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Explicação Usucapião1

1-A usucapião

1.1-Fundamentos da prescrição
A usucapião vive à sombra da prescrição. O artigo 1292º, determina a aplicação dos art.
300º, 302º, 303º e 305º, além da matéria relativa à suspensão e à interrupção.

O CC estabelece a inderrogabilidade do sistema, nesse sentido vai o art. 300º CC. É


também nos termos do art. 302º/1 proibida a renúncia antecipada à prescrição, só a mesma
sendo possível quando ela se completar (a prescrição), podendo ocorrer de modo expresso
ou tácito e operada por quem tenha legitimidade para dispor dela – art. 302º/2 e 3.

A prescrição fundamenta-se de duas maneiras:

• Fundamentos atinentes ao devedor


i. É essencialmente pretensão do direito relevar o devedor da prova, ora,
naturalmente, à medida que o tempo passa, o devedor terá mais dificuldade
em provar os pagamentos, pois ninguém guardará anos e anos os recibos e
provas do pagamento.
ii. Para além disto, não havendo prescrição, o deveria veria comprometer a sua
possibilidade de regresso
• Fundamentos de ordem geral
i. Refere-se que a prescrição serve propósitos de paz jurídica e segurança.
Todavia Menezes Cordeiro diz que este fundamento é apenas parcialmente
aproveitável. Pois a ideia de paz jurídica não procede, dado que, o tribunal não
pode oficiosamente constatar a prescrição, isto resulta do art. 303º

Apesar de acima se ter referido a injuntividade da prescrição, esta não é excecional logo
comporta interpretação extensivas ou restritivas nos termos gerais do Direito. Todavia
ressalvam-se o disposto quanto a prazo, este vale por si até ao seu termo, ou seja, não
podem ser alongados nem diminuídos.

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Apesar do cuidado colocado, este documento não dispensa, nem substitui, a consulta da manualística
existente.
1.2-A dogmática geral da usucapião
A usucapião permite ultrapassar o problema de demonstrar que não só o interessado,
como os antecessores eram titulares legítimos, na base de transmissões idóneas, o que
constituía uma prova diabólica. Assim, feita a prova da posse boa para a usucapião, do
próprio e antecessores até perfazer o prazo legal, está feita a prova do domínio.

Assim, a usucapião pode ser definida como: a constituição, facultada ao possuidor, do


direito real correspondente à posse, desde que esta assuma determinadas características e
se tenha mantido pelo lapso de tempo determinado na lei.

ii. Esta definição de Menezes Cordeiro é dogmaticamente mais integrada que a


constante do art. 1287º CC.

A usucapião constitui uma forma originária de aquisição dos direitos. Cessando todos os
encargos que oneravam a coisa, todavia se a posse já operava com encargos, este mantém-
se. A usucapião como a propósito de regime se fala, supera o regime é o usucapio contra
tabulas.

1.3-Pressupostos da usucapião

• Uma posse
i. Não chega a mera detenção, a menos que esta passe a posse nos termos da
inversão do título da posse.
• Com certas características
i. Deve ser pública e pacifica, embora seja admitido a superveniência de ambas
as qualidades – arts. 1297º e 1300º/1 CC.
• Sendo o direito a constituir usucapível
i. Excluem-se os direitos de uso e habitação e as servidões não aparentes – art.
1293º. E bem assim, todas as situações possessórias que não correspondam a
um direito real de gozo
• Mantida pelos prazos legais

A usucapião tem características próprias:

• Aproveita a todos os que podem adquirir, sendo incapazes podem fazê-lo por si ou
por representante – art. 1289º CC
• Sendo atuada por compossuidor aproveita a todos os restantes – art. 1291º CC
• Tem eficácia retroativa reportando-se à data do início da posse – art. 1291º CC.
• Implica nela as regras da prescrição por remissão do art. 1292º
i. Resulta daqui a inderrogabilidade da usucapião – art. 300º (remissão art.
1292º). E a não possibilidade de renuncia antecipada.
• São aplicadas com as necessárias adaptações as regras atentes à suspensão e à
interrupção da prescrição – art. 1292º CC.

1.4-A acessão na posse


Neste instituto, o possuidor, para efeitos designamente de usucapião, pode juntar à sua
posse a do seu antecessor. Esta é acolhida no art. 1256º CC.

São pressupostos da acessão:

• Haver duas posses


• Ambas serem contíguas e ininterruptas
i. A posse de um terceiro ou a quebra da situação possessória obsta à acessão
• Do mesmo tipo
i. Caso haja diferenças a acessão opera no âmbito menor, neste sentido vai o art.
1256º/2 CC
• Necessidade de um vínculo entre os dois possuidores sucessivos
i. É necessário um fenómeno de transmissão da posse, ou seja, a transmissão de
facto do poder sobre a coisa.
ii. A transferência vai operar de uma das formas idóneas, ou seja, por tradição ou
constituto possessório. Tendo de assentar num título abstratamente idóneo
para permitir o direito correspondente à posse. Podendo ser, todavia, inválido.
iii. A jurisprudência inclina-se ainda para excluir a necessidade de ato escrito e
que seja a data certa da ocorrência.

A acessão é entendida como um instituto que visa facilitar a usucapião. A acessão na


posse é uma consequência da regra normal. Oliveira Ascensão explica que o art. 1256º
CC não facilita a acessão, antes, permite por exceção aos interessados não beneficiar dela.

1.5-Usucapião de imóveis
Neste caso temos o seguinte quadro;

• Usucapião de 5 anos – 1295º/1/a):


i. Exige o registo da mera posse a partir do qual esse prazo conta
§ A mera posse só é registada perante sentença transitada em julgado
nos termos do art. 1295º/1/a) e 2 CC.
ii. Boa fé
• Usucapião de 10 anos
i. (i) Havendo título de aquisição; (ii) registo deste; (iii) posse de boa fé
§ O prazo conta-se a partir do registo – art. 1295º/a) CC.

OU

ii. (i) Havendo registo da mera posse nos termos acima descritos e (ii) haja posse
de má fé – art. 1295º/1/ b)
• Usucapião de 15 anos
i. (i) Havendo título de aquisição; (ii) registo deste; (iii) posse de má fé – art.
1294º/b) CC.

OU

ii. (i) Não havendo registo do título nem da mera posse; (ii) posse de boa fé – art.
1296º
• Usucapião de 20 anos
i. (i) Não havendo nem registo do título de aquisição nem da mera posse; (ii) má
fé – art. 1296º

Quando a usucapião jogue contra o Estado o prazo aumenta em 50% segundo a Lei 54 de
16 de julho de 1913, que a jurisprudência tem considerado em vigor.

Ainda há que considerar os casos da usucapião de imóveis sem título, a jurisprudência e


Menezes Cordeiro consideram que se deve aplicar as regras próprias da falta de registo
do título.

A usucapião, no tocante aos prazos é facilitado pela acessão na posse – art. 1256º -
havendo transmissão da posse o transmissário pode juntar à sua a posse do transmitente.
Mesmo que essa posse não assente num título válido, neste caso operará a posse de menos
âmbito, ou seja, a não titulada – art. 1256º/2.

Também no caso de sucessão na posse, o tempo do de cuiús acresce ao do sucessor, não


se levantando o problema da semelhança entre as posses, pois ambas têm a mesma
natureza.
1.6-Usucapião de móveis
O prazo varia consoante os móveis sejam sujeitos ou não a registo.

Usucapião de móveis sujeitos a registo – art. 1298º CC

Prazos para a usucapião: Requisitos:

Haja título

Usucapião de 2 anos Registo do título

(Conta-se o prazo a partir daqui)

Boa fé

Título

Usucapião de 4 anos Registo do título

(Conta-se o prazo a partir daqui)

Má fé

Usucapião de 10 anos Não haja registo

(Não interessa se há título, ou boa fé)

Usucapião de móveis não sujeitos a registo – art. 1296º

Prazo para a usucapião: Requisitos:

Usucapião de 3 anos Boa fé

Justo título

Usucapião de 6 anos Em qualquer caso

(caso haja ou não justo título, o boa fé)

Usucapião havendo posse oculta ou violenta passando a terceiro antes de cessarem os vícios –
art. 1300º CC

Prazo da usucapião: Requisitos:

Usucapião de 4 anos A posse é titulada


Usucapião de 7 anos Posse não titulada

Por último referir que o 1301º referente a coisa comprada a comerciante nada tem a ver
com a usucapião.

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