiro corte no
ventre.

Conceito de Morte: É a morte encefálica (art. 3º da Lei 9.434/97 – lei de


transplantes). Morte encefálica é a parada total e irreversível da atividade
eletroencefálica.

Em relação aos gêmeos xipófagos (siameses, unidos em alguma parte do


corpo), haverá dolo direto de primeiro grau em relação ao gêmeo que se quer
matar e dolo direto de segundo grau em relação ao qual não se queria matar,
mas que por razão dos efeitos colaterais necessários recaí o dolo.

Tipo Subjetivo: O homicídio pode ser doloso ou culposo. Pacífica a orientação


dos tribunais superiores que a transmissão dolosa do vírus HIV não é
considerada homicídio, pois não há dolo de matar (não possui animus necandi)
(STJ já entendeu que é crime de lesão corporal STJ HC160982).

Homicídio Simples: É a figura básica, elementar, original na espécie; é a


realização escrita da conduta tipificada de matar alguém.

Homicídio Privilegiado (art. 121, §1º): O privilégio é uma causa de


diminuição de pena (de 1/6 até 1/3), é circunstância de caráter subjetivo que
não se comunica. Apenas minoram a sanção aplicável ao homicídio. A ação
continua punível, apenas sua reprovabilidade é mitigada, atua na culpabilidade.
São de 03 espécies:

a- Relevante valor moral: aquilo que as pessoas têm como algo menos
reprovável. Relevante valor moral, por sua vez, consiste no valor
enobrecedor de qualquer cidadão em circunstâncias normais. O
exemplo de sempre é a eutanásia. Vale uma distinção: eutanásia (pode
ser ativa, em que a morte é provocada e a conduta é comissiva, o
objetivo é aliviar a dor, o sofrimento da vítima; ou passiva, em que a
conduta é omissiva, não são fornecidos cuidados ordinários para
manutenção da vida x distanásia (é o prolongamento obsessivo da vida,
com métodos extraordinários) x ortotanásia (são interrompidos os
métodos extraordinários de manutenção da vida permitindo o fluxo digno
do processo de morte, não é crime);
b- Relevante valor social: Se o objetivo da morte é atender ao interesse
da comunidade. É aquele que tem motivação e interesse coletivos, ou
seja, a motivação fundamenta-se no interesse de todos os cidadãos de
determinada coletividade. Tanto o relevante valor moral, quanto o social
devem ser considerados objetivamente (não totalmente), segundo a
média existente na sociedade, e não subjetivamente, segundo a opinião
do agente.
c- Homicídio emocional/passional: É o domínio de violenta emoção logo
após injusta provocação da vítima. Domínio x influência: domínio
comunica o descontrole pela violência da emoção e configura o
privilégio; a influência é a irritação ordinária, e configura mera atenuante
(não possui o critério temporal de “logo após”). A injustiça da provocação
deve ser de tal ordem que justifique, de acordo com o consenso geral, a
repulsa do agente, a sua indignação. “Logo em seguida” significa
quando a ação ocorrer em breve espaço de tempo e enquanto perdurar
o estado emocional dominador.

Qualificadoras do Homicídio (art. 121, §2º): Elevam a pena para de 12 a 30


anos. Não existe homicídio premeditado no Brasil.

1. Qualificadoras dos Motivos:

a- Paga, promessa de recompensa ou outro motivo torpe. Prevalece


que a paga deve ter conteúdo econômico. Em dez/2015, o STJ mudou
sua posição e passou a concordar com a doutrina: por ser circunstância
subjetiva (motivo), não se comunica ao mandante. A paga consiste no
efetivo pagamento (de vantagem econômica ou não). A promessa de
pagamento consiste em vantagem (econômica ou não) futura. Não é
necessário que a recompensa ou sua promessa seja em dinheiro,
podendo revestir-se de qualquer vantagem para o agente.
Motivo Torpe: é o equivalente a repugnante, abjeto, que repugna à
consciência média da coletividade. OBS: A vingança pode configurar
motivo torpe, dependendo do caso concreto. Então a vingança pode ser
privilégio, motivo torpe ou nada.

b- Motivo Fútil: Fútil é o motivo especialmente pequeno, desproporcional.


É matar por muito pouco. OBS: Para Nucci todo homicídio tem um
motivo, que deve ser narrado e demonstrado pela acusação, se não o
foi, afasta a qualificadora. O ciúme pode ser motivo fútil ou não,
dependendo do caso (ao flagrar a traição pode ser privilégio, por olhar
pro lado é fútil). O acordo faz mal ao sistema, pois os promotores
exageram nas qualificadoras e a defesa exagera na defesa para
negociar.

2. Qualificadoras dos meios: Veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura,


meio insidioso, cruel ou que possa resultar em perigo comum. Tratam-se de
qualificadoras objetivas, de tal modo que podem ser combinadas com as que
tornam o crime privilegiado.

a- Veneno – Substância em si tóxica. Prevalece que o açúcar não é


veneno, mesmo em face do diabético. Pode configurar meio insidioso
escondido. Refere-se ao meio insidioso, ou seja, deve ser escondido.
Vidro moído na comida não é veneno, pois não é em si tóxico,
configuraria meio insidioso. Se não for insidioso pode entrar como cruel
(ou pode não entrar como nada). Insidioso ou escondido pelo menos
para a vítima. Prevalece que no caso do açúcar, em regra, não
configurará a qualificadora do veneno, pois este não é em si mesmo
tóxico. Veneno é toda substância, biológica ou química, que, introduzida
no organismo, pode produzir lesões ou causar a morte. Sua
administração forçada (será meio cruel) ou com o conhecimento da
vítima não qualifica o crime.
b- Fogo: Qualifica, pois é cruel (doloroso) ou porque pode gerar perigo
comum.
c- Explosivo: É qualquer objeto ou artefato capaz de provocar explosão ou
qualquer corpo capaz de se transformar rapidamente em uma explosão.
Prevalece que é possível o concurso de crimes com o crime de incêndio
ou explosão. Prevalece que a labareda não precisa atingir a vítima. (Ex:
bota fogo na casa, mas a pessoa morre por asfixia, pois o fogo foi
utilzado; ou caldeirão de água fervente).
d- Asfixia: É o impedimento forçado da função respiratória.
e- Tortura: Tortura resultado morte (Lei 9455/97; dolo de torturar e de
matar por culpa, é um crime preterdoloso) x homicídio mediante tortura
(Art. 121, §2º, III, CP; dolo de matar e escolhe o meio de tortura, mata
torturando, desígnio é de matar).
f- Meio Cruel: É aquele que impõe intenso e desnecessário sofrimento.
Prevalece que o meio cruel é subsidiário à tortura, ou seja, resta
configurado no sofrimento intenso e desnecessário que não configura a
tortura.
g- Meio que possa resultar perigo comum: é aquele que pode atingir um
número indefinido ou indeterminado de pessoas.

3. Qualificadora dos Modos: Traição, Emboscada, Dissimulação ou outro


recurso que dificulta ou impossibilita a defesa da vítima. É uma qualificadora
objetiva. Por isso permite a compensação com o privilégio (que é subjetiva).
a) Traição: É a surpresa pela quebra de confiança. Traição é a
ocultação moral ou mesmo física da intenção do sujeito ativo, que
viola a confiança da vítima.
b) Emboscada: É a surpresa pelas circunstâncias; armadilha;
tocaia.
c) Dissimulação: É a surpresa pela intenção escondida.
Dissimulação é a ocultação da intenção hostil, do projeto
criminoso, para surpreender a vítima.
d) Ou outro recurso que dificulta a defesa da vítima: Deve ser
interpretado analogicamente, de modo que precisa ser um
recurso que empregue surpresa, a mera superioridade em armas
não qualifica. Além de procedimento inesperado, é necessário
que a vítima não tenha razão para esperar a agressão ou
suspeitar dela.
4. Teleológica: execução, ocultação, impunidade ou vantagem em relação
a outro crime. São os fins qualificadores.

a) Impunidade: toda forma de evitar a punição do crime (ex: matar


testemunhas, matar perito), está relacionado a ocultar a autoria.
b) Ocultação: tem a ver com evitar que descubram o crime (ex: sedar
pessoa e ela não notar que foi assediada).
c) Vantagem: engloba o produto (ganho imediato), o provento (lucro
mediato ou o preço do crime).

Lembrar que a qualificadora só incidirá se o fato não configurar crime


específico como o latrocínio.

5. Feminicídio: Se o homicídio for praticado contra a mulher por razões da


condição de sexo feminino. §2º-A: “Considera-se que razões da condição do
gênero feminino quando o crime envolve (i) violência doméstica ou familiar (ii)
menosprezo ou discriminação à condição de mulher”. Prevalece que se aplica
para transexuais, desde que comprovada a condição de mulher, a identidade
feminina.

6. Funcional: Homicídio contra autoridades contidas no art. 142 (forças


armadas) e 144 (polícias; guarda municipal; agente de trânsito) da CF.
Integrante do sistema prisional; da força nacional. No exercício da função, ou
em razão da função. A qualificadora incide se a vítima for cônjuge,
companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau.

Homicídio Qualificado-Privilegiado: Privilégio é subjetivo (relevante valor


moral, social ou domínio de violenta emoção). Pode ter um meio qualificado e
um motivo privilegiado.

Sobre as novas qualificadoras: 5 – Feminicídio: (a) para parte da doutrina


(Nucci), deve ser reconhecida a natureza objetiva, para permitir o homicídio
privilegiado-qualificado. (b) Em razão da expressão “por razões” muitos
sustentam que a qualificadora é subjetiva, impedindo a combinação com o
privilégio. 6 – Funcional: Prevalece na doutrina que a qualificadora é subjetiva.
Possível sustentar que seria objetiva “no exercício da função”.
Art. 121, §4º, CP - Causas de aumento de pena

Aumenta a pena em 1/3. São causas de aumento no homicídio culposo


apenas. Diz-se o crime culposo, quando o agente deu causa ao resultado por
imprudência, negligência ou imperícia (conduta voluntária, resultado
involuntário, previsibilidade, nexo causal, quebra do dever de cuidado,
tipicidade).

(i) Não presta socorro; lembrar que o homicídio culposo no trânsito está
previsto em lei especial. Ex: acidente de bicicleta. A presença de
risco pessoal afasta esta majorante.
(ii) Não procura diminuir as consequências do crime; Ex: vê criança no
carro e não quebra o vidro para salvá-la
(iii) Foge para evitar prisão em flagrante: Controversa a
constitucionalidade da causa de aumento, diante do princípio da não
autoincriminação.

OBS: Essas causas de aumento se referem ao homicídio culposo, ao


homicídio doloso o incremento da pena é aplicado se a vítima é menor de
14 ou maior de 60 anos – nesses casos há a necessidade de dolo para
configurar a causa de aumento, o autor deve saber que mata alguém de
tal idade.

§6º - O crime é aumentado de 1/3 até ½ se o crime é praticado por milícia


privada sob pretexto de segurança ou grupo de extermínio. Milícia: corporação
com estrutura e disciplina militar. Grupo de extermínio: associação de
indivíduos com o objetivo de matar pessoas vinculadas por determinada
característica, como o passado criminal, cultura, origem, etc.

§7º - Causas de aumento no feminicídio: A pena aumenta de 1/3 até ½ se: (i)
durante a gestação ou nos três meses posteriores ao parto. (ii) se a vítima for
menor de 14 ou maior de 60 ou com deficiência (relação com a condição de
vulnerabilidade da vítima). (iii) na presença de descendente ou ascendente
(aqui tem relação com o impacto gerado na pessoa que viu).

§5º - Previsão do perdão judicial, sempre que as consequências do crime


culposo venham a atingir o sujeito de forma tão grave que a pena se torna
desnecessária. OBS: O STJ decidiu que para o reconhecimento do perdão
judicial no homicídio culposo, é necessário especial vínculo do autor com a
vítima ou ao menos com alguma das vítimas.

PARTICIPAÇÃO NO SUICÍDIO – Auxílio, instigação ou induzimento (art.


122):

Induzir (suscitar o surgimento de uma ideia), instigar (reforçar uma ideia


existente) ou prestar auxílio (contribuição material) para que terceiro pratique
suicídio. Polêmica sobre a constitucionalidade ou mesmo pertinência da
tipificação diante da autonomia individual (autonomia x paternalismo).

Greve de fome: É vedado ministrar, forçadamente, alimentação ao grevista,


desde que se encontre em pleno uso de suas faculdades mentais e não haja
grave risco de vida. O médico, na hipótese de greve de fome de prisioneiros,
tem o dever de zelar pela saúde e, por extensão, pela vida dos grevistas. A
transfusão de sangue determinada pelo médico, quando não houver outra
forma de salvar o paciente está, igualmente, amparada. Quando os familiares
ou pessoas encarregadas de menores ou incapazes negarem assistência
médica, sobrevindo a morte do menor ou incapaz, responderão por homicídio
omissivo impróprio.

Roleta Russa: A solução indica a responsabilidade do sobrevivente pela


participação em suicídio. Se, no entanto, algum dos contendores for coagido a
participar da aposta, sobrevivendo o coator, este responderá por homicídio
doloso.

Pacto de Morte: ocorre quando duas pessoas combinam o duplo suicídio.

a) “A” abre a torneira de gás; “B” sobrevive; participação em suicídio.


b) “A” abre a torneira; “A” sobrevive. “A” responde por homicídio. Se o
executor for o sobrevivente responderá por homicídio.
c) Os dois abrem a torneira de gás, não se produzindo qualquer lesão em
face da intervenção de terceiro; ambos respondem por tentativa de
homicídio, uma vez que praticaram ato executório de matar.
d) Terceiro abre a torneira. Os dois se salvam. Os dois não respondem por
nada, o terceiro que praticou o ato executório responde por dupla
tentativa de homicídio.
e) Os dois sofrem lesão corporal de natureza grave, sendo que “A” abriu a
torneira de gás. “A” responde por tentativa de homicídio, “B”, por
participação em suicídio.

Existe a possibilidade de usar de força para evitar que terceiro se mate, de tal
modo que não pode se considerar um direito a se matar. Se não é garante, não
há o dever de evitar o suicídio, se for garante tem o dever. A participação no
suicídio só terá relevância penal se do ato suicida resulta lesão grave ou morte.

Causas de aumento da pena – a pena é dobrada (2X):

i- Motivo egoístico: Busca de vantagem pessoal;


ii- Se a vítima é menor: Prevalece entre 14 e 18 anos, pois se
menor de 14 presume-se a incapacidade de resistência.
iii- Se a vítima tem diminuída a capacidade de resistência: Como
nas doenças graves, depressão, embriaguez.

INFANTICÍDIO (ART. 123):

Matar, sob influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou


logo após. Estado puerperal é o conjunto de perturbações psicológicas e físicas
que alteram a capacidade de autodeterminação da mulher. Se interferir na
capacidade de autodeterminação, o estado puerperal ganha relevância penal.
Não se trata a questão do puerpério como inimputabilidade, pois o Brasil não
admite intervalos lúcidos entre a prática do crime. A pena não é necessária.

O terceiro colaborador responde por infanticídio, pois, conforme a teoria


monista, todos aqueles que colaboram para o crime, respondem pelo mesmo
crime. Pacífica a conclusão que o terceiro que colabora com a mulher em
estado puerperal, responderá também pelo infanticídio, por força do art. 30: as
elementares se comunicam (e mulher, em estado puerperal, é elementar).
ABORTO (art. 124-128)

Interrupção da gestação com o resultado morte do feto. Prevalece que a morte


pode ocorrer fora do ventre da gestante, desde que causada pela conduta que
causou a interrupção da gestação.

É polêmica a criminalização do aborto, pois de um lado há o apelo pela tutela


da vida, e de outro o argumento pela ineficácia preventiva do tipo e pela
seletividade de sua incidência que gera problemas de saúde pública. Seria uma
violação à dignidade sexual e dos direitos reprodutivos da mulher, interferência
excessiva do Estado na autonomia da mulher.

Vida endouterina:

a) Início: (i) Tradicional – é a nidação, é o apego do ovo fecundado à


parede do útero, resposta fácil, mas não prática (a pílula do dia seguinte
se tomada depois de 24 horas, evitará a nidação e não a fecundação,
mesmo procedimento do DIU. (ii) A partir da fecundação, parte dos
tratados internacionais, art. 4º, I, Pacto Interamericano de Direitos
Humanos - o direito à vida deve ser protegido pela lei e, em geral,
desde o momento da concepção (fala “em geral” e não fala em lei
penal). (iii) a tutela penal se inicia com o começo do relacionamento
“mãe e filho” que ocorre por volta do terceiro mês. Alguns países
europeus entendem que a criminalização deve se dar somente após a
formação do sistema nervoso; se a morte ocorre com a morte encefálica
(parada total e irreversível da atividade eletroencefálica), a contrário
sensu, a tutela penal da vida começaria com a formação do tubo neural.

Observações gerais iniciais: (i) Gestante que tenta o suicídio: 1 (Rogério


Grecco: deve responder por aborto tentado ou consumado, pois presentes os
elementos); 2 (Se o objetivo era a autolesão, deve ser afastada a relevância
penal pela inutilidade da pena no âmbito preventivo).

Aborto em espécies:

I- Art. 124 – Crimes da Gestante: (i) Autoaborto – se a própria


gestante provoca o aborto, consuma-se sempre com a morte do feto
(todas as espécies são assim); é crime doloso, não há forma
culposa; prevalece que terceiro que colabora responde como
partícipe (ex: se induz a mulher a abortar, se indica a clínica pode
ser no 124 também). (ii) Aborto Consentido – se a gestante
consente com a manobra abortiva, apesar do verbo consentir, só se
consuma com o efetivo aborto. O consentimento deve perdurar
durante toda a manobra. O terceiro que colabora com o
consentimento responde como partícipe do aborto consentido
(obs: se a colaboração se dirige à provocação de terceiro, responde
nas penas do art. 126, e esta deve ser dirigida somente à gestante,
como ao instiga-la ou induzi-la).
II- Art. 125 – Provocar aborto sem consentimento: Equipara-se à
ausência de consentimento o disposto no art. 126, § único: se a
gestante é menor de 14, alienada mental ou se o consentimento foi
obtido por violência, grave ameaça ou fraude (p.ex: falar pra gestante
que o feto da morto).
III- Art. 126 – Provocar aborto com consentimento: Trata-se de
consagrada pluralista à teoria monista, pois a gestante que consente
responde nas penas do art. 124, e o terceiro que provoca no art. 126.
O consentimento deve perdurar por toda a conduta (no meio da
curetagem a gestante desiste, e o provocador continua, ele
responderá no art. 125).
IV- Art. 127 – Causa de aumento: (o artigo chama de qualificadora,
mas está errado). Seda manobra abortiva resultam lesões graves ou
a morte da gestante. Os resultados devem ser culposos. Se dolosos
restará configurado concurso do crime de aborto com o crime de
homicídio ou lesão corporal. As causas de aumento só incidem
nos arts. 126 e 125, por expressa disposição legal, isto para
proteger a gestante. Crítica: o partícipe que responde no art. 124
não recebe a causa de aumento. Para parte da doutrina (minoritário)
poderia responder por aborto em concurso com lesão corporal ou
homicídio na forma culposa. Caso da tentativa resultar morte da
gestante: partindo da premissa que na tentativa não cabe crime
preterdoloso, prevalece o concurso da tentativa de aborto com o
homicídio culposo.
V- Art. 128 – Aborto Legal: É o aborto autorizado por lei. A natureza é
controversa, mas prevalece que as hipóteses expressamente
previstas são específicas excludentes de antijuridiciade. O aborto
legal deverá ser sempre autorizado e realizado por médico.
Hipóteses:
a) Aborto necessário: se não há outro meio para salvar a vida da
gestante. O aborto necessário pode ser: (i) profilático, no qual o
objetivo é afastar o perigo iminente em face do prognóstico de
risco à vida da gestante; (ii) terapêutico se o perigo for atual. Não
é necessário ter o consentimento da gestante (é uma escolha
legal de salvar a vida da gestante em detrimento da vida do feto).
Se for terceiro que não o médico quem realiza a manobra abortiva
não é aborto legal, mas pode configurar estado de necessidade.
b) Aborto Sentimental ou Humanitário: Se a gravidez decorre de
estupro. É necessário o consentimento da gestante. Necessária
solicitação da gestante ou de seu representante legal.
Desnecessária a condenação por estupro. Desnecessária ordem
judicial, tecnicamente basta que o médico comprove seu
convencimento sobre a prática do estupro. Uma portaria exige
como documento o B.O do estupro, todavia, a ação é pública
condicionada, de tal modo que é uma faculdade da vítima de
procurar o sistema de justiça.
c) Aborto do Anencéfalo: Não tem previsão legal, resulta da ADPF
nº 54. O diagnóstico de anencefalia significa que o feto não têm
condições de vida extrauterina, o encéfalo é subdesenvolvido. A
ADPF é de competência do Plenário do STF, de tal modo em
caso de decisão monocrática de um dos Ministros. Na ADPF nº
54, o STF pacificou a irrelevância penal do aborto de anencéfalo,
desde que realizado por médico.

Abortos proibidos:

1- Aborto Econômico: por falta de condição econômica.


2- Aborto Honoris Causa: para não anchar a honra da gestante/ideia de
pura, virgem.
3- Aborto Eugênico: é o aborto pela má formação do feto.

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