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Legal Design: uma jornada de acesso e educação na conformidade do Direito Digital

RESUMO: O presente resumo expandido aborda a interseção entre o Legal Design e a Lei Geral de
Proteção de Dados (LGPD) no contexto do Direito Digital. No cenário atual, a LGPD desempenha um
importante papel na privacidade e na proteção dos dados pessoais em um ambiente digital em
constante evolução. Nossa pesquisa procura encontrar maneiras em que o Legal Design - design
jurídico - facilite na compreensão da LGPD, promovendo uma cultura estratégica de inovação,
educação e de conformidade que alcança, portanto, a uma variedade de pessoas, desde profissionais do
direito, passando por empresários, até educadores e a população em geral. Para isso, adotamos uma
metodologia interdisciplinar, que abrange uma análise jurídica, exame de documentos e avaliação de
casos que se destacam no tema, fomentando uma educação multidisciplinar que desempenha papel
fundamental para o desenvolvimento dessas áreas. O resultado desse artigo revela as violações de
dados dos usuários, a utilização na prática da LGPD e desconhecimento acentuado acerca dessa
norma. Por fim, conclui-se que a educação e o Legal Design são métodos possíveis de serem utilizados
para democratizar o acesso a esse conhecimento jurídico.

PALAVRAS-CHAVE: cultura de inovação; design jurídico; LGPD.

INTRODUÇÃO
O tema "Legal Design: Uma Jornada de Acesso, Educação e Conformidade no Direito
Digital" é especialmente relevante nos dias de hoje devido à expansão da sociedade 5.0 e o
vínculo quase que inseparável da pessoa física com o seu perfil virtual. No mundo digital, a
proteção da privacidade e dos dados pessoais tornou-se uma preocupação primordial para os
cidadãos, e urge ressaltar a ideia de que a LGPD é fundamental nesse contexto, e sua
compreensão é vital para todos (DONEDA, 2006; FRAZÃO, 2018). Assim, o objetivo do
artigo é tornar acessível a compreensão da LGPD através do Legal Design para os indivíduos,
mesmo aqueles que não são juristas, para então entender como seus dados devem ser
protegidos.
Por fim, a hipótese defendida é de que democratizar o acesso ao conhecimento sobre a LGPD
no Brasil, de forma plural, simplificada e proveitosa, é necessário de fato para auxiliar
empresas de todos os tamanhos e áreas que estão sujeitas aos requisitos dessa Lei; entender
como cumprir essas obrigações legais é essencial para evitar prejuízos e proteger a confiança
entre empresas e clientes; elucidar aos cidadãos sobre os direitos com relação aos seus dados
pessoais, incluindo o direito de acessar, retificar, excluir e portar seus dados; e por último, por
ser uma Lei de implicações globais, uma vez que afeta qualquer organização que lide com
dados de cidadãos brasileiros, isso torna o tema igualmente relevante para além das fronteiras
do Brasil.

METODOLOGIA
Adotaremos uma abordagem de pesquisa interdisciplinar que combina revisão bibliográfica,
análise documental e estudo de casos relevantes.
A pesquisa iniciou através da coleta de informações sobre a LGPD, o corpo do texto e o que
motivou a sua criação. Em seguida, os pesquisadores buscaram casos reais em que os usuários
tiveram os seus dados pessoais violados, como os vazamentos de dados do Abastece Ai Clube
Automobilista Payment Ltda. (Abastece Aí), Netshoes, PSafe e Amazon.
Após essa sondagem, foi realizada uma nova pesquisa, porém com o foco na utilização da
LGPD em julgamentos reais, explanando na prática as formas que ela é e pode ser utilizada a
favor dos cidadãos. Posteriormente, para entender melhor sobre o quão desconhecida é a Lei
Geral de Proteção de Dados na sociedade brasileira, realizou-se uma análise de dados sobre
esse aspecto, e ainda será realizada, em breve, um formulário para os estudantes da
Universidade Federal da Bahia, com o intuito de realizar uma pesquisa empírica sobre o
desconhecimento acerca da Lei.
Por fim, foi proposta uma explicação de como o Legal Design pode ser um facilitador e trazer
mais acesso à LGPD, bem como em abordagens inovadoras de conscientização e educação,
como a edição especial da Turma da Mônica sobre proteção de dados pessoais, almejando em
breve propor modelos de cartazes físicos, posts e storys para as redes sociais, em que o Legal
Design será utilizado na prática com o foco na LGPD.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD - Lei n° 13.709/2018) teve a sua aprovação no
Brasil em agosto de 2018 e entrou em vigor a partir de agosto de 2020. A referida Lei foi
criada tendo em vista a segurança jurídica de usuários na internet, uniformizando normas e
práticas. Torna-se, portanto, um importante mecanismo de controle contra vazamentos de
dados e garante a correta fiscalização pela Autoridade Nacional de Proteção de Dados
(ANPD) das normas a serem aplicadas.
Nesse sentido, cabe entender o porquê dessa Lei ser tão importante, ao observar, por exemplo,
situações de violação de privacidade e o abuso do uso de dados dos usuários. O caso da
empresa de calçados Netshoes é um deles. Em 2018, foi identificado pelo Ministério Público
um incidente de segurança que comprometeu diversos dados pessoais - a exemplo do CPF -
de seus clientes. O vazamento deixou os compradores suscetíveis a ameaças e potenciais
fraudes, expondo inclusive os dados pessoais de centenas de servidores públicos
politicamente expostos. Informações da própria empresa afirmam que quase dois milhões de
clientes foram afetados por esse vazamento ocorrido em 2018. Assim, entende-se a urgência
de existir uma Lei que proteja os usuários e que regulamente a proteção dos dados cedidos
para as empresas.
Na prática, a LGPD já foi utilizada em julgamentos, como por exemplo no primeiro caso de
multa efetiva no Brasil pelo descumprimento de determinações da Lei Geral de Proteção de
Dados. Foram duas sanções administrativas aplicadas à Telekall Infoservice, do ramo de
telefonia, sediada em Vila Velha (ES). A empresa foi investigada por comercializar dados
pessoais ao oferecer uma lista de contatos de Whatsapp de eleitores com objetivo de que os
contatos fossem usados para disseminar material de campanha eleitoral em 2020
(SANTIAGO, 2023).
Após analisar a importância da LGPD, no cenário de inovação do mundo jurídico, é
necessário questionar se a sociedade brasileira tem consciência do que se trata tal norma.
Através do Núcleo de Inteligência e Pesquisas (EPDC) do Procon-SP, foi divulgada uma
pesquisa no ano de 2021, a qual revela que a maioria dos entrevistados desconhecem essa
legislação. Dos mais de sete mil participantes da pesquisa, apenas 35% estão familiarizados
com a Lei nº 13.709/2018 (Lei Geral de Proteção de Dados - LGPD).
Nesse sentido, torna-se claro que a falta de conhecimento sobre a LGPD demonstra a
necessidade de uma maior disseminação de informações sobre o tema de forma democrática e
acessível aos consumidores sobre seus direitos e responsabilidades no ambiente digital.
Assim, o Legal Design surge como uma ferramenta com o potencial de concretizar essa
proposta, desmistificando a falsa e arcaica convicção de que o universo jurídico só pode ser
acessado pelos atuantes na área. Essa ferramenta serve como uma bússola, guiando a jornada
jurídica para os cidadãos, optando por uma linguagem acessível em detrimento daquela
tecnicista e dos documentos densos.
Basear-nos-emos em um exemplo efetivo dessa abordagem: a edição especial da 'Turma da
Mônica em Proteção de Dados Pessoais'. Essa história em quadrinhos aborda o assunto de
maneira didática. Maurício de Sousa, em parceria com a gigante Google, trouxe seus
personagens para apresentar conceitos e princípios fundamentais sobre a privacidade e a
proteção de dados pessoais, adaptando-os ao universo infantil. Esta abordagem de fácil
compreensão conscientiza crianças e adultos sobre a importância de preservar seus dados e
manter sua privacidade no ambiente digital. Esse caso consolida o impacto transformador do
Legal Design na democratização do acesso à Lei Geral de Proteção de Dados.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O artigo traz o Legal Design como uma ferramenta eficiente para auxiliar os cidadãos a
compreender melhor os seus direitos e deveres diante do ambiente digital. Ao observar
números como os da pesquisa do Procon-SP, torna-se urgente que a LGPD seja mais
compreendida, explicando seus conceitos-chave de maneira clara e acessível, beneficiando
não apenas especialistas em direito, mas também os empresários, o público em geral,
educadores e instituições de ensino. Nesse sentido, o resultado da pesquisa esclarece a
importância da comunidade acadêmica em se debruçar nas possíveis soluções para uma maior
disseminação do conhecimento e da educação acerca dessa Lei, sendo esse, portanto, o
próximo passo da pesquisa, que buscará na prática (através de um formulário) trazer os dados
sobre o desconhecimento acerca da LGPD na Universidade Federal da Bahia, quanto em
construir um ambiente em que o Legal Design, através de cartazes espalhados pelos campi,
seja a principal ferramenta de aproximação dos cidadãos com os seus direitos fundamentais
no mundo digital.

REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018. Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD).
Diário Oficial da União, Brasília, DF, 2018. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/L13709>. Acesso em: 08 out. 2023.

CABANELAS, Ianna Menezes. Legal design: uma necessária mudança cultural na comunicação
jurídica em prol da efetivação de um processo democrático. 2022. Dissertação (Mestrado) – Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil, 2022.

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<https://www.thomsonreuters.com.br/content/dam/openweb/documents/pdf/Brazil/white-paper/legal-
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2018b. Disponível em: Nova LGPD: principais repercussões para a atividade empresarial - JOTA.
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G1 (Distrito Federal). Netshoes terá de pagar R$ 500 mil por vazamento de dados de 2 milhões de
clientes: Valor de indenização foi firmado em acordo com Ministério Público do DF. Incidente
comprometeu dados pessoais de servidores da Presidência, da Polícia Federal e do STF. G1, Brasília,
5 fev. 2019. Disponível em: <https://g1.globo.com/df/distrito-federal/noticia/2019/02/05/netshoes-
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