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Revista de História Comparada - Programa de Pós-Graduação em História Comparada-UFRJ

www.hcomparada.historia.ufrj.br/revistahc/revistahc.htm - ISSN: 1981-383X

O BÁRBARO COMO CONSTRUTO. UMA REDISCUSSÃO HISTORIOGRÁFICA DAS


MIGRAÇÕES GERMÂNICAS À LUZ DOS CONCEITOS DE CULTURA, CIVILIZAÇÃO
E BARBÁRIE
Ronaldo Amaral1
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campus de Três Lagoas

Recebido 15/07/2014
Aprovado 15/12/2014

Resumo: A partir de algumas discussões recentes a respeito dos conceitos de


cultura, civilização e barbárie, realizadas pela História e por outras ciências
humanas a ela afins, e tendo sobretudo em mente as vicissitudes espaços-
temporais e sociais nas quais nos depararíamos com a práxis daqueles conceitos,
empreenderemos aqui nossa própria revisitação deles. Para tal abordagem, nos
debruçaremos sobre um período e um acontecimento privilegiado, a Antiguidade
Tardia das migrações germ}nicas em direç~o ao Ocidente Romano.
Palavras-chave: Bárbaro – Civilização – Conceito.

THE BARBARIAN AS A CONSTRUCT. A HISTORIOGRAPHICAL REDISCUSSION


ABOUT THE GERMANIC MIGRATIONS UNDER THE CONCEPTS OF CULTURE,
CIVILIZATION AND BARBARISM
Abstract: From some recent discussions about the concepts of culture, civilization,
barbarism, made by history and other social sciences related to it, and especially
having in mind the social and spatiotemporal vicissitudes in which we face with
the praxis of these concepts, we will undertake our own revisiting these concepts.
For this approach, we will lean on a period and a privileged event, the Late
Antiquity of "Germanic migrations" toward the Roman West.
Keywords: Barbarian – Civilization – Concept.

Uma História a partir dos conceitos para um conceitualização da História


O presente trabalho tem por objetivo empreender uma discussão
historiográfica acerca do fenômeno das migrações germânicas (séculos IV e V
essencialmente), à luz de um revisionismo crítico de alguns conceitos chaves para
a sua compreensão enquanto História da cultura,2 sobretudo a partir de suas
matizes antropológicas e linguísticas. Para tanto, empreenderemos uma crítica

1 E-mail: ronalduamaral@hotmail.com. Endereço de correspondência: Universidade Federal de


Mato Grosso do Sul, Av. Ranulpho Marques Leal, 3.484, Caixa Postal 210, CEP: 79620-080. Três
Lagoas – MS – Brasil.
2 Isto é, enquanto implique novos métodos mais que novos objetos, como aqui requeremos ensejar

a partir do estudo do encontro de culturas dissonantes e de suas profusas relações daí oriundas, ora
tendendo a acomodações, ora ao rechaço, ora as imposições unilaterais, ora as reciprocidades e as
recepções mútuas. BURKE, Peter. O que é História cultural Rio de Janeiro: Zahar, 2005. p. 9.

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principalmente dos conceitos civilizaç~o e barb|rie , assim como suas possíveis
adjetivações, buscando, para além de seu significado conceitual, suas evoluções
semânticas e, portanto, suas implicações para o momento histórico os quais viriam
a tocar, e tanto como percepção como representação. No bojo de tal abordagem
nos encontraremos, necessária e imperativamente, com o sempre controverso
conceito de cultura . Dada sua natureza complexa e polissêmica, a nosso ver, mais
que interdisciplinar ou multidisciplinar, um verdadeiro tecido conjuntivo entre as
disciplinas,3 não poderíamos mesmo pretender aqui, por competência e espaço,
promover uma definição sua, ou mesmo seu histórico ou balanço conceitual.
Contudo, desejamos, fazendo eco e justiça a tão aclamada interdisciplinaridade,
sem a qual, a nosso ver, a pesquisa em História estaria fadada ao antiquarismo ou
ao positivismo mais elementar, discutir, por exemplo, o conceito de cultura na sua
relação com a História sobre uma perspectiva antropológica ou mais
particularmente linguística, ou filosófico-linguística. Como se verá linhas adiante
nos colocaremos sob a inspiração e a égide de autores como Tzvetan Todorov e
Umberto Eco. A abordagem antropológica que permeará nossa análise, mas a ela
não nos remeteremos de modo direto por razões de espaço e escopo, parece tocar
precisamente as circunstâncias aqui investigadas no sentido de trazer à luz a
comumente visão, encontrada nas nossas fontes, de que determinada cultura, seja
a do indivíduo ou de um grupo, constitui-se como resultado imperativo de seu
pertencimento a um lugar biológico, em detrimento, por exemplo, da tese que
sustenta a existência de uma cultura comum, ou seja, de uma cultura portadora de
valores universais que extrapolaria os condicionamentos biológicos.4 Contra isso,
insistamos, a natureza biológica, ou seja, o nascimento e o pertencimento há um
determinado grupo humano, definiria a própria cultura do indivíduo (inclusive nos
seus aspectos psicológicos e sociológicos), fundando aquela visão determinista que
redundou na própria justificação da etnogênese a qual nos foi legada desde a
antiguidade grega e romana. No entanto, essa discussão é tão só o pano de fundo

3 Aproveito-me aqui, por meio de um uso próprio, do termo forjado por Gilbert Duran na sua
definição do imaginário como ferramenta teórica para as múltiplas ciências humanas que dele se
valem em suas pesquisas. DURAN, Gilbert. Campos do imaginário. Lisboa: Instituto Piaget, 1996. p.
231.
4 GEERTZ, Clifort. Interpretação das Culturas. Rio de Janeiro: LTC, 2008. p. 31.

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para nossa abordagem mais premente, ou seja, a crítica histórica interdisciplinar
aos próprios conceitos de barb|rie e civilizado . Ambos os conceitos também
não serão aqui esgotados em suas análises per se, mas enquanto nos ajudem a
entender, pela ótica de uma História da Cultura, sobretudo no que toca as
estruturas antropológicas e linguísticas como já dissemos, o seu significado de
acordo com o momento histórico e sociocultural para os quais seriam requisitados;
a historização desses mesmos conceitos far-se-á igualmente necessária, por meio
da análise e da compreensão de suas evoluções semânticas, para a sua
compreensão mais coerente quando da sua cristalização nas experiências da vida
concreta, mesmo aquela constituída enquanto representação. Aqui seu significado
histórico deverá então suplantar o seu significante enquanto conceito para então
poder implica-lo cultural e socialmente. Jacques Le Goff preocupado com os
fundamentos teórico-metodológicos para uma prática historiográfica
interdisciplinar j| anotava nesse sentido a import}ncia da crítica conceitual O
desaparecimento ou aparecimento de termos, a evolução e as transformações
sem}nticas do vocabul|rio fazem parte do próprio movimento da (istória ,5 e se
adotássemos aqui uma análise a partir do pós-modernismo de Whithe poderíamos
acrescentar que as palavras, os termos, os conceitos, a estrutura do texto e seus
imperativos, construiriam a própria Historia sem mais filosofias ou
questionamentos que não aqueles que emergiriam do próprio texto.6
Isso colocado, a análise das fontes oriundas do período aqui indicado, como
aquelas atribuídas a Aminiano Marcelino, Isidoro de Sevilha, Paulo Orósio deverá
recair essencialmente sobre sua própria estrutura interna no sentido de verificar
as mutações/permanências dos significados socioculturais de seus
termos/conceitos e a partir de então suas implicações sócio históricas. A crítica
historiográfica acerca dessas fontes, que as constituem tanto quanto a autoria
pessoal e {s circunstancias culturais do lugar que as teriam produzidas, terão o
poder de nos evidenciar que os conceitos aqui revisitados podem ser melhor
compreendidos se apreenderem coerente e inteligivelmente a nossa percepção
atual ou mais atualizada, para serem então recolocados nas suas circunstâncias

5 LE GOFF, Jacques. O Imaginário Medieval. Lisboa: Estampa, 1994. p. 24.


6 WHITE, Hayden. Meta-História. São Paulo: Edusp, 2008. p. 18.

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mais primitivas, ou seja, aquela da fonte mesma, se é que isso seja em si possível.
Isto nos permitirá, portanto, senão a compreendê-las de modo o mais verdadeiro,
ao menos sob uma perspectiva mais salutar, ou seja, aquela que leva em conta a
compreensão da História enquanto um conhecimento especulativo e cumulativo,
construído pelo contínua releitura de suas fontes, que a cada tempo, de acordo com
suas especificidades socioculturais e mentais, ademais das subjetividades do
leitor/investigador, podem imprimir uma compreensão histórica (e porquê não
dizer a História mesma) a melhor possível, pois consoante a seu presente e a seus
espíritos fundantes. Nosso artigo quer assim propor um modus operandi para um
fazer História, entendida não como conhecimento do passado, mas como resultado
do seu próprio processo de conhecimento.7 Mais uma vez os conceitos são, por
essa sua natureza de multividência e abertura, cuja melhor historização só é
possível na sua última sedimentação, ou seja, aquela do presente do próprio
historiador (mas também sendo necessário uma arqueologia nesta sedimentação a
partir de suas muitas conotações espaço-temporais, ideológicas e mentais que a
formou), ferramentas privilegiadas para a uma tal abordagem histórica. Os termos
aqui criticados serão assim relidos nas suas fontes antigas enquanto nos tragam
uma nova luz, senão sobre aquele período mesmo, sobre o processo histórico que
desencadeou e os resultados de seus desdobramentos até nós.
Será, portanto, nesse quadro espaço-temporal de transformações, primeiro
conjunturais, e posteriormente estruturais, como o próprio aparecimento do
cristianismo como civilização, que assistiremos, e tanto em seus aspectos
socioculturais quanto mentais, um cenário realmente privilegiado para o tema que
propomos se tivermos por olhar as ditas migrações b|rbaras , isto é, as incursões,
mais ou menos pacíficas, mais ou menos céleres, dos povos germ}nicos em
território romano, sobretudo a partir do século V.

De novo o conceito: invasões ou migrações germânicas


Devemos perceber no mais, que o termo invasões b|rbaras , comumente
utilizado para designar esse fenômeno histórico, e consagrado por uma

7 COLLINGWOOD, Robin. A ideia de História. Lisboa: presença, 2001. p. 244.

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historiografia política e tradicional, foi definitivamente preterido por sua carga de
aviltamento {quele povo que, frente aos romanos, foram considerados b|rbaros ,
ou seja, violentos, destruidores, cupidos. Foi substituído pelo termo migrações,
proposto por historiadores germânicos, os quais desejam, por sua vez, dar termo a
sua própria visão desse acontecimento, ou ainda, traz { luz a vis~o dos recém-
chegados .8 O presente termo, aliás, parece de fato ser mais coerente com esse
movimento histórico, pois desfaz uma terminologia (Invasões) que tem encerrado
um sério valor pejorativo, assim como o próprio termo bárbaro para designar
aqueles envolvidos nesse processo migratório. Não obstante, a terminologia
migrações se encontra muito mais em consonância às vicissitudes do movimento
desses povos, uma vez que eles secularmente vinham avançando em direção ao
Ocidente Romano, em um contínuo e na maior parte das vezes pacífico contato
com a civilização romana, quando não sob sua anuência. Portanto há que se excluir
a ideia unívoca de uma avalanche humana repentina e violentamente irrompida,
como o fez Lucien Musset ainda que, não obstante, tenha contribuído
substancialmente com a ideia de que ambas as civilizações colaboraram, cada uma
a seu modo, na construção de um lugar comum, havendo tanto a colaboração de
elementos germânicos como romanos na constituição da civilização medieval
nascente.9 A constituição da civilização romana-bárbara seguida de sua lenta e
paulatina evolução no sentido de formar uma civilização comum, sob a égide do
cristianismo e, conjunturalmente, a partir da tentativa de reunificação de parte no
Ocidente sob Carlos Magno, visto como uma revivescência da ideia de unidade
romana, mas igualmente como uma vocaç~o do Ocidente europeu em direç~o a
unidade agora sob o bastião de uma fé comum, é sem dúvida um dos legados mais
controversos da História desse período que nós chega até os dias atuais. Desde o
cl|ssico manual universit|rio de Roberto Lopez O nascimento da Europa ,10 com
especial ênfase ao capítulo dedicado à essa discussão em especifico que trata da
formação do Império Carolíngio e sua dissoluç~o: Esboço da Europa ou falsa

8 BARBERO, Alessandro. O dia dos bárbaros. São Paulo: Estação Liberdade, 2010. p. 21.
9 MUSSET, Lucien. Las Invasiones. Las oleadas germânicas. Barcelona: Labor, 1982. p. 18.
10 LÓPEZ, Roberto. El nacimiento de Europa. Madrid: Labor, 1965. p. 97.

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partida até o livro de Jacques Le Goff As raízes medievais da Europa 11 tem se
tentado encontrar o gênese da Europa no alvorecer da Idade Média, e sempre no
sentido de conversão para a unidade, para hoje talvez justificar, por exemplo, sua
nova tentativa de união sob a égide do econômico com a Formação da Comunidade
Européia que agrega dezoito países no uso de uma moeda comum: o euro. Em
detrimento da unidade econômica vemos, no entanto, emergir a todo o momento
a ressurgência de movimentos separatistas (e a questão do ethos novamente
deveria se colocar) mesmo no interior de um mesmo país ou nação, como tem
ocorrido na Espanha e no Reino Unido ou no Leste Europeu. Mais recentemente
publicou-se um livro que pretender retomar essa questão analisando a construção
historiográfica do próprio discurso histórico que reiteradamente, busca na Idade
Média o berço da Europa.12
O termo invasões, assim como o próprio termo bárbaro, encerra, portanto,
não uma verificação histórica de um acontecimento tal como se dera, mais uma
valoração de uma cultura em detrimento de outra. Etimologicamente, bárbaro
significa aquele que gagueja, que não consegue falar corretamente, cuja fala, sequer
consegue expressar sua cultura.13 Tzvetan Todorov, por sua vez, em um livro
recente,14 definiu de modo magnífico os conceitos de bárbaro e civilizado e seus
desdobramentos históricos naquelas culturas onde a dualidade
civilizaç~o/barb|rie sempre se estabeleceria diante do encontro com o outro .
Como Umberto Eco (ambos, filósofos e linguistas) deu particular ênfase ao lugar da
fala, ou sua ausência, como expressão da cultura, sobretudo nas circunstâncias da
caracterização e construção do bárbaro. Esse seria então essencialmente aquele
que não tem cultura ou que, na melhor das hipóteses, não pode ou não sabe
expressá-la, chegando por isso a ser considerado mesmo um ser desprovido de
humanidade.

Assim pode-se compreender (sem aprovar) o fato de que numerosas


populações se considerem como únicas a serem plenamente humanas,
lançando os estrangeiros para fora da humanidade: a razão é que, por

11 LE GOFF, Jacques. As raízes medievais da Europa. Petropolis: Vozes, 2007.


12 WOOD, Lan. The Modern Origins of the Early Middle Ages. Oxford University Press, 2013.
13 ECO, Umberto. Interpretação e superinterpretação. São Paulo: Martins Fontes, 2012. p. 36.
14 TODOROV, Tzvetan. O medo dos bárbaros. Rio de Janeiro: Vozes, 2010.

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ser incompreensível, a cultura dos estrangeiros é julgada inexistente,
ora, sem cultura, o homem não chega a ser humano.15

Isso é particularmente certo para o período e as circunstâncias que nos


ocupa, sobretudo pela arrogada superioridade cultural romana sobre a germânica,
ou seja, por aquela afirmar ser a portadora da língua universal que deveria ser
compreendida, porta-voz da civilização e dos retos e superiores costumes. Já a
língua, ou as línguas germânicas, tão incompreensíveis para os romanos quanto à
língua romana para os germânicos, não passariam de grunhidos animalescos, uma
vez que se trata da língua do outro , rebaixado { condiç~o de barb|rie e
barbarizador.

A pretendida superioridade da cultura romana e o bárbaro como o outro


Por sua vez, a cultura romana, primeiro clássica e depois cristã, fora nesses
primeiros séculos a cultura dominante, apesar de devedora das tradições orientais,
tanto a grega como as do Oriente Médio e da Ásia; dispunha dos instrumentos de
salvaguarda da memória, como a escrita, e as leis codificadas, fazendo seus
registros no sentido de menos importar ou vilipendiar o outro diante da sua auto-
atribuída superioridade étnico-cultural e espiritual. Significativo disso é
averiguarmos que em pleno século VI, o bispo hispano-visigodo Isidoro de Sevilha
considera a língua grega a mais eximia entre todas.16 Daí que o outro fosse quem
fosse, por ver-se desprovido da cultura romana, era o bárbaro; sendo o outro,
independentemente de quem fosse, por ver-se desprovido da cultura romana, era o
bárbaro. Daí ainda, que o termo deve ser entendido nesse contexto na sua mais
pejorativa acepção, ou ainda, como adjetivo de rude, violento, desprovido das
letras e dos bons modos civilizacionais . Outro exemplo que nos demonstra que as
palavras trazem em si, mais do que um significante objetivo ou uma simples
nominação, uma carga ideológica que sempre redunda em uma adjetivação, é o uso
contemporâneo do termo vândalo para qualificar as pessoas que possuem uma
atitude violenta e destruidora. Os Vândalos foram povos que pertenciam àquelas

15TODOROV, Tzvetan. O medo dos bárbaros... Op. Cit., p. 40.


16ISIDORO DE SEVILLA. Etimologias. Edição bilíngue (latim-espanhol), de J. Reta e M. A. M.
Casquero, introdução e notas de Manuel C. Díaz y Díaz. Madrid: BAC, 2004. p. 729.

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famílias das gens advindas do Norte e que, a partir do século V, se estabeleceram
no Norte da África, antiga e rica província romana. Atravessaram o mar
Mediterrâneo empurrados pelos godos, por sua vez, sob as ordens dos romanos.
Portanto, sua feroz conquista de Cartago, capital daquela província, fora antes de
tudo o resultado de uma fuga para diante, como seria comum entre as causas das
movimentações dos povos germânicos nessa época. No mais, o que fizeram os
Vândalos nessa sua nova morada? Pilharam, destruíram, mataram? Tal ferocidade
deve ser nuançada, pois quem destruiria sua nova casa? Fizeram sim reflorescer a
cultura romana, construindo novos edifícios, recrudescendo a produção agrícola e
o comércio, as artes e as letras.17
Mas o problema é aqui mais que histórico; é historiográfico. Se no século V,
período mais agudo das migrações germânicas, esses eram considerados
b|rbaros pelos romanos, uma vez que a cultura preponderante e escrita era a
romana, a qual, como toda dominadora cultural, impõe a sua cultural mais pela
força do ferro que pela palavra, tal visão perduraria Idade Média afora pelas mãos
e pela boca dos ciosos herdeiros da cultura clássica, ou mais precisamente romano-
cristã.
Portanto, a maior causa de estranheza na história do contato entre romanos
e germânicos, talvez seja aquela promovida por uma historiografia positivista,
política e nacionalista, de forte tradição romana que acentuou e recrudesceu a sua
superioridade cultural sobre a germânica, ou pelo menos atribuiu aos germânicos
a barbárie necessária para destruir sua civilização.18 Como há nos informado
Walter Pohl as etnias b|rbaras , foram um construto romano, adotado ainda pela
historiografia posterior. Essas gens tão plurais em expressões culturais e costumes,
mesmo entre si, foram enquadradas numa só espécie pelos romanos. Nesse
sentido é curioso demostrar aqui que Isidoro de Sevilha, um romano-godo que,
embora exaltasse a (isp}nia sob os b|rbaros e esses sobre a (isp}nia19 era tão
profundamente romano em sua visão de mundo e formação cultural que passou a

17 RICHÉ, Pierre. As invasões bárbaras: Lisboa: Europa-América, 1980. p. 93.


18 PIGANIOL, Andre. L'Empire chretien. Paris: PUF, 1972. p. 446.
19 A constante exaltação da Hispânia consignada aos godos e a força com que esses submeteram os

romanos é lugar recorrente na pena de Isidoro na História dos godos, de onde podemos considerar
essa obra um verdadeiro panegirico a esse povo.

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ser um dos arautos dessa visão mais etnogênica aglutinadora dos germânicos do
que aquela caleidoscópica , muito mais razo|vel a multiplicidade e as
especificidades intrínsecas que caracterizava, por sua vez, a heterogeneidade das
gens germ}nicas, Gens é uma multid~o de pessoas que tem uma mesma origem ou
que procedem de uma raça distinta de acordo com sua particular identificação,
como Grécia ou Ásia .20
No mais, por não assistirem os germanos uma concepção de Estado,
segundo os moldes romanos, os próprios historiadores dos séculos XIX e meados
do XX, imersos em movimentos nacionais e fundamentados por uma História
iminentemente política, recrudesceram a ideia de que os povos não organizados
em um Estado seriam uma anomalia que deveria ser corrigida.21 Hoje, em razão de
uma visão mais antropológica e multidisciplinar, que entende o encontro de
culturas como um processo de aculturação mútua, de interpenetração recíproca,
de circularidade cultural,22 para usar um termo já a muito em voga, pode-se
realizar uma releitura das fontes daquele período de modo a nos permitir
encontrar mais simbioses, acordos, tolerâncias do que divergências e falta de
equidade entre romanos e germânicos. A imposição unilateral e forçosa de um
grupo étnico sobre o outro, cuja justificação é da imposição de uma cultura
superior , melhor , buscando corrigir aquela degradada , menor , ou mesmo
ausente ,n~o pode mais nós servir como par}metro para entender o contato e a
inter-relação entre romanos e germânicos nesse período histórico, assim como em
qualquer outro período e civilizações em circunstancias análogas. Ademais, a Idade
Média, berço da civilização européia e ocidental da qual participamos, é o
resultado da interpenetração das tradições romanas e germânicas sob a égide da
cultura cristã; uma vez que esta, legada ou não pela Igreja, foi o elemento de fusão
entre aquelas duas tradições em grande medida divergentes, ou dito de outro
modo, a cultura cristã modificou a ambas na medida em que deu-lhes elementos
comuns.

20 ISIDORO DE SEVILLA. Etimologias... Op. Cit., p 733.


21 POHL, Walter. El concepto de etnia en los estudios de la Alta Edade Media. In: LITTLE, L;
ROSENWEIN, B. (org) La Edad media a debate. Madrid: AKAL, 2003. p. 35.
22 GINZBURG, Carlo. O queijo e os vermes. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. p. 13.

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As raízes do estranhamento entre romanos e germânicos que, insistamos, é
tão mais uma construção historiográfica do que uma observação ipsum facto
daquela época por ela mesma, se firmou sobretudo no século XIX pela querela
entre os chamados historiadores romanistas e germanistas. Os romanistas
insistiam que a cultura romana era superior à germânica e que, portanto,
submeteu-a de todo, de modo que o Ocidente só pôde conhecer, após as invasões ,
a cultura romana, superior , a ’nica capaz de sobreviver e legar. Ela teria se
alçado e escamoteado de todo a tradição germânica que não traria nada para
compor com a nova civilização ocidental, medieval e posterior. Um dos arautos
mais conhecidos dessa tese é Henri Pirenne, que afirmou que até o advento da
expansão muçulmana no Ocidente no século VIII o mundo romano encontrava-se
intocado em suas estruturas tanto materiais como sociais e religiosas.23 Desta
forma, para os romanistas, os germânicos não contribuíram com nenhum legado
cultural, porque não tinham cultura (!), uma vez que os romanos eram os mais
civilizados dos povos, haja vista seu direito, sua língua, sua literatura, seu
pensamento (que, aliás, advirta-se quase nada criou, pois de fato tomou quase tudo
dos gregos, que só souberam submeter militarmente), e sua religião que eram
superiores a todos. Há que se considerar que Roma, como já se disse, conquistou a
Grécia e se viu conquistada por essa; isto é, conquistou a Grécia militarmente, mas
tudo, ou quase tudo, no campo das letras e do pensamento, só fez extrair dos
gregos e quando muito naturalizar algumas de suas circunstâncias para sua
realidade sociocultural. Quanto à religião romana, sabemos igualmente que seu
período mais rico, mais criador, que conseguirá abstrair as divindades como seres
transcendentais, de modo que o contato entre os humanos e os deuses dar-se-iam
agora por uma via mais mística, filosófica e metafísica, deu-se quando Roma, no
período helenístico, entrou em contato e tomou para si elementos da religiosidade
oriental, ou seja, dos b|rbaros do Oriente , egípcios, persas, hebreus, etc.24
Os romanistas insistiriam assim, no que tange a ideia de Nação, da
importância do território como doador de identidade e coesão sociocultural e

23 PIRENNE, Henri. Maomé e Carlos Magno. Lisboa: Bom Quixote, 1962. p. 39.
24 FERRY, Luc; JERPHAGNON. Lucien. A tentação do Cristianismo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2011.
p. 15.

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mesmo sócio-jurídica, que essa seria um legado inteiramente romano ao Ocidente.
É certo que hoje vivemos, assim como todos os Estados ocidentais em maior ou
menor medida, em uma res publica, onde se possui uma ideia abstrata do poder
público, que intermedia e salvaguarda os valores e os modos de se fazer valer
desse poder, por exemplo, na aplicação da justiça, no poder de polícia e na
manutenção do exército nacional, na distribuição dos bens e direitos, deveres e
obrigações a todos os cidadãos, se alçando, assim, e em todas essas circunstâncias,
o poder público acima dos interesses particulares e privados. Claro que isso que
acabamos de afirmar não é bem uma realidade prática, sobretudo porque a res
publica clientelista romana parece ter perdurado nos modelos contemporâneos de
governo republicano, isto é, a representação aristocrática se alça mesmo em países
de eleições populares diretas. Não obstante, o costume germânico – que adota o
poder privado sobre o público – tão bem aproveitados pela sociedade feudo-
vassálica medieval, parece ainda ter colaborado com aquele quadro. Não queremos
com isso dizer que o legado germânico dos particularismos, da indistinção entre o
público e o privado, seja em si mau. Mal é o uso escuso e anacrônico que dele se faz
ao longo da História, pois se tenta por em prática muitas vezes um costume que
não esta mais em consonância com a época que o engendrou e o viveu.25
Portanto, não há legados históricos que sejam maus ou corrompidos em si,
ou, de outro lado, bondosos ou virtuosos por si. É o uso interessado e parcial que
fazemos dele, associando-o e o adequando às nossas especificidades espaços-
temporais e ideológicas que geralmente criam ambientes de instabilidade e
incongruências históricas.26 Chegamos mesmo às vezes mesmo ao extremo de criar
o fato ou a realidade histórica do passado. Como muito bem mostrou Patrick
Geary, foi o próprio século XIX e inícios do XX que criou o conceito e a realidade
das Nações na Alta Idade Média, a visão dos germânicos como um povo unitário,
forjando uma língua e uma tradição cultural comum no seio de comunidades (gens)
tão plurais quanto a suas línguas, crenças, costumes, formas de governo. Tal
construção de um passado mais remoto para justificar os nacionalismos

25 FRANCO JÚNIOR, Hilário. Raízes medievais do Brasil. Revista USP, n. 78, p. 80-104, jun./ago.
2008. p. 86.
26 GADDIS, Johnl Lewis. Paisagens da História. Rio de Janeiro: Campus, 2002. p. 165.

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emergentes desse passado mais recente lançou mão, por sua vez, da própria
concepção romana clássica de etnia e nação, que data desde Heródoto. Este, mais
do que ser o pai da (istória foi na verdade o pai da etnografia cl|ssica ,
descrendo os povos que não romanos de forma homogênea, assim como
necessariamente os consignando a um território doador de suas características
tanto culturais como mesmo biológicas. Assim, os identificaria mais em razão ao
pertencimento natural a um território, do que a uma língua, costumes ou credos
próprios de suas dinâmicas e identidades socioculturais Assim, desde a
Antiguidade Clássica, e a partir de uma historiografia-etnológica romana da
História, seria adotado o critério de ver a si necessariamente em relaç~o ao
outro , n~o obstante, fundamentados por uma percepç~o dicotômica e
maniqueísta nesse ato de perceber e descrever a si em relação ao outro (ainda que
fossem outros . Aqui podemos citar a própria realidade do povo germânico e de
suas migrações nos séculos V e VI as quais, embora não possam ser negadas, foram
otimizadas de tal forma pela historiografia que fez de um movimento contínuo e
natural daqueles povos, e mesmo para o mundo romano já a eles secularmente
acostumados, algo sem precedentes, escatológico. A historiografia alemã, por sua
vez, quis com isso afirmar a força e a unidade germânica, por meio de uma raiz
comum que teria lugar antes do seu desmantelamento pelas migrações com sua
consequente pulverização étnico-cultural e geográfica em território romano.27 Tal
unidade deveria justificar posteriormente uma identidade germânica comum,28
sobretudo no contexto da era napoleônica e do avanço dos franceses,
principalmente a partir da ocupação da Prússia. Embora os franceses, quando do
advento da afirmação de sua monarquia, se identificassem eles próprios aos
germânicos (tanto a realeza como a nobreza francesa seriam descendentes dos
francos conquistadores e não dos gauleses frequentemente submetidos), seriam
agora identificados a Romania pelos germânicos contemporâneos em função de
sua língua latina e da conveniência do contexto político e militar desse período. Tal
construto justificava e enaltecia a ideia de uma nação germânica naquele país, pois

27GEARY, Patrick J. O mito das Nações. São Paulo: Conrad, 2005. p. 35.
28 GOFFART, Walter. Los bárbaros en la Antiguidad Tardia y su instalación em Occidente. In:
LITTLE, L; ROSENWEIN, B. (org) La Edad media a debate. Madrid: AKAL, 2003. p. 70.

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como no passado, unidos em uma só nação e território antes das migrações
(também esse um quadro ideal), haviam feito correr os romanos, poderiam agora,
se novamente restaurados na sua antiga unidade, derrotar aos franceses
herdeiros de Roma.29 Por esses exemplos, poderíamos concluir que todo olhar ao
passado, principalmente aquele mais longínquo, o constrói a partir dos parâmetros
do investigador, para justificar seu momento histórico, geralmente a serviço de um
grupo, como o de intelectuais orgânicos, ou simplesmente a partir de preocupações
e necessidades que lhe são próprios. As divergências muitas vezes irreconciliáveis
na História passam a ser, muitas vezes, e aqui particularmente, mais uma
construção do historiador, tendo por parâmetros de valor, de virtuosidade ou de
viciosidade, seu momento histórico. Essas valorações são geralmente maniqueístas
e naturais ao seu momento histórico, mais do que uma verificação objetiva das
vicissitudes da época e da fonte que investiga e dele se separa espaço-
temporalmente. Desse modo, o historiador que se pretende muitas vezes
imparcial, quase um Ser etéreo que sobrevoa seu objeto sem nele se imiscuir, de
onde acredita vislumbrar sua fonte sem nela tocar ou por ela ser tocado, tirando-
lhe a verdade objetiva, o como realmente aconteceu, para usar uma expressar
consagrada de Leopold Von Rank,30 deixa de precisar o essencial, ou ainda, que a
História é necessariamente um construto do historiador, composta por uma
imperativa interpenetração entre seu presente e o passado do seu objeto.
Os germânicos não possuíam uma concepção de Estado como os romanos,
como já apontado acima. Seus parâmetros de identidade estavam assentados no
pertencer a uma família, a um clã ou a uma comunidade, e não propriamente a uma
territorialidade (especialmente se justificados por uma inserção legal e jurídica
como se daria em Roma). No entanto, a etnografia clássica romana os identificava a
uma territorialidade, contudo, no sentido de amalgamá-los em uma unidade
demasiado amorfa e homogenia do que em estabelecer suas especificidades
territoriais que obedeciam a tradições religiosas, políticas e históricas precisas.
Mesmo contemporâneos à época das migrações, como Amiano Marcelino, o qual
voltaremos a citar, reconhece em relação aos alamanos sua diferenciação em

29 GEARY, Patrick J. O mito das Nações... Op. Cit., p. 38.


30 SCHAFF, Adam. História e Verdade. São Paulo: Martins Fontes, 1991. p.101.

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relação a outras gentes germânicas e mesmo no interior de seu próprio grupo, na
medida em que percebe que o exército alamano é formado por indivíduos de várias
nationes alamanas, assim como reconhece uma certa complexidade política e
militar em suas organizações. Entretanto sucumbirá a classificação clássica legada
desde Herótodo, quando chama a todas aquelas gentes provindas do além Dánubio
de barbari ou germani.31 Mesmo quando a partir do século VI os chamados reinos
romano-germânicos já estariam assentados em territórios precisos (grosso modo,
os visigodos na Península Ibérica, os Francos na Gália, os ostrogodos e depois os
normandos na Itália, os vândalos no norte da África), a razão de pertencimento a
um Estado era mais étnico (no sentido aqui de uma comunidade de indivíduos que
se identificam a sua gens) do que territorial. Um franco, assim o seria, não por
morar na Gália do Reino Franco, mas por pertencer a uma tribo franca (sálicos ou
ripuários, por exemplo). Assim, se um franco passasse a morar em um território
ibérico visigótico não por isso passaria a ser visigodo legalmente falando; se aí
cometesse algum delito seria julgado segundo a lei franca e não a visigótica. Entre
os germanos, mais ou menos acentuadamente de acordo com suas tradições e
contatos, não existia a ideia de nação, portanto, de identidade social e jurídica
adquirida a partir do lugar do nascimento ou do seu estabelecimento, assim como
concebia a Roma Antiga.32 Daí que o direito, que em Roma era territorial, era
consuetudinário entre os germânicos, isto é, vigoraria a personalidade das leis.
Mesmo a percepção do território enquanto possessão pública, permeada por leis e
direitos a favor de um lugar abstrato, de um Estado enquanto bem público
inexistia.
Mas nesse caso específico da territorialidade, de onde emerge as relações de
aceitação ou intolerância à civilização medieval posterior tentará conciliar ambos
os legados, sendo a sociedade feudal o reflexo melhor acabado disso, onde as
relações sociais e de poder político, dar-se-ia de homem para homem, numa
corrente contínua de laços de fidelidade ou dependência, entre um homem mais
poderoso e um menos poderoso (contrato feudo-vassálico) ou entre um poderoso
e um despossuído (senhores e servos).

31 GEARY, Patrick J. O mito das Nações... Op. Cit., p.76.


32 BANNIARD, Michel. A Alta Idade Média Ocidental. Lisboa: Europa-América, 1980. p. 64.

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Mas, como já dissemos, embora os germânicos e os romanos participassem
de civilizações próprias e muitas vezes dissidentes, mas nunca piores ou melhores
em termos de valorações dualistas socioculturais, houve desde o início mais coesão
do que conflito, mais consonâncias que desacordos, mais passividade que
belicosidade, como se pôde pensar e apregoar por aquela historiografia politica
tradicional. Claro est| que a historiografia que insistiu na fealdade dos povos
germânicos, na sua pretensa inferioridade étnico cultural (e isso não se reverteria
séculos depois por ocasião da ideologia nazista naquele país?) bebeu em fontes
escritas por romanos, por homens que acreditavam pertencer à verdadeira
civilização, que encerrava o melhor dos costumes, da ordem, das letras, da melhor
e mais eficaz forma de governo e justiça. Dado isso, os outros , os b|rbaros,
deveriam ser submetidos para serem rechaçados ou escravizados, ou ainda, em
funç~o da benevolência romana, abraçados por sua cultura superior que
melhoraria seu caráter e lhes traria ao seio da verdadeira civilização. Como já se
disse, o mundo germânico é provavelmente a criação mais importante e duradoura
do mundo romano;33 são os outros, no sentido mais pejorativo que se possa dar a
esse termo, identificados por uma unidade arbitrária e puramente acadêmica34
para justificar a dualidade, igualmente arbitraria, entre romanos e bárbaros. Nesse
sentido podemos inverter a tese do assassinato de Roma pelos b|rbaros, pois na
verdade, foram os romanos que mataram aqueles povos vindos do Norte,
descaracterizando-os a ponto de mudar a própria concepção que tinham de si. 35
Agricultores guerreiros foram transformados em camponeses militares, suas
crenças autóctones foram solapadas pela religião e pela cultura cristã. Para entrar
no mundo romano pagaram o preço da assimilação ou mesmo o da sua total
independência. Tornaram-se esse outro , uma unidade étnica artificial e
pejorativa, o bárbaro. Partindo dessa observação podemos entender as palavras de
um contemporâneo, Amiano Marcelino, que escreveu uma importante obra para o
conhecimento da época em diversos livros, os quais conhecemos reunidos pelo
titulo de Histórias. Aqui a descrição dos Hunos

33 POHL, Walter. El concepto de etnia en los estudios de la Alta Edade Media... Op. Cit., p. 40.
34 GOFFART, Walter. Los bárbaros en la Antiguidad Tardia y su instalación em Occidente... Op. Cit.,
p. 68.
35 GEARY, Patrick J. O mito das Nações... Op. Cit., p. 76.

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A sua ferocidade ultrapassam tudo; sulcam de profundas cicatrizes com
ferros a face dos recém-nascidos para lhes destruir a raiz dos pelos...
têm o corpo atarracado, s membros robustos e a nuca grossa; a largura
das costas fá-los assustadores. Dir-se-ia que são animais de duas patas
ou então daquelas figuras mal desbastadas, em forma de tronco de
árvores, que ornamento os parapeitos das pontes... os hunos não
cozinham, nem temperam aquilo que comem; alimentam-se de raízes
selvagens ou de carne crua do primeiro animal que apanham e que
aquecem por algum tempo na garupa dos cavalo entre as coxas. Não tem
abrigo, não usam nem casas, nem tumba... não põem pé em terra nem
para comer nem para dormir e dormem deitados sobre o magro pescoço
da montada, onde sonham a sua vontade. 36

Temos aqui a clássica descrição do bárbaro caracterizado por aquele


desprovido de valores e costumes próprios da civilização greco-romana, ou seja,
aquele que ignora a vida social sob uma lei comum, aquele que deve ser
identificado por um comportamento animalesco, seja psíquico, seja físico, uma vez
que não possuíam casas ou mesmo um país que lhe imprimariam os valores de
uma sociedade e de uma cultura que deve reger e intermediar as relações entre os
homens civilizados.37
Apesar disso, sabemos de muitos romanos que preferiam viver entre os
bárbaros a viver entre os seus, principalmente os camponeses livres esmagados
pela aristocracia detentora da terra e pelo fisco do Estado Romano extremamente
oneroso nesses séculos e que, ademais, fixava os homens as suas funções e
consequentemente ao seu status socioeconômico. Havia, portanto, cumplicidade
entre romanos e germânicos, na medida em que a situação de marginalidade e
opressão de ambos os grupos, bárbaros e humildes, mais os identificava do que os
separava. Desse modo, as querelas não seriam necessariamente pautadas pela
questão étnico-cultural, mais pelo social, entre os potentes de um lado e os
humilliores de outro, gerando uma bipolarização social que caracterizará os séculos
posteriores. Mas, se havia identificação e consonância de grupos humanos distintos
(camponeses romanos e bárbaros) em função de suas condições aviltadas, havia
também entre aqueles que a possuíam bens e poder. Como já se observou, as
estruturas aristocráticas dos chefes germânicos seriam muito consoantes a da elite

36 AMIANO MARCELINO. Historias. Madrid: Akal, 2002. p. 845.


37 TODOROV, Tzvetan. O medo dos bárbaros... Op. Cit., p. 26-27.

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senatorial do Império.38 Os chefes germânicos encontram seus correspondentes
nos grandes proprietários romanos, os potentes, que possuem a terra e uma milícia
armada sob seu comando. Nesse sentido, a elite germânica e a elite romana, no que
toca ao domínio das terras e dos humildes, somados ao irredentismo a outros
poderes, como o do Estado Romano, permitiram que se fundissem sem maiores
percalços pelo menos do campo ideológico das novas condições socioeconômicas e
sócio-jurídicas. Portanto, a bipolaridade é menos étnica que socioeconômica.
Colocado isso, ouçamos uma fonte da época, escrita por Salviano de Marselha, a
este respeito

Os pobres estão despojados, as viúvas gemem e os órfãos são pisados a


pés, a tal ponto que muitos, inclusive gente de bom nascimento e que
recebeu educação superior, se refugiam junto dos inimigos. Para não
perecer a perseguição pública vão procurar entre os bárbaros a
humanidade dos romanos, pois não podem mais suportar entre os
romanos, a desumanidade dos bárbaros.39

Os termos humanidade dos romanos versus desumanidade dos


b|rbaros , j| demonstra que o próprio voc|bulo b|rbaro era para eles menos um
substantivo do que um adjetivo, cuja acepção remetia a um valor pejorativo.
Entretanto, Salviano, romano cioso que é, vê-se obrigado a concordar que o
b|rbaro pode ser encontrado tanto entre os seus, os romanos, assim como a
humanidade entre os germânicos. Salvos os superlativos próprios da retórica do
período o texto mostra que as querelas e as dificuldades encontradas no Império
Romano da época pouco ou nada tinha a ver de fato com a chegada dos
desumanos b|rbaros como se quis na época por alguns autores, sendo, n~o
obstante, uma visão adotada e alargada por uma historiografia que nos chega até o
dia de hoje, criando e recriando espacial e temporalmente uma intolerância
pautada em um valor de juízo que já fora expurgado da historiografia desses
últimos decênios graças a uma análise mais filosófica e antropológica da História.
Como já se disse, as incursões bárbaras em território romano foi uma fuga
para diante em boa parte das vezes; povos mais hostis que empurravam povos

38 BANNIARD, Michel. Génese Cultural da Europa. Lisboa: Terramar, 1995. p. 95.


39 Citado por LE GOFF, Jacques. A Civilização do Ocidente Medieval. Lisboa: Estampa, 1995. p. 36.

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menos belicosos tomando-lhes o território, muitos dos quais já seriam
seminômade ou mesmo estáveis agricultores e pastores, assentados em uma
região específica que cultivavam. Muitas vezes esses povos só buscavam terras
mais férteis, alimentos, troca comerciais, ainda que em gêneros, ou simplesmente
estavam dispostos a se entregar ao modus vivendi romano que muitos respeitavam
e desejavam participar. A violência dos b|rbaros, de onde as invasões , muitas
vezes se dava pela necessidade, pela fome, pela reinvidicação desesperada da
manutenção de acordos que muitas vezes os romanos não respeitavam aos
bárbaros. Os romanos recebiam em algumas circunstâncias vezes esses povos em
seu território sobre o titulo de federados, isto é, dar-lhes-iam um pedaço de terra
para cultivarem em troca de impostos ou do serviço do exército. Em um desses
casos, conta-nos uma fonte da época que os bárbaros pegaram em armas contra os
romanos, pois esses os encerraram em um exíguo território sem recursos, e
vendiam-lhes carne de cães e outros animais repugnantes em troca de seus filhos
como escravos. Daqui que, os bárbaros vieram mais do que destruir o Império
Romano, salvar-lhe em grande medida. Ofereciam a sua força no cultivo no campo,
substituindo a mão de obra escrava escassa com o fim da expansão romana, assim
como atenuavam suas mazelas oferecendo braços para seus exércitos, produção e
divisas para o fisco do Estado, etc.
As razões, os meios, e as vicissitudes das instalações dos germânicos em
território romano deve nos levar, entretanto, a um quadro mais complexo: o
processo de fusão de suas culturas, sobretudo no âmbito de suas crenças e de seu
imaginário, sempre mais profundo e arraigado.
A querela entre romanistas e germanistas, que já citamos acima, se acirra
aqui. Os primeiros afirmaram que a cultura romana, superior, submeteu de todo a
cultura germânica a ponto de nada dela sobrar e, principalmente, nada dela
ressoar como legado a nova civilização ocidental, nascida do encontro de ambos os
povos, como quisera demostrar Henri Pirenne. Os germanistas, por sua vez,
insistiram na colaboração da cultura germânica, de sua contribuição efetiva para
nova civilização ocidental medieval e posterior; sobretudo, na sua contribuição
contemporânea à própria chegada dos germânicos em território romano, tendo em
vista que teriam se somado a eles no sentido sociocultural, e não só numérico. A

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fusão não seria fácil: línguas diferentes, concepções de Estado próprias, ou
ausentes no caso germânico. Possuíam ademais, credos religiosos, concepções do
sagrado, do tempo, do espaço, da relação do homem com a natureza e com seus
semelhantes, divergentes entre si. Mas, sem dúvida, houve a fusão; e a balança
pendeu para o lado romano.40 Como sabemos, o encontro de culturas nunca é
hegemônico no sentido unilateral, há sempre uma aculturação no sentido de
reciprocidade, onde mesmo aquela cultura que se impõe pela força física, ou por
intenso trabalho ideológico de persuasão e proselitismo, acaba sendo influenciada
e tocada por aquela cultura que desejara ver submetida e às vezes mesmos extinta
num imperativo movimento de interpenetração recíproca.41
O processo de aculturação do outro, exige da cultura que se quer dominante,
entender e revestir-se de algumas cosmovisões da cultura que se quer conquistada,
sem eliminá-la de todo, pois só assim poderá convencer e fazer-se entender pelo
outro.42 Nesse sentido, são muito conhecidos os processos de naturalização, onde a
cultura dominante reveste com as roupagens da sua tradição ideológica e religiosa
o corpo sagrado e dos costumes do seu dominado. Geralmente tal processo
deságua na criação de entidades, de conjunturas socioculturais híbridas, como
acontecera, por exemplo, na época helenística com a fusão dos deuses do
panteísmo greco-romano e oriental, ou com a cristianizaç~o do paganismo greco-
romano nos séculos IV a VIII e, posteriormente, no contexto do descobrimento do
novo mundo diante das novas religiosidades autóctones dos povos primitivos da
América e África submetidos pela civilização cristã européia.

O cristianismo: elemento comum ou mais uma vez o estranhamento


Quanto à fusão das estruturas culturais mais ligadas as circunstâncias
ideológicas e da memória, como a língua, e a escrita com toda a tradição que
encerra em si, já que sabemos que a língua condiciona mesmo os modos de pensar
e de agir, a romanização se imporia à germanização; contudo, por um viés já
cristão, de uma Roma cristã, de um latim vulgar, e não mais daquela cultura

40 BANNIARD, Michel. Génese Cultural da Europa ... Op. Cit., p. 74.


41FRANCO JR. Hilário. Meu, teu, nosso. Reflexões sobre o conceito de cultura intermediária. In: ___. A
Eva Barbada. São Paulo: Edusp, 2010. p. 30.
42 ORONZO, Giordano. Religiosidad popular en la Alta Edad Media. Madrid: Gredos, 1983. p. 13.

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própria da Roma Clássica. Portanto, a romanização dos germânicos não foi aquela
promovida pela cultura clássica, mas pela cultura cristã, pois sabemos que a
própria Igreja se apoiou e se apropriou das estruturas romanas, embora em
contrapartida endossando-as ideológica e simbolicamente, sobretudo depois da
conversão de Constantino.43 Assim, quando a Roma do Ocidente esmaeceu a ponto
de quase apagar-se de todo, a Igreja continuou e erigiu-se sobre os escombros
daquele Império que, até o século V, caminhou lado a lado, sendo seu braço físico e
de poder secular.
Nesse sentido, e antes de propiciar a coesão entre germânicos e romanos, ao
identifica-los por uma tradição cultural comum, o cristianismo católico, a própria
Igreja recrudesceu a ideia de bárbaro aos germanos, entendidos sobre essa sua
ótica como aqueles que desconheciam ou eram incapazes de participar da
verdadeira fé, não obstante, desumanos, violentos, ignorantes. Assim,
cristianizados, os germânicos passariam da barbárie à civilização, ou ainda, ao
pertencimento a nova Roma cristã. Vale dizer que se a cristianização foi de fato um
elemento de fusão, isso não se deu de modo tão passivo e positivo. As querelas no
seio da própria definição do dogma, sobretudo as cristológicas, permitiam o
aparecimento de mais de um cristianismo . Assim, é sabido que os germânicos
adotaram o cristianismo ariano enquanto o Império se mantinha e militava a favor
do cristianismo trinitário defendido como ortodoxo pelo Concílio de Niceia de
325.44 A fé ariana, que entendida as três pessoas da Santíssima Trindade como não
consubstanciais, ou seja, distintas e hierarquicamente dispostas poderia ser
melhor apreendida para aqueles povos de tradição politeístas e animistas. Nesse
sentido, o cristianismo como fé de profissão religiosa primeiro dissentiu mais que
uniu, ou fez de modo a criar alianças como aquela empreendida entre Clóvis,
convertido diretamente ao catolicismo e Roma, contra os demais povos
germanos arianos, dentre os quais os visigodos e os ostrogodos que constituíam
um perigo particular ao imperador Anastásio e que via agora em Clóvis, seu
congênere católico, uma importante aliança.45

43 VEYNE, Paul. El sueño de Constantino. Madrid: Paidós, 2008. p. 52.


44 JENKINS, Philip. Guerras Santas. São Paulo: Leya, 2013. p. 61.
45 BROWN, Peter. A ascensão do cristianismo no Ocidente. Lisboa: Prenseça, 1999. p. 107.

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Portanto, houve mais continuidade que mudança, com a mormente
manutenção das estruturas romanas, e tanto as econômicas e políticas, como as da
administração, justiça, e religião, embora a influência germânica ressoasse aqui e
ali, como fora o caso do direito consuetudinário ( vigente até a duração dos reinos
romanos germânicos) e da privatização do governo e da força militar pelos
senhores locais, no sentido de inaugurar relações sócio-jurídicas sem a
intermediação do Estado; relações de homem a homem, que se estendeu do maior
ao menor, do mais poderoso ao mais humilde, ainda que sob muitas gradações. Os
contratos de trabalho, as relações de força, de poder, a aplicação da justiça e de sua
medida, ficariam assim sempre a cargo do mais poderoso em relação ao menos
poderoso ou dominado.
O tema presente é certamente um dos mais ricos e, portanto, um dos mais
complexos para o entendimento do Mundo Ocidental no decorrer de sua história.
De fato, o encontro entre povos de culturas distintas, embora sempre haja algum
grau de identificação, implica sempre a questão do território, do espaço em que se
está, e, a partir daí, as questões do pertencimento, do enraizamento sociocultural,
da identidade física ou espiritual, que pede, obriga, nos momentos de
deslocamentos | abertura de si ao outro, a partilha do seu mundo com o outro,
muitas vezes sendo esse outro considerado como verdadeiro alienígena, até
porque a visão geográfica do mundo para o homem medieval era concêntrica.46
Nesse encontro, o medo tende a ser o sentimento mais ordinário, e a belicosidade
advém mais de uma salvaguarda de si do que de um sentimento de superioridade
ou anseios de poder e riqueza pela expropriação do vencido. A barbaridade dos
germânicos, assim como dos índios americanos séculos mais tarde, pode ser assim
considerada uma construção do dominado para justificar, mais do que sua
conquista, seu medo. A inserção em um novo território é para os grupos humanos
pré-industriais o equivalente a inserção em um novo mundo, um novo cosmos, e é
tão desconcertante para o invasor quanto para o invadido. O invadido vê seu
cosmos, ou seja, a organização harmoniosa e coesamente estabelecida de sua
sociedade, e inclusive do mundo natural que se vê integrado, esfacelar-se; o

46 ZUMTHOR, Paul. La medida del mundo. Madrid: Cátedra, 1994. p. 52.

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invasor, por sua vez, muitas vezes mais movido por necessidades de subsistência e
segurança do que por ganância e vontade de poder, como vimos, também sofre por
ter que adequar-se a um mundo novo.
Assim, o próprio lugar, o próprio espaço muda; e muda tanto quanto
mudam seus novos ou antigos habitantes, sobretudo se tivermos por parâmetros o
homem micro-cosmos que engendra o mundo macro-cosmos. Muitas vezes até
mesmo a percepção do tempo se condicionará as mudanças do espaço. Um
território invadido leva geralmente a uma espera, ora desejosa, ora aterrorizante,
de um tempo escatológico. Leva a integração ao tempo social ou da percepção
natural do outro, de suas crenças, de sua visão de mundo e do sagrado. As
migrações bárbaras tocam a questão da inserção no mundo do outro, e não só o
mundo físico, mas aquele constituído por espaços socioculturais e do imaginário,
uma vez que o outro é mais do que um ser biológico, é um ser cultural.

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