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Paradigma que começa a se formar da passagem do 18 pro 19, com novo impulso

em meados do século 19
→ Surge de uma mesma necessidade do positivismo: Conversar alguns privilégios
sociais da nobreza e propiciar uma renovação política capaz de acolher a rica
burguesia. Num caldeirão de transformações sociais e tecnológicas, provavelmente,
sem precedentes, alterando a existência física e simbólica dos seres humanos.

Duas questões que movimentam os historiadores alemães do período


- Unificação dos povos falantes de alemães
- e uma modernização sem revolução (revolução conservadora) →
Renunciando à crítica social
- Acaba se relacionando com o Romantismo nacente, porque esse movimento
estético também valorizava os particularismos.

Suporte primeiro das Monarquias, principalmente a Prussiana.


Não desprezavam os períodos anteriores nem a idade média, devendo cada
período ser investigado sob critérios adequados e sob seus próprios valores.
→ história nacional, não universalista, particularizante (na alemanha usando
recuperação de documentação antiga e uma crítica de inspiração filológica,
relacionando o texto e o seu momento histórico de produção). Por esse motivo tinha
o relativismo como uma característica marcante e inovadora, mesmo com todo seu
conservadorismo, uma ideia de que não existe uma verdade histórica, mas que a
historiografia também faz parte da própria história.
Esse relativismo e particularização influenciou outras áreas, como o próprio Direito e
a Economia. colaborando com o surgimento (naquele) da escola alemã de Savigny
que rejeitava o universalismo do jusnaturalismo, buscando a singularidade histórica
da normatividade de cada povo. Na última, colaborou para a Escola Alemã de
História da Economia, a qual realizou diversos estudos comparativos.

Assim, o historicismo irá articular um movimento autocrítico com uma crítica


documental, com rigorosa análise da procedência e autenticidade dos documentos
Tanto no seu local de origem, quanto nos países no qual reverberou havia uma
relação direta entre historicismo e a afirmação dos Estados Nacionais, sendo
inclusive patrocinado pelos Estados. (relação elite X estados)
Seria uma soma de:
a. Ímpeto relativista
b. Crítica documental
c. crítica historiográfica
d. interesse por todos os períodos históricos, com foco na interpretação de cada
um

Como espero ter ficado claro, essa “escola” tem uma consciência da radical (aqui no
sentido mais literal possível, de ir à raíz) historicidade de cada coisa. Assim, o
historiador não pode se destacar da sociedade, não há a separação ontológica entre
o sujeito e o objeto. Reconhece-se que sempre se fala de algum lugar e partindo de
um ponto de vista, sendo impossível a neutralidade e a objetividade absolutas,
muito menos afirmar que existe uma verdade histórica.

Claro que não há pureza nem mesmo nessa afirmação, portanto havia traços em
muitos autores do período que trazem à tona ideais de neutralidade.

Nessa escola o homem, portanto, não é visto como universal, mas como um
realidade em movimento, imersos em historicidade. Com isso o historicismo busca
valorizar o específico, a singularidade, o particular

De todo o falado, podemos extrair três princípios fundamentais que auxiliaram na


construção de um paradigma historicista, sempre permeado por uma ideia
particularizante do objeto.
a. Relatividade do objeto histórico: Inexistência de regras de caráter geral,
sempre aplicáveis. Com centralidade para a historicidade de cada evento e
momento.
b. Padrão metodológico exigido pela história deveria ser totalmente diferente
das exatas ou naturais. Aqui surge a distinção entre a compreensão buscada
pelas ciencias humanas e a explicação buscada pelas exatas e naturais.
c. Subjetividade do historiador, reconhecendo que o próprio pesquisador está
imerso em seu contexto.
Nessa escola há uma relação muito estreita com a história da política, ou seja
referente ao âmbito da história do Estado e do confronto entre Estados e de suas
relações, como a diplomacia.
Na já falada relação entre elite e estado, também pode-se dizer que é feita por essa
escola uma história das elites, de como elas guiam as nações, uma história de
grandes homens, como reis, líderes religiosos, ministros etc.
(Ranke) Desse gosto, surge uma escola historicista mais conservadora, menos
relativista e menos ligada a questão do historiador como ser histórico também,
sendo muito atacada com o surgimento dos Annale em meados do século XX.
Entretanto também irá ter nascedouro nessa realidade uma versão mais ligada ao
relativismo e que frutificará com mais vigor (Droysen).

A análise e crítica de fontes é um dos principais motivos do grande sucesso dessa


escola. Porque eles não eram “ingênuos” ao se aproximar de fontes históricas,
como se fossem mero depósito de informações. O historicismo busca olhar a
subjetividade que atravessa as fontes e sabe que a intersubjetividade está presente
ali e não é algo a ser afastado, mas sim compreendido e valorizado. Lembrando que
essa visão “desconfiada” é para ser aplicada tanto em documentos pessoais como
cartas e diários e até em documentos oficiais, porque todo texto é uma mediação
entre quem escreveu, a realidade de sua época e quem está lendo e sua realidade.

Como nota-se o conservadorismo do historicismo não impediu que ele buscasse


novos caminhos historiográficos, podendo ser muito claramente vista a questão da
relativização do historiador como, digamos, um ser histórico e não mero observador
neutro e a consequente aceitação de que não é possível fazer algo neutro, devendo
ser levado em conta a história do próprio histprioador

Também a busca por uma metodologia própria, não ligada necessariamente e


legitimada pela mesma episteme das ciências naturais e exatas. Portanto buscando
compreender os fenômenos e não apenas ver suas formas externas, mas sim vendo
quais suas implicações simbólicas, ideológicas e vivenciais (trazendo a ideia de qual
seu significado)
Reconhecer a multiplicidade de sistemas filosóficos e de compreenões não
permitindo algo com validade geral. Mesmo que gere-se problemas para gerar com
essas múltiplas perspectivas de uma época.

LEOPOLD VON RANKE


Tido como fundador da escola histórica alemã →

Primeira vez que fontes (em especial as fontes primárias) aparecem não como mero
arrolamento ou como mera consulta eventual.

Tem por primeira marca relevante ele ter sido um “desbravador arquivistico” a
abordagem metodológica a centralidade das fontes, tendo elas não como coisas
neutras, mas sim produtos do engenho de um humano imerso em um contexto
histórico e com interesses específicos. Mas em Ranke, essas fontes são
essencialmente institucionais e ligadas à política e à diplomacia, por exemplo.

Também, como já dito da escola, ele é um dos primeiros, senão o primeiro a tratar
com uma espécie de desconfiança os historiadores do passado, como vozes a
serem decifradas em seus interesses, contextos etc. A quem esse autor se liga, qual
classe ou ordem, qual instituição ou religião

Em sua obra aparece uma série de perguntas que chegariam a compor um


novo método de crítica documental. P.e. visavam responder sobre: Transmissão,
Proveniencia (ser falso ou não, ter modificações ou não); circunstâncias da
produção; exatidão da informação etc.
Essas perguntas eram muito voltadas à informação, viam o documento
como testemunho. Ainda não era um discurso a ser analisado. Mas ainda assim o
historiador deveria criticar, desmontar e desconfiar.(e por mais contraditório que
pareça, Ranke ainda não fará essas críticas ao próprio trabalho de historiador, isso
só aconteceria na próxima geração historicista… acredita que esse historiador
contemporâneo pode contar a história dando “a cada um o que lhe é devido”, mas já
reconhecia algum nível de subjetividade, que recusava o historiador como “juiz do
passado”).
Outro ponto é ele saber escrever muito bem, ser um “contador de histórias”
talentoso.

Se o historicismo é relativista, em ranke ainda se vê (não sem polêmica) uma


defesa da neutralidade do historiador e sua forte religiosidade perpassa seu
trabalho, vendo o dedo de deus na história, mas deixando claro que é uma espécie
de colorido em sua obra, algo a se considerar, mas não é uma obra teológica, ou
uma espécie a agiografia feita por um devoto. Mas descartando a história como
tendo uma abordagem teleológica, afirmando a singularidade de cada momento
histórico.

→ Forte nacionalismo prussiano, sendo que chegou a ser barão e funcionário do


Estado. Ao lado desse nacionalismo há um eurocentrismo, sendo sua obra
desenvolvida na realidade desse continente.

Mais um ponto de importante contribuição, ao lado da crítica documental, é que ele


sustenta a singularidade de cada sociedade e a especificidade de cada éposa (“toda
idade é próxima de Deus”)

Na obra ele parece haver duas expressões contraditórias, mas que se


complementam: De um lado o “escrever a história como realmente aconteceu”, ou
seja a existência de uma realidade objetiva que pode ser conhecida com devida
imparcialidade e contada pelo historiador. → refletida na ausência da primeira
pessoa em sua obra e em sua sobriedade de estilo. Também aqui se vê um pouco o
método que busca uma objetividade e promove uma cuidadosa sistematização da
pesquisa e a apresenta para exame público. Esse aspecto parece mais matizado no
fim de sua obra, tendo essa neutralidade mais como um desejo, um ideal,
provavelmente inalcançável.

A segunda é “o historiador há de dar a todas as épocas e a todos os indivíduos o


que lhes é devido, há de vê-los em seus próprios termos” → Que permite ver a
realidade histórica como plural, uma história múltipla, ligada às diversas nações.
(busca por histórias nacionais como exigido pelo período).

GUSTAV DROYSEN (não se via como parte da mesma linha do Ranke)

Critica a história de grandes homens, mas também faz concessões às exigências


prussianas, ainda podendo ser considerado dentro do “nacionalismo alemão” e seus
interesses. → Interesse que ultrapassa o nível da produção (mas influenciando-o
muito, levando a mudar de tema do helenismo para temas nacionais, sendo esse
último resultando em sua magna opus: A história política prussiana, com estudo de
guerra e diplomacia como articuladores da realidade interna), tendo sido deputado
Também a religiosidade protestante tem relevância na obra desse historiador

Forte influência Hegeliana, mesmo que com sentido próprio, vendo o mundo
histórico como um mundo ético. Também uma visão particular de progresso, com
inevitaveis retrocessos.

Nesse autor já vemos com mais clareza o relativismo histórico, mas com uma obra
ainda com uma estreita concepção do que seria político e de qual recorte era o
central na feitura da história, justamente como centro uma história política e da
política, uma história dos grandes homens (mesmo que timidamente veja-se uma
história da cultura, porque não há exclusividade da história política). Ele mesmo
critica o predomínio excludente da história política” e a produção de uma
historiografia factual, acrítica.

Ele, portanto, reflete sobre a prática historiográfica problematizada, interrogativa,


que não se pretende capaz de narrar definitivamente os acontecimentos.

Droysen não acreditava que pudesse se descrever os fatos “como realmente


aconteceram”. Cabe ao historiador tentar compreender aquele momento histórico.
Nele há um movimento maior ao relativismo, à compreensão do historiador ligado
ao subjetivismo do qual não pode ser afastar. o historiador buscaria “narrar uma
verdade relativa ao seu ponto de vista”

Ele reconhece a historicidade do próprio historiador.

Sua obra, traz as três características fundamentais capazes de o enquadrarem no


movimento historiográfico, quais sejam:
a. singularidade do objeto histórico;
b. especificidade da história dentro das ciências com grande importância a um
meétodo próprio;
i. Filosófico: reconhecer
ii. Físico: Esclarecer
iii. histórico: Compreender
c. historiador que se autoproduz como sujeito de conhecimento. → Sendo que a
própria obra de Droysen colabora para o desenvolvimento desse item para
setores mais progressistas, como algo decisivo para operação historiográfica

O autor se esforça para pensar a história de forma sistemática e, para isso articula a
historicidade do mundo humano, teoria do conhecimento da história e teoria do
método histórico.

Se afasta de Ranke, sendo um historicismo, digamos, mais completo por aceitar o


caráter de historicidade do próprio historiador. Criticava Ranke, inclusive pela
questão da neutralidade

Via o homem de estado como historiador prático e uma função para os historiadores
de fornecer ao Estado, ao povo e ao Exercito uma imagem deles mesmos e ser um
instrumento para formação política. Mas ressalto que ele mesmo já colocava que
não era esse o único objeto do historiador, mas sem se aprofundar, pelas
próprias contingências de seu tempo.
Apresenta, uma leve tendencia a reconhecer a circularidade, a convivência dos
grandes homens vivendo junto com a história do seu tempo, bem como ele seria
impulsionado pelo seu tempo, pelos “poderes éticos da história”

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