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implementação de
empreendimentos de geração de
energia solar e eólica e suas
distinções: como identificar o
modelo ideal?
Fabiana Arend Branco[1]
Luciana Cordeiro Rodrigues[2]
https://ibradim.org.br/os-tipos-contratuais-utilizados-na-implementacao-de-
empreendimentos-de-geracao-de-energia-solar-e-eolica-e-suas-distincoes-como-
identificar-o-modelo-ideal/
1. Introdução
Diante do atual panorama de crise hídrica – a pior seca dos últimos 90 anos desde o início
das medições em 1930 – o Brasil pode sofrer um novo apagão energético agora no
segundo semestre de 2021 e, desta vez, bem pior que o de 2001[3]. Com os níveis baixos
dos reservatórios e crise de abastecimento elétrico, a implementação de novos
empreendimentos de geração de energia renovável que não dependam da flutuação
hidrológica se mostra cada vez mais urgente em razão dos impactos da degradação
ambiental.
Embora a crise energética instaurada ande em paralelo com a crise econômica decorrente
dos efeitos da pandemia do COVID-19, o momento é oportuno para busca de
investimentos na diversificação da matriz elétrica, sobretudo através da implantação de
parques eólicos ou solares fotovoltaicos que apontam perspectivas de crescimento
contínuo.
2. Tipos Contratuais
2.1. Arrendamento
Existem 02 (dois) modelos de contratos de arrendamento tipificados e regulamentados por
Lei:
“Art. 3º Arrendamento rural é o contrato agrário pelo qual uma pessoa se obriga a ceder à outra,
por tempo determinado ou não, o uso e gozo de imóvel rural, parte ou partes do mesmo, incluindo,
ou não, outros bens, benfeitorias e ou facilidades, com o objetivo de nele ser exercida atividade de
exploração agrícola, pecuária, agro-industrial, extrativa ou mista, mediante certa retribuição ou
aluguel, observados os limites percentuais da Lei (grifos nossos)”.
E finalmente, não se adequa ao arrendamento mercantil regulamentado pela Lei nº
6.099/74.
Os contratos de arrendamento comumente utilizados pelas empresas produtoras de
energia não possuem as características típicas do arrendamento rural, visto que a
atividade de geração de energia, além de ser regulada por normas especiais e por agência
federal, é enquadrada como industrial na Classificação Nacional de Atividades
Econômicas – CNAE, nem do arrendamento mercantil, sendo regidos, grande parte das
vezes, pelas disposições do Código Civil.
A modalidade de arrendamento ainda comumente utilizado para formalização de contratos
que visam a exploração de potencial energético não se encaixa nas hipóteses típicas
previstas na legislação antes referida, assemelhando-se mais a uma locação. Apesar da
atipicidade, ainda é modalidade muitas vezes eleita com o objetivo, sobretudo, de afastar
eventuais questionamentos em relação aos prazos de vigência neles estabelecidos.
O arrendamento pode ser firmado por instrumento particular e o seu registro e/ou
averbação perante o Cartório de Registro de Imóveis irão garantir a publicidade do ato
perante terceiros, assim como oponibilidade erga omnes.
Em se tratando de pessoas físicas ou jurídicas estrangeiras, ou ainda, pessoas jurídicas
brasileiras que tenham sócio controlador estrangeiro interessadas em arrendar imóveis
rurais, deverá ser observado o regramento do Provimento nº 43 da Corregedoria Nacional
de Justiça, bem como as restrições estabelecidas pela Lei nº 5.709/71 e seu Decreto
Regulamentador nº 74.965 de 1974[5], que direcionam a aquisição de imóveis rurais por
estrangeiros.
2.2. Locação
Herança do direito romano, o contrato de locação é um dos mais tradicionais contratos
típicos que se adaptou ao dinamismo das relações históricas, sociais e econômicas,
chegando até os nossos dias e permanecendo vivo no ordenamento jurídico.
Existem dois critérios para classificar os imóveis quanto a sua natureza: a rigor, de acordo
com a localidade e/ou destinação, os imóveis podem ser rotulados em rurais ou urbanos.
Importante destacar, ainda, que a lei de locações, em seu art. 9º, traz algumas hipóteses
de rescisão do contrato de locação que merecem atenção: (i) mútuo acordo entre as
partes; (ii) prática de infração legal ou contratual; (iii) falta de pagamento de aluguel ou
encargos da locação e (iv) para a realização de reparações urgentes determinadas pelo
Poder Público, que não possam ser normalmente executadas com a permanência do
locatário no imóvel ou, podendo, ele se recuse a consenti-la.
2.3. Superfície
O direito de superfície foi reintroduzido no ordenamento jurídico pátrio, incialmente, pela
Lei n° 10.257/2001 (Estatuto da Cidade) e posteriormente também recebeu regramento
pela Lei n° 10.406/2002 (Código Civil). Não obstante a sua previsão em dois diplomas
legais distintos, é de se destacar que aparentemente inexiste conflitos de normas, bem
como não ocorreu a revogação dos dispositivos do Estatuto da Cidade com o advento do
Código Civil.
A Lei n° 10.257/2001 é uma norma especial, um microssistema legal que se configura num
instrumento de política urbana para regularizar situações em que o Poder Público
outorgava a posse de imóveis públicos a particulares para construírem a sua casa no local
e lá residirem por longo prazo sem, no entanto, renunciar ao domínio pleno sobre o imóvel.
De outro turno, o Código Civil, como uma lei geral, é aplicado às demais situações
jurídicas não contempladas na lei especial.
Se perfaz por
escritura pública
com registro
obrigatório no
Pode ser firmada por
Pode ser firmada por Cartório de
instrumento particular, com
instrumento particular, com Registro
registro eventual no Registro
registro eventual no Imobiliário, e
Imobiliário, em caso de cláusula
Registro Imobiliário, e não com pagamento
de vigência e de preferência, e
incide imposto para sua do ITBI, se for
não incide imposto para sua
formalização. onerosa, ou
formalização.
ITCMD, se for
gratuita (cf.
legislação
municipal).
Como se trata de
um direito real,
pode ser dado
Não é aceito como garantia Não é aceito como garantia em garantia por
meio de hipoteca
ou alienação
fiduciária
Tempo
determinado
prorrogável com
Tempo determinado prorrogável ajuste e de
Tempo determinado amigavelmente ou comum acordo
prorrogável por lei se não judicialmente – mediante nova
definido em contrato. compulsoriamente nas hipóteses escritura pública
legais. ou
indeterminado
nas hipóteses do
Estatuto da Terra
Encargos e
Encargos e tributos Encargos e tributos incidentes
tributos de
incidentes sobre o imóvel sobre o imóvel na forma
responsabilidade
na forma contratada. contratada.
do superficiário.
Possibilidade de
Cessão a terceiros ou cessão (venda) a
Cessão a terceiros com
sublocação com anuência do terceiros do
anuência do arrendador
locador direito real de
superfície.
Em caso de
Em caso de alienação do
alienação do
Em caso de alienação do imóvel, a locação subsiste se
terreno a
imóvel, o contrato subsiste houver cláusula de vigência,
terceiros, o
se houver cláusula de prazo determinado e contrato
direito de
vigência averbado à margem da
superfície
matrícula do imóvel.
subsiste.
Medida judicial
para a retirada do
Medida judicial para a
superficiário é a
retirada do arrendatário é a Medida judicial para a retirada
ação possessória
ação de reintegração de do locatário é a ação de despejo.
com
posse.
possibilidade de
liminar.
3. Considerações finais
Este breve estudo buscou apresentar os aspectos gerais e as características relevantes
dos modelos de contratos imobiliários (arrendamento, locação e direito de superfície)
comumente utilizados em projetos de geração de energia para instalação de parques
eólicos ou solares fotovoltaicos.
4. Referências
MIOTTO, Maria Cecília. Breves considerações sobre o direito de superfície (CC, arts. 1.369 a
1.377) e sua comparação com a locação. Disponível em
<https://www.migalhas.com.br/depeso/91744/breves-consideracoes-sobre-o-direito-de-
superficie–cc–arts–1-369-a-1377–e-sua-comparacao-com-a-locacao>.