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1. Justificativa e objetivos
Neste módulo você aprenderá sobre a importância de um
atendimento mediado às pessoas em situação de rua, aprenderá
sobre o que é proteção social e sobre as instituições que fazem
rede de atendimento para esta população, como o Centro de
Referência Especializado de Assistência Social – CREAS e o
Centro de Referência Especializado para População em
Situação de Rua – Centro Pop. Ficará sabendo como orientar
pessoas em situação de rua para obtenção dos documentos
básicos e para fazer o cadastramento no Cadastro Único para
Programas Sociais do Governo Federal.
Fonte: https://www.freepik.com/
Ao conclui-lo, você estará apto a:
Fonte: https://br.blastingnews.com/sociedade-opiniao/2017/07/moradores-de-rua-uma-questao-
social-001863535.amp.html
A atuação cotidiana dos profissionais envolvidos na rede de atendimento e garantia de
direitos requer uma constante mediação, seja entre as pessoas atendidas e as
possibilidades de atendimento, seja em relação as possibilidades de serviços que têm a
oferecer, ou mesmo para solucionar eventuais percalços surgidos. A mediação é uma via
que possibilita ao profissional dar objetivo à sua prática profissional e, ao mesmo tempo,
se realizar enquanto ser social.
A pessoa que está em situação de rua pode chegar até os serviços de atendimento com
diversas demandas como falta de documentos, desemprego, conflitos familiares,
problemas com a justiça, problemas crônicos de saúde, ou mesmo apenas fome e sede.
Neste encontro entre quem precisa de assistência e quem trabalha para provê-la é
possível que as coisas não saiam tão harmoniosas como deveriam. Contudo, durante a
realização dos serviços os profissionais precisam perceber como os atendimentos são
extremamente atravessados pelas contradições do sistema opressivo no qual toda
sociedade vive.
Para pensar sobre isso veja o exemplo (fictício) do caso de atendimento de Roberta por
uma equipe da Secretaria de Assistência Social da prefeitura do Rio de Janeiro:
Roberta tem 28 anos, aos 12 após uma briga com a mãe fugiu de casa e desde então
está nas ruas. Hoje vive com os três filhos, uma menina de 6 anos, um menino de 4 anos
e outro de 2 anos entre os bairros da Lapa e Centro do Rio de Janeiro. O pai de duas das
crianças foi assassinado e o do menino mais novo a abandonou recentemente. Para
manter a si e aos filhos Roberta recolhe materiais recicláveis despejados todos os dias
pelos escritórios do Centro, mas também, quando necessário, atua distribuindo drogas
nas noites da Lapa. Em alguns momentos consome pequenas quantidades.
É neste bairro que ela tem sempre tem contato com a equipe da Secretaria Municipal de
Assistência Social quando estão lá para oferecer atendimento, estes encontros entre
Roberta e a equipe da secretaria sempre acontecem com alguma confusão porque
Roberta reage com agressividade quando questionada por algo e quando tentam levá-la
para o abrigo, por ter receio de ficar separada dos filhos.
Clarissa, uma das assistentes sociais, chamou a atenção da equipe para o fato de que
estavam agindo com grande preconceito em relação a Roberta quando a julgavam por
usar drogas próxima aos filhos, que não conheciam as condições de vida dela para além
do que estavam vendo no momento, quando na verdade sua tarefa deveria ser a de
entender as causas das atitudes dela para oferecer um atendimento mais humanizado.
Era necessário, segundo esta assistente social, um olhar de cuidado para com Roberta,
uma forma de abordagem mediada para a criação de vínculos de confiança .
A equipe concordou com a avaliação e pactuou que buscaria formas de ser mais
receptiva com Roberta para lhe dar a chance de falar sobre si e as situações de violências
e privações pelas quais passa.
Quando chegou o dia do atendimento todos estavam preocupados sobre como seria. Ao
chegar perto da equipe Roberta se mostrava um pouco arredia até que Clarissa se
aproximou e puxou assunto sobre o boné que um dos filhos de Roberta usava, durante a
conversa a moça foi se abrindo para o diálogo, a assistente social aproveitou para
explicar a respeito do cadastramento no Cadastro Único para Programas Sociais do
Governo Federal (CadÚnico) para que Roberta pudesse ser incluída em programas
sociais o que lhe daria acesso aos diversos serviços socioassistenciais. Aproveitou
também para conferir a documentação dos filhos de Roberta e percebeu que uma das
crianças ainda não tinha certidão de nascimento.
A certidão da criança foi solicitada nos dias que se seguiram, o cadastramento foi feito e
Roberta segue sendo atendida pela equipe. Em alguns momentos há divergências, mas a
relação tem sido amistosa e os direitos sociais dela têm sido atendidos.
O que a equipe fez foi uma ação muito importante para todos os profissionais que se
dispõem a trabalhar no atendimento (assistentes sociais, enfermeiros, médicos,
educadores sociais, professores etc), eles tiveram uma postura de humildade e se
interrogaram sobre suas ações. Ao se abrirem ao encontro com a realidade de Roberta
reorganizaram a relação de hierarquia que existe entre ela e eles.
Atuar em uma posição mais simétrica em relação às pessoas atendidas, respeitar seu
tempo, abrir mão dos rótulos para defini-las, agir de modo a conciliar suas demandas com
os serviços possíveis é tarefa dos profissionais e permite identificar as vulnerabilidades a
serem resolvidas e lhes conduz ao caminho da autonomia.
Como foi visto no item anterior um atendimento mediado e humanizado contribui para o
melhor aproveitamento e inclusão das pessoas em situação de rua nos serviços
disponibilizados pelo Estado.
Para consolidar a ideia de proteção social em 1993 foi promulgada a Lei Orgânica da
Assistência Social (LOAS) – Lei nº 8.742/9349 – que define a assistência social como uma
política de seguridade social, um direito de todos os cidadãos e um dever do Estado
brasileiro, que tem a obrigação de universalizar os direitos sociais.
A LOAS ao longo de mais de vinte anos
de sua promulgação tem fundamentado
a assistência social através da Política
Nacional de Assistência Social e do
Sistema Único de Assistência Social
(SUAS). O SUAS é quem dá
organicidade à política nacional de
assistência social, concebido como um
sistema público não contributivo,
descentralizado, participativo e que
corresponsabiliza o governo federal,
estados, municípios e distrito federal,
sua função é organizar e gerir as ofertas
de serviços, programas, projetos e
benefícios da política de assistência Fonte: https://www.dgabc.com.br/Noticia/1935076/grande-abc-tem-
social em todo país. Ele se divide em ao-menos-302-pessoas-em-situacao-de-rua
três níveis de proteção social: básica,
especial de média complexidade e especial de alta complexidade.
A População em Situação de Rua pode ter seu atendimento realizado em vários serviços
tipificados dependendo de sua demanda ou violação de direito sofrida, porém, quatro
serviços têm foco ou exclusividade no atendimento a este público:
Serviço Especializado de Abordagem Social: Serviço ofertado de forma
continuada e programada com a finalidade de assegurar trabalho social de
abordagem e busca ativa que identifique, nos territórios, a incidência de trabalho
infantil, exploração sexual de crianças e adolescentes, situação de rua, dentre outras.
Alguns de seus objetivos são: construir o processo de saída das ruas e possibilitar
condições de acesso à rede de serviços e a benefícios assistenciais e promover
ações para a reinserção familiar e comunitária. Unidade: Centro de Referência
Especializado de Assistência Social (CREAS), Centro de Referência
Especializado para População em Situação de Rua - Centro Pop ou Unidade
Específica Referenciada ao CREAS.
Para conhecer mais sobre os Centros POP e como se dá sua implementação leia a
cartilha de Orientações Técnicas disponível em:
http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Cadernos/orienta
coes_centro_pop.pdf
Para conhecer mais sobre o CREAS acesse a cartilha com orientações sobre o
serviço em:
https://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/cartilhas/pergun
tas-respostascreas.pdf
Está expresso na Declaração Universal dos Direitos Humanos que toda pessoa tem direito à
identidade. O Código Civil brasileiro em seu artigo 16 diz que todo cidadão brasileiro tem
direito a um nome, do qual fazem parte prenome e sobrenome. Este direito humano é o
primeiro para o exercício da cidadania que é garantido para as pessoas em situação de rua.
Após o registro em cartório todos recebem uma certidão de nascimento, nela consta o nome,
sobrenome, filiação, local de nascimento e nacionalidade da pessoa. É de posse de sua
certidão de nascimento que o cidadão pode requerer outros documentos básicos que lhe
permitirão participar das eleições, trabalhar com registro na Carteira de Trabalho, estudar,
realizar casamento civil e se cadastrar em programas sociais.
A seguir é apresentado um roteiro para a obtenção do registro civil, da certidão de
nascimento e demais documentos básicos.
Onde
Cartório de Registro Civil de Pessoas Naturais.
solicitar?
Carteira de Onde
Posto de Identificação Civil.
Identidade solicitar?
(RG)
Cópia e original ou cópia autenticada dos documentos
abaixo, de acordo com a condição do solicitante:
• Pessoas solteiras: Certidão de Nascimento.
• Pessoas casadas: Certidão de Casamento.
O que • Foto realizada gratuitamente nos postos.
precisa • Original e cópia ou cópia autenticada do CPF e/ou
apresentar? PIS/PASEP. Apresentar somente quando desejar a
inclusão dos respectivos números na Carteira de
Identidade;
• A 1ª via é gratuita, a 2ª via é emitida mediante o
pagamento de taxa, cuja isenção pode ser obtida
através da Defensoria Pública.
Cadastro de GRATUITO: Unidades da Receita Federal ou pelo site
Pessoa www.receita. fazenda.gov.br; ou entidades públicas
Física (CPF) Onde conveniadas.
solicitar? COM TAXA: Também é possível emiti-lo em agências
dos Correios, Banco do Brasil e Caixa Econômica
Federal.
Maiores de 16 anos:
• Documento de Identidade com foto (RG, CNH, etc.).
• Título de Eleitor ou protocolo de inscrição fornecido
pela Justiça Eleitoral.
• Obrigatório apenas para maiores de 18 anos e
menores de 70 anos.
O que Menores de 16 anos, curatelados, tutelados ou sujeitos
precisa a guarda judicial:
apresentar
• Documento de Identidade da pessoa a ser inscrita
contendo a naturalidade, data de nascimento e
filiação (ex. Certidão de Nascimento; RG).
• Documento de identificação de um dos pais, curador,
tutor ou guardião, conforme o caso.
• Documento judicial que comprove a curatela, a tutela
ou a guarda do menor, incapaz ou interdito.
Título de Onde
Eleitor Zona eleitoral responsável pela área onde reside.
solicitar?
Título de • Carteira de Identidade ou certidão de nascimento ou
Eleitor casamento ou certificado de quitação do serviço
militar.
O que • Se eleitor do sexo masculino, deverá também
precisa apresentar o comprovante de quitação com o serviço
apresentar militar (de 1º de julho do ano em que completar 18
anos até 31 de dezembro do ano em que completar
45 anos)
A emissão é gratuita.
Certificado
de
Reservista
Órgão de Serviço Militar como a Junta de Serviço
(apenas Onde
Militar, Delegacia de Serviço Militar ou a Circunscrição
para solicitar?
de Serviço Militar mais próxima de sua região.
homens
maires de
18 anos)
https://drive.google.com/open?id=1CyGW19R90gg0u9OjsPQnG3nmNizbhmmI
Para dicas sobre como tirar a documentação básica acesse a cartilha “A Tutela da
População em Situação de Rua” do Ministério Público do Rio de Janeiro, disponível
em:
http://www.mprj.mp.br/documents/20184/150562/cartilha_tutela_populacao_situaca
o_rua_para_grafica_2.pdf
http://mds.gov.br/assuntos/cadastro-unico
Há ainda para a população em situação de rua um formulário suplementar que deve ser
preenchido, nele devem constar:
Seus dados de identificação;
Qual local onde costuma dormir;
Há quanto tempo está na rua;
Quais os principais motivos que o/a levaram àquela situação;
Há quanto tempo reside no município;
Se possui relações familiares;
Se participa de atividades comunitárias;
Se tem acesso a serviços da Assistência Social e da Saúde;
Informações sobre trabalho e estratégias utilizadas para obter rendimentos.
6. Guarde na memória!
7. Referências Bibliográficas
BRASIL. Ministério dos Direitos Humanos. Abordagem Policial sob a Ótica dos Direitos
Humanos. Brasília: MDH, 2018.