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Apostila

Gastronomia: história, cultura e


ética
Aula 01

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AULA 01 – Introdução à história

1.1. Definição de história


A palavra história nasceu na Grécia antiga e atribui-se ao grego Heródoto a criação
dessa ciência, visto que ele foi o primeiro indivíduo a utilizar essa palavra para definir
“investigação do passado” (BESSELAAR, 1962).
Anteriormente a Heródoto, os fatos mais importantes que aconteciam em
determinadas sociedades acabavam sendo esquecidos, pois não eram registrados.
A partir dessa percepção, Heródoto iniciou os registros da história para que esta não
se perdesse e, assim, ficou conhecido como o Pai da História (BESSELAAR, 1962).
Sendo assim, para os antigos gregos, o homem é um ser mortal, mas que pode se
eternizar a partir de feitos gradiosos e relevantes, chamados fatos históricos,
deixando sua história para as gerações que virão. Nesse sentido, o importante não
era o indivíduo e sim o que ele fez ou poderia fazer de extraordinário (POMER,
2001).
Segundo Marc Bloch e Carlo Ginburg, a história é a investigação do passado do
homem e estes comparam o trabalho do historiador com o de um médico ou detetive
que procuram evidências, sinais, pistas para diagnosticar uma doença ou solucionar
um crime.
A história, como área de conhecimento, possui grande responsabilidade no
desenvolvimento do espirito crítico e autônomo do indivíduo, visto que falar sobre
história é vivenciar a experiência de ser um cidadão, discutindo e refletindo sobre
questões políticas, sociais e culturais (BEZERRA, 2010).

A história estuda o pensamento dos homens, suas ações e o reflexo de tudo


isso no cotidiano.

1.2 Papel do historiador


Pode-se definir como historiador o profissional que analisa o passado em sua
transformação por meio de fontes históricas como escritas (cartas, jornais, revistas,
documentos oficiais, agendas, diários), orais, materiais (pinturas, esculturas, roupas,

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armas, músicas, filmes, fotografias, utensílios) (CARR, 2011).
A partir das fontes históricas que se pode ter ciência sobre ideias e realizações de
sociedades e indivíduos de diferentes locais e épocas. A partir da reunião de
informações feita pelo historiador, verifica-se o que mudou ao longo do tempo na
economia, nas artes, na política, na alimentação, nas formas de ver e de sentir o
mundo (CARR, 2011).

1.3 Cronologia da história

A história estuda a vida humana através do tempo.

Em diferentes momentos e situações, o homem relaciona-se com o tempo. O tempo


é uma questão fundamental para a nossa existência (TOMAZI, 1995).
Por isso, os instrumentos cada vez mais sofisticados para medir o tempo criam a
percepção de que há um fluxo linear e quase uniforme em nossa história particular,
da sociedade em que vivemos, do grupo a que fazemos parte e da humanidade
como um todo (TOMAZI, 1995). A contagem do tempo não é o principal foco da
história, ou seja, os historiadores não se interessam pelo tempo cronológico, contado
em calendários, pois isso não mostra os fatos histórios. Sendo assim, o termo
utilizado por historiadores é o tempo histórico em que se leva em consideração os
eventos de curta e longa duração que ocorrem durante o tempo (SOUSA, 2019).
A partir de tais eventos, o historiador organiza a sociedade para dizer que um
determinado tempo se diferencia do outro conforme verifica-se a linha do tempo
histórica (SOUSA, 2019) (Figura 1).

Figura 1 – Linha do tempo histórica.


Fonte: https://www.stoodi.com.br/resumos/historia/linha-do-tempo/

Assim, verifica-se que a história é comumente dividida em:

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Pré-história:
1. Paleolítico;
2. Neolítico;
Idade Antiga: da invenção da escrita (4000 a.C.) até a queda do império Romano
(476);
Idade Média: da queda do império romano até a tomada de Constantinopla (1453);
Idade Moderna: da tomada de Constantinopla até a Revolução Francesa (1789);
Idade Contemporânea: da Revolução Francesa até os dias atuais.

1.4 Relação da história com outras ciências


Para facilitar o estudo e o registro da história, o historiador conta com auxílio de
diversos profissionais especialistas em outras ciências que também estudam o
homem nos mais diversos aspectos como:
• Paleontologia – estuda os fósseis que são encontrados preservados;
• Filosofia – estuda problemas relacionados à existência, ao conhecimento, à
verdade, aos valores morais e estéticos, à mente e à linguagem;
• Arqueologia – estuda cultura material de povos antigos;
• Sociologia – estuda a organização e as relações humanas de uma sociedade;
• Geografia – estuda as relações humanas com o meio físico;
• Antropologia – estuda as diferenças culturais entre sociedades e grupos sociais
em uma mesma sociedade, além de estudar a evolução biológica e cultural do
homem;
• Numismática – estuda as moedas;
• Paleografia – estuda escritos antigos;
• Economia – estuda a produção, circulação, distribuição e consumo de renda.

1.5 Relação da história com a gastronomia


A palavra gastronomia também vem do grego antigo em que gastros quer dizer
estômago e nomia, conhecimento. Tal arte incluí a culinária, o modo de preparar os
alimentos, as bebidas que combinam com esses alimentos, a matéria-prima que os
profissionais usam para a elaboração dos pratos e todos os conhecimentos culturais
ligados a essa criação (BIGIO, 2010).
Tendo em vista que o prazer proporcionado pela comida é um dos fatores mais
importantes da vida, a gastronomia nasceu desse prazer e sempre esteve presente

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na origem de grandes transformações sociais e políticas (BIGIO, 2010).
Atualmente, verifica-se uma obsessão pela história da mesa, propiciando que a
gastronomia saia da cozinha e seja novo objeto de estudo, considerando o
imaginário, o simbólico, as representações e as diferentes formas de sociabilidade
ativa (SANTOS, 2005).
Tal fato ocorre pela importância do alimento na história, visto que os padrões de
permanência e mudanças de hábitos e práticas alimentares têm referências na
própria dinâmica social. Apesar de alimentar-se ser um ato nutricional, comer é um
ato social, pois está associado a usos, costumes, protocolos, condutas e situações
(SANTOS, 2005).
Por intermédio do estudo da gastronomia, além de conhecer a arte de cozinhar e o
prazer de comer, é possível também conhecer a sua relação com os recursos
alimentares disponíveis visto as condições naturais de vida serem extremamente
variadas com influência de latitude, natureza dos solos, proximidade do mar, clima,
entre outros. Tais fatores são fortemente associados aos hábitos alimentares que
fazem parte da cultura, da economia e do comportamento de um povo (ABREU,
2001).
Sendo assim, é imprescindível que um profissional da gastronomia qualificado
conheça sobre a história dos alimentos, métodos de cocção, utensílios e futuras
tendências.

REFERÊNCIAS
ABREU, E. S. Alimentação mundial – uma reflexão sobre a história. Saúde soc., v.
10, n.2 2001.
AMON, D; MENASCHE, R. Comida como narrativa da memória social. Sociedade
e Cultura, v. 11, n. 1, 2008.
BESSELAAR, J. Heródoto, o pai da História. Revista de História., v.24, n. 49, 1962.
BIGIO, V. Gastronomia. Sabor & Saber. Disponível em:
<https://www.pucsp.br/maturidades/sabor_saber/gastronomia_44.html> Acesso em
16 jan. 2020.
BEZERRA, H. G. Estudo de história: conteúdos e conceitos básicos. In: KARNAL, L.
(Org.). História na sala de aula: conceitos, práticas e propostas. 6. ed. São Paulo:
Contexto, 2010.
BLOCH, M. Apologia da história ou o ofício do historiador. Rio de Janeiro: Zahar,

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2002.
COUTO, M. O fio das missangas. São Paulo: Cia das Letras, 2009.
DA MATTA, R. Sobre o simbolismo da comida no Brasil. O correio da Unesco. Rio
de Janeiro, v. 15, n. 7, p. 22-23, 1987.
DIAS, J. A influência da comida na cultura e memória. Disponível em:
<https://jornalggn.com.br/artigos/comida-e-memoria/> Acesso em 17 jan. 2020.
HAUCK-LAWSON, A. When food is the voice: a case study of a Polish-American
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FLANDRIN, J.; MONTANARI, M. História da alimentação. São Paulo: Estação
Liberdade, 2003.
POMER, L. O surgimento das nações. 10. ed. São Paulo: Atual, 2001.
SANTOS, C. R. A. A Alimentação e o seu lugar na história: os tempos da memória
gustativa. Comida e sociedade: questões e debates, Curitiba, n.42, p 13-14, UFPR,
2005.
TAVARES, A. P. Comida afetiva: uma expressão de gosto, hospitalidade e
memoria. 2018. 108 p. Dissertação (Mestrado Profissional em Turismo do Centro
de Excelência) - Centro de Excelência em Turismo, Universidade de Brasília,
Brasília, 2018.
SILVA, K. V.; SILVA, M. H. Dicionário de conceitos históricos. 2. Ed. São Paulo,
Contexto, 2009.
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