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INDUTIVISMO vs FALSIFICACIONISMO
INDUTIVISMO
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P1 tem um âmbito mais restrito do que P2 porque faz uma afirmação que se restringe aos objetos da terra
enquanto P2 afirma que as leis da gravidade se aplicam a todos os objetos do universo, ou seja, a objetos na
terra e fora da terra.
Neste sentido, P1 é mais verificável do que P2 na medida em que a probabilidade de aparecer um
contraexemplo a P1 é menor do que aparecer um contraexemplo a P2.
I. MÉTODO INDUTIVISTA
PROBLEMAS
A questão levantada pelos filósofos da ciência consiste em saber em que consiste o método científico.
A resposta a esta questão passa por analisar:
P1 - como descobrimos as hipóteses - o papel da observação para a formulação das hipóteses
P2 - como se testam as hipóteses – o papel da observação na validação das hipóteses
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PROBLEMA 2 – qual o papel da observação na validação da hipótese?
TESE: POSITIVISMO LÓGICO
Segundo o POSITIVISMO, a experiência tem a força de DEMONSTRAÇÃO no sentido em que a confirmação
sucessiva de previsões* garante a verdade da hipótese, uma vez que se assume a regularidade da natureza.
Deste ponto de vista, uma experimentação bem sucedida VERIFICA a hipótese. Esta posição designa-se de
VERIFICACIONISMO
*Para testar uma hipótese é necessário deduzir, da hipótese, proposições particulares (PREVISÕES) e submetê-las à
EXPERIMENTAÇÃO, ou seja, ver se as proposições derivadas da hipótese se confirmam ou não.
TESE: NEOPOSITIVISMO
Segundo o neopositivosmo, a experiência tem a força de PROVA no sentido em que a confirmação sucessiva
de previsões aumenta o grau de probabilidade da hipótese, ou seja, contribui para sua validade material.
Deste ponto de vista, uma experimentação bem sucedida CONFIRMA a hipótese.
ARGUMENTO
Segundo os neopositivistas, a confirmação de previsões (casos particulares deduzidos da hipótese) prova a
hipótese, ou seja, confere uma elevada probabilidade à hipótese, uma vez que do ponto de vista material,
uma amostra ampla e representativa, sem contraexemplos, confere validade material (ou racionalidade
indutiva) à conclusão dela derivada.
Assim, se o número de experiências/testes realizadas é suficiente e em nenhum caso ocorreu um
contraexemplo, estamos legitimados em concluir que experiencias/testes futuras continuarão a confirmar a
hipótese.
Neste sentido, os neopositivistas consideram que a experiencia/testes empíricos podem servir de prova, ou
seja, conferem probabilidade à hipótese.
CONCLUSÃO
O INDUTIVISMO defende que as hipóteses científicas devem ser INDUZIDAS a partir da observação e
VALIDADAS pela mesma. Ou seja, a observação é o ponto de partida e o ponto de chegada da investigação
científica:
1) a observação é o ponto de partida - a partir a qual se induz e generaliza a lei
2) a observação é o ponto de chegada - a partir da qual se demonstra/prova a lei
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CRÍTICAS AO INDUTIVISMO E AO VERIFICACIONISMO – Karl Popper
O indutivismo tem sido alvo de várias críticas.
A primeira delas dirige-se à 1ª fase do método – o papel da observação -, a segunda dirige-se à última fase
do método – o valor da experimentação.
1ª critica: A observação não é o ponto de partida
Vários são os cientistas que reconhecem que a hipótese não é tirada da observação. Segundo Popper, não
há observação pura, uma vez que “toda a observação está impregnada de hipóteses”. As observações são
sempre dirigidas e orientadas por uma ideia prévia, face a um determinado problema, ou seja, observamos
para testarmos as nossas hipóteses ou para escolher entre diferentes pontos de vista.
É neste sentido que os cientistas Claude Bernard e Darwin afirmaram, respetivamente:
• “quem não sabe o que procura não entende o que encontra”
• “toda a observação deve ser ou por ou contra algum ponto de vista”
2ª crítica: Não podemos verificar uma hipótese – as leis não são demonstráveis nem provadas
A hipótese nunca é testada diretamente, mas indiretamente através da dedução de previsões que depois são
testadas com o intuito de confirmar a hipótese.
Segundo os verificacionistas/confirmacionistas, a verificação sucessiva das previsões (amostra ampla e
representativa de previsões sem ocorrência de contraexemplos) legitima a validação da hipótese, no sentido
em que o número de verificações demonstra (caso dos radicais) ou confere validade indutiva à Hipótese. Se,
por exemplo, enunciarmos a hipótese que “toda a água ferve a 100ºC”, e se todas as experiências que fizemos
confirmaram que, independentemente do tipo de água que observámos, do lugar onde foi recolhida e do
momento em que foi recolhida, ela ferveu sempre a 100ºC”, então é legitimo afirmar que a experiencia
demonstra/prova a hipótese e que esta é verdadeira.
Assim, de acordo com a perspetiva verificacionista radical/moderada, se a experiência confirmar sempre as
previsões, e não ocorrer nenhum contra-exemplo, podemos concluir racionalmente que a hipótese é
verdadeira e afirmamos que a lei está VERIFICADA/PROVADA pela experiência).
No entanto, Popper considera que o verificacionismo tem um problema lógico. Isto acontece porque na prova
empírica, deduzimos da hipótese um conjunto de previsões e da confirmação destas previsões concluímos a
verdade da hipótese.
H ® P
P
\H
Ora, como sabemos da lógica formal, este raciocínio incorre na FALÁCIA DA AFIRMAÇÃO DO
CONSEQUENTE, uma vez que numa implicação verdadeira, a verdade do consequente não implica a
verdade do antecedente, uma vez que o antecedente tanto pode ser verdadeiro como falso.
P ® Q
F V V
V V V
Assim, aplicando a lógica ao método verificacionista, percebemos que não podemos concluir a verdade de
uma hipótese a partir da verdade da previsão dela deduzida, ou seja, a prova empírica é irracional.
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FALSIFICACIONISMO
I. CRITÉRIO DE DEMARCAÇÃO CIENTÍFICA
Contra o verificacionismo, Popper defende o falsificacionismo/refutacionismo. Segundo este critério, uma
teoria é científica se e somente se é falsificável. Mas o que é que isto quer dizer e que implicações tem este
critério sobre os enunciados. Vejamos.
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II. O MÉTODO HIPOTÉTICO DEDUTIVO OU O MÉTODO CRÍTICO DAS
CONJETURAS E REFUTAÇÕES
ARGUMENTO
O argumento de Popper fundamenta-se no facto de não haver observações puras, pois toda a observação é
orientada e condicionada (enviesada) por ideias, pré-hipóteses, ou como o filósofo diz: na ciência, toda a
observação está prenhe da hipótese.
Por outro lado, inventar hipóteses parece ser a forma mais adequada de nos aproximarmos da verdade e o
risco associado à intuição/invenção é eliminado pelo MÉTODO CRÍTICO, ou MÉTODO REFUTACIONISTA, que se
encarrega de deitar por terra as hipóteses erradas.
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Assim, uma teoria como a de Einstein é mais universal do que a de Newton porque explica o comportamento
de fenómenos na terra e fora da terra, enquanto a teoria de Newton só explica os fenómenos na terra.
A ESPECIFICIDADE das previsões depende do número de EVIDENCIAS EMPÍRICAS (factos) que a previsão
exclui: uma previsão com muita precisão determina com muito rigor os factos que se espera observar,
proibindo um conjunto muito vasto de factos, enquanto uma previsão pouco precisa, determina de forma vaga
as evidencias empíricas esperadas, proibindo poucos factos, ou seja,
PREVISÕES PRECISAS ! PROÍBEM MUITO
PREVISÕES IMPRECISAS ! PROIBEM POUCO.
Por exemplo, se de acordo com a teoria T1, a previsão for que os doentes a quem foram administradas as
novas terapêuticas “melhoram”, esta previsão não é tão precisa quanto a previsão da teoria T2 de acordo
com a qual os doentes a quem foram administradas as novas terapêuticas “verão a febre descer ao fim de 4
horas”. É fácil de perceber que a previsão da teoria T2 proíbe mais do que a previsão da teoria T1. Na teoria
T2, a previsão proíbe contabilizar como evidencia empírica todos os casos em que a febre baixou depois de
4h, enquanto na teoria T1 a previsão permite que se aceite como evidencia empírica todos os casos em que
a febre baixou, independentemente do tempo que demore.
A vantagem das previsões serem especificas é que elas expõem mais a teoria à falsificação do que as
previsões mais vagas pois, como vimos acima, quanto maior for o número de consequências proibidas pela
previsão, mais provável é a sua não confirmação.
Por exemplo: a previsão (a) “uma crise política no Reino Unido tem como consequência a descida do valor
das ações”, é mais específica do que a previsão (b) “uma crise política no Reino Unido tem como
consequência a alteração do valor das ações”, e está mais exposta à refutação.
Assim, concluímos que previsões com muita precisão constituem TESTES SEVEROS capazes de deitar por
terra uma teoria. É isto que Popper defende no texto da Sociedade Aberta quando afirma que a previsão de
Einstein, do eclipse do sol, era tão precisa que, se os acontecimentos não ocorressem conforme a previsão,
a teoria da relatividade seria refutada.
*testáveis, para Popper, significa falsificáveis, e para isso trata-se de enunciados com muito conteúdo
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EXEMPLO DE TESTES CRUCIAIS/CRÍTICOS.
Procura de contraexemplos
Ao contrário dos verificacionistas, o cientista falsificacionista em vez de procurar instâncias que confirmem a
hipótese, procura casos que refutem, ou seja, procura mostrar que a contrária (existe pelo menos 1 cisne que
não é branco) é verdadeira.
Assim, para testar a hipótese “Todos os cisnes são brancos”, um falsificacionista iria procurar cisnes não
brancos que contrariassem a teoria, em vez de procurar cisnes brancos, uma vez que por mais cisnes brancos
que se observem, nunca nenhum número será suficiente para demonstrar a verdade da proposição.
Um exemplo mais interessante é o da previsão de Einstein relativamente à deflexão da luz. Segundo a teoria
de Newton, a curvatura da luz das estrelas devia ser de 0,86 segundo de arco. Desafiando a teoria
newtoniana, Einstein concebeu uma hipótese que fazia prever uma deflexão da luz completamente diferente:
em vez dos 0,86 segundo de arco, ele previu um desvio de 1,75. Este teste era “crítico” no sentido em que se
a previsão falhasse, a hipótese seria refutada sem qualquer possibilidade de salvação. Ou seja, a
experimentação não deveria deixar margem para dúvidas de forma a garantir o caráter crítico da mesma.
Este tipo de teste constitui aquilo que Popper chama teste CRUCIAL ou SEVERO
NOTA: Apesar de Popper defender os testes cruciais, ele admite a possibilidade de uma hipótese, quando confrontada
com um contraexemplo, poder ser revista antes de ser rejeitada como falsa. Contudo esta revisão tem um preço, que
consiste no facto da teoria se tornar menos científica, porque menos refutável.
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CRÍTICAS AO FALSIFICACIONISMO
O falsificacionismo é contraintuitivo
Esta crítica fundamenta-se no facto da teoria falsificacionista não corresponder à intuição geral das pessoas.
Se nenhuma evidência refuta uma teoria, o que é natural concluir é que a teoria está provada, e não que a
teoria resistiu à tentativa de refutação. Do mesmo, quando uma pessoa aposta num cavalo e este vence a
prova, ninguém conclui à maneira refutacionista e diz que o cavalo não perdeu.
O falsificacionismo não descreve aquilo que os cientistas fazem, mas aquilo que seria desejável
Esta crítica fundamenta-se na observação da prática científica. Aquilo que a prática científica nos mostra é
que os cientistas mais facilmente ignoram casos que contrariam uma teoria do que sacrificam teorias que
funcionaram e funcionam bem. Claro que se um contraexemplo é descoberto, os cientistas não o ignoram
logo de início, mas tudo farão para encontrar uma justificação de forma salvar a teoria.
Por sua vez, a observação no início da investigação tem muito mais valor do que aquele que Popper lhe
atribui, porque contribui para a descoberta de problemas e para a formulação de hipóteses.
CONCLUSÃO
É verdade que o falsificacionismo é contraintuitivo e não representa aquilo que muitos cientistas fazem,
contudo percebemos que o critério refutacionista contribui para conferir RACIONALIDADE CRÍTICA à ciência
e DEMARCAR A CIÊNCIA DA PSEUDOCIENCIA. Assim, e em defesa do falsificacionismo, concluímos que
esta teoria da ciência funciona como um ideal de ação, um ideal regulador da ciência, na busca e aproximação
da verdade.