Integrantes do grupo: Luma Negrelli RA: 81711740 Larissa Dantas Silva RA: 81711045 Livia Rebeca C. Figueiredo RA: 81728086
QUESTÕES DE DIREITO CIVIL (REAIS) – A1
1 - A proposta aprovada em assembleia passa a integrar a convenção
condominial ou o regimento interno? Justifique, inclusive quanto ao quórum necessário para tal aprovação.
2 - A proposta de proibição genérica de utilização de áreas comuns pelos
locatários que se utilizam do sistema AirBNB, aprovada pela assembleia geral extraordinária, encontra guarida na legislação em vigor?
Respostas:
1-
A convenção de condomínio, apontada no artigo 1333 do Código Civil,
como ato de constituição do condomínio edilício, sendo um documento escrito no qual se estipulam os direitos e deveres de cada condômino, e deve ser subscrita por titulares de, no mínimo, ⅔ das frações ideais. A utilização do prédio é regulada por ela e difere dos contratos em geral, porque estes obrigam somente as partes contratantes, enquanto a convenção sujeita todos os titulares de direitos sobre as unidades, ou quantos sobre elas tenham posse ou detenção, atuais ou futuros. Sua força coercitiva atingem não só os proprietários mas também aos locatários. Alguns doutrinadores a consideram como a Constituição do condomínio e a partir do momento que o indivíduo ingressou no condomínio, seja por compra ou locação, vai estar sujeito à essas regras.
Conforme preconiza o renomado autor Carlos Roberto Gonçalves (p.
403, 2019, 14 edição, editora Saraiva) “A convenção não pode sobrepor-se à lei. São nulas as cláusulas que contrariem não só disposições da lei condominial, cujo caráter cogente tenha sido proclamado pela doutrina nacional e estrangeira, como especialmente a Constituição Federal, limitando o direito de propriedade ou outros direitos nela assegurados.”
Já o Regimento Interno deve ser utilizado para as questões de
convivência. Ele complementa a convenção, contém regras minuciosas sobre o uso das coisas comuns e é colocado em quadros, que sejam visíveis aos moradores. É o ato interna corporis, que regula o uso e o funcionamento do edifício, como regras relativas ao dia a dia condominial: horário de funcionamento das áreas de lazer, utilização das entradas de serviço e social, horário de mudança, como deve ser utilizado a churrasqueira, proibição de cachorro dentro da piscina e etc. Sua aprovação se faz por ⅔ dos condôminos e integra o estatuto condominial, sendo exigido no diploma civil que o regimento interno conste na convenção.
Observando os fatos supracitados, pode-se afirmar que passa a integrar
a convenção condominial e, como já mencionado, o quórum deverá ser de no mínimo ⅔ das frações ideais.
Pode-se exemplificar que: a convenção condominial seria considerada
como a lei e o regimento interno seria um decreto.
Na problemática mencionada, a proibição do AinBNB integrará a
convenção, pois é a vida de condomínio. Mas se regular a utilização de horários dos inquilinos que usam tal plataforma, integraria o regimento interno.
“Convenção condominial que proíbe que o proprietário da unidade autônoma a
alugue para estudantes. Inadmissibilidade. Discriminação que atenta direitos, e assim é ineficaz, porque ilegal.” (RT, 779/277).
ALTERAÇÃO DE ÁREA DE USO COMUM DOS CONDÔMINOS.
GRADEAMENTO DO LOCAL ONDE SÃO GUARDADAS AS BICICLETAS. "Não se insere entre os atos de mera administração ordinária do síndico a modificação de área de uso comum do edifício, suscetível, alem do mais, de causar embaraços a regular utilização do local por outros condôminos. Recurso especial não conhecido." (STJ - RESP 33853/SP; RECURSO ESPECIAL (93/0009561-7) - DJ 05/09/1994 PG:23108 - Relator Ministro BARROS MONTEIRO).
2-
A proibição genérica de utilização das áreas comuns pelos locatários do
sistema AirBNB não se encontra em nossa legislação em vigor. Para proibir teria que ser algo específico e não genérico. O artigo 1.339, caput do Código Civil veda, pois segundo o qual "os direitos de cada condômino às partes comuns são inseparáveis de sua propriedade exclusiva; são também inseparáveis das frações correspondentes as unidades imobiliárias, com as suas partes acessórias"
Sendo que, não há do que se falar de hospedagem pelo sistema
AirBNB, visto que na lei 8.245/91, no artigo 48, trata-se da locação por temporada, segundo o qual “considera-se locação para temporada aquela destinada à residência temporária do locatário, para prática de lazer, realização de cursos, tratamento de saúde, feitura de obras em seu imóvel, e outros fatos que decorrem tão somente de determinado tempo, e contratada por prazo não superior a 90 dias, esteja ou não mobiliado o imóvel”. Ou seja, não estipula um prazo mínimo.
No caso em tela, a proibição não está prevista em nossa legislação
atual, porque o proprietário do imóvel tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, conforme o artigo 1228 do Código Civil. E o locatário tem a posse direta da coisa, tem os mesmos direitos do locador, exceto os direitos que dizem respeito à sua propriedade, como por exemplo votar nas assembleias livremente sem procuração do locatário.
Concluindo: O que tem previsão legal é a aplicação de sanções para
aquele condômino que usar de forma indevida as áreas comuns, como utilizar- se de forma prejudicial ao sossego, salubridade e segurança dos possuidores, ou aos bons costumes (art 1336 do Código Civil). Diante dos fatos supracitados e legislação mencionada, o proprietário Roberto, se assim optar, poderá dispor de seu apartamento para uma locação temporária, não sendo defendida em nossa lei a proibição dessa atividade, pois este é um direito do proprietário. Como se não bastasse, a proibição de se utilizar das áreas comuns também não. As áreas comuns são inseparáveis das áreas privativas. Assim que o proprietário transfere seus direitos ao inquilino, ele também está transferindo o uso e gozo junto, e isso abrangerá o que preconiza o art 1.339, acima citado, em que os direitos de cada condômino são inseparáveis de sua propriedade exclusiva (apartamento), correndo o risco de se tratar de uma restrição ao direito de propriedade.
O ministro Luís Felipe Salomão tem o seguinte entendimento: Ao ler seu
voto na sessão da Quarta Turma do STJ, onde o assunto está sendo julgado, afirmou que considera “ilícita a prática de privar o condômino do regular exercício do direito de propriedade, em sua vertente de exploração econômica”. E mais: “Com efeito, há mesmo, ao revés, uma ideia de que a locação realizada por tais métodos [plataforma virtual] são até mais seguros – tanto para o locador como para a coletividade que com o locatário convive – porquanto fica o registro de toda transação financeira e os dados pessoais deste e de todos os que vão permanecer no imóvel, inclusive com históricos de utilização do sistema”, disse o ministro.
O entendimento de um relator foi o seguinte:
“APELAÇÃO – AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER E NÃO FAZER –
Condomínio que pretende obstar a ré de locar sua unidade por curto período de tempo – Ausência de vedação em convenção condominial – Utilização que não se equipara a fim não residencial – Inexistente qualquer justificativa jurídica a restringir o direito de propriedade da ré – Eventuais abusos devem ser analisados pontualmente, tendo o Condomínio à sua disposição meios inclusive extrajudiciais de reprimenda – Recurso Provido”.