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O Antigo Regime foi dominado pelas ordens privilegiadas do clero e nobreza, os quais
haviam monopolizado todos os poderes e vantagens públicas. A ideologia da
Revolução Francesa desenvolveu-se e refinou-se acompanhando a marcha dos
acontecimentos. Em 1789 ocorreu a querela com a Igreja Católica, houve a abolição
dos dízimos, confisco e revenda de propriedades da Igreja, abolição do monasticismo
e a construção da Constituição civil do clero, a qual pretendia reorganizar a Igreja
francesa. Em 1790 o Papa condena a Revolução. Em 1794 regiões da França sofrem
processo de descristianização e o Estado passa a não reconhecer nenhuma
associação a instituição religiosa.
Acima de todo havia os parlaments, tribunais de justiça soberanos que podiam colocar
obstáculos sobre a vontade régia- estes eram os fragmentos medievais de Tocqueville
em que ainda latejava o espirito da liberdade. Contudo, segundo alguns historiadores
franceses, a monarquia de 1789 foi a principal força em prol do progresso e da
modernização e o que impediram sua atuação foram grupos privilegiados
concentrados unicamente numa obstrução egoísta. Tal intepretação surgiu durante os
primeiros anos da terceira republica, em prol de legitimar a história pré-revolucionária
da França, dando a entender que a monarquia havia tido feitos louváveis – construção
nacional, racionalização e eliminação de privilégios sociais.
Segundo Marcel Marion, o único erro da monarquia não foi ter sido suficientemente
despótica. Sua posição foi adotada pelos partidários do Action Française (movimento
monarquista). Mas nem todos os historiadores que concordavam com a Action
Française salientavam o potencial autoritário da monarquia. Funck-Bretano afirmava
que a instituição chave do Antigo Regime era a família, que a nação era uma grande
família e o rei era seu patriarca, assim sendo, seu poder era benevolente e longe de
ser um déspota, o rei era simpático com a opinião publica. Outros historiadores
enfatizaram o caráter corporativo do Antigo Regime, harmonia mais que o conflito.
Pierre Gaxolte salientou que a missão fundamental da monarquia era destruir as
instituições de oposição. George Pagés afirmava que o poder da monarquia do Antigo
Regime atingiu o auge nos anos do governo pessoal de Luiz XIV, pois nessa época a
liberdade de ação do rei esteve mais desimpedida.
Desde os tempos medievais a monarquia estivera lutando para livrar-se das restrições
compostas pelas instituições feudais. A monarquia lutou para estabelecer uma
autoridade que banisse para sempre o fantasma da guerra civil. Conseguiu faze-lo em
1660. O parlament de Paris fora reduzido ao silencio e garantira-se o controle das
províncias pela investidura de Entendentes. Por este meio, Rei e Estado se tornaram
uma coisa só. Contudo, quando Luiz XIV morreu, a burocracia presente apriona o rei
dentro de uma maquina administrativa, o que manteve seus sucessores isolados da
nação, despertando a Revolução.
O absolutismo foi em grande parte filho da tributação, porem, essa tributação podia
obstar o progresso da autoridade regia. Levantar dinheiro mediante a venda de cargos
enfraqueceu o controle dos reis sobre os próprios subordinados. Isso resultava numa
administração financeira em que a desordem era normal, segundo Denis Richet.
Desde o século XVI até o século XVIII o Estado foi sempre ampliado em excesso. E
toda elaboração de politicas financeiras ou outras, era brinquedo de facções da corte.
Nessas circunstancias, era muito reduzida a possibilidade de um governo ágil,
eficiente e ate mesmo ponderado, sem falar no despotismo. Após a Revolução, seria
diferente, como percebeu Tocqueville.
Havia uma base racional na tomada de privilégios dessas classes, siso remontava o
pensamento da tripartite (oram, lutam, trabalhavam). As isenções de impostos se
justificavam nesse principio básico, mas foi liquidado pelos revolucionários como
alegações destinadas a amparar a desigualdade social.
Boris Porshnov afirmou que estes levantes sobre a cobrança de impostos partiram da
luta de classes das massas contra seus senhores feudais. Ao seu ver o Estado não
passava de um instrumento da nobreza, a classe feudal. O feudal absolutismo
constituía apenas um novo modo de explorar a produção camponesa para encher os
bolsos e servir aos propósitos da nobreza feudal.
Loyseau dissecou as diversas ordens da sociedade francesa de sua época. Não era
simplesmente uma questão de nobreza, clero e terceiro estado. Haviam em cada uma
das ordens, uma hierarquização correspondente a função social e profissional
especifica, Loyseau relacionou-as em ordem de posição e de prestigio. Mousnier
considerou esse tipo de descrição contemporâneo mais próximo da realidade do que
na baseada em classes. Ratava-se de uma sociedade de ordens. ‘’Segundo a estima,
a honra e a dignidade atribuídas ela sociedade a funções sociais que podem não ter
qualquer relação com a produção de bens materiais’’.
Essa teoria do novo colorido ao estudo do Antigo regime de duas formas: 1.que
ordens distintas estavam em constante conflito a medida em que se mudava o
prestigio atribuído pela sociedade a suas funções. Na sociedade medieval o guerreiro
desfrutava de um prestigio indiscutível, dai surge a consagrada prominência social da
nobreza da espada. Mas, em medida que o Estado vinha se aprimorando, advogados
e administradores adquiriram papel cada vez mais importante e acabaram por
constituir uma ordem superior rival, sob forma de nobreza de toga. 2. Também no
século XVII a sociedade de ordens estava em constante decadência. A prosperidade
crescente fez se desenvolver dentro dela uma burguesia comercial cada vez maior
cuja a demanda por consideração baseava-se inteiramente na riqueza liquida. O que
os burgueses queriam era uma sociedade de classes e em 1789 derrubaram o Antigo
Regime (sociedade de ordens) para consegui-lo.
Jamais houve uma discussão de que os que derrubaram o Antigo Regime fossem
burgueses (no sentido de que não eram nobres). Os marxistas iam além; os
burgueses eram burgueses no sentido que representavam o capitalismo e a riqueza
não fundiária. Em termos sociais a realização mais importante do Antigo Regime foi
preparar terreno para a burguesia capitalista para sua tomada de poder em 1789.
Contudo, Alfred Cobban afirmou que o grupo de deputados eleitos em 1789 tivera
poucos capitalistas, ou homens de riqueza liquida, entre seus membros. Eram em
maioria os advogados funcionários públicos e homens de riquezas de bens de raiz.
George V. Taylor ainda afirmava que a maior parte da burguesia era de homens dessa
espécie e que o capitalismo representava uma fonte minoritária de riqueza. Em 1780 a
burguesia francesa era esmagadoramente não comercial e ate mesmo seus membros
minoritários estavam ansiosos por abandonar o comercio e a indústria tão logo. Todo o
lucro dos cargos venais do século XVI provinha do desejo da burguesia de investir em
status os lucros comerciais.
Betty Behrens afirmou que o privilegio era um principio que perpassava todo o Antigo
Regime e que nela beneficiava todo mundo direta ou indiretamente. Ela mostra que
nem mesmo a isenção das supostas ‘’ordens privilegiadas’’ era completa e que,
quanto a isso, as pessoas mais privilegiadas na França podem muito bem ter sido
determinados burgueses.
O fato de que burgueses pudessem aspirar a nobreza implicava que estes tinham
considerável chance de consegui-lo. A propaganda revolucionaria pintou a velha
nobreza como uma casta impenetrável para os de fora (o que agora vemos que e
falso). Era sempre fácil que plebeus ricos ingressassem na segunda ordem. Por toda
sociedade do Antigo Regime a riqueza podia superar toda barreira social. Assim, a
reivindicação dos revolucionários era mais contra a mobilidade social (não
deliberadamente) do Antigo Regime do que contra sua rigidez.
Aos olhos dos marxistas tudo isso fez da Revolução um momento econômico decisivo
de maior importância, quando as forças capitalistas romperam os grilhões da
organização feudal da agricultura e produção manufatureira. Com isso a Revolução
deu fim também a uma etapa do desenvolvimento econômico. Economicamente este
foi o fim da Idade Média e inicio do fim do Antigo Regime.
Ate o final do século XVIII o Estado deixou que a agricultura se valesse dos seus
próprios recursos influenciados por ministros como Colbert que acreditava que a
manufatura era o caminho para enriquecer o estado – produzindo tudo o que se
necessitava o fluxo de importação caia e em caso de grande produção, podia-se
exportar. Protegendo e regulando setores da economia o governo podia prosperar. O
século XIX iria chamar isso de mercantilismo, mesmo quando os fisiocratas
convencem os ministros de Luís XIV e Luís XV das superiores exigências da
agricultura, eles nunca deixaram de lado os hábitos de regulamentação herdados do
século XVII. A regulamentação estatal como assinalou Tocqueville constituiu um traço
fundamental da economia do Antigo Regime.
Os homens de 1789 eram nacionalizadores. Desejavam criar uma França onde tudo
fosse racional, lógico e claro na organização e justo, econômico e útil no objetivo.
Encararam o Antigo Regime como desprezível amontoado de caos, falta de logica,
rotina, desperdício e injustiça. A perspectiva que lhe dava sustentação era como uma
mescla de egoísmo, superstição e fanatismo. Foi esse ponto de vista que Taine
condenou como ‘’espirito clássico’’, sem dar importância as complexidades da
evolução social e nem mesmo a psicologia humana básica. A mentalidade do Antigo
Regime era tão complexa em seu caráter como em suas outras facetas.
O Antigo Regime era um regime católico romano, o titulo máximo para a autoridade
real era consagrado por Deus e apenas perante a Deus ele devia prestas contas. Seu
reinado tinha inicio numa coroação junto a unção com óleo sagrado. Todos seus
súditos passavam a vida sore a sombra da Igreja, esta que prescrevia o calendário,
batizava, casava e enterrava todo mundo; monopolizava a educação; organizava os
casamentos, os serviços médicos e ajudavam os pobres; possuía maior parte dos
maiores edifícios e um decimo do território francês. Tudo isso foi despedaçado entre
1790 a 1801.
O protestantismo só foi ilegal durante o ultimo século do Antigo Regime. Ao ver dos
católicos os protestantes constituíam um corpo estranho. Contudo, os protestantes
tiveram papel importante no comercio ultramarino francês, organizaram e nominaram
grande parte da indústria de tecido e os banqueiros de Languedoc foram fundamentais
ao manter o Estado financeiramente equilibrado.
As fronteiras entre igreja e estado constituíram uma das preocupações principais dos
políticos. Isso porque os membros da igreja recorriam ao rei ou aos seus tribunais para
resolver suas contendas, com o paio do rei se saiam melhor que seus adversários nos
parlaments, universidades e entre determinadas outras ordens religiosas. Porem sua
determinação de esmagar todos os adversários acabou resultando na criação de uma
frouxa coalização entra eles, o jansenismo conquistava apoio popular.
Cada localidade tinha seus próprios santos, fontes sagradas e cerimonias a ela
relacionados. Eliminar essa enorme diversidade exigia um grande esforço e recursos
que fugiam da capacidade da Igreja no Antigo Regime. Era mais fácil impor
uniformidade as elites e, mesmo aí, a ‘’piedade barroca’’ da Contrarreforma havia
começado a desmoronar pelos meados do século XVIII.
Mas, até mesmo uma comprovada decadência tem sido caracterizada como uma
‘’secularização de atitudes religiosas’’- mais um afastamento do ideal sacerdócio do
que das verdades do cristianismo.