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UFAM – Instituto de Filosofia, Ciências Humanas e Sociais (IFCHS)

Curso: Licenciatura em História Turno: Noturno


Disciplina: História da Amazônia I Discente: Emily Larissa Pedroza Carneiro
Docente: Almir Diniz Carvalho Júnior Matrícula: 22051610
Período: 1º Data de Entrega: 21/04/2021

NEVES, Eduardo Góes. Arqueologia da Amazônia, Rio de Janeiro: Zahar, 2006.

TEMA: O livro Arqueologia da Amazônia (2006), escrito pelo arqueólogo Eduardo Góes
Neves (1966 -), faz parte de uma coleção da Editora Zahar intitulada como Descobrindo o
Brasil, onde importantes profissionais da Arqueologia (como o arqueólogo Pedro Paulo
Funari, autor de “Pré-História do Brasil”) promovem um debate acerca das inúmeras
possibilidades de abordagens da disciplina, tendo um enfoque maior na historiografia
brasileira.

OBJETIVOS: Através de Arqueologia da Amazônia (2006), o pesquisador Eduardo Góes


Neves propõe uma reconstrução de um passado histórico-cultural amazônico por vezes
anulado pela historiografia moderna, além de combater, através de fontes arqueológicas
sólidas, o ideal estabelecido da Amazônia como um complexo de vazio demográfico, teoria
defendida durante muito tempo pela arqueologia norte-americana e apoiada por arqueólogos
(as) extremamente influentes como a pesquisadora e arqueóloga norte-americana Betty
Meggers (1921-2012). Mediante o panorama abordado por Neves em seu livro, o mesmo
afirma que através de um conhecimento aprofundado acerca da história da arqueologia
amazônica em seus aspectos culturais e sociais, será possível então a criação e implementação
de políticas públicas e estratégias para o desenvolvimento sustentável dessa área.

CONTEÚDO: O conteúdo do texto Arqueologia da Amazônia é dividido em 5 (cinco)


tópicos: 1) O Meio Físico; 2) O início da ocupação humana; 3) A transição para a agricultura
e o início da produção cerâmica; 4) Ascensão e queda das sociedades complexas da
Amazônia; 5) Perspectivas futuras e temas de investigação.

1) O MEIO FÍSICO

No tópico intitulado como O Meio Físico, o arqueólogo Eduardo Góes Neves aborda a
biodiversidade presente na Amazônia. Neves afirma que é preciso entender a Amazônia como
uma região que abrigou diversas civilizações no decorrer da história, e, portanto, não é
homogênea. O mesmo aborda as variantes dos rios e em como essas mudanças eram
importantes para a construção da civilização amazônica, fazendo referência ao Rio Nilo,
essencial elemento na construção da sociedade egípcia. Além disso também fala sobre o modo
de vida dos primeiros habitantes da região, tendo a sua economia na caça, pesca e coleta de
frutas.

A bacia amazônica, segundo o texto, divide-se em quatro “áreas”: 1) Faixa Paralela à


Cordilheira dos Andes (Bolívia, Peru, Equador e Colômbia); 2) Áreas Ribeirinhas; 3) Áreas
de Terra Firme; 4) Áreas de Estuário e Litoral (regiões do Amapá, Pará e Maranhão). Nesse
último caso o arqueólogo ainda afirma que foram encontradas as mais antigas evidências de
cerâmica da América do Sul, além de ter se desenvolvido a civilização marajoara.

Além da biodiversidade, a natureza e a região amazônica tiveram influência para a construção


cultural das civilizações que habitavam ali. A Amazônia era uma região que abrangia
diferentes civilizações e com uma enorme complexidade linguística. O autor pontua que na
bacia amazônica pode-se notar a existência de, pelo menos, quatro famílias linguísticas
distintas: 1) Tupi-Guarani; 2) Arawak; 3) Carib; 4) Gê. É importante entender a Amazônia
como uma região de diversidade, e que essa diversidade é decorrente do processo de
colonização dessa região.

2) O INÍCIO DA OCUPAÇÃO HUMANA

Alguns estudos arqueológicos apontam o início da ocupação na Amazônia para 11.000 anos.
Porém, segundo o autor, algumas escavações em cavernas, como na caverna da Pedra Pintada
e na caverna da Lapa do Sol, atual Mato Grosso, foram verificadas datas mais antigas.
Todavia, vale ressaltar que as fontes sobre esse período são poucas e que novas pesquisas
sempre são bem-vindas para colaborar no quadro da arqueologia amazônica.

Existia um padrão de subsistência dessas civilizações relatadas historicamente, e consistia


basicamente em pesca, coleta de frutas e caça de animais de pequeno porte (valorizando assim
a rica biodiversidade da região). Além disso, há indícios arqueológicos que afirmam que o
processo de ocupação da Amazônia é anterior ao advento da agricultura, o que mostra a
possibilidade de diferentes tipos de economias na região.

Eduardo Góes Neves finaliza então comentando a respeito de uma época de mudanças
climáticas, que datam por volta do período histórico conhecido como Holoceno. Segundo
pesquisas arqueológicas, essa transição climática pode ter contribuído para a vazão
demográfica de algumas regiões amazônicas.
3) A TRANSIÇAÕ PARA A AGRICULTURA E O INÍCIO DA PRODUÇÃO
CERÃMICA

O autor inicia o tópico falando da importância da domesticação de plantas e afirma que


durante esse processo existem algumas áreas que são os “centros” e outras que são as
“receptoras”. Os centros seriam os locais onde o processo de domesticação de plantas
aconteceram no início – na América, Mesoamérica (México, Guatemala e Honduras) e os
Andes –, e as receptoras seriam aquelas regiões onde essas inovações chegaram após um
tempo. A Amazônia é também considerada como um centro independente de domesticação
das plantas, tendo como foco o plantio do mamão, da pupunha, da mandioca, etc.

A forma de agricultura presente na Amazônia seria então a agricultura de “coivara”, que


funcionava a partir da derrubada e queima de áreas florestais durante o período da seca.
Alguns intelectuais afirmavam que sociedades que viviam a base da agricultura de coivara
não podiam ser sedentárias, uma vez que a fertilidade do solo não é constante. Porém, Neves
rebate afirmando que ter esse ideal é comparar as civilizações pré-coloniais com as
contemporâneas, o que é errôneo, pois os padrões de cultivo das plantas e as ferramentas
utilizadas diferem entre si.

Ao finalizar o tópico, Neves afirma que, normalmente, o início da produção de cerâmica é


associada ao desenvolvimento da agricultura. Porém, faz-se necessário lembrar que as
cerâmicas mais antigas de que se tem conhecimento são provenientes de cenários onde a
agricultura ainda não era totalmente acatada, o que dá margem para a teoria de economias
diversas presentes na região.

4) ASCENSÃO E QUEDA DAS SOCIEDADES COMPLEXAS DA AMAZÔNIA

Nesse penúltimo tópico, Neves retoma com a teoria da Amazônia ser uma região homogênea
e reafirma que as civilizações que habitavam a bacia amazônica eram diferentes entre si e
viviam em constante mudança, ora com estabilidade, ora com ruptura nos padrões
econômicos e sociais. Essas mudanças são perceptíveis, segundo o autor, mediante às
transformações nos padrões de ocupação, o que seria resultado de uma “explosão cultural”,
como fora conceituado por Neves. Ainda é possível ressaltar que essas mudanças na
arqueologia amazônica podem ser consequências diretas das mudanças climáticas ocorridas
em 1.000 a.C.
O arqueólogo ainda disserta sobre a formação – cultural e social – de sociedades existentes na
Amazônia pré-colonial. Além de citar algumas aldeias, como a de Incisa, Maracá e Polícroma,
o autor também comenta sobre a importância da produção de cerâmica para a formação
cultural dessas civilizações. Eduardo Góes ainda reforça a importância da união de
arqueólogos e antropólogos na pesquisa acadêmica ao comentar sobre alguns trabalhos de
campos que foram realizados com alguns indígenas da região, como os índios Palikur, no rio
Urucauá.

Essas sociedades pré-coloniais, segundo Neves, estavam se organizando cada vez mais de
forma complexa. Evidências arqueológicas afirmam que essas sociedades possuíam um tipo
de organização social – e inclusive política – e que as mesmas estavam alinhando-se para um
possível desenvolvimento dessa organização, porém o efeito da colonização surtiu um
impacto profundo sobre os “planos” dessas civilizações, que acabaram sendo dizimadas por
doenças provenientes dos europeus.

5) PERSPECTIVAS FUTURAS E TEMAS DE INVESTIGAÇÃO: Neves finaliza o seu


texto apontando novos temas de pesquisa e debates arqueológicos que podem vir a tona com o
tempo, que é o caso de regiões amazônicas inexploradas, para além da calha do Amazonas. A
exemplo, a recém descoberta de geógliflos na região do Acre que podem ter relação com
estruturas idênticas localizadas na Bolívia datadas do primeiro milênio. O autor afirma que é
difícil conseguir estabelecer uma associação entre essas descobertas, e que o avanço
colonizador tende a dificultar ainda mais, uma vez que esses avanços são corrosivos à
arqueologia amazônica dessas civilizações.

CONCLUSÕES

Durante todo o seu livro Neves tenta estabelecer um panorama, através de fontes
arqueológicas e importantes debates históricos, sobre o processo de ocupação da Amazônia, a
consolidação dos aspectos sociais das civilizações pré-coloniais que habitavam essa região, e
principalmente, o efeito subversivo da política de colonização europeia sobre os nativos. Por
meio de “Arqueologia da Amazônia”, entre tantas outras coisas, o arqueólogo defende que
com o conhecimento legítimo dos povos que antes habitavam a região, de sua cultura e dos
seus costumes, será possível lutar em prol de políticas públicas a favor de uma ocupação
apropriada da região amazônica.

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