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Ao 39 quesito: do ato ilegal ou de todo o procedimento li-

As empresas prejudicadas pela preferência citatório.


ilegítima que a Te1ebrás vem estabelecendo
Se o objeto da licitação for contratado
e impondo às integrantes de seu Grupo, em
com proponente que não ofereceu o menor
favor das companhias e sociedades por quo-
preço, caberá também ação popular, ajuizá-
tas de responsabilidade limitada em que pre-
vel por qualquer cidadão, contra os respon-
domine o capital nacional, desigualando-as
sáveis por esse contrato lesivo à Adminis-
nas suas licitações e contratações, contra pre-
tração (Const. Rep., art. 153, § 31, e Lei n9
ceitos expressos da legislação pertinente, po-
4717/65, arts. 1Q e 49, 111, b e c).
derão recorrer administrativamente dos edi-
tais ou dos julgamentos discriminatórios, ou, E o nosso parecer, s. m. j .
na via judicial, impugná-los por mandado São Paulo, 2 de julho de 1981. - Hely
de segurança ou ação ordinária anulatória Lopes Meirelles.

ARRENDAMENTO MERCANTIL - LEASING-BACK - CONTRATO


ADMINISTRATIVO

- Em princípio, o arrendamento mercantil, sob a forma de


leasing-back, pode ser adotado pelo DER/RI.

I operação conhecida como leasing-back, fa-


cultada aos arrendatários, que são os pró-
Breve histórico prios fornecedores dos equipamentos, a pos-
sibilidade de subarrendarem a terceiros, no
o Exmo. Sr. Governador, com o Ofício caso o DER-RJ, nas mesmas condições.
GRJ-12<V82, de 10.3.82, encaminhou ao Tri- Assim, celebraria a DER-RJ com os arren-
bunal de Contas estadual consulta formula- datários, e com a interveniência do Banco
da pela Secretaria de Estado de Transportes de Desenvolvimento do Estado do Rio de
referente a operações contratuais de interesse Janeiro S. A. (proprietários dos equipamen-
do DER-RJ e contida no Processo nQ tos), contrato de subarrendamento, com
E-10/oo0 473/82 que veio com os apensos opção de compra, pelo prazo de quatro anos,
de n. OS 10/202596, 202595,202594 e 202593 findos os quais ficaria assegurado ao DER-RJ
- todos de 1982. o direito de opção para a compra dos bens
A exposição feita pelo Exmo. Sr. Secretá- subarrendados, mediante o pagamento de im-
rio de Estado de Transportes no Ofício SET portância correspondente a 1% do valor bá-
nQ 085/82, l1e 9.3.82, que se encontra à fls. sico da operação. O aluguel, sujeito a corre-
2-4 do Processo n 9 E-10/000 473/82, versa ção monetária com base na variação da
sobre a aquisição de frota de equipamentos ORTN, seria pago em oito semestralidades,
rodoviários no valor de Cr$ 340.000.000,00 estando nelas já embutidos os custos finan-
(trezentos e quarenta milhões de cruzeiros) ceiros decorrentes do leasing-back.
pelo DER-RJ através contratos de subarren-
S. Exl!o termina referido ofício endereçado
damento, com opção de compra, que seriam
celebrados com as empresas fornecedoras. ao Exmo. Sr. Governador sugerindo consulta
Esse sub arrendamento se operaria com a ao Tribunal de Contas do estado, verbis:
compra dos equipamentos pelo Banco de "Tendo em vista, entretanto, a peculiari-
Desenvolvimento do Estado do Rio de Ja- dade da contratação, vimos lembrar a V. Exl!o
neiro S. A. que, no mesmo ato, os arrenda- da possibilidade de ser consultado a respeito
ria, com opção de compra, aos vendedores, do assunto o egrégio Tribunal de Contas do

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estado, a cujo presidente já nos reportamos III
verbalmente, a fim de que se obtenha da-
quela Casa pronunciamento acerca da legi- O leasing no Brasil
timidade da operação que as partes preten-
dem levar a cabo, conhecendo, inclusive, o No Brasil já se utilizava o leasing, com
colendo Tribunal, acerca das ponderações sucesso, como contrato inominado, com base
trazidas aos processos suso referidos pelo nos usos mercantis.
Sr. Diretor-Geral do DER-RI, pertinentes à A autonomia da vontade e a atipicidade
dispensa de licitações apontadas (grifos nos- dos contratos que dominam o direito co-
sos), tudo com respaldo no inciso XII do mercial justificaram sua introdução no nosso
art. 69 da Lei Complementar n9 21, de 4 de país sem necessidade de nenhuma legislação
novembro de 1981." específica sobre a matéria.
Em conseqüência, antes de se legislar so-
11 bre o assunto, fundaram-se numerosas socie-
dades para a exploração de tão fértil campo
de atividades.
Considerações gerais sobre o leasing
Havia, entretanto, necessidade de sua ins-
ou arrendamento mercantil
tituição pela via legislativa, porquanto a
atuação das empresas leasing e o próprio
o fenômeno geral de publicação do direito instituto ficavam à margem de qualquer fis-
corresponde a uma utilização cada dia mais
calização.
importante e intensa das técnicas privativas
Veio, então, a 13 de setembro de 1974, a
pelo direito público. Efetivamente, do mes-
Lei n9 6 099 que instituiu entre nós o leasing
mo mood que o Estado aproveitou a estru-
com o nome de arrendamento mercantil.
tura das sociedades anônimas para criar as
Posteriormente, o Banco Central do Bra-
empresas públicas e as sociedades de econo-
sil baixou a Resolução n9 351, de 17 de no-
mia mista, utilizou ele o leasing como técnica
vembro de 1975, que regulamentou a Lei
adequada a suas contratações.
n 9 6099/74.
O leasing apresenta-se como negócio jurí-
Após a lei e seu regulamento, já citados,
dico complexo. ~ um contrato que combina foram editados sobre o arrendamento mer-
a locação, o financiamento e a promessa de
cantil o Decreto-Iei n9 1811, de 27 de outu-
venda e abrange modalidades múltiplas que bro de 1980, as Resoluções do Banco Central
se revestem, cada uma, de peculiaridades,
do Brasil n. OS 442, de 24 de agosto de 1977;
ensejando vantagens e desvantagens. 469, de 7 de abril de 1978; 662, de 17 de
O eminente Prof. Arnoldo Wald o define dezembro de 1980 e 666, também de 17 de
como "uma operação de financiamento, ge- dezembro de 1980 e, finalmente, as Portarias
ralmente a médio ou a longo prazo, realizada do Ministério da Fazenda de n. OS 564 e 565,
por uma sociedade financeira e que tem por ambas de 3 de março de 1978.
suporte jurídico um contrato de locação de
bens com opção de compra para o loca- IV
tário' (Noções básicas de leasing, Revista Fo-
rense, 250:33). o leasing na administração pública
O aspecto novo que oferece o leasing em
relação à locação-venda praticada no passa- Fazia-se necessário, entretanto, regulamen-
do é que este contrato apresenta-se como tar a prática do arrendamento mercantil por
operação financeira: é um financiamento parte dos órgãos ou entidades da adminis-
sob a forma de locação em que o financia- tração estadual direta e indireta, inclusive
dor adquire, para o locatário e mediante en- fundações.
comenda que este lhe faz, um objeto deter- Essa regulamentação, no estado do Rio de
minado, deixando assim de ser uma operação Janeiro, veio inicialmente com os Decretos
entre comprador e vendedor. n. OS 423 e 424, ambos de 24 de dezembro

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de 1975 que, no entanto, tiveram sua vigên- bens de capitais imobilizados (prédios, má-
cia limitada ao exercício de 1976. quinas, instalações) a uma instituição finan-
A partir desta data, para cada exercício ceira, para recebê-los de volta a título de
financeiro anual baixava-se novo decreto, re- locação" Fabio Konder Comparato, Contrato
petindo o anterior, até que, em 26 de feve- de leasing, RT, 389:13, mar. 1968).
reiro de 1981, o Decreto nQ 3938, atualmen- "O seu mecanismo exige que o arrendatá-
te em vigor, acrescido em um artigo pelo rio possua um imóvel no qual pode encon-
Decreto nQ 4 526, de 10 de setembro de trar-se um estabelecimento industrial, em ge-
1981, instituiu a vigência indeterminada, ral de pouca rentabilidade, como uma fábri-
abrangendo automaticamente os exercícios ca de reduzida economia de escala (baixa
futuros e não somente um exercício finan- produtividade). Em lugar de o seu proprietá-
ceiro anual como faziam os decretos ante- rio vender a fábrica antiga e adquirir uma
riores. nova, imobilizando capital, ele vende o imó-
O mesmo aconteceu na área federal onde vel com o estabelecimento à empresa leasing,
se baixaram decretos sobre arrendamento celebra um contrato de arrendamento mer-
mercantil de vigência anual até 1979, quan- cantil com esta, e recebe novo estabeleci-
do, em 7 de dezembro, o Decreto n Q 84 268, mento fabril rentável. Os norte-americanos
com a redação dada pelo Decreto nQ 85 632, chamam o instituto de sale and lease-back,
de 7 de outubro de 1981, regulamentou o sendo necessário para a sua caracterização
assunto por prazo indeterminado. a preexistência da propriedade em nome do
O estado do Rio de Janeiro, portanto, se- arrendatário mercantil ( ... ) Os dois negó-
guiu a sistemática adotada na legislação fe- cios jurídicos - venda do imóvel ef ou es-
deral neste ponto e ainda na própria disci- tabelecimento à empresa leasing e o seu ar-
plina do arrendamento mercantil porque o rendamento desta, de volta à arrendatária -
regulamentou de maneira idêntica, pratica- representam um todo, isto é, um contrato
mente, ao modelo federal. complexo, no sentido de que o arrendatário
Embora a legislação citada verse sobre o não venderia o bem ou bens, se não fosse
arrendamento, a locação ou a aquisição no para arrendá-los em seguida, para usufruí-
mercado interno de bens de origem externa, los" (J. A. Penalva Santos, Leasing, Revista
entendemos ser também aplicável, por ana- Forense, 250:51-2).
logia, ao arrendamento mercantil de bens "O leasing-back ou lease-back consiste no
de produção nacional. Não seria razoável seguinte: uma empresa vende um equipa-
concluir-se que a administração pública po- mento de sua propriedade para outra empre-
de-se utilizar do leasing para aquisição de sa, firma de leasing, instituição financeira,
equipamento estrangeiro e que lhe é vedada etc., que passa a arrendá-la à primeira em-
tal oportunidade para a utilização dos pro- presa" (C. J. de Assis Ribeiro, Reflexões so-
dutos nacionais. bre o contrato de Leasing, Revista Forense,
250:67).
v
VI
o lease-back ou leasing-back
A hipótese em exame
A hipótese em exame abrange uma das
modalidades do leasing - conhecida por O arrendamento mercantil em exame en-
lease-back e entre nós já abordada pela dou- quadra-se na modalidade de lease-back, uma
trina como veremos adiante: vez que os fornecedores, que são os proprie-
"A ousadia jurídica americana neste dese- tários dos equipamentos, vão vendê-los ao
jo de mobilização do ativo das empresas vai Banco de Desenvolvimento do Estado do Rio
ainda mais longe, através de uma operação de Janeiro S. A., que os alugará de volta,
algo diversa do leasing, que tomou o nome com opção de compra, àqueles fornecedores
de lease-back ... A empresa vende os seus para que estes, então, com autorização do

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BD-RIO, façam um sub arrendamento desses formalidades previstas para a celebração dos
equipamentos, nas mesmas condições. contratos para sua prorrogação.
Tais dispositivos foram interpretados pelo
VII Corpo Instrutivo do Tribunal de Contas (fls.
9-12) no sentido de que o citado art. 39 ve-
Limitações para a contratação de da a contratação em exame por um prazo
Ieasing-back de quatro anos e sugere que o subarrenda-
mento seja contratado pelos fornecedores dos
o lease-back tornou-se privativo dos ban- equipamentos (e arrendatários) com o DER-
cos de investimento, dos bancos de desen- RJ por um prazo inicial inferior a um ano,
volvimento e das caixas econômicas, institui- com término a 31 de dezembro de 1982,
ções financeiras sob a fiscalização direta do com opção para renovação pelos outros três
Banco Central, por determinação expressa anos, sempre com novas dispensas de licita-
contida no art. 12 da Resolução do Banco ção por exigência do mencionado art. 48.
Central do Brasil n9 351, de 17 de dezembro
Nosso entendimento, no entanto, é diverso.
de 1975, abaixo transcrito:
Art. 12. Serão privativas de bancos de Em primeiro lugar, a solução trazida pelo
investimento, de bancos de desenvolvimento Corpo Instrutivo conflita com o art. 99 da
e de caixas econômicas as operações de ar- Resolução BCB n9 351/75 que exige prazo
rendamento contratadas com o pr6prio ven- mínimo de vigência de dois ou três anos
dedor dos bens ou com pessoas juridicas a para o arrendamento mercantil.
ele vinculadas" (grifo nosso). Além disso, entendemos que o art. 39 do
~, portanto, imprescindível, a participação Decreto n9 3 149/80 proíbe apenas contrata-
do Banco de Desenvolvimento do Estado ção sem previsão de recursos orçamentários.
neste arrendamento mercantil. Vejamos a íntegra do dispositivo:
"Art. 39 Nenhuma obra ou serviço será
VIII licitado ou contratado, quando dispensável a
licitação, sem existência ou previsão de re-
o prazo do contrato e a legislação cursos orçamentários e aprovação prévia de
financeira estadual projeto básico pela autoridade competente,
sob pena de nulidade dos atos e de respon-
Resta examinar as implicações do prazo sabilidade de quem os ordenou ou permitiu,
contratual previsto, ou seja quatro anos, na ressalvados, quanto à exigência de projeto
legislação de administração financeira e con- básico, os casos previstos no art. 89."
tabilidade pública estadual.
Isto significa para nós que não há neces-
Todo contrato de arrendamentô mercantil
sidade, na hipótese em exame, que é de uma
deverá ter o prazo mínimo de vigência de
contratação por quatro anos, da existência
dois ou três anos, conforme preceitua o art.
atual de recursos orçamentários para atendi-
99 da Resolução BCB n9 351/75, a seguir
transcrito: mento de todos os contratos. Há necessidade
de existência de recursos orçamentários ape-
"Art. 99 Os contratos de arrendamento
nas para atender aos pagamentos da contra-
mercantil deverão ter o prazo mínimo de vi-
tação até o final do exercício financeiro de
gência de três anos, exceto no caso de arren-
damento de veículos, hipótese em que o pra- 1982 e de uma previsão futura para os exer-
zo mínimo poderá ser de dois anos." cícios financeiros subseqüentes, até o térmi-
no dos contratos.
Por outro lado, os arts. 39 e 48 do Decreto
n9 3 149, de 28 de abril de 1980, que dis- Por outro lado, entendemos não tratar-se
pôs sobre as licitações e os contratos admi- de prorrogação contratual e conseqüente dis-
nistrativos, exigem, respectivamente, previsão pensa de licitação porque consideramos licito
de recursos orçamentários e observação das ao DER-RJ contratar por quatro anos com

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os fornecedores de equipamentos, obrigando- x
se, entretanto, por cláusula contratual ex-
pressa, a providenciar a previsão de recur- Conclusões
sos próprios nos orçamentos dos exercícios
subseqüentes ao da contratação para o pa- o leasing ou arrendamento mercantil, em
gamento da locação e, no último, previsão qualquer de suas modalidades, em que pe-
também para o exercício do direito de opção sem a sua novidade e peculiaridades, é um
de compra dos equipamentos, se for o caso. contrato como outro qualquer, e sua cele-
A prevalecer a interpretação do Corpo bração, embora sujeita a normas e legislação
Instrutivo, é proibido à administração públi- específicas, não se subtrai ao princípio da
ca estadual direta e autárquica qualquer con- licitação para as contratações em geral,
tratação superior a um exercício financeiro, quando utilizado pela administração pública
ou seja, um ano, o que não nos parece acer- federal, estadual ou municipal.
tado porque não vemos no art. 39 do De- Assim sendo, podemos afirmar que, em
creto n 9 3 149/80 esta limitação que, pelo princípio, o arrendamento mercantil propos-
contrário, no seu art. 48, permite qualquer to nos parece lícito, desde que o DER-RJ
contratação que não seja por tempo indeter- se obrigue contratualmente quanto às dota-
minado, e, no caso, a de quatro anos pre- ções orçamentárias para 1983, 1984, 1985 e
tendida pelo DER-RJ. 1986, e com a interveniência do Banco de
Desenvolvimento do Estado do Rio de Ja-
IX neiro S. A., tendo em vista a modalidade
da operação (contratada com o próprio ven-
dedor do equipamento), entre nós conhecida
Outras considerações
por lease-back ou leasing-back. Da mesma
Finalmente, foi sugerido que o Tribunal forma, é lícito o subarrendamento com op-
de Contas conheça "acerca das ponderações ção de compra contratado entre os fornece-
trazidas aos processos suso referidos pelo dores arrendatários com o DER-RJ, com au-
torização do BD-RIO.
Sr. Diretor-Geral do DER-RJ, pertinentes às
dispensas de licitação apontadas ... " (fls. 4 Finalmente cumpre lembrar que o Tribu-
do Processo n9 E-lO/OOO 473/82). nal de Contas do estado do Rio de Janeiro
só poderá pronunciar-se em definitivo sobre
Data venia, entendemos não caber ao Tri- a legalidade e legitimidade das pretendidas
bunal de Contas manifestar-se sobre qual- contratações quando, por força da legislação,
quer das dispensas de licitação, vez que se lhe forem encaminhados os respectivos ins-
trata de atribuição privativa do Exmo. Sr. trumentos contratuais.
Secretário de Estado de Transportes, confor- E o parecer, s.m.j.
me disposições expressas do § 49 do art. 21 Rio de Janeiro, 15 de março de 1982. -
e inciso I do art. 24 do Decreto n9 3 149/80, Horácio Machado Medeiros, Procurador do
por tratar-se o DER-RJ de autarquia vin- Ministério Público Especial junto ao Tribu-
culada àquela Secretaria. nal de Contas Estadual.

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