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Cultura Documentos
º 73
Julho|Dezembro 2022
Publicação Semestral
Revista Digital Gratuita
E TRANSIÇÃO
GECoRPA
Palácio Nacional
de Queluz
DIGITAL
4 | P&C 73 | Julho > Dezembro 2022
Sumário Ficha técnica
Pedra
&Cal
Conservação e Reabilitação
20. INVESTIGAÇÃO
Heritage Within. Novas técnicas para 24. INVESTIGAÇÃO
Ferramentas digitais para a construção
pelo Ministério da Cultura como publicação de manifesto
interesse cultural, ao abrigo da Lei do Mecenato.
a inspeção e apresentação das facetas de um “Atlas” das paisagens
não visíveis do património construído franciscanas. Um projeto em curso entre PROPRIETÁRIO
Javier Ortega, Graça Vasconcelos, Itália, Portugal e Espanha GECoRPA – Grémio do Património
Tiago Miguel Ferreira Rolando Volzone, Soraya Genin
www.gecorpa.pt | info@gecorpa.pt
www.pedraecal.org | revista@pedraecal.org
04 EDITORIAL
Inês Flores-Colen e Sofia Costa Macedo
38 PATRIMÓNIO EM PERIGO
As devantures na arquitectura
José Maria Lobo de Carvalho, Luiz Oosterbeek,
Maria Eunice Salavessa, Mário Mendonça de Oliveira,
Miguel Brito Correia, Paulo Lourenço, Soraya Genin,
oitocentista e de Novecentos Teresa de Campos Coelho
06 EM ANÁLISE
Património e tecnologias digitais.
do Porto (parte II)
Antero Leite
COLABORADORES Alexandre Gonçalves,
Ana Paula Falcão, Antero Leite, Francisco Duque Lima,
Entre a generalização e a especificidade Graça Vasconcelos, Helena Barranha, Javier Ortega,
Helena Barranha 44 DIVULGAÇÃO João Graça, Madalena Ponte, Rita Bento, Rita Machete,
Rolando Volzone, Soraya Genin, Tiago Miguel Ferreira
FIPA – Fórum Internacional do
Património Arquitetónico Portugal-Brasil.
14 OPINIÃO
A digitalização do património
Um fórum que coloca as comunidades
REDAÇÃO Daniel Gomes
do património cultural construído. 61 Estatuto Editorial da Pedra & Cal que as opiniões expressas podem não coincidir com as do
GECoRPA. É respeitada a ortografia adotada pelos autores.
Os modelos do Palácio Nacional de
Sintra e do Chalet da Condessa D’Edla
Ana Paula Falcão, Rita Machete, Alexandre CAPA: Sala dos Embaixadores
do Palácio Nacional da Ajuda © PSML
Gonçalves, Madalena Ponte, Rita Bento
36 GO DIGITAL OR GO HOME!
João Graça
25 anos na
salvaguarda
do Património
Inês Flores-Colen | Diretora da Pedra & Cal
O digital e os desafios
do património cultural
Sofia Costa Macedo | Coordenadora da Pedra & Cal 73
Património e
tecnologias digitais
Entre a generalização e a especificidade
Helena Barranha Professora no Instituto Superior Técnico, Universidade
de Lisboa e Investigadora no Instituto de História da Arte, Faculdade
de Ciências Sociais e Humanas, Universidade NOVA de Lisboa
e do restauro em que as tecnologias digitais plas camadas de significado e possibilidades ções internacionais. No início do século XXI,
têm actualmente relevância, propõe-se uma de interpretação. Os recursos disponíveis a Declaração Universal sobre a Diversidade
reflexão sobre dois campos complementares: para viabilizar essa pluralidade de leituras in- Cultural adoptada pela UNESCO consagrou
a) Levantamento e documentação e b) Divul- cluem, entre outros, a cartografia digital das a importância do pluralismo cultural no qua-
gação e mediação. paisagens históricas, as bases de dados e dro da globalização, alertando para os riscos
imagens relativas ao património e a mediação do rápido desenvolvimento de novas tecno-
A DIVERSIDADE DO de visitas a monumentos, com recurso a insta- logias da informação e comunicação, mas
PATRIMÓNIO E OS DESAFIOS lações interactivas e aplicações móveis. reconhecendo também o seu possível con-
DA INTEGRAÇÃO DIGITAL tributo “para a renovação do diálogo entre
A diversidade do património cultural e a ne- culturas e civilizações”2. Duas décadas mais
Numa época em que o entendimento do patri- cessidade de valorizar e preservar a espe- tarde, a Carta do Porto Santo veio reforçar
mónio é cada vez mais abrangente, cruzando cificidade dos valores históricos, materiais e a ideia de que a preservação da diversidade
dimensões materiais e imateriais, estáveis e simbólicos associados a cada lugar têm sido cultural constitui uma alternativa à globali-
efémeras, o digital permite acrescentar múlti- sublinhadas em sucessivas cartas e conven- zação económica e cultural, pressupondo a
“
Uma das principais linhas de acção
que a União Europeia tem vindo a
considerar estratégica e para a qual têm
3 | Aplicação de realidade aumentada
Rewind Cities Lisbon, 2014.
estudo e valorização. É importante notar que, totalmente acessíveis ao público. O recurso Ao longo das últimas duas décadas, os ar-
por detrás da digitalização de colecções de à inteligência artificial para o reconhecimento quivos digitais têm sido ampliados com con-
arquitectura, há necessariamente um trabalho de imagens, a pesquisa semântica e as novas teúdos mais complexos, designadamente
de inventário e conservação que não pode ser técnicas de visualização permitem a arquitec- modelos 3D nativos digitais produzidos no
descurado. Nesse sentido, a digitalização deve tos, curadores, historiadores de arquitectura e âmbito de levantamentos de monumentos,
ser vista como parte de um plano de conserva- outros investigadores analisar vastas colec- conjuntos e sítios. Este é um dos domínios
ção integrada e não como um fim em si mesma. ções de imagens digitais, comparando obras em que se tem assistido a uma maior evo-
segundo critérios específicos. A descoberta lução tecnológica, tanto em termos da so-
Em termos práticos, estas bases de dados de novos dados e novas relações é ainda po- fisticação e da crescente mobilidade dos
são maioritariamente constituídas por ima- tenciada quando as colecções são disponibili- equipamentos utlizados, como do ponto de
gens resultantes da digitalização ou da repro- zadas, não só através do website de cada ins- vista metodológico. Com efeito, o desenvol-
dução fotográfica de materiais com existência tituição, mas também através de plataformas vimento dos processos de laser scanning e
física, tais como desenhos, documentos escri- comuns como o Google Arts & Culture e a fotogrametria foi acompanhado por uma mu-
tos e maquetes, acompanhados dos respec- Europeana, que conta já com mais de 50 mi- dança de paradigma, em que os antigos le-
tivos meta-dados que podem, ou não, estar lhões de peças digitais nas suas colecções. vantamentos gráficos bidimensionais deram
“
lugar a modelos tridimensionais com níveis
de detalhe e de realismo antes impensáveis,
a partir dos quais é possível obter todo o
tipo de desenhos técnicos e visualizações.
Ao longo das últimas duas décadas,
Mas, para além da representação gráfica e os arquivos digitais têm sido ampliados
fotográfica associada ao levantamento ar-
quitectónico, a principal inovação reside na
com conteúdos mais complexos,
articulação destes modelos 3D com sistemas designadamente modelos 3D nativos
de informação, agregando todos os dados
necessários para a caracterização histórica,
digitais produzidos no âmbito de
tipológica, construtiva e funcional de um imó- levantamentos de monumentos,
vel. Neste âmbito destaca-se o sistema HBIM
(Historic Building Information Modelling), que
conjuntos e sítios.
”
permite monitorizar o estado de conservação
de um edifício histórico, em tempo real, e tra-
balhar em rede em acções preventivas ou de
restauro envolvendo profissionais de diversas
áreas (arquitectura, engenharias, história da
arte, arqueologia, etc.). Estes processos es-
tão ligados ao conceito de “digital twin” que
tem vindo a destacar-se na conservação de temperatura e humidade, gerir o número de zação 3D de bens culturais, em linha com uma
monumentos. A partir de uma réplica digital, visitantes e antecipar riscos e problemas com visão integrada do contributo das tecnologias
que recebe dados captados por sensores recurso a inteligência artificial7. digitais para a conservação e valorização do
instalados no monumento, é possível não só património. A “Recomendação da Comissão
monitorizar a situação actual do edifício, mas As vantagens deste tipo de modelos justificam Europeia” acerca de um espaço comum euro-
também controlar factores ambientais como a atenção dada pela União Europeia à digitali- peu de dados para o património cultural (2021)
NOTAS FINAIS E
QUESTÕES EM DEBATE ESTÕES EM
DEBATE
Nunca como hoje houve tantos e tão sofistica-
dos instrumentos para documentar, conservar
e divulgar o património construído. No entanto,
a experiência acumulada, ao longo de várias
décadas de rápido desenvolvimento e globali-
zação das tecnologias, veio demonstrar que a
ideia de uma “transição digital” linear dificilmen-
te pode responder à diversidade cultural da so-
ciedade contemporânea e à especificidade dos
problemas que o património suscita.
“
mais multifacetada e crítica. Ao contrário do
que então se previa, o facto de as instituições
digitalizarem e disponibilizarem imagens e
dados do património que tutelam não garante
que diferentes públicos tenham acesso a essa
É fundamental pensar na integração
informação. Como a pandemia de covid-19 digital no contexto de políticas para a
evidenciou, o território digital tem as suas
próprias fronteiras e zonas de exclusão. Essa
inclusão social e a cidadania, garantindo
segregação resulta, em primeira instância, das a autonomia e a liberdade de escolha,
assimetrias no acesso a equipamentos infor-
máticos e redes, mas também dos diferentes
tanto por parte das instituições que
níveis de literacia digital dos cidadãos. gerem o património, como dos seus
Por conseguinte, é fundamental pensar na
potenciais públicos. Resistindo à
integração digital no contexto de políticas privatização do espaço digital e à pressão
para a inclusão social e a cidadania, garan-
tindo a autonomia e a liberdade de escolha,
dos mercados tecnológicos controlados
tanto por parte das instituições que gerem pelas grandes multinacionais, cada
o património, como dos seus potenciais pú-
blicos. Resistindo à privatização do espaço
instituição deverá poder escolher as
digital e à pressão dos mercados tecnológi- soluções informáticas mais adequadas à
cos controlados pelas grandes multinacio-
nais, cada instituição deverá poder escolher
sua missão e às características dos bens
as soluções informáticas mais adequadas imóveis sob a sua tutela.
”
à sua missão e às características dos bens
imóveis sob a sua tutela. Designadamente,
e numa óptica de sustentabilidade financeira
e ambiental deve manter-se um certo distan-
ciamento crítico relativamente a produtos e
serviços susceptíveis de se tornarem rapida-
mente obsoletos, como tantas vezes aconte-
ce com instalações interactivas e aplicações
móveis. Outro aspecto importante a ponde- peu de dados para o património cultural. Para- NOTAS
rar é o investimento em projectos expositivos lelamente, é necessário assegurar uma maior 1. Esta ideia foi defendida pela autora no encontro sobre
baseados em cenografia digital que, em vez transparência na definição dos algoritmos “Transformação Digital”, no Ciclo de Conferências Online
de promoverem o conhecimento sobre o pa- que actualmente condicionam as pesquisas Museus do Futuro, promovido pelo ICOM Portugal,
20.01.2021.
trimónio, visam apenas entreter, distrair e in- na Internet e o funcionamento das redes so-
citar à interacção nas redes sociais. ciais. O poder e a obscuridade dos algoritmos 2. UNESCO (2001). Declaração Universal sobre a Diversi-
não só limitam aquilo que cada pessoa pode dade Cultural.
No plano institucional, convém relembrar que descobrir quando faz uma pesquisa sobre 3. Conferência do Porto Santo (2021). Carta do Porto Santo
a digitalização do património não pode consti- património online, mas também agravam a – A cultura e a promoção da democracia: para uma cidada-
tuir um factor de desresponsabilização relati- segregação de públicos, reduzindo o diálogo nia cultural europeia, p. 6.
A digitalização
do património
cultural edificado
Uma perspetiva do direito de autor
no âmbito da transição digital
o financiamento de material técnico para a di- mática do modelo digital) e limpeza (correção
gitalização de artefactos e sítios históricos e manual de imperfeições, seleção de texturas e
arqueológicos. colorização). De modo geral, o estado da arte
das tecnologias de captação e 3D divide-se em
No entanto, e como avança a Recomenda- duas principais técnicas: laser scanning e foto-
ção de 2011, “o custo da digitalização de grametria de curto alcance.
todo o património cultural europeu é elevado,
não podendo ser coberto unicamente com O laser scanning consiste na utilização de
financiamento público”. A transição digital tecnologia LiDAR (Light Detection and Ran-
continua a ocorrer à margem dos fundos de ging) para calcular a distância entre o apa-
investimento e planos de recuperação – ela relho técnico (emissor-recetor) e o objeto.
é o produto da necessidade de permanente O aparelho de medição emite um feixe laser 2 | “FARO Laser Scanner LS”, por FARO
Technologies, distribuído sob licença de Atribuição
atualização sectorial de forma a efetivar a que é parcialmente refletido pela superfície
ShareAlike 3.0 Internacional (CC-BY-AS 3.0).
sua missão pública de proteção e promoção do objeto e captado pelo recetor. Conhecen-
do património cultural. do a velocidade da luz, o ângulo, e o tempo
decorrido entre emissão e captação, é pos-
Assim, a possibilidade de explorar economi- sível determinar um ponto fictício no espaço,
camente os resultados da digitalização recai processo que é repetido instantaneamente coordenadas relativas utilizadas por software
primariamente no domínio dos direitos de au- para milhões de pontos. de modelação para gerar uma projeção orto-
tor. De forma a determinar se uma cópia digi- gonal (plano bidimensional) ou tridimensional
tal de edifício ou monumento pode ser sujeita A técnica de laser scanning pode assumir a (modelo 3D) do edifício.
a proteção por direito de autor, é necessário variedade terrestre, utilizada para a captação
proceder a um breve levantamento preliminar de artefactos móveis ou edifícios (TLS, atra- As principais vantagens do TLS são a sua
das técnicas utilizadas para a sua criação. vés de instrumentos estacionários como me- precisão milimétrica e elevada resolução.
didores FARO) ou aérea, para o varrimento de No entanto, a captação de milhões de pontos
TÉCNICAS DE DIGITALIZAÇÃO 3D largas superfícies (ALS, na qual um avião ou requer levantamentos mais morosos (vários
DE MONUMENTOS E EDIFÍCIOS drone equipado com LiDAR e localizador de dias para a compleição da digitalização),
HISTÓRICOS alta precisão sobrevoa a área). bem como maior tempo de processamento
informático. Para mais, o TLS não é uma tec-
O processo de digitalização de património A digitalização de um monumento através nologia de captação ótica, mas de projeção
cultural edificado divide-se em quatro etapas: de TLS é feita através de sucessivos esta- de coordenadas espaciais, pelo que as tex-
planeamento (delineação de métodos), levan- cionamentos do laser scanner e múltiplos turas, cores e sombras do edifício não se en-
tamento em campo (recolha de dados), pro- varrimentos da superfície do edifício. Cada contram presentes no modelo digital, sendo
cessamento (geração automática ou semiauto- conjunto de pontos gerado tem um sistema de inseridas manualmente.
Por sua vez, a fotogrametria é uma técnica scanning, permitindo um processamento in- Apesar do extenso elenco de exemplos de
que utiliza medições feitas sobre fotografias formático mais rápido. obras protegidas apresentadas na legislação
sobrepostas para reconstruir o objeto tridi- aplicável, não encontramos explicação sobre
mensionalmente. Semelhantemente ao laser É comum a utilização conjunta das duas téc- o que torna “intelectual” uma criação. O crité-
scanning, a fotogrametria pode assumir uma nicas de forma a combinar a precisão milimé- rio de originalidade de uma expressão encon-
vertente terrestre (TDP) ou aérea (ADP). trica e o processamento semiautomático do tra-se definido num conjunto de casos do Tri-
laser scanning com a vantagem da ortorretifi- bunal de Justiça da União Europeia de 2009
A digitalização de um monumento por TDP é cação digital fotogramétrica para a limpeza de a 2011. De acordo com este conjunto de ju-
feita através de restituição fotogramétrica, que textura e cor da imagem. risprudência, uma obra é considerada criação
permite criar o modelo 3D através de proces- intelectual quando o autor pode exercer es-
sos de correlação entre pontos homólogos O DIREITO DE AUTOR E O colhas livres e criativas e deixar a sua marca
das imagens sobrepostas e coordenadas rela- CRITÉRIO DE ORIGINALIDADE pessoal na obra – assim, quando uma expres-
tivas. As restantes características fotográficas são é predeterminada por regras técnicas ou
(textura e cor) são inseridas através de ortor- A proteção do direito de autor baseia-se na funcionais (como quando só existe uma forma
retificação digital, um processo que recorre ideia de que ao criador de uma obra original é de expressar a ideia, ou esta expressão é
a algoritmos fotogramétricos para relacionar devido o direito de ser reconhecido como au- encaminhada por um resultado específico ou
cada ponto da nuvem a um pixel da imagem. tor e conservar a integridade da sua obra (di- regras que restringem a margem de escolha),
reitos morais), bem como de explorar o valor esta não será uma expressão original.
O levantamento de dados através de TDP não económico da mesma (direitos económicos).
requer tecnologia especializada, sendo feito Uma pintura, por exemplo, será original de-
tipicamente através de máquinas fotográ- A definição de criação intelectual refletida na vido à utilização da margem de livre escolha
ficas DSLR, o que lhe atribui vantagens em redação do Artigo 2.º (Obras Originais) do de entre todas as técnicas, ferramentas, pig-
termos de mobilidade, acesso à tecnologia e Código do Direito de Autor e dos Direitos Co- mentos, e formas de expressão disponíveis
velocidade de levantamento. nexos (CDADC) compreende todas as “cria- ao autor, que a utiliza para expressar a sua
ções do domínio literário, científico e artístico, ideia de forma única e deixando o seu cunho
No entanto, os resultados estão dependentes quaisquer que sejam o género, a forma de pessoal na obra.
das limitações do próprio instrumento: a falta expressão, o mérito, o modo de comunicação
de resolução ou de condições de luz ideais e o objetivo”, entre elas obras de desenho e Apesar desta definição bastante clara do
pode produzir imperfeições, requerendo um arquitetura (alínea g), obras de artes aplicadas, critério de originalidade, assistimos a suces-
processo de limpeza mais moroso. Em con- desenhos ou modelos industriais (alínea i) e sivas tentativas de apropriação de obras no
traste, o conjunto de dados obtido por fo- projetos respeitantes à arquitetura, ao urbanis- domínio público através da utilização ilegítima
togrametria é menos denso que o de laser mo, à geografia ou às outras ciências (alínea l). das prerrogativas do direito de autor. É esta
3 | Representação
de ângulos de
captação por
fotogrametria e
respetivo resultado.
Disponível em
https://www.
lotpixel.com/blog/
do-you-want-to-get-
the-best-result-of-
Photogrammetry,
utilização livre
para propósitos
educacionais e
comerciais.
(b)
a situação que o Artigo 14.º da nova Diretiva A ORIGINALIDADE DE Por outro lado, o processo de texturização e
sobre os Direitos de Autor no Mercado Único MODELOS TRIDIMENSIONAIS colorização do modelo 3D poderá ser visto
Digital (Diretiva MUD) tenta acautelar. como relevante para a individualidade do pro-
Considerando as várias dimensões do crité- duto final. No caso do TLS, as texturas e cores
O MERCADO ÚNICO DIGITAL rio de originalidade previamente exposto, a do objeto não se encontram presentes na pro-
E O DOMÍNIO PÚBLICO tendência seria argumentar que uma proje- jeção e têm de ser manualmente preenchidas.
ção tridimensional modelada à imagem fiel No caso do TDP, a ortorretificação automatiza
De acordo com o Considerando 53 da Direti- de um edifício não é uma obra original. Aten- parcialmente este processo, mapeando a cor
va MUD, a proteção de reproduções fiéis de tando ao requisito de utilização de margem de cada pixel correspondente a um ponto na
obras que se encontrem no domínio público de escolha, é possível que todo o processo nuvem – no entanto, a limpeza das texturas
é “incompatível com o termo da proteção dos seja influenciado pela prossecução de um re- e cores passa pelo mesmo processo manual
direitos de autor das obras”. O Artigo 14.º dita sultado predeterminado: a máxima precisão que no laser scanning.
que “depois de expirado o prazo de proteção de representação de um objeto preexistente.
de uma obra de arte visual, qualquer material Esta direção técnica esgotaria assim a mar- Assim, considerando que a escolha de textu-
resultante de um ato de reprodução dessa gem de escolha que não se rege pela vonta- ras e cores se dá dentro de um espetro qua-
obra não esteja sujeito a direitos de autor ou de de expressão criativa, mas por critérios de se infinito de opções, é possível argumentar
a direitos conexos, salvo se o material resul- qualidade técnica e eficiência. no sentido do exercício de liberdade criativa
tante desse ato de reprodução seja original, nesta fase, conferindo-se originalidade ao
na aceção de que é a criação intelectual do Outro critério determinante será a relevância produto final.
próprio autor.” da variação técnica para a individualidade do
produto final. Enquanto a variação na escolha COMENTÁRIO FINAL E
O consenso académico é que o conceito de de ângulo numa fotografia é considerada livre NOTA SOBRE A DIRETIVA PSI
obra de arte visual deve ser interpretado da e criativa e, portanto, resultar sempre num pro-
forma mais ampla possível, de forma a pro- duto único, a variação na escolha de ângulo de O objetivo de criação de um fac-símile digi-
teger o máximo de obras no domínio público varrimento no laser scanning, ou de ângulo de tal não implica necessariamente a ausência
e que o termo “reproduções fiéis” engloba, fotografia na fotogrametria será técnico-fun- de escolhas criativas: o objetivo pode estar
portanto, modelos 3D de obras de arquite- cional e necessária para o processo, mas não predeterminado, mas se esse objetivo não
tura, que só poderão ser protegidos através para a especificidade e individualidade do seu influenciar a liberdade de escolha entre dife-
de direitos exclusivos se for possível provar resultado, ideia que é reforçada pelo facto des- rentes técnicas de execução, o resultado será
a sua originalidade. te se encontrar parcialmente automatizado. sempre único e original.
5 | Diagrama
simplificado –
concessão de
direitos exclusivos
sobre modelos 3D.
Elaboração própria.
Esta nova criação intelectual estaria, portanto, De acordo com o Considerando 49 da Dire- BIBLIOGRAFIA
sujeita a proteção por direito de autor, permi- tiva, de forma a permitir a amortização do in- Comissão Europeia (2011). Recomendação da Comissão de
tindo à instituição responsável pela digitaliza- vestimento de um parceiro privado na tarefa 27 de outubro de 2011 sobre a digitalização e a acessibilidade
em linha de material cultural e a preservação digital (2011/711/
ção explorar o seu valor económico de forma de digitalização de material cultural, “poderá
UE), VER RECOMENDAÇÃO
a não só recuperar o seu substancial inves- ser necessário um determinado período de
Decreto-Lei n.º 63/85, de 14 de março. Diário da República,
timento, como obter financiamento adicional. exclusividade”, mas esse período deverá “ser Série I, n.º 61. Código do Direito de Autor e dos Direitos Conexos
limitado a um espaço de tempo o mais curto (17.ª versão), alterado pelo DL n.º 9/2021, de 29 de janeiro.
Contrariamente, se considerarmos que todas possível, para que seja respeitado o princípio Diretiva (UE) 2019/790 do Parlamento Europeu e do Conselho
estas escolhas estão limitadas a priori pelo de que o material que está no domínio públi- de 17 de abril de 2019 relativa aos direitos de autor e direitos
conexos no mercado único digital e que altera as Diretivas
objetivo técnico, o modelo 3D consistirá ape- co, uma vez digitalizado, deverá permanecer 96/9/CE e 2001/29/CE. Jornal Oficial da União Europeia, L
nas numa reprodução de uma obra no domí- no domínio público.” 130/92, de 17.5.2019. VER DIRETIVA
nio público, não podendo, em princípio, atrair Diretiva (UE) 2019/1024 do Parlamento Europeu e do
proteção por direitos de autor, independente- A nova redação do Artigo 25.º/6, da Lei Conselho, de 20 de junho de 2019, relativa aos dados abertos
e à reutilização de informações do setor público (reformulação).
mente do investimento técnico e financeiro. n.º 26/2016, indica que “os direitos de exclu- Jornal Oficial da União Europeia, L 172/56, de 26-06-2019.
sividade acordados para a digitalização de re- VER DIRETIVA
Não obstante, caso a entidade responsável cursos culturais não devem exceder o prazo Lei n.º 26/2016, de 22 de agosto. Diário da República, Série I,
pela digitalização se encontre ao serviço uma de 10 anos, sem prejuízo do regime relativo a n.º 160. aprova o regime de acesso à informação administrati-
instituição pública de proteção do património direitos de autor e direitos conexos”, estando va e ambiental e de reutilização dos documentos administrati-
cultural ou investigação científica, estes da- também aberta a possibilidade de extensão vos, transpondo a Diretiva 2003/4/CE, do Parlamento Europeu
e do Conselho, de 28 de janeiro, e a Diretiva 2003/98/CE,
dos serão considerados informação do setor de prazo sujeita a fundamentação e reavalia-
do Parlamento Europeu e do Conselho, de 17 de novembro
público ao abrigo da nova Diretiva relativa a ção periódica. Assim, não obstante a incerte- (4.ª versão), alterada pela Lei n.º 68/2021, de 26/08.
dados abertos e à reutilização de informações za quanto à originalidade da réplica digital, a
do setor público (Diretiva PSI), transposta para Diretiva PSI estabelece uma garantia mínima
o ordenamento jurídico português através da de recuperação do investimento de parceiros
Lei n.º 68/2021, que altera a Lei n.º 26/2016. privados
Heritage Within
1 | Inspeção das colunas do Museu Arqueológico do Carmo com o sistema automático para a realização de tomografia ultrassónica in situ (Novembro 2020).
Javier Ortega Instituto de Tecnologías Físicas y de la Información “Leonardo Torres Quevedo”, Consejo Superior
de Investigaciones Científicas (CSIC), javier.ortega@csic.es
Tiago Miguel Ferreira College of Arts, Technology and Environment, University of the West of England, tiago.ferreira@uwe.ac.uk
O objetivo final do projeto visou definir e tes- 2 | Imagem em transparência do interior das colunas do Convento do Carmo, obtida com recurso ao georradar.
tar o processo para obter uma reconstrução
tridimensional do monumento, incluindo não
apenas as suas superfícies externas, mas
também informação relevante do interior dos
seus elementos construtivos, assim como ou-
tros dados não visíveis. De forma a obter ima-
gens do interior dos elementos construtivos, o
projeto exigiu a utilização de técnicas já exis-
tentes, nomeadamente o Ground Penetrating
Radar, ou georradar, e o desenvolvimento de
novas tecnologias, tais como um sistema au-
tomático para a realização de tomografia ul-
trassónica in situ (Aparicio et al, 2022). O sis-
tema permitiu executar levantamentos tomo-
gráficos das colunas do convento de forma
automatizada (figura 2). Como resultado, a
morfologia interna de várias colunas pôde ser
reconstruída quase pedra a pedra, e o dano
interno e o estado de conservação do material
puderam ser avaliados.
4 | Visita virtual e estratos de informação sobrepostos à reconstituição 3D fotorrealista, por exemplo: (topo) resultados
da tomografia ultrassónica; e (abaixo) resultados das análises numéricas com base no método de elementos finitos.
propõe relacionar o visível com o não-visível, causa e efeito entre características construti- no âmbito deste projeto encontra-se alinhada
olhando além da superfície do objeto, o que vas, danos, e comportamento estrutural. com estratégias recomendadas por instituições
facilita a identificação da morfologia interna, internacionais envolvidas na preservação do
vazios, objetos ocultos, ou danos. O projeto também estabeleceu como objetivo património, tal como o Conselho Internacional
prioritário uma melhoria do envolvimento dos de Monumentos e Sítios (ISCARSAH 2003),
A plataforma de RV tem dois objetivos princi- visitantes com o edifício, por exemplo, através que privilegiam a conservação preventiva
pais. Primeiramente, pretende comunicar ao da reconstrução virtual do aspeto original da enquanto estratégia mais eficiente do ponto
público geral o papel essencial dos profissio- igreja, já mencionado anteriormente. Assim, de vista técnico e económico (Lourenço
nais da área da conservação (historiadores de além de informações técnicas, foram ainda in- et al, 2022).
arte, engenheiros, arquitetos, etc.), mostrando cluídos na plataforma virtual estratos de infor-
a importância das atividades de levantamen- mação histórica, sendo possível realizar uma Pretende-se que no futuro este modelo possa
to, diagnóstico e análise para a conservação visita virtual à igreja, no seu estado original, vir a integrar cenários virtuais propostos com
do património edificado. Espera-se que o uso antes do seu colapso na sequência do terra- um sistema de Internet das Coisas (IoT) com
da RV para a apresentação e comunicação moto de 1755 (figura 4). vista à sua utilização numa perspetiva digital
de resultados complexos aumente a acessi- twin. O Convento do Carmo, por exemplo,
bilidade ao património cultural e enriqueça a O uso da RV como ambiente de trabalho para pode ser equipado com sensores de monito-
experiência do visitante. Em segundo lugar, a facilitar a interpretação de resultados de tec- rização que meçam em tempo real diferentes
integração de resultados provenientes de dife- nologias não invasivas aumenta as possibili- parâmetros da saúde estrutural do edifício.
rentes tipos de diagnóstico numa única plata- dades de transmissão do conhecimento das Os resultados podem ser avaliados no seu
forma de RV pretende ajudar os especialistas características físicas e do estado de conser- “gémeo digital” de forma a avaliar remotamen-
na interpretação dos seus próprios resultados vação do património arquitetónico (Gabellone te a necessidade de diferentes tipos de inter-
por via de formatos de visualização inovado- et al, 2013). A abordagem proposta constitui, venção. A associação entre o objeto físico e
res e não convencionais. A título de exemplo, assim, um sistema eficaz para armazenar e a realidade virtual permite ativar a análise de
refere-se a possibilidade de visualizar os re- analisar dados heterogéneos, obtidos através dados e a monitorização dos monumentos de
sultados no local em contraponto com a tra- de diversas técnicas de inspeção e diagnósti- forma a operar em modo preditivo, identifican-
dicional análise em gabinete e a visualização co das condições estruturais do edifício. do problemas da sua ocorrência. Um mode-
simultânea de vários resultados, permitindo lo digital continuamente conectado com sua
desta forma uma melhor perceção das pos- Além disso, documentar a condição do contraparte física, capaz de ser gerido de
síveis inter-relações entre diferentes tipos de bem patrimonial e a sua relação com o seu forma interativa, pode ser um aliado valioso
informação (dados multi-paramétricos) e um ambiente é um pilar fundamental da gestão na gestão das atividades de conservação, tor-
melhor entendimento dos mecanismos de da conservação. A abordagem desenvolvida nando-as mais cirúrgicas e eficientes.
Os resultados descritos no presente artigo são BIBLIOGRAFIA Gabellone F., Leucci G., Masini N., Persico R.,
parte do projeto Heritage Within (HWITHIN), Quarta G. & Grasso F. (2013). Non-destructive pros-
Aparicio Secanellas S., Liébana Gallego J. C.,
pecting and virtual reconstruction of the chapel of the
cofinanciado pelo programa europeu Creative Anaya Catalán G., Martín Navarro R., Ortega Heras
Holy Spirit in Lecce, Italy. Near Surface Geophysics,
Europe, Cross-setorial, Bridging culture J., García Izquierdo M. A., González Hernández M.
11(2), 231-238.
and audiovisual content through digital (ref. & Anaya Velayos J. J. (2022). An ultrasonic tomogra-
phy system for the inspection of columns in architec- ISCARSAH (2003). Recommendations for the
614719-CREA-1-2019-1-PT-CROSS-SECT-
tural heritage. Sensors, 22(17), 6646. Analysis of Historical Structures. International
INNOVLAB)
Committee on Analysis and Restoration of Structures
Lourenço P.B., Barontini A., Oliveira D. V. & Ortega J.
of Architectural Heritage (ISCARSAH). ICOMOS.
(2022). Rethinking preventive conservation: Recent exam-
ples. In R. Lancelotta, C. Viggiani, A. Flora, F. de Silva & L Ortega Heras J., Gonzalez Hernández M., García
Mele (eds.), Geotechnical Engineering for the Preservation Izquierdo M. A. & Masini N. (2021). Heritage Within.
of Monuments and Historic Sites III. CRC Press. European Research Project. University of Minho.
Soraya Genin ISTAR-Iscte, Departamento de Arquitetura e Urbanismo (DAU), ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa,
soraya.genin@iscte-iul.pt
”
Ainda no âmbito da segunda fase, toda a in-
formação heterogénea é sistematizada numa
base de dados que será, até ao final do ano,
migrada para um sistema georreferencia-
do (GIS).
4 | Georreferenciação dos conventos franciscanos na península ibérica. © Marc Ferrer, F-Atlas, 2022
5 | Metodologia para a impressão de protótipos à escala: nuvem de pontos, criação de superfícies, impressão 3D com filamento. ©Rolando Volzone, 2020
“
sencial, por um lado, para investigadores e
profissionais que trabalham neste domínio;
por outro, para alcançar um público mais alar-
gado, não especializado. Deste modo, são
criadas as bases para a última fase, onde são
desenvolvidas ferramentas para a divulgação
A disseminação do conhecimento será
e promoção deste património cultural. Será alargada a um público mais vasto,
usada uma aplicação para museus virtuais,
com navegação em tempo real através de
aumentando o “acesso” ao património
Realidade Virtual, Aumentada e Mista. Adicio- cultural através de uma exposição que
nalmente, estão a ser desenvolvidos protóti-
pos 3D. Os modelos digitais são convertidos
decorrerá em 2023. Os modelos físicos
em superfícies através da triangulação dos podem ser utilizados para exposições
pontos, com vista à impressão em diferentes
escalas – geral e de pormenor. A dissemina-
tácteis, para fins de investigação, ou de
ção do conhecimento será alargada a um pú- reverse design, uma vez integrados os
blico mais vasto, aumentando o “acesso” ao
património cultural através de uma exposição
dados de investigação histórica.
”
que decorrerá em 2023. Os modelos físicos
podem ser utilizados para exposições tácteis,
para fins de investigação, ou de reverse de-
sign, uma vez integrados os dados da inves-
tigação histórica. A impressão 3D desempe-
nha um papel importante enquanto recurso
a adotar nas áreas da educação e formação,
promovendo o envolvimento de várias faixas
etárias. Finalmente, a criação de uma rede de O projeto pretende, desta forma, desenvolver o conhecimento e valorização do património
rotas culturais – itinerários para caminhadas e novas estratégias para experiências diversifi- cultural – maioritariamente desconhecido e por
ciclismo – e virtuais – remotamente acessíveis cadas através das Tecnologias da Informação vezes abandonado –, e promove a regenera-
– estimulam o desenvolvimento de um turismo e Comunicação, e métodos inovadores para a ção de comunidades e territórios remotos, ca-
cultural sustentável, bem como a participação reutilização interativa do património cultural. A raterizados pela estreita relação entre os edifí-
das comunidades locais. utilização de ferramentas digitais contribui para cios monumentais e a paisagem envolvente
Aplicação de BIM
na gestão do património
cultural construído
Os modelos do Palácio Nacional de Sintra
e do Chalet da Condessa D’Edla
Ana Paula Falcão, Rita Machete, Alexandre Gonçalves, Madalena Ponte e Rita Bento
CERIS, Instituto Superior Técnico, Universidade de Lisboa, ana.p.falcao@tecnico.ulisboa.pt
2 | Distribuição de
danos em paredes
de alvenaria.
•
qualidade posicional do modelo H-BIM. No to-
tal foram feitos 13 voos com UAV, recolhidas BIM as a resource in heritage management: An application for the National Palace of Sintra,
Portugal (10.1016/j.culher.2019.11.010)
•
6772 fotografias em 1400 varrimentos laser
A Multi-Disciplinary Approach to the Seismic Assessment of the National Palace of Sintra
para o palácio e 101 para o chalet, num total
(10.1080/15583058.2019.1648587)
de 3 07344 milhões de pontos, que serviram
de base à construção dos modelos H-BIM para •
Failure analysis of a Portuguese cultural heritage masterpiece: Bonet building in Sintra.
Doi: 10.1016/j.engfailanal.2020.104636
o PNS com 11 pisos (409 espaços) e com 2 pi-
sos (48 espaços) para o CCE.
•
Reduction of earthquake risk of the National Palace of Sintra in Portugal: the Palatine Chapel.
Doi: 10.1016/j.ijdrr.2021.102172
iniciou-se pela seleção dos níveis de com- Manuelina e as icónicas chaminés. Além da cio. A construção do modelo H-BIM do esta-
plexidade (detalhe geométrico, precisão e informação útil para a gestão e manutenção do atual do edifício obedeceu às recomenda-
granularidade da informação) adequados ao do espaço (por exemplo, data e tipologia da ções gerais relativamente à definição geomé-
propósito de gestão e manutenção dos espa- última intervenção) foi ainda associada ao trica dos elementos construtivos, incluindo
ços, e pela definição da árvore de atributos modelo H-BIM do PNS informação relativa pormenores ornamentais como a definição
em função da diversidade e natureza da in- ao estudo da vulnerabilidade sísmica, per- da silhueta das portas e janelas com cortiça,
formação disponível. mitindo identificar a localização tridimensio- a imitar plantas trepadeiras. No total foram
nal das amostras recolhidas e dos ensaios modeladas 112 paredes, 40 pisos, 8 arcos
Decorrente do elevado volume das nuvens realizados (macacos planos, deteção geo- estruturais e 4 perfis metálicos, e coligidas in-
de pontos, o modelo PNS foi trabalhado em física por georradar e ensaios de vibração formações relativas às propriedades dos ma-
blocos naturalmente divididos pelas épocas ambiental), incorporar as características di- teriais, usos e estados de conservação dos
construtivas (reinados de D. Dinis, D. João I, nâmicas experimentais dos corpos principais espaços e dados relativos a intervenções de
D. Afonso V, D. Manuel I e durante o sécu- ensaiados, e a espacialização de danos (por gestão e manutenção.
lo XVII), facilitando o manuseamento dos corte, flexão, compressão e tração) a ocorrer
ficheiros e a organização geral do trabalho, no palácio para diferentes cenários sísmicos A constituição de uma equipa multidisciplinar,
permitindo incluir caraterísticas próprias dos definidos, tendo em conta o preconizado na com boas competências nas áreas da Geo-
estilos arquitetónicos. Este procedimento Parte 3 do Eurocódigo 8 para construções mática, da modelação em BIM, da avaliação
possibilitou que a Ala Manuelina fosse por- existentes de alvenaria. de vulnerabilidade sísmica e dos Sistemas
menorizada com o detalhe ornamental ca- de Informação Geográfica, juntamente com
racterístico deste período e para esse fim foi A construção do atual modelo H-BIM para o apoio da Parques de Sintra – Monte da
construída uma biblioteca de objetos simplifi- o CCE beneficiou da existência de um mode- Lua, S.A., com destaque para o engenheiro
cada (disponível no repositório online Zeno- lo digital que serviu de base à recuperação Daniel Silva e a sua equipa, foram decisivos
do1) que suportou a representação paramé- do chalet, em 2009, do estado de ruína em para o êxito do projeto, reconhecido na atri-
trica das 253 janelas e 307 portas presentes que se encontrava, na sequência de um vio- buição do prémio Excelência BIM 2021, cate-
no PNS, em 85 famílias de janelas e 104 fa- lento incêndio, em 1999, e posterior abando- goria Trabalho Gestão do Ambiente Construí-
mílias de portas. A metodologia de recolha no. À data, esse modelo permitiu o ensaio da do – Edifícios e Infraestruturas
de informação por varrimento laser permitiu reconstrução de vários dos elementos icóni-
o mapeamento de elementos de difícil aces- cos do edifício: a escadaria central de ligação
so, nunca antes registados, dos quais os entre pisos e a articulação das varandas do NOTA
elementos estruturais da cobertura da Sala primeiro piso com o corpo principal do edifí- 1. https://zenodo.org/record/3836019#.YyVSly_5RB0.
Go digital
or go home!
na arquitectura
Novecentos do
Porto – parte I" na
Pedra & Cal 71
oitocentista e de
Novecentos do Porto
(parte II)
Antero Leite ACER – Associação Cultural e de Estudos Regionais
em finos varões de ferro que as delimitavam que mudou a razão social para Salão Sousa, A devanture, do tipo inserção, aloja-se em
acompanhava o eixo dos vãos superiores para a actividade de cabeleireiro. Hoje, com grande vão vertical aberto no piso térreo, de in-
(AHMP-LO 473/1930). novos donos, denomina-se Oficina do Cabelo. fluência neoclássica, subdividido por pilastras
Decorrentes destas alterações, verificaram-se coroadas de capitéis decorados por volutas.
Havia uma grande coerência com a modena- também mudanças no projecto original da de-
tura do edifício (figura 9). Havia, mas já não vanture de 1929. Em termos de integração, verifica-se que
há. O Café Sport fechou nos anos 60 e a sua a devanture, pela sua desmesurada verti-
bela devanture-marquise deu lugar a uma en- Em 2018, dois anos antes da última interven- calidade, não respeita a escala do edifício,
trada de dependência bancária. O Porto per- ção, constatavam-se diferenças no traçado embora se possa dizer que, na sua concep-
deu uma criação de um grande arquitecto. linear da caixilharia da parte superior do vão, ção, se atendeu aos eixos verticais dos vãos
embora mantendo linguagem de sabor Art superiores. O mesmo não se pode afirmar
Porém, muito perto, na Rua de Sá da Bandei- Déco. A porta apresentava as duas folhas sem quanto ao alinhamento com o eixo horizon-
ra, 13, subsiste ainda a devanture da Barbearia gradeamento, e a sua protecção era feita por tal dos pisos térreos dos prédios confinantes
Tinoco (figuras 11 e 12) cujo projecto, apresen- uma grade articulada de correr. Hoje, encontra- (figura 12).
tado à CMP em 2 de Agosto de 1929, teve a as- -se defendida por gradeamento metálico mas
sinatura dos arquitectos José Ferreira Peneda de desenho diferente do inicialmente projecta- A Barbearia Tinoco foi classificada como de
e Manuel Marques (figura 10). Joaquim Faria do pelos dois arquitectos, em que se previam interesse histórico e cultural ou social local em
Moreira Ramalhão assumiu a responsabilidade faixas horizontais e verticais inserindo enrola- reunião de 24 de Julho de 2018 da CMP e, no
pela segurança dos operários e execução da mentos e pendentes. A sua guarnição e o pu- respectivo ofício enviado ao proprietário, re-
obra (AHMP-LO 200/1929). xador também diferem do que se encontrava fere-se que a decisão tomada pode contribuir
no desenho do projecto original. Neste, nota-se para preservar a identidade da nossa cidade,
Manuel Fernandes Tinoco era, na altura, também um embasamento em material pétreo valor tão importante para o nosso presente e
proprietário do estabelecimento. Mais tarde que, em todo o grande vão, ficava de permeio para o nosso futuro (www.facebook.com/Bar-
passou para as mãos de José da Silva Sousa entre a estrutura metálica e as pilastras. bearia Tinoco).
8 | Devanture do
edifício «Fenianos».
9 | Devanture-marquise do
Café Sport. Projecto do arq.
Rogério de Azevedo, 1930.
© AHMP
10 | Projecto da Barbearia
Tinoco por Manuel Marques e
José Ferreira Peneda. © AHMP
11 | Actual devanture da
Barbearia Tinoco. © AL
12 | Enquadramento
10 11 12 da devanture. © AL
A intervenção de 2020 realizou-se ao abrigo foi possível consultar a deliberação da Comis- O estabelecimento na Rua Formosa, 175,
do “Programa Porto de Tradição”, com apoio são de Estética dado que no Arquivo Histórico era, em 1932, um bazar de móveis. Assim o
financeiro concedido pelo município (Idem, Municipal do Porto só existem actas até 1927. qualificava o seu proprietário Manuel Augusto
idem). Contudo, o restante do prédio onde Rodrigues, em 19 de Março daquele ano, em
se instala não foi abrangido e encontra-se Pierre Damaz, em 29 de Setembro do mesmo requerimento à CMP solicitando licença para
hoje em lamentável estado de conservação. ano, apresenta um novo projecto de devantu- transformar a frente do piso térreo segundo
Desconhecemos qual o motivo e a razão da re no desejo de satisfazer, embora com sacri- projecto do arquitecto José Fernandes da Sil-
colocação das barreiras de protecção sobre o fício, as pretensões da Comissão de Estética va (AHMP-LO 792/1932). Na Memória Descri-
último piso, onde a ausência de platibanda se (Idem, idem). O seu desenho era inovador e tiva refere-se que no vão de 5,50 m seriam
verifica há vários meses. de um geometrismo e decoração Art Déco. aplicadas quatro vigas duplo T intercaladas de
Foi aprovado (figura 14). Teria sido por razões traves de madeira e ligadas entre si por pa-
Um caso de reprovação pela Comissão de Es- estéticas que o primeiro projecto foi reprova- rafusos colocados a meia altura. Suportariam
tética da CMP ocorreu com um primeiro pro- do? Possivelmente. uma carga total admitida de 41 000 kg. As vi-
jecto da devanture da Rua de Passos Manuel, trinas e as portas seriam construídas em ferro
34-38 (AHMP-LO 563/1930). Comparando com o desenho original (figu- forjado e em mármore de lioz a parte superior
ra 14) são poucas as alterações que se ve- e as laterais da devanture (Idem, idem).
Apresentado em 23 de Agosto 1930 por Pier- rificam na devanture actual: o arco superior
re Damaz, o requerimento de licença de obra central não é ligeiramente encurvado e o O desenho Art Déco, traçado por José Fer-
previa, na Memória Descritiva, a sua constru- coroamento das pilastras laterais não apre- nandes da Silva, é muito belo e de grande
ção em madeira e ferro e no interior a substi- senta os avolutados laterais. Nos octógonos rigor geométrico. Aos zigue-zagues que re-
tuição de uma escada em caracol por outra de em bronze, que se encontram nos extremos matam superiormente as montras associa-se
ferro e madeira (Idem, idem). Na documenta- do entablamento, inscreveram-se, em vez de o dinamismo da ornamentação da porta com
ção do processo não existe qualquer anota- uma, duas efígies: feminina e masculina (figu- as duas folhas de vidro subdivididas por per-
ção sobre o motivo da reprovação e não nos ras 15 e 16). fis diagonais que formam figuras geométricas
13 14
sem decoração ou inserindo gradeamentos reforçou com a simétrica disposição do seu 13 | Devanture da Rua de Passos
em espiralados. Na base das montras e da enquadramento pelos dois vãos sublinhados Manuel, 34-38 (1.º projecto). © AHMP
porta corre um friso de canelado. A devanture pelas tríplices faixas horizontais e o lettering 14 | Devanture da Rua de Passos Manuel
já não existe. Hoje, o seu espaço é ocupado da denominação do estabelecimento que re- (2.º projecto). © AHMP
por uma superfície vidrada em rectângulos. mete para as especialidades nele vendidas 15 | Actual devanture. © AL/VV
(figura 18). 16 | Actual devanture – pormenor. © AL
A frente da Farmácia Vitália constitui, sem dú-
17 | A devanture da Casa Rodrigues. © AHMP
vida, um corte na modenatura do alçado e um A Farmácia Vitália encontra-se abrangida na
18 | Devanture da Farmácia Vitália. © AL
desrespeito pelo eixo horizontal do piso tér- área classificada “Porto, Património Mundial”
reo do Palácio dos Carrancas. José-Augusto (UNESCO) e recentemente integrada no con-
França, em Os anos vinte em Portugal, des- junto de estabelecimentos do Programa “Por-
creve-a nos seguintes termos: “A vasta e pio- to de Tradição”, desenvolvido pela CMP.
neira fachada comercial modernista do Porto, como caixeiros, filhos de lavradores minhotos
da farmácia Vitália, incrustada no edifício das Os exemplos da antiga Tabacaria Veludo, do e regressavam capitalistas de torna-viagem,
Cardosas, na Praça da Liberdade, com aflitiva Café Sport, da Barbearia Tinoco, da Damaz, empreendedores de fábricas, do Palácio de
inconsciência epocal dos valores históricos ali da Casa Rodrigues e da Farmácia Vitália, de- Cristal, do “americano” até à Foz, dos vapores
contrariados” (França 1992, p. 270). monstram a adopção, pelos projectistas, das ligando Lisboa e Brasil, do caminho de ferro
devantures da linguagem estética Art Déco. para o Douro com projecto de ligação a Sala-
Contudo, em termos de leitura da fachada do O ferro, sem perder a sua função estrutural, manca, do Porto de Leixões. “Brasileiros”, via-
edifício, ela não é valorizada pelo neo-clacis- quase se torna ausente ao associar-se ao jados pela Europa de onde trouxeram ideias
sismo historicista de que apenas sobressai mármore e vidro. para a construção dos seus palacetes que se
o seu frontão, mas antes pelo belo e criati- implantam pelo Bonfim, Campo de Santo Oví-
vo desenho Art Déco da frente da farmárcia. CONCLUSÃO dio, Cedofeita, Restauração e outras zonas da
Desenhada em 1932 pelo arquitecto Manuel cidade que se urbanizam depois do Vintismo
Marques, a sua colocação exigiu construir O Porto das devantures é o das fundições (en- e da Regeneração.
uma estrutura em pilares e vigas em ferro tre outras as de Massarellos e Ouro, reunidas
para garantir a sustentabilidade da frontaria na Aliança) e dos marmoristas (como Franklin O Porto é hoje uma cidade em profunda alte-
do Palácio das Cardosas. Os seus cálculos e a Casa Felisberto, junto à Escola de Belas ração da sua paisagem urbana, em risco de
foram feitos pelo engenheiro Jorge Bastian Artes), fábricas e oficinas onde mestres, ope- desaparecimento de prédios de habitação e
(AHMP-LO 326/1932). rários fundidores, cortadores e polidores se comerciais com devantures ou alvos de inter-
notabilizaram pelo seu saber-fazer no traba- venções profundas nas fachadas, acrescen-
As caixilharias das montras também são me- lhar o ferro e o mármore; a urbe comercial tos de pisos e mansardas completamente de-
tálicas, mas o vidro ocupa superfícies inco- das grandes lojas desaparecidas (Armazéns sinseridas da tipologia e estética do edificado.
muns. Manuel Marques, com o grande vitral Hermínios, Grandes Armazéns do Chiado,
geometrizado da cruz vermelha, conseguiu Móveis Nascimento, Armazéns da Beira); a São várias as ruas com estabelecimentos co-
sintetizar a linguagem Art Déco mas ainda a cidade do pequeno lojista onde se iniciavam merciais sem aquelas estruturas substituídas
17 18
por montras desajustadas em relação à com- É necessário prevenir intervenções desas- FONTES
posição dos prédios, não atendendo aos eixos trosas em devantures e corrigir, sempre que Arquivos
verticais dos vãos superiores ocupando por seja possível, as anomalias verificadas e que
AHMP – Arquivo Histórico Municipal do Porto –
completo a frente do piso térreo e que não res- não contribuem para o aformoseamento das Licenças de Obras. Acessível por http://gisaweb.
peitam a arquitectura da época em que o edifí- lojas como desejavam os proprietários que cm-porto.pt.
cio foi construído. O contraste entre o desenho as construíram. Valorizá-las como elementos
Bibliografia
actual das montras e a modenatura do restante identitários da paisagem urbana para o que
França, J. A. (1992). Os Anos 20 em Portugal.
das fachadas confere um carácter intrusivo à se torna necessário, para muitas delas, a
Ed. Presença.
remodelação dos espaços expositivos. sua classificação de protecção, sob iniciativa
directa do município e integrá-las em progra- DGPC. Casa Vicent. Disponível em http://www.
patrimoniocultural.gov.pt/pt/patrimonio/patri-
Particularmente absurdos os sistemas de en- mas de apoio ao comércio tradicional para se-
monio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/clas-
cerramento das montras em vários prédios rem reabilitadas com boas práticas.
sificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/
oitocentistas. Em algumas devantures substi-
view/342627/
tuiu-se a caixilharia original em perfis de ferro Existe já o Programa “Porto de Tradição”, em
SIPA. Mercado Ferreira Borges. Disponível em
por outra de desenho diferente e em perfis em execução desde 2016, abrangendo vários es-
http://www.monumentos.gov.pt/
alumínio. Não existe uniformização na coloca- tabelecimentos e que deveria continuar a ser
Tostões A. (s.d). Construção moderna: as gran-
ção das denominações dos estabelecimentos implementado de modo a permitir a aprova-
des mudanças do Século XX. Disponível em
e as cores dos espaços onde se inscrevem ção de um maior número de candidaturas.
https://desenharte.yolasite.com/resources/
são, por vezes, agressivas. O mobiliário ex-
Arquitectura%20moderna%20-%20ANA%20
terior, colocado em bares e restaurantes, em TOST%C3%B5es.pdf.
frente de devantures ou nas suas proximida-
des, peca por ser dissonante e, em alguns ca-
sos, oculta-as mesmo que parcialmente.
FIPA
Fórum Internacional
do Património Arquitetónico
Portugal-Brasil
Um fórum que coloca as comunidades técnica,
científica e institucionais em diálogo
A
Alice Tavares Presidente APRUPP, Investigadora DEMAC, Universidade de Aveiro
© Mauricio Alexandre
Fonte: FUNDEC
A
artística e social do projecto. O painel de jura-
dos decidiu ainda, por unanimidade, atribuir
nossa associada Atelier Samthiago duas menções honrosas e a primeira delas foi e distingue anualmente um projeto de exce-
ganhou recentemente a empreitada de “conser- também para um dos nossos associados, a lência na área da conservação, recupera-
vação e restauro do retábulo-mor da igreja matriz Monumenta, pelo seu trabalho na empreitada ção, valorização ou divulgação do patrimó-
de São Lourenço – Alhos Vedros”, a primeira “Reabilitação estrutural e restauro da Igreja nio cultural português, imóvel ou móvel.
intervenção da empresa no distrito de Setúbal. da Misericórdia de Coruche”, propriedade da
Santa Casa da Misericórdia de Coruche. Mais informações:
A intervenção, adjudicada pela paróquia de https://gulbenkian.pt/noticias/premio-gulbenkian-
Alhos Vedros, deverá ficar concluída num prazo O Prémio Gulbenkian Património – Maria patrimonio-maria-tereza-e-vasco-vilalva-vai-para-o-
de 180 dias. Tereza e Vasco Vilalva foi criado em 2007 funchal/
12.15-13:40 Almoço
Grupo de trabalho
Energia e Património
APRUPP-GECoRPA
Jornadas ReSist com to técnico estruturado, suportado por estudos científicos, através
das redes sociais.
participação do GECoRPA Este grupo, que conta com onze membros, pertencentes a uma
ou a ambas as associações, abrange conhecimentos multidis-
I
ciplinares, em estreita interação com a academia, as empresas
e os profissionais envolvidos na reabilitação térmica (peritos e
nserida no programa das jornadas ReSist, decorreu a 11 de técnicos).
maio uma das sessões do ciclo expositivo “Encontros Professor Carlos
Sousa Oliveira”, subordinada ao tema geral, “Sistemas de monitorização Para levar a cabo a missão a que se propõe, o GTEP espera a
e reforço sísmico – a quantificação das perdas associadas ao patrimó- colaboração de todos em futuros questionários e iniciativas que
nio cultural”, e que teve a participação do engenheiro Alexandre Costa, visam a compatibilização da intervenção com a preservação do
da nossa empresa associada NCREP, e do arquitecto José Borges, da património edificado.
empresa associada CBC e membro da direção do GECoRPA.
O grupo definou como ações prioritárias a implementar a curto
As apresentações foram muito interessantes. A mesa redonda, no final, prazo: a preparação de questionários sobre a aplicação da
foi bastante animada, tendo-se debatido várias questões sensíveis dentro legislação, as suas implicações e os constrangimentos sentidos
do tema. e a preparação de conteúdos de comunicação.
CONCRETA’22
Conferência GECoRPA sobre inovação na reabilitação
Porque não é só por ter sido criado que este documento resolve os problemas relacionados com a con-
servação e reabilitação de património, o livro está disponível para consulta no centro de documenta-
ção GECoRPA. Este documento estratégico dá sólidas matrizes de orientação para ajudar na refle-
xão sobre o património construído e, sobretudo, propõe um conjunto de recomendações e prioridades
consideradas relevantes para os decisores que atuam na área da conservação e reabilitação do património edifica-
do, visando assim, a definição de uma coesa estratégia nacional para a reabilitação e conservação do património.
Assumir a importância da preservação do património e da nossa responsabilidade nessa defesa é uma tarefa cada
vez mais necessária e crucial, numa altura em que existem crescentes exigências de sustentabilidade ambiental,
social, cultural e económica e uma enorme pressão por parte dos setores imobiliário e do turismo.
Disponível para consulta no centro de documentação GECoRPA.
Porque não se pode fazer reabilitação sem prévia inspeção, o livro Inspecções e Ensaios na Reabilitação de
Edifícios, da IST Press, continua a ser um elemento quase de consulta obrigatória, sobretudo para arquitetos,
engenheiros, construtores e projetistas que intervenham na reabilitação de edifícios e estruturas. Esta obra de
referência, com informação organizada de modo simples e eficaz, afirma-se ainda hoje como uma ferramenta muito
útil e atualizada.
Disponível para consulta no centro de documentação GECoRPA.
Livraria
Reabilitação estrutural de edifícios entigos
Técnicas pouco intrusivas
Autor: Vítor Cóias
Edição: GECoRPA (2007)
Um livro feito a pensar nos engenheiros, arquitetos e outros profissionais do setor da construção envolvidos em in-
tervenções de reabilitação de edifícios antigos. O objetivo é pôr à sua disposição um conjunto de conhecimentos
destinados a facilitar a aquisição, a conceção, o projeto e a fiscalização dessas intervenções, particularmente das
que são ditadas por considerações estruturais. A ênfase incide numa abordagem pouco intrusiva, por forma a per-
mitir que as obras se façam com o mínimo de alteração do modelo construtivo e estrutural original, que, para além
da preservação da integridade e autenticidade dos edifícios, minimiza os impactos das obras no meio urbano e tam-
bém no ambiente. A edição disponibiliza também seis anexos que contêm um vasto conjunto de informação com-
plementar, tais como: glossário dos termos utilizados em reabilitação, exemplos de cálculos de verificação estru-
tural, cartas, declarações e outros textos relevantes para esta área, uma proposta de sistema de classificação das
empresas executantes das intervenções, condições técnicas especiais para os cadernos de encargos e fichas com
características dos materiais utilizados na reabilitação. Uma obra sempre atual!
Disponível para venda na livraria GECoRPA, com 20 % de desconto e oferta dos portes.
10 %
Livraria em www.gecorpa.pt Os associados
GECoRPA
O Centro de Documentação pode ser consultado mediante têm 10% desconto.
marcação prévia através do info@gecorpa.pt
58 | P&C 73 | Julho > Dezembro 2022
Agenda
10 a 11 de Novembro 2022
CRRB 2022 – International Conference 27 a 30 de Junho 2023
on Rehabilitation and Reconstruction Conferência internacional
of Buildings CEES 2023
Brno, República Checa Funchal, Madeira
O tema principal da conferência é a reabilitação Marque na agenda a apresentação do A conferência internacional CEES 2023
e reconstrução de edifícios. É dedicada espe- livro Manual de Manutenção em Edifi- (International Conference on Construc-
cialmente aos novos materiais e tecnologias de cações. Estudos, técnicas e aplicações tion, Energy, Environment and Sustai-
construção em engenharia civil, ao seu desenho, que conta com a participação da enge- nability) irá realizar-se entre 27 e 30 de
preparação e propriedades. Os materiais projeta- nheira Inês Flores-Colen, presidente do junho do próximo ano, no Funchal.
dos são determinantes para economia de consu- GECoRPA, na coordenação. A obra é
mo de energia, melhoria ambiental, preservação resultado da parceria técnica luso-brasi- Esta conferência reúne, para debate,
do património cultural, resultando daí o enfoque leira entre os coordenadores, a Fundec, investigadores, engenheiros, projetis-
dado a esta área na edição deste ano da CRRB. o Instituto Superior Técnico de Lisboa, tas, agentes da indústria e dos meios
o Instituto de Engenharia e o Instituto de decisão de diversos setores em torno
O local da conferência será em Brno, um centro Brasileiro de Educação Continuada, dos desafios relacionados com o desen-
administrativo e cultural da região da Morávia do que desde 2015 têm coordenado esfor- volvimento de materiais e tecnologias
Sul. É a segunda maior cidade da República Che- ços no desenvolvimento da Engenharia de construção inovadores, o estudo da
ca e está repleta de edifícios e pontos turísticos Diagnóstica, mantendo o foco nas inves- física das construções e do desempenho
históricos. tigações técnicas relacionadas com os energético, com a avaliação dos impac-
principais problemas das obras de enge- tos ambientais da atividade da constru-
nharia civil. ção e dos edifícios, bem como os novos
princípios da indústria 4.0, passando
Disponível em regime de pré-venda na ainda pelos aspetos sociais da habitação
livraria Espaço Livro, com 15% de des- e construção. Reserve já a data.
conto e oferta de portes até ao dia da
apresentação.
GRUPO II
ASSOCIADOS Levantamentos, inspeções e ensaios
COLETIVOS
ORDINÁRIOS CACAO Civil Engineering Lda.
Rodovias e ferrovias; estudo de viabilidade; estudo
prévio; projeto de execução; revisão de projeto;
coordenação de projeto; consultoria e assessoria
técnica; mobilidade e transportes.
GRUPO I
Projeto, fiscalização e consultoria Ferreira Lapa, Lda.
Reabilitação do património arquitetónico e construções
antigas; projeto, fiscalização e consultoria;
levantamentos, inspeções e ensaios.
Atelier in.vitro
Consultoria e projeto na área da arquitetura, com
particular enfoque na reabilitação do património edificado.
GRUPO III
Execução dos trabalhos.
Empreiteiros e Subempreiteiros
Cura – Projectos
Inspeções, auditorias, estudos, peritagens, projetos e
formação, no âmbito da engenharia e da arquitetura;
ensaios, testes e medições para apoio ao diagnóstico Pretensa – Equipamentos
de anomalias construtivas; controlo de qualidade, e Materiais de Pré-Esforço, Lda.
fiscalização e gestão de obras públicas ou privadas. Juntas de dilatação de edifícios, rodoviárias e ferroviárias;
pregagens Cintec; proteção sísmica; químicos para
construção; aparelhos de apoio; pré-esforço; reabilitação
de estruturas; proteção contra explosões; barreiras
acústicas; nanoparticulas para a construção.