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RESUMO DA OBRA
1) QUESTÕES PRELIMINARES
1.1 Teorias Sobre o Nascimento do Direito. O Mito do Pré-direito
O capítulo inicia apresentando duas visões sobre a ligação entre o direito e o
Estado. A primeira perspectiva, difundida principalmente por Michael Gagarin, trabalha
com a hipótese de que o direito não existia nas sociedades tribais ou pré-literárias, ligando
a existência do direito a do Estado; sendo esta uma ótica evolucionista do direito. A
segunda, relativista, na qual GASTALDI se baseia durante o livro, identifica o direito de
modo mais flexível, nessa vertente “(...) são jurídicas todas as regras concebidas e
aplicadas como obrigações de vínculo. ” (GASTALDI, Viviana, p. 11).
A autora fala de um direito penal em gestação baseando-se no postulado de
Hoebel, no qual sustenta que:
“(...) quando a comunidade considera justo e correto o exercício da força por parte do
indivíduo que sofreu um dano, ou por parte do grupo parental em uma situação
determinada, e, ao mesmo tempo impede ao transgressor o contra-ataque, o direito
prevalece e a ordem triunfa sobre a violência. ” (GASTALDI, Viviana, p.12)
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A partir dessa declaração inicial, que especifica como funciona o matrimônio na
antiga sociedade grega, o capítulo segue expondo sobre as sanções e precauções tomadas
em caso de quebre desse contrato conhecido como casamento. Por causa da eedna, que
consiste em presentes ofertados pelo marido ao pai da noiva como salvaguarda, é possível
a realização de uma das sanções materiais, a devolução do dote em caso de traição
feminina. Existem outras formas de penalidade, continua a autora, sendo elas: “(...) o riso
e a sanção psíquica, (...) e o pagamento de multa. ” (GASTALDI, Viviana, p.38). É
utilizado o mito da traição de Afrodite e da armadilha fabricada pelo seu marido Hefesto
como forma de exemplificação de como as sanções eram aplicadas na época.
O fato de que o ressarcimento material por adultério se chamar moikheia e não
poiné para a autora representa um aperfeiçoamento do sistema reivindicatório, uma maior
especificidade. A mulher, durante todo esse processo, era vista como a parte “seduzida”
cujo único futuro possível era repleto de vergonha e humilhação além do retorno imediato
à casa paterna, que somente reitera a degradação pública. A lapidação, que por muitas
vezes ocorreu, era uma sanção coletiva e pública, termina GASTALDI.
É possível constatar, a partir do texto preciso de GASTALDI, que a legislação
grega, o mundo grego, é extremamente patriarcal. Além do fato das mulheres não serem
consideradas cidadãs ou até mesmo criaturas tão inteligentes quanto os homens, é negado
a elas até o direito de uma escolha independente. Ao definir que a mulher é sempre a
“seduzida”, a sociedade grega afirma que ela não tem capacidade para tomar tal atitude,
retiram dela o poder de decisão sobre a própria vida, mesmo que esta decisão seja
moralmente reprovável.
A gravidade das punições destinadas às adulteras mostra o quanto a sociedade
repreende a mulher que sai dos padrões impostos. A lapidação que era comum no caso de
adultério, lê-se punição feminina, era rara a sua aplicação para os homens, reservada para
delito grave de traição ao Estado. A sociedade punia as mulheres que rejeitavam o papel
imposto a elas com a mesma aspereza de um traidor do Estado; vale ressaltar que essa era
o maior e mais repulsivo crime que um homem poderia cometer pois era um crime contra
a própria sociedade.
Enquanto a autora destinou algumas páginas para explicar as origens para as
punições dos homens da época, os “cidadãos”, não destina espaço algum para fazer o
mesmo sobre as punições femininas; o que condiz com a visão centralizada no homem
que a história tem e que se estende nas mais diversas áreas do conhecimento.
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2.6 O Abandono Noxal
Esta parte do livro aborda o abandono noxal, que consiste no rompimento entre o
genos e o homicida, a quebra da solidariedade que ali havia, quando e para que este parta
para o exílio. Com desenvolvimento deste comportamento, que rompe com características
profundas daquela sociedade, reflete para a autora o marco da “criação” do princípio de
responsabilidade.
No fim do capítulo GASTALDI conclui que “No caso do adultério (...) não existe
nenhuma ação contra a família do sedutor. ” (GASTALDI, Viviana, p.41), o que apenas
reitera que as maiores sanções, nesse caso, ficam para a mulher, que é considerada a parte
“seduzida”. Isso mostra que apesar da mulher ser a “seduzida” a responsabilidade ainda
é dela. Fica claro a partir das informações apresentadas no texto, mesmo que algumas
vezes não abranjam todos os ângulos, que há uma situação de “dois pesos e duas
medidas”. O grande enfoque nas punições para o masculino, a grande diversidade dessas
punições transpassa a exclusão da mulher; a própria ideia de que elas poderiam cometer
os mesmos tipos de delitos que os homens, aparentava ser tão absurda que não há nem
punição prevista.
3) A ÉPOCA CLÁSSICA
3.1 A Evolução do Sistema Penal. O Código de Leis de Dracon
O capítulo se inicia com as afirmações da autora de que foi a partir da separação
dos poderes e das funções judiciais que se iniciou a edificação das instituições jurídicas,
e que, com a propagação do alfabeto, a escrita tornou-se pré-requisito para o surgimento
da legislação.
A partir das leis de Dracon, o Estado passa a ser o único com autoridade para punir
o homicida, com intenção de “(...) substituir o regime de vingança privada pela repressão
social e colocar freio ao derramamento de sangue (...)” (GASTALDI, Viviana, p.46). É
nelas que “(...) aparece pela primeira vez a distinção entre homicídio premeditado,
voluntário e homicídio involuntário. ” (GASTALDI, Viviana, p.47). A única forma de
sanção pública na legislação de Dracon é o exílio. A partir da distinção entre os tipos de
homicídio surge diferentes tribunais para julgar cada categoria do delito, e diferentes
sanções para os diversos crimes.
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se deve ter sanção punitiva, a única unanimidade que há é o fato da purificação ser
indispensável.
Novamente verifica-se que o imenso temor da mácula, o medo de ser contaminado
pelo crime e a necessidade de ser puro dominam e regem a sociedade grega antiga.
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O processo é formado por uma série de formalidades. Na primeira parte do
processo ocorre a anakrisis, que consistia na apresentação de um documento (lexis) com
todas as informações sobre o caso e no juramento das duas partes, em nome dos deuses.
Os argumentos de probabilidade eram formados por três partes:
“(...) premissa maior, algo que ambas as partes estão de acordo; premissa menor, que é a
comprovação que gera mudança de opinião; e, por fim, a conclusão, que supõe uma
mudança, uma consolidação dos pontos de vista do auditório (...)” (CORTES
GABAUDAN, Francisco, 1994, p.206)
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“(...) a cena do julgamento por homicídio representa a ritualização de uma forma de
penalidade racional e institucionalizada, que substitui o antigo sistema reivindicatório
pelo sangue. ” (GASTALDI, Viviana, p.79).
Durante todo o processo retratado pela autora, é possível identificar tanto a enorme
importância da oratória, Apolo convence os juízes principalmente com argumentos entekhnoi bem
articulados, quanto a da burocracia, Orestes não pode se declarar inocente como o costume manda
o que causa um certo problema e necessidade de adaptação.
4) A PENALIDADE
4.1 Abordagens da Penalidade. Considerações Gerais
A autora afirma que a punição deve ser analisada com uma perspectiva
sociológica: como ela interfere na vida na polis, qual o seu impacto no cotidiano, etc. A
penalização é um espetáculo que serve tanto para punir quanto para educar.
Ao fazer isso GASTALDI mostra-se preocupada com o impacto social exercido
pelas punições e na maximização do aproveitamento que cada condenação possibilita
para a sociedade.
“1. Os atos de vingança (...) não têm autoridade nem estão legitimados;
2. Na penalização, as bases de autoridade para a punição são legítimas e incontestáveis
(...);
3. A autoridade é criada através da obediência (consenso), mas também é capaz de criar
consenso e obediência mediante um conjunto de mecanismos racionais e emocionais.
Todo o sistema punitivo democrático estável depende disto, ou seja, legalidade, ação
pública e imparcialidade, aceitos pela maior parte da sociedade. ” (GASTALDI, Viviana,
p.86).
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diferenciação necessária, começa a fundamentar o que julga ser as bases para uma
legislação justa.
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emocional. Quando a legislação prevê essa diferenciação apenas para uma parcela da
sociedade, a comunidade nega a outra a existência de sua complexidade psicológica.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
“Direito Penal na Grécia Antiga” é um livro essencialmente didático no qual a
autora consegue com sucesso exibir como a sociedade grega se organizava para reprimir
certas ações e qual a visão da comunidade sobre esses atos. Por meio de exemplos de
mitos, que torna o livro um pouco mais leve, ilustra delitos e sanções.
Apesar de qualquer falha, o livro cumpre o seu papel na hora de elucidar o Direito
daquela época e de mostrar como o homem pensava as normas, de como ele via o mundo
jurista. Através da análise do livro é possível enxergar as influências daquele Direito,
daquelas ideias e pensamentos, no Direito de hoje.
Por ser um livro de fácil entendimento, que não necessita de grandes
conhecimentos jurídicos prévios, pode ser lido facilmente por qualquer pessoa que tenha
interesse pela área e, pelo seu método didático, especialmente para os estudantes de
direito.
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