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Tema da Semana

07/07/2010 - 14/07/2010

Breve Referência ao Regime Jurídico dos Condomínios

Com o desenvolvimento
e modernização das
cidades, avolumam-se as
legalmente fixados. Estes são, designadamente: (i)
existirem fracções autónomas e independentes; (ii)
estarem estas fracções isoladas e serem distintas
preocupações com a umas das outras através de saídas próprias para a
melhoria da qualidade de parte comum ou via pública do condomínio; (iii)
vida onde se inclui não ape- existirem partes comuns à todas as fracções; e (iv)
nas o bem-estar geral, mas duas ou mais fracções pertencerem a proprietários
especialmente questões diferentes. A ausência de um destes requisitos
relacionadas com maior determina a nulidade do título constitutivo do con-
Assma Nordine Jeque segurança das pessoas e domínio e, consequentemente, a sua conversão
Advogada
bens, é normal ver-se um para regime de propriedade singular e ou regime
anordine@salcaldeira.com desenvolvimento acentuado de compropriedade, conforme os casos. Têm legi-
de “condomínios”. No orde- timidade para arguir a nulidade qualquer dos con-
namento jurídico moçambicano existe um regime dóminos, ou o Ministério Público através da partici-
jurídico que rege a criação e gestão dos pação da entidade pública responsável pela apro-
“condomínios”. O presente artigo pretende dar a vação e fiscalização das construções.
conhecer alguns dos pontos tratados no referido Assim, os condomínios agregam partes de uso e
regime. propriedade exclusiva (onde a gestão, responsabi-
“Condomínio” é definido por lei como um conjunto lidade, despesas, entre outros, é suportado pelo
de fracções distintas e independentes de um mes- seu proprietário ou inquilino) e partes de uso e pro-
mo edifício ou prédio urbano, pertencentes a pro- priedade comum, como por exemplo instalações,
prietários diferentes. O regime jurídico que trata áreas de lazer, paredes mestras, pilares, arrecada-
destas situações é igualmente designado de ções, estacionamentos, jardins, iluminação exterior
“propriedade horizontal” e encontra-se tratado nos etc. (onde as despesas são suportadas pelo fundo
artigos 1414º a 1438º do Código Civil. Comple- comum e, a responsabilidade é repartida por todos
mentarmente, em 1999 foi aprovado o Decreto n.º os condóminos). Note que os condóminos não têm
53/99, 8 de Setembro – Regulamento do Regime direito de preferência na alienação das fracções
Jurídico do Condomínio (adiante, o “Regulamento exclusivas ou privadas; não têm o direito de exigir
de 1999”). a divisão da parte comum (como acontece, por
Uma das inovações (ou clarificação) trazida pelo exemplo, no caso de compropriedade); e, ainda,
Regulamento de 1999 foi a de estender o âmbito não podem solicitar a extinção do seu direito sobre
do regime de condomínio para mais do que um as partes comuns como forma de se desonerar da
edifício. Ou seja, a expressão “condomínio” aplica- contribuição para as despesas inerentes às mes-
se, igualmente, ao conjunto de edifícios contíguos, mas.
funcionalmente ligados entre si pela existência de Pode se considerar que uma das mais-valias
partes comuns afectadas ao uso de todas as uni- aliada ao regime de condomínio é o facto de
dades que compõe o “condomínio”. existirem regras para a sua organização, ges-
O condomínio pode ser constituído por negócio tão e manutenção, cujo cumprimento pode ser
jurídico (a ser efectivado por escritura pública), por imposto aos condóminos, resultando sanções
usucapião (fundada na actuação, por certo lapso ao seu desrespeito. A título exemplificativo, a
de tempo, segundo o regime jurídico do direito que seguir destacaremos algumas destas regras:
se adquire, neste caso, o regime jurídico do con- •Órgãos administrativos: os condomínios têm
domínio ou propriedade horizontal) e por acção como órgão deliberativo a assembleia de condó-
judicial (proferida em acção de divisão de coisa minos e como órgão executivo o administrador.
comum ou em processo de inventário). O Regula- Se assim deliberado, poderão criar uma comissão
mento de 1999 veio determinar ainda que, a jun- dos moradores.
ção de fracções autónomas contíguas do mesmo •Despesas do condomínio: as despesas para a
prédio deverá ser autorizada pela autarquia local gestão do condomínio são repartidas por todos os
e, a mesma deve ser lavrada em escritura pública condóminos, na proporção das suas fracções e
(o mesmo para os casos de divisão, nas situações dos bens e serviços comuns usados. Estas são
excepcionais admitidas por lei). suportadas pelo fundo comum, para o qual todos
Para que determinado edifício ou conjunto de edifí- contribuem com o pagamento das quotas, sem
cios possa estar no regime de condomínio é impe-
rioso que reúnam, cumulativamente, os requisitos (Continued on page 2)

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Breve Referência ao Regime Jurídico dos Condomínios - Continuação
(Continued from page 1) atraso por três meses pode dar lugar à execução
prejuízo de despesas extraordinárias que serão judicial da dívida, servindo a deliberação da
desembolsadas no momento. Estas incluem: (i) assembleia dos condóminos como título executivo.
despesas de utilização, por exemplo: água, luz, Outras infracções e respectivas multas pode-
saneamento, livros de registos, artigos de limpeza rão ser fixadas pela assembleia, sem prejuízo
e outras necessidades das partes comuns; (ii) de, na falta de regras específicas a lei permitir
despesa de serviços, por exemplo: pagamento de aplicação de multas de 50,00 a 500,00 Meticais
guardas, manutenção de elevadores, de bombas por recusa de cumprimento da lei e regulamen-
de água, de jardins, de piscinas, pagamento de to interno do condomínio, cuja aplicação é apro-
seguros etc.; (iii) despesas de conservação, por vada pela respectiva assembleia.
exemplo: pintura das partes comuns, substituição •Seguro: é obrigatório um seguro contra incêndio,
da canalização etc.; e, (iv) despesas com inova- cuja gestão caberá ao administrador e as despe-
ções (adição de elementos novos que acrescen- sas serão suportadas pelos condóminos.
tam valor à parte comum), por ex.: construção de Outras situações encontram-se previstas no regi-
um campo de ténis; pavimentação de luxo; etc. me jurídico de condomínios em referência e, ain-
(que têm regras próprias sobre a contribuição ou da, outras regras complementares de gestão e
não). segurança poderão ser fixadas no regulamento
•Quota de condomínio: é a taxa ou valor pago interno do condomínio ou aprovadas pontualmente
como contribuição pelas despesas de condomínio pela respectiva assembleia.
e para a constituição do fundo comum de reserva. Para garantir uma maior atractividade, alguns con-
A mesma é fixada por aprovação de 2/3 dos domínios têm-se desenvolvido em formatos mais
membros da assembleia dos condóminos. complexos de modo a agregar cada vez maior utili-
•Uso das partes comuns: todos os condóminos dade aos seus utentes. Em alguns países nota-se
têm direito ao acesso livre às partes comuns e ao que, por exemplo, ao invés de espaços exclusivos
uso das suas facilidades, sem prejuízo do respei- para habitação tem-se conferido mais atenção,
to pelas regras do bom uso e da moral. Assim, também, ao alargamento das áreas de lazer e de
serão proibidos usos desconformes, bem como serviços, por exemplo, com ginásios, centros de
depósitos de objectos que impeçam ou limitem o massagens e tratamento de beleza, lojas, super-
uso por outros condóminos, sob pena de terem mercados, entre outras facilidades. Estes desen-
que custear as despesas que o administrador volvimentos trazem consigo necessidades de
tiver para os remover. As partes comuns não adaptações jurídicas e ou aplicação de regras de
deverão igualmente ser objecto de divisão ou interpretação e preenchimento de lacunas através
alienação em separado das fracções autónomas. de princípios orientadores gerais, entre outros
•Uso das partes exclusivas: não obstante serem aspectos, atendendo à necessidade de continuar a
privadas, estas partes devem obedecer a algu- gerir-se a existência de áreas exclusivas e áreas
mas regras gerais, como por exemplo: respeito comuns, num mesmo espaço e, neste caso, direc-
pela cor das paredes externas, linha arquitectóni- cionadas para fins diferentes e com necessidades
ca e outros aspectos de estética geral do condo- muitas vezes distintas. Ou seja, temos um regime
mínio; manutenção das canalizações e demais jurídico a ser respeitado mas, o rápido incremento
sistemas de alimentação da fracção; limpeza; das modalidades de condomínios levarão à neces-
segurança geral; comunicação sobre a recepção sidade de o complementar com regras definidas
de hóspedes, respectiva identificação e tempo da no âmbito da autonomia privada, respeitados os
sua permanência; níveis máximos de som e horá- limites legalmente impostos, entre outros desafios
rios; comunicação sobre arrendamento da frac- jurídicos a ponderar caso a caso.
ção autónoma; entre outros aspectos, sob pena Não obstante o referido no parágrafo anterior, tam-
de terem que responder pelos danos causados bém pode-se constatar que muitos prédios consti-
aos restantes condóminos. tuídos em regime de condomínio no País, os seus
•Infracções e sanções: a falta de pagamento da proprietários e ou utentes simplesmente ignoram
quota dá lugar a: (i) multa correspondente a 50% tal facto, não aproveitando a possibilidade que o
do valor da quota; (ii) dois meses de atraso pode regime legal definido para os condomínios dá de
levar a outras medidas, tais como: publicitação da se obter espaços mais organizados, higienizados e
dívida, perda de direito ao estacionamento, perda seguros, melhorando desse modo a imagem
de direito de uso do elevador, entre outras; (iii) das nossas cidades.

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