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O Colóquio Internacional, Ciência nos Trópicos: olhares sobre o passado,

perspetivas de futuro, celebra a investigação científica nos Trópicos, a propósito da


fundação, em 1936, da Junta das Missões Geográficas e Investigações Coloniais
(JMGIC), um dos organismos antecessores do IICT – Instituto de Investigação
Científica Tropical.

O encontro ocorre a 5, 6 e 7 de janeiro de 2012, no Arquivo Histórico Ultramarino


(IICT), completando-se com uma visita guiada à exposição Viagens e Missões
Científicas nos Trópicos, 1883-2010.

Transcorridos 75 anos sobre a criação oficial da JMGIC (7 de janeiro de 1936) e


volvido um ano sobre a inauguração da exposição Viagens e Missões Científicas nos
Trópicos, 1883-2010, urge fazer um primeiro balanço geral sobre a historiografia
dedicada à ciência nos Trópicos, realçando a investigação para o desenvolvimento,
conduzida na atualidade.

Comutando experiências e saberes, esta reunião internacional permite destacar:

- o conhecimento reunido por investigadores do IICT sobre a matéria em análise;


- o impacte, junto do público, da exposição Viagens e Missões Científicas nos
Trópicos, 1883-2010;
- o crescente interesse académico pela ciência colonial e póscolonial;
- a atenção redobrada sobre a atual investigação científica nos Trópicos;
- o aprofundamento da colaboração científica com membros da CPLP;
- a urgência do incremento dos Objetivos do Desenvolvimento do Milénio.

O Colóquio cruza olhares diferenciados e complementares sobre ciência, política


científica e desenvolvimento sustentável, nos seus diferentes quadrantes de atuação,
anunciando novos caminhos de investigação e de cooperação institucional,
consubstanciados por visões específicas e vontades transversais.

O encontro firma ainda pontes entre as ciências humanas, sociais e naturais


produzidas nos Trópicos ao longo do século XX, destacando a extensão da importância
dos projetos em curso para as comunidades neles envolvidas, numa permanente
interação e partilha de conhecimento.

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Comissão Científica:

- Academia das Ciências de Lisboa: Jorge Braga de Macedo da Classe de Letras e Jean-
Pierre Contzen e Rui Malhó da Classe de Ciências
- Esperança Costa (Centro de Botânica da Universidade Agostinho Neto)
- Fátima Nunes (Centro de Estudos de História e Filosofia da Ciência)
- João Carlos Garcia (Faculdade de Letras da Universidade do Porto)
- José da Silva Horta (Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa)
- José Curto (York University, Canadá)
- Roquinaldo Ferreira (University of Virginia, EUA)
- Ana Cristina Martins (Instituto de Investigação Científica Tropical)
- Maria Cristina Duarte (Instituto de Investigação Científica Tropical)
- Maria Otília Carvalho (Instituto de Investigação Científica Tropical)
- Vítor Rodrigues (Instituto de Investigação Científica Tropical)

Comissão Organizadora:

- Ana Canas (Instituto de Investigação Científica Tropical)


- Ana Cristina Roque (Instituto de Investigação Científica Tropical)
- André Heraclio do Rego (CPLP / Université de Paris Ouest - CRILUS)
- Branca Moriés (Instituto de Investigação Científica Tropical)
- Luís Frederico Antunes (Instituto de Investigação Científica Tropical)
- Maria Manuel Torrão (Instituto de Investigação Científica Tropical)
- Teresa Albino (Instituto de Investigação Científica Tropical)

Secretariado:

- Ana Chin (Instituto de Investigação Científica Tropical)


- Ana Godinho (Instituto de Investigação Científica Tropical)
- António Portugal (Instituto de Investigação Científica Tropical)
- Carolina Bastos (Instituto de Investigação Científica Tropical)
- Filomena Rita (Instituto de Investigação Científica Tropical)
- Isabel Lacerda (Instituto de Investigação Científica Tropical)
- Laura Domingues (Instituto de Investigação Científica Tropical)
- Teresa Vilela (Instituto de Investigação Científica Tropical)
- Tiago Ribeiro (Instituto de Investigação Científica Tropical)

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Arquivo Histórico Ultramarino
Calçada da Boa-Hora, 30 Lisboa

5 janeiro

09h00 - Registo e entrega das pastas

09h30 – Sessão de abertura


- Jorge Braga de Macedo (ACL)
- Jean-Pierre Contzen (ACL)
- Rui Malhó (ACL)
- Secretário de Estado do Ministério dos Negócios Estrangeiros
- Secretária de Estado da Ciência
- Secretário Executivo da CPLP
- Secretário-geral do Conselho Empresarial da CPLP

11h00 – Coffee-break

Tema 1 - Os Trópicos na História da Ciência

11h15 - 1.ª Sessão - Coleções históricas e científicas: estratégias para o séc. XXI. I
Moderadores: Ana Cannas e Marta Lourenço

. Técnica e política: do Arquivo Histórico Colonial à informação para o


desenvolvimento
Ana Cannas e Maria da Conceição Casanova
. As doações régias nas coleções científicas da Universidade de Coimbra
Catarina Pires e Gilberto Pereira
. A atividade museológica do Instituto de Investigação Científica de Moçambique,
1959-1974
Luís Pequito Antunes
. Uma coleção “geo-mineralógica” de Timor
José Manuel Brandão

12h15 - Debate

12h40 - Lançamento das Atas do Colóquio Timor: Missões Científicas e Antropologia


Colonial, coordenadas por Ana Cristina Roque, Ricardo Roque e Vítor Rosado Marques

13h00 – Almoço

14h30 – 2.ª Sessão - Coleções históricas e científicas: estratégias para o séc. XXI. II
Moderadores: José Horta e Ana Martins

. O projeto cartAFRICA e a divulgação da Cartografia dos antigos territórios


portugueses em África
Sandra Fernandes e Francisco Palma Gomes
. O acervo Gago Coutinho no IICT: sua importância para a História da Ciência e
para a cooperação atual com a CPLP
Ana Cristina Roque, Maria Manuel Torrão e Paula Cristina Santos

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. The development of the Zimbabwe tradition in the Zambezi Valley,
Mozambique: c. 1400-1800: an archaeological perspective
Solange L. Macamo
. As pesquisas arqueológicas do Dungo, Sudoeste de Angola
Maria da Piedade de Jesus
. Nouvelles données sur la Préhistoire récente angolaise: le gisement de
Cabolombo à Benfica revisité
Nicolas Valdeyron e Sónia Domingos

15h45 – Debate

16h00 – Coffee-break

16h20 – 3.ª Sessão – Política e cultura científicas. I


Moderadores: André Heraclio do Rego e José Mendes Ferrão

. (E)coando a Claridade. Cultura, Ciência e Colonialismo


Sérgio Neto
. A Junta das Missões Geográficas e de Investigações Coloniais e a política
científica nas colónias
Tiago Brandão
. Etnohistória e colonização portuguesa: revisitando a historiografia colonial de
Moçambique
Manuel Lobato
. A produção historiográfica colonial no Boletim Cultural da Guiné Portuguesa
(1945-73)
Maria João Soares
. ‘Official Cartography’ and ‘Litigant Cartography’ in the Tropics:
reinterpreting the Molucas’ dispute
Antonio Sánchez Martínez
. António de Almeida (1900-1984): entre a conceção de hierarquização das raças
e a abordagem biocultural na obra antropológica realizada nos Trópicos
Vitor Luís Gaspar Rodrigues e Luís Frederico Dias Antunes
. Mulheres cientistas e os Trópicos: uma visão preliminar
Ana Cristina Martins

17h20 – Debate intercalar

17h35 – Política e cultura Científicas. I (cont.)

18h20 – Debate

18h40 – Lançamento do livro Ética, Crise e Sociedade, coordenado por Michel Renaud e
Gonçalo Marcelo, apresentado por Jean-Pierre Contzen

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6 janeiro

09h30 – 4.ª Sessão – Política e cultura científicas. II


Moderadores: Fátima Nunes e Vítor Rosado Marques

. Stars, storms and land: astronomy, meteorology and observatories in the


Portuguese colonial enterprise
Pedro M. P. Raposo
. Os edifícios do Instituto de Medicina Tropical e de Investigação Médica de
Angola: reflexos da metodologia da investigação em Medicina Tropical na década
de cinquenta
Mariana de Oliveira Couto
. Intervenção médica nas populações coloniais e póscoloniais: continuidade,
mudança e a soberania política nacional
Ricardo Pereira
. Medicina e dieta no início do século XIX: a alimentação dos doentes no Real
Hospital da Ilha de Moçambique
Eugénia Rodrigues e Anita Correia Lima de Almeida
. De-centering Colonial Science: the Angolan Health Service in the Interwar
Period
Samuël Coghe
. Transferindo conhecimento e ideologia: arquitetos portugueses nos Trópicos
Madalena Cunha Matos e Tânia Beisl Ramos
. A JMGIC e a investigação do património arquitetónico português ultramarino –
o caso da viagem de Mário Chicó à Índia Portuguesa
Vera Félix Mariz

11h15 - Debate

11h35 – Coffee break

Tema 2 - Ciência para o Desenvolvimento Global

11h50 - 1.ª Sessão - Saberes tradicionais e governação local


Moderadores: Jean-Pierre Contzen e Maria das Graças Lins Brandão

. A escrita missionária como narrativa etnográfica – em torno da literatura


missionária sobre o Kongo e a região mbundu (XV-XVIII)
Carlos Almeida
. Las primeras exploraciones científicas de Guinea Ecuatorial
Enrique Gozalbes Cravioto
. A viagem do botânico Júlio Henriques à Ilha de São Tomé (1903)
Natacha Catarina Perpétuo, M. Teresa Gonçalves, Jorge Pais de Sousa e António
Carmo Gouveia
. Natural history of useful plants from America: rediscovering the medicinal
plants of Brazil
Maria das Graças Lins Brandão

12h50 – Debate

13h10 – Almoço

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14h30 - 2.ª Sessão – Desenvolvimento, crescimento económico e internacionalização
Moderadores: Jorge Braga de Macedo e Ana Morgado

. Cem anos do «Ensino Agronómico Colonial». Sua contribuição no ensino e na


investigação agrária tropicais. Que futuro?
José E. Mendes Ferrão
. Colaboração interinstitucional para promoção da biotecnologia em
Moçambique
Ana Ribeiro, Luís F. Goulão, Ana M.P. Melo, Isabel Palos e José C. Ramalho
. Os trabalhos das Missões Geodésicas, sua contribuição para o desenvolvimento
económico, científico e tecnológico dos respetivos países
Paula Cristina Santos
.Le rôle du gouvernement dans l’économie sociale et ses politiques de
coopération internationale pour le développement régional
Abdou Sané e Luiz Alfredo Silveira

15h30 – Debate

15h50/18h30 – Apresentação de posters (sessão paralela)

15h50 – Coffee break

16h10 – 3.ª Sessão - A Biodiversidade e sustentabilidade ambiental. I


Moderadores: Esperança Costa e Luís Mendes

. Estrutura e composição da vegetação lenhosa da barra do Rio Cuanza, Angola


Esperança Costa e Luís Catarino
. Flora e vegetação da Guiné-Bissau – perspetiva histórica, presente e futuro da
contribuição do JBT/IICT
Luís Catarino, Maria Adélia Diniz e Eurico S. Martins
. Itinerários e contributos da Missão Botânica de Moçambique para o
conhecimento da vegetação
Rui Figueira, Susana Saraiva, Patrícia Conde, Eurico S. Martins, Maria Romeiras e
Maria Cristina Duarte
. Effects of society changes in the distribution of Mozambique terrestrial
vertebrate’s species
Isabel Queirós Neves e Cristiane Bastos-Silveira
. Seriação de metodologias destinadas à produção de farinha de trigo
biofortificada em Fe e Zn para populações carenciadas de países em vias de
desenvolvimento
Fernando C. Lidon, António E. Leitão, Luis F. Goulão, Ana Ribeiro e José C.
Ramalho
. Carta Geológica da Guiné-Bissau: de 1982 a 2011
Paulo H. Alves e Vera Figueiredo
. Desde os estudos geológicos e as concessões portuguesas de exploração de
minério em Goa nos anos 50 até à atualidade: uma escolha difícil entre uma
pretensa espinha dorsal económica e a espinha dorsal real de ecossistema
regional
Teotónio R. de Souza

17h10 – Debate intercalar

17h25 - A Biodiversidade e sustentabilidade ambiental. I (cont.)

18h10 – Debate

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7 janeiro

10h00 – 4.ª Sessão - Saber Tropical na era das ómicas


Moderadores: Rui Malhó e Maria do Céu Silva

. Forest for the future: the IICT genomic contribuition


Jorge A. Pinto Paiva
. Better legumes and pastures for drought prone regions
Susana Sousa Araújo
. A project devoted to international cooperation with more than half a century:
the creation of Centro de Investigação das Ferrugens do Cafeeiro (CIFC) in
Portugal
Vítor Várzea, Pedro Talhinhas, Ana P. Pereira, Leonor Guerra-Guimarães, Helena
Gil Azinheira, Andreia Loureiro, Dora Batista e Maria do Céu Silva

10h45 - Debate

11h00 – Coffee-break

11h15 - Mesa redonda – Projectos e testemunhos


Jean-Pierre Contzen, Jorge Braga de Macedo e Rui Malhó

12h15 - Encerramento e conclusão dos trabalhos

13h00 – Almoço livre

14h30 - Visita à exposição Viagens e missões científicas nos Trópicos. 1883-2010


Responsável: Jorge Braga de Macedo

16h00 – Lanche com pastéis de Belém

Instituto de Investigação Científica Tropical


E-mail: orgcongresso2012iict@gmail.com

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Comunicações orais

5 de janeiro
Tema 1 – Os Trópicos na História da Ciência
1ª Sessão – Coleções históricas e científicas: estratégias para o século XXI. I
Moderadores: Ana Cannas e Marta Lourenço

Técnica e política: do Arquivo Histórico Colonial à informação para o


desenvolvimento

Ana Cannas1 e Maria da Conceição Casanova2


1. Arquivo Histórico Ultramarino, Instituto de Investigação Científica Tropical
2. K - Centro de Atividades de Preservação e Acesso, Instituto de Investigação Científica Tropical

Reconstituem-se aspetos das políticas arquivísticas e de conservação em Portugal, dos anos 20


do séc. XX à atualidade, considerando em particular a trajetória do AHU e do seu acervo, bem
como a de outro património documental do IICT e caracterizando as suas diferentes fases.
Desenham-se perfis de responsáveis e profissionais ligados à gestão, preservação e tratamento
dos arquivos coloniais com variável pendor erudito, político e técnico-científico. Abordam-se as
respetivas decisões e práticas procurando contextualizá-las na situação portuguesa, sem deixar
de ter em conta dinâmicas externas, numa ótica centralizadora de noção de património cultural.
Finalmente, compara-se com a realidade de hoje, decorrente de uma noção mais alargada de
património difundida pelas organizações internacionais, as quais entendem a salvaguarda do
património como meio essencial ao desenvolvimento sustentável e o acesso ao património
arquivístico comum, no caso pelos países da CPLP, como uma necessidade, tendo em conta o
interesse das comunidades usufrutuárias, por quem esse património é valorado. A constituição
do Arquivo Científico Tropical e de projetos interdisciplinares de investigação, tratamento e
acesso à documentação do AHU, datada predominantemente do séc. XX, encontraram aí a sua
inspiração. Torna-se oportuno reavaliá-los, não só técnica e cientificamente, mas também em
função dos interesses estratégicos e das condições atuais do país.

As doações régias nas coleções científicas da Universidade de Coimbra

Catarina Pires1 e Gilberto Pereira2


1. Doutoranda em História e Museologia da Universidade de Coimbra
2. Museu da Ciência da Universidade de Coimbra

As coleções de História Natural da Universidade de Coimbra oriundas dos Trópicos resultam,


em parte, de práticas de incentivo do poder régio.
Ilustrativas da ligação do ensino ao poder central, são desde logo as coleções fundadoras da
Faculdade de Filosofia, reunidas no Jardim Botânico do Real Palácio da Ajuda por Domingos
Vandelli, desde finais da década de 1760, ou aquelas resultantes da bem conhecida viagem
filosófica de Alexandre Rodrigues Ferreira ao Brasil, enviadas para Coimbra em 1806.
Nesta proposta teremos como principal objetivo apresentar uma análise sobre a contribuição das
doações régias para a constituição das coleções científicas da Universidade de Coimbra.

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A atividade museológica do Instituto de Investigação Científica de Moçambique,
1959-1974

Luís Pequito Antunes


Doutorando do Centro de Estudos de História e Filosofia da Ciência da Universidade de Évora

O estudo agora apresentado examina, a partir de documentação, legislação e relatórios da Junta


de Investigações do Ultramar e Fundação Calouste Gulbenkian, a missão museológica do
Instituto de Investigação Científica de Moçambique (IICM) entre 1959 e 1974, período em que
tutelou o Museu de História Natural Dr. Álvaro de Castro (Lourenço Marques, Moçambique).
Criado na segunda metade dos anos cinquenta do século XX, no âmbito da reorganização dos
serviços públicos de investigação científica ligados ao ultramar, tinha como objetivo contribuir
para o desenvolvimento da ciência e fomentar a cultura das populações moçambicanas, então
sob domínio colonial. Para além das atividades desenvolvidas em matéria de investigação
científica colonial (agricultura e saúde) o IICM acabou por incorporar na sua estrutura o Museu
Dr. Álvaro de Castro, até à data na dependência do Serviço de Instrução Pública de
Moçambique. Tratava-se de uma situação não prevista inicialmente à qual o IICM teve que dar
resposta. Analisa-se, assim, o modo como o museu orientou as suas ações no sentido de cumprir
os objetivos traçados pela nova tutela e o seu desempenho científico e técnico enquanto “museu
de história natural”, com particular destaque para a zoologia, cuja perceção pública foi facilitada
por uma narrativa centrada num discurso expositivo atualizado capaz de atrair, em média,
100.000 visitantes/ano e pela participação numa rede internacional de circulação do saber com a
África do Sul e a Europa a propósito, p.e., da entomologia.

Uma coleção “geo-mineralógica” de Timor

José Manuel Brandão


Centro de Estudos de História e Filosofia da Ciência, Universidade de Évora

O acervo colonial do então designado “Museu e Laboratório Mineralógico e Geológico”, anexo


à Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, contava com uma pequena representação
da longínqua província de Timor, constituída por amostras recolhidas entre 1914 e 1915 em
diversos pontos da metade portuguesa da ilha, pelo coronel de Engenharia Heitor Mascarenhas
Inglês (1888-1973), e outras oferecidas pelo agrónomo Ruy Cinatti (1915-1986) no final dos
anos quarenta.
Estas coleções “geo-mineralógicas” foram dispostas na “Sala do Império Colonial Português”,
criada no final dos anos trinta pelo então diretor do museu Alfredo A. Machado e Costa, com a
colaboração do naturalista António Sousa Torres (1876-1958). Constituíram, durante anos, a
única representação da geologia timorense em solo metropolitano.
No âmbito da sua habitual cooperação com a Junta das Missões Geográficas do Ultramar, Sousa
Torres, em colaboração com o seu colega e amigo José Pires Soares, promoveram o estudo
dessa amostragem, ensaiando um bosquejo genérico sobre a geologia de Timor apresentado à
18.a Sessão do Congresso Geológico Internacional reunido em Londres, em 1948.
Nos anos seguintes, enquanto investigador da Junta, Sousa Torres receberia ainda, através da
administração da antiga colónia portuguesa, novas remessas de amostras cujo estudo, porém, já
não chegou a concluir, mantendo-se estas ainda praticamente inéditas.
Na presente nota passam-se em revista estas coleções, bem como alguma documentação reunida
por Sousa Torres e utilizada na preparação da nota apresentada ao referido Congresso, doada
pela família ao Museu Nacional.

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Tema 1 – Os Trópicos na História da Ciência
2ª Sessão – Coleções históricas e científicas: estratégias para o século XXI. II
Moderadores: José Horta e Ana Martins

O projeto cartAFRICA e a divulgação da Cartografia dos antigos territórios


portugueses em África

Sandra Fernandes1 e Francisco Palma Gomes2


1. Centro de Estudos Geográficos do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território,
Universidade de Lisboa
2. Instituto Geográfico do Exército

O projeto cartAFRICA, que resulta de um contrato de parceria assinado em 2011 pelo Instituto
Geográfico do Exército (IGeoE) e pelo Centro de Estudos Geográficos (CEG) do Instituto de
Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de Lisboa (IGOT-UL), tem como
objetivo principal o estudo, o tratamento documental e a disponibilização, numa primeira fase,
das cartas topográficas dos antigos territórios portugueses em África. O projeto mostra a
importância da cooperação entre instituições, com diferentes missões e valências, na
concretização de objetivos comuns, estando ambos apostados na crescente qualidade da
informação prestada aos utilizadores e na divulgação e preservação do património cartográfico
que detêm ou produzem.
Com base no balanço das questões que foram surgindo no começo do projeto, umas
relacionadas com as características dos documentos ou com o modo como hoje se conseguem
reconstituir os trabalhos que lhes deram origem, outras com o contexto histórico em que foram
produzidos ou com o papel desempenhado pelos organismos cartográficos nacionais e também
pelos das colónias, discute-se a importância do estudo e organização das coleções como pilar do
rigor no tratamento documental e garante da qualidade da informação disponibilizada. Defende-
se ainda a divulgação de bases de dados bibliográficos e de autoridade alicerçadas na
investigação para que deixem de ser meros escaparates informacionais e assumam novas
funcionalidades que lhes confiram o reconhecimento como verdadeiras fontes de informação.
Traça-se finalmente um esboço dos desafios colocados às duas instituições para contribuir para
o conhecimento da importância da Cartografia num período marcante da nossa história recente.

O acervo Gago Coutinho no IICT: sua importância para a História da Ciência e


para a cooperação atual com a CPLP

Ana Cristina Roque1, Maria Manuel Torrão1 e Paula Cristina Santos2


1. Departamento de Ciências Humanas – Programa de Desenvolvimento Global e Centro de História,
Instituto de Investigação Científica Tropical
2. Departamento de Ciências Naturais, Centro de Geo-Informação para o Desenvolvimento, Instituto de
Investigação Científica Tropical

Procurando responder a dois dos reptos lançados por este Colóquio – a atenção redobrada sobre
a atual investigação científica nos Trópicos e o aprofundamento da colaboração científica com
os membros da CPLP – esta comunicação pretende salientar a atividade de Gago Coutinho,
primeiro presidente da JMGIC. Tendo como base a grande riqueza do património documental,
cartográfico, fotográfico e instrumental existente no IICT, pretende-se refletir sobre a ação desta
importante figura da História da Ciência em Portugal e sobre as repercussões que os seus
trabalhos tiveram não só na época, como atualmente ao nível de vários países membros da
CPLP.
Na sequência de trabalhos já desenvolvidos pelas autoras desta comunicação sobre a ação de
Gago Coutinho na Comissão de Cartografia, tenciona-se, agora, sublinhar a sua atuação como

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Homem da Ciência, projetando os seus resultados para uma época cronológica mais recente,
embora sempre com as necessárias remissões a atividades desenvolvidas por Gago Coutinho
desde o início da sua carreira de cientista.
No seu gabinete do Terreiro do Paço, após o seu último trabalho de campo (levantamento
geodésico da Ilha de S. Tomé, 1917-1919), a partir de 1936, Gago Coutinho, assumiu uma nova
faceta da sua vida profissional enquanto “geógrafo de gabinete”. A sua experiência no terreno,
conhecimento científico e intervenção estratégica foram fundamentais para a formação,
evolução e destino da JMGIC constituindo um legado que importa evidenciar no estudo da
investigação cientifica nos e com os Trópicos.

The development of the Zimbabwe tradition in the Zambezi Valley, Mozambique:


c. 1400-1800: An archaeological perspective

Solange L. Macamo
Department of Archaeology and Anthropology, Eduardo Mondlane University, Maputo

This paper aims to provide an introduction to the Zimbabwe Tradition as it is known in


Mozambique. In particular, the role exercised by the Zambezi Valley for the later developments
of the Zimbabwe Tradition in Mozambique is deal with, from which have derived also cultural
interactions. I have chosen to discuss the concept of the Zimbabwe Tradition, as it can provide a
point of departure for the understanding of its relevance in Mozambique and help to
contextualize the known stone wall sites, or Madzimbabwe, as they are known in the Republic
of Zimbabwe. It is further suggested the use of the concept of privileged places, to define the
human ability to display natural resources, as exemplified by the stone enclosures of the
Zimbabwe Tradition in Mozambique. Most of the Zimbabwe Stone enclosures are preferable
located near major river courses, as is the case of Songo in the Zambezi Valley or Niamara in
the Highlands of Manica.
Manyikeni is relatively near the Indian Ocean and stands as the best example of the most
studied stone enclosure of Mozambique. However, it is not clear why it was found in isolation.
All we know is that Manyikeni was a probable connecting point between the coast and the
hinterland for coastal trade.
As the chronology indicates the Zambezi valley is the region where the Zimbabwe Tradition has
developed, in Mozambique, between ca 1400-1800. However, the Zimbabwe Tradition is not
restricted to stone buildings as commoners lived in sites without such obvious indicators of
prestige. The variation of prestige buildings with or without stones was found, particularly, in
the Zambezi Valley, forming the cultural history of the country. This is analysed in this paper,
using a variety of archaeological evidence combined with the environmental characterization of
the Zimbabwe Tradition, focused on the Zambezi Valley.

As pesquisas arqueológicas do Dungo, Sudoeste de Angola

Maria da Piedade de Jesus


Museu Nacional de Arqueologia, Benguela - Ministério da Cultura de Angola

Embora a existência de peças líticas pré-históricas em Angola tenha sido mencionada desde o
fim do século XIX, a Arqueologia Angolana é muito pouco conhecida, quer por falta de mais
publicações quer por falta de uma divulgação mais ampla.
Entretanto, o Museu Nacional de Arqueologia de Benguela, a única estrutura arqueológica do
país, tem desenvolvido trabalho de pesquisa desde a sua criação em 1976. Embora inicialmente
os trabalhos de campo se tenham resumido a prospeções e algumas sondagens, com a
colaboração da Universidade de Paris 1 nos princípios dos anos 90, fez-se a introdução de novos

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métodos, passando a se desenvolver escavações com métodos modernos, onde a cronologia e a
atribuição cultural dos vestígios arqueológicos são o resultado.
Assim, o conjunto de conhecimentos e reflexões associados aos métodos modernos aplicados às
escavações feitas nesta região do Dungo (a Sul da Baia-Farta, província de Benguela) a
observação minuciosa dos vestígios arqueológicos dentro do seu contexto ou ainda a pluralidade
de estudos e análise permitiram pôr em evidência a existência de sítios estratégicos que mostram
a longa ocupação desta parte do país.
Esta indústria lítica do Dungo figura entre as mais antigas conhecidas hoje em Angola. O estudo
cronológico foi obtido através do novo método baseado na idade de enterramento das peças
líticas. Este método permitiu determinar que os líticos de Dungo VI foram enterrados durante
um longo período datado entre 1 e 2 Milhões de anos.

Nouvelles données sur la Préhistoire récente angolaise: le gisement de Cabolombo


à Benfica revisité

Nicolas Valdeyron1 e Sónia Domingos2


1. Université Toulouse-Lé Mirail
2. Université Agostinho Neto

Le choix de ce thème ce relacionne avec l’intérêt que j’ai pour les périodes LSA et l’Age du fer,
l’expansion Bantu et la production céramique. Ma préoccupation fondamentale, qui oriente les
parties du travail et qui donne un focus spécifique au thème, n'est pas seulement de faire l'étude
de la typologie céramique des sites archéologiques du littoral au Sud de Luanda, mais aussi à
partir de cet étude, établir un tableau chronologique pour la céramique préhistorique de la région
de Luanda, pour tracer des lignes maîtres pour un futur travail de recherche. Celui-ci essaye de
savoir quelles étaient les communautés qui ont produit ces séries céramiques, quel était l'impact
de la production céramique sur leur économie, afin de comprendre une série de questions liées à
ces communautés et, en particulier, d’apprécier le rôle exact des populations de tradition Bantu
dans la diffusion et/ou l’adoption de cette production céramique. J’aimerais dégager une identité
culturelle à partir des caractéristiques morphologiques et décoratives des tessons
archéologiques. Cette étude sera importante dans la mesure où elle contribuera à dynamiser la
recherche et donc à augmenter la connaissance de la préhistoire angolaise: en attendant de
disposer de suffisamment d’éléments pour pouvoir aborder ce genre de problématique.

Tema 1 – Os Trópicos na História da Ciência


3ª Sessão – Política e cultura científicas. I
Moderadores: André Heraclio do Rego e José Mendes Ferrão

(E)coando a Claridade. Cultura, Ciência e Colonialismo

Sérgio Neto
Doutorando em Altos Estudos Contemporâneos, Universidade de Coimbra

A produção literária cabo-verdiana da contemporaneidade, assim como alguns dos primeiros


ensaios no âmbito das ciências sociais, conheceu na revista Claridade (1936-1960) um campo
fértil. Influenciados por autores portugueses e estrangeiros, mas sobretudo pelo sociólogo
brasileiro Gilberto Freyre, os cultores daquela revista procuraram examinar a vida local com
recurso a modelos explicativos oriundos das ciências sociais, que punham a tónica na
revalorização da africanidade e da mestiçagem. Nesse sentido, se as recolhas de poemas,
histórias populares e elementos do cancioneiro insular estiveram em estreito diálogo com a
antropologia, a sociologia e a etnografia, é inegável que a investigação em torno destes
elementos andou de mãos dadas com inquietações de natureza identitária.

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Partindo destes pressupostos, pretende-se analisar o contributo dos autores de Claridade, a sua
relação mais ou menos empírica com as ciências sociais, sem esquecer as implicações da teoria
luso-tropical de Gilberto Freyre, em Cabo Verde e em Portugal.

A Junta das Missões Geográficas e de Investigações Coloniais e a política científica


nas colónias

Tiago Brandão
Doutorando do Instituto de História Contemporânea da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas

Até há cinquenta anos, a história da ciência e a história do colonialismo viviam em esferas


diferentes. A sua relação era incontestável, mas os respetivos tópicos de estudo encontravam-se
funcionalmente isolados. Porém, a partir da década de 1960, com o princípio da era do “fim do
império” e a progressiva descolonização, emergiu um interesse pelo estudo da ciência e
tecnologia como instrumento de desenvolvimento póscolonial. Igualmente, emergiu uma
corrente de estudos que se interessou pelos métodos que as potências coloniais europeias,
através de séculos, usaram para cultivar e empregar a ciência, tendo em vista vantagens
económicas e políticas de controlo (MACLEOD, 2001).
No quadro nacional, a abordagem da história da ciência no âmbito do Império e das colónias
não revela nem a maturidade nem a sofisticação interpretativa do panorama internacional,
nomeadamente no que se refere aos casos das colónias britânicas e francesas.
Existe, contudo, um ou outro estudo de referência, mormente sobre as instituições que se
criaram durante o período que decorreu entre a Conferência de Berlim e o fim do Império
português. Existem de facto alguns estudos sobre instituições como a Sociedade de Geografia
de Lisboa (1875) e as comissões de cartografia (1876, 1880, 1883), mais estudadas (SGL, 1950;
MENDES, 1982; GUIMARÃES, 1984; SILVA, 1997; VERÍSSIMO, 1999), mas também
alguns estudos que carreiam quantidade assinalável de informação à história ainda pouco
conhecida da Junta das Missões Geográficas e de Investigações Coloniais – JMGIC (IICT,
1983; CASTELO, 1999), criada em 1936 (no âmbito da reorganização do Ministério das
Colónias, pelo Decreto-Lei 26 180) e amplamente reorganizada em 1945 (Decreto-Lei 35 395).
Afigura-se que depois de uma fase inicial em que a empresa científica é uma extensão da
exploração geográfica, que incluía mesmo a inventariação dos recursos naturais, as décadas de
50 e 60 apontam para uma intensificação e expansão dos trabalhos da JMGIC. Indícios apontam
para que nesta “segunda fase de expansão” da chamada “ciência colonial” ter-se-á atingido um
mais alto nível de atividade científica, devido ao maior envolvimento, tanto de cientistas como
do poder político na empresa científica colonial. Durante o início da segunda fase, a história
natural continua a motivar grande interesse científico, mas torna-se evidente que a ciência
colonial aumenta os estudos científicos, aumentando-se os trabalhos e as áreas de estudo. É
também o momento em que os investigadores se fixam localmente, mais ou menos dependentes
da metrópole, pelo menos a partir de 1955, altura em que são criados os Institutos de
Investigação Científica e de Investigação Médica de Luanda e Lourenço Marques (Decreto n.º
40 078).
Parece evidente, pois, a emergência da ideia de uma política científica ao serviço da valorização
das colónias, e que assume determinadas características. É este aspeto que procuraremos seguir
para a comunicação que proponho, a partir da história da Junta das Missões Geográficas e de
Investigações Coloniais (1936-1974).

15
Etnohistória e colonização portuguesa: revisitando a historiografia colonial de
Moçambique

Manuel Lobato
Centro de História, Departamento de Ciências Humanas, Instituto de Investigação Científica Tropical

À distância de quase quatro décadas sobre o fim do império africano português, continua a
verificar-se uma escassez de estudos sobre o conjunto da historiografia portuguesa produzida
durante a época colonial. No caso de Moçambique, verifica-se que, apesar da valorização das
diferenças étnicas no discurso emitido pelas autoridades coloniais e da abundância de fontes
literárias e arquivísticas, pouco foi feito no campo da etnohistória dos povos de Moçambique
durante aquele período. O destaque concedido às formações políticas mais relevantes, como o
chamado «império» do Monomotapa, acabaria por convenientemente não ir além do enfoque na
presença portuguesa numa região cujo centro político, embora situado fora do território
moçambicano, tinha sido alvo de reivindicação portuguesa até ao Ultimato de 1890.
Entre esta data e o advento do Estado Novo, a historiografia colonial pouco foi além de um
panegírico aos «heróis» das campanhas de ocupação e às figuras ligadas às primeiras
realizações da «instalação colonial». Descaracterizadas sob a forma de régulos vencidos, as
formações políticas africanas cederam lugar ao fundo indiferenciado dos «indígenas», no qual
se diluíram retrospetivamente as suas personalidades histórico-sociais, reconvertidas
cientificamente em «primitivos», objeto de estudo da antropologia. Significativamente, aos
antropólogos se deve o início do resgate da memória histórica desses povos e o reconhecimento
da existência de uma «história pré-colonial de Moçambique», em cujo primeiro esboço os
colonizadores se tornam atores de segundo plano. Alguns autores, escolas e instituições, como a
Junta de Investigações do Ultramar, que produziram estudos e documentos nas áreas da
etnohistória e da história colonial de Moçambique, em maior ou menor articulação com os
discursos oficiais, são assim revisitadas e postas em perspetiva, por comparação com o trabalho
entretanto iniciado nos meios académicos anglo-saxónicos desde finais dos anos 50.
Cabe ainda assinalar que a própria historiografia colonial produzida durante o Estado Novo não
esteve, evidentemente, isenta de clivagens internas. Estas correspondem, em parte, à dificuldade
em ajustar critérios de exigência e de rigor científico à mensagem oficial de uma suposta
vocação imperial propensa a esbater as particularidades históricas, não sendo também alheia a
uma diferença de perspetiva dos colonos europeus relativamente à visão dominante emanada da
metrópole.

A produção historiográfica colonial no Boletim Cultural da Guiné Portuguesa


(1945-73)

Maria João Soares


Centro de História, Departamento de Ciências Humanas, Instituto de Investigação Científica Tropical

A Junta das Missões Geográficas e Investigações Coloniais, criada em 1936 no âmbito da


reforma do Ministério das Colónias, mas que só iniciaria a sua atividade em 1940, visava
alargar a ciência colonial a novos domínios a fim de recuperar o atraso português relativamente
a outras potências coloniais europeias. Passaria, assim, a contemplar no seu espetro novas
«missões científicas» no âmbito das ciências sociais e humanas, especialmente nos campos da
antropologia e etnografia, para o que incorporou nos seus quadros especialistas do terreno e
académicos.
Porém, em 1945, com a aproximação do ciclo de comemorações dos «cinco séculos do império
português», a Junta sofreria uma primeira remodelação pela qual, a par da criação das missões
antropológicas e etnológicas e, no ano seguinte, do Centro de Estudos de Cartografia e
Geografia Colonial, foram também criados núcleos de investigação nas colónias –
nomeadamente o Centro de Estudos da Guiné Portuguesa.

16
No caso da «Guiné portuguesa», esta reforma científico-institucional traduziu-se na
intensificação dos trabalhos de campo relativos às estruturas tradicionais e etnográficas locais.
Sobressaíram neste domínio os trabalhos elaborados por A. Teixeira da Mota, António Carreira,
Fernando Rogado Quintino, Manuel Belchior e José Mendes Moreira, entre outros. Daqui
resultou a base do conhecimento científico do século XX sobre aquela colónia portuguesa,
constituindo-se muitos desses estudos em obras de referência.
Do contato direto com a realidade no terreno emergiu a necessidade de melhor conhecer a
história da Guiné do ponto de vista político, social e económico, sendo dada particular ênfase à
pesquisa de documentação arquivística. Para a divulgação da produção científica do CEGP
surgiu, no mesmo ano, pela mão do governador Sarmento Rodrigues, o Boletim Cultural da
Guiné Portuguesa, «órgão de informação e cultura da colónia», que publicaria 111 volumes
entre 1946 e 1973, bem como um conjunto de monografias etnográficas e de estudos da história
da expansão e de literatura de viagens. O Boletim seria considerado por vários especialistas,
entre os quais René Pélissier, como a melhor publicação periódica científica das colónias
portuguesas, tal como o CEGP foi reconhecido como instituição científica colonial de
excelência, resultando num ciclo de saber que ficaria conhecido como a «geração do boletim
cultural».
Neste estudo pretende-se destacar os objetivos e o quadro concetual que pautaram o labor dos
seus autores, bem como cotejar as temáticas veiculadas no BCGP com alguns exemplos de
historiografias congéneres da área da Senegâmbia.

‘Official Cartography’ and ‘Litigant Cartography’ in the Tropics: reinterpreting


the Molucas’ dispute

Antonio Sánchez Martínez


Centro Inter Universitário de História das Ciências e da Tecnologia, Universidade de Lisboa

The purpose of this paper has a dual function. On the one hand, I want to emphasize how the
State, on the basis of territorial sovereignty, ordered mapping as a hegemonic tool of political
power during the reigns of the Catholic Monarchs and Charles V in Spain, and John II, Manuel I
and John III in Portugal. After the great ocean voyages of the fifteenth century and the new
geographical discoveries, both the modern state as Spanish and Portuguese had glimpsed the
importance of creating an "official cartography" for the maintenance of their overseas empires, a
science to work only for the state's interests. In short, the new hegemonic powers discovered the
need to establish what we might call the institutionalization of the art of making maps. A well
known example was the establishment in 1503 of the House of Trade in Seville by Ferdinand
and Isabella.
On the other hand, as a result of continuous feedback between the state and cartography,
geography in general and maps in particular observed in the expansionist policies of the
European empires a mine of opportunities for upward discipline was about to build a world ever
more in line with reality. The case of the exploitation rights in the Moluccas is a prime example
to analyze the inexorable symbiosis between science and power, modern state and mapping. The
problem of the demarcation line drawn from the Alexandrine Bulls of 1493 and, therefore, the
Treaty of Tordesillas, which was held the following year, predicted a long-running dispute
which was more at stake than the exotic eastern islands. The geographical distribution of the
world took more years and disadvantages expected. From its origins it was also a mapping
issue. Maps either side exerted an influence not only necessary but also essential. If the official
cartography hosted by the State worked with it to establish its territorial domains, would be the
'legal cartography', as we called François Dainville in a 1970 article, which attempted, through
the evidence, resolve disputes as of the Moluccas. Such was the case of the map made in 1529
by Diego Ribero for Charles V and materialized in the Treaty of Zaragoza in the same year. It
put an end to a series of boards (Juntas), such as the Badajoz-Elvas in 1524, aimed at the
scientific resolution of the problem by expert committees of both monarchies, in most cases

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experienced cosmographers. Never before has the power of the image had been so decisive in
resolving a scientific-diplomatic dispute.

António de Almeida (1900-1984): entre a conceção de hierarquização das raçase a


abordagem biocultural na obra antropológica realizada nos trópicos

Vitor Luís Gaspar Rodrigues e Luís Frederico Dias Antunes


Centro de História, Departamento de Ciências Humanas, Instituto de Investigação Científica Tropical

É sabido que a obra do professor António de Almeida, bem como a de outros antropólogos da
primeira metade do século passado, foi realizada à luz das teorias, conceitos e metodologias,
que à época ainda eram prosseguidas pela Antropologia, ou seja, de acordo sobretudo com as
teorias do determinismo biológico e em harmonia com as técnicas e metodologias que tomavam
a medida e as características do crânio com o objetivo de classificar e hierarquizar os seres
humanos segundo a raça, índole, caráter, inteligência, etc, teorias que se encontravam
historicamente associadas à ideia de superioridade do homem branco ocidental. No entanto, a
perspetiva antropobiológica na obra de António de Almeida não anulou a vertente cultural que
incutiu nas suas missões científicas nos trópicos e nos seus trabalhos de investigação,
nomeadamente, a forma como conseguiu perfilhar a perspetiva de que o homem tem que ser
estudado no contexto da complexidade antropológica, tendo em atenção não só a intervenção do
ecossistema, mas, também, o papel do código e do comportamento genético, da cultura
individual e coletiva. A comunicação que nos propomos apresentar preocupa-se, sobretudo, com
os aspetos relacionados com a antropologia cultural na obra de António de Almeida.

Mulheres cientistas e os Trópicos: uma visão preliminar

Ana Cristina Martins


K - Centro de Atividades de Preservação e Acesso, Instituto de Investigação Científica Tropical

O contributo das mulheres para o progresso da ciência em Portugal é tema ainda recente na
historiografia portuguesa. Não obstante, tem evidenciado a relevância de alguns nomes para o
entendimento holístico da sociedade, da cultura e das mentalidades, da História mais recente do
nosso país.
Entre a multiplicidade de aspetos a abordar neste âmbito, destaca-se o envolvimento, direto e
indireto, de mulheres cientistas no processo de desenvolvimento e afirmação da ciência colonial
portuguesa. Configurando uma das áreas ainda menos exploradas neste domínio da História e da
Filosofia da Ciência e da Técnica, urge recuperar os seus nomes; analisar o trabalho produzido
(entre o campo e o gabinete); escrutinar a sua participação em reuniões científicas (nacionais e
internacionais); criticar as suas publicações; reconstituir o seu percurso académico e redes de
contatos científicos.
Somente assim será verdadeiramente possível conhecer a medida da sua contribuição para o
evoluir das diferentes áreas disciplinares, de um modo geral, e da ciência nos Trópicos, em
particular, retirando do anonimato mulheres que, por circunstâncias diversas, foram esquecidas
ou secundarizadas, pese embora a consequência do trabalho aduzido.
Neste sentido, a nossa comunicação procurará lançar um primeiro olhar sobre o tema, como
primeiro passo de um projeto de investigação que ambiciona descrever e examinar a produção
científica colonial levada a efeito entre nós por mulheres nos primeiros anos da Junta das
Missões Geográficas e de Investigações Coloniais, com realce para as áreas botânica e
geológica.

18
6 de janeiro
Tema 1 – Os Trópicos na História da Ciência
4ª Sessão – Política e cultura científicas. II
Moderadores: Fátima Nunes e Vítor Rosado Marques

Stars, storms and land: astronomy, meteorology and observatories in the


Portuguese colonial enterprise

Pedro M. P. Raposo
Centro Inter Universitário de História da Ciência e da Tecnologia, Universidade de Lisboa

The deployment of science, technology and medicine (STM) as a tool of empire has been
stressed in the historiography of the last decades. However, the most recent trends in post-
colonial studies have reframed this somewhat unidirectional instrumentality of STM in terms of
mutual exchanges and reconfigurations between the knowledge systems and traditions of
colonisers and natives. In this paper I develop a complementary perspective, aimed at shedding
light on the role of STM in the antagonisms and negotiations raised and enforced by conflicting
colonial interests. I shall illustrate it with the foundation and early history of the Campos
Rodrigues Observatory (CRO), established in Lourenço Marques (nowadays Maputo) in 1906
as an official timekeeper and a ‘centre of calculation’ for meteorological investigations. This
undertaking represented a statement of Portuguese presence and domain in the context of the
modus vivendi earnestly developed with England, Portugal’s purportedly oldest ally but its
fierce colonial competitor (and, to a considerable extent, overlord) in south-eastern Africa. By
recontextualizing and refreshing expertise transferred from metropolitan observatories
(Astronomical Observatory of Lisbon, Infante D. Luiz Observatory), the CRO also became an
institutional exemplar where timekeeping, meteorology and support to territorial command were
articulated in order to suit the Portuguese colonial enterprise. The João Capelo Observatory in
Luanda will be discussed as an example of its replication.

Os edifícios do Instituto de Medicina Tropical e de Investigação Médica de Angola:


reflexos da metodologia da Investigação em Medicina Tropical na década de
cinquenta

Mariana de Oliveira Couto


Doutoranda do Departamento de Arquitetura da Universidade de Coimbra

A Escola de Medicina Tropical surgiu em Portugal em 1902 e, em 1935, passou a denominar-se


Instituto de Medicina Tropical (IMT). Este ficou instalado na Cordoaria Nacional até 1958, data
de inauguração do atual edifício.
A década de cinquenta representou o período áureo desta instituição. Foi sobretudo nesta época
que foram criadas Missões Permanentes e Institutos de Investigação Médica, evidências de uma
mudança radical na metodologia de investigação do IMT: este dispunha, agora, de
infraestruturas nas colónias.
Assim, entre 1945 e 1960 surgiram várias instituições que conduziram à diminuição do número
de missões periódicas: a Missão Permanente de Estudo e Combate da Doença do Sono da
Guiné-Bissau, a Missão de Prospeção de Endemias de Angola, os Institutos de Investigação
Médica em Angola (IIMA) e Moçambique e as Missões Permanentes de Estudo e Combate de
Endemias de Cabo Verde, de Timor e de S. Tomé e Príncipe.
O IMT ficaria com a responsabilidade de orientação das atividades desenvolvidas; no entanto,
só o IIMA manteve colaboração científica com o Instituto de Medicina Tropical até à década de
70, razão pela qual se optou pelo seu estudo.

19
O presente trabalho expõe, assim, uma análise do edifício do IMT e do IIMA procurando
contextualizar missões que contribuíram para o desenvolvimento da medicina tropical e refletir
acerca do modo como cada construção articula um programa e uma linguagem que traduz,
afinal, as complexidades do pósguerra português.

Intervenção médica nas populações coloniais e póscoloniais: continuidade,


mudança e a soberania política nacional

Ricardo Pereira
Centro de Estudos Sociais, Universidade de Coimbra

A recente aplicação em Relações Internacionais das conceptualizações propostas por Michel


Foucault (1926-1984) sobre biopolítica, ou ‘governo das populações’ e governamentalidade, ou
‘governo do governo’ na descrição das relações de poder entre financiadores e fazedores de
política dos principais programas internacionais, por um lado, e recetores, por outro, aponta para
um forte elemento de continuidade neste tipo de intervenção. Enquanto que na época colonial a
intervenção médica junto das populações tinha por objetivo a concretização de políticas de
segurança dos impérios europeus, legitimação dos governos coloniais e facilitação da
evangelização cristã, também atualmente as mesmas lógicas, associadas ou alternadas com
discursos liberais de direitos humanos, continuam a constituir as bases políticas para a
implementação. Por outras palavras, o caráter imperial das políticas permanece e eventualmente
intensifica-se.
Partindo da perspetiva de que o instrumentário pós Foucauldiano se revela limitado,
nomeadamente no que respeita à questão da autonomia (agency) humana, esta apresentação
explora o caráter da emergência da soberania política nacional e sua implicação para o debate
sobre continuidade e mudança. Esta exposição argumenta que, antes de mais, um conhecimento
mais aproximado da soberania política nacional, em especial na região da África Subsaariana,
principal locus dos programas de saúde atuais, obriga à reconversão da lente teórica de análise.
Para nós tal implica centralizar a análise na atuação do Estado nacional à luz da questão
estrutura-agência desenvolvida por Kenneth Waltz, porém, devidamente adaptada à realidade
dos Estados em causa e o impacto histórico-político da estrutura internacional nos mesmos.

Medicina e dieta no início do século XIX: a alimentação dos doentes no Real


Hospital da Ilha de Moçambique

Eugénia Rodrigues1 e Anita Correia Lima de Almeida2


1. Centro de História, Departamento de Ciências Humanas, Instituto de Investigação Científica Tropical
2. Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

O Real Hospital da Ilha de Moçambique desempenhou, desde o século XVI, um papel relevante
na construção do império português do Índico, sendo o mais importante desta região a seguir ao
de Goa. Nele eram assistidos os soldados e os moradores da colónia portuguesa de
Moçambique, mas também os tripulantes e passageiros das naus da Índia, que encontravam na
escala da ilha a primeira assistência para as suas enfermidades. Alimentar os numerosos doentes
era uma árdua tarefa diária devido à dependência da ilha das importações alimentares do
continente africano, das ilhas do Índico e dos portos da Índia. Muitos dos hábitos alimentares aí
prevalecentes no final do século XVIII indicam uma forte influência da cozinha do Índico, com
interferências africanas e europeias.
Nas primeiras décadas do século XIX, a atuação de físicos-mores formados nas universidades
europeias tendeu a configurar a alimentação dos doentes de acordo com as teorias médicas
neohipocráticas em voga. Através da prescrição dietética das refeições visava-se alimentar os
doentes de acordo com os preceitos do discurso médico. Pretende-se, nesta comunicação,

20
discutir a importância da alimentação no discurso médico e a sua articulação com as práticas
alimentares no Hospital Real da Ilha de Moçambique.
Este trabalho é financiado por Fundos Nacionais portugueses, através da FCT – Fundação para a
Ciência e Tecnologia, no âmbito do projeto HC/0121/2009, Tratado Médico sobre o Clima e
Enfermidades de Moçambique, coordenado por Eugénia Rodrigues, no Instituto de Investigação
Científica Tropical, Lisboa.

De-centering Colonial Science: The Angolan Health Service in the Interwar Period

Samuël Coghe
Max Planck Institute for the History of Science, Berlin

Until now, the debate on science in the Third Portuguese Empire has strongly concentrated on
scientists and institutions in the metropolis and the research missions they conducted in the
colonies. While it remains important for historiography to deal with these long neglected
scientific activities, privileging metropolitan actors runs the danger of reiterating a Eurocentric
approach to Portuguese colonialism and obscuring knowledge produced within the colonies.
Focussing on the Health Services in Angola in the 1920s and early 1930s, I will show that
colonial doctors there were not merely applying canonic knowledge produced and taught at the
Escola de Medicina Tropical (EMT) in Lisbon. In parallel to the establishment of African health
care and aided by Goan doctors, the medical department in Angola stimulated local research on
tropical diseases. As the findings were presented at international conferences and in Angola-
based medical journals, the Angolan health services challenged the position of a declining EMT.
Against the backdrop of persistent depopulation anxieties, doctors also engaged with
demographic research on the ‘endangered’ African populations. Although, as doctors, they
remained interested in morbidity and mortality statistics, their demographic inquiries
increasingly privileged natality related indices. I will argue that this reflected a shift in
perception: throughout the first decades of the 20th century, the importance of epidemic and, to
a lesser extent, endemic diseases in colonial discourse declined and low birth rates and child
mortality came to be seen as the main threat for Angola’s indigenous populations, and hence for
the future development of the colony.

Transferindo conhecimento e ideologia: arquitetos portugueses nos Trópicos

Madalena Cunha Matos e Tânia Beisl Ramos


Centro de Investigação em Arquitetura, Urbanismo e Design, Faculdade de Arquitetura, Universidade
Técnica de Lisboa

No século XX, sobretudo a partir da década de 20, ocorreu um surto de emigração de arquitetos
portugueses para os trópicos, para o que muito contribuíram as escassas oportunidades de
trabalho. O processo começou de modo lento e pontual e intensificou-se no segundo pósguerra,
atingindo valores elevados durante as décadas de 60 e 70. Sintomaticamente o auge coincidiu
com o desencadear das guerras coloniais, tornou-se persistente nos anos subsequentes ao início
da luta armada, e cessou em 1974.
Estes arquitetos produziram vastíssima obra na marcação infraestrutural e edificada dos
territórios submetidos à soberania portuguesa – nos espaços africanos e, em menor escala, nos
mais reduzidos espaços asiáticos. A obra multifacetada que produziram abrangeu o urbanismo e
um leque muito diverso em programas funcionais, desde a pequena escala à escala territorial.
Essas intervenções referenciaram o espaço geográfico e definiram a armadura urbana do que são
ainda hoje as concentrações urbanas definíveis como cidades e funcionando enquanto tal. Foram
um poderoso marco de modernidade, embora, tal como é vivido o ethos colonial, de uma
profunda desigualdade. Se transportaram conhecimento, transportaram também ideologia -

21
conquanto em muitos se distinga a carga da contradição, entre um ideário de liberdade e
igualdade e a sua inserção numa pesada malha de práticas sociais.
O estudo trata dos percursos desses arquitetos desde Portugal até aos trópicos e abrange tanto
profissionais pouco conhecidos como os considerados notáveis. Incide sobre trajetórias de
emigração e processos de fixação. A análise dessa dinâmica permite identificar padrões de
relacionamento social e profissional e distinguir traços específicos consubstanciais à análise de
redes sociais.

A JMGIC e a investigação do património arquitetónico português ultramarino – o


caso da viagem de Mário Chicó à Índia Portuguesa

Vera Félix Mariz


Doutoranda do Instituto de História da Arte da Faculdade de Letras, Universidade de Lisboa

O Estado Novo (1933-1974), enquanto regime nacionalista e imperialista, entendeu o


património arquitetónico ultramarino como um testemunho triunfal da legitimidade portuguesa
além-mar.
Todavia, o estado de conservação dos monumentos portugueses ultramarinos, consequência do
trinómio tempo-desconhecimento-incúria, era trágico, o que fomentou a necessidade de
desenvolver uma complexa obra de salvaguarda patrimonial.
Quando a Junta das Missões Geográficas e Investigações Coloniais (JMGIC) foi criada, em
1936, enquanto organismo de investigação, coordenação e consulta, pretendeu-se, claramente,
alargar a investigação a áreas do saber além da cartografia.
Assim, numa altura em que as intervenções nos monumentos ultramarinos eram imperativas,
aquele património memorialmente eloquente beneficiou, claramente, da criação da JMGIC.
Data de 1951 o caso de estudo mais relevante em termos de investigação patrimonial
ultramarina apoiada pela JMGIC. Efetivamente, o subsídio de viagem à Índia, concedido ao
Professor Mário Chicó (1905-1966) pela JMGIC por sessenta dias, é um marco incontornável
para a investigação da História da Arte Portuguesa e, consequentemente, para a salvaguarda do
património português de Goa, Damão e Diu.
Deste modo, pretendemos analisar a viagem de investigação de Mário Chicó e companheiros,
identificando a dinâmica e metodologias de investigação, e demonstrando a importância deste
périplo, do qual resultou, como forma de disseminação de conhecimento, a realização de uma
exposição, a publicação de livros e artigos e a apresentação de conferências.
A apresentação deste estudo irá permitir a divulgação de um aspeto pouco conhecido da
atividade da JMGIC, enquanto, também ela, incontornável promotora da salvaguarda
patrimonial dos monumentos portugueses ultramarinos durante o Estado Novo.

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Tema 2 – Ciência para o Desenvolvimento Global
1ª Sessão – Saberes tradicionais e governação local
Moderadores: Jean-Pierre Contzen e Maria das Graças Lins Brandão

A escrita missionaria como narrativa etnográfica – em torno da literatura


missionária sobre o Kongo e a região mbundu (XV-XVIII)

Carlos Almeida
Arquivo Histórico Ultramarino, Instituto de Investigação Científica Tropical

A expansão europeia iniciada, a partir do séc. XV, gerou um movimento de alargamento e


multiplicação de saberes e conhecimentos. Até que tais saberes se cristalizassem em campos
disciplinares autónomos, dando lugar à afirmação de profissionais investidos de autoridade e
metodologias específicas para o aprofundamento desses conhecimentos, foi a Igreja e, em
particular, as ordens religiosas, o principal centro de acumulação e produção de saber. Se a
missionação católica constituiu um dos vértices fundamentais da empresa colonial, a diversidade
de cenários nos quais ela foi empreendida, e a complexidade das relações que aí se entreteceram
com as culturas locais deu lugar à produção de um assinalável corpus textual onde, de par com a
propaganda da obra e a exaltação do exemplo dos religiosos, se ensaia um esforço de
compreensão da diversidade do mundo em áreas diversas e que se acolhem, hoje, em disciplinas
tão diversas como a biologia, ou a etnologia.
A partir da produção textual de origem jesuíta e capuchinha sobre o chamado antigo reino do
Kongo e as formações mbundu, esta comunicação procura debater o alcance e limites dos saberes
missionários produzidos entre os séc. XV e XVIII, o modo como eles incorporam, de forma nem
sempre pacífica, saberes europeus e das culturas africanas, mas sobretudo, como através deles se
enuncia uma visão do mundo e do lugar que nela cabia à Europa nele desempenhar.

Las primeras exploraciones científicas de Guinea Ecuatorial

Enrique Gozalbes Cravioto


Universidad de Castilla-La Mancha

Durante mucho tiempo España apenas prestó atención a las tierras guineanas cedidas por parte
de Portugal a finales del siglo XVIII. Aunque por lo general la bibliografía centra la atención en
Manuel Iradier, como el gran explorador paralelo a Livingstone, con mucha anterioridad al
mismo existieron otras expediciones y actuaciones individuales, cuyos testimonios son muy
poco conocidos. En los mismos se pasó de una primera observación costera, al reflejo de datos
de interés etnográfico, geográfico y de ciencias de la naturaleza, que han sido pasados por alto
por parte de la mayor parte de los investigadores.
En este sentido, en la aportación analizamos los datos recogidos desde el primer informe del
portugués Vicente Gomes Ferreira, la primera descripción del interior de la isla de Fernando
Poo (atual Bioco) por parte de José Varela, y el testimonio de Joaquin Primo de Rivera sobre
Annobón. Las referencias descriptivas de exploradores y autores sucesivos, como Marcelino
Andrés, José de Moros, Guillemard de Aragón, Joaquín Usera,el cónsul inglés Thomas J.
Hutchinson, Martínez Sanz, Joaquín Navarro, Julián Pellón, o Muñoz Gaviría. A la luz de sus
datos comienza el análisis geográfico y climatológico, pero sobre todo sus observaciones
etnográficas resultan de gran interés.
Por un lado, reflejan la visión europea sobre los habitantes de la zona. Por el otro, documentan
aspetos etnográficos de gran interés. En otro sentido, manifiestan el inicio de la transformación
de muchos habitantes en la antigua Clarence (Santa Isabel, Malabo). Pero también ofrecen datos
históricos importantes sobre la realidad colonial, en especial, las propias limitaciones que en la
época tenía la presencia española.

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A viagem do botânico Júlio Henriques à Ilha de São Tomé (1903)

Natacha Catarina Perpétuo1, M. Teresa Gonçalves1, Jorge Pais de Sousa2 e António


Carmo Gouveia1
1. Centro de Ecologia Funcional, Departamento de Ciências da Vida, FCT, Universidade de Coimbra
2. Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX, Universidade de Coimbra

“Desde quando o Jardim Botanico da Universidade de Coimbra começou a ter relações com os
agricultores da ilha de S. Tomé, enviando-lhe plantas úteis e entre elas principalmente as da
quina, para que encetassem novas culturas, nutri desejo de visitar esta ilha para ver e estudar
processos agrícolas e para contemplar a esplêndida vegetação tropical.”
Como se lê nas palavras de Júlio Henriques, desde que iniciou funções como professor na UC, e
especialmente quando foi nomeado diretor do Jardim Botânico, que desejou conhecer a ilha de
S. Tomé. Concretizou esse desejo em 1903, quando contava já 65 anos. Partiu de Lisboa, no
navio Benguela, e desembarcou em S. Tomé onde foi recebido com entusiasmo pelos
administradores/proprietários de várias roças, pois não era comum receber a visita de um ilustre
professor, interessado no progresso da agricultura tropical. Iniciou a visita na roça Boa Entrada,
percorreu diversas outras roças e regiões da ilha e terminou o percurso na roça Rio do Ouro.
Regressou a Lisboa a bordo do Cabo Verde.
Regressado a Coimbra, e uma vez que “o tempo passado na ilha foi curto para dela obter
conhecimento completo”, Júlio Henriques intensificou os estudos sobre aquela região. O
resultado desse intenso trabalho foi publicado, catorze anos depois, no Boletim da Sociedade
Broteriana com o título “A Ilha de S. Tomé sob o ponto de vista histórico-natural e agricola”.
Nesta comunicação propomo‐nos analisar e divulgar o impacto da viagem de Júlio Henriques na
agricultura tropical e no conhecimento da biodiversidade de S. Tomé.
Este trabalho é financiado por Fundos Nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e
Tecnologia no âmbito do projeto «HC/0064/2009 - A História da Botânica na Universidade de
Coimbra e a sua expressão no mundo lusófono: de Brotero a Abílio Fernandes».

Natural history of useful plants from America: rediscovering the medicinal plants
of Brazil

Maria das Graças Lins Brandão


Museu de História Natural e Jardim Botânico e Laboratório de Farmacognosia, Faculdade de Farmácia,
Universidade Federal de Minas Gerais

Plants have been used as a food and medicinal sources in the Americas for thousands of years
by the Amerindians. The Portuguese and Spanish brought several of these species to Europe at
the beginning of the 16th century and Brazilian plant remedies, such as copaiba (Copaifera
spp.), ipecacuanha (Psychotria ipecacuanha (Brot.) Stokes) and curares (Chondodendron sp.)
have expanded to several parts of the world. Historical research can be very helpful for
recovering valuable ethnopharmacological data regarding the use of plants. In Brazil, this is
important and necessary due the intense and continuous destruction on native vegetation, since
the discovery of the country in 1500. Much of the available information about the use of native
medicinal plants in Brazil has been compiled by European naturalists who travelled throughout
the country in the 19th century. The data and materials recorded by them, and deposited in
European Institutions, served as an important source of information about the use of plants. At
that time, the native flora was conserved, and Brazilian vegetal species were predominantly
used in a traditional medicine. Since 2003, our researcher group has been recovering data and
images of useful plants native of Brazil in historical bibliography and providing this information
in a website (www.dataplamt.org.br), in literature produced by the group (including translation
of historical books for portuguese language) and in materials for popularization of science. The
objective is to contribute to the preservation and better use of the native vegetation of Brazil.

24
Tema 2 – Ciência para o Desenvolvimento Global
2ª Sessão – Desenvolvimento, crescimento económico e internacionalização
Moderadores: Jorge Braga de Macedo e Ana Morgado

Cem anos do «Ensino Agronómico Colonial». Sua contribuição no ensino e na


investigação agrária tropicais. Que futuro?

José E. Mendes Ferrão


Instituto Superior de Agronomia

O autor faz uma nota breve de enquadramento da situação política e económica nos finais do
século XIX, a Revolução Industrial, a necessidade de matérias primas de origem tropical para o
funcionamento das fábricas da Europa, a procura de novos mercados para os produtos
manufaturados, a Conferência de Berlim, a Doutrina de Monroe, a divisão de África por
interesses de países europeus, a vulnerabilidade de Portugal, ligado a territórios africanos por
«direitos históricos», a imposição da «ocupação efetiva», a doutrina de Cecil Rhodes e o «Mapa
cor de rosa». A reação portuguesa atrasada e insuficiente, os exploradores e os técnicos da
Administração, a contratação de técnicos agrários estrangeiros por não os haver em Portugal
(onde o ensino era «totalmente omisso em relação aos assuntos coloniais») habilitados para as
funções, os reflexos negativos nos direitos portugueses da ação destes técnicos. A criação da
Escola Colonial para preparar funcionários administrativos e o ensino agronómico Colonial cuja
lecionação foi entregue ao Instituto de Agronomia e Veterinária. Breve resumo das diferentes
fases deste curso (a criação, a preparação de docentes, um Jardim Colonial a especialidade
colonial e a licenciatura em Engenheiro agrónomo colonial). O ensino agronómico e as fontes
de financiamento para a investigação e formação dos professores. A integração do Jardim
Colonial na Burocracia do Ministério das Colónias e seus reflexos negativos. A criação de
novas disciplinas para uma melhor eficiência do ensino. A reforma de fevereiro de 1952 e seus
reflexos no ensino tropical com a criação do primeiro curso de pósgraduação no Instituto
Superior de Agronomia.
As tentativas da criação de um ramo de opção no ensino agronómico e florestal sobre
agronomia e silvicultura tropicais no Instituto Superior de Agronomia que se veio a concretizar
mais tarde e com ele outras disciplinas de índole tropical, A criação do CIAT (IIC/ISA), seus
sucessos e dificuldades.
O autor, pelos anos de experiência muito vivida, indica vários caminhos de colaboração
institucional, aproveitando e valorizando melhor os recursos disponíveis, entre eles a criação de
um Instituto Internacional de agronomia tropical com diferentes organismos a trabalhar em
«rede» incluindo a criação de estações nos trópicos para uma melhor inserção dos estudos nas
ecologias locais. Outras sugestões serão apresentadas como pontos de reflexão.

Colaboração interinstitucional para promoção da biotecnologia em Moçambique

Ana Ribeiro, Luís F. Goulão, Ana M.P. Melo, Isabel Palos e José C. Ramalho
Centro de Ecofisiologia, Bioquímica e Biotecnologia Vegetal, Instituto de Investigação Científica
Tropical

A biotecnologia constitui uma poderosa ferramenta com aplicação em várias áreas. De entre as
principais aplicações, destacam-se os programas de conservação e caracterização da
biodiversidade, a bioremediação, o melhoramento genético, a biosegurança, a biomedicina,
entre outros. No entanto, a implementação de programas de biotecnologia é bastante onerosa e
requer a disponibilidade de massa crítica devidamente qualificada. Nesta conferência será
apresentado um caso de estudo de colaboração interinstitucional, entre o Centro de
Ecofisiologia, Bioquímica e Biotecnologia Vegetal do Instituto de Investigação Científica

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Tropical (Eco-Bio/IICT) e várias instituições de Moçambique, visando a maximização de
recursos materiais e humanos, a capacitação institucional e a excelência científica. Este
programa desdobra-se em 3 vertentes, designadamente i) investigação, ii) formação e
capacitação de recursos humanos e iii) definição de estratégias e assessoria.
Presentemente o Eco-Bio participa em vários projetos de investigação aplicada à gestão
sustentável de recursos genéticos vegetais, contribuindo com ações de caráter científico, técnico
e de capacitação, com destaque para a batata doce e matas de miombo.
Para além das atividades de investigação, o Eco-Bio tem estado ativamente envolvido em várias
atividades de docência (licenciatura e mestrado), orientação de teses e ações de capacitação.
Neste contexto, promoveu a criação da Plataforma de Biotecnologia de Plantas para a CPLP,
que congrega várias instituições portuguesas, visando a mobilidade de docentes e estudantes no
espaço CPLP.
O Eco-Bio integra ainda a comissão instaladora do Programa Nacional de Biotecnologia do
Ministério da Ciência e Tecnologia de Moçambique, ao abrigo do qual colaborou na
implementação do 1º curso de Mestrado em Biotecnologia de Moçambique, cuja primeira
edição teve início em 2011.

Os trabalhos das Missões Geodésicas, sua contribuição para o desenvolvimento


económico, científico e tecnológico dos respetivos países

Paula Cristina Santos


Departamento de Ciências Naturais, Centro de Geo-Informação para o Desenvolvimento, Instituto de
Investigação Científica Tropical

Para tornar possível o fomento e o progresso de um território com a construção de estradas,


caminhos de ferro, barragens, pontes, saneamento básico, prospeção geológica, etc., havia que
fazer o inventário dos seus recursos em cartas com suficiente exatidão, para o que eram
necessários trabalhos de geodesia rigorosos. Estes foram realizados por Missões Geográficas
criadas pela JMGIC, sucessora da Comissão de Cartografia que, iniciou a cobertura geodésica
de alguns territórios embora a sua atividade se tenha centrado essencialmente na delimitação de
fronteiras.
As Missões realizaram um notável trabalho, reconhecido nacional e internacionalmente. Os
dados, então obtidos, são agora património do Instituto de Investigação Científica Tropical,
único organismo a dispor de elementos relativos a tão extensas regiões do globo. Apesar de
várias décadas passadas, essas infraestruturas constituídas pelas redes geodésicas (triangulação,
nivelamento e gravimetria) e documentação sobre fronteiras, são ainda de uma importância
fundamental para os respetivos territórios (o que explica a frequência de solicitação de
informações) pois, além de os cobrirem geograficamente, são facilmente convertíveis nos
sistemas de coordenadas usados pelos atuais sistemas de posicionamento e navegação por
satélite permitindo compatibilizar toda a informação georreferenciada já adquirida com a que se
venha a obter, servindo assim de estrutura de apoio aos projetos de planeamento e
desenvolvimento desses territórios.
Pretende-se com esta comunicação apresentar o património geodésico recolhido por estas
Missões e exemplificar a sua necessidade na construção do presente e futuro dos países da
CPLP.

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Le rôle du gouvernement dans l’économie sociale et ses politiques de coopération
internationale pour le développement régional

Abdou Sané e Luiz Alfredo Silveira


Centre d’Investigation en Sociologie Économique et des Organisations de l’Institut Supérieur d’Économie
et Gestion, Université Technique de Lisbonne
ORGAN
Cet article constitue une réflexion sur le rôle du gouvernement dans l’Économie Sociale et ses
Politiques de Coopération Internationale pour le Développement Régional. Il fait également
objet d’une étude exploratoire avec comme objectif, la réflexion sur les raisons par lesquelles
les relations internes de la communauté européenne interviennent dans l’État et sa politique de
réglementation de ses activités de Coopération Internationale et dans la Communauté
Universitaire. La thématique "intégration régionale et développement économique" est
d’actualité, en l’occurrence dans les pays qui furent l’objet de processus colonisateurs très
importants socialement. Mais aussi, diverses organisations internationales sont préoccupées par
la question: c’est le cas, parmi tant d’autres, de l’Organisation internationale de la francophonie,
de l’Organisation internationale de l’anglophonie – COMMONWEALTH – ou de la
Communauté des pays de langue portugaise (CPLP). Celles-ci sont des organisations qui
désirent construire des liens d’union entre divers peuples avec comme programmes, intégration
interétatique et développement socioéconomique dans cette ère du processus de globalisation.
Les enjeux sont nombreux, car ces pays, dont la plupart ont un niveau de développement très
bas, un taux de scolarisation en dessous de la moyenne des pays donneurs, l’accès difficile aux
nouvelles technologies et la précarité des infrastructures, rendent fragile l’intégration régionale
et le développement économique accéléré.

Tema 2 – Ciência para o Desenvolvimento Global


3ª Sessão – A Biodiversidade e sustentabilidade ambiental
Moderadores: Esperança Costa e Luís Mendes

Estrutura e composição da vegetação lenhosa da barra do Rio Cuanza, Angola

Esperança Costa1 e Luís Catarino2


1. Centro de Botânica, Universidade Agostinho Neto, Angola
2. Jardim Botânico Tropical, Instituto de Investigação Científica Tropical

O Rio Cuanza é um dos mais importantes de Angola, quer em extensão, quer em valor
ecológico. A beleza natural do estuário do Cuanza e a sua localização a cerca de 70km a sul de
Luanda, dotam esta zona de elevado potencial para a implementação de infraestruturas turísticas
e residenciais. Neste trabalho caracteriza-se a estrutura e composição dos principais tipos de
vegetação lenhosa da Barra do Cuanza e discute-se o respetivo estado de conservação.
A vegetação lenhosa da Barra do Cuanza, é composta por dois grandes grupos de comunidades
vegetais: mangais e vegetação lenhosa aquática no leito e margens alagadas do rio e savanas
arborizadas nas zonas baixas não alagadas e nas zonas de encosta.
Os mangais têm uma estrutura com grande desenvolvimento em altura, elevada cobertura total,
estrato arbóreo de 20 a 25m e estrato arbustivo 3 a 5m de altura. O estrato arbóreo é composto
exclusivamente por Rhizophora racemosa e no estrato arbustivo é dominante Dalbergia
ecastaphyllum. Ligeiramente a montante, onde a salinidade da água é menor, ocorre igualmente
nas margens e leito do rio vegetação lenhosa com espécies aquáticas e hidrófilas
maioritariamente de porte arbustivo, dominada frequentemente pela palmeira Raphia vinifera e
por D. ecastaphyllum.
Nas zonas baixas não alagadas ocorre savana, regularmente queimada, em que o estrato
herbáceo é dominado por gramíneas e o estrato arbóreo é constituído pela palmeira Hyphaene
guineensis. Nas encostas sobranceiras ocorre igualmente savana arborizada em que Adansonia

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digitata, Euphorbia conspicua e Sterculia setigera, são dominantes no estrato arbóreo, sendo o
estrato arbustivo dominado por plantas espinhosas e o estrato herbáceo por gramíneas e plantas
suculentas.
O estudo e preservação da vegetação da Barra do Cuanza constituem uma base importante para
o desenvolvimento sustentado desta zona estuarina.

Flora e vegetação da Guiné-Bissau – perspetiva histórica, presente e futuro da


contribuição do JBT/IICT

Luís Catarino, Maria Adélia Diniz e Eurico S. Martins


Jardim Botânico Tropical, Instituto de Investigação Científica Tropical

Mantendo uma atividade iniciada ainda no século XIX e prosseguida durante todo o século XX,
o estudo da flora e vegetação da Guiné-Bissau por investigadores portugueses é atualmente
desenvolvido através de projetos de investigação e desenvolvimento executados com a
colaboração de parceiros guineenses. Nesta comunicação são discutidos os principais
contributos para o avanço do conhecimento nas várias áreas relacionadas com a diversidade
vegetal.
Referem-se os estudos pioneiros desenvolvidos durante as primeiras décadas do século XX,
centrados no reconhecimento da flora e vegetação e sua utilização pelas populações autóctones.
A partir de meados desse século foi intensificada a colheita de espécimes botânicos e foram
iniciados estudos fitossociológicos e sobre a vegetação florestal, que resultaram em numerosas
publicações. Após a independência da Guiné-Bissau o estudo da diversidade vegetal do seu
território tem prosseguido sob a forma de projetos de investigação envolvendo instituições
locais, quer estatais, quer não governamentais, executados frequentemente também em
colaboração com outras entidades nacionais e estrangeiras.
De entre as linhas de investigação desenvolvidas atualmente e cuja atividade se perspetiva para
o futuro próximo são de referir a ecologia da vegetação, a cartografia e monitorização do
coberto do solo, relacionadas com a desflorestação e as consequências das alterações climáticas,
e os estudos de etnobotânica, nomeadamente sobre a utilização medicinal das plantas.

Itinerários e contributos da Missão Botânica de Moçambique para o conhecimento


da vegetação

Rui Figueira1,3, Susana Saraiva2, Patrícia Conde2, Eurico S. Martins1, Maria Romeiras1 e
Maria Cristina Duarte1
1. Jardim Botânico Tropical, Instituto de Investigação Científica Tropical
2. Bolseiras FCT, Instituto de Investigação Científica Tropical
3. CERENA, Instituto Superior Técnico, Universidade Técnica de Lisboa

A Missão Botânica de Moçambique (MBM) foi criada com a finalidade de elaborar estudos e de
recolher materiais e elementos indispensáveis para a elaboração da Carta Fitogeográfica para o
Atlas de Portugal Ultramarino, conforme o objetivo definido aquando da sua constituição. O
reconhecimento do território, e da vegetação, desenvolvido nas três campanhas da MBM, entre
1942 e 1948, em conjunto com o Reconhecimento Fitogeográfico de Moçambique,
encomendado a Rocha da Torre (1940-1944), permitiram o esboço da referida Carta, publicada
em 1948.
Os itinerários das expedições são revisitados no decorrer desta comunicação, percorrendo os
trajetos com base na sua representação geográfica, à qual se associa a informação iconográfica
do Álbum Fotográfico elaborado durante a própria expedição. As fotografias, situadas no
espaço-tempo, permitem a análise e a interpretação das formações vegetais identificadas pelos
coletores da MBM. É possível refazer, portanto, o processo de criação da Carta Fitogeográfica,
confrontando-o com o maior conhecimento botânico entretanto adquirido para aquele país, e

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com as ferramentas e dados acessíveis no domínio da informática para a biodiversidade,
exploradas de modo interativo.

Effects of society changes in the distribution of Mozambique terrestrial


vertebrate’s species

Isabel Queirós Neves1 e Cristiane Bastos-Silveira2


1. Doutoranda do Departamento de Biologia da Universidade de Aveiro
2. Pós-Doutoranda do Museu Nacional de História Natural, Universidade de Lisboa

Mozambique is rich in natural resources. However armed conflicts, people relocations, land-use
changes had major effects in the country’s biodiversity. In fact, the long period of internal
armed conflicts (1980-1992) lead to species extinction and degradation of important
ecosystems. Information on biodiversity during this period is scarce. Consequently, large areas
of the country are poorly documented. And even today, there are few assessments of the
country’s biodiversity that account for recent global changes at a macro-scale.
Natural history collections are repository of the vouchers for the documentation on what species
exists and where, what are their habitat requirements, what ecological associations they have
with other species. The collections allow the comparison of specimens across space and time,
and document patterns of past and present distribution. Hence, we believe that zoological
expeditions conducted prior to Mozambique's armed conflicts can notably inform on its
potential biodiversity. Furthermore this data can be used to predict the future effects of human
population growth and climate change on species ecological niches.
We will present the ongoing project which intends to 1)infer on the vertebrates diversity
potential of the country, and identify biodiversity losses during war period; 2)model the
potential effects on vertebrate biodiversity of global changes; 3)select areas that should be
protected (reserves and corridors).
The first milestone of the project is to construct a GIS database with vertebrate records for
Mozambique biodiversity. We are gathering and updating data from zoological expeditions
carried out in Mozambique and kept at Portuguese and European Museums.

Seriação de metodologias destinadas à produção de farinha de trigo biofortificada


em Fe e Zn para populações carenciadas de países em vias de desenvolvimento

Fernando C. Lidon1, António E. Leitão2, Luis F. Goulão2, Ana Ribeiro2 e José C. Ramalho2
1. Departamento de Ciências e Tecnologia da Biomassa, Faculdade de Ciências e Tecnologia,
Universidade Nova de Lisboa
2. Centro de Ecofisiologia, Bioquímica e Biotecnologia Vegetal, Instituto de Investigação Científica
Tropical

No âmbito de projetos de investigação, que envolvem a colaboração do Centro de Ecofisiologia,


Bioquímica e Biotecnologia Vegetal (Eco-Bio), do Instituto de Investigação Científica Tropical
(IICT) e o Departamento de Ciências e Tecnologia da Biomassa da Faculdade de Ciências e
Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa (DCTB/FCT/UNL), a ação COST FA0905
“Mineral-improved crop production for healthy food and feed“, patrocinada pela European
Science Foundation (ESF), pretende desenvolver estratégias de biofortificação de alimentos
base, nomeadamente em Fe e Zn, para populações com baixos recursos financeiros e acentuadas
carências nutricionais. Neste projeto atribui-se relevância às acentuadas deficiências alimentares
em Fe, que atingem 60-80% da população mundial, com manifesta gravidade em África, assim
como às graves carências na ingestão de Zn que se estimam em 25-33% nos países em vias de
desenvolvimento.
Adotando a perspetiva da ação COST FA0905, esta comunicação centrar-se-á em estudos
realizados pelo Eco-Bio/IICT em associação com o DCTB/FCT/UNL, que pretendem

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desenvolver farinha de trigo biofortificada simultaneamente em Fe e Zn e destinada a
populações com baixo poder económico, nos países em vias de desenvolvimento. O estudo
descriminará estudos de fertilização em ambiente controlado, localização e deposição de macro
e microelementos, fatores de mobilização de fotoassimilados e respetiva tradução nutricional em
sementes de trigo.

Carta Geológica da Guiné-Bissau: de 1982 a 2011

Paulo H. Alves e Vera Figueiredo


LNEG - Laboratório Nacional de Energia e Geologia

O IICT desenvolveu trabalhos de geologia nos Trópicos durante os últimos 50 anos, abrangendo
sobretudo as antigas colónias portuguesas e, dentro destas, com particular destaque para Cabo
Verde, Guiné-Bissau e São Tomé. Nestes países processou-se cartografia geológica de base
sobre quase todo o território, totalizando vários anos de trabalhos de campo que culminaram
com a edição de cartas geológicas a escalas entre 1:25.000 e 1:400. 000. De referir ainda, não só
a publicação de informação científica vasta, mas também a edição da Carta Geológica de
Angola, na escala 1:1.000.000, como síntese do trabalho de muitos autores, coordenada pelo
IICT.
Centrar-nos-emos no caso da Guiné-Bissau, com a apresentação dos trabalhos que levam à
publicação em 2011 da Carta Geológica na escala 1:400.000, a qual se apresenta.
O IICT iniciou trabalhos de geologia na Guiné-Bissau na década de 50, que se focaram depois
na área da paleontologia na década de 60, mas foi após a independência do país que, entre 1981
e 1989, através de Heitor de Carvalho e com apoio do ICE (atual IPAD), se desenvolveram
missões esporádicas de reconhecimento geológico, já com o objetivo de implementar a
publicação de uma Carta Geológica, uma vez que apenas existiam levantamentos parciais ou
então cartas na escala 1:500.000 de difusão muito reduzida (como era o caso de Teixeira 1968,
inserida num livro, ou de Mamedov 1980, disponível apenas em cópia heliográfica).
O projeto Cartografia Geológica (IICT-DGGM-IPAD-FCT) teve início em 1991, sendo sujeito
a prolongamentos e interrupções diversas até dar lugar à publicação da Carta Geológica da
Guiné-Bissau em 2011, beneficiando do apoio institucional do LNEG (2006-2011) e do IPAD.
Esta Carta, em formato frente e verso, que inclui o desenho de uma nova base topográfica do
país, apresenta a geologia de superfície, bem como as unidades litostratigráficas de
subsuperfície e do substrato, com as respetivas profundidades de ocorrência. Correspondendo de
certo modo a uma carta de Geodiversidade, engloba ainda informação hidrogeológica,
hipsométrica, administrativa e bibliográfica.
Corresponde ao culminar de cerca de 30 meses de missões IICT-DGGM no território, com
viatura própria, levando à colheita de cerca de 2.500 amostras e à consulta e seleção de dados de
entre quase toda a informação existente na Direção Geral de Geologia e Minas e na D.G. dos
Recursos Hídricos, entidades que colaboraram de forma ativa com este projeto.
Nesta edição foram coligidos dados de muitos outros geólogos que trabalharam no país, como
foi o caso de autores francófonos e da ex-URSS, sendo de destacar ainda a colaboração de
instituições como o PNUD, UNICEF, Enafur e Embaixada de Portugal.
Faz-se uma apresentação da metodologia de trabalho seguida, realçando-se as características
particulares da Guiné-Bissau e a interação geologia / população que decorre da necessidade de
obter informação objetiva sobre o território, como país muito aplanado, com depósitos de
cobertura espessos e parco em afloramentos. Estes aspetos são indissociáveis da sua geologia e
condicionam fortemente os trabalhos de campo e a interpretação cartográfica e geodinâmica.

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Desde os estudos geológicos e as concessões portuguesas de exploração de minério
em Goa nos anos 50 até à atualidade: uma escolha difícil entre uma pretensa
espinha dorsal económica e a espinha dorsal real de ecossistema regional

Teotónio R. de Souza
Departamento de História, Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias

Na base de estudos elaborados por T.S. Mota, Carrington da Costa, Luis Aires Barros, Mariano
Feio, C. Teixeira e outros investigadores da Junta de Investigações do Ultramar, o governo
colonial português aprovou por volta de 700 concessões de terrenos para exploração de minas
de ferro e manganês nos anos 50. Foi o começo de uma exploração que tem evoluído de uma
exportação de 100 toneladas em 1947 para 33 milhões de toneladas em 2010, um aumento
motivado em grande parte pela procura chinesa para a construção dos seus estádios olímpicos.
As autoridades indianas federais e estatais consideram a exportação do minério um recurso
indispensável para a economia nacional e do estado de Goa. Mas as consequências visíveis
apontam para uma destruição acelerada da inteira zona florestal do interior de Goa que inclui a
região de gates ocidentais, reconhecida como uma das zonas mais ricas de biodiversidade
mundial.
Este estudo da problemática será baseado em vários relatórios científicos publicados e outros
em curso, bem como as conclusões das comissões de investigação nomeadas pelos governos
federal e estatal, e outras agências não-governamentais, tais como Goa Foundation, que foi a
primeira a pedir a intervenção do Supremo Tribunal da Índia.

7 de janeiro
Tema 2 – Ciência para o Desenvolvimento Global
4ª Sessão – Saber Tropical na era das ómicas
Moderadores: Rui Malhó e Maria do Céu Silva

Forest for the future: the IICT genomic contribution

Jorge A. Pinto Paiva


Centro das Florestas e dos Produtos Florestais, Instituto de Investigação Científica Tropical

Forest trees constitute 82% of the continental biomass and harbour more than 50% of the
terrestrial biodiversity (Neale & Kremer, 2011). Forest have an prominent role for economy and
ecology, and also represent our cultural and patrimonial heritage. In 2050 it is expected that
world population reaches the 9 billion, and the demand for food and for wood and wood
products, and energy will be increase dramatically, with consequent competition for land use.
Highly productive and low input forest tree plantations are excellent alternatives for wood and
forest products sources to circumvent the demand for wood will be met from native forests.
Forest genomics can contribute for high productive and healthy forest plantations.
Understanding the molecular mechanisms of the formation of wood and other forest products
and plant-environment interactions has been the main driving force for the development of
genomic resources. Beyond this aspect, genomic tools applied perspective is to support the
different breeding programs, conservation, restoration and management of natural forests. The
Forest Genomics Laboratory (FGL) at IICT’s Forest and Forest Products Center aims studying
the molecular mechanisms of regulation of wood formation and adaptation of tropical and
subtropical forests to adverse environmental conditions, in the frame of global climate change.
The FGL develops their activity in close collaboration with Plant Cell Biotecnology Lab at
ITQB/IBET Institutes (Portugal) and with LRSV (CNRS/UPS, Toulouse, France). The research
as being support by several Fundação para a Ciência e a Tecnologia funded projects. FGL is
open for cooperation with CPLP Forest Institutes on genomic research and advance formation.

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Better legumes and pastures for drought prone regions

Susana Sousa Araújo


Centro de Veterinária e Zootecnia do Instituto de Investigação Científica Tropical

Legumes belong to a vast family of plants with a role in terms of food (grains) and animal
(forage and pasture), economy and sustainable agriculture. Among legumes, common bean
(Phaseolus vulgaris L.) is one of the most important grain legume crop with a role as a food
source for both human consumption (grain) and as fodder (leaves and stalks) mainly in Latin
America and Sub-Saharan Africa, where drought is a major problem. As much of 300 000 T of
beans are lost to drought annually in Africa. Quality, culinary and nutritional values of beans are
also affected by drought. However, they are described as relatively susceptible to conditions of
water deficit and salinity (characteristics of the dry season in tropical regions), being an
important aspect to take into account in breeding programs.
Our group is interested in developing approaches for functional genomics (transcriptomic,
proteomics and metabolomics) that when combined with classical methods of plant physiology
to identify and understand the molecular mechanisms underlying the responses of Medicago
truncatula legume model and Phaseolus vulgaris to abiotic stresses.
The research is being developed in close collaboration with Plant Cell Biotecnology Lab at
ITQB/IBET Institutes. The research as being support by several Fundação para a Ciência e a
Tecnologia funded projects and constitutes an opportunity for research collaboration with CLPL
research Institutes.

A project devoted to international cooperation with more than half a century: the
creation of Centro de Investigação das Ferrugens do Cafeeiro (CIFC) in Portugal

Vítor Várzea, Pedro Talhinhas, Ana P. Pereira, Leonor Guerra-Guimarães, Helena Gil
Azinheira, Andreia Loureiro, Dora Batista e Maria do Céu Silva
Centro de Investigação das Ferrugens do Cafeeiro, Instituto de Investigação Científica Tropical

The importance of leaf rust, the major coffee disease worldwide, led the Governments of USA
and Portugal to found CIFC in 1955. Since then, CIFC played a central role creating an
International Research Network of over 40 coffee growing countries (CGC) on coffee leaf rust
(CLR) and more recently on coffee berry disease, aiming to assist CGC in developing resistant
varieties to these diseases. Based on unique world germplasm collections (plants and pathogens)
established at CIFC, research activities enabled the characterization and selection of resistant
plants, with particular emphasis on the highly resistant Híbrido de Timor (HDT), which
subsequently was used in breeding programs in CGC, generating over 90% of rust resistant
varieties cultivated worldwide. However, recently, some of these varieties lost their resistance
due the appearance of new rust races. This situation is of great concern and is leading several
research institutions from CGC to request CIFC’s support. To meet these requests, CIFC
developed an international action plan, including the characterization of the virulence of those
new rust races and the identification of coffee plants with broader spectrum of resistance,
combining genetics and plant pathology studies with phylogenetic, transcriptomic and
proteomic approaches. This plan also involves capacity building and technology transfer to
CGC, namely: supply of newly characterized resistant plants; training of
technicians/researchers; consultancy to breeding programs in CGC such as Brazil, India,
Thailand, China, Angola and Tanzania. This plan will contribute to the development of
strategies to achieve durable disease resistance, promoting the development of a sustainable
coffee economy.

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Posters
Tema 1 – Os Trópicos na História da Ciência
1ª Sessão – Coleções históricas e científicas: estratégias pra o século XXI. I

Herbário do IICT – Valorização do acervo e programação expositiva

Rita Guerra, Luís Catarino e Maria Cristina Duarte


Jardim Botânico Tropical, Instituto de Investigação Científica Tropical

O herbário do IICT (LISC) é constituído por cerca de 300.000 espécimes, uma grande coleção
carpológica e numerosos espécimes conservados em meio liquido. Existe uma vasta
documentação associada, incluindo fotografias, desenhos originais, mapas e cadernos de campo,
bem como utensílios e equipamento, que complementam o acervo do Herbário.
No seguimento da missão do IICT, o herbário tem por objetivos apoiar investigação científica,
garantir a preservação e acesso das coleções e também promover o intercâmbio científico entre
países da CPLP.
A atual investigação científica percorre já várias áreas, como a biossistemática e ecologia
tropicais, a etnobotânica e etnofarmacologia, a biogeografia, a conservação da biodiversidade,
entre outras. Alguns projetos recentes (e.g. Imbamba, Maerua, LisTypes) têm vindo a ser
executados no sentido de informatizar e tornar acessíveis em formato digital as coleções do
herbário.
No entanto, o acervo do herbário tem ainda um grande interesse histórico-científico, essencial
para compreender o contexto da investigação portuguesa nos países tropicais e um elevado
potencial expositivo, que devem também ser valorizados.
Neste sentido, a divulgação e usufruto do património pela sociedade podem ser promovidos
através de uma programação expositiva de qualidade, que requer um conjunto de valências
ativas e bem coordenadas entre si: a preservação do espólio, uma forte componente de
investigação e o acesso fácil ao acervo.
Nesta comunicação propõe-se um alinhamento concetual que conjugue as diferentes valências
referidas no sentido de incrementar a função expositiva do herbário. Para tal a coerência
narrativa deverá ser articulada com a flexibilidade na exploração de novas temáticas, formatos e
espaços expositivos.

Digitalização e disponibilização online de espécimes-tipo e cadernos de campo nos


Herbários do IICT (LISC) e da UL (LISU)

Susana Matos1,2, Ana Isabel Correia2 e Luís Catarino1


1. Jardim Botânico Tropical, Instituto de Investigação Científica Tropical
2. Jardim Botânico, Museu Nacional de História Natural e da Ciência, Universidade de Lisboa

O projeto LisTypes – Digitising African Types at Lisbon Herbaria teve início em 2004 nos
herbários do IICT (LISC) e da Universidade de Lisboa (LISU). Foi financiado pela fundação
norte-americana The Andrew W. Mellon Foundation através da African Plants Initiative, agora
alargada no seu âmbito e designada por Global Plants Initiative.
O projeto Listypes teve três fases em LISC, tendo as duas primeiras como objetivo a
digitalização e disponibilização online de imagens de alta resolução dos espécimes-tipo
africanos e informação associada. Foram digitalizados cerca de 3150 tipos, a maioria dos quais
de Angola e Moçambique (66 %), sendo John Gossweiler, Hans Joachim E. Schlieben, António
Rocha da Torre e Georges Le Testu os coletores mais bem representados. Na terceira fase,
procedeu-se também à digitalização de 87 cadernos de campo depositados no herbário LISC.

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Em LISU, dentro das coleções africanas destaca-se pela sua dimensão e importância histórica e
científica a coleção de F. Welwitsch, com cerca de 9400 exemplares. Assim, neste herbário foi
dada prioridade à informatização da sua coleção botânica de Angola colhida durante a
expedição Iter Angolense (1853 – 1860). Já estão disponíveis online 2747 tipos desta coleção,
prevendo-se a conclusão do projeto em 2013.
Os dados obtidos no âmbito deste projeto, juntamente com os das outras instituições que
participam na Global Plants Initiative, estão disponíveis em http://plants.jstor.org/. Os dados de
LISC estão também disponíveis através da rede internacional Global Biodiversity Information
Facility (http://www.gbif.org/), do Arquivo Científico Tropical Digital do IICT
(http://actd.iict.pt/) e do Portal de Coleções do JBT (http://maerua.iict.pt/coleccoes/)

As Missões Pedológicas em África

Madalena Fonseca1 e Inês Pinto2


1. Departamento de Ciências Naturais, Geo-Des, Instituto de Investigação Científica Tropical
2. K - Centro de Atividades de Preservação e Acesso, Instituto de Investigação Científica Tropical

O IICT desenvolveu, desde 1946, trabalhos de investigação em Pedologia no meio tropical,


sobretudo em Angola, mas também em Moçambique, Cabo Verde e Guiné-Bissau. Muitos
desses estudos revestiram-se de um caráter pioneiro e tiveram marcada projeção internacional,
de tal modo que foi mesmo reconhecida internacionalmente a existência de uma “Escola
Portuguesa de Pedologia Tropical”. Caracterizaram-se quanto à morfologia e aspetos
físico/químicos e mineralógicos os principais tipos de solos de Angola e definiu-se a sua
taxonomia pedológica.
Dessa atividade resultou, para além de uma Carta Generalizada de Solos, a publicação de um
vasto conjunto de Cartas de Solos de vários distritos/províncias de Angola cujas Memórias
Descritivas contêm a caracterização física/química e mineralógica de milhares de amostras. Os
cerca de mil pédones publicados integram uma Base de Dados contendo a localização/geo-
referenciação, fatores pedogenéticos, classificação (CEP, FAO e WRB) e diversos parâmetros
analíticos das amostras estudadas com um papel muito relevante no desenvolvimento de futuros
estudos sobre os solos de Angola.
Os estudos desenvolvidos conduziram à construção de um Sistema de Classificação dos Solos
de Angola que contribuiu de forma marcada para o progresso da taxonomia dos solos tropicais.
Durante as missões pedológicas foram recolhidos vários monólitos de solo (perfis
representativos em tamanho natural) que formam uma coleção única das principais unidades de
solo (de Angola) a qual constitui uma ferramenta fundamental, no ensino da ciência do solo,
como alternativa à observação in loco de um perfil de solo típico. Para além da sua utilidade
científica e pedagógica, os monólitos, permitem ao público em geral tomar consciência do valor
do solo como recurso natural e da importância da sua conservação.

Georeferenciação das Coleções Fotográficas do IICT

Catarina Mateus e Inês Pinto


K- Centro de Atividades de Preservação e Acesso, Instituto de Investigação Científica Tropical

O espólio fotográfico do IICT tem sido alvo de tratamento de conservação, catalogação,


digitalização e divulgação online através do Arquivo Científico Tropical Digital. Este espólio é
constituído por várias coleções que abarcam um período de entre 1860 e 1974, com diversas
proveniências e temáticas, nomeadamente as Missões Cientificas deste instituto.
Num trabalho de equipa pluridisciplinar, está atualmente a desenvolver-se uma atividade de
georeferenciação, que tem como principal objetivo divulgar simultaneamente as imagens
fotográficas do passado e localizá-las geograficamente.

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Apresentam-se duas metodologias diferentes neste processo de georeferenciação aplicadas a
casos distintos: no primeiro caso, em que as coordenadas são conhecidas com exatidão, porque
o trabalho fotográfico está integrado em contexto da Missão Pedológica de Angola onde já
existe uma cartografia de base; e num segundo caso, menos preciso, as fotografias chegaram à
atualidade sem informação agregada e apenas como ilustração do trabalho realizado pelas
Missões Geodésicas, sendo por isso necessário encontrar formas de chegar às coordenadas
através de ferramentas freesource online (Google).
Desta forma, pretende dar-se acessibilidade não só à comunidade científica, como a um público
alargado, permitindo que a pesquisa das imagens leve a diferentes “viagens” e abordagens dum
mesmo local.

Repensar a apresentação museológica de objetos etnográficos

Maria Manuela de Castro Restivo


Faculdade de Letras da Universidade do Porto

Devido à sua história colonial, Portugal possui um número considerável de objetos etnográficos
extraeuropeus, espalhados por museus e outras instituições. Não raras vezes, essas coleções são
apresentadas numa perspetiva histórica, cronológica ou temática, sendo incapazes de suscitar
interesse num público alargado. Nesta comunicação pretende-se apresentar algumas
possibilidades de exploração dos objetos etnográficos em contextos museológicos que sejam
mais condizentes com os desafios da museologia contemporânea. Este trabalho assenta no
pressuposto de que o objeto etnográfico, em vez de portador de significados intrínsecos, deve
ser visto e explorado nas suas múltiplas potencialidades semânticas (Shelton 2001), ou seja, nas
possibilidades de ser continuamente reinterpretado por diferentes agentes em diferentes
contextos. Trata-se, portanto, de abrir o objeto etnográfico a interpretações diversas, que surgem
quer através da investigação do objeto, quer através do diálogo com diferentes agentes que com
ele possam estar relacionados. O poster apresentará a forma como um determinado objeto pode
ser lido e interpretado de diferentes maneiras, demonstrando-se simultaneamente a natureza
contingente do objeto etnográfico e a impossibilidade de se continuarem a perseguir discursos
essencializados sobre o objeto. Através deste método – a exploração de diferentes
representações do objeto etnográfico – espera-se simultaneamente incluir o objeto quer em
teorias quer em visualidades contemporâneas, ao mesmo tempo em que se pretende alargar as
potencialidades de comunicação dos objetos etnográficos com os públicos dos museus.

Oficina de Educação Patrimonial “Descobrindo um Objeto”: uma experiência educativa a


partir da Exposição “Viagens e Missões Científicas nos Trópicos 1883-2010”

Claudia Cristina Cardoso


Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG

A comunicação tem por objetivo apresentar o resultado prático da realização de uma das
atividades integrantes do Serviço Educativo do IICT: a Oficina de Educação Patrimonial
“Descobrindo um Objeto”. A Oficina teve como objetivo geral desenvolver uma atividade
educativa utilizando como tema e foco central de trabalho a Exposição “Viagens e Missões
Científicas nos Trópicos 1883-2010” e o património cultural mostrado na referida mostra,
explorando as capacidades dos participantes para a observação, perceção e interpretação dos
objetos e espécimes representativos das coleções científicas apresentadas.
Atuando como forma auxiliar para a educação não-formal, a atividade visa também estimular e
aguçar o olhar do público-alvo para outras exposições e eventos que envolvam temáticas
relacionadas à preservação e divulgação do património cultural, natural e científico.

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Teve sua primeira edição em 21 de julho de 2011, como evento integrante da Colónia de Férias
do IICT realizada no Jardim Botânico Tropical (Belém), com grupo de 12 crianças de 6 a 12
anos e duração de 2 horas.

Tema 1 – Os Trópicos na História da Ciência


2ª Sessão – Coleções históricas e científicas: estratégias para o século XXI. II

O SIG na Delimitação da Fronteira da Guiné-Bissau

Maria do Carmo Nunes e Ana Morgado


Departamento de Ciências Naturais, GeoDES, Instituto de Investigação Científica Tropical

A fronteira terrestre da Guiné-Bissau, com uma extensão total de aproximadamente 724km,


estende-se desde o Cabo Roxo a norte até ao talvegue do Rio Cajete a sul, na costa ocidental de
África. A delimitação foi estabelecida em 12 de maio de 1886, numa convenção entre Portugal e
França. A falta de demarcação no terreno e o desconhecimento dos limites fronteiriços, levaram
a frequentes desentendimentos locais e conduziram à necessidade de se realizarem várias
missões de campo, entre 1888 e 1905, para demarcar com precisão a fronteira, estabelecida com
a implantação de 184 marcos.
De acordo com o programa da Conferência de Ministros dos Assuntos das Fronteiras, realizada
em Addis Abeba em 2007, a delimitação e demarcação das fronteiras africanas é uma questão
ainda por resolver que deveria estar concluída em 2012. A dificuldade de acesso à informação,
devido fundamentalmente à sua dispersão, tem vindo a condicionar a definição efetiva dos
limites fronteiriços por parte dos novos países africanos. Por razões históricas, o Instituto de
Investigação Científica Tropical (IICT) concentra um acervo vasto e diversificado sobre
fronteiras dos países da CPLP, que inclui sobretudo informação geográfica, descrita nos
diversos relatórios e cadernetas de campo, esquemas, itinerários, mapas e croquis, assim como
tratados histórico-diplomáticos. Esta informação georeferenciável não foi processada numa
plataforma geográfica, de forma a constituir um valioso instrumento de apoio à gestão e
caracterização do território. O presente estudo pretende apresentar os primeiros resultados da
elaboração de um BGIS (Boundary Geographical Information System) para a Guiné-Bissau.

Explorações botânicas em Moçambique nas décadas de 1930 e 1940 – contributo


para o conhecimento da flora e descrição de novas espécies

Susana Saraiva1, Maria Adélia Diniz2, Eurico S. Martins2, Luís Catarino2 e Rui Figueira2,3
1.Bolseira FCT, Instituto de Investigação Científica Tropical
2.Jardim Botânico Tropical, Instituto de Investigação Científica Tropical
3.CERENA, Instituto Superior Técnico, Universidade Técnica de Lisboa

Nas três Campanhas da Missão Botânica de Moçambique (MBM), que ocorreram em 1942,
1944-1945 e 1947-1948 foram colhidos cerca de 7600 espécimes botânicos. Os principais
intervenientes nestas campanhas foram Francisco Ascensão Mendonça, José Gonçalves Garcia e
Luiz Augusto Grandvaux Barbosa. Além destes, António Rocha da Torre, que havia iniciado
colheitas no território na década de 1930, foi encarregado do respetivo reconhecimento
fitogeográfico entre 1940 e 1944, colhendo um total de cerca de 6800 espécimes e integrou a
terceira campanha.
As coleções destes exploradores encontram-se no herbário do Instituto de Investigação
Cientifica Tropical (LISC), sendo que numerosos duplicados dos espécimes então colhidos
foram distribuídos por vários herbários, nomeadamente moçambicanos (e.g. LMA, LMU), de
outros países africanos (e.g. EA, LUAI, PRE, SRGH), e de países europeus e americanos (e.g.
BM, BR, COI, K, MO, P, WAG).

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Os resultados científicos destas explorações botânicas estão a ser estudados no projeto
“MAERUA – Motivações e resultados da Missão Botânica de Moçambique”, verificando-se
que muitos dos exemplares coletados deram origem à descrição de espécies novas para a
ciência, publicadas nos anos subsequentes, frequentemente com nomes homenageando os
coletores.
Neste trabalho faz-se uma avaliação da importância das colheitas efetuadas nas décadas de 1930
e 1940 para o conhecimento da flora do território, em particular a partir das espécies novas para
a ciência descritas tendo por base estes materiais e para publicações posteriores como a Flora
Zambesiaca e a Flora de Moçambique.

A missão Botânica de Moçambique (1942-1948): pelos trilhos do arquivo do


Instituto de Investigação Científica Tropical

Patrícia Conde1 e Ana Cristina Martins2


1. Bolseira FCT, Instituto de Investigação Científica Tropical
2. K - Centro de Atividades de Preservação e Acesso, Instituto de Investigação Científica Tropical

Organismo antecessor do Instituto de Investigação Científica Tropical (IICT), a Junta das


Missões Geográficas e de Investigações Coloniais (JMGIC) marcou, de forma indelével, o
contexto colonial português de meados do século XX, vinculando ciência e agenda política,
constituindo-se as diferentes missões como elementos indispensáveis para o progressivo e
metódico aproveitamento dos recursos e possibilidades naturais dos territórios do império. É
neste paradigma de análise que filiamos a Missão Botânica de Moçambique (MBM).
Na extensão do projeto "MAERUA – Motivações e resultados da Missão Botânica de
Moçambique", alocado ao IICT e financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia, no
âmbito da História da Ciência (ref.ª HC/0046/2009), esta comunicação procurará abordar o
modo como esta Missão reflete a interseção entre as várias dinâmicas políticas, económicas e
científicas que convergiram no programa de edificação colonial. Procurar-se-á interligar os
múltiplos contextos que permitiram delinear e concretizar a Missão, desvelando, num mesmo
fôlego, sobre o acervo documental do IICT, e em particular sobre as potencialidades das fontes
documentais atinentes ao Processo da MBM.
Volvidos 75 anos sobre a criação da JMGIC, acolheremos, assim, o 70.º aniversário da criação
da MBM (Decreto-Lei 32 021, de 18 de maio de 1942), assinalando, também, os aniversários
das mortes de Luiz Wittnich Carrisso (1886-1937) e Francisco de Ascensão Mendonça (1889-
1982), figuras de contributo inestimável para o conhecimento da diversidade vegetal dos
PALOP, ao mesmo tempo convidando a uma revisão debatida e crítica do que representou a
investigação científica conduzida nos trópicos em meados do século XX.

Explorações botânicas em Timor-Leste: do conhecimento florístico ao saber


etnobotânico

Maria Cristina Duarte1 e Maria Manuel Romeiras1,2


1. Jardim Botânico Tropical, Instituto de Investigação Científica Tropical
2. Centro de Biodiversidade, Genómica Integrativa e Funcional (BioFIG), Universidade de Lisboa

O conhecimento científico da diversidade vegetal de Timor iniciou-se no princípio do século


XVIII e prolongou-se ao longo dos séculos XIX e XX, em resultado de numerosas expedições
científicas realizadas a esta ilha da Insulíndia. Delas destacam-se as explorações realizadas entre
1857 e 1861 por Alfred Russel Wallace, a quem se deve trabalhos preliminares sobre a
distribuição das plantas. Embora o seu interesse fosse sobretudo o estudo da fauna, não deixou
de notar o aspeto geral da vegetação e os tipos fisionómicos mais característicos, estando a sua
coleção depositada no Herbário de Kew em Londres. De referir, ainda, Henry O. Forbes (1882-

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1883) a quem se deve uma das primeiras contribuições para o conhecimento da flora de Timor-
Leste. Já em meados do século XX, destaque especial será dado ao português Ruy Cinatti que,
entre outros trabalhos, publicou o “Esboço histórico do sândalo no Timor Português” e
“Explorações botânicas em Timor”. Com base na sua importante obra “Useful plants in
Portugueses Timor. An historical survey” e em trabalhos de outros autores será referido o uso
tradicional de algumas espécies de plantas, nomeadamente as usadas na medicina tradicional.
Por fim, e tendo em conta que a cultura de Timor-Leste reflete inúmeras influências e uma
enorme riqueza em línguas e dialetos, para além do tétum e do português, especial relevo será
dado ao trabalho de Ruy Cinatti sobre a utilização do vocabulário indígena no conhecimento da
Flora de Timor-Leste.

Projeto de Inventário e Catalogação das coleções paleolíticas africanas do Instituto


de Investigação Científica Tropical (IICT)

Ana Cristina Martins1 e João Pedro Cunha Ribeiro2


K - Centro de Atividades de Preservação e Acesso, Instituto de Investigação Científica Tropical
UNIARQ – Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa

Entre 1936 e a década de setenta, as sucessivas Missões Antropológicas organizadas no âmbito


da Junta das Missões Geográficas e Investigações Coloniais, e organismos sucessores,
incrementaram trabalhos de prospeção e escavação arqueológica em Angola e Moçambique.
Neste último país, a construção da barragem de Cabora Bassa levou mesmo à criação, nos anos
70, de uma Brigada de Estudo da Pré-história e Arqueologia do Zambeze, esboçando com
algum vanguardismo o desenvolvimento de uma estratégia preventiva de arqueologia de
salvamento.
As coleções paleolíticas resultantes de recolhas de superfície efetuadas em numerosas jazidas de
ar livre dispersas pelo Sudoeste de Angola ou concentradas preferencialmente em torno do vale
do rio Zambeze, permanecem na maior parte das situações inéditas.
O inventário destas coleções, o estudo adequado dos materiais que as constituem, a
reconstituição das condições em que se procedeu à sua recolha, a definição possível dos
respetivos contextos, o elenco de seus protagonistas e averiguação de eventuais elos entre
programas científicos e agendamentos vários, constituem o âmago do presente projeto.
Pretende-se, desta forma, vir a legar às gerações vindouras o conhecimento do passado
resultante das investigações que marcaram o fim da presença colonial portuguesa em ambos os
países, naturalmente também ele condicionado pelo tempo e pelo modo em que tais trabalhos
decorreram.

Nas teias da produção científica ultramarina: a arqueologia nas Missões


Antropológicas e seus múltiplos atores e objetos

Rita Juliana Soares Poloni


Doutoranda do Departamento de História, Arqueologia e Património da Universidade do Algarve

O presente trabalho busca analisar do conteúdo arqueológico das Missões Antropológicas,


realizadas em Moçambique, Angola, Guiné e Timor, entre a década de 30 e 70, pela Junta das
Missões Geográficas e de Investigações Coloniais. Buscar-se-á perceber de que forma a
investigação arqueológica emerge em meio ao projeto estatal das Missões antropológicas,
procurando comparar seu lugar nesses projetos oficiais com a prática científica que se efetiva
por intermédio de seus atores muitas vezes nos interstícios das relações de poder
governamentais. Dessa forma será possível compreender a ciência produzida pelas Missões na
circulação de objetos e atores entre o sistema colonial, os universos das próprias ciências e os

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cientistas envolvidos no projeto, perseguindo a forma como esse fenómeno se constrói e se
explica no tecido social português.

Early Iron Age spread into Northern Mozambique: revising the data from the
Mozambique Anthropological Missions (1946)

João Carlos Senna-Martinez1, Ana Cristina Martins2, Inês Castelo1 e Bruno M.


Evangelista1
1. UNIARQ – Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa
2. K - Centro de Atividades de Preservação e Acesso, Instituto de Investigação Científica Tropical

The Mozambique Anthropological Missions of 1946 provided the opportunity for Professor
Santos Júnior to excavate two important Early Iron Age archaeological sites in Northern
Mozambique: the Riane Rock-Shelter, in Nampula Province, and Malessane in the Gurué
mountains of Zambezia Province.
Both remained unpublished and unknown till a first reference was made in Conceição
Rodrigues PhD dissertation (2005).
The importance of both sites for the understanding of Early Iron Age Eastern Stream Bantu
migrations is here addressed in comparison with other archaeological sites either from
Mozambique or other surrounding countries.

Neolithic artifacts from Northern Angola: revising the data on an ancient


collection at IICT

Daniela de Matos1, João Carlos Senna-Martinez2 e Ana Cristina Martins3


1. Mestranda do Departamento de História, Arqueologia e Património da Universidade do Algarve
2. UNIARQ – Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa
3. K - Centro de Atividades de Preservação e Acesso, Instituto de Investigação Científica Tropical

This is a presentation of a brief study about a small assemblage of lithic artifacts collected in
Northern Angola at the end of the 50’s and currently kept at Instituto de Investigação Científica
Tropical (Lisboa).
The aim of this study is to associate this find to the more recent archaeological data from the
region and evaluate the importance of the assemblage in terms of the archaeohistory of Angola.
With the macroscopic analysis of the stone tools it was possible to associate the assemblage to
the Ngovo Group, a group of archaeological sites with a distinctive industry of pottery and stone
tools identified in Lower Zaire/Northern Angola. Thereby the polished stone tools from S.
Salvador do Congo (currentlyM’banza Congo) are unequivocal artifactual markers of the
western expansion of the African Neolithic to the southern fringes of the equatorial forest.

An archaeological project in Mozambique. The Early and Late farming


communities of Central Mozambique: the coastline and the Revué and low Buzi
river valleys

Victor Filipe
Investigador Independente

With this presentation it is intended to introduce the project The Early and Late Farming
Communities of Central Mozambique: the coastline and the Revué and low Buzi river valleys,
recently submitted in an application to the PhD position in African and Comparative
Archaeology at the Department of Archaeology and Ancient History of the Uppsala University.

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The aim of the project is to contribute to the knowledge of Farming Communities in the central
area of Mozambique (provinces of Sofala and Manica), seeking to fill in the gap in the
knowledge of the development and characterization of the settlement patterns in the region
during the first and second millennia A.D.. Special emphasis will be given to the influence of
Zimbabwe tradition and the existence of stone enclosures, as well as the commercial and
cultural relations with the coastal sites and the role of the later. In order to accomplish this, I
propose the realization of regional archaeological surveys focused in the coastline and in the
Revué and low Buzi rivers valleys, including the area near the border with Zimbabwe, in the
highland of Manica.
In parallel, one intends to work in strait collaboration with the colleagues of the Departamento
de Arqueologia e Antropologia of the Universidade Eduardo Mondlane as well as to contribute
to the formation of the students of the archaeology course from that university.
Mainly, it is expected that the information recorded in the surveys will shed light into the
settlement patterns of Early and Late Farming Communities of Manica and Sofala Provinces, as
well as in what regards to the relations between the coast and hinterland populations, and of the
former with the Indian Ocean trade systems (among others, Duarte, 1988; Wright, 1993; Insoll,
2003; Mitchell, 2005).

Museu Nacional de Arqueologia (MNAB) e as suas atividades desenvolvidas no


percurso da sua existência

Paulo Valongo
Museu Nacional de Arqueologia, Benguela - Ministério da Cultura de Angola

O Museu Nacional de Arqueologia foi criado em 1976, é uma instituição vocacionada para
gestão do património arqueológico.
A sua criação teve como objetivo a recolha de todo o material arqueológico, a nível nacional e
também dar sequência aos trabalhos de pesquisa, iniciados nos anos trinta e quarenta, pelos
geólogos dos Serviços de Geologia e Minas de Angola, não obstante as primeiras informações
sobre os vestígios arqueológicos perdurarem desde os anos de 1800.
Após a independência de Angola, a brigada de pesquisa do museu efetuou trabalhos de campo,
que se baseavam na recolha de material à superfície em algumas áreas do país culminando com
as descobertas de diversas estações arqueológicas.
Nesta altura vivia-se um período crítico de guerra em Angola, esta atividade era realizada
somente no litoral de Angola, sobretudo em Benguela.
A brigada de pesquisa do MNAB, realizou conjuntamente com vários especialistas e
instituições internacionais, trabalhos de campo onde foram aplicados métodos mais recentes em
arqueologia.
Foram descobertas cerca de 50 estações arqueológicas após a independência que acrescidas às
16 do período colonial perfazem 66 estações controladas pelo MNAB.
Independentemente dos trabalhos de campo e de laboratório que o MNAB faz, procura
transmitir aos seus visitantes conhecimentos sobre os valores histórico-culturais do passado de
Angola.
Realiza receção diária de visitantes de diversos níveis académicos, e outros interessados, para
conhecimentos da realidade das atividades do MNAB.
Realiza periodicamente exposições itinerantes em escolas e outras instituições sociais da
província.
Realiza visitas a estações arqueológicas com a participação de escolas de diversos níveis
académicos, unidades militares, e outras instituições sociais.

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Tema 1 – Os Trópicos na História da Ciência
4ª Sessão – Política e cultura científicas. II

António Mendes Correia (1888-1960) – um cientista maior

Andreia de Almeida
Doutoranda do Departamento de História, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa

O presente colóquio é uma boa ocasião para lembrar o legado de António Mendes Correia,
investigador de renome internacional, com vasta obra publicada na área da Antropologia,
Arqueologia e Etnologia. Nascido no Porto a 4 de abril de 1888, este investigador português
pertenceu a uma geração de cientistas internacionais que se dedicou ao estudo da Antropologia
Física, também denominada de Antropologia Biológica, ramo da Antropologia que procurava
compreender a origem, a evolução, as variações e a constituição física do ser humano, entendido
como ser biológico. Por tal, foi um dos mais calorosos defensores da implementação de
investigações antropológicas nas Províncias do Ultramar, tendo sido diretor da Escola Superior
Colonial e presidente da Junta das Missões Geográficas e de Investigações Coloniais. Mendes
Correia foi um dos primeiros cientistas mundiais a colocar a hipótese da penetração de
elementos humanos na América do Sul através da Antártida, numa data geológica anterior à que
se pensava até então.
Licenciado em Medicina, em 1911, pela Escola Médico-Cirúrgica do Porto, o fundador da
Sociedade Portuguesa de Antropologia e Etnologia foi professor catedrático da Faculdade de
Ciências e da Faculdade de Letras da Universidade do Porto e membro de um variado número
de organizações nacionais e internacionais, como a Academia das Ciências de Lisboa, a
Academia Portuguesa da História, a Academia Pontifícia de Ciências, a Sociedade de
Antropologia de Paris… Foi, ainda, presidente da Câmara Municipal do Porto (1937-1941) e
presidente da Sociedade Portuguesa de Geografia (1952-1960).

Arqueología y Etnología en la colonia: la expedición de 1946 (EPAOE) a Guinea


Ecuatorial

Enrique Gozalbes Cravioto1, Helena Gozalbes García2 e Eduardo G. Gozalbes García2


1. Universidade de Castilla-La Mancha
2. Universidade de Granada

El régimen franquista intentó promocionar acciones de propaganda de la actuación española en


sus colonias norteafricanas: estudio y promoción del Protectorado de Marruecos, y de forma
subsidiaria también en el Sahara. En ambos casos chocaron a nivel personal los responsables de
los estudios; en concreto el Seminario de Historia Primitiva del Hombre, que dirigía Martínez
Santa-Olalla (máximo responsable de la arqueología en España), realizó iniciativas en
Marruecos, rápidamente frenadas, y dirigió al Sahara occidental tres expediciones de recogida
de silex tallados en superficie, y de catalogación de arte rupestre que, pese a contar con
colaboración oficial, encontró con una actuación opuesta.
En 1946 Martínez Santa-Olalla y colaboradores realizaron una expedición arqueológica y
etnológica, reconocida con las siglas EPAOE, a Guinea Ecuatorial, que es poco conocida dado
que no se publicaron en detalle los resultados. La documentación utilizada permite saber que la
expedición contó con escasa colaboración del Gobernador, pero dio como resultados la
localización de poblados neolíticos en la isla de Fernando Poo, así como vestigios prehistóricos
en la zona continental, en las zonas de Bata e Idolo. Más importante fue el registro etnográfico
(se recogieron numerosas piezas), así como una buena serie fotográfica.
Pese a la expedición, el grupo de Martínez Santa-Olalla se vio desplazado; si en 1945 había

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representado a España en la Conferencia de Africanistas del Oeste, sin embargo a partir de
1946-1947 estuvo marginado del recién creado Instituto de Estudios Africanos. Martínez Santa-
Olalla verá vetada su participación en el Primer Congreso Panafricano de Prehistoria (Nairobi,
1947), y también su grupo será eliminado de la participación en la IV Conferencia de
Africanistas del Oeste, reunida precisamente en Guinea Ecuatorial en 1951.

"Projeto Ebo"(Angola) – a investigação arqueológica aliada ao desenvolvimento


local sustentável

Cristina Pombares Martins1 e Luiz Miguel Oosterbeek2


1. Doutoranda em “Quaternário, Materiais e Culturas” da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro
(UTAD). Bolseira FCT
2. Departamento de Território, Arqueologia e Património, Instituto Politécnico de Tomar

A pesquisa arqueológica em Angola conheceu, desde o seu início no séc. XIX, diversas fases,
mas nunca obedeceu a um programa contínuo e sistemático.
O país reúne, agora, as condições necessárias para impulsionar a pesquisa científica e obter
reconhecimento interna e internacionalmente. Nesse sentido, conta com alguns projetos. Um
deles é o "Projeto Ebo", numa parceria que engloba instituições portuguesas e angolanas.
O objetivo geral do projeto consiste em construir uma dinâmica integrada, num território
circunscrito (Ebo), cujo relevante património possibilita associar as dimensões de investigação,
conservação e valorização patrimonial, num quadro global de gestão do património integrada
numa ótica de desenvolvimento sustentável. Assim, serão constituídas quatro frentes de
intervenção: arte rupestre, conservação, arqueologia da paisagem e antropologia cultural.
É essencial criar espaço para a afirmação da diversidade cultural das diferentes identidades. A
Arqueologia e a Arte Rupestre sublinham essa unidade da diversidade e devolvem a Angola a
dignidade de um passado profundo, complexo e crucial para a Humanidade. O "Projeto Ebo"
pretende ser um contributo para este grande desígnio.

O percurso de Bragança Gil na Medicina Tropical

Elisa Maia e Isabel Serra


Centro de Filosofia das Ciências, Universidade de Lisboa

Uma das primeiras “aplicações pacíficas” da energia nuclear diz respeito à utilização de
isótopos radioativos em diversos campos de atividade, em particular na saúde. Os isótopos
radioativos começaram a ser largamente usados a seguir à II Guerra Mundial e acabaram por se
tornar indispensáveis no diagnóstico e na terapêutica de inúmeras doenças.
Fernando Bragança Gil (1927-2009), que dedicou grande parte da vida científica à física
nuclear, e se tornou conhecido do público como Diretor do Museu de Ciência da Universidade
de Lisboa, começou a sua carreira científica no Laboratório de Radioisótopos da Junta de
Investigações do Ultramar, onde trabalhou cerca de dez anos. Durante esse período publicou, a
partir de 1956, e durante os dez anos seguintes, nos Anais do Instituto de Medicina Tropical, ou
noutras revistas, cerca de vinte trabalhos sobre a aplicação dos radioisótopos à medicina, em
particular à medicina tropical.
Nesta comunicação será apresentado o percurso daquele investigador e Professor nesta área de
investigação aplicada. Analisaremos a questão do ponto de vista social e institucional, em
particular o do impacto da utilização das técnicas nucleares na medicina tropical. Abordaremos
também os aspetos de desenvolvimento da carreira científica de Bragança Gil em particular, o
papel formativo, que tiveram as tecnologias relativas à utilização de isótopos na sua carreira
científica posterior.

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Tragédias Tropicais: clima e seca na Obra de Thomaz Pompeu de Souza Brasil

Manoel Fernandes de Sousa Neto


Universidade de São Paulo

Thomaz Pompeu de Souza Brasil (1818-1877) foi um destacado intelectual (advogado,


professor de geografia e história, jornalista, clérigo) e político do Segundo Império do Brasil,
tendo sido senador no interregno compreendido entre 1864 e 1877. Escreveu obras sobre a
província do Ceará e sobre o Brasil, bebeu em autores como Victor Cousin e Alexandre Von
Humboldt, tendo sido fortemente influenciado por este último quanto a necessidade de
preservação/conservação dos recursos da natureza. Realizando uma leitura das condições
ambientais e sociais a partir do clima, que acabaram por propor serem as secas fenómenos
cíclicos que conformavam fortes desdobramentos naturais e sociais e resultavam em tragédias
próprias das condições de tropicalidade de certas regiões como os da região Norte do Império
do Brasil. Em textos publicados de modo avulso no Jornal liberal O Cearense, arena
privilegiada do fazer político provincial de uma sociedade de poucos letrados, teve seus artigos
reunidos em livro denominado Memória Sobre Clima e Secas no Ceará, que foi publicado em
1877 ano de sua morte e data de início de uma das secas que matou entre 1877-79 milhares de
pessoas nas regiões semiáridas do Brasil. A obra é, em larga medida, aquela que cria bases para
que sejam defendidos argumentos técnicos para solução do problema e que vieram a se
desdobrar na construção de açudes e na conformação de uma instituição estatal voltada
unicamente para o combate das secas cíclicas.

Tema 2 – Ciência para o Desenvolvimento Global


1ª Sessão – Saberes tradicionais e governação local

Contributo de João da Silva Feijó para o conhecimento da flora das ilhas de Cabo
Verde no séc. XVIII

Maria Cristina Duarte1, Maria Manuel Torrão2, Lívia Ferrão1 e Maria Manuel
Romeiras1,3
1. Jardim Botânico Tropical, Instituto de Investigação Científica Tropical
2. Centro de História, Departamento de Ciências Humanas Instituto de Investigação Científica
Tropical
3. Centro de Biodiversidade, Genómica Integrativa e Funcional (BioFIG), Faculdade de Ciências,
Universidade de Lisboa

O conhecimento da flora e da vegetação primitivas do arquipélago de Cabo Verde, constitui um


enorme desafio tendo em conta a forte intervenção humana verificada desde a sua colonização
até aos nossos dias. As explorações feitas pelos primeiros naturalistas que, no séc. XVIII,
aportaram a este arquipélago, podem dar um significativo contributo para este conhecimento.
Através de relatos, gravuras e coleções de espécimes que nos deixaram é possível inferir sobre
os recursos naturais destas ilhas à época e perspetivar algumas das alterações entretanto
ocorridas. Nascido no Brasil em 1760, o naturalista João da Silva Feijó foi um dos primeiros a
ter percorrido de forma sistemática o arquipélago, para onde foi enviado com o objetivo de
recolher elementos sobre as produções naturais. Tendo permanecido em Cabo Verde de 1783 a
1787, a ele se ficou a dever o primeiro herbário representativo da flora deste arquipélago.
Composto por 562 plantas, pertencentes ao Real Museu e Jardim Botânico da Ajuda, este
herbário, conjuntamente com outras coleções de plantas, foi levado, em 1808 e por ordem de
Junot durante as invasões francesas, pelo naturalista Geoffroy de Saint-Hilaire para o Musée
National d'Histoire Naturelle (Paris). Através das coleções e dos escassos documentos de Feijó
que chegaram até aos nossos dias pretende-se contribuir para o conhecimento, à época, da flora

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das ilhas e, simultaneamente, avaliar a forma como o papel de charneira de Cabo Verde nas
rotas atlânticas terá moldado a diversidade vegetal neste arquipélago.

Valorização dos Recursos Vegetais na Guiné-Bissau: Saberes e Práticas na


Medicina Tradicional

Maria Adélia Diniz1, Eurico S. Martins1, Olga Silva2 e Elsa Gomes2


1. Jardim Botânico Tropical, Instituto de Investigação Científica Tropical
2. Faculdade de Farmácia, Universidade de Lisboa

Nas últimas décadas realizaram-se diversas missões etnobotânicas por toda a Guiné-Bissau,
integradas em projetos de cooperação, durante as quais se recolheram informações relativas à
utilização de plantas medicinais por Praticantes da Medicina Tradicional de diversos grupos
étnicos e à comercialização destas em mercados tradicionais. Simultaneamente foram
adquiridos materiais para estudo laboratorial. Estudos botânicos, químicos e farmacológicos
realizados em plantas medicinais selecionadas de acordo com as informações obtidas nestas
missões, permitiram validar a sua utilização tradicional e o estabelecimento de parâmetros úteis
para a sua garantia de qualidade. Cassia sieberiana DC., Cochlospermum tinctorium A. Rich.,
Cryptolepis sanguinolenta (Lindl.) Schltr., Guiera senegalensis J.F. Gmel., Sarcocephalus
latifolius (Sm.) Bruce e Zanthoxylum leprieuri Guill. & Perr. são exemplos de algumas das
plantas medicinais estudadas que constam dum Manual Prático elaborado pelos autores sobre as
plantas medicinais da Guiné-Bissau. Para cada espécie indica-se nome científico, família, breve
descrição, habitat, nomes vernáculos em diversas etnias, partes utilizadas e respetivas
utilizações, toxicidade relativa e conservação.

As plantas medicinais do Pará e do Maranhão: missões científicas ao Brasil (1998-


2010)

Isabel Maria Madaleno


Unidade de Sociedades no Desenvolvimento, Departamento de Ciências Naturais, Instituto de
Investigação Científica Tropical

O saber medicinal tradicional é essencial para resolver problemas de saúde e para mitigar dores,
nos países latinoamericanos. Desde 1998 que, no Instituto de Investigação Científica Tropical
(IICT), venho pesquisando espécies vegetais usadas pelos cidadãos mais desfavorecidos, assim
como por adeptos da fitoterapia. Durante duas missões científicas à capital do estado do Pará
realizei amostragens sobre a prática da agricultura urbana no município de Belém, onde
verifiquei que as espécies usadas na medicina doméstica eram as mais cultivadas nos quintais,
após os frutícolas. Em 2005 organizei outra missão a Belém e a Barcarena do Pará, focalizando-
me, dessa vez, em dois outros grupos de informantes: os vendedores de ervas e os
fitoterapeutas. Em 2006 e 2007, subindo o rio Amazonas, realizei mais entrevistas sobre esta
temática no município de Santarém do Pará, que vieram enriquecer consideravelmente o acervo
de espécies exsicadas, preparados e mezinhas da mais diversa procedência (medicina doméstica,
curandeiros, vendedores). Finalmente, no ano de 2010, extraí uma amostra na cidade de São
Luís, no estado do Maranhão, considerado a porta de entrada da Amazónia brasileira. O
principal objetivo do trabalho de campo foi sempre o de estabelecer comparações entre as
plantas com poderes curativos usadas pelos informantes brasileiros, entre si, com as utilizadas
por outros povos latino-americanos, sob a hipótese de que a sua localização geográfica e a
história de colonização explicavam aplicações terapêuticas similares. Os resultados obtidos
confirmaram que as espécies nativas da América, seguidas das europeias, dominam as
preferências para vasta gama de enfermidades crónicas.

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Da abrangência das febres à prática da profilaxia
Helena Sant’ana
Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, Universidade Técnica de Lisboa

Durante os séculos XVII e XVIII as febres são a doença dos trópicos. Objeto de múltiplas
teorias médicas e terapias inspiradas nas plantas medicinas indígenas, vão impulsionar a
exploração das propriedades terapêuticas da flora e fauna tropicais.
Com o projeto de colonização efetiva das colónias, o aumento da empiria dos médicos e
farmacêuticos, a par com a permanência mais acentuada no terreno, modifica gradualmente o
olhar sobre as febres, que se dividem em múltiplas patologias tropicais, ao mesmo tempo, que
no século XIX se elege a necessidade de prevenção e higienismo.

As cartas dos ventos e correntes do Golfo da Guiné

António José Duarte Costa Canas


Museu de Marinha

A meteorologia conheceu um desenvolvimento significativo em meados do século XIX. Para


tal, muito contribuiu um jovem oficial da Marinha Americana: Matthew Fontaine Maury.
Começou a sua carreira naval realizando diversos embarques oceânicos. Tendo sido vítima de
um acidente que o impediu de voltar ao mar, dedicou-se ao estudo da meteorologia. O seu
primeiro objetivo era perceber as condições meteorológicas prevalecentes nos diferentes
períodos do ano para reduzir a duração das viagens oceânicas.
Cedo Maury percebeu que um conhecimento efetivo das condições meteorológicas a nível
mundial só era possível se existisse cooperação internacional. Dinamizou a organização de
congressos internacionais e sugeriu um sistema mundial de recolha de dados que permitissem o
conhecimento da dinâmica atmosférica a nível global.
Portugal aderiu cedo a este programa. Um dos primeiros estudiosos a interessar-se pela
meteorologia era oficial de Marinha: João Carlos de Brito Capelo, irmão do explorador
Hermenegildo Capelo. Prestou serviço no Observatório Infante D. Luís, na Escola Politécnica,
tendo sido diretor do mesmo durante vários anos.
Além do seu papel como criador de uma estrutura destinada a recolher dados meteorológicos e
analisá-los, João Capelo foi também um investigador notável, com obras publicadas sobre
diversas áreas do saber, nomeadamente sobre as ciências geofísicas. Entre estas obras destaca-se
um conjunto de cartas náuticas que elaborou, nas quais apresenta os ventos e as correntes
predominantes no Golfo da Guiné, para diferentes épocas do ano. Essas cartas, assim como o
pequeno estudo que acompanha as mesmas, serão o tema central deste nosso trabalho.

Tema 2 – Ciência para o Desenvolvimento Global


2ª Sessão – Desenvolvimento, crescimento económico e internacionalização

PIPA – Centro de Proteção Integrada dos Produtos Armazenados

António Barbosa, Graça Barros, Maria Otília Carvalho e Ana Magro


Centro de Proteção Integrada dos Produtos Armazenados, Instituto de Investigação Científica Tropical

A atividade do atual Centro de Proteção Integrada dos Produtos Armazenados (PIPA) está
vocacionada para ações de I&D com interesse para países das regiões tropicais, em especial os
da CPLP, desde o início da criação da Comissão de Estudos Acerca da Defesa Fitossanitária dos
Produtos Agrícolas e Florestais de Origem Ultramarina, na década de 50, para avaliar os
prejuízos causados pelos insetos no amendoim armazenado na Guiné.

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Essa atividade tem vindo a evoluir e o Centro PIPA está enfocado em contribuir para a
segurança alimentar, a sustentabilidade ambiental e a promoção de uma parceria global
para o desenvolvimento, através de intervenções nas seguintes matérias:
• Ecossistema do armazenamento;
• Engenharia do armazenamento;
• Bioecologia dos insetos e fungos;
• Métodos de prevenção durante o armazenamento, transporte e transformação;
• Meios de proteção alternativos aos meios de luta química menos prejudiciais para o
consumidor e ambiente: biológico, biotecnológico, físico (atmosferas controladas e
modificadas; desinfestação pelo calor), e extratos de plantas.
Também tem vindo a cooperar com o setor privado em Portugal, a fim de tornar acessíveis os
benefícios das novas tecnologias sobre a manutenção da qualidade durante o armazenamento de
matérias primas alimentares.
As ações desenvolvidas com interesse para os países da CPLP, foram-se diversificando
gradualmente durante décadas.
Foram realizadas prospeções entomológicas na Guiné durante a colheita, transporte e
armazenamento do amendoim a fim de determinar as principais fontes de infestação e os
processos de combate mais adequados.
Na Índia Portuguesa foi estudada a entomofauna de arroz, farinha de trigo, lentilha de grão e
lentilha de mug.
Em Angola foram efetuadas missões de serviço que permitiram avaliar os aspetos mais
importantes relacionados com a produção, indústrias transformadoras, comércio e exportação de
produtos agrícolas secos armazenados e as entidades interessadas na sua conservação. Tais
produtos incluem o arroz, café, cacau, tabaco, amendoim, coconote, crueira, feijão, gergelim,
milho e o rícino, destinados à indústria e à exportação (à exceção do feijão) e um conjunto
também importante de produtos, como amendoim, arroz, coconote, couro, feijão, gergelim,
milho, rícino e tabaco, que era consumido localmente.
Ainda em Angola, foram estudados diversos tipos de armazenamento rural, não só sob o ponto
de vista etnográfico mas, ainda, para esclarecer importantes aspetos de ordem técnica,
nomeadamente as dificuldades de conservação dos diversos produtos (amendoim, milho, fubas e
outros) nas aldeias das várias regiões e a possibilidade de adaptação de práticas tradicionais a
processos mais eficientes de conservação.
Em Moçambique foi investigada a suscetibilidade de infestação dos produtos-alvo: amendoim,
arroz, cevada, copra, feijão, mafurra, mandioca, mapira, milho, tabaco, trigo, gergelim, grão,
maxoeira, rícino, tâmaras, café, calumba, castanha de caju, ervilha, flocos de aveia, girassol
preto e tremoço branco.
Em S. Tomé e Príncipe desenvolveu-se um projeto de regulamento fitossanitário para a
importação e exportação de produtos como o cacau. Analisaram-se as condições de
armazenamento do cacau e realizaram-se estudos entomológicos e micológicos, assim como
recomendações relativas à construção de armazéns próprios ao armazenamento de cacau. e
concretizado.
Em Cabo Verde, estudou-se a entomofauna, sobretudo densidade e distribuição espacial das
principais espécies de insetos nocivos na moagem e na fábrica de cigarros situadas no Mindelo.
Foram feitas prospeções entomológicas que permitiram evidenciar a atividade dos insetos em
armazéns de produtos alimentares.
A equipa da proteção dos produtos armazenados também esteve envolvida num projeto acerca
do acastanhamento do milho armazenado no Gana e Zimbabué. Sob proposta de colaboração
entre o Natural Resources Institute (UK) e o IICT, colaborou na investigação das possíveis
causas do acastanhamento, através de estudos ecológicos sobre as interações entre várias
condições de armazenamento do milho, ambientais e biológicas, estas últimas relacionadas com
o desenvolvimento de insetos e fungos.
No prosseguimento da sua atividade, o PIPA coordenou uma rede Eureka no âmbito da proteção
do arroz armazenado, organizou seminários, workshops internacionais, uma Conferencia da
OILB e a 10th International Conference on Stored Product Protection, o encontro internacional
mais importante da área, realizado em 2010.

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No âmbito das perspetivas futuras destacam-se as ações previstas sobre o desenvolvimento de
meios de proteção alternativos à luta química contra insetos e fungos e eventuais parcerias
visando a cooperação com países da CPLP.

Conceções de pobreza para além da capacidade de consumo: a contribuição das


agriculturas urbanas para um diálogo multidisciplinar

Juliana Torquato e Leonardo Veronez


Centro de Estudos Sociais, Universidade de Coimbra

A pobreza é um tema recorrente na agenda global. Principalmente a partir da década de 80,


quando as orientações neoliberais tomam lugar na política internacional, o seu uso, no cenário
político, baseia-se na avaliação da capacidade do consumo das famílias. Emerge, então, uma
conceção de pobreza que a reduz a um fator económico mensurável. Desde então, esta é
abordagem de intervenção utilizada por agências e organismos multilaterais como o Banco
Mundial e as Nações Unidas.
Já no início do século, embora não seja um fenómeno recente, em especial nas periferias e
semiperiferias globais, a agricultura (peri)urbana ganha uma expressão política como
instrumento de combate à pobreza. A sua propagação, por meio de políticas públicas e
estímulos sociais, acompanha a tendência que faz das agriculturas urbanas um eixo articulador
de algumas respostas à pobreza, pela inclusão de temas como educação, saúde e habitação à
pauta política.
No entanto, pelo estudo de alguns casos, observa-se uma discrepância epistemológica entre a
política e a prática: as políticas argumentam com os indicadores económicos; as práticas
estabelecem paralelos entre rendimento, qualidade de vida, formas de pertença ao espaço,
consumos e sistemas de produção fora do mercado formal.
Este estudo tem por objetivo demonstrar as ruturas à lógica economicista de mercado de
consumo e de rendimento para a superação da pobreza, bem como apontar para sistemas de
produção que vão para além do paradigma da conjuntura produtiva cartesiana do capital. São
considerados os espaços empíricos da Grande Lisboa, em Portugal, e Maputo, em Moçambique.

A água: um dos paradigmas da sustentabilidade em África no século XXI

Fernando Campos e Alexandra Campos


Linha de investigação em Estudos Africanos e Pós-Coloniais (UEICTS), Universidade Lusófona de
Humanidades e Tecnologias

A Água é imprescindível ao Homem para as suas atividades enquanto ser vivo, mas também ao
desenvolvimento económico (processos industriais, irrigação, energia, navegação) e
manutenção dos ecossistemas.
O desregulado crescimento industrial, a indiscriminada utilização de produtos químicos na
agricultura, a falta de tratamentos adequados das águas residuais, são fatores destabilizadores do
ciclo hidrológico.
Por outro lado a falta, ou a existência de inadequadas infraestruturas conduzem a uma gestão
perniciosa dos recursos hídricos, quer em termos quantitativos como qualitativos.
A África apresenta fortes contrastes no domínio hídrico, verificando-se em alguns países
períodos significativos de falta de água, provocando dificuldades ao desenvolvimento social e
económico. Verifica-se também uma forte incidência de doenças relacionadas com o meio
hídrico.
Superar a crise da água constitui um dos grandes desafios do desenvolvimento humano no início
do século XXI. O século XXI é assim um período de grandes oportunidades para o Mundo, em
especial para o Continente Africano.

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A aposta de África na formação de quadros, a boa governação, o combate à pobreza, a gestão de
conflitos, o respeito pelos direitos humanos, poderão ser sinais dessas oportunidades.
Contudo, convém não esquecer, que muito há a fazer da parte dos africanos e dos não africanos.
Este trabalho de equipa é importante, para que as interrogações e as preocupações possam ser
mais facilmente superadas.
É necessário que a luta pela dignificação das populações continue, com o esforço de todos,
“porque isso aproveita à África e aos Africanos” (Vítor Ramalho, “África que futuro?”, p38).

Tema 2 – Ciência para o Desenvolvimento Global


3ª Sessão – A Biodiversidade e sustentabilidade ambiental

Recovering data from African fauna through Portuguese Natural History


Collections

Cristiane Bastos-Silveira1 e Isabel Queirós Neves2


1. Pós-Doutoranda no Museu Nacional de História Natural, Universidade de Lisboa
2. Doutoranda do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM) da Universidade de Aveiro.
Museu Nacional de História Natural, Universidade de Lisboa

From 2006 to 2009, our group coordinated a national project called “Recovering the past,
recording the present, and preparing the future of zoological collections in Portugal”
(PTDC/BIA-QOR/71492/2006). The main goals of the project were to use newly available
technologies along with scientific know-how in a concerted effort to convert the historical
patrimony of Portuguese zoological collections into digital and molecular data and to make
these data accessible to the general and specialized public.
As the technologies of communication have become increasingly accessible, it is now an utmost
responsibility of all collection holders, to give full access to the information through the
Internet, using international initiatives such as the Global Biodiversity Information Facility.
We identified the main institutions holding zoological collections, of species from former
Portuguese territories, and digitalized the information. The most valuable collections digitalized
were the Mammal and Bird collections housed at Instituto de Investigação Científica Tropical.
This institution holds 5604 specimens of birds and 2300 specimens of mammals. The great
majority of these vertebrates were collected in former Portuguese territory. Most of the
specimens were collected during zoological expeditions between the years 1920-1970.
We present the results achieved by the project, aiming to make the scientific community aware
of the existence of this valuable data. Since the answers to systematic, phylogenetic, and
biogeographical questions can greatly benefit from the effort of obtaining information available
in several collections. By continuously providing outputs of science we will have a more
informed society, which is essential for progress to take place.

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Whales, dolphins and “other fishes” in the Southeast Atlantic: Data combination
to analyze historical cetaceans’ biodiversity in the Gulf of Guinea

Cristina Brito1,3, Cristina Picanço2,3 e Inês Carvalho3


1. Centro de História de Além-Mar, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de
Lisboa
2. Centro Interuniversitário de História das Ciências e da Tecnologia, Faculdade de Ciências,
Universidade de Lisboa
3. Escola de Mar, Edifício ICAT, Campus de Faculdade de Ciências, Universidade de Lisboa

Portuguese reports of Atlantic journeys contain information about natural elements and marine
megafauna. These descriptions are based on empirical knowledge accumulated in successive
maritime routes and indicate species or animal groups’ occurrence. Navigators recorded the
presence of typical animals to estimate their localization and whatever seemed new and
intriguing. So, in addition to fish and birds, there are other unusual reports to strange marine
animals most of them unknown to Europe. In these descriptions for the Southeastern Atlantic
Ocean we found 14 detailed accounts of cetaceans, between the 15th and 17th centuries, and
identify oceanic dolphins, porpoises, killer whales and baleen whales. Much more recently we
also found whaling accounts as well as dolphin captures for some regions in the Gulf of Guinea.
For instance, references to the capture of toninhas are part of the 20th century fishing statistics of
Angola. Fishing books where consulted and, between 1940 and 1969, an estimation of between
320 and 650 individuals was obtained. Similarly, regular accounts for industrial captures of
large whales are available from the end of the 19th century to the middle 20th century. This is a
relevant contribution to the knowledge on cetaceans’ historical occurrence and biodiversity in
the Gulf of Guinea, but more importantly gives a good perspective of the importance of data
combination to assess long term marine biodiversity. Information from past events and
biological occurrences may contribute to support and regulate present day human activities,
such as whale watching, as well as local marine conservation.

Coletores botânicos e esforço de colheita – contribuição para o conhecimento da


diversidade vegetal em Angola

Maria Manuel Romeiras1,2, Rui Figueira1,3, João Tavares1, Luís Catarino1 e Maria
Cristina Duarte1
1. Jardim Botânico Tropical, Instituto de Investigação Científica Tropical
2. Centro de Biodiversidade, Genómica Integrativa e Funcional (BioFIG), Universidade de Lisboa,
Faculdade de Ciências
3. CERENA, Instituto Superior Técnico, Universidade Técnica de Lisboa

Angola possui para além de uma grande variedade de habitats, que permitem uma elevada
diversidade de ecossistemas desde a floresta de chuva, característica da região de Cabinda, à
floresta aberta e savana, ou, mais a sul na zona do Namibe, as formações desérticas e
subdesérticas, uma grande riqueza florística, com mais de 5 000 espécies de plantas vasculares.
Assim, tendo por base o estudo de uma das maiores coleções de espécimes da Flora de Angola,
que se encontra depositada no Herbário LISC (Jardim Botânico Tropical, IICT),
complementado pela análise exaustiva de trabalhos sobre a Flora de Angola, pretende-se dar a
conhecer os principais coletores botânicos que, desde o final do século XVII, permitiram
enriquecer o conhecimento sobre a flora e vegetação do maior país da África Austral. Para além
disso, far-se-á referência aos herbários onde se encontram depositados os exemplares botânicos,
bem como ao registo dos períodos e locais em que foram realizadas as prospeções botânicas. A
georeferenciação desses dados ao nível do município permitirá a produção de mapas de
distribuição das colheitas, com a finalidade de analisar e compreender as estratégias de
prospeção e a forma como elas condicionaram o atual conhecimento da flora e da vegetação e,
consequentemente, as estratégias de conservação.

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A flora de Angola, de Welwitsch às bases de dados digitais

Eurico S. Martins1, Luís Catarino1 e Rui Figueira1,2


1. Jardim Botânico Tropical, Instituto de Investigação Científica Tropical
2. CERENA, Instituto Superior Técnico, Universidade Técnica de Lisboa

O reconhecimento da flora de Angola, apesar de algumas prospeções botânicas anteriores ao


século XIX, só começou metodicamente em meados deste século com Friedrich Welwitsch. O
esforço de Welwitsch foi continuado por Gossweiler que a partir de 1900 levou a efeito uma
exploração do território para o conhecimento botânico e fitogeográfico do mesmo, culminando
na publicação de uma Carta Fitogeográfica de Angola. A partir de 1937, a Missão Botânica de
Angola deu novo impulso a esta exploração, salientando-se a atividade de Carrisso, Mendonça,
Exell e Eduardo Mendes. Posteriormente, o Instituto de Investigação Agronómica e o Instituto
de Investigação Científica locais desenvolveram grande atividade no reconhecimento botânico
sob a orientação de Brito Teixeira e de Azancot de Menezes. Após a independência do país este
foi continuado particularmente por botânicos sul-africanos. A maioria dos espécimes coletados
encontra-se representada no herbário LISC, do Instituto de Investigação Científica Tropical, por
espécimes originais ou por duplicados. O estudo destes materiais e de outros depositados em
diversos herbários tem dado origem a numerosas publicações científicas entre as quais se
encontra o Conspectus Florae Angolensis, com publicação iniciada em 1936 mas longe ainda da
sua conclusão. O acervo das colheitas representadas nos herbários LISC e LISU, da
Universidade de Lisboa, está sendo informatizado ao abrigo do projeto IMBAMBA,
constituindo uma base de dados digital, livremente acessível à comunidade científica
internacional, através do Catálogo Online das coleções do JBT, do ACTD (http://actd.iict.pt), e
da organização intergovernamental GBIF (http://www.gbif.org).

Magnoliopsida da Flora Angolana no herbário do IICT (LISC)

Inês Santos1, Rui Figueira1,2 e Luís Catarino1


1. Jardim Botânico Tropical, Instituto de Investigação Científica Tropical
2. CERENA, Instituto Superior Técnico, Universidade Técnica de Lisboa

O Projeto IMBAMBA (Implementar o Acesso à Informação sobre Biodiversidade e a Gestão de


Coleções Botânicas em Angola), executado no Herbário do IICT, tem como objetivo estudar,
catalogar em base de dados e dar acesso à informação das coleções angolanas nos Herbários
portugueses LISC (Instituto de Investigação Científica Tropical) e LISU (Universidade de
Lisboa). A coleção botânica de LISC é provavelmente a maior do mundo sobre a flora de
Angola, sendo considerada uma boa representação da flora deste país.
A coleção de Magnoliopsida de Angola compreende um total de cerca de 46.000 espécimes,
pertencentes a 165 famílias, 1574 géneros e cerca de 3500 espécies. Foi terminado recentemente
o tratamento dos espécimes desta classe na coleção da flora angolana de LISC, o que permite
obter uma perspetiva global da diversidade vegetal no país, da distribuição no espaço e no
tempo do esforço de colheita, e dos principais coletores representados.
Alguns dos coletores mais representados no herbário são John Gossweiler, Francisco
Mendonça, Eduardo Mendes, Romeu Mendes dos Santos, Brito Teixeira, Artur Exell, bem
como Antunes & Dekindt. As colheitas foram efetuadas durante todo o século XX até à
independência do país. Atualmente, em resultado do apoio taxonómico a atividades de
investigação em curso, estão também a ser incluídas colheitas recentes.
O esforço de colheita não foi uniformemente distribuído pelo território angolano, havendo
províncias com reduzido número de espécimes colhidos, nomeadamente Zaire, Uíge e Lundas,
no norte e nordeste do país.

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Ao longo do projeto os dados obtidos foram disponibilizados online, podendo ser consultados
através do portal do GBIF (http://www.gbif.org/), no ACTD (http://actd.iict.pt/) e através do
portal de coleções do JBT, atualmente em desenvolvimento.

Contribuição das coleções biológicas para a conservação da flora tropical –


propagação de plantas raras e ameaçadas

Isabel Moura, Maria Cristina Simões-Costa e Maria Cristina Duarte


Jardim Botânico Tropical, Instituto de Investigação Científica Tropical

Ao longo das últimas décadas os jardins botânicos têm tido um papel cada vez mais ativo no
desenvolvimento de investigação científica para o conhecimento e conservação da
fitodiversidade bem como na sensibilização da comunidade civil para o seu respeito e
preservação. Neste sentido, o Jardim Botânico Tropical (JBT) tem conduzido estudos visando a
conservação da flora tropical e subtropical, em especial de espécies com particular interesse
(e.g. conservacionista, económico, ecológico), através do desenvolvimento de protocolos de
propagação in vitro.
Os herbários são fundamentais para o conhecimento da diversidade vegetal, designadamente nas
áreas da sistemática e da ecologia vegetal, e diversos estudos têm demonstrado que as suas
coleções, e em particular o germoplasma que nelas se encontra, podem dar um contributo
considerável para a recuperação de espécies raras ou ameaçadas e sua eventual reintrodução nos
habitats naturais. Um grupo com especial potencial nesta área é o dos pteridófitos (vulgarmente
conhecidos por fetos), que inclui espécies típicas em habitats muito específicos e
particularmente sensíveis a alterações ambientais.
Recentemente, foi principiada no JBT uma área de investigação que tem por objetivo avaliar a
capacidade de germinação de esporos de pteridófitos preservados em herbário.
Os estudos, iniciados com esporos da espécie Actiniopteris radiata (Sw.) Link (Pteridaceae)
colhida em Cabo Verde em 2004 e conservada desde essa data no Herbário do IICT (LISC),
confirmaram o potencial germinativo deste material. Esta espécie, distribuída pelas regiões
tropicais de África, Ásia e Madagáscar, apresenta populações com distribuição localizada e,
contrariamente à maioria dos fetos, particularmente resistentes à secura.

A importância da identificação de madeiras na necessidade de garantir a


sustentabilidade das florestas tropicais

Fernanda Bessa
Centro de Florestas e Produtos Florestais, Instituto de Investigação Científica e Tropical

A preocupação com a sustentabilidade das florestas, nomeadamente nas regiões tropicais, e a


necessidade de respeitar convenções e acordos internacionais, têm contribuído, de maneira
decisiva, para a procura de identificação e caracterização de madeiras, tanto mais que se tem
verificado a entrada de algumas no mercado, muitas vezes provenientes de abates ilegais.
A grande diversidade de madeiras resulta da existência de inúmeras espécies, de grande
variabilidade estrutural, com diferentes propriedades e diversas utilizações. Assim, a utilização
racional de uma madeira deve basear-se em diversas características que são de grande
importância quando se pretende a sua identificação.
Na sociedade de informação em que vivemos, importa a utilização das novas tecnologias, daí a
criação de uma xiloteca em suporte eletrónico, e-xiloteca, que sistematiza a informação,
incluindo aspetos de identificação, caracterização e utilização, e a disponibiliza, permitindo a
consulta a diferentes tipos de utilizadores e para fins diversos, ajudando numa melhor utilização
destas espécies, contribuindo para a sustentabilidade dos recursos e a economia da exploração
das madeiras.

51
Este trabalho desenvolveu-se em duas xilotecas do Instituto de Investigação Científica Tropical
com as coleções de Moçambique, Timor e Índia num total de 300 amostras.
Criou-se assim uma e-xiloteca sistematizando toda a informação sobre nomenclatura, estrutura e
anatomia, propriedades físicas, características macroscópicas e potenciais utilizações. Criaram-
se consultas-tipo para diversos fins.
A aplicação da taxonomia numérica agrupou, por classes de semelhança, madeiras de origens
diferentes e características anatómicas e físicas, sugerindo espécies alternativas com
características semelhantes preservando assim as espécies protegidas ou sobre exploradas.

Técnicas para identificação anatómica de madeiras usadas no comércio: um caso


de estudo – Afzelia bipidensis e Intsia bijuga

Teresa Quilhó e Fernanda Bessa


Centro de Florestas e Produtos Florestais, Instituto de Investigação Científica e Tropical

A identificação da madeira está na base dos estudos da sua caracterização e no esclarecimento


de dúvidas suscitadas no seu comércio, permitindo os meios necessários para detetar enganos e
fraudes nos consumidores, podendo constituir uma medida importante para a preservação de
espécies protegidas, biodiversidade e sustentabilidade da floresta.
São exemplos de situações que introduzem frequentemente confusão no mercado, algumas
espécies comerciais com diferentes proveniências mas com um aspeto praticamente idêntico –
são os casos do Doussié (Afzelia bipidensis) e do Merbau (Intsia bijuga) dos continentes
africano e asiático respetivamente, do Movingui (Distemonanthus benthamianus) e da Garapa
(Apuleia leiocarpa) dos continentes africano e americano ou ainda da Tiama
(Entandrophragama angolense) e da Andiroba (Carapa guianensis) também dos continentes
africano e americano, respetivamente. Quando comparadas anatomicamente, estas espécies
apresentam aspetos estruturais que permitem distingui-las, no entanto apesar destas
semelhanças, as suas propriedades físico-mecânicas e o seu comportamento nem sempre
permitem usos idênticos.
A partir de amostras de madeira da Afzelia bipidensis e da Intsia bijuga, exemplificam-se as
técnicas para identificação anatómica por observação macro e microscópica (ex: cortes na
secção transversal, tangencial e radial da madeira com o micrótomo, recurso a sistema de
análise de imagem, fotomicrografias) útil quando não há disponibilidade de material vegetativo,
como acontece nos casos de operações de controlo e fiscalização e que ocorre habitualmente
quando as amostras de madeira chegam ao laboratório para análise. A xiloteca e a laminoteca do
Centro das Florestas e Produtos Florestais, constituem bases importantes para consulta e estudo
comparativo das amostras de madeira.

Search for new treatments of tuberculosis

Małgorzata Palczewska e Patrick Groves


Instituto de Tecnologia Química e Biológica, Universidade Nova de Lisboa

The World Health Organization monitors tuberculosis and has developed a plan to eradicate this
disease by 2050. Tuberculosis is virtually eradicated from Europe with a declining number of 8
million cases each year in the world. Tuberculosis is a difficult disease to treat and medication
consists of a cocktail of antibiotics delivered over a year. Antibiotic resistant strains of
tuberculosis have developed because many patients do not complete their treatments. Drug-
resistant tuberculosis is particularly devastating amongst HIV patients in southern African
countries. The costs of treating drug-resistant tuberculosis are high yet tuberculosis has the
potential to return to the level of being the major killer throughout the world. We collaborate
with researchers in Spain and India to identify new tuberculosis targets for drug therapy and to

52
determine their 3D structures. The second stage of our project is to identify new drugs from old.
To be more exact, we try to fit the structures of known, licensed drugs into our 3D target
structures. We believe it is possible that a known drug developed for a different disease might
prove useful in the fight against tuberculosis. We are also interested in following an ethno-
pharmaceutical route to developing new treatments. We are happy to talk with all researchers
with knowledge of local treatments for tuberculosis that have not been tested in the medical
literature.
This work was supported by the Fundação para a Ciência e Tecnologia through project PEst-
OE/EQB/LA0004/2011 to ITQB and SFRH/BPD/65762/2009 to MP. Additional funding was
obtained from the ERA NET New INDIGO project.

Search for plants to treat cholera

Magdalena KomiaŜyk, Małgorzata Palczewska e Patrick Groves


Instituto de Tecnologia Química e Biológica, Universidade Nova de Lisboa

The World Health Organization monitors diarrheal diseases caused by Vibrio cholera, Shigella
dysenteria and Escherichia coli as a major health concern. These diseases cause 250m cases and
2.5m deaths each year. Oral rehydration therapy (ORT), a solution of sugar and salt, is the main
treatment for diarrhea. We are interested in using plant remedies to improve ORT. The potential
advantages of plants include the delivery of a range of vitamins and minerals that are absent
from ORT, delivery of natural chemicals that are bacteriostatic or bactericidal, and to deliver
flavors that will mask the natural taste of ORT. There is much information in the literature, and
on the web, that identifies plants used to treat cholera. However, few plants have been subjected
to rigorous medical trials. Our project uses lab models to characterize which plants can treat
cholera and how they work. We would like to talk with ethnologists on ways to add to our plant
lists. Our plant list currently lists common, European plants. We would like to use sustainably
obtained plants from other parts of the world - we would like to talk with botanists with such
knowledge. We are happy to discuss our work with the general public, to listen to their ideas
and our science.
This work was supported by the Fundação para a Ciência e Tecnologia through projects
PTDC/QUI-BIQ/115298/2009 to PG, PEst-OE/EQB/LA0004/2011 to ITQB and
SFRH/BPD/65762/2009 to MP.

Jardim de Macau – espaço de simbolismo e ciência no Jardim Botânico Tropical

Maria Cristina Duarte, Margarida Pinheiro, Graça Machado e Isabel Moura


Jardim Botânico Tropical, Instituto de Investigação Científica Tropical

O Jardim de Macau ou Jardim Oriental foi começado a construir em 1949, ocupando uma área
de cerca de 5 000 m2 do Jardim Botânico Tropical (JBT). Passados 60 anos sobre a sua criação,
o Jardim de Macau proporciona uma particular proximidade com a natureza constituindo um
local onde se realçam símbolos da cultura chinesa e onde se evocam as ligações históricas e
culturais e os laços afetivos entre Portugal e China.
Nas últimas décadas, os jardins botânicos sofreram uma autêntica revolução, tendo havido um
aumento da sua importância social e um crescente compromisso com a conservação da
biodiversidade, com a investigação e com a educação pública para o conhecimento e respeito
pela natureza.
O Jardim de Macau possibilita o estudo e a preservação de um grande número de espécies
orientais e encerra um elevado valor didático, enquanto mostra de alguns grupos taxonómicos

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representativos da região asiática. Acresce o facto de, ao pertencer ao Instituto de Investigação
Científica Tropical, instituição vocacionada para a investigação e para o desenvolvimento em
zonas tropicais, poder assumir um pólo dinamizador de intercâmbios em diversas áreas de
atividade.
Pretende-se dar a conhecer o valor deste jardim, no que respeita ao seu arboreto e outro
património, que engloba muito do simbolismo oriental, bem como esboçar o seu
desenvolvimento desde que foi construído e, assim, contribuir para a sua salvaguarda e para o
reconhecimento do seu interesse científico, cultural e histórico.

Cartografia Geológica da Guiné-Bissau

Paulo H. Alves
LNEG - Laboratório Nacional de Energia e Geologia

Descrevem-se métodos de trabalho particulares, adotados para efetuar a nova Carta Geológica
do país, face às características próprias do território e a condicionantes nos meios envolvidos no
Projeto. Apresentam-se também alguns dos resultados obtidos.
A Guiné-Bissau caracteriza-se por ser um país muito aplanado, em que menos de 8 % do
território tem cota superior a 100 m, com uma rede hidrográfica muito penetrativa e extensas
áreas de aluviões e mangal. Constata-se uma aparente monotonia geológica, com presença de
solos avermelhados e lateritos, dispersos numa vegetação densa que apenas se reduz na época
seca.
A metade Este da Guiné-Bissau é constituída por um substrato paleozóico e precâmbrico, que
aflora apenas em cerca de 5% da área devido a coberturas cenozóicas de espessura até 30m; por
seu turno na metade Oeste ocorre a Bacia Mesocenozóica, relacionada com a abertura do
Atlântico, formada por preenchimento sedimentar em progradação. Os afloramentos são raros e
com quase total ausência de barreiras para cortes geológicos, o que dificulta a definição da
coluna litostratigráfica e a colheita de amostras.
Foram assim desenvolvidos métodos de trabalho apropriados, destacando-se: 1- Implementação
gradual de uma técnica de descida em poços artesanais de captação de água, o que permitiu
obter amostras representativas e descrever a série litológica atravessada; 2- Acompanhamento
de projetos de sondagens para captação de água, com amostragem litológica de níveis mais
profundos; 3- Consulta de todos os logs de sondagens e poços efetuados no país, sendo
selecionados 1400 para definir e delimitar unidades litostratigráficas; 4- Pesquisa de novos
afloramentos e barreiras, recorrendo a inquérito aprofundado na maioria das aldeias, o qual
permitiu localizar ocorrências e unidades; 5- Consulta de toda a informação geológica existente
nas Direções Gerais de Geologia e Minas, e dos Recursos Hídricos, sendo integrados os estudos
empreendidos por outras entidades, com relevo para dados de pesquisa mineira, pesquisa de
hidrocarbonetos, hidrogeologia e deteção remota.
Características gerais e resultados e: i) A análise sedimentológica permitiu constatar o
predomínio do ambiente fluvial, inclusive no Arquipélago dos Bijagós; ii) Através da análise de
proveniência dos sedimentos cenozóicos presentes, conclui-se que é de privilegiar o Fouta
Djalon (Guiné Conakry) como cadeia montanhosa que terá contribuído de forma primordial
como fonte de fornecimento de sedimentos para a Guiné-Bissau; iii) Salienta-se como principal
agente de transporte sedimentar a rede hidrográfica do Corubal; iv) A evolução do relevo foi
importante no Quaternário, com o desenvolvimento de vastos glacis e encouraçamentos,
verificando-se uma hierarquização de patamares com expressão no modelado atual; v) Com uma
plataforma continental muito aplanada, de grande extensão e largura e com testemunhos de
lateritizações e de antigas linhas de costa a vários níveis, é de considerar que os Bijagós terão
constituído um prolongamento do território emerso da Guiné-Bissau, geneticamente relacionado
com o transporte sedimentar proveniente das fontes já assinaladas.

54
Estudos geológicos em S. Tomé e Príncipe

Rita Caldeira
LNEG – Laboratório Nacional de Energia e Geologia. CeGUL – Centro de Geologia da Faculdade de
Ciências de Lisboa

Apresenta-se o avanço do conhecimento referente à geologia do arquipélago, desde os anos 40


até à última década, tendo em perspetiva a realização de estudos geológicos na ilha do Príncipe.
Embora a primeira referência sobre a geologia do arquipélago pertença a Springer (1886), um
dos primeiros estudos geológicos da ilha de S. Tomé data de 1942 é da autoria de A. C.
Mendelshon, inserido na prospeção de petróleo realizada para a Direção-Geral de Fomento
Colonial. Este esboço, na escala aproximada de 1:200.000, foi publicado mais tarde por Teixeira
(1949), acompanhando uma descrição da geologia geral da ilha. Posteriormente, Neiva (1956a,
1956b) publica esboços geológicos das ilhas de S. Tomé e do Príncipe, também na escala de
1:200.000, após ter realizado trabalhos de reconhecimento geológico naquelas ilhas, sob a égide
do atual IICT (antiga JMGIU). Destacam-se ainda estudos petrográficos (Assunção, 1956, 1957;
e Neiva, 1954a) e petrogeoquímicos (Neiva, 1954b; e Aires-Barros 1960, 1990). As ilhas de S.
Tomé e do Príncipe foram, também, objeto de estudos pontuais, no âmbito de investigações
sobre a 'Linha dos Camarões', sendo referidas algumas datações e dados isotópicos (e.g.
Halliday et al., 1988 e Lee et al., 1994).
O Centro de Geologia do IICT e o Departamento de Geologia da FCUL iniciaram, em 1994,
uma ação de cooperação com o Governo Santomense para a elaboração do Mapa Geológico do
Arquipélago de S. Tomé e Príncipe na escala de 1:25.000, retomando assim os trabalhos de
campo sistemáticos que há muito tinham sido interrompidos naquelas ilhas. Estes levantamentos
geológicos, efetuados em S. Tomé de 1994 a 2002, com o apoio do atual IPAD e da DRNE de
S. Tomé e Príncipe, bem como a obtenção de análises geocronológicas K-Ar, de rocha total e
mineraloquímicas, possibilitaram a definição da sequência litoestratigráfica da ilha e a
publicação, em 2006, de 4 folhas da Carta Geológica da ilha de São Tomé, e da respetiva notícia
explicativa em 2007. Atualmente, aguarda-se financiamento para e execução da Carta
Geológica da ilha do Príncipe cujo projeto foi submetido ao IPAD.

Uma visão plural para um contributo geoambiental na área da Grande Beira,


Moçambique

Ruben Dias1, J. Tomás Oliveira1, Dino Milisse2, Maria João Batista1, Lídia Quental1,
Judite Fernandes1 e Elsa Ramalho1
1. LNEG - Laboratório Nacional de Energia e Geologia
2. Direcção Nacional de Geologia de Moçambique

O Objetivo 7 de Desenvolvimento do Milénio, preconizado pela ONU no ano 2000 - Garantir a


sustentabilidade ambiental e a sua Meta 9 - Integrar os princípios do desenvolvimento
sustentável nas políticas e programas nacionais e inverter a atual tendência para a perda de
recursos ambientais, foram os princípios orientadores no desenvolvimento de um projeto de
cooperação entre LNEG, DNGM e IPAD, para a elaboração da Carta Geoambiental da Região
da Grande Beira, em Moçambique. Este documento pretende constituir uma ferramenta de
trabalho que incremente a utilização dos recursos ambientais, tendo como perspetiva reduzir a
percentagem de população sem acesso permanente a água potável (Meta 10) e melhorar
significativamente a vida de habitantes de bairros degradados (Meta 11).
A Carta Geoambiental verte-se nas diferentes valências ambientais, desde o conhecimento de
base da geologia da zona, da ocupação do solo, ao conhecimento intrínseco das zonas com
maior potencialidade de obtenção de água potável, zonas contaminadas e com qualidade dos
solos e sedimentos. Para tal, efetuou-se a caraterização das diferentes unidades geológicas, a
análise e processamento de imagens de satélite com validação de campo, a execução de perfis
de geofísica, a colheita e análise de amostras de águas, solos e sedimentos.

55
Por outro lado, sendo a Beira uma cidade portuária, rodeada pelo rio Pungué e pelo oceano
Índico, procedeu-se a uma análise multitemporal, com base em mapas e imagens, dos processos
da dinâmica litoral, de modo a mitigar impactos ao nível de erosão e acreção sedimentares.

Tema 2 – Ciência para o Desenvolvimento Global


4ª Sessão – Saber Tropical na era das ómicas

Mecanismos de Aclimatação a Baixas Temperaturas Positivas em Cafeeiro -


Contribuição para a Investigação Agrícola para o Desenvolvimento no Contexto de
Alterações Ambientais

José C. Ramalho1, António E. Leitão1, Ana S. Fortunato1, Luis F. Goulao1, Ana M.P.
Melo1, Paula Batista-Santos1, Patrícia Santos1, Elisabete Lopes1, Isabel M. Palos1,
Fernando C Lidon2, Paula Scotti-Campos3, Isabel P. Pais3, Ana D. Rodrigues4, Philip
Jackson5, António Lopes5, Fábio M. DaMatta6 e Ana Ribeiro1
1. Centro de Ecofisiologia, Bioquímica e Biotecnologia Vegetal, Instituto de Investigação Científica
Tropical
2. DCTB, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Nova de Lisboa
3. URGEMP, Instituto Nacional de Recursos Biológicos
4. Instituto Superior de Agronomia, Universidade Técnica de Lisboa
5. Instituto de Tecnologia Química e Biológica, Universidade Nova de Lisboa
6. Departamento de Biologia Vegetal, Universidade Federal de Viçosa, Brasil

No âmbito da missão do Instituto de Investigação Científica Tropical (IICT), o Centro de


Ecofisiologia, Bioquímica e Biotecnologia Vegetal (Eco-Bio) desenvolve a sua atividade em
temáticas como interações planta-ambiente, biodiversidade e segurança alimentar visando
contribuir para a resolução de questões de importância agronómica, social, ambiental e
industrial. Neste contexto, o Centro tem estabelecido várias parcerias com instituições de
países de zonas tropicais, designadamente da CPLP. Os projetos em curso integram a
fisiologia, a bioquímica, a biotecnologia, a fitopatologia e a tecnologia pós-colheita e
desdobram-se em quatro categorias: i) investigação fundamental e aplicada; ii)
desenvolvimento rural; iii) formação e capacitação; iv) sociedade civil.
Num contexto de alterações climáticas globais os estudos da relação planta-ambiente em
cafeeiro, existentes neste Centro (e nas unidades que o antecederam) há mais de 40 anos,
revelam-se mais atuais que nunca. Os estudos sobre mecanismos de tolerância desta planta
tropical a stresses abióticos (por exemplo, a baixas temperaturas e défice hídrico) têm
revelado a existência de importante variabilidade genética no género Coffea. Tal possibilitará
a seleção e melhoramento de genótipos para cultura em zonas com importante ocorrência de
baixas temperaturas. Assim, apesar do cafeeiro ser sensível a baixas temperaturas positivas, a
presença e reforço de mecanismos de aclimatação permitem à planta fazer ajustes
metabólicos e estruturais num ambiente em constante mudança. Conclui-se que, mais que
alterações dramáticas de um mecanismo em particular o genótipo menos sensível (C. arabica
cv Icatu) apresenta um conjunto de alterações moderadas que permitem a aclimatação a
condições de frio (4 ºC), com particular relevo para o reforço do sistema antioxidativo e a
alterações na constituição da matriz lipídica do cloroplasto.

56
Isotopes as a Tool for Geographic Fingerprinting of Coffee (The IsoGeoCoffee
Project)

Carla Rodrigues1, Rodrigo Maia1, Marta Pimpão1, Marion Brunner2, Gabriel J. Bowen3,
José C. Ramalho4, Loren Gautz5, Thomas Prohaska2 e Cristina Máguas1
1. University of Lisbon, Faculty of Sciences, Center for Environmental Biology, Stable Isotopes and
Instrumental Analysis Facility (SIIAF)
2. University of Natural Resources and Life Sciences (BOKU-UFT) Department of Chemistry Research
group of Analytical Chemistry - VIRIS Laboratory
3. University of Purdue, Department of Earth and Atmospheric Sciences, Purdue Climate Change
Research Center
4. Centro de Ecofisiologia, Bioquímica e Biotecnologia Vegetal, Instituto de Investigação Científica
Tropical
5. Department of Molecular Biosciences and Biosystems Engineering

In the present work, several spectroscopic techniques were applied for the differentiation of
different types of coffee and of their geographical origin. In a first approach, a study on the
application of Raman spectroscopy to the differentiation of coffee type (Arabicaversus Robusta)
was developed based on the determination of kahweol content. Then, Isotope Ratio Mass
Spectrometry (IRMS) was applied for the determination of the isotopic composition of carbon
(C), nitrogen (N) and oxygen (O) of the green coffee bean, allowing coffee differentiation at
continental level. Subsequently, IRMS was combined with Inductively Coupled Plasma Mass
Spectrometry (ICP-MS), to determine the isotopic composition of strontium (Sr) in the coffee
bean. The results obtained demonstrated that the isotope ratios of Sr and O were promising for
coffee authenticity certification, as these elements reflect the local geology and hydrology.
However, in order to expand the understanding of how environmental factors determine the
isotopic composition of the different elements on the green coffee bean, it was necessary to
study a model region of production, in which Hawai’i was selected. This approach allowed the
discrimination of coffee beans from the different islands of Hawai’i. In addition, IRMS was
applied to measure the isotopic composition of the caffeine molecule (δ18Ocaff) previously
extracted from the green coffee bean. As O isotopes of caffeine molecule originate from the
metabolic water of plant tissues, this analytical approach constitutes a complementary tool for
studies on the ecophysiology of the coffee plant.

Caracterização de diferentes genótipos de cafeeiro e estudo da influência do grau


de torra na qualidade do café

Natalina C. Bicho1, 2, António E. Leitão2, José C. Ramalho2 e Fernando C. Lidon1


1. DCTB, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Nova de Lisboa
2. Centro de Ecofisiologia, Bioquímica e Biotecnologia Vegetal, Instituto de Investigação Científica
Tropical

No seguimento de estudos sobre café, nomeadamente de Angola, iniciados pela Missão de


Estudos Agronómicos do Ultramar nos anos 60, prosseguidos pelo seu sucessor, o Centro de
Estudos de Produção e Tecnologia Agrícolas e mais recentemente pelo Centro de Ecofisiologia,
Bioquímica e Biotecnologia Vegetal, todos do Instituto de Investigação Científica Tropical,
apresentam-se nesta comunicação os resultados dos estudos de caracterização de cinco
genótipos de cafeeiro do Brasil, assim como da influência de diferentes graus de torra na
qualidade do grão e da bebida, de um arábica do Brasil e de um robusta da Índia.
Do ponto de vista comercial, considerando o tamanho do grão e a homogeneidade comercial,
Coffea dewevrei parece ser o melhor produtor dos cinco genótipos estudados. Contudo, tem
tendência para formar semente mal granada.
Os resultados da análise aos cafés verdes, arábica e robusta, apontam para a existência de
diferenças significativas em relação a todos os parâmetros, com exceção dos sólidos solúveis.

57
Com a torra as diferenças tendem a diminuir e a tornar-se menores com a extração da bebida.
Nas bebidas, a extração revelou tendência para ser ligeiramente superior em Arábica,
comparativamente a Robusta. Desde o café verde até à bebida, verificou-se a diminuição da
importância de alguns parâmetros de natureza química, na discriminação das amostras. Alguns
dos ácidos clorogénicos foram particularmente relevantes para discriminar as amostras pelo
grau de torra e a cafeína para a discriminação pela espécie. Outros compostos, assim como o
pH, revelaram menor capacidade de separação das amostras.

Avaliação e caraterização de genótipos de purgueira

Maria José Silva, Maria Manuela Ferreira-Pinto, Ana Fortunato, Luís Goulão, António
Eduardo Leitão, Carminda Leitão, Mário Rui Santos, José Cochicho Ramalho e Ana
Ribeiro
Centro de Ecofisiologia, Bioquímica e Biotecnologia Vegetal, Instituto de Investigação Científica
Tropical

A cultura da purgueira (Jatropha curcas) para a produção de biodiesel foi alvo, na última
década, de grande interesse económico a nível mundial. Paralelamente, porque o conhecimento
científico sobre esta cultura era escasso, iniciaram-se muitos trabalhos de investigação.
No âmbito do Protocolo entre o Eco-Bio/IICT e a Geocapital Holdings, foi possível obter uma
coleção representativa de amostras de purgueira com base na qual se têm realizado diversos
trabalhos de investigação.
O objetivo geral destes estudos tem sido avaliar as amostras relativamente a características
importantes do ponto de vista da exploração económica da cultura.
Foi efetuada a caracterização genótipica das amostras por métodos moleculares e a
caracterização da variabilidade fenótipica com base em parâmetros morfológicas das plantas e
na composição química das sementes (teor em óleo e proporção relativa de ácidos gordos).
Iniciou-se a avaliação da resistência a stresses bióticos (doenças) e abióticos (secura e frio), o
estudo dos mecanismos moleculares envolvidos nestes processos e a identificação de técnicas
culturas que permitam a otimização da cultura (eficácia da utilização de condicionadores de solo
na gestão da água).

Texto escrito ao abrigo do Novo Acordo Ortográfico

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Emails dos autores:
Ana Cannas ana.canas@iict.pt Pág. 10
Abdou Sané elazisane@hotmail.com Pág. 27
Alexandra Campos alexandra.campos@ulusofona.pt Pág. 47
Pág. 18, 37, 38 e
Ana Cristina Martins ana.martins@iict.pt
39
Ana Cristina Roque ana.roque@iict.pt Pág. 12
Ana D. Rodrigues Pág. 56
Ana Isabel Correia aicorreia@fc.ul.pt Pág. 33
Ana M. Morgado anamorgado@iict.pt Pág. 36
Ana M.P. Melo ana.melo@iict.pt Pág. 25 e 36
Ana Magro ana.magro@netcabo.pt Pág. 45
Ana P. Pereira appereira@iict.pt Pág. 32
Ana Ribeiro aribeiro@itqb.unl.pt Pág. 25, 29 e 56
Pág. 56
Ana Sofia Fortunato ana.fortunato@iict.pt; anasofia@itqb.unl.pt
Andreia de Almeida drandreia.almeida@gmail.com Pág. 41
Andreia Loureiro andreia_loureiro@msn.com Pág. 32
Anita Correia Lima de Almeida anita.correialima@gmail.com Pág. 20
António Barbosa affbarbosa@iict.pt Pág. 45
António Carmo Gouveia gouveia.ac@gmail.com Pág. 24
António E. Leitão antonio.leitao@iict.pt Pág. 29, 56 e 57
António José Duarte Costa Canas costacanas@gmail.com Pág. 45
António Lopes Pág. 56
Antonio Martínez antosanmar@gmail.com Pág. 17
Bruno Evangelista bruno_evangelista@hotmail.com Pág. 39
Carla Rodrigues cirodrigues@fc.ul.pt Pág. 57
Carlos Almeida carlos.almeida@iict.pt Pág. 23
catarina.mateus@iict.pt ; Pág. 34
Catarina Mateus
catarina.mateus@gmail.com
Catarina Pires catarina.pires@gmail.com Pág. 10
Cláudia Cardoso claudiacardosobh@hotmail.com Pág. 35
Conceição Casanova ccasanova@iict.pt Pág. 10
Cristiane Bastos-Silveira cbsilveira@fc.ul.pt Pág. 29 e 48
Cristina Brito cristina.brito@escolademar.pt Pág. 49
Cristina Máguas cmhanson@fc.ul.pt Pág. 57
Cristina Picanço cristina.picanco@gmail.com Pág. 49
Cristina Pombares Martins crisaugst@gmail.com Pág. 42
Daniela Matos danielaf_matos@hotmail.com Pág. 39
Dino Milisse dinomilisse@yahoo.com.br Pág. 55
Dora Batista dccastro@fc.ul.pt Pág. 32
Eduardo Gozalbes García Pág. 41
Elisa Maia elisamaia@gmail.com Pág. 42
Elisabete Lopes Pág. 56
Elsa Gomes eteixeiragomes@sapo.pt Pág. 44
Elsa Ramalho elsa.ramalho@lneg.pt Pág. 55
Enrique Gozalbes Cravioto Enrique.Gozalbes@uclm.es Pág. 23 e 41
Esperança Costa esperancacosta@yahoo.com Pág. 27
Eugénia Rodrigues sazora@sapo.pt Pág. 20
Pág. 28, 36, 44 e
Eurico Sampaio Martins martins.eurico@gmail.com
50
Fábio M. Da Matta Pág. 56
Fernanda Bessa fbessa732@gmail.com Pág. 51 e 52
Fernando C. Lidon fjl@fct.unl.pt Pág. 29, 56 e 57
Fernando Campos p333@ulusofona.pt Pág. 47
Francisco Palma Gomes fgomes@igeoe.pt Pág. 12
Gabriel J. Bowen gjbowen@purdue.edu Pág. 57
Gilberto Pereira ggpereira@ci.uc.pt Pág. 10
Graça Barros gracafragabarros@hotmail.com Pág. 45

59
Graça Machado graca.machado@iict.pt Pág. 53
Helena Gil Azinheira helena.azinheira@iict.pt Pág. 32
Helena Gozalbes García Pág. 41
Helena Sant’ana hsantana@iscsp.utl.pt Pág. 45
Inês Carvalho carvalho.inesc@gmail.com Pág. 49
Inês Castelo inesfrcastelo@gmail.com Pág. 39
Inês Pinto ines.pinto@iict.pt Pág. 34
Inês Santos inesssantos@hotmail.com Pág. 50
Isabel Maria Madaleno isabel.madaleno@iict.pt Pág. 44
isabel.moura@iict.pt ; Pág. 51 e 53
Isabel Moura
isabelmmoura@gmail.com
Isabel P. Pais Pág. 56
Isabel Palos isabelpalos@iict.pt Pág. 25 e 56
Isabel Queirós Neves i.queirosneves@gmail.com Pág. 29 e 48
Isabel Serra isabelserra@netcabo.pt Pág. 42
J. Tomás Oliveira tomas.oliveira@lneg.pt Pág. 55
João Pedro Cunha Ribeiro jpcunharibeiro@netcabo.pt Pág. 38
João Senna-Martínez smartinez@iol.pt Pág. 39
João Tavares tavaresjeb@gmail.com Pág. 49
Jorge A. Pinto Paiva jorge.paiva@iict.pt Pág. 31
Jorge Pais de Sousa jpsousa@sib.uc.pt Pág. 24
Pág. 25, 29, 56 e
José Cochicho Ramalho cochichor@mail.telepac.pt
57
mc.liberato@sapo.pt Pág. 25
José E. Mendes Ferrão
(Maria Cândida Liberato)
José Manuel Brandão josembrandao@gmail.com Pág. 11
Judite Fernandes judite.fernandes@lneg.pt Pág. 55
Juliana Torquato juliana_tq@yahoo.com.br Pág. 47
Leonardo Veronez lveronez@hotmail.com Pág. 47
Leonor Guerra-Guimarães leonor.guimaraes@iict.pt Pág. 32
Lídia Quental lidia.quental@lneg.pt Pág. 55
Lívia Ferrão livia.ferrao@iict.pt Pág. 43
Loren Gautz lgautz@hawaii.edu Pág. 57
Luís Alfredo Silveira silveira@cse.ufsc.br Pág. 27
Pág. 27, 28, 33, 36,
Luís Catarino lcatarino@iict.pt
49 e 50
Luís F. Goulão goulao@iict.pt Pág. 25, 29 e 56
Luís Frederico Antunes luisfredantunes@netcabo.pt Pág. 18
Luís Pequito Antunes luispequito@netcabo.pt Pág. 11
Luiz Oosterbeek oost@ipt.pt Pág. 42
M. Ferreira-Pinto mmfp@iict.pt Pág. 58
M. Otília Carvalho motiliac@iict.pt Pág. 45
M. Teresa Gonçalves mtgoncal@ci.uc.pt Pág. 24
Mª José Silva mjsantos@iict.pt Pág. 58
Mário Rui Santos mariosantos@iict.pt Pág. 58
Madalena Cunha Matos mcunhamatos@fa.utl.pt Pág. 21
Madalena Fonseca madfons@isa.utl.pt Pág. 34
Magdalena Komiazyk mkomiazyk@itqb.unl.pt Pág. 53
Małgorzata Palczewska mpalczewska@itqb.unl.pt Pág. 52 e 53
Manoel Fernandes de Sousa Neto manoelfernandes@usp.br Pág. 43
Manuel Lobato mlobato@iict.pt Pág. 16
Margarida Pinheiro margarida.pinheiro@iict.pt Pág. 53
Maria Adélia Diniz adeliadiniz@gmail.com Pág. 28, 36 e 44
Pág. 28, 33, 37, 43,
Maria Cristina Duarte mcduarte@iict.pt
49, 51 e 57
Maria Cristina Simões-Costa cristina.simoes@iict.pt Pág. 51
Maria da Piedade de Jesus jesuspiedade@yahoo.fr Pág. 13
Maria das Graças Lins Brandão mglinsbrandao@gmail.com Pág. 24
mcarmonunes@hotmail.com; Pág. 36
Maria do Carmo Nunes
mcarmonunes15@gmail.com

60
Maria do Céu Silva mariadoceusilva@gmail.com Pág. 32
Maria João Batista mjoao.batista@lneg.pt Pág. 55
Maria João Soares mariajoaosoares@yahoo.co.uk Pág. 16
Pág. 28, 37, 43 e
Maria Manuel Romeiras mromeiras@iict.pt; mromeiras@yahoo.co.uk
49
Maria Manuel Torrão mmanueltorrao@hotmail.com Pág. 12 e 43
Maria Manuela de Castro Restivo manuelarestivo@hotmail.com Pág. 35
Mariana de Oliveira Couto mariana.oliveira.couto@gmail.com Pág. 19
Marion Brunner marion.brunner@gmx.at Pág. 57
Marta Pimpão martapimpao@ginjadeobidos.com Pág. 57
Natacha Catarina Perpétuo natachaperpetuo@gmail.com Pág. 24
Natalina C. Bicho natalina.cavaco@gmail.com Pág. 57
Nicolas Valdeyron valdeyro@univ-tlse2.fr Pág. 14
Olga Silva odsilva@ff.ul.pt; Pág. 44
Patrícia Conde patricia2conde@gmail.com Pág. 28 e 37
Patrícia Santos patriciaferreirasantos@gmail.com Pág. 56
Patrick Groves pgroves@itqb.unl.pt Pág. 52 e 53
Paula Batista-Santos pbbsantos@iict.pt Pág. 56
Paula Cristina Santos paula.santos@iict.pt Pág. 12 e 26
Paula Scotti-Campos Pág. 56
Paulo H. Alves paulo.hagendorn@lneg.pt Pág. 30 e 54
Paulo Valongo paulovalongo@yahoo.com.br Pág. 40
Pedro M. P. Raposo pmraposo@fc.ul.pt Pág. 19
Pedro Talhinhas ptalhinhas@iict.pt Pág. 32
Philip Jackson Pág. 56
Ricardo Pereira pereirarjr@yahoo.com Pág. 20
Rita Caldeira rita.caldeira@lneg.pt Pág. 54
Rita Guerra ritaaguerra@hotmail.com Pág. 33
Rita Juliani Poloni julianapoloni@hotmail.com Pág. 38
Rodrigo Maia rnmaia@fc.ul.pt Pág. 57
Ruben Dias ruben.dias@lneg.pt Pág. 55
Pág. 28, 36, 49 e
Rui Figueira rpfigueira@gmail.com
50
Samuël Coghe samuel.Coghe@eui.eu Pág. 21
Sandra Fernandes sandra.domingues@campus.ul.pt Pág. 12
Sérgio Neto sgdneto@gmail.com Pág. 14
Solange Laura Macamo solangemacamo@gmail.com Pág. 13
Sonia Domingos tasonia2000@yahoo.fr Pág. 14
Susana Matos scbcmatos@gmail.com Pág. 33
Susana Saraiva susanasaraiva1985@gmail.com Pág. 28 e 36
Susana Sousa Araújo ssaraujo@gmail.com Pág. 32
Tânia Beisl Ramos taniaramos@fa.utl.pt Pág. 21
Teotónio R. de Souza teodesouza@gmail.com Pág. 31
Teresa Quilhó teresaq@iict.pt Pág. 52
Thomas Prohaska thomas.prohaska@boku.ac.at Pág. 57
Tiago Brandão brandao.tiago@gmail.com Pág. 15
Vera Figueiredo vera.figueiredo@lneg.pt Pág. 29
Vera Mariz verinhamariz@hotmail.com Pág. 22
Victor Filipe victor.filipe7@gmail.com Pág. 39
Vítor Rodrigues rodrigues.v@gmail.com Pág. 18
Vítor Várzea vitorvarzea@clix.pt Pág. 32

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Notas
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Índice

Apresentação 3

Programa 5

Comunicações orais 10

Posters 33

Emails dos autores 59

Notas 62

69

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