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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
CURSO DE DOUTORADO EM PSICOLOGIA

NOME DO ALUNO

TÍTULO DA SUA PESQUISA

BELÉM - PA
2023
TÍTULO DA PESQUISA

Pré-projeto apresentado ao Programa


de Pós-Graduação em Psicologia,
Curso de Doutorado em Psicologia da
Universidade Federal do Pará, como
requisito parcial para a obtenção do
título de Doutor em Psicologia.

Orientadora (pretendida): Profa. Dra. .

BELÉM - PA
2023
Resumo

Este pré-projeto aborda a realidade das mulheres em situação de rua e a eficácia das
políticas públicas de saúde, partindo do questionamento inicial: “Como as políticas
públicas de saúde atendem às mulheres em situação de rua, especialmente aquelas
abrigadas na CASA RUA em Belém do Pará”. A premissa da pesquisa inclui uma análise
aprofundada das principais políticas de saúde voltadas para as mulheres no Brasil e para
a Capital do Estado do Pará, com um levantamento detalhado de políticas públicas. Além
disso, uma análise bibliográfica foi conduzida para fundamentar o estudo. As análises
realizadas neste estudo foram guiadas pelo materialismo histórico-dialético. Concluiu-se
que dentro das políticas de atenção à saúde das mulheres em situação de rua, existem
barreiras que limitam o acesso e a proteção adequada a esse segmento. Notou-se também
um silêncio e uma falta de inclusão efetiva dessa população nessas políticas. As mulheres
em situação de rua, embora representem uma minoria dentro desse contexto, necessitam
de políticas que levem em conta suas particularidades, proporcionem visibilidade e
assegurem seu efetivo acesso aos serviços de saúde. A abordagem integral e inclusiva das
necessidades específicas das mulheres em situação de rua, especialmente aquelas que
buscam abrigo na CASA RUA, é crucial para garantir uma assistência eficaz e eficiente
em saúde.

Palavras-Chave: Mulher em situação de rua; CASA-RUA; População em situação de


rua; políticas públicas de saúde da mulher.
1. INTRODUÇÃO (TEMA E RELEVÂNCIA DA PESQUISA)

O tema que será abordado neste projeto de pesquisa é a situação das mulheres
em situação de rua, com especial atenção àquelas abrigadas na CASA RUA, na cidade de
Belém do Pará. Este é um tema de grande relevância e urgência, considerando o aumento
da presença feminina em situação de rua e a necessidade de políticas públicas que
atendam a essa população de forma específica e adequada.

Diante disso, as referidas experiências despertaram meu interesse em analisar as


políticas públicas de saúde voltadas para mulheres na Cidade de Belém e como elas
protegem as mulheres nessa situação, partindo do princípio de que essa população é vista
como um grupo invisível e, desse modo, o Estado não as percebe as mulheres em situação
de rua como cidadãs de direitos, não garantindo seus direitos fundamentais como da
Saúde, o qual é dever por lei dentro da nossa Constituição Federal de 1988.

Busca-se com essa pesquisa contribuir para a visibilidade das mulheres em


situação de rua, uma vez que sofrem não somente com a exclusão, mas também com o
machismo enraizado na sociedade. Dando voz a suas necessidades, além de propiciar
conhecimentos sobre os aspectos sociais e econômicos dessa população.

A presença da população em situação de rua é algo que tem sido recorrente aos
assistentes sociais, que muitas vezes se deparam com essa temática na sua atuação
profissional. Logo, buscar a proteção social e a garantia de direitos dessas mulheres, é um
grande desafio ao profissional, que deve guiar sua ação sempre pautada no Projeto Ético-
Político e no Código de Ética da profissão.

Belém do Pará, como muitas outras cidades, enfrenta um desafio significativo


em relação às pessoas que vivem em situação de rua. Entre esses indivíduos, observa-se
um crescimento notável no número de mulheres, o que evidencia a necessidade de uma
compreensão mais profunda e direcionada às questões que envolvem essa parcela da
população. Compreender as razões que levam as mulheres a essa condição, os desafios
que enfrentam e as formas de oferecer suporte são elementos essenciais para o
desenvolvimento de políticas mais eficazes e inclusivas.

O escopo da pesquisa será delimitado para focar especificamente nas mulheres


em situação de rua e, mais especificamente, naquelas que são abrigadas na CASA RUA
em Belém do Pará. A abordagem detalhada dessas mulheres permitirá uma análise
aprofundada de suas experiências, desafios, e a busca por soluções que visem melhorar
sua qualidade de vida e reintegrá-las à sociedade de maneira digna e sustentável.

Este tema está intimamente relacionado com a área de concentração "Direitos


Humanos, Desenvolvimento e Administração" e, mais especificamente, com a linha de
pesquisa "Inclusão Social e Políticas Públicas". A inclusão social das mulheres em
situação de rua é uma das metas fundamentais para garantir a dignidade humana e
promover o desenvolvimento social. Portanto, essa pesquisa se alinha de maneira precisa
com a proposta do Programa de Pós-Graduação em Psicologia (PPGP) da Universidade
Federal do Pará.

Aumentar a visibilidade das mulheres em situação de rua é crucial para entender


suas necessidades únicas. Ao focalizar nesse grupo, podemos criar políticas mais eficazes
que abordem questões como violência de gênero, saúde reprodutiva, e empoderamento
econômico.

Investigar o desenvolvimento de políticas públicas adequadas com base nas


informações coletadas nesta pesquisa, será possível desenvolver políticas públicas mais
direcionadas e eficazes, visando a melhoria das condições de vida das mulheres em
situação de rua e a redução de sua vulnerabilidade social.

A pesquisa pode contribuir para aumentar a conscientização e sensibilização da


sociedade em relação aos desafios enfrentados pelas mulheres em situação de rua. Ao
tornar essas histórias visíveis, podemos mobilizar a sociedade para ação e advocacia em
prol de mudanças significativas.

Ao aprofundar o entendimento sobre as experiências e desafios enfrentados pelas


mulheres em situação de rua, essa pesquisa pode contribuir para a literatura científica,
preenchendo lacunas e inspirando futuras investigações. Ao enfocar as mulheres em
situação de rua, a pesquisa visa promover a igualdade de gênero, destacando as
disparidades e necessidades únicas que essa população enfrenta em comparação com os
homens em situação de rua.

O tema da pesquisa, que se concentra nas mulheres em situação de rua e


abrigadas na CASA RUA em Belém do Pará, é de extrema relevância e merece uma
análise aprofundada. A pesquisa visa fornecer insights valiosos para o desenvolvimento
de políticas públicas mais eficazes, melhorando a qualidade de vida dessas mulheres e
contribuindo para uma sociedade mais inclusiva e igualitária.

2. A População de mulheres em Situação de Rua (Problema da Pesquisa)


2.1 Contextualização e caracterização da População em Situação de Rua

São poucos os dados oficiais existentes sobre a população em situação de rua no


Brasil. Essa falta de dados sobre tal segmento é algo problemático, uma vez que prejudica
a implementação de políticas públicas voltadas esse segmento, reproduzindo a sua
invisibilidade no âmbito das políticas sociais.

A problematização é o ponto inicial e crucial em qualquer pesquisa científica. É


através da formulação do problema que se estabelece o foco, a direção e a relevância da
investigação. Neste contexto, a pesquisa se concentra nas mulheres em situação de rua e,
mais especificamente, naquelas que encontram abrigo na CASA RUA em Belém do Pará.
Abordar esse problema é fundamental para compreender a complexidade e a gravidade
dessa situação, oferecendo subsídios para políticas públicas mais efetivas e intervenções
direcionadas.

O problema central desta pesquisa é a presença crescente de mulheres em


situação de rua na cidade de Belém do Pará. Observa-se um aumento significativo nesse
segmento da população, o que implica na necessidade de entender as circunstâncias que
levam as mulheres a essa condição e os desafios que enfrentam durante essa trajetória.
Agravando essa situação, temos as mulheres que buscam abrigo na CASA RUA, um
importante ponto de atendimento para essa população.

2.1.1 Formulação das Indagações de Pesquisa

Para melhor compreender e abordar esse contexto, são levantadas as seguintes


indagações de pesquisa:

Quais são os fatores socioeconômicos que levam mulheres à situação de rua em


Belém do Pará? É essencial entender os determinantes socioeconômicos que levam as
mulheres a viverem nas ruas, como falta de moradia, desemprego, baixa renda e ausência
de suporte social e familiar.
Como as experiências de violência de gênero afetam a permanência das mulheres
na situação de rua? A violência de gênero, em diferentes formas, é um problema comum
enfrentado pelas mulheres. Como essa violência contribui para a situação de rua e como
afeta a permanência delas nessa condição?

Quais políticas públicas estão disponíveis para apoiar mulheres em situação de


rua, e como são percebidas por elas? É crucial analisar as políticas públicas existentes
voltadas para as mulheres em situação de rua e avaliar sua eficácia e adequação às
necessidades e percepções das mulheres que as utilizam.

Essas perguntas-problema visam orientar a pesquisa, fornecendo um


enquadramento sólido para entender os diferentes aspectos que contribuem para a
presença de mulheres em situação de rua e suas experiências ao buscar abrigo na CASA
RUA.

2.1.2 Direcionamento da Pesquisa

A investigação será direcionada para compreender os fatores econômicos,


sociais e de gênero que contribuem para a situação de rua das mulheres em Belém do
Pará. Essa compreensão é essencial para desenvolver políticas públicas e estratégias de
apoio que possam abordar de forma eficaz as raízes e os desafios dessa problemática. A
violência de gênero, em particular, será analisada como um fator-chave que influencia a
permanência das mulheres na situação de rua e suas interações com os serviços de apoio,
como a CASA RUA.

A importância de abordar o problema das mulheres em situação de rua,


especialmente aquelas que encontram refúgio na CASA RUA, reside na necessidade de
criar intervenções e políticas específicas para esse grupo. Tradicionalmente, as políticas
e os serviços voltados para pessoas em situação de rua são geralmente generalizados, sem
considerar as diferenças de gênero e as necessidades específicas das mulheres. Esta
pesquisa buscará contribuir para uma abordagem mais holística e sensível ao gênero,
reconhecendo que as mulheres podem enfrentar desafios únicos e requerem apoio
diferenciado.

Além disso, ao compreender como a violência de gênero influencia a


permanência das mulheres na situação de rua, poderemos trabalhar na prevenção dessas
violências e na criação de ambientes seguros que incentivem a saída desse ciclo de
vulnerabilidade.

O problema de pesquisa delineado neste estudo representa um olhar crítico e


interdisciplinar sobre a situação das mulheres em situação de rua em Belém do Pará, com
foco especial nas que buscam abrigo na CASA RUA. Através da formulação das
indagações de pesquisa, a pesquisa busca desvendar os fatores que levam as mulheres a
essa situação, os desafios enfrentados e a eficácia das políticas públicas disponíveis.
Espera-se que os resultados dessa pesquisa possam informar a criação e implementação
de políticas mais direcionadas, sensíveis ao gênero e eficazes, visando a redução da
vulnerabilidade e a promoção da reintegração social das mulheres em situação de rua.

Conforme a Política Nacional Para Inclusão da População em Situação de rua


(GOVERNO FEDERAL, 2008), a população em situação de rua, pode ser definida como:

“um grupo populacional heterogêneo que tem em


comum a pobreza, vínculos familiares quebrados
ou interrompidos, vivência de um processo de
desfiliação social pela ausência de trabalho
assalariado e das proteções derivadas ou
dependentes dessa forma de trabalho, sem
moradia convencional regular e tendo a rua como
o espaço de moradia e sustento. Naturalmente,
existem muitas outras especificidades que
perpassam a população de rua e devem ser
consideradas, como gênero, raça/cor, idade e
deficiências físicas e mentais.” (p.9)

De acordo com Beijer (2011), entre os motivos que leva tal população as ruas,
está muitas vezes associado ao desemprego e problemas de ordem econômica, que se
materializam também na fragilização dos vínculos familiares.

Para Silva (2006) , o processo de estar em situação de rua em alguns casos ocorre
de forma lenta e gradual, intercalada com retornos à família e com tentativas de novas
alternativas de moradia. Em outros casos a ida para as ruas ocorre de forma repentina e
marcada por rupturas.

De acordo com a Primeiro Censo e Pesquisa Nacional sobre a População em


Situação de Rua (META – INSTITUTO DE PESQUISA DE OPINIÃO, 2008), realizada
em 2008 , cerca de 35,5%, afirmam que passaram a viver e morar na rua por problemas
relacionados ao uso de álcool e/ou outras drogas, 29,8% justificam pela situação de
desemprego, enquanto 29,1% por desavenças com pai/mãe/irmãos, sendo que 71,3% do
total de entrevistados citaram pelo menos um dos três motivos. Os dados também
mostram que 48,4% está vivendo a mais de dois anos na rua e 30% a mais de cinco anos.

As mudanças no mercado de trabalho no Brasil, recorrentes da reestruturação


produtiva, resultaram no desemprego e no aumento da população em situação de rua. De
acordo com Silva (2006) as principais ocupações realizadas por essas pessoas, antes da
sua condição nas ruas, eram as ocupações que perderam postos de trabalho e hoje o
cenário de desemprego continua crescente e marcado pela destituição de direitos
trabalhistas, o que leva a crer que o número de pessoas em situação de rua continuará a
crescer, inclusive de mulheres.

2.2 Direitos da População em Situação de Rua

A Constituição de Federal de 1988, trouxe importantes mudanças no Panorama


dos Direitos Humanos no Brasil. De acordo com o art. 6°: “são direitos sociais a educação,
a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à
maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição”.
(Brasil, 1988). Direitos esses garantidos a todos os cidadãos, incluindo a população em
situação de rua.

Políticas voltadas para a garantia de direitos dessa população foram criadas então
posteriormente, como a política Nacional de Assistência Social de 2004 (PNAS), a qual
expressa as deliberações da IV Conferência Nacional de Assistência Social, que se coloca
na perspectiva da materialização das diretrizes da Lei Orgânica da Assistência Social
(LOAS) de 2003, que teve alteração em 2005 no parágrafo único do art. 23 :“Na
organização dos serviços da Assistência Social serão criados programas de amparo: II -
às pessoas que vivem em situação de rua.” Essa alteração permitiu tornar como
responsabilidade do poder público a tarefa de manter serviços e programas de atenção à
população em situação de rua.

A Política Nacional Para a População de Rua e o Comitê Intersetorial de


Acompanhamento e Monitoramento, instituídos em 2008, foram desenvolvidos a partir
do I Encontro Nacional sobre População em Situação de Rua, o qual teve participação do
Movimento Nacional da População de Rua (MNPR), movimento formado por homens e
mulheres em situação de rua ou em trajetória de rua, em busca do resgate da cidadania e
da visibilidade dessa população.

Esse movimento surgiu em 2004, após a chacina na Praça da Sé, em São Paulo,
onde diversas pessoas em situação de rua foram assassinadas, além de outros atos de
violência que seguiram em outras partes no país. Com isso surgiu uma mobilização,
consolidando parcerias em algumas cidades como Belo Horizonte, São Paulo e a
realização de fóruns e palestras. (A.; C.; SILVA, 2012)

A Política Nacional para a População em Situação de Rua (FEDERAL, 2008),


estabelece como princípios:

“I - Promoção e garantia da cidadania e dos


direitos humanos;

II - Respeito à dignidade do ser humano,


sujeito de direitos civis, políticos, sociais,

econômicos e culturais;

III - Direito ao usufruto, permanência, acolhida


e inserção na cidade;

IV - Não-discriminação por motivo de gênero,


orientação sexual, origem étnica ou

social, nacionalidade, atuação profissional,


religião, faixa etária e situação migratória;

V - Supressão de todo e qualquer ato violento


e ação vexatória, inclusive os estigmas
negativos e preconceitos sociais em relação à
população em situação de rua.“ (p.14)

E como diretrizes:

“I - Implementação de políticas públicas nas


esferas federal, estadual e municipal,

estruturando as políticas de saúde, educação,


assistência social, habi- tação, geração de

renda e emprego, cultura e o sistema de garantia e


promoção de direitos, entre outras,

de forma intersetorial e transversal garantindo a


estruturação de rede de proteção às

pessoas em situação de rua;

II - Complementaridade entre as políticas do


Estado e as ações públicas não estatais de

iniciativa da sociedade civil;

III - Garantia do desenvolvimento democrático


e de políticas públicas integradas para

promoção das igualdades sociais, de gênero e de


raça;

IV - Incentivo à organização política da


população em situação de rua e à participação

em instâncias de controle social na formulação,


implementação, monito ramento e

avaliação das políticas públicas, assegurando sua


autonomia em rela ção ao Estado;

V - Alocação de recursos nos Planos


Plurianuais, Leis de Diretrizes Orçamentárias e
Apesar de todo avanço quanto as políticas sociais voltadas para essa população,
é nítido que ainda faltam muitas ações para reduzir as desigualdades no país, uma vez que
o número de pessoas em situação de rua se mostra crescente e ao analisar as políticas que
surgiram ao longo dos anos, percebemos a existância de rede de proteção, ainda que
mínima, a qual pode ser considerada pouco efetiva, pois a maioria da população em
situação de rua não é coberta pelos programas do governo.

3. Mulheres em Situação de Rua: relações de gênero e saúde

A situação de rua é uma realidade social complexa que afeta indivíduos em várias
partes do mundo. No entanto, as mulheres que vivem nessas condições enfrentam desafios
adicionais, muitas vezes exacerbados devido às desigualdades de gênero (Anderson &
Christian, 2018). Esta pesquisa explora a interseção entre gênero, saúde e situação de rua,
com foco especial nas mulheres. Vamos analisar as causas, as consequências e a
importância das políticas públicas na promoção da saúde e bem-estar das mulheres em
situação de rua.

A situação de rua é uma manifestação extrema da pobreza e da exclusão social,


sendo um problema global. Contudo, as mulheres que vivem nas ruas enfrentam desafios
específicos relacionados ao gênero. A vulnerabilidade feminina decorre de múltiplos
fatores, incluindo a violência de gênero, discriminação, desigualdade de oportunidades
de emprego e salários, bem como a falta de acesso a serviços de saúde adequados.

A situação de rua tem um impacto devastador na saúde das mulheres. Estão


sujeitas a condições precárias de vida, falta de higiene adequada, desnutrição, doenças
infecciosas e problemas de saúde mental (Toro et al., 2007). Além disso, muitas mulheres
em situação de rua enfrentam violência sexual e física, o que agrava ainda mais seus
problemas de saúde e aumenta seu nível de trauma.

As desigualdades de gênero desempenham um papel crucial no acesso das


mulheres em situação de rua aos serviços de saúde. Muitas vezes, elas enfrentam
discriminação nos sistemas de saúde, falta de informações sobre seus direitos e acesso
limitado a cuidados de saúde adequados. A falta de privacidade e segurança nos abrigos
ou locais onde vivem também afeta sua disposição para buscar assistência médica.

Para abordar essa complexa interseção entre gênero, saúde e situação de rua,
políticas públicas eficazes são fundamentais. É crucial que essas políticas considerem as
necessidades específicas das mulheres e abordem as desigualdades de gênero que
contribuem para sua situação de vulnerabilidade.

Acesso Universal à Saúde: Garantir o acesso das mulheres em situação de rua a


serviços de saúde de qualidade é primordial. Isso pode ser alcançado através de clínicas
móveis, abrigos com serviços de saúde integrados e programas de conscientização sobre
saúde.

Oferecer apoio psicológico e emocional é vital, dada a frequente exposição a


traumas. Profissionais de saúde treinados podem ajudar a lidar com os impactos
psicológicos da situação de rua, incluindo o histórico de violência. Políticas voltadas para
a prevenção e resposta à violência de gênero são essenciais. Isso inclui capacitar as
mulheres para reconhecer e resistir à violência, bem como garantir que haja mecanismos
de denúncia e suporte disponíveis.

Iniciativas que promovam a inclusão econômica, como programas de


treinamento profissional e ajuda para conseguir emprego, são cruciais. Além disso,
políticas de habitação que ofereçam moradias acessíveis são fundamentais para a
estabilidade das mulheres em situação de rua. A situação de rua é um fenômeno complexo,
e as mulheres que vivem nessas condições enfrentam desafios singulares devido às
desigualdades de gênero. O impacto na saúde é profundo e, para abordar essa questão, é
necessário um enfoque multifacetado, considerando as necessidades específicas das
mulheres (Zerger et al., 2008).

As políticas públicas devem ser desenvolvidas e implementadas para garantir o


acesso das mulheres em situação de rua a cuidados de saúde de qualidade,
empoderamento econômico e proteção contra a violência de gênero. Somente com uma
abordagem integrada e inclusiva podemos trabalhar em direção a uma sociedade mais
justa e equitativa, onde todas as mulheres tenham a oportunidade de uma vida digna e
saudável.

4. Objetivos

Objetivo Geral:

Analisar a situação das mulheres em situação de rua e, mais especificamente,


daquelas que buscam abrigo na CASA RUA em Belém do Pará, com o intuito de
compreender suas condições, desafios e necessidades, a fim de propor medidas e políticas
públicas que melhorem sua qualidade de vida e promovam sua reintegração social.

Objetivos Específicos:

• Investigar as Causas da Situação de Rua:

Identificar e analisar as causas socioeconômicas que levam as mulheres a viverem nas


ruas, incluindo fatores como desemprego, pobreza, falta de moradia e problemas
familiares.

• Avaliar o Impacto da Violência de Gênero:

Compreender como a violência de gênero, seja física, psicológica ou sexual, contribui


para a situação de rua das mulheres e como afeta sua permanência nessa condição.

• Analisar as Políticas Públicas Existentes:

Examinar as políticas públicas atualmente disponíveis para mulheres em situação de rua,


avaliando sua eficácia, abrangência e adequação às necessidades específicas desse grupo.

• Entender a Percepção das Mulheres sobre os Serviços da CASA RUA:

Investigar como as mulheres em situação de rua percebem e utilizam os serviços


oferecidos pela CASA RUA, identificando pontos fortes e áreas de melhoria.

• Propor Estratégias de Apoio e Reintegração Social:

Desenvolver recomendações e estratégias práticas para apoiar as mulheres em situação


de rua, visando sua reintegração à sociedade, incluindo capacitação profissional, acesso
à saúde e acomodação segura.

• Promover a Conscientização e a Sensibilização da Sociedade:

Propor ações para sensibilizar a sociedade sobre a situação das mulheres em situação de
rua, visando combater o estigma social e promover a empatia e a solidariedade.

Esses objetivos específicos estão alinhados com o objetivo geral de entender e


abordar de maneira holística a situação das mulheres em situação de rua em Belém do
Pará, particularmente aquelas que buscam abrigo na CASA RUA. A pesquisa visa
fornecer um panorama abrangente dessas realidades, culminando em recomendações
práticas para melhorar suas condições de vida e promover a inclusão e a igualdade de
oportunidades.

5. HÍPOTESE

5.1 Hipótese 1: A Violência de Gênero e sua Relação com a Situação de Rua

A Hipótese 1 aponta para a forte correlação entre a violência de gênero e a


situação de rua das mulheres em Belém do Pará. A pesquisa existente já estabeleceu uma
relação direta entre experiências de violência, seja ela doméstica, psicológica ou sexual,
e a decisão de algumas mulheres em buscar refúgio nas ruas. A violência enfrentada em
seus ambientes de origem pode levá-las a fugir em busca de segurança e libertação. Nesse
contexto, a CASA RUA surge como uma alternativa significativa, oferecendo apoio e
assistência a essas mulheres, permitindo-lhes reconstruir suas vidas.

5.2 Hipótese 2: Precariedade das Condições Socioeconômicas e Situação de Rua

A segunda hipótese destaca que a precariedade das condições socioeconômicas


pode ser um fator determinante na situação de rua das mulheres em Belém do Pará.
Mulheres em situação de vulnerabilidade econômica, com acesso limitado a emprego,
renda e moradia adequada, podem ser empurradas para as ruas em busca de melhores
oportunidades de sobrevivência. A CASA RUA, portanto, pode representar uma resposta
importante, oferecendo suporte para melhorar as condições econômicas dessas mulheres
e, assim, reduzir sua situação de rua.

5.3 Hipótese 3: Barreiras no Acesso a Serviços de Saúde e a Situação de Rua

A terceira hipótese enfoca as barreiras no acesso a serviços de saúde como um


fator que pode influenciar a situação de rua das mulheres em Belém do Pará. Mulheres
em situação de rua muitas vezes enfrentam dificuldades para obter atendimento médico
adequado, seja devido à falta de recursos, estigma social ou negligência sistêmica. A
ausência de assistência médica pode levar ao agravamento de problemas de saúde,
contribuindo para sua permanência nas ruas. A CASA RUA pode atuar como um
facilitador ao fornecer acesso a cuidados de saúde básicos e promovendo a saúde dessas
mulheres.

Durante o curso da pesquisa, serão utilizados métodos quantitativos e


qualitativos para coletar dados e analisar a relação entre a violência de gênero, as
condições socioeconômicas, o acesso aos serviços de saúde e a situação de rua das
mulheres em Belém do Pará. A análise dos dados coletados ajudará a validar ou refutar
essas hipóteses, contribuindo para uma compreensão mais aprofundada das dinâmicas
que afetam a situação das mulheres em situação de rua e fornecendo insights para a
formulação de políticas e intervenções mais eficazes.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A população em situação de rua, conforme a definição da Secretaria Nacional de


Assistência Social, se caracteriza por ser um grupo populacional heterogêneo, com
diferentes histórias de vida, mas que possuem em comum a condição de pobreza. Esse
fenômeno possui vinculação com a formação de uma superpopulação relativa no processo
de acumulação do capital e faz parte de uma expressão radical da questão social.

As mulheres em situação de rua, as quais são minoria nesse ambiente,


apresentam o mesmo perfil heterogêneo, e seus motivos para estarem em tal condição são
diversos. A violência na vida da mulher em situação de rua, é algo presente constante-
mente, seja ela institucional ou por seus parceiros, essa violência é acentuada devido a
sua situação de vulnerabilidade. A violência até mesmo pode ser o motivo que as
trouxeram para as ruas, com esperanças de serem livres, porém a rua logo se mostra um
reflexo da nossa sociedade patriarcal.

A violência de gênero é um fenômeno social, produzida e reproduzida dentro das


relações de poder, que as utiliza como um mecanismo para mantê-las. O gênero é um
elemento constitutivo de relações sociais fundadas sobre as diferenças percebidas entre
os sexos, e o gênero é uma forma primária de dar significado às relações de poder.

Nas ruas as relações de gênero não são diferentes e continuam a se reproduzir.


As mulheres em situação de rua se tornam também vulneráveis às circunstâncias
concernentes à sua condição de gênero, como violências físicas, psicológicas, abuso
sexual, doenças sexualmente transmissíveis e gravidez não planejada e/ou indesejada.
A partir da análise das políticas de saúde das mulheres e da revisão bibliográfica,
foi possível confirmar a hipótese de que essa população sofre com a invisibilidade dentro
das políticas e dentro da sociedade como um todo. Seus processos de adoecimento estão
estritamente ligados a questões de gênero, e portanto, a atenção às suas especificidades é
algo de extrema necessidade. São raras as políticas que as mulheres em situação de rua
são mencionadas e as barreiras encontradas nas legislações impedem o acesso a políticas
que deveriam ser um direito dessa população.

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