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Resenha Crítica: Crime e Costume na Sociedade Selvagem – Bronislaw

Malinowski

Discente: Thiago Emanoel dos Santos Nascimento


Matrícula: 20240027937

0.1. Prefácio:
Precipuamente, no prefácio do livro, o autor além de ocupar-se com a
realização de agradecimentos a contribuintes de sua pesquisa, como o Royal Institution
da Grã-Bretanha, o etnólogo Raymond Firth e o Laura Spelman Rockfeller Memorial,
ele alerta a veloz extinção das raças descritas como selvagens, muito decorrente da
ocupação de seus territórios nativos , de forma consideravelmente agressiva, por
civilizações tecnologicamente mais desenvolvidas, mas também, a necessidade dos
estudos a cerca dessa sociológicos e antropológicos a cerca dessa problemática, que
como Malinowski afirma, se veem negligenciados na época em que escreveu sua obra.
Contudo, assim como ele mesmo afirma, os estudos devem manter seu caráter
“prático”, visando facilitar ao homem branco seus interesses de exploração
O sociólogo também destaca um importante discursão acerca da falta de
habilidade de análise prática dos antropólogos que se predispõem a uma pesquisa de
campo apenas com uma base teórica que muitas vezes sobre com a tendenciosidade
ideológica e o preconceito, criando barreiras no contato e compreensão direta com o
objeto de pesquisa, ou seja, impossibilitando uma análise eficiente dos dados
analisados, sejam eles as crenças, costumes e até mesmo ações individuais dos
nativos.
- “O explorador antropológico moderno, que vai para o campo totalmente treinado na
teoria, carregado de problemas, interesses e talvez de preconceitos, não está em condições nem
é o bastante prudente para manter as suas observações dentro dos limites dos fatos concretos e
dos dados circunstanciados.” -

0.2. Introdução:
Aqui, o pesquisador começa a introduzir o leitor no objeto analisado: a
sociedade selvagem. Partindo de uma premissa expansionista e exploratória ele
aborda fatores nos quais tal tipo de pesquisa é eficiente, tanto para a economia, como
o conhecimento do território e habitantes, o que facilita uma ocupação com menor
resistência, até um alastramento ideário, quando como ele mesmo diz “deveria se
tornar útil para aqueles que estão empenhados em educar e melhorar moralmente o
nativo”. Além disso, o mesmo também apresenta aspectos benéficos para as próprias
ciências antropológicas e psicológicas com esse tipo de análise, como a formação
moral e legal de uma civilização.
Malinowski também vem a criticar a falta de interesse da sociologia moderna
na pesquisa e discussão sobre as sociedades selvagens, principalmente em seus
quesitos organizacionais e, de certa forma, “judiciais”, ele destaca diversos trabalhos
anteriores, principalmente alemães, que se propuseram a analisar esses aspectos,
contudo de um ponto de vista aparentemente não concordante ao do autor da obra,
onde as questões da coletividade sobrepõem-se majoritariamente a qualquer questão
individual, ele contraria uma postura extremamente positiva, e de certo modo
“fantasiosa”, que autores passados determinavam sobre as leis selvagens, com uma
perspectiva de perfeita e extrema comunhão.

- “Em suma, com o dogma da ausência de direitos e responsabilidades individuais entre


os selvagens.” –

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1.1. A submissão automática ao costume e o problema real:
Inicialmente, após mostrar que os habitantes possuíam uma formulação e
submissão às designações legais, o autor apresenta um questionamento se o termo
“selvagem” é realmente apropriado nesse cenário, haja vista que, por mais que pouca,
aparentavam capacidades mentais suficientes para tal nível de organização social,
então, é apresentado o que pode ser descrito como “linha de resistência mínima”,
sendo uma forma de subserviência a moralidade e leis da sua sociedade a fim de evitar
conflitos, tanto no próprio grupo, quanto possíveis interferências sobrenaturais, sendo
isso análogo aos fatos sociais de Durkheim, onde a coerção, muitas vezes inconsciente
do grupo, preserva a harmonia e impede ações conflitantes dos indivíduos.
Tudo isso foge da ideia de completa libertinagem nesses indivíduos, sendo
percebido o completo oposto, eles acreditam e seguem fielmente e
inquestionavelmente ao pouco que lhes é imposto. O que, nesse quesito, os assemelha
ao homem tido como civilizado, sua forte adesão às regras a fim de evitar
consequências desarmônicas.
- “Não é contrário à natureza humana aceitar qualquer coerção como rotina, e o
homem, seja ele civilizado ou selvagem, algum dia executou regulações e tabus desagradáveis,
penosos e cruéis sem ser obrigado a isso? E obrigado por alguma força ou motivo a que ele não
pode resistir?” –

1.2. Economia da Melanésia e a Teoria do Comunismo Primitivo:


Nessa parte do texto é introduzida os aspectos econômicos da sociedade
estudada, sendo destacada a atividade da canoagem, que evidencia de forma clara a
capacidade organizacional e distributiva das comunidades nativas, como a delegação
de funções específicas, como o canoeiro, tripulação e construtores, mas também,
apresenta a existência da propriedade privada nessa sociedade, onde determinada
canoa aparenta ter seu dono legítimo com atribuições específicas.
Também nesse trecho, Malinowski critica autores anteriores que determinavam
as práticas econômicas selvagens, especificamente essas, como comunistas,
provavelmente pelo seu caráter com forte senso comunitário, onde o dono da canoa
não é permitido negar aos interessados em seu trabalho, a justa remuneração dos
envolvidos e a prioridade no bem comum dos indivíduos, contudo, os sociólogos
anteriores, de acordo com Bronislaw, cometiam generalizações indevidas, haja vista a
clara presença dos direitos, deveres privilégios e benefícios circundam esse objeto
privado, como a própria posse, obtenção por meio de financiamento prévio, gastos com
manutenção e títulos atribuídos por determinados fatores. Ele também conclui que as
ações comunitárias são as divisões de funções e o trabalho conjunto que visam a
chegada a um objetivo próprio, e/ou, mútuo.

- “A propriedade, portanto, não pode ser definida nem por palavras como
“comunismo” ou “individualismo”, nem pela referência ao sistema de “sociedade anônima” ou
“empresa pessoal”, mas pelos fatos concretos e as condições de uso. Ela é o somatório dos
deveres, dos privilégios e das reciprocidades que ligam os condôminos ao objeto e uns aos
outros.” –

1.2. A força vinculante das obrigações econômicas:


Aqui o autor explora a interconexão entre as práticas econômicas e as normas
sociais nas sociedades tribais, como por exemplo o escambo realizado entre aldeias da
área litorânea e central. Malinowski argumenta que as obrigações econômicas
desempenham um papel crucial na manutenção da coesão social e no cumprimento
das normas culturais. Ele analisa como os sistemas de troca, redistribuição e
reciprocidade são intrinsecamente ligados aos costumes e sistemas de justiça dessas
sociedades. Ao enfatizar a importância das relações econômicas na construção e
manutenção das redes sociais, Malinowski destaca como as transgressões econômicas
são tratadas dentro do contexto cultural e como são resolvidas através de mecanismos

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de retribuição e compensação. Em suma, o capítulo destaca a centralidade das
relações econômicas na vida social e legal das sociedades tribais, evidenciando a
complexa interação entre economia, cultura e sistemas de justiça.
- “Desse modo, no todo, cada comunidade tem muita necessidade dos seus parceiros.
Se, em qualquer momento anterior, estes foram culpados de negligência, contudo, eles sabem
que serão, de uma maneira ou de outra, severamente penalizados. Cada comunidade tem,
portanto, uma arma para a aplicação dos seus direitos: a reciprocidade.” –

1.3. Reciprocidade e organização dual:


Nesse capítulo o autor explora o papel fundamental da reciprocidade nas
relações sociais e sistemas de justiça das sociedades tribais. Malinowski destaca como
a reciprocidade, baseada na troca de favores e na obrigação de retribuição, é um
elemento central na manutenção da coesão social e da ordem moral. Ele analisa como
as relações sociais são organizadas em torno de redes de reciprocidade, com grupos e
indivíduos envolvidos em interações complexas de dar e receber. Ao examinar a
organização dual das sociedades tribais, Malinowski destaca como as relações de
parentesco e aliança são fundamentais para a estruturação das redes de reciprocidade.
Em suma, o capítulo enfatiza como a reciprocidade e a organização dual são
componentes essenciais dos sistemas sociais e de justiça nas sociedades tribais,
influenciando a forma como crimes e transgressões são entendidos e tratados dentro
desses contextos culturais.
- “mas eu arrisco prognosticar que, onde quer que uma investigação cuidadosa seja
feita, a simetria de estrutura será encontrada em toda sociedade selvagem, como a base
indispensável das obrigações recíprocas.” –

1.4. Lei, autointeresse e ambição social:


No capítulo "Lei, Autointeresse e Ambição Social" de "Crime e Costume na
Sociedade Selvagem". O escritor investiga a dinâmica entre lei, autointeresse e
ambição social nas sociedades tribais. O autor discute que, embora essas sociedades
não tenham sistemas formais de lei como as sociedades modernas, elas ainda são
regidas por princípios de justiça e ordem social. Ele examina como o autointeresse e a
ambição social influenciam as interações sociais e as práticas de resolução de conflitos
nessas comunidades. Um exemplo disso pode ser observado em situações de disputa
por recursos naturais, onde diferentes grupos ou indivíduos podem competir pelo
acesso a terras, água ou alimentos. Nessas circunstâncias, as normas culturais e as
práticas de reciprocidade podem ser invocadas para regular o comportamento e
resolver conflitos de forma justa. Malinowski também destaca como a reputação e o
prestígio social desempenham um papel importante na manutenção da ordem e na
prevenção de transgressões, incentivando os membros da comunidade a agir de
acordo com as normas estabelecidas. Em suma, o capítulo explora como as interações
entre lei, autointeresse e ambição social moldam os sistemas de justiça e as normas
sociais nas sociedades tribais, exemplificando como esses princípios são aplicados em
contextos específicos de disputa e competição por recursos.
- “Em todos os fatos descritos, o elemento ou o aspecto da lei, isto é, de efetiva
coerção social, consiste em combinações complexas que levam as pessoas a
manterem as suas obrigações.”

1.5. As regras da lei nos atos religiosos:


nesse ponto o autor examina como as práticas religiosas se entrelaçam com os
sistemas de justiça nas sociedades tribais. Malinowski argumenta que as normas
religiosas desempenham um papel crucial na manutenção da ordem social e moral,
além de serem utilizadas na resolução de conflitos. Ele ilustra como rituais e cerimônias
religiosas são empregados para reafirmar os valores e as normas da comunidade,
especialmente após a ocorrência de transgressões. Por exemplo, rituais de expiação
são realizados para restaurar a harmonia e o equilíbrio dentro da comunidade após a
quebra da lei. O pesquisador também destaca o papel dos líderes religiosos na
administração da justiça, interpretando e aplicando normas religiosas em situações de

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transgressão. Em resumo, o capítulo analisa como a religião influencia os sistemas de
justiça e as normas sociais nas sociedades tribais, demonstrando a interconexão entre
práticas religiosas e resolução de conflitos.
- “Mas poderíamos encontrar o aspecto legal em qualquer outro domínio da vida
tribal. Tomem, por exemplo, os atos mais característicos da vida ritual – os ritos de luto e
tristeza pelos mortos.” –

1.6. A lei de casamento:


o autor examina as normas e práticas relacionadas ao casamento em
sociedades tribais. Ele destaca a importância das regras culturais que regem o
casamento, como consentimento mútuo e trocas de bens entre famílias. Malinowski
ilustra como essas normas variam de acordo com o contexto cultural e as
necessidades da comunidade. Em suma, o capítulo explora como as leis e práticas de
casamento influenciam as relações sociais e as estruturas familiares nas sociedades
tribais.
- “É também claro que podemos compreender o aspecto legal destas relações apenas se
olhamos para elas integralmente, sem enfatizar demasiadamente qualquer ligação na cadeia dos
deveres recíprocos” –

1.7. O princípio do dar e receber que atravessa a vida tribal:


Nesse capítulo o autor destaca a importância da reciprocidade nas sociedades
tribais. Ele mostra como o ato de dar e receber é fundamental para as relações sociais,
econômicas e rituais nessas comunidades. Malinowski exemplifica como a troca de
presentes e favores fortalece a coesão social e estabelece laços de confiança entre os
membros da comunidade. resumidamente, o capítulo explora como o princípio da
reciprocidade permeia todos os aspectos da vida tribal, influenciando desde transações
comerciais até a resolução de conflitos.
- “A maioria dos atos econômicos, quando não todos, é vista como pertencendo a
alguma cadeia de presentes recíprocos e contrapresentes, que no longo prazo se equilibram,
beneficiando igualmente ambos os lados.” -

1.8. Reciprocidade como base da estrutura social:


No capítulo "Reciprocidade como Base da Estrutura Social" de "Crime e
Costume na Sociedade Selvagem" de Bronisław Malinowski, o autor destaca a
reciprocidade como um elemento fundamental na organização social das sociedades
tribais. Ele demonstra como a troca de favores e serviços estabelece e mantém
relações sociais dentro dessas comunidades. Malinowski ressalta que a reciprocidade
não se limita apenas a transações materiais, mas também permeia interações sociais,
econômicas e rituais. Ele ilustra como a obrigação de retribuir cria laços de confiança e
solidariedade entre os membros da comunidade, fortalecendo a coesão social. Em
resumo, o capítulo explora como a reciprocidade é essencial para a estruturação das
relações sociais e para a coesão das sociedades tribais.
- “e as reivindicações do chefe sobre os cidadãos, do marido sobre a esposa, do pai
sobre o filho, e vice-versa, não são exercidas arbitrária e unilateralmente, mas de acordo com
regras definidas e organizadas em cadeias bem equilibradas de serviços recíprocos.” -

1.9. As regras definidas e classificadas do costume:


Aqui o antropólogo explora a importância das normas culturais na organização
social das sociedades tribais. Ele destaca como essas normas são estabelecidas,
transmitidas e classificadas dentro dessas comunidades. Malinowski ressalta que as
regras do costume não são arbitrárias, mas sim fundamentadas em práticas
tradicionais e valores compartilhados. Ele demonstra como essas regras regulam o
comportamento dos membros da comunidade em diferentes contextos sociais,
econômicos e religiosos. Resumidamente, o capítulo explora como as normas culturais
funcionam como um sistema de orientação e controle social nas sociedades tribais,
moldando comportamentos e interações sociais.

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- “Além das regras da lei, há vários outros tipos de normas e mandamentos tradicionais
que são sustentados por motivos ou por forças principalmente psicológicas, de qualquer modo
totalmente diferentes daquelas que são características da lei nesta comunidade” –

1.10. Uma definição antropológica da lei:


Nessa parte o escritor oferece uma visão sucinta sobre o conceito de lei em
sociedades tribais. Ele argumenta que, nessas comunidades, a lei não se limita a
códigos escritos ou instituições formais, mas é um conjunto de normas culturais e
costumes que regulam o comportamento humano. Ele destaca a importância dessas
leis na manutenção da ordem social, na resolução de conflitos e na coesão
comunitária. Com isso, é proporcionado uma perspectiva antropológica da lei como um
sistema de normas culturais que guiam as interações sociais e comportamentais nas
sociedades tribais.
- “A lei reside não num sistema específico de decretos, que preveem e definem formas
possíveis de não cumprimento e fornecem barreiras e remédios apropriados. A lei é o resultado
específico da configuração das obrigações, que torna impossível para o nativo fugir da sua
responsabilidade sem sofrer por isto no futuro.” –

1.11. Arranjos legais específicos:


Nesse trecho é explorado os sistemas de justiça e normas legais em
sociedades tribais. Ele destaca como esses arranjos são estabelecidos e mantidos
pelos líderes locais e anciãos, além de ressaltar a influência das tradições e costumes
na resolução de conflitos. Visto tudo isso, é oferecida uma visão sobre a organização
legal adaptada às necessidades das comunidades tribais.
- “O principal domínio da lei está no mecanismo social, que pode ser encontrado no
fundo de todas as obrigações sociais e cobre uma parte muito ampla do seu costume, embora de
maneira nenhuma todo ele” –

1.12. Conclusão e prognóstico:


Na conclusão de "Crime e Costume na Sociedade Selvagem" de Bronisław
Malinowski, o sociólogo faz uma análise profunda das observações e conclusões
alcançadas ao longo de seu estudo antropológico. Ele enfatiza a importância da
imersão total na cultura das sociedades tribais para compreender verdadeiramente
suas normas sociais e sistemas legais. Malinowski ressalta que, ao longo de sua
pesquisa, ficou evidente que os costumes e as leis sociais desempenham papéis
interligados e fundamentais na manutenção da ordem e coesão social nessas
comunidades.
Além disso, o autor reflete sobre o futuro dessas sociedades em meio a
mudanças culturais e influências externas. Ele expressa preocupação com a
preservação das tradições e sistemas de justiça tribais diante da crescente
globalização e modernização. O escritor argumenta a favor de abordagens que
respeitem e valorizem a riqueza cultural dessas comunidades, evitando imposições
externas que possam minar suas estruturas sociais e identidades.
Em suas considerações finais, o antropólogo não apenas recapitula os
principais pontos discutidos ao longo do livro, mas também oferece insights sobre como
a antropologia pode contribuir para uma compreensão mais profunda e respeitosa das
sociedades tribais. Ele destaca a necessidade de uma abordagem holística e sensível,
reconhecendo a complexidade e a singularidade de cada cultura. Em suma, a
conclusão não apenas encerra o livro, mas também provoca reflexões sobre as
implicações mais amplas de suas descobertas e o futuro das sociedades estudadas.
- “ouso prognosticar que a reciprocidade, a frequência sistemática, a publicidade e a
ambição seriam consideradas como sendo os principais fatores na maquinaria vinculante da lei
primitiva” –

2.1. A lei na violação e na restauração da ordem:


Em tal ponto o autor mergulha na dinâmica entre a transgressão das normas
sociais e os mecanismos de restauração da ordem em sociedades tribais. Malinowski

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destaca que, quando ocorre uma violação das normas culturais ou sistemas legais, isso
resulta em desequilíbrio e ruptura na comunidade. Ele explora como essas
transgressões são enfrentadas pela sociedade, destacando a aplicação de punições ou
sanções como formas de restaurar a ordem e preservar a coesão social.
O sociólogo também examina os processos de reconciliação e restauração que
ocorrem após uma violação. Ele ilustra como rituais e cerimônias são usados para
reintegrar o transgressor à comunidade e restaurar a harmonia social. Por meio de
exemplos detalhados e estudos de caso, Malinowski mostra como esses rituais de
reconciliação são parte essencial dos sistemas de justiça e controle social nessas
sociedades.
Tal trecho oferece uma análise detalhada da interação entre a violação das
normas e os esforços para restaurar a ordem social em sociedades tribais, destacando
a importância da lei como um mecanismo fundamental na preservação da coesão e
harmonia comunitárias.

2.2. Bruxaria e suicídio como influências legais:


Nesse período o autor explora como esses dois fenômenos impactam as
normas sociais e legais em comunidades tribais. Ele destaca como a crença na
bruxaria afeta a forma como a culpa e a responsabilidade são percebidas,
influenciando as respostas da sociedade a comportamentos desviantes. Além disso,
Malinowski investiga como o suicídio é interpretado como uma transgressão das
normas culturais, desencadeando processos de punição ou exclusão social. Através de
exemplos concretos e análises detalhadas, ele demonstra como esses fenômenos são
integrados aos sistemas de justiça e controle social das comunidades estudadas. Em
resumo, o capítulo mostra como a bruxaria e o suicídio exercem influência nas normas
legais e sociais, moldando as respostas da comunidade diante de comportamentos
considerados desviantes.
- “Geralmente, a magia negra atua como força legal genuína, pois ela é usada
cumprindo as regras da lei tribal, evitando o uso da violência e restaurando o equilíbrio.” –

2.3. Sistemas de lei em conflito:


Nesse trecho, Bronislaw explora os momentos em que diferentes sistemas
legais se confrontam dentro das sociedades tribais. Ele analisa as situações em que as
normas tradicionais entram em choque com as leis impostas por influências externas,
como a colonização ou a globalização. Malinowski investiga as complexidades
decorrentes desses conflitos, incluindo os desafios na reconciliação entre os sistemas
jurídicos distintos e os impactos sobre a coesão social e a identidade cultural das
comunidades. Em resumo, o capítulo discute os dilemas e estratégias diante da
coexistência de diferentes sistemas legais em contextos tribais e como essa
convergência moral traz consequências.
- “O estudo do mecanismo destes conflitos entre os princípios legais, abertos ou
mascarados, é extremamente instrutivo e ele nos revela a própria natureza da estrutura social da
tribo primitiva.” –

2.4. Fatores de coesão social numa tribo primitiva:


No capítulo final, o autor realiza uma análise minuciosa dos elementos que
promovem a coesão dentro das sociedades tribais. Malinowski destaca uma série de
fatores interconectados que fortalecem os laços sociais nessas comunidades. Entre
esses fatores, ele enfatiza a importância dos laços de parentesco, que servem como
alicerces fundamentais da estrutura social tribal, promovendo a solidariedade e a
colaboração entre os membros da tribo.
Mas também, o antropólogo explora como os rituais comunitários
desempenham um papel vital na coesão social, fornecendo oportunidades para a
expressão da identidade cultural coletiva e reforçando os valores compartilhados.
Malinowski também destaca as práticas de reciprocidade, onde o ato de dar e receber
fortalece os laços interpessoais e promove a coesão dentro da comunidade.

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Outro ponto relevante abordado é o papel da religião e das crenças compartilhadas como
fontes de coesão social. Malinowski demonstra como os sistemas de crenças religiosas
unem os membros da tribo em torno de valores morais e espirituais compartilhados,
contribuindo para a coesão e estabilidade social.
Em suma, o capítulo oferece uma análise abrangente e detalhada dos diversos fatores
que promovem a coesão social nas tribos primitivas, evidenciando a complexidade e
interdependência desses elementos na manutenção da harmonia e ordem dentro dessas
comunidades.

3.1. Quanto a leitura:


A narrativa da obra é facilmente acessível, não só pelo seu tamanho e
de seus capítulos em si, mas pela eficiente divisão dos aspectos que vão
ser trabalhados em cada um, diferentemente do texto freudiano
previamente trabalhado, Crime e Costume na Sociedade Selvagem é feito
por pertinentes subdivisões que facilitam ao leitor a absorção de suas
ideias, como os capítulos referentes à submissão automática e
reciprocidade, posteriormente vão ser trabalhados de forma conjunta e suas
implicações na coesão social, contudo, necessitam ser analisados
anteriormente de forma singular, evidenciando suas especificidades.
Quanto a escrita de Malinowski, é outro ponto positivo na leitura, mesmo
sendo uma obra, em sua maior parte, descritiva e analítica, os termos, e
recursos discursivos do escritor, como é o caso de perguntas retóricas
incidentes durante o texto, facilitam a preservação do foco do leito no que
está sendo apresentado.
Outro ponto a ser destacado são os exemplares que ele usa como
recurso discursivo durante as explicações de determinados conceitos ou
conjunturas específicas durante a obra, por exemplo o homem que agrediu
outro nativo por disputas pessoais, o escritor usa desse fato para ajudar na
compreensão de determinadas leis, sua aplicação e até mesmo erros e
dificuldades na aplicabilidade desse sistema legal, como privilégios
indevidos, isso aumenta a eficiência de compreensão de determinada
conjuntura por parte do leitor e só enriquece a obra.

3.2. Divergências:
Ainda no início da obra o autor diz exclama a seguinte frase “A tarefa é
não somente de grande importância científica e cultural, mas também não
desprovida de valor prático considerável, no que ela pode ajudar o homem
branco a dominar, explorar e “melhorar” o nativo com menos resultados
perniciosos para este último”, o que apresenta uma premissa relativamente
invasiva dos cientistas em torno dessas civilizações, onde há de certa
maneira uma inferiorização dos seus modos de vida que precisam ser
aperfeiçoados pelos interventores, obviamente que, em questões de técnica
e tecnologia, encontram-se em alguns séculos de atraso comparado aos
parâmetros atuais, contudo, esse intervencionismo moral e ajustamento de
costumes pode não ser a abordagem mais apropriada, haja vista que,
muitas vezes, essa invasão se torna letalmente prejudicial aos nativos, seja
com a exportação de doenças ou propriamente conflitos diretos com a
resistência nativa. Esse tipo de ação remete diretamente a invasão e
genocídio dos indígenas brasileiros, que posteriormente, a maioria dos
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restantes, sofreram e ainda sofrem com um apagamento e manutenção
cultural e religiosa, seja séculos atrás com a ordem jesuíta ou atualmente
com missões de evangelização protestantes.
Outra questão a ser discutida é a insistência de Malinowski em trazer um
contraponto às obras anteriores as suas que relacionavam os meios de
vidas selvagens com o ideário comunista, como por exemplo na discussão
sobre a atividade de canoagem, onde ele se prende a determinados fatos
relativamente irrisórios como a divisão de funções e a existência de uma
propriedade para deslegitimar o paralelismo anteriormente feito entre os
dois sistemas econômicos (comunismo e economia selvagem), sendo que,
na constituição socialista há a existência da propriedade privada e a
manutenção da mesma, como casas, a pretensão é a não existência do
acumulo desnecessário e exacerbado da posse e hiper exploração de
trabalhadores com o uso dos meios de produção, o que como o mesmo
relata, não existe na organização nativa, haja vista que a remuneração é
justamente dividida e o foco entre todos os envolvidos no processo é o bem
comunal, sendo a maioria das atividades de subsistência e não em busca
do lucro ou enriquecimento infundado.

3.3. Conclusões:
Malinowski apresenta uma obra extremamente importante para
sociologia e antropologia moderna, apresentando as comunidades
primitivas com paralelismos pertinentes ao homem civilizado, os quais
desmistificam as ideias retrogradas da completa em torno dos modos de
vida selvagens, nos é a presentado as mesmas capacidades, noções e
efeitos, obviamente de forma mais rustica, do controle coercitivo em uma
sociedade, quem podem ser percebidos em qualquer outra civilização. Vale
também ressaltar o nível organizacional examinado, que, mesmo com a
falta de recursos, todos os esforços e posições são eficientemente
distribuídos em prol do bem-estar comunitário. Outro importante aspecto é a
interdisciplinaridade legal, que abrange todos os planos da vida nativa, isso
se deve ao fato de as leis serem provenientes e diretamente regidas pela
moral e costumes das tribos, então, as aparentes religiões, rituais, e até
mesmo modos particulares de vida, são amplamente influenciados por essa
“constituição” legal abstrata, a qual, de forma incisiva foi ressaltado durante
a obra, se vê minimamente infringida nessa população, muito
provavelmente pela sua forte pressão coercitiva, seja essa força
proveniente das próprias pessoas, ou de uma fonte sobrenatural.
Crime e Costume na Sociedade Selvagem é a pesquisa de uma fonte
relativamente moderna para a compreensão dos aspectos passados de
quaisquer civilização, assim como o texto psicanalítico “Totem e Tabu”,
apresentam as fundamentos da sociedade que entornam o passado de
qualquer civilização, seja a definição de cultura, a configuração de preceitos
morais, o desenvolvimento de religiões, concepções de economia e
relações conjuntas, tudo aquilo que se vê indispensável em qualquer
sociedade de qualquer tempo, esse tipo de cultura primitiva pode ser, de
certo modo, a documentação e objeto de análise confiável a qual a história

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não tem acesso para compreender os seus primórdios, por isso, não deve
ser explorada, violada, vítima de qualquer preconceito ou ataque direto aos
seus meios de vida, haja vista que representa o início de qualquer grupo
atualmente tido como civilizado, agressões a esses sistemas em estágios
tão iniciais seriam como bater ou estressar-se com um bebê por não saber
falar adequadamente, esses nativos devem sim serem amplamente
analisados e compreendidos, mas não como forma de adestramento ou
possibilidade de melhoria como o próprio autor cita no início, mas a fim do
entendimento de nosso próprio desenvolvimento enquanto civilização e até
mesmo servir de inspiração para a possibilidade de reformulações
organizacionais em nossos próprios sistemas, principalmente econômicos,
não em relação a técnica obviamente, mas em sua finalidade, buscando o
bem comum.

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