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Malinowski
0.1. Prefácio:
Precipuamente, no prefácio do livro, o autor além de ocupar-se com a
realização de agradecimentos a contribuintes de sua pesquisa, como o Royal Institution
da Grã-Bretanha, o etnólogo Raymond Firth e o Laura Spelman Rockfeller Memorial,
ele alerta a veloz extinção das raças descritas como selvagens, muito decorrente da
ocupação de seus territórios nativos , de forma consideravelmente agressiva, por
civilizações tecnologicamente mais desenvolvidas, mas também, a necessidade dos
estudos a cerca dessa sociológicos e antropológicos a cerca dessa problemática, que
como Malinowski afirma, se veem negligenciados na época em que escreveu sua obra.
Contudo, assim como ele mesmo afirma, os estudos devem manter seu caráter
“prático”, visando facilitar ao homem branco seus interesses de exploração
O sociólogo também destaca um importante discursão acerca da falta de
habilidade de análise prática dos antropólogos que se predispõem a uma pesquisa de
campo apenas com uma base teórica que muitas vezes sobre com a tendenciosidade
ideológica e o preconceito, criando barreiras no contato e compreensão direta com o
objeto de pesquisa, ou seja, impossibilitando uma análise eficiente dos dados
analisados, sejam eles as crenças, costumes e até mesmo ações individuais dos
nativos.
- “O explorador antropológico moderno, que vai para o campo totalmente treinado na
teoria, carregado de problemas, interesses e talvez de preconceitos, não está em condições nem
é o bastante prudente para manter as suas observações dentro dos limites dos fatos concretos e
dos dados circunstanciados.” -
0.2. Introdução:
Aqui, o pesquisador começa a introduzir o leitor no objeto analisado: a
sociedade selvagem. Partindo de uma premissa expansionista e exploratória ele
aborda fatores nos quais tal tipo de pesquisa é eficiente, tanto para a economia, como
o conhecimento do território e habitantes, o que facilita uma ocupação com menor
resistência, até um alastramento ideário, quando como ele mesmo diz “deveria se
tornar útil para aqueles que estão empenhados em educar e melhorar moralmente o
nativo”. Além disso, o mesmo também apresenta aspectos benéficos para as próprias
ciências antropológicas e psicológicas com esse tipo de análise, como a formação
moral e legal de uma civilização.
Malinowski também vem a criticar a falta de interesse da sociologia moderna
na pesquisa e discussão sobre as sociedades selvagens, principalmente em seus
quesitos organizacionais e, de certa forma, “judiciais”, ele destaca diversos trabalhos
anteriores, principalmente alemães, que se propuseram a analisar esses aspectos,
contudo de um ponto de vista aparentemente não concordante ao do autor da obra,
onde as questões da coletividade sobrepõem-se majoritariamente a qualquer questão
individual, ele contraria uma postura extremamente positiva, e de certo modo
“fantasiosa”, que autores passados determinavam sobre as leis selvagens, com uma
perspectiva de perfeita e extrema comunhão.
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1.1. A submissão automática ao costume e o problema real:
Inicialmente, após mostrar que os habitantes possuíam uma formulação e
submissão às designações legais, o autor apresenta um questionamento se o termo
“selvagem” é realmente apropriado nesse cenário, haja vista que, por mais que pouca,
aparentavam capacidades mentais suficientes para tal nível de organização social,
então, é apresentado o que pode ser descrito como “linha de resistência mínima”,
sendo uma forma de subserviência a moralidade e leis da sua sociedade a fim de evitar
conflitos, tanto no próprio grupo, quanto possíveis interferências sobrenaturais, sendo
isso análogo aos fatos sociais de Durkheim, onde a coerção, muitas vezes inconsciente
do grupo, preserva a harmonia e impede ações conflitantes dos indivíduos.
Tudo isso foge da ideia de completa libertinagem nesses indivíduos, sendo
percebido o completo oposto, eles acreditam e seguem fielmente e
inquestionavelmente ao pouco que lhes é imposto. O que, nesse quesito, os assemelha
ao homem tido como civilizado, sua forte adesão às regras a fim de evitar
consequências desarmônicas.
- “Não é contrário à natureza humana aceitar qualquer coerção como rotina, e o
homem, seja ele civilizado ou selvagem, algum dia executou regulações e tabus desagradáveis,
penosos e cruéis sem ser obrigado a isso? E obrigado por alguma força ou motivo a que ele não
pode resistir?” –
- “A propriedade, portanto, não pode ser definida nem por palavras como
“comunismo” ou “individualismo”, nem pela referência ao sistema de “sociedade anônima” ou
“empresa pessoal”, mas pelos fatos concretos e as condições de uso. Ela é o somatório dos
deveres, dos privilégios e das reciprocidades que ligam os condôminos ao objeto e uns aos
outros.” –
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de retribuição e compensação. Em suma, o capítulo destaca a centralidade das
relações econômicas na vida social e legal das sociedades tribais, evidenciando a
complexa interação entre economia, cultura e sistemas de justiça.
- “Desse modo, no todo, cada comunidade tem muita necessidade dos seus parceiros.
Se, em qualquer momento anterior, estes foram culpados de negligência, contudo, eles sabem
que serão, de uma maneira ou de outra, severamente penalizados. Cada comunidade tem,
portanto, uma arma para a aplicação dos seus direitos: a reciprocidade.” –
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transgressão. Em resumo, o capítulo analisa como a religião influencia os sistemas de
justiça e as normas sociais nas sociedades tribais, demonstrando a interconexão entre
práticas religiosas e resolução de conflitos.
- “Mas poderíamos encontrar o aspecto legal em qualquer outro domínio da vida
tribal. Tomem, por exemplo, os atos mais característicos da vida ritual – os ritos de luto e
tristeza pelos mortos.” –
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- “Além das regras da lei, há vários outros tipos de normas e mandamentos tradicionais
que são sustentados por motivos ou por forças principalmente psicológicas, de qualquer modo
totalmente diferentes daquelas que são características da lei nesta comunidade” –
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destaca que, quando ocorre uma violação das normas culturais ou sistemas legais, isso
resulta em desequilíbrio e ruptura na comunidade. Ele explora como essas
transgressões são enfrentadas pela sociedade, destacando a aplicação de punições ou
sanções como formas de restaurar a ordem e preservar a coesão social.
O sociólogo também examina os processos de reconciliação e restauração que
ocorrem após uma violação. Ele ilustra como rituais e cerimônias são usados para
reintegrar o transgressor à comunidade e restaurar a harmonia social. Por meio de
exemplos detalhados e estudos de caso, Malinowski mostra como esses rituais de
reconciliação são parte essencial dos sistemas de justiça e controle social nessas
sociedades.
Tal trecho oferece uma análise detalhada da interação entre a violação das
normas e os esforços para restaurar a ordem social em sociedades tribais, destacando
a importância da lei como um mecanismo fundamental na preservação da coesão e
harmonia comunitárias.
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Outro ponto relevante abordado é o papel da religião e das crenças compartilhadas como
fontes de coesão social. Malinowski demonstra como os sistemas de crenças religiosas
unem os membros da tribo em torno de valores morais e espirituais compartilhados,
contribuindo para a coesão e estabilidade social.
Em suma, o capítulo oferece uma análise abrangente e detalhada dos diversos fatores
que promovem a coesão social nas tribos primitivas, evidenciando a complexidade e
interdependência desses elementos na manutenção da harmonia e ordem dentro dessas
comunidades.
3.2. Divergências:
Ainda no início da obra o autor diz exclama a seguinte frase “A tarefa é
não somente de grande importância científica e cultural, mas também não
desprovida de valor prático considerável, no que ela pode ajudar o homem
branco a dominar, explorar e “melhorar” o nativo com menos resultados
perniciosos para este último”, o que apresenta uma premissa relativamente
invasiva dos cientistas em torno dessas civilizações, onde há de certa
maneira uma inferiorização dos seus modos de vida que precisam ser
aperfeiçoados pelos interventores, obviamente que, em questões de técnica
e tecnologia, encontram-se em alguns séculos de atraso comparado aos
parâmetros atuais, contudo, esse intervencionismo moral e ajustamento de
costumes pode não ser a abordagem mais apropriada, haja vista que,
muitas vezes, essa invasão se torna letalmente prejudicial aos nativos, seja
com a exportação de doenças ou propriamente conflitos diretos com a
resistência nativa. Esse tipo de ação remete diretamente a invasão e
genocídio dos indígenas brasileiros, que posteriormente, a maioria dos
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restantes, sofreram e ainda sofrem com um apagamento e manutenção
cultural e religiosa, seja séculos atrás com a ordem jesuíta ou atualmente
com missões de evangelização protestantes.
Outra questão a ser discutida é a insistência de Malinowski em trazer um
contraponto às obras anteriores as suas que relacionavam os meios de
vidas selvagens com o ideário comunista, como por exemplo na discussão
sobre a atividade de canoagem, onde ele se prende a determinados fatos
relativamente irrisórios como a divisão de funções e a existência de uma
propriedade para deslegitimar o paralelismo anteriormente feito entre os
dois sistemas econômicos (comunismo e economia selvagem), sendo que,
na constituição socialista há a existência da propriedade privada e a
manutenção da mesma, como casas, a pretensão é a não existência do
acumulo desnecessário e exacerbado da posse e hiper exploração de
trabalhadores com o uso dos meios de produção, o que como o mesmo
relata, não existe na organização nativa, haja vista que a remuneração é
justamente dividida e o foco entre todos os envolvidos no processo é o bem
comunal, sendo a maioria das atividades de subsistência e não em busca
do lucro ou enriquecimento infundado.
3.3. Conclusões:
Malinowski apresenta uma obra extremamente importante para
sociologia e antropologia moderna, apresentando as comunidades
primitivas com paralelismos pertinentes ao homem civilizado, os quais
desmistificam as ideias retrogradas da completa em torno dos modos de
vida selvagens, nos é a presentado as mesmas capacidades, noções e
efeitos, obviamente de forma mais rustica, do controle coercitivo em uma
sociedade, quem podem ser percebidos em qualquer outra civilização. Vale
também ressaltar o nível organizacional examinado, que, mesmo com a
falta de recursos, todos os esforços e posições são eficientemente
distribuídos em prol do bem-estar comunitário. Outro importante aspecto é a
interdisciplinaridade legal, que abrange todos os planos da vida nativa, isso
se deve ao fato de as leis serem provenientes e diretamente regidas pela
moral e costumes das tribos, então, as aparentes religiões, rituais, e até
mesmo modos particulares de vida, são amplamente influenciados por essa
“constituição” legal abstrata, a qual, de forma incisiva foi ressaltado durante
a obra, se vê minimamente infringida nessa população, muito
provavelmente pela sua forte pressão coercitiva, seja essa força
proveniente das próprias pessoas, ou de uma fonte sobrenatural.
Crime e Costume na Sociedade Selvagem é a pesquisa de uma fonte
relativamente moderna para a compreensão dos aspectos passados de
quaisquer civilização, assim como o texto psicanalítico “Totem e Tabu”,
apresentam as fundamentos da sociedade que entornam o passado de
qualquer civilização, seja a definição de cultura, a configuração de preceitos
morais, o desenvolvimento de religiões, concepções de economia e
relações conjuntas, tudo aquilo que se vê indispensável em qualquer
sociedade de qualquer tempo, esse tipo de cultura primitiva pode ser, de
certo modo, a documentação e objeto de análise confiável a qual a história
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não tem acesso para compreender os seus primórdios, por isso, não deve
ser explorada, violada, vítima de qualquer preconceito ou ataque direto aos
seus meios de vida, haja vista que representa o início de qualquer grupo
atualmente tido como civilizado, agressões a esses sistemas em estágios
tão iniciais seriam como bater ou estressar-se com um bebê por não saber
falar adequadamente, esses nativos devem sim serem amplamente
analisados e compreendidos, mas não como forma de adestramento ou
possibilidade de melhoria como o próprio autor cita no início, mas a fim do
entendimento de nosso próprio desenvolvimento enquanto civilização e até
mesmo servir de inspiração para a possibilidade de reformulações
organizacionais em nossos próprios sistemas, principalmente econômicos,
não em relação a técnica obviamente, mas em sua finalidade, buscando o
bem comum.
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