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Evolução do Direito

O Direito é em sua concepção sociológica, um produto de múltiplas influências sociais, não


sendo regras permanentes e inalteráveis, mas sim sujeitas a constantes transformações.
Observa-se assim, com muita nitidez, a influência da sociedade sobre o Direito enquanto
fato social, tornando-o um produto de processos sociais, ou seja, o Direito em decorrência
as relações sociais, tudo que agir sobre a sociedade produzirá reflexo também sobre o
Direito.
O Direito enquanto Fatores Econômicos: O sistema de propriedade, as formas de produção,
as relações entre empregados e patrões – tudo isso reflete na ordem jurídica, modificando-
a, à medida que vai se alterando a estrutura econômica da sociedade. Alguns autores como
K. Marx e F. Engels, criadores do materialismo histórico, chegam a se posicionar no sentido
de conceber o direito como reflexo, exclusivamente, da constituição econômica, embora
não se possa negar que, entre as forças modeladoras do Direito, o fator econômico é o que
exerce uma influência mais decisiva, ainda que seguido de muito perto pelo fator político.
A influência do Fator Econômico sobre o Direito Romano caracterizavam-se por forte
concentração de poderes nas mãos do pater famílias, ou seja, o chefe da família. Todos os
membros do grupo doméstico estavam submetidos à autoridade do chefe, o único dotado
de capacidade jurídica. Os demais membros não tinham qualquer iniciativa, nem
autonomia, não importando idade ou situação social. Uniam-se todos para a produção dos
bens necessários à sobrevivência do grupo. Tal direito estava perfeitamente adequado a
uma sociedade pequena, mas ao entrarem em contato com outros povos, dedicaram-se
com grande intensidade à compra e venda de mercadorias. Essa modificação na estrutura
econômica imediatamente repercutiu no direito. A organização da família tornou-se menos
rígida, passando a ser submetida ao controle da sociedade global e não mais exclusivamente
ao chefe da família.
Algo idêntico ao ocorrido em Roma desenvolveu-se no Direito Moderno, quando no fim do
século XVII, surgiu uma nova classe, enriquecida pela posse de capitais mobiliários. Foi onde
a burguesia se ascendeu ao poder político.
Aos poucos foram surgindo os grandes organismos econômicos, nacionais e multinacionais,
acarretando em um tremendo abalo na ordem jurídica. Novos ramos do direito foram
brotando do Direito Civil e aos poucos ganhando autonomia, tais como o direito comercial,
do trabalho, industrial, econômicos etc. Mas o Direito Penal, que mantem maior distância
do econômico, não foge à regra, principalmente no que diz respeito aos crimes contra
patrimônio, falimentar e a ordem econômica.
O Direito enquanto Fatores Políticos: A palavra politica, modernamente é utilizada para
designar a ciência e a arte de governar, abrangendo as relações entre o individuo e o
Estado, as relações dos Estados entre si, bem como funções e atribuições do Estado.
Se examinarmos o conjunto de atribuições do Estado, veremos que é exatamente através da
regulamentação jurídica que o Estado as exercem. Kelsen com base na teoria Marxista
identificou Estado e Direito, e ainda hoje é a perspectiva da maioria dos juristas em face do
Estado, identificando o direito exclusivamente como ciência jurídica, pelo seu aspecto
normativo puro, razão pela qual foi mal compreendida pelos sociólogos.
Voltamos a enfatizar que do ângulo sociológico, há uma nítida distinção entre o Direito e o
Estado, embora não se possa negar a proximidade em que se situam, um se realizando
socialmente do outro.

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Com a aparição do poder politico, longe de ser o responsável pela gênese do direito, foi
apenas um dos eventos que exerceram uma reação grave e imediata, tanto na função e
estrutura jurídica, quanto no seu conteúdo. Por essa razão, o regime politico de um país
exerceu influência direta sobre suas regras de Direito Público e ate de Direito Privado.
Segundo o regime em que se vive monárquico, aristocrático, feudal ou democrático, o
Direito Constitucional, o Direito Administrativo e o Direito Fiscal, apresentaram
peculiaridades. A própria organização da família, a aquisição e o uso da propriedade, a livre
iniciativa comercial ou econômica etc., assumirão aspectos variantes, de maior ou menor
rigidez, dependentes dos fatores políticos vigentes.
O Atual momento politico brasileiro oferece eloquente exemplo disso. Tao logo chegou ao
poder o Partido dos Trabalhadores (PT), que arregimentou forças politicas para realizar
profundas reformas constitucionais, como as da Previdência e a Tributária que afetaram
muitos milhões de brasileiros, igualmente de grande repercussão social, sendo certo que
outras reformas como do Judiciário, Politica e Trabalhista estariam em andamento.
A influência dos fatores políticos sobre o Direito torna-se mais patente no caso de
revolução. Mal concluída a tomada do poder pelo grupo revolucionário, surge um novo
Direito, substituindo aquele que servia de sustentáculo normativo ao sistema social, politico
e econômico contra o qual a revolução se lançou. Esse novo Direito, refletindo as novas
tendências politicas, traz no seu bojo a intenção de legitimar e justificar o poder, com o que
se fecha o ciclo revolucionário.
Na Grécia com a Legislação de Sólon, significou a superação de uma questão social; Na
Roma com a Lei das XII Tábuas, estabeleceu-se uma nova relação entre patrícios e plebeus;
assim foi no mundo medieval com a Carta Magna; no mundo contemporâneo, com a
Declaração dos Direitos do Homem e a Legislação Napoleônica; e até mesmo no Brasil com
nossas constituições de 1824, 1891..., 1988. A primeira resultou na revolução da
independência; a segunda, da república; a terceira, as revoluções de 1930 e 1932; a quarta,
do advento do fascismo e do Estado Novo; a quinta, da redemocratização do país pós-
guerra que derrotou o fascismo; a sexta a revolução de 1964; e por fim a última, da
redemocratização do Estado Brasileiro.

O Direito enquanto Fatores Culturais: Se compararmos o direito de uma sociedade


culturalmente desenvolvida com o de outra inculta, constataremos imediatamente a
necessária harmonia existente entre a ordem jurídica e os fatores de cultura. O direito
evolui acompanhando a evolução cultural, a ponto de podermos afirmar ser ele o aspecto
cultural de um povo. Cada povo tem sua peculiaridade. A Grécia, por exemplo, notabilizou-
se pela arte, pela cultura; os hebreus pela religião; os fenícios pela navegação; Roma pelo
direito. Pois o direito de cada um desses povos reflete o aspecto cultural em que mais se
desenvolveram, e quando a cultura de um é colocada em contato com a de outro, há
influencias reciprocas sobre o direito de cada um. A conquista da Grécia exerceu influencias
decisivas, não apenas nas artes e na literatura romanas, mas também nas suas instituições
jurídicas.
O que é cultura?
Em uma definição simplista, cultura é tudo aquilo que o homem acrescenta à natureza. São
os conhecimentos que vão se formando, transmitindo-se a outras gerações como autentica
herança social. O homem com seu desenvolvimento cultural conseguiu dominar as forcas da

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natureza, domesticar os animais, disciplinar a lavoura, criar à arte, a ciência, a religião, a
técnica, o direito, a filosofia, a musica, enfim, levar ao infinito os seus conhecimentos.
A maior evidencia de ser o Direito uma manifestação de cultura social, um fenômeno
cultural, está no fato de surgirem novos ramos do Direito à medida que se expande o
mundo cultural do povo. Falamos hoje em Direito Espacial, Nuclear, das Telecomunicações,
realidade somente possível graças ao progresso cientifico dos tempos modernos.

O Direito enquanto Fatores Religiosos: Antigamente, nos povos antigos, o direito não se
diferenciava da religião. Praticamente se confundiam porque o poder, a autoridade, o
direito e a religião emanavam da mesma divindade. Quando o chefe politico não era
também o líder religioso, este partilhava do poder, exercendo imensa influência sobre o
povo.

Em alguns povos, como os egípcios, hebreus, caldeus, tornavam-se difícil distinguir


legislador e profeta, jurista e sacerdote, código e livro sagrado, lei e tabu, crime e pecado,
processo e ritual, pena e purgação do pecado. As legislações eram, portanto, repletas de
rituais, preceitos e proibições de ordem religiosa.

Os primeiros intérpretes do direito foram os sacerdotes, homens talhados para tal ofício
pela natureza das ocupações que se desempenhavam nas sociedades rudimentares. Tinham
a posse dos postos de comando (legisladores, chefes militares, conselheiros). Os sacerdotes
contavam com a crença popular que os consideravam inspirados pelos deuses, e cercavam o
direito de um formalismo terrível, convertendo-o em ciência de iniciados, inacessível ao
povo.

Alguns sistemas jurídicos, como entre os povos antigos, ainda hoje estão profundamente
impregnados de religião, a exemplo do que ocorre no Mundo Islâmico, onde as regras
jurídicas e religiosas praticamente se confundem. Entretanto, mesmo os sistemas jurídicos
leigos, onde religião e direito não se confundem e a Igreja está separada do Estado, não
deixam de receber influência constante dos fatores religiosos. Como por exemplo, as
transformações ocorridas no Direito Romano, no que diz respeito a casamento, divórcio,
filiação, estado jurídico da mulher etc., quando se defrontou com as ideias cristãs nos
séculos III e IV de nossa era. Na Idade Média, quando da formação do Direito Canônico, a
religião continuou exercendo largamente a sua influencia, culminando com a criação de
novas instituições.

Nos dias atuais, os países onde predomina o protestantismo são bem mais liberais para
certos assuntos jurídicos do que aqueles onde predomina o catolicismo. O divórcio, no
Brasil, por exemplo, depois de longa e sistemática campanha contrária que a Igreja Católica
lhe moveu, até hoje não temos leis que regulamentam o controle da natalidade em razão da
acirrada oposição que setores conservadores religiosos lhe fazem.

Esses são os principais fatores sociais da evolução do Direito, mas como estes muitos outros
existem a exercer idêntica influência, pois, sendo o direito um fenômeno social, atuam
sobre ele todos os fatores que atuam sobre a sociedade. As mudanças na sociedade mais
cedo ou mais tarde refletem em mudanças na legislação em vigor ou em uma nova
interpretação dada as normas anteriores.

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Professora: Patrícia Formiga

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