Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
SANTA RITA
2017
JOSÉ NAGILIEUDO BEZERRA LEITE
SANTA RITA
2017
Leite , José Nagilieudo Bezerra.
_______________________________________________
Prof. Dr. Roberto Efrem Filho (Orientador)
_______________________________________________
Profa. Ma. Ana Lia Vanderlei de Almeida
_______________________________________________
Profa. Ma. Tatyane Guimarães Oliveira
Aos Meus Pais,
Filhos, Esposa, Família e Amigos
AGRADECIMENTOS
1 Introdução
da mulher como sendo menos relevante, vão à luta por mais direitos até então só
reconhecidos aos homens, enfrentando todo tipo de preconceito. Para essa mesma
sociedade, a mulher não deveria ser protagonista, pois o seu lugar estava reservado
sempre à sombra de uma figura masculina. É nesse ambiente que começam as
organizações, ainda bastante incipientes é claro, que vão aos poucos se
mobilizando para o combate desse processo discriminatório.
Vale lembrar que esse movimento de mulheres pretende, inicialmente, a
conquista de direitos considerados básicos para os dias atuais, e que são tidos
como direitos fundamentais inerentes a todo e qualquer cidadão. Direitos como
poder sair para trabalhar, frequentar espaços “públicos” até então restritos aos
homens, participar politicamente na vida da sociedade, através da expressão do
direito de votar e ser votada, não eram conferidos às mulheres.
Para uma discussão mais ampla acerca das origens dessas desigualdades
seria necessário enveredar por outro tema, mais amplo e intimamente ligado ao
problema da representatividade política feminina. Teríamos que imergir em uma
discussão acerca de gênero e desigualdade de gênero e da importância do
feminismo para essa discussão chegar ao nível em que está atualmente.
Historicamente os feminismos têm prestado uma contribuição fundamental
para as conquistas e o reconhecimento de direitos pelas mulheres. A autora Avtar
Brah (BRAH 2006) descreve bem essa importância. Nas suas palavras:
O objetivo principal do feminismo tem sido mudar as relações
sociais de poder imbricadas no gênero. Como as
desigualdades de gênero penetram em todas as esferas da
vida, as estratégias feministas envolvem um enfrentamento da
posição subordinada das mulheres tanto dentro das instituições
do estado como da sociedade civil. (2006, pág. 342).
3 http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/brasil-ocupa-o-129%C2%BA-lugar-em-participacao-
politica-feminina/, em 29/03/2017.
4 TSE – Tribunal Superior Eleitoral. Eleições. Estatísticas Eleitorais
<http://www.tse.jus.br/eleicoes/estatisticas/estatisticas-eleitorais> Acesso em 02/04/2017
15
reduzidos.
Mas, se pararmos para analisar mais detidamente, veremos que não é tão
difícil de encontrar não um, mas muitos fatos que impedem ou dificultam a
efetividade dessas medidas. Tal fracasso se dá, em muitos casos, pela
impropriedade ou ineficácia das medidas adotadas pelos governos e, em outros
tantos, pela ausência de mecanismos que tornem acessíveis essas medidas às
destinatárias finais.
A igualdade de gênero e o combate a sua discriminação possuem uma vasta
legislação que os ampara e protege. Essa proteção está tanto na nossa Constituição
da República de 88, quanto em convenções internacionais da ONU, como a
Convenção Sobre a Eliminação de todas as formas de discriminação contra a
Mulher.
Apesar de a nossa Constituição conferir a todos, homens e mulheres, sem
distinção de qualquer natureza, uma igualdade formal e trazendo, expressamente,
que constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil “promover
o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer
outras formas de discriminação”, tais dispositivos têm carecido de regulamentação,
de uma atuação do Estado, para a sua efetivação por meio de implementação de
políticas públicas.7
Dentre a legislação que regulamenta a seara eleitoral, há também um
arcabouço legal que visa à eliminação ou à redução dessa desigualdade. A
legislação eleitoral tem assegurado percentual mínimo de participação de mulheres
no registro de candidaturas8. Também há imposições aos partidos para que se
invista um percentual mínimo de recursos financeiros em campanhas de incentivo à
participação feminina9.
O limite legal para essa participação está, hoje, em um limite mínimo de 30%
(trinta por cento) e máximo de 70% (setenta por cento), para candidatas e
candidatos de ambos os sexos às eleições proporcionais. Grande parte dessas
garantias está disposta na Lei nº 9.504/97 (Lei das Eleições), com suas alterações e
7 Constituição da República Federativa do Brasil, Art. 5º, I e art. 3º IV.
8 Lei nº 9.504, de 30 de setembro de 1997, art. 10, § 3º, disponível em
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9504.htm>, Acesso em 03/04/2017.
9 Lei nº 9.606, de 19 de setembro de 1995, art. 45, IV. Disponível em
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9096compilado.htm>, Acesso em 03/04/2017.
17
Inicialmente, ainda sob a égide da Lei 9.100/95 11, que foi sucedida pela Lei
9.504/97, a Justiça Eleitoral, respondendo a Consulta 194-DF 12, sob a relatoria do
Min. Ilmar Galvão, entendeu que, em não havendo candidatas o suficiente para o
preenchimento do percentual mínimo, os partidos não poderiam preencher as vagas
restantes com candidatos do sexo masculino. Ainda, firmou-se o entendimento de
que o percentual mínimo deveria ser calculado com base no total de candidatos que
o partido teria o direito de apresentar e não no total efetivamente apresentado. Tal
decisão, apesar de aparentemente prejudicar os partidos, não foi tão prejudicial
assim, pois além de não impor qualquer sanção aos partidos que não
apresentassem candidatas, na prática, facultava ao partido apresentar candidatas do
sexo feminino ou não, bastando, tão somente, deixar o percentual de vagas
reservado para as mulheres sem o devido preenchimento.
E foi o que aconteceu durante algum tempo com certos partidos. Tal prática
só deixou de ser rotina com uma mudança de entendimento do TSE e que,
posteriormente, veio a ser incorporada à Lei das Eleições através da Lei
12.034/200913. A Justiça Eleitoral passou a dar um novo entendimento a Lei,
interpretando de forma mais favorável aos fins ao qual foi criada, a possibilitar uma
maior participação feminina na política, e não mais aos interesses de partidos
políticos. Passou-se a entender que o percentual mínimo não deveria mais ser
calculado com base no total de candidaturas ao qual o partido ou coligação tinha o
direito de apresentar, mas no total de candidaturas efetivamente apresentadas, e
não mais apenas reservar as vagas, estas deveriam ser efetivamente preenchidas.
Essa mudança de entendimento teve como objetivo impedir a prática
recorrente de alguns partidos que simplesmente não apresentavam o percentual
mínimo por sexo exigido pela Lei, pois alegando que não havia mulheres com
interesse em apresentar candidatura o suficiente em seus quadros partidários,
deixavam as vagas reservadas sem o devido preenchimento.
Ocorre que, com esse entendimento da Justiça Eleitoral, e que acabou se
14 http://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2016/Novembro/ministra-do-tse-comenta-acao-do-mpe-sobre-
candidatura-de-mulheres-que-nao-receberam-voto
21
Pessoa15.
Continuando com a pesquisa, ainda houve dificuldades de acesso ou de
compatibilidade de agenda para as entrevistas. Não é que tenha sido negada a
realização da entrevista. Não foi isso. Todos(as) os assessores(as) ou
secretários(as) dessas parlamentares com quem fiz contato foram muito
atencioso(a)s e disseram não haver qualquer problema em dar a entrevista. Ao
contrário disso, mostraram-se muito interessado(a)s em concedê-la.
Consegui, enfim, o agendamento para duas entrevistas, o que, para o
trabalho que pretendia realizar, e considerando o reduzido número de opções, já era
bastante satisfatório. Após algumas tentativas, com remarcações, não confirmações
e/cancelamentos, tive que desistir dessas entrevistas e partir para outras. Isso foi
motivo de grande preocupação pois, àquela altura, já havia passado bastante tempo
e ainda não havia sequer realizado a primeira entrevista.
Após algumas ligações e muitas explicações sobre o objetivo da pesquisa,
desta vez consegui e foi bastante proveitoso. O resultado dessas entrevistas é o que
passo a descrever em seguida. Começo com uma apresentação do perfil das
entrevistadas e uma breve descrição das suas trajetórias até o ingresso na atividade
político-partidária. Algumas histórias são bem interessantes e são o que apresento
em seguida.
da sua parte. Pediu que aguardasse na sala de espera, pois logo a parlamentar
chagaria. Alguns minutos depois, chega o seu assessor parlamentar, com quem já
havia mantido contato por telefone.
Por volta das 10h30min (dez horas e trinta minutos), Karina chega ao seu
gabinete e cumprimenta todos os que se encontram na ante-sala. Um pouco
apressada pois, àquela altura, a Sessão Parlamentar havia começado. Há um pouco
mais de uma hora para ser mais preciso. Mas isso não impediu Karina de conceder
a entrevista, respondendo a todas as perguntas que foram formuladas.
Antes de iniciar a entrevista, expliquei do que se tratava, apesar de já ter
feito isso antes, por telefone, ao seu assessor.
Na abordagem inicial, respondendo primeiramente a perguntas sobre sua
pessoa, sobre o seu perfil, obtive as seguintes informações: a parlamentar possui 36
(trinta e seis) anos de idade, formou-se em direito no ano de 2003 e desde então
tem a advocacia como profissão. Somente com o seu ingresso na atividade política
político-partidária, deixou de exercer a advocacia, fato esse que ocorreu em 2014.
Estudou ensino fundamental e médio em escolas particulares. Fato que se repetiu
com o ensino superior. Seus pais, ambos possuem curso superior e uma intensa
atividade político-partidária em cidade na região do brejo paraibano. É casada,
possui 02 (dois) filhos pré-adolescentes. É filiada ao Partido da Social-Democracia
Brasileira (PSDB) desde 2003, partido pelo qual foi eleita e exerce mandato
parlamentar.
Ao prosseguir com as perguntas, as respostas foram surgindo. Nas palavras
da entrevistada, apesar de sempre estar muito próxima desse ambiente político-
partidário, pois seus pais, como já mencionamos, têm uma atuação política muito
intensa na região onde atuam e onde está localizado o seu reduto eleitoral, ela
(Karina) está exercendo o seu primeiro mandato parlamentar.
Segundo afirma, a primeira vez em que se decidiu por apresentar
candidatura a algum cargo eletivo foi nas eleições de 2014, oportunidade esta que
coincide com a eleição para o seu primeiro mandato ao cargo de deputada estadual.
Eis o que afirma a entrevistada: “… Mas é o meu primeiro mandato, é primeira vez
que eu entrei na política, a primeira vez que eu lancei o meu nome para me
candidatar foi agora na eleição de 2014....”.
24
filiada atualmente. Maria afirma que sempre esteve envolvida com o movimento
político. Não necessariamente o movimento político-partidário.
Começou a militância desde muito cedo, com as pastorais de igreja, ainda
na década de 80, época em que havia acabado de migrar do sertão do estado com a
família.
Antes de seu engajamento na militância político-partidária, já possuía
bastante experiência com a militância nos movimentos sociais e do movimento
estudantil, começando com o movimento estudantil secundarista e continuando com
o movimento universitário.
A sua atividade político-partidária se inicia quando entra para a universidade,
segundo afirma, um movimento tardio, pois casou muito cedo e passou a dedicar a
família e aos filhos principalmente. Essa foi uma fase em que passa a maior parte do
seu tempo cuidando de sua família.
E ela faz questão de enfatizar isso conforme podemos constatar da sua fala:
“ … olha só: Quando eu entrei para universidade, eu entrei
para a universidade um pouco tarde, com uns 22 ou 23 anos,
porque eu casei, bem jovem, aí tive uma filha, …, aí eu fiz o
primeiro vestibular e não passei, na segunda etapa eu não fiz
mais. Fiquei um ano sem fazer, engravidei de novo, tive meu
segundo filho, e eu lembro que o meu outro vestibular eu fiz a
primeira fase do peneirão com nove meses de gestação e a
segunda tinha acabado de parir. Então quando eu passei para
a universidade eu tinha, meu filho era recém nascido e hoje ele
tem 21 um anos, eu tinha 23 anos. Então foi um movimento
tardio, não é? Porque geralmente as pessoas entram com 18
anos e eu entrei com 23. Porque eu fiquei todo esse tempo
dedicada aos meus filhos”.
representava isto, pois surgiu a partir dos movimentos dentro das igrejas, nos
sindicatos, nos movimentos sociais, e isso a levou à filiação ao partido, pois se
identificava com isso. A escolha da sua filiação partidária àquele partido se deu,
principalmente, pelo que o partido representava naquela época. O seu surgimento
estava ligado exatamente à bandeira pela qual lutava e isso a aproximou do partido.
Com base apenas nas narrativas apresentadas podemos constatar uma
grande diferença nos perfis das entrevistadas. Apesar de ambas exercerem
atividades político-partidárias e ocuparem mandatos parlamentares, podemos ver
claramente o quão diferem as suas trajetórias políticas.
Da mesma forma, apesar de algumas coincidências, veremos ao longo da
análise das entrevistas, que também há muitas diferenças de percepção das
entrevistadas acerca de pontos temáticos explorados na aplicação da entrevista.
Esse tema será melhor discutido no capítulo seguinte.
28
Isso significa que não basta reconhecer que homens e mulheres são
diferentes. É importante destacar aqui, mesmo que isso pareça repetitivo, SAFFIOTI
é crítica de uma discussão calcada em uma análise binária homem x mulher, em que
homens e mulheres se colocam em polos opostos. Para as autoras da obra citada,
essa análise torna-se extremamente inadequada para o estudo das relações de
gênero, pois não aborda o aspecto principal da questão, qual seja, as diferenças
existentes entre homens e mulheres. Nas palavras das autoras:
Feministas combatentes nas frentes anticartesianas, têm
mostrado como as categorias binárias de análise são
inadequadas para o estudo das relações de gênero, já que, de
uma óptica feminista politicamente radical, a mulher não é o
contrário do homem, mas diferente dele. A defesa da diferença
constitui, hoje, não só um tema atual, mas também cadente, na
medida em que fracassaram as utopias da igualdade entendida
meramente no plano Formal.” (SAFFIOTI e ALMEIDA, 1995.
pág.196)
mas pode ser o caminho para que ela se concretize. Segundo SILVA (2010, pág), o
preconceito é o caminho para a discriminação. E discriminação pode levar a
intolerância e violência, física e/ou psicológica.
Nas palavras do autor:
a violência que a mulher sofre está no seu dia a dia,
incorporada e enraizada no imaginário social coletivo da nossa
sociedade, de homens, mas também de mulheres, que
legitimam a subordinação do sujeito feminino ao domínio do
poder masculino. (SILVA, 2010. pág. 560)
Para BRAH (2006, pág. 365), as diferenças podem e devem existir. São
inerentes ao ser humano. Diferenciação e discriminação não. Para a autora, esses
conceitos são bem distintos entre si e consistem em o que fazemos ou como nos
comportamos sobre o que julgamos diferente sob o nosso ponto de vista.
entrevistada, Karina, se mostra contrária por entender que não teria como se
estabelecer parâmetros objetivos para definir quem seriam e como seriam aplicados
os critérios. A entrevistada ainda defende que esses grupos já estariam incluídos na
cota por gênero e, portanto, estabelecer uma nova cota seria desnecessário.
Ao entrevistar Maria, percebe-se uma visão, no meu entender, mais próxima
da realidade vivida pelas mulheres, pois ela acredita que políticas de cotas
inclusivas são sempre bem-vindas quando se pretende implementar políticas de
combate à opressão e inserir grupos geralmente excluídos nos processos
democráticos.
No entanto, defende que tais políticas de cotas devem ser transitórias,
devendo durar o tempo suficiente para que se estabeleça o equilíbrio entre esses
grupos. Essa visão está de acordo com o que dispõe o Art. 7º da Convenção Sobre
a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra A Mulher 19, ratificada
pelo Brasil. Assim dispõe o dispositivo mencionado:
Artigo 7º Os Estados-parte tomarão todas as medidas
apropriadas para eliminar a discriminação contra a mulher na
vida política e pública do país e, em particular, garantirão, em
igualdade de condições com os homens, o direito a: a) Votar
em todas as eleições e referendos públicos e ser elegível para
todos os órgãos cujos membros sejam objeto de eleições
públicas; b) Participar na formulação de políticas
governamentais e na execução destas, e ocupar cargos
públicos e exercer todas as funções públicas em todos os
planos governamentais; c) Participar em organizações e
associações não governamentais que se ocupem da vida e
política do país.
Artigo 8º Os Estados-parte tomarão todas as medidas
apropriadas para garantir à mulher, em igualdade de condições
com o homem e sem discriminação alguma, a oportunidade de
representar seu governo no plano internacional e de participar
no trabalho das organizações internacionais.
mínimo legal de 30% (trinta por cento), não oferecendo nenhuma estrutura para que
essas mulheres participem do processo eleitoral em igualdade de condições com os
candidatos do sexo masculino.
E, como resultado dessa prática desleal, temos uma taxa de mulheres que
conseguem se eleger bem inferior ao número de candidatas.
Ainda temos um problema que fica a margem dessa discussão que a
representatividade dessas mulheres que conseguem se eleger. E essa é uma
discussão que foge aos números apresentados.
Essa discussão está mais intimamente ligada à estrutura dos grupos
políticos ou econômicos que controlam o poder, ou seja, a uma elite política que se
mantém no comando dos partidos e que conseguem se adaptar, se mantendo no
poder e cumprindo uma exigência legal que é a participação de mulheres na política.
Muitas dessas mulheres não representam renovação se levarmos em consideração
que pertencem a famílias ou grupos políticos que sempre estiveram no poder,
controlando as instâncias dos partidos e os espaços de decisão.
Em uma análise mais detida do problema conseguimos enxergar que essa
prática, apesar de não ferir a lei, de certa forma camufla uma situação que
aparentemente vem favorecendo uma maior participação na política como uma
forma de equilibrar as forças entre homens e mulheres, mas que, na verdade, vem
favorecendo a manutenção do poder nas mãos de certos grupos políticos, apenas
com uma nova composição. Mantendo, dessa forma, o poder nas mãos dos mesmos
grupos que partilham dos mesmos valores e interesses.
medida.
O fato é que, independente de ser contra ou a favor, a assunto é motivo de
polêmicas que dividem, não só as mulheres, mas toda a sociedade.
O objetivo da escolha deste ponto para a entrevista se deu exatamente por
este fato. Entender a posição dessas mulheres acerca da necessidade de uma
maior discussão assunto, tanto pelos governos como pela sociedade em geral.
Perguntada sobre o tema aborto, a entrevistada Karina afirma ser favorável
apenas em relação às hipóteses já previstos em lei, como em casos de estupro ou
quando comprovado que não há possibilidade de o bebê se desenvolvimento.
Quanto a discussão sobre legalização ou flexibilização da legislação, afirma ser
totalmente contra pois entende que isso iria “banalizar” o aborto e ninguém ia mais
ter medo de consequências. Quando a discussão acerca do assunto a entrevistada
afirma que não há muito o que discutir, entende que não como discutir isso.
Quando entrevisto Maria, percebo que ela tem uma posição bastante
diferente acerca do assunto. Maria entende que esse é um assunto que precisa ser
discutido. No seu entender, precisa haver uma mudança de abordagem. E isso só é
possível trazendo o assunto a discussão. Nas suas palavras, “o aborto deve sair de
um viés de criminalidade e passar a um viés de política pública, de uma política
pública de saúde voltada para a mulher”.
A entrevistada afirma, ainda, não acreditar que mulher alguma seja a favor
do aborto. Mesmo quem defende a descriminalização não é a favor do aborto. O que
se defende é que, havendo uma mudança de abordagem do assunto, se tenha
também uma mudança nas políticas públicas direcionadas às mulheres, com
campanhas sérias de contracepção, de planejamento familiar. No seu entender, isso,
hoje não se pratica.
É importante notar que, considerando a realidade brasileira, o assunto
“aborto” tem sido negligenciado pelos governos. O aborto é um problema social e
que atinge todas as classes sociais, no entanto, de forma diferente e com resultados
também diferentes.
Importante contribuição na discussão do tema é apresentada por BIROLI.
Para a autora, nos debates sobre a autonomia da mulher, há uma estreita relação
42
20 Acórdão no Habeas Corpus n.124.306/RJ. Relator: MELO, Marco Aurélio de. Publicado no DJE nº
52 de 17/03/2017. Disponível em http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoPeca.asp?
id=311410567&tipoApp=.pdf. Acessado em 17/04/2017.
21 Voto do Ministro Luís Roberto Barroso no HC n.124.306/RJ . Disponível em:
http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/HC124306LRB.pdf
44
A escolha por incluir tal tema como ponto da entrevista se deu pelo fato de
ser um assunto que, assim como o aborto, tem sido evitado nos meios de discussão
pública, pelo menos como políticas de governo onde se deva discutir os problemas
da sociedade com a própria sociedade.
No que se refere à discussão nas escolas sobre sexualidade é importante
também buscar a posição das mulheres que atuam como representantes de
seguimentos da sociedade na discussão e elaboração de leis e políticas públicas.
Debates sobre se deve ou não discutir sexualidade em espaços públicos têm
sido motivo para grandes polêmicas. Enquanto movimentos ligados grupos
religiosos tentam desqualificar os que defendem esse debate, inclusive em escolas,
outros grupos alegam que tal tipo de debate não seria papel da escola. Defendem
que incumbe à família, ou seja, aos pais, essa discussão com os filhos.
Na entrevista realizada com as duas parlamentares, percebe-se essa
diferença de enfrentamento da questão.
A entrevistada Karina acredita que esse tipo de discussão nas escolas deve
ser evitado pois não se sabe a qualificação das pessoas que irão conduzir essa
discussão. Nas suas palavras, não se sabe e não se pode ter certeza do que os
professores irão tentar colocar nas cabeças dos alunos. Afirma ainda que, na sua
opinião, o melhor espaço para se discutir sexualidade é dentro de casa, entre a
família.
Ora, a escola é um espaço de convivência entre indivíduos e, portanto, um
espaço de discussão do temas relevantes para a sociedade. A discussão dos
problemas sociais não só podem, eles devem ser discutidos nesses espaço.
Ao entrevistar Maria, quando perguntada do ponto específico da discussão
sobre sexualidade nas escolas, percebe-se que possui um entendimento diferente.
Entende que o papel da escola é fundamental para se discutir o assunto, pois os
pais nem sempre possuem uma abertura ou conhecimento adequado para tratar
desse assunto com os filhos. Para ela, isso não significa que a família não deve
discutir sobre o assunto com os filhos. É exatamente o contrário. A educação é
responsabilidade dos pais e um dever do estado. A discussão sobre sexualidade,
diversidade sexual, identidade de gênero, respeito as diferenças, combate ao
46
5 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Roberto Moreira de. Curso de Direito Eleitoral. 11ª Ed. Salvador:
JusPODIUM, 2017.
PINTO, Céli Regina Jardim. Feminismo, história e poder. Revista Sociologia Política
18 (36), Curitiba, jun. 2010, pp.15-23. Disponível
em:<http://www.scielo.br/pdf/rsocp/v18n36/03.pdf, acesso em 05/04/2017.
__________http://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2017/Marco/financiamento-e-participacao-feminina-
sao-debatidos-no-primeiro-dia-do-seminario-reforma-politica-e-eleitoral-no-brasil .
APENSO
QUESTIONÁRIO DE ENTREVISTA
Nome:
Idade/Nascimento:
Cor/raça:
◌ branca ◌ preta ◌ amarela ◌ parda ◌ indígena
Escolaridade:
Qual a sua opinião sobre cotas para grupos sociais como negros, LGBT'S?
O seu partido apoia a política de cotas por gênero para o preenchimento dos cargos
eletivos?
Qual a sua opinião sobre legalização do aborto? O assunto deveria ser tratado
como sendo de saúde pública? Porque? Quais as consequências disso?