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UNIVERSIDADE ABERTA ISCED

FACULDADE DE DIREITO

“TRABALHO DE CAMPO”
CASO PRÁTICO

Estudante: Diolêncio Augusto Nhamposse

Código: 31210503

Xai-Xai, Marco de 2022


“TRABALHO DE CAMPO”
CASO PRÁTICO

Estudante: Diolêncio Augusto Nhamposse

Código: 31210503

Trabalho de campo de Direito Penal a ser


submetido ao Curso de Coordenação de
Licenciatura em Direito no ISCED.

Xai-Xai, Marco de 2022


ÍNDICE
CAPITULO I: INTRODUÇÃO .................................................................................................. 1

1.1. Contextualização .................................................................................................................. 1

1.2. Objectivos............................................................................................................................. 2

1.3. Metodologia ......................................................................................................................... 2

CAPITULO II: REVISÃO LITERÁRIA E RESOLUÇÃO DO TRABALHO DE CAMPO ........ 3

2.1. Tipo penal culposo ............................................................................................................... 3

2.2. Da culpa como princípio e como elemento da definição de crime ...................................... 3

2.3. Da ação típica, ilícita e culposa ............................................................................................ 3

2.4. RESOLUÇÃO DO TRABALHO DE CAMPO ................................................................... 4

2.4.1. CASO PRATICO 1 ........................................................................................................... 4

2.4.1.1. Sujeito............................................................................................................................. 4

2.4.2. CASO PRATICO 2 ........................................................................................................... 8

2.4.2.1. Sujeito ativo.................................................................................................................... 8

2.4.2.2. Sujeito Passivo ............................................................................................................... 8

2.4.2.3. Objeto jurídico................................................................................................................ 8

2.4.2.4. Elemento subjetivo ......................................................................................................... 9

CAPITULO III: CONCLUSÃO ................................................................................................... 12

CAPITULO IV: REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................. 13


CAPITULO I: INTRODUÇÃO

1.1. Contextualização
O estudo da teoria do crime, mormente no que concerne aos aspectos do tipo penal subjetivo,
representa uma área de relevo importante para a compreensão do direito penal. Isso acontece
devido ao fato de que a culpa e o dolo são conceitos de difícil diferenciação entre si no âmbito
prático, pois, apesar de serem formulados por conceitos distintos, a constatação de uma conduta
culposa ou dolosa às vezes pode ser complexa no plano da realidade (Almeida, 2002).

A culpa é entendida como o juízo de censura que é dirigido ao agente pelo motivo de este ter
agido em desacordo com a ordem jurídica, quando podia e devia ter atuado em conformidade
com esta. O juízo de censura ou de desaprovação é graduável e ele traduz assim um juízo de
exigibilidade. Quando a atitude do agente se revela mais grave, aumenta o grau de exigibilidade
que sobre ele recai, sendo que o grau de culpa traduz o nível de desaprovação e de exigibilidade
que no caso concreto é formulado para a atuação do agente. Portanto, a culpa é a censurabilidade
do facto ao agente, ou seja, ao agente censura-se o facto de este se ter podido determinar em
conformidade com a norma e não o ter feito, (Capez, 2005).

Nesse contexto, os crimes culposos diferenciam-se dos crimes dolosos, porquanto não são
reflexos da vontade livre e consciente ou do assentimento do agente para a consecução do
resultado. Em verdade, os delitos de imprudência derivam de um ato realizado sem as devidas
precauções exigidas ao homem médio que convive em sociedade.
Dessa forma, uma apreciação detida sobre as particularidades e especificações da conduta
culposa é imprescindível para entender as nuances da teoria do crime no direito penal. Para tanto,
é preciso apreciar a relação de causalidade entre a ação imprudente e o resultado decorrente
dessa atuação (Almeida, 2002).
Não obstante o ordenamento jurídico pátrio incorporar¸ como regra, a teoria da equivalência dos
antecedentes causais para explicar as relações de causalidades nos crimes, faz-se pertinente
analisar uma moderna teoria, que também trata do nexo causal nos crimes (dolosos e culposos).

Note-se que o que é suscetível ou não de imputação é um comportamento ou um certo resultado


a uma certa pessoa, mas, pelo fenómeno de transposição linguística, o termo imputável ou
inimputável passou a ser utilizado como adjetivo, aplicado à própria pessoa essa característica de

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ser imputável ou inimputável, neste sentido de, em termos de saúde mental a pessoa ser ou não
responsável pelos seus atos, (Capez, 2005).

1.2. Objectivos

1.2.1. Objectivo Geral


 Resolver os casos práticos descritos no enunciado

1.2.2. Objectivos específicos


 Fazer o levantamento do sujeito envolvido
 Identificar o tipo subjectivo
 Identificar o tipo objectivo

1.3. Metodologia
O presente trabalho teve como metodologia uma pesquisa bibliográfica e exploratória, onde com
auxílio da internet buscou-se manuais com intuito de ter uma visão nítida dos principais aspectos
inerentes ao tema, e com a leitura minuciosa do material adquirido no portal Google académico,
foi possível compilar o presente estudo.

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CAPITULO II: REVISÃO LITERÁRIA E RESOLUÇÃO DO TRABALHO DE CAMPO

2.1. Tipo penal culposo


A ação culposa é uma conduta voluntária que materializa um fato ilícito não querido ou
assumido pelo sujeito ativo, mas que, contudo, era um fato previsto ou, ao menos, previsível,
sendo que podia ser evitado, caso o autor agisse sob os parâmetros do dever geral de cuidado.
Essa é a uma conceituação bastante genérica e tradicional do que venha a ser o comportamento
culposo, (David, 2005).

2.2. Da culpa como princípio e como elemento da definição de crime


Culpa é um conceito central do direito penal, mas que não é exclusivo deste. É um conceito que
tem profundas ligações com uma culpa moral porque é nesta moral que ele surge primeiramente
e se reflete na ordem social e na consciência individual de cada um de nós. É por essa razão que
se diz que a culpa jurídica, apesar de diferente, apresenta fundamento semelhante com a culpa
moral e que ambas apresentam uma conexão estreita.
«O princípio da culpa corresponde à nossa melhor tradição cultural e jurídica». Está presente,
afirmado e reafirmado nas modernas legislações provenientes de diversas comunidades sociais,
políticas e económicas. Para ele contribuíram, é certo, progressos culturais, mas entende-se que o
sentido da culpa é algo natural no homem e nas sociedades quer antigas ou modernas.
O conceito de culpa ou culpabilidade, no direito penal e criminal, é um princípio de justiça
traçado pela nossa formação jurídica e moral que domina os nossos juízos de crítica, desde logo,
quando ajuizamos que ninguém deve ser punido por algo de que não tem culpa, bem como que o
culpado de uma ação ilícita deverá sofrer uma sanção, (David, 2005).
Tradicionalmente, o crime culposo é analisando mediante seus elementos, que são: a) conduta
humana voluntária, que significa dizer que a vontade do agente circunscreve-se na realização do
comportamento delitivo, não querendo nem assumindo o risco do resultado; b) violação de um
dever de cuidado objetivo, ou seja, o autor atua em desconformidade com o que é exigido pela
norma e pela estrutura social.

2.3. Da ação típica, ilícita e culposa


Mas são só os comportamentos, o «fazer», as ações propriamente ditas, que integram este
primeiro elemento da definição formal de crime? A resposta é, claramente, negativa. Como
sabemos, quando se diz que o crime é uma ação, típica, ilícita, culposa e punível, não só engloba

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uma ação (dominada pela vontade) propriamente dita, mas também as omissões de
comportamento a que uma pessoa está obrigada. Exemplo disso, são as situações em que, perante
um acidente, uma pessoa é obrigada nos termos do Código da Estrada a socorrer um ferido, pelo
que não o fazendo estará a omitir um comportamento que lhe é obrigado.7 Por isso, um
comportamento omissivo que atinja um certo resultado, deverá ser equiparável, para efeitos de
gravidade e punição criminais, ao comportamento que está assente tipicamente na lei como se se
cuidasse de um comportamento ativo, ou seja, de uma ação (David, 2005).
A tipicidade é o segundo elemento da definição formal de crime. E de que se trata ela? Uma
ação típica significa que ela tem de corresponder a um dos tipos da parte especial do Código
Penal, sabendo-se que alguns desses tipos são alargados pelas disposições da parte geral. A ação
é típica quando aparentemente corresponde à definição existente num determinado artigo, pelo
que, ser a ação típica revela que uma certa ação concreta tem correspondência a um tipo legal de
crime, ou seja, a uma definição de crime como, em princípio e nos seus traços primários, existe
na parte especial do Código Penal.
Dentro da tipicidade de que falamos existe uma subdivisão entre o tipo objetivo e o tipo
subjetivo. Para tal explicitação é necessário pegarmos numa situação de facto concreta porque é
em relação a isso que geralmente se realiza este tipo de análise por abstração.

2.4. RESOLUÇÃO DO TRABALHO DE CAMPO

2.4.1. CASO PRATICO 1

2.4.1.1. Sujeito
De acordo com o disposto no código penal moçambicano, no artigo 23 do capítulo III a quanto
dos agentes do crime, o autor de uma situação criminal é o sujeito praticante do crime e seus
cúmplices, como segue o disposto abaixo:
CAPÍTULO III
Agentes de Crime
ARTIGO 23
(Agentes do crime)
Os agentes de crime são autores e cúmplices.
ARTIGO 24
(Autor)

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É punível como autor quem:
a) Executar o facto, por si ou por intermédio de outrem; ou
b) Tomar parte directa na sua execução, por acordo ou juntamente com outro ou outros; ou
c) Dolosamente, determinar outra pessoa à prática do facto, desde que haja execução ou começo
de execução.
De acordo com o texto o consumador ou sujeito e o João, visto que era o que mais buscava
vingar-se do seu inimigo portal.

2.4.1.2. Tipo Objectivo


Para se verificar se uma pessoa que objetivamente provocou a morte de outra o fez com intenção
disso, ou seja, dolosamente, é necessário averiguar se ela tinha conhecimento da situação de
facto, ou seja, se sabia que havia uma pessoa naquele sítio para onde disparou, no que se traduz
no designado elemento intelectual ou conhecimento. O elemento intelectual traduz-se no
conhecimento dos elementos e circunstâncias descritas nos tipos legais de crimes. Assim, para
que ele se possa afirmar carece-se que o agente conheça o tipo legal de crime que a sua vontade
visa realizar. Ou seja, o agente precisa, para que a sua atuação se possa dizer dolosa, de conhecer
as circunstâncias de facto que pertencem ao tipo legal, (Antunes,1999).

O João era objectivo, pois foi uma orquestra consciente, por não haver descrição de que o João
padecia de qualquer doença mental, pois o facto de adquirir uma arma, espiar o António a fim de
conhecer a sua rotina e por fim desparrar, tudo isso e fruto de sã consciência, isto e, o João estava
consciente do que queria quando orquestrou toda essa acção, e pegando no exemplo do crime de
homicídio do art. 131.º, terá que haver objetivamente uma situação em que uma pessoa tenha
morto outra. Para isso é indispensável aqui a verificação da chamada imputação objetiva para
que haja uma verdadeira imputação entre a morte de uma pessoa e a ação praticada por outra:
disparar uma arma contra outra pessoa e esta vir a morrer desse disparo, há aqui a verificação de
uma imputação objetiva, isto é, o nexo de causalidade entre a conduta e o resultado verificado,
bem como do chamado resultado típico, elementos verificadores nos crimes materiais ou de
resultado8 como é o exemplo do crime de homicídio descrito no texto, ou tentativa de homicídio.
A imputação objetiva (imputatio facti) é um conceito utilizado para designar a relação causal da
ação ou omissão com os efeitos ou resultado do crime, (Antunes,1999).

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Ainda de acordo com o código penal, artigo 375 a quanto das (Ofensas corporais de que resulta
a morte por circunstância acidental) que diz,
“Se o ferimento ou espancamento ou ofensa não foi mortal, nem
agravou ou produziu enfermidade mortal, e se provar que alguma
circunstância acidental, independente da vontade do criminoso, e
que não era consequência do seu facto, foi a causa da morte, não
será pela circunstância da morte agravada a pena do crime”.

De acordo com o preconizado no código penal acima citado, e em conformidade com o descrito
no trabalho, Moisés depois de tomar o tiro na região toráxica, o texto indica que ele não morreu
no local do crime, tendo tido os prontos socorros primários por parte da professora ele ainda
resistiu até que foi levado pela ambulância e veio a perder a vida ao longo da caminhada em
direcção ao hospital provincial da Beira.
Para além do elemento intelectual, (Casey & Brendan, 2007), dizem que existe outro tão
importante que se designa de elemento volitivo, isto é, para além de a pessoa ter o conhecimento
de uma determinada situação de facto, é necessário que a pessoa tenha a vontade, a intenção, de
provocar um certo resultado, no fundo, que tenha dolo no seu agir pois a culpa tem essas duas
formas de imputação: o dolo e negligência). Diga-se que o elemento volitivo se traduz numa
especial direção da vontade, numa certa conexão do facto com a personalidade do sujeito.
Traduz-se numa relação psicológica ou numa volição pelo agente do facto, existindo dolo na
medida em que o agente tenha pretendido, querido, o facto criminoso pois, querendo-o, o agente
revela uma conduta que traduz a sua personalidade, que será uma no sentido em que não lhe
repugna a produção desse facto que é contrário ao direito, apresentando assim que sobrepõe de
conscientemente os próprios sentimentos e interesses ao dano ou perigo de dano dos interesses
alheios que o direito criminal observa evitar por via das sanções criminais.

Já no que toca à parte subjetiva do tipo, a imputação subjetiva (imputatio juris), esta é a
representação daquela situação objetiva que se verificou na mente do sujeito, tentando-se, no
fundo, saber se o sujeito tinha a consciência e o conhecimento da situação objetiva tal como ela
se verificava e saber se tinha, no caso do exemplo do crime de homicídio, uma intenção de
matar. Neste sentido, o João segundo o texto do trabalho do campo, tinha a intenção de matar,

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pois ainda que não tenha sido o António no lugar, mas ele atirou com a intenção de se livrar do
seu inimigo mortal mas confundindo atirou para o Moisés, que mesmo assim teve os ferimentos
profundos descritos no texto apesar de não ter morrido no local do sucedido.

Pois ainda assim, o código penal, em seu artigo 376, a quando do (Emprego e ameaças com arma
de fogo, arma branca ou de arremesso), diz:

O tiro com arma de fogo, o emprego de arma de arremesso ou


arma branca contra alguma pessoa, posto que qualquer destes
factos não seja classificado como tentativa de homicídio, nem
dele resulte ferimento ou contusão e bem assim a ameaça com
qualquer das ditas armas em disposição de ofender, ou feita por
uma reunião de três ou mais indivíduos em disposição de causar
mal imediato, consideram-se ofensas corporais e são punidos:
1º. O tiro de arma de fogo ou com qualquer arma de arremesso,
com prisão maior de dois a oito anos;
2º. A ameaça com arma de fogo ou o emprego de qualquer arma
branca ou de arremesso, em disposição de ofender, ou feita por
três ou mais indivíduos em disposição de causar mal imediato,
com prisão até dois anos.

Em suma, diga-se que para que a culpa do agente por um facto exista, este tem de ser
subjetivamente imputado ao agente a título de dolo ou negligência. Na aferição de uma
imputação subjetiva não se pode observar acerca de uma simples ligação psicológica
naturalística, mas antes terá que se observar da posição do agente para o seu facto, de maneira a
que se possam ambos interligar e assim eventualmente permitindo a censura em que o juízo de
culpa se traduz.

Para finalizar, desta orquestra do João contra o António, o Moisés morreu, mas nada diz que ele
tenha morrido pelo tiro disparado contra ele pelo João, já que houve de seguida um acidente, e
para (Costa, 2011), há que se fazer exames com a intenção de se apurar as reais causas da morte,
embora que hipoteticamente assuma-se que tudo começou pelo tiro, mas não se pode concluir
sem evidências claras da real causa da morte do Moisés, se pelo tiro ou acidente, pois ao se
verificar uma atuação que objetivamente produziu a morte de outra pessoa (tipo objetivo) e que
ela tinha conhecimento da realidade objetiva bem como a intenção de provocar o resultado morte
(tipo subjetivo), afirma-se que tal ação é típica e que corresponde ao tipo do crime de homicídio.

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2.4.2. CASO PRATICO 2
Ao abrigo da lei 24/2019, lei de revisão do código penal, no artigo 162 (Envenenamento)
1. Quem cometer o crime de envenenamento é punido com a pena de prisão de 20 a 24 anos.
2. É qualificado como envenenamento todo o atentado contra a vida de alguma pessoa por efeito
de substâncias que podem dar a morte mais ou menos prontamente, de qualquer modo que estas
substâncias sejam empregadas ou administradas e quaisquer que sejam as consequências.

2.4.2.1. Sujeito ativo


O sujeito ativo do crime previsto no código penal pode ser qualquer pessoa. O tipo penal
incriminador não indica nenhuma característica ou condição pessoal do agente executor da
conduta, de modo que trata-se de crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa.
Neste sentido, afirma Rogério Greco: “tem-se entendido que qualquer pessoa pode ser sujeito
ativo dessa modalidade de aborto, uma vez que o tipo penal não exige nenhuma qualidade
especial “ (Greco, 2005).
Será, pois, sujeito ativo do crime de aborto provocado sem o consentimento da gestante,
qualquer pessoa que dolosamente provocar a interrupção da gestação, causando a morte do
nascituro, sem o consentimento da gestante.

2.4.2.2. Sujeito Passivo


Neste delito temos dupla subjetividade passiva (Bitencourt, 2001) uma vez que figuram no
polo passivo o nascituro, que tem sua vida ceifada pela conduta do sujeito ativo de provocar o
aborto, e a gestante, que é alvitrada em sua vontade, sendo constrangida a se submeter ao
procedimento ao qual ela não assentiu e ao resultado que, em tese, ela não desejava.

2.4.2.3. Objeto jurídico


Há também duplo objeto jurídico protegido pela lei penal. De um lado, a vida do feto. De
outro, a integridade física e a liberdade da gestante. Em que pese o tipo penal visar proteger
diretamente e num primeiro plano a vida em formação do nascituro (Greco, 2005). Todavia,
não se há que olvidar, conforme apontado por Bitencourt, a dupla polaridade passiva que se dá
no crime em comento. A vida em formação do embrião ou feto é o bem jurídico protegido
diretamente pelo tipo penal, o que se revela até mesmo por sua inserção no capítulo dos crimes
contra a vida (Greco, 2005), mas, também, a integridade física e psíquica da gestante, bem

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como sua liberdade individual, na medida em que é submetida ao procedimento invasivo e com
a consequente morte do bebê que se formava em seu ventre sem o seu o consentimento.

2.4.2.4. Elemento subjetivo


O elemento subjetivo no crime de aborto provocado por terceiro é o dolo, vontade livre e
consciente de provocar o aborto na gestante, interrompendo a gestação e provocando a morte
do nascituro. Admite-se a configuração do delito tanto pelo dolo direto (o agente quer provocar
o aborto) ou pelo dolo eventual (o agente, com sua conduta, assume o risco de produzir o
resultado). Neste sentido, Greco diz: podem ser praticados a título de dolo, seja ele direto ou
eventual, ou seja, ou o agente dirige finalisticamente sua conduta no sentido de causar a morte
do óvulo, embrião ou feto, ou, embora não realizando um comportamento diretamente a este
fim, atua não se importando com a ocorrência do resultado (Greco, 2005)
O crime se consuma com a morte do embrião ou do feto (Nucci, 2008). Pouco importa se a
morte de seu no interior do ventre ou como consequência da expulsão do feto do corpo
materno.
Como o objeto material visado pela conduta do sujeito ativo é a vida do nascituro, pouco
importa se a morte se dê ainda no ventre ou como consequência da expulsão.
Uma vez que com a conduta dolosa o que se pretende é a morte do nascituro e este, não tendo
ainda um desenvolvimento completo que lhe permita a vida extrauterina, sua morte, como
consequência da conduta dolosa de provocar o aborto, configura o momento consumativo do
delito.
A tentativa é plenamente possível (Nucci, 2008). Uma vez iniciada a execução realizado o
primeiro ato executório tendente à provocar o aborto – pode ser o sujeito ativo interrompido
por uma circunstância alheia à sua vontade, configurando assim o delito na modalidade
tentada. Trata-se aqui da hipótese do aborto provocado por terceiro sem o consentimento da
gestante, vale dizer, a realização de manobra ou conduta objetivando de forma livre e
consciente provocar a morte do embrião ou feto, sem que haja o consentimento da gestante.
Conforme aponta Capez (Capez, 2005) é a forma mais gravosa de aborto, a que merece maior
reprovabilidade por parte do ordenamento jurídico.
A ausência do consentimento da vítima é elementar do tipo penal, ou seja, o delito apenas se
configura quando não existe o consentimento da gestante na realização da manobra abortiva.
Caso exista consentimento por parte desta, não se configura este delito, ao contrário, haverá

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novo enquadramento jurídico, responderá a gestante pelo delito do art. 124, enquanto que o
terceiro responderá pelo delito do artigo 126.
No que diz respeito ao consentimento da gestante, podemos dividir a ausência deste
consentimento em duas correntes:
1. Falta de consentimento real – a gestante não manifesta a sua vontade ou não tem
oportunidade de fazê-lo, ou ainda, manifestando-se contra a realização do aborto, este é
realizado contra a sua vontade. Pode configurar a falta de consentimento real em três hipóteses:
a- Fraude – há o emprego de um ardil ou outro subterfúgio no sentido de ludibriar a gestante,
provocando-lhe o aborto sem o seu conhecimento e, por consequência, sem o consentimento
desta. Um exemplo disso seria o médico que, a pretexto de realizar uma consulta, pratica
manobras a fim de provocar o aborto;
b- Grave ameaça – hipótese em que há a promessa de um mal grave e injusto contra a gestante
visando obriga-la a se submeter e permitir que se seja realizado o aborto. Por exemplo, o pai
que ameaça expulsar a filha menor de casa se ela não abortar a criança que espera em seu
ventre.
c- Violência real – caracteriza-se pelo emprego de força física contra a gestante, visando assim
provocar-lhe o aborto. O sujeito que, ao saber que sua amante está grávida, e não querendo a
criança, desfere socos no ventre para provocar o aborto.
2. Falta de consentimento presumido – mesmo que haja uma manifestação de vontade por parte
da gestante no sentido de que seja realizado o aborto, sua manifestação de vontade, por suas
condições pessoais, é considerada nula, não sendo considerada para efeitos do enquadramento
jurídico-penal, considerando-se, então, como se o aborto tivesse sido provocado sem o
consentimento da gestante. São hipóteses:
a- Gestante menor de catorze anos – sendo a gestante menos de catorze anos, é presumido que
ela não pode consentir a realização do aborto, sendo então desconsiderada qualquer
manifestação de vontade da mesma, caracterizando-se o delito do art. 125 (Art. 126, parágrafo
único)
b- Gestante alienada ou débil mental – a falta de discernimento ou a incapacidade de coordenar
as ideias e de agir conforme o entendimento sobre a realidade impede o reconhecimento da
validade de qualquer manifestação de vontade por parte da pessoa alienada ou débil mental.
Assim, sendo o aborto provocado por terceiro em gestante alienada ou débil mental, será

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presumida a falta do consentimento, configurando, igualmente, o delito do art. 125 (Art. 126,
parágrafo único)
Diante desse ponto de vista, Crimes contra a vida intra-uterina artigo 166 (Interrupção de
gravidez) na mesma lei preconiza que:
1. Quem, de propósito, fizer abortar uma mulher grávida, empregando para este fim violência ou
bebida, ou medicamento, ou qualquer outro meio, se o acto for cometido sem consentimento da
mulher, é condenado na pena de prisão de 3 meses a 2 anos; se for com consentimento da
mulher, é punido com a pena de prisão até 1 ano.
2. A mulher que consentir e fizer uso dos meios subministrados, ou que voluntariamente procurar
o aborto a si mesma é punida com pena de prisão até 2 anos.
3. O médico, farmacêutico, enfermeiro ou qualquer outro profissional de saúde que, abusando da
sua profissão, tiver voluntariamente concorrido para a execução do aborto, indicando ou
subministrando os meios, incorre na pena de prisão até 2 anos.
E punida por cumplicidade a enfermeira que facultou os medicamentos, bem como como a
empregada e a mandatária pela tentativa visto que o intendo da mandatária não se realizou, e por
duplo homicídio a esposa por tentar abordar a gravidez da amante do marido e por tentar matar o
marido.

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CAPITULO III: CONCLUSÃO
A resolução dos casos práticos foi a luz do código penal nacional e também leis nacionais pois,
trata-se de crimes, e bem se sabe que os crimes têm um tratamento de acordo com a sua
tipologia, causa, intenção bem como objectivo, e recebem tratamentos diferentes. No caso 1, o
autor recebe uma pena de por porte e manuseio de arma contra a outra pessoa, ficando por se
averiguar a real causa da morte do finado, se por tiro ou o acidente. No caso 2, recebem a pena
os autores (cúmplices) do crime bem como a mandatária (sujeito) pela tentativa de abordo com
ausência de conhecimento da gestante, pois pela lei Moçambicana pune-se pela tentativa e não
apenas pela consumação do acto, pois as intenções ou objectivos da mandatária do crime não foi
consumado.

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CAPITULO IV: REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Almeida, C, P. (2002). A inimputabilidade por anomalia psíquica: questões jurídicas de ordem
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Greco, M, H. (2005). Diagnóstico nas intoxicações (problemática da imputabilidade e da
criminalidade resultante ou ligada ao consumo de droga). Revista do Ministério Público,
N.º 29

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Nucci, G,K. (2008). Derecho Penal - Parte General: Fundamentos y teroria de la imputación.
Madrid: Ediciones Juridicas. Eighter

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