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CURSO DE PSICOLOGIA
UNIVERSIDADE SÃO FRANCISCO

TRABALHO DE PSICOLOGIA SOCIAL – N2

GRUPO:
Caroline Moraes - RA 202100876
Gabriela Avila- RA 202105077
Julia Zanchetta - RA  202118596
Nicolas Soares Freitas - RA 202102745
Sabrina Oliveira Ramos- RA 202121203

Desafios das mulheres em situação de rua – Representações Sociais

1. Apresentação do tema   

Em 2016, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) realizou a estimativa


da população em situação de rua no Brasil e segundo a pesquisa, o Brasil não conta com
dados oficiais sobre a população em situação de rua. Esta ausência de dados se dá por conta
da complexidade operacional em realizar uma pesquisa com pessoas sem endereço fixo.
Ainda assim, segundo o instituto de pesquisa, a população em situação de rua cresceu 140%
desde 2012, chegando a quase 222 mil pessoas em março de 2020.

Segundo Schuch (2015), é difícil incluir a população em situação de rua na contagem


oficial da população, devido aos desafios citados anteriormente, trazendo, então, um grande
risco de reproduzir a invisibilidade dessa população principalmente no âmbito das políticas
públicas.

No ambiente das ruas, as mulheres formam um grupo quantitativamente menor


se comparado ao grupo de homens, porém vivem uma realidade de muita opressão e vivências
cercadas de vulnerabilidades e invisibilidade. De acordo com Marsicano e Levinson (2020),
as estruturas patriarcais estão organizadas produzindo controle, punição e violência para as
mulheres não somente na relação com os homens, mas com outras mulheres em virtude de
raça, sexualidade e classe, dentre outros marcadores. Nesse sentido, recai sobre as mulheres
em situação de rua uma política que as mantém sob dominação, reforçando a vulnerabilidade.

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Sarmento (2020), pontua a inexistência de políticas públicas para mulheres em
situação de rua, à exceção de quando estão grávidas, circunstância na qual, muitas vezes, são
dirigidas a elas ações punitivas que resultam na retirada de seus filhos. De acordo com a
Secretaria de Atenção à Saúde (2015), às mulheres e adolescentes em situação de rua também
encontram inúmeras barreiras para acessar ações e serviços públicos de saúde, devido à
ausência de informação, documentação, endereço convencional, entre outros. 

Accorssi e Scarparo (2016) ressaltam que o descaso social marca a vida de pessoas
que vivem em condição de pobreza e que elas estão submetidas a barreiras invisíveis que
causam impacto tanto na própria identidade, quanto na forma de se relacionar com os
outros. Deste modo, viver em descrédito social conduz o modo de viver das mulheres em
situação de rua.

Diante destas inúmeras problematizações e buscando ampliar o olhar sobre esta


temática, o objetivo deste estudo é analisar as vivências de mulheres em situação de rua, por
meio do referencial das representações sociais a fim de compreender e conhecer esse
fenômeno social bem como o modo como este grupo constrói seu conjunto de saberes que
expressam sua identidade de grupo.

2. Objetivo 

Compreender como as condições materiais e processos de socialização e produção de


subjetividade afetam mulheres em situação de rua e relacionar essas questões com o acesso a
políticas públicas, utilizando a pesquisa participante a fim de criar condições para uma
narrativa pessoal, gerando então um aprofundamento da reflexão sobre o tema.

3. Método 

A pesquisa será realizada com mulheres em situação de rua utilizando a pesquisa


participante e aplicação de entrevistas em grupos focais. Serão coletados dados qualitativos
utilizando roteiros de entrevista semiestruturada com questões norteadoras para o diálogo
para um aprofundamento sobre o tema.

Entendendo a fragilidade da situação, nos valeremos do comitê POP Rua para


intermediação do primeiro contato com as mulheres. O Centro POP ou POP Rua (Centro de
Referência Especializado para População em Situação de Rua) é uma organização pública

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vinculada à Proteção Social Especial de Média Complexidade da Assistência Social, através
do qual são ofertados serviços para pessoas em situação de rua. Dessa forma, para minimizar
desconfortos em abordá-las livremente nas ruas, pediremos apoio ao Centro POP para
selecionar aquelas que gostariam de participar do estudo. 

No primeiro contato, solicitaremos acompanhá-las durante uma semana em um


intervalo de três horas. Utilizaremos a ferramenta de observação participante para, assim,
assumirmos a postura de instrumento de percepção. Dessa forma, pretendendo, além de
observar como a subjetividade dessas mulheres se comporta em situação de rua, observar
também como se comportará a subjetividade dos observadores, visto que, nesta ferramenta de
estudo, o observador e o observado são sujeitos de um mesmo trabalho em comum.

As percepções desta observação participante serão organizadas através do referencial


teórico das representações sociais para que ao final do estudo seja possível a compreensão do
fenômeno social, bem como conhecer o modo como este grupo entrevistado constrói seus
códigos culturais que definem suas regras sociais.

Após a conclusão da observação participante, serão propostos três encontros com as


mulheres acompanhadas durante o estudo para aplicação de entrevistas em grupos focais. 

Abaixo, as entrevistas elaboradas:                                        

1ª ENTREVISTA:

No primeiro encontro a entrevista terá como foco principal conhecer as participantes de modo
em que o primeiro contato delas com o grupo focal seja confortável e que a prioridade seja
elas se sentirem à vontade, para que possamos entender melhor a realidade de cada uma delas
utilizando de metodologia de coleta e análise de dados.

1. Qual o nome de vocês? 


2. Em média, há quanto tempo vocês estão em situação de rua?
3. Como normalmente é o dia a dia de vocês?
4. Conte-nos como costumava ser a realidade de vocês antes de estarem em situação de rua. 
5. Vocês participam ou já participaram de algum grupo de apoio para mulheres? Seja ele para
fins específicos ou não. 

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2ª ENTREVISTA:

No segundo encontro as perguntas serão direcionadas às questões de políticas públicas no


Brasil. O intuito desse encontro é entender qual a opinião desse grupo de mulheres sobre o
assunto e como isso afeta diretamente em suas vidas.

1. Sendo as políticas públicas medidas do governo criadas a fim de garantir direitos, prestações
de serviços e assistência a toda a população, com qual frequência vocês possuem acesso a um
ou mais desses serviços: saúde, educação, cultura e assistência social?
2. Qual a opinião de vocês sobre a ajuda prestada pelo atual governo às pessoas em situação de
rua?
3. Mais especificamente, vocês mulheres, recebem alguma assistência especializada, criteriosa e
humanizada do governo na questão da saúde pública e higiene pessoal? Se sim, Quais?
4. Se vocês pudessem criar uma lei, ou realizar uma mudança que interferisse diretamente na
saúde pública de mulheres em situação de rua e que pudesse trazer benefícios no âmbito da
saúde e higiene feminina na vida dessas mulheres, qual seria? 
5. Alguma rede de saúde pública recomenda ou já te recomendou o uso de algum método
contraceptivo?
6. Dados mostram altos índices de violência contra a mulher no brasil, em relação às mulheres
em situação de rua, qual a visão de vocês sobre o assunto? Já presenciaram algum tipo de
violência de gênero estando nas ruas?
7. Costumam adotar medidas a fim de tentar diminuir as chances de sofrer algum tipo de
violência por serem mulheres? Quais?
8. Para vocês, quais são as principais diferenças entre um homem em situação de rua e uma
mulher em situação de rua?

3ª ENTREVISTA:

No terceiro encontro, traremos a discussão de fechamento a partir do referencial de


representações sociais. Após tratar sobre questões introdutórias e questões de políticas
públicas para entender como é o dia a dia dessas mulheres, o terceiro questionário traz à tona

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questões sobre a visão pessoal de cada uma a respeito de representações sociais do papel da
mulher na sociedade.     

1. Na visão de cada uma de vocês, o que significa “Ser mulher”? 


2. Como é ser uma mulher em situação de rua? 
3. Como vocês se sentem, se enxergam diante da sociedade? Recebem alguma ajuda/auxílio de
ONGs (Organização não governamental)? 
4. De acordo com as experiências individuais de cada uma, vocês diriam que existe uma certa
expectativa em relação às mulheres na nossa sociedade? 
5. Quais as expectativas de vocês em relação ao futuro? 

Após a realização da observação e pesquisa participante, os pesquisadores serão


capazes de conhecer minimamente a realidade vivida pelas mulheres em situação de rua com
base nas narrativas apresentadas e observações percebidas junto a estre grupo estudado, sendo
possível discorrer uma reflexão sobre o tema.

4. Referências Bibliográficas

Accorssi, A., Scarparo, H. (2016) Representações sociais da pobreza. In V. M. Ximenes , B.


B. Nepomuceno, E. C. Cidade & J. F. Moura Júnior (Orgs.), Implicações psicossociais da
pobreza: Diversidades e resistências (pp. 67-94). Expressão Gráfica e Editora.

Brandão, C.R. (org.). (1988). Pesquisa participante. São Paulo: Brasiliense.

BRASIL. Secretaria de Atenção à Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa.


Nota Técnica Conjunta n.001: SAS e SGEP Brasília: SAS, 2015.

Marsicano, A. C., & Levinson, E. (2020). Mulheres e as ruas: O debate sobre gênero
atravessado pela classe. In I. Rodrigues & D. C. Fernandes, Cidadãos em situação de rua:
Dossiê Brasil - grandes cidades (pp. 93-112). CRV Editora.

Natalino, M. (2020). Estimativa da população em situação de rua no brasil (setembro de 2012


a março de 2020)

Sarmento, C. S. (2020). “Por que não podemos ser mães?”: Tecnologias de governo,
maternidade e mulheres com trajetória de rua [Dissertação de mestrado, Universidade Federal
do Rio Grande do Sul]. Repositório Digital Lume UFRGS.

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Schuch, P., Gomes, C., Silva, V. S. B. (2018). As políticas de inclusão como problemática de
engajamento antropológico.

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