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CRENÇAS ANTIGAS

Nos tempos modernos


Neo-Paganismo sob uma Ótica Cristã

Ao iniciar este estudo é possível afirmar que a Europa teria permanecido


pagã, caso o apostolo Paulo não tivesse pregado a evangelho e com isso
promovendo o surgimento e fortalecimento da igreja cristã. A civilização
ocidental, como é hoje, nunca teria existido, e, culturalmente, toda o ocidente
atual seria muito parecido com a Ásia atual.
Se o paganismo clássico permanecesse até os dias de hoje,
encontraríamos os pitagóricos ensinando reencarnação como os hinduístas; os
estoicos criando religiões fundamentadas na razão e na virtude, como
confucionistas fazem; os neo-platonistas estudando as verdades
transcendentais cujo sentido misterioso para entendimento das outras pessoas
e disputado suas teorias entre eles mesmos, como os budistas; os apolonianos
aparentemente inteligentes, que adoram o deus-sol, mas afirmando que na
verdade eles adoram o princípio da divindade, assim como ainda há na Ásia os
zoroastrianos; os dionisíacos dançando de forma selvagem nas montanhas,
como os dervixes.
Assim existiriam multidões indo às festas dos diversos deuses para serem
adorados, assim como na Ásia. Quiçá haveriam, ainda, sacrifícios humanos
secretos como os feitos a Moloque, da mesma sorte que ainda hoje há na Ásia
sacrifícios humanos à deusa Kali. Haveria muita feitiçaria, e boa parte dessa
feitiçaria seria a chamada magia negra. Admiração por Sêneca, imitação de
Nero, assim como na Ásia existem os elevados epigramas de Confúcio
coexistiram com as torturas realizadas na China.
Este é o quadro que a civilização ocidental há muito já se encontraria, um
quadro que hoje é, em pequena escala, a reprodução fiel da religiosidade
moderna.
O chamado neo-paganismo teria características muito piores que as do
antigo paganismo, se a cosmovisão religiosa da antiguidade que não houvesse
sido posta de lado com o surgimento da igreja e a conversão da Europa ao
cristianismo. A casa foi varrida, mas, como nas palavras de Cristo relatadas por
Mateus, o último estado tornou-se pior do que o primeiro (Mt 12.43-45).
"Quando um espírito imundo sai de um homem, passa por lugares áridos
procurando descanso e não encontra, e diz: ‘Voltarei para a casa de onde saí’.
Chegando, encontra a casa desocupada, varrida e em ordem. Então vai e traz
consigo outros sete espíritos piores do que ele, e entrando passam a viver ali. E
o estado final daquele homem torna-se pior do que o primeiro. Assim acontecerá
a esta geração perversa".

Ascensão e queda do neo-paganismo

Uma das principais características da Era Moderna, séculos XVI a XX, foi
o aparecimento do neo-paganismo, cuja decadência hoje assistimos da então
"Nova Era". Esse "movimento" filosófico religioso não é genuinamente novo, e
nem um movimento na verdade, e, o pior de tudo, não é de fato pós-moderno,
como sugerido.
O pós-modernismo induz ir além da dita modernidade e inclusive da típica
religiosidade moderna. Assim, a chamada Nova Era é firmada no paganismo e
nada tem de pós-moderna. Pelo contrário, ela é “moderníssima”, ela representa
o modernismo não no seu apogeu, mas sim na sua mais completa decadência.
O neo-paganismo não é novidade, trata-se da recuperação e apropriação
da mentalidade religiosa da era pré-cristã. Ou seja, "trata-se de uma profunda
verdade que o mundo antigo era mais moderno que o mundo cristão."
Assim sendo, a Idade Moderna é mais alinhada com o paganismo do que
com o cristianismo. Além disso, o neo-paganismo não tem nada de novo, porque
suas bases teóricas e filosóficas tiveram início há seis séculos atrás, no princípio
da Idade Moderna.
Foram os humanistas dos séculos XV e XVI, os primeiros envolvidos na
reapropriação do paganismo. Esses pensadores e filólogos dedicaram suas
vidas à recuperação da literatura e cultura da antiguidade greco-romana.
Não se pode condenar esta atividade em si, porém, uma vez efetivada,
permitiu que a mentalidade pagã fosse resgatada por parte dos eruditos
europeus da época que se sentiam insatisfeitos com o cristianismo e com o que
a religiosidade lhes era oferecida.
Essa insatisfação é perfeitamente compreensível, uma vez que a igreja
da época vivia sua maior crise espiritual da história. Todavia, nem todos os
humanistas deste período foram atraídos pela religiosidade pagã. Muitos
consideraram sensato lutar pela reforma eclesiástica e buscar um avivamento
espiritual. Assim, tanto o avivamento como a reforma aconteceram como fruto
do esforço desses mesmos pioneiros humanistas.
Os líderes da Reforma Protestante eram humanistas e cristãos. A verdade
é que a filosofia do neo-paganismo foi lançada igualmente na ideologia e filosofia
europeia, e seus primeiros frutos foram colhidos nos séculos subsequentes,
dando início ao movimento intelectual chamado de Iluminismo.
O Iluminismo do século XVIII representou o reestabelecimento efetivo do
neo-paganismo como ideal intelectual por excelência da modernidade. Os mais
importantes pensadores iluministas rejeitaram o cristianismo por completo, ou
trocaram-o por uma mentalidade religiosa pagã, ou, ainda, procuraram adaptar
a fé cristã às recém recuperadas concepções helenistas, produzindo
heterodoxias como o deísmo e a teologia kantiana.
A maçonaria é outra concepção neo-pagã, com origem no iluminismo
francês. Tanto os teóricos da Revolução Francesa quanto os líderes federalistas
americanos, ou teóricos da Revolução Americana, estavam embasados na
filosofia iluminista e no neo-paganismo.
Como o Modernismo havia chegado ao seu apogeu, os séculos
subsequentes, XIX e XX, assistiram ao lento declínio da modernidade (o
marxismo e o existencialismo marcam, por exemplo, e de formas diferentes, esse
declínio).
Entretanto, nunca o declínio do neo-paganismo esteve tão evidente
quanto hoje, em que se manifesta em suas formas mais vulgares, nos diferentes
componentes dessas ideologias e noções religiosas pagãs, chamada de Nova
Era.
Cabe, portanto, enquanto pensadores cristãos, compreender a natureza
do neo-paganismo, um aspecto importante da história da teologia moderna, e
também da realidade destes tempos de transição vivenciados hoje.
A Nova Era é um fenômeno cultural, mas não é exatamente uma religião,
ou uma nova organização religiosa; não possuindo líderes explícitos, ou
membros, ou hierarquia, nem estatutos ou mesmo confissão de fé.
Diferentemente do que muitos livros evangélicos populares querem nos fazer
acreditar, a Nova Era não é nenhuma conspiração secreta.
Este tipo de sensacionalismo evangélico patrocinado por algumas
lideranças de algumas de nossas igrejas, acabam por estimular uma falácia
teológica que é incluída na "batalha espiritual", promovendo um grave efeito
nocivo. Os que creem neste sensacionalismo, passam a lutar contra um inimigo
inexistente, um fantasma, uma ficção da nossa imaginação, em vez de
enfrentarmos a verdadeira horda que nos cerca.
A miscelânia denominada Nova Era é composta por movimentos neo-
pagãos diferentes um dos outros, que vão desde as popularizações das religiões
orientais como o hinduísmo, budismo e taoísmo, até as superstições pagãs como
astrologia, o poder curativo dos cristais, adivinhações e necromancia.
Os brasileiros muito antes de importar dos Estados Unidos o conceito de
Nova Era, já estavam acostumados com as formas mais decadentes da
religiosidade moderna, pois o espiritismo é um excelente exemplo de neo-
paganismo. Do ponto de vista apologético, cada uma dessas manifestações neo-
pagãs devem ser combatidas e derrotadas individualmente, e não como um ser
informe ou uma abstração, como frequentemente tem acontecido.
Não significando que o fenômeno não possa ser analisado do ponto de
vista antropológico, filosófico ou teológico. Sem dúvida, cabe buscar
compreender o neo-paganismo em termos genéricos. Isso não é de forma
alguma contraditório, pois esta análise não tem como objetivo misturar ou
confundir as diferentes manifestações neo-pagãs sob um mesmo rótulo, criando
um confronto apologético com esta quimera, composto de partes de diferentes
corpos e origens.
Essa "arqueologia epistemológica" busca descobrir as pressuposições
fundamentais do movimento, e produzir dessa maneira um arsenal de noções
filosóficas e teológicas que possam de fato auxiliar no combate individual dessas
diferentes expressões religiosas neo-pagãs.

O Paganismo, o Neo-Paganismo e a Fé Cristã

O paganismo não é nada mais que o espírito humano submetido à


gravidade, isto é, preso e limitado ao cronos num estado de mínima resistência.
Em outras palavras, é uma religião baseada na humanidade, no seu estado
natural, sofrendo a pressão e o impacto da queda adâmica. A palavra
"paganismo" vem do termo latim pagani que significa "camponeses" ou "gente
do campo, do interior".
Esse termo “pagani” ganhou a conotação atual porque os camponeses
foram os últimos a se converterem ao cristianismo após ser considerado a
religião oficial do Império Romanosua, no século IV, e também foram os últimos
a abandonarem as crenças e as práticas da religioas greco-romana.
É mister notar que, contrariamente, o neo-paganismo teve sua origem nas
cidades, e até nos dias atuais é nos grandes centros urbanos e nos países mais
desenvolvidos que o mesmo encontra maior aceitação e menos resistência.
Erroneamente o pensamento que o paganismo é uma grande tolice, e que
nada tem de aproveitável. A história espiritual da humanidade mostra que o
paganismo era a melhor coisa que havia no mundo; e quando a fé cristã surgiu,
ficou melhor ainda. E tudo o mais que surgiu posteriormente tem sido,
comparativamente, pior e pequeno. Agostinho, assim como muitos outros
intelectuais convertidos ao cristianismo nos primeiros séculos da era cristã, "viu
sua conversão não tanto como uma substituição, mas como uma expansão e um
enriquecimento de suas posições anteriores."
Há ao menos três elementos no paganismo pré-cristão que o fazem digno
de respeito:
(i) o senso de piedade,
(ii) a moralidade absoluta e objetiva, e
(iii) o senso de transcendência, da percepção do divino e do respeito
ao oculto e misterioso.
O cristianismo acabou por resgatar o que o paganismo possuía de melhor
quanto a revelação divina, em um moroso processo cujo início ocorreu no
primeiro século e se seguiu até o final da Idade Média. No neo-paganismo dos
nossos tempos esses elementos desapareceram, e o que sobra é o pacote, a
superstição vazia e irracional. O neo-paganismo é, portanto, não apenas anti-
cristião mas também um anti-pagão, por incrível que pareça.

Analise de cada um destes elementos.

A. Piedade
O senso de piedade do latim pietas a que referimos é o instinto natural
religioso de respeito a algo maior que o ser humano, o divino. Isto faz com que
a humildade de se reconhecer como “servo” de um grande processo e esquema
universal. Este reflexo é visto na mentalidade do neo-paganismo na adoção do
chamado modelo newtoniano. O resultado disso no paganismo antigo era um ato
religioso chamado moderação, em grego sophrosyne, expressado na frase
"nada em demasia" inscrita nos templos de Apolo, junto ao famoso "conhece-te
a ti mesmo.
As religiões pagãs asiáticas, em sua maioria, mantêm esta tradição de
reverência, de reticência e de moderação. Já a civilização ocidental não pratica
e nem entende essa reverência, e, assim, o neo-paganismo difere do seu
ancestral neste importante aspecto. Contrariamente o neo-paganismo diviniza o
homem, é a religião do homem como um novo deus, difundindo "o valor infinito
do ser humano" e "a autonomia do pensamento crítico."
O neo-paganismo confunde-se com o humanismo contemporâneo, que
transformou em uma quase-religião. No movimento da Nova Era, que trata do
neo-paganismo em avançado estado de putrefação, o humanismo se manifesta
de forma mais crassa, como, por exemplo, no fato de que quase todas as
práticas, terapias e crenças da Nova Era são voltadas para o bem-estar do ser
humano, para o seu aperfeiçoamento, para o seu conforto e prazer.
Além disso, existe o pressuposto implícito nas diferentes manifestações
neo-pagãs de que o ser humano é capaz de resolver os seus problemas
espirituais por conta própria, através de exercícios, meditação ou utilização
"racional" (ou irracional) de objetos naturais como plantas e cristais.
Fica evidenciado que um retorno mais fiel ao paganismo antigo não seria
a solução para a busca religiosa do ser humano moderno, e muito menos do ser
humano pós-moderno. Apenas o cristianismo possui aquilo que o ser humano
necessita e busca. A piedade cristã não é somente superior à piedade pagã, por
ser uma piedade qualitativamente diferente.
Um princípio fundamental da piedade cristã está em se reconhecer como
criatura diante do Criador. Qualquer piedade que ofusque a distinção entre o
Criador e as criaturas é incompatível com a piedade cristã. A natureza não é
mãe; mas na verdade, no máximo uma “irmã”, como dizia Francisco de Assis.
Mas o mais importante que isso é o fato de que a piedade cristã é o pressuposto
da verdade teológica do pecado original.
O ser humano não é apenas um ser corrompido até o mais profundo do
seu ser, mas é também corrompido em todos os aspectos do seu ser, inclusive
sua razão, que sofre os chamados efeitos noéticos do pecado.
A razão humana não é confiável, são constantemente condicionados
pelos impulsos recebidos do meio em que o homem vive, e igualmente
impulsionados por instintos inconscientes sobre os quais não se tem qualquer
controle. Mas a diferença crucial e primordial entre a piedade cristã e a piedade
pagã está na certeza cristã de que não há nada que um ser humano possa fazer
para obter o favor divino.
A piedade pagã tem como aspecto principal o esforço humano para obter
o favor divino por meio de sacrifícios, rituais e promessas. Infelizmente muitos
cristãos se iludem pela mentalidade pagã que influencia a igreja, levando muitos
a abraçar uma cosmovisão pagã, ainda que sob o disfarce de elementos cristãos.
A piedade cristã tem como princípio o render-se diante da soberania divina, o
tornar-se receptáculo da graça divina imerecidamente outorgada àqueles que
humildemente se aproximam de Deus em um ato de arrependimento pelo
pecado, contrição sincera e confiança no perdão divino.

B. Moralidade

A moralidade absoluta e objetiva, se refere ao fato de que os pagãos da


antiguidade que seguiam seriamente o seu paganismo, insistiam na existência
de leis morais inquestionáveis, inegociáveis e permanentes. Essas leis morais
eram reconhecidas como naturais, evidenciadas na natureza das coisas,
descobertas e não criadas pelo ser humano.
O neo-paganismo tentou resgatar essa moralidade racionalista pagã, e
levá-la nas últimas consequências, adaptando-a vida moderna. Esse extremo
racionalismo acabou se convertendo em um irracionalismo, e por fim, tornou-se
um relativismo, subjetivista e pragmático, chegando, lentamente, à conclusão de
que o homem cria suas próprias leis morais, e que estas variam conforme o
tempo e a cultura.
Onde os valores morais de um indivíduo não podem ser questionados e
nem considerados errados, por não existir um padrão ou norma absoluto que
determine o que é certo e o que é errado em questões éticas.
A imoralidade deste ponto de vista neo-pagão é exatamente afirmar que
algo é moralmente errado. Ou seja, o grande erro é dizer que algum tipo de
comportamento é errado, onde o único absoluto é que não há absolutos. Assim,
a única coisa que deve levar alguém a sentir-se culpado é a auto culpa, ou seja,
o simples fato de se sentir culpado por algo.
Assim, o relativismo moral de hoje é o correspondente moderno do
politeísmo da antiguidade. Mas, o que está verdadeiramente por trás dessa
grande variedade de leis morais, de bens morais, é a enorme variedade de
deuses modernos, que são: o sucesso, a felicidade, o sexo, o dinheiro e o
progresso. O neo-paganismo é, portanto, não apenas uma forma de divinização
do ser humano, mas também uma forma de politeísmo idólatra em que cada ser
humano torna-se um deus, um absoluto sagrado, transmissor em vez de receptor
da lei moral.
Não significando que um retorno à moralidade pré-cristã seja a resposta,
aliás, e tem sido a proposta da filosofia moderna racionalista nos últimos
trezentos anos.
A ética cristã compartilha do absolutivismo e da objetividade caracterizada
na ética pagã (que o neo-paganismo não possui), mas suas semelhanças
terminam neste ponto. É correto afirmar que a ética cristã tem sofrido a influência
negativa da filosofia racionalista, e tem adquirido dessa forma uma semelhança
à ética pagã maior do que é deveria. Mas sob o aspecto correto se percebe que
os pontos de vista são radicalmente diferentes.
Enquanto a ética racionalista encontra em seu fundamento na supremacia
e na autonomia da razão humana, já a ética cristã está fundamentada na
revelação de Deus, nas Escrituras Sagradas. A ética racionalista, quando teísta,
sugere que Deus aprova alguma atitude ou algum comportamento humano
porque serem bons em si mesmos. E a ética cristã deve se opor a esta
cosmovisão e sugerir o contrário, isto é, que alguma atitude ou algum
comportamento humano são bons porque Deus os aprova. Essa divergência
ilustra a natureza contrária das éticas cristã e clássica-pagã.
C. Religiosidade

Finalmente, o senso de transcendência que é o se maravilhar diante do


mistério, fato que levava o pagão pré-cristão ao ato de adoração. No mundo
moderno, o sentido, o instinto e a prática da adoração se entraram em declínio.
Na civilização ocidental é cada vez mais ínfimo o número de pessoas que
adoram seja o que for. Mesmo nas igrejas vemos essa influência nefasta do neo-
paganismo, que leva as comunidades a adotar liturgias em que o sentimento de
reverência cede lugar à descontração, onde o bem-estar do adorador torna-se
mais importante que sua contrição e dedicação.
Assim, muitos teólogos cristãos tornaram-se adeptos da mentalidade
moderna neo-pagã, uma vez que o neo-paganismo, diferentemente do velho
paganismo da antiguidade, abandonando a crença no sobrenatural e no
transcendente e se tornando naturalista.
A religiosidade neo-pagã foi se tornando, portanto, não somente uma
forma de humanismo disfarçado e uma reedição piorada do politeísmo, mas
também uma forma popular de panteísmo.
O panteísmo popular moderno é uma religiosidade muito confortável em
que Deus é transformado numa espécie de "força”, disponível sempre que
necessário, mas que não incomoda.
É conveniente para os seres humanos se verem como se fossem "bolhas
da grande espuma divina", a compreenderem que são filhos rebeldes de um Pai
divino e justo, além de serem desesperadamente carentes e da necessidade de
se reconciliarem com ele, e de serem absolutamente impotentes no que se refere
a essa condição espiritual. O panteísmo rejeita qualquer ideia que se assemelhe
ao conceito bíblico de pecado porque pecado implica em separação entre Deus
e o pecador.

Rm 3.19-20 "Ora, nós sabemos que tudo o que a lei diz, aos que estão debaixo
da lei o diz, para que toda a boca esteja fechada e todo o mundo seja condenável
diante de Deus. Por isso nenhuma carne será justificada diante dele pelas obras
da lei, porque pela lei vem o conhecimento do pecado."
Rm 5.12 "Portanto, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo
pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens por isso que
todos pecaram."
Rm 8.7-8 "Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é
sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser. Portanto, os que estão na carne
não podem agradar a Deus."
Rm 11.32 "Porque Deus encerrou a todos debaixo da desobediência, para com
todos usar de misericórdia."

Assim ninguém pode estar separado da totalidade, ou da divindade. Por


isso, não pode haver temor e nem tremor de Deus sob uma perspectiva
panteísta. Portanto, do ponto de vista neo-pagão, o que a Bíblia chama de
"princípio da sabedoria" (Pv 1.6) é aquilo que precisa ser erradicado das
mentes das pessoas.
A solução não se está em uma apropriação mais cautelosa ou exata do
paganismo clássico pré-cristão. Apenas a fé cristã possui as respostas para os
problemas práticos, teóricos e religiosos do mundo atual. Esse senso de
transcendência do paganismo não pode e nem deve ser visto como equivalente
ao senso de transcendência cristão.
A fé cristã ortodoxa rejeita ambas as opções radicais de transcendência
(deísmo) e de imanência (teologia liberal do século XIX) das correntes teológicas
que buscaram a síntese do paganismo com o cristianismo, o chamado
ecumenismo. A conclusão é que o neo-paganismo acaba por cair, ou no
racionalismo, ou mesmo no irracionalismo.
Os pensadores cristãos dos últimos séculos, percebendo essa terrível
situação, insistiram na necessidade de enfatizar a totalidade humana, de
enfatizar o fato de que o ser humano precisa ser compreendido como um todo,
sem ser dividido, fracionado. Assim, o ser humano não é apenas razão, emoção,
vontade, corpo, espírito de forma individual. O ser humano é um todo, e só pode
ser compreendido corretamente se visto como tal.
As teorias dicotomistas ou tricotomistas são racionalismos que devem ser
observados para fins de estudo e não de aplicação prática. Afirmando a unidade
do ser humano, e as simultâneas e completas transcendência e imanência de
Deus, o cristianismo não deixa espaço para noções panteístas, e se mostra
superior tanto ao paganismo quanto ao neo-paganismo.

Conclusão

Como afirmado no início, a Nova Era não é uma conspiração. Mas na


unificação dos inimigos da fé cristã, que são o panteísmo, politeísmo e
humanismo, unificação esta levada a sério pelo neo-paganismo, podemos
perceber a estratégia do inferno, que não pode prevalecer contra a igreja. Pelo
contrário, é a igreja que está por lhe arrombar as portas (Mt 16.18).

“Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha
igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela”

No Calvário, quando as forças anti-cristãs do mundo grego, romano e


hebreu se uniram na crucificação de Jesus, o Cristo (fato este simbolicamente
representado na acusação contra Cristo afixada na cruz, escrita em três línguas:

Lc 23.38 – “Havia uma inscrição acima dele, que dizia: ESTE É O REI DOS
JUDEUS”.
Jo 19.19-20 “E Pilatos escreveu também um título, e o colocou sobre a cruz; e
nele estava escrito: JESUS O NAZARENO, O REI DOS JUDEUS. Muitos dos
judeus, pois, leram este título; porque o lugar onde Jesus foi crucificado era
próximo da cidade; e estava escrito em hebraico, latim e grego”.

O triunfo do mal foi também a sua derrota, e com a morte do Filho de Deus
cominou na redenção do ser humano (ver Cl 1.13-14).

“O qual nos tirou da potestade das trevas, e nos transportou para o reino do Filho
do seu amor”

Em quem temos a redenção pelo seu sangue, a saber, a remissão dos


pecados; Nós estávamos condenados pelas nossas transgressões, e Deus nos
deu vida em Cristo, perdoando-nos nossos delitos, "tendo cancelado o escrito
de dívida que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era
prejudicial, removeu-o inteiramente, encravando-o na cruz; e, despojando
os principados e as potestades, publicamente os expôs ao desprezo,
triunfando sobre eles na cruz" (Cl 2.13-15).
Certamente, o neo-paganismo estará, em breve, tão morto e enterrado
quanto o velho paganismo dos antigos. E o Deus revelado em Cristo, aquele que
pronunciou a primeira palavra, terá novamente a última palavra.

"Eu sou o Alfa e o Ômega, diz o Senhor Deus, aquele que é, que era, e que há de
vir, o Todo-poderoso" (Ap 1.8).

Por
Pastor Fabiano Miguelotti Müller
Mestre em Ciência da Religião e Teólogo

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