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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

ESCOLA DE EDUCAÇÃO FÍSICA, FISIOTERAPIA E TERAPIA OCUPACIONAL


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO INTERDISCIPLINAR EM ESTUDOS DO LAZER

O Pão que eu compartilho: A alimentação como prática de lazer

Linha de Pesquisa 1: Identidade, Sociabilidades e Práticas de Lazer


Uma pequena introdução sobre o pão

Tão antigo na história da humanidade, a mistura de água e farinha já matou a fome de muitas
pessoas pelo mundo. Tão comum e presente em nossas mesas, em diversos formatos e sabores que
muitas vezes não percebemos que o pão é história e que sua presença ajudou a formar a cultura
alimentar do povo brasileiro e de outros povos pelo mundo. De acordo com Maria Ramos,
pesquisadora da InVivo – FioCruz, a história do pão é tão antiga que é até difícil dizer, com
precisão, quando e como ele apareceu. Historiadores, no entanto, estimam que o pão tenha surgido
há cerca de 12 mil anos, juntamente com o cultivo do trigo, na região da Mesopotâmia, onde
atualmente está o Iraque. De início, provavelmente, o trigo era apenas mastigado. Só depois, ele
passou a ser triturado com pedras e transformado em farinha. O primeiro pão assado em forno de
barro foi há 7000 a.C. no Egito, onde, mais tarde, descobriram o fermento. O pão chegou à Europa
em 250 a.C., sendo preparado em padarias, mas, com o declínio do Império Romano Ocidental,
esses estabelecimentos fecharam e o pão teve de ser feito em casa.

Heinrich Eduard Jacob, intelectual judeu alemão, ficou cativo no campo de concentração de
Dachau, na Alemanha, até que um tio americano conseguisse libertá-lo, em 1939. Refugiou-se
primeiro na Inglaterra e depois obteve asilo nos Estados Unidos. Lá escreveu Seis Mil Anos de Pão,
publicado originalmente em 1944. Segundo sua pesquisa, os agricultores das margens férteis do
Nilo conseguiram cultivar o trigo em safras regulares. Eles perceberam que, além de uma papa, o
cereal fornecia uma massa que, levada ao forno, resultava num alimento saboroso e nutritivo.
Conhecedor e estudioso de Heinrich Jacob, o professor de arqueologia e história antiga da
UNICAMP, Pedro Paulo Funari, afirma em seu artigo publicado na revista Aventuras da História,
na edição de 2019 que os cereais foram domesticados pelo homem no Egito e na Mesopotâmia na
mesma época. De acordo com seus estudos, o processo de levedura da massa, a fermentação, tardou
algum tempo para ser dominado. Os egípcios perceberam que, se deixassem a massa "descansar"
antes de assá-la, isso a fazia crescer e, se parte dela fosse acrescentada a outra massa, ela a faria
crescer mais. De acordo com o professor, tão logo isso aconteceu, os egípcios passaram a comer o
pão assado com frutas como figos e tâmaras e, mais tarde, com azeite ou azeitonas, quando
estabeleceram contatos com outros povos do Mediterrâneo, como os gregos. (FUNARI, 2019).

À medida que os impérios prosseguiram com a invasão de terras, o pão foi chegando em mais
territórios e consequentemente ganhando a identidade desses territórios. Atualmente, são
incontáveis as variedades de pães que existem no mundo, cada um com sua especificidade e com a
identidade de quem o produziu.
No Brasil, o mais popular é o pão feito de farinha, sal, água, açúcar, gordura e fermento, conhecido
em cada região por um nome diferente: Na capital do estado de São Paulo, este pãozinho é
conhecido como pão francês. No Ceará, pão carioquinha., no Rio Grande do Sul, cacetinho, em
Sergipe, pão jacó. Em Minas Gerais é conhecido como pão de sal, em Manaus e no Piauí chamam
de massa grossa. Por fim, no Pará dá-se o nome de pão careca. E curiosamente, o denominado pão
francês aqui no Brasil, o que muitas vezes por dedução pode nos fazer pensar que a origem da
receita desse pão advém da França, é chamado de pão brasileiro em Portugal.

A presença do pão na mesa da(o) brasileira(o) no café da manhã ou como acompanhamento em


refeições ou em lanches esporádicos é frequente e até diária. Nossa memória afetiva pode ser
acionada quando sentimos o cheiro de pão que acabou de sair do forno na padaria, quando sentimos
sua temperatura ao manuseá-lo e quando enfim o degustamos. Podemos estar sozinhos ou na
presença de outras pessoas, esta mistura de farinha e água além de já ter matado a fome de muita
gente também proporciona prazer, possibilita a reunião de pessoas em prol da degustação e de uma
boa companhia. Assim como a nomenclatura do pão nos auxilia em descobrir em qual região ele é
consumido, os acompanhamentos consumidos junto ao pão também dizem muito sobre uma
determinada comunidade ou região, demarcando assim um território . O pão com manteiga na chapa
servido com café em diversas padarias em Minas Gerais ou o famoso lanche de pão com mortadela
do Mercado Municipal de São Paulo. Uma simples mistura de água e farinha que já matou a fome
de muita gente pode ser uma excelente forma de exercer a criatividade, potencializar as identidades
de cada sujeito, exercitar a sociabilidade e uma forma de retomar as práticas dos nossos
antepassados, mantendo viva as identidades culinárias de cada região e fortalecendo hábitos
alimentares regionais.

Uma conversa sobre alimentação como prática de lazer em ambientes escolares

Para essa proposta de pesquisa e reflexão será necessário compreender que a alimentação é mais do
que a ingestão de nutrientes. A ideia de comida é resultado e representação de processos culturais
que preveem a domesticação, a transformação, a reinterpretação da natureza por diferentes povos.
Comer é algo trivial, primitivo e vital, comum a todas e todos. Mas o ser humano desenvolveu uma
forma de socialização que permite a superação do simples naturalismo deste ato: a reunião de
indivíduos para compartilhar da alimentação. Assim, a comida, banal por sua presença cotidiana,
converte-se em ato sociológico: a refeição (SIMMEL, 2004). De acordo com a fala da nutricionista
Marle Alvarenga no Seminário Internacional Conexão Comida: Saberes e Práticas na Alimentação,
produzido pelo SESC, o consumo de alimentos ultraprocessados associado às questões de
desigualdade sociais tem nos distanciado dos rituais alimentares que consistem por exemplo em
cozinhar a própria comida, compartilhá-la com outras pessoas, comer sozinho com a atenção
voltada para aquele momento, experienciando o momento. Cada vez mais, na atualidade, a nossa
relação com a alimentação está relacionada com a simples ingestão de calorias e nutrientes e
também no que esta nutricionista define como Desvalorização do Comer que é basicamente o que
se ouve cotidianamente nas convivências: “eu como o que der, quando der e se der”. O alto
consumo de alimentos ultraprocessados pelas classes mais baixas da nossa população está
claramente ligado ao marketing da indústria alimentícia, no momento que esta indústria oferece à
população um produto similar a um processo in natura por um preço muito menor. Um exemplo
disso, seria a substituição de carnes in natura pelos chamados steaks, que são misturas de restos de
carnes, gorduras, conservantes, aromatizantes, entre outros ingredientes, em formato de bife. Dentro
dessa lógica, uma trabalhadora brasileira de regime CLT, que precisa cumprir uma jornada de
trabalho de oito horas diárias para receber um salário mínimo sem benefícios além de cumprir uma
jornada de trabalho doméstico (jornada dupla de trabalho) que consiste em cuidar da casa, dos filhos
e de sua alimentação, consegue gastar um longo tempo preparando a comida e consegue dispor de
um valor consideravelmente alto para comprar a proteína in natura?

Refletir sobre a alimentação como prática cultural e de lazer pode ser extremamente importante para
a tomada de consciência sobre o papel político da alimentação no cotidiano da população, além de
ser uma proposta de se reconectar com as práticas dos nossos ancestrais, tentando de alguma forma
a conquista de uma autonomia na hora de escolher o que será servido na mesa. O século XXI,
marcado pelas modernizações, pelo avanço das tecnologias, pelo consumo das tecnologias, pela
rapidez da informação, pela rapidez de acontecimentos e principalmente marcado majoritariamente
por uma sensação de um tempo que passa rápido demais e que vivemos cada vez menos. A causa
dessa sensação de angústia pode estar relacionada com o que o professor Jorge Larrosa defini como
experiência:

A experiência é o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca. Não o
que se passa, não o que acontece, ou o que toca. A cada dia se passam muitas
coisas, porém, ao mesmo tempo, quase nada nos acontece. Dir-se-ia que tudo
o que se passa está organizado para que nada nos aconteça. Walter Benjamin,
em um texto célebre, já observava a pobreza de experiências que caracteriza
o nosso mundo. Nunca se passaram tantas coisas, mas a experiência é cada
vez mais rara. (LARROSA, 2002, p.21)

Cada vez mais, opta-se por desembalar os alimentos, os quais não fazemos a menor ideia de como
foram produzidos e em quais condições foram produzidos. E com a popularização dos aplicativos
de delivery, com um único clique o sujeito pode ter toda uma refeição em sua mesa, seguindo a
mesma lógica anterior de não saber como essa refeição foi produzida e em quais condições. É
necessário entender que o fato de estarmos inseridos em um modelo econômico capitalista contribui
bastante para que optemos por esse tipo de alimentação. Segundo o economista Valter Palmieri Jr.
(2017), nestes últimos anos o aumento da renda das famílias brasileiras possibilitou o aumento do
consumo de alimentos industrializados, e por mais que haja conhecimento que o consumo de alguns
desses alimentos seja prejudicial à saúde, eles continuam ganhando as mesas das pessoas. O
capitalismo gera massificação, mas também visa lucrar por meio da diferenciação. E se utiliza de
uma lógica social que é a seguinte: Nossa sociedade é muito desigual, e o consumo serve muitas
vezes para nos diferenciar, diferenciar uns dos outros, o consumo cria identidade. Então, se nas
fotos de almoço de domingo do meu chefe, há uma Coca-Cola, o meu desejo, segundo essa lógica é
de que no meu almoço de domingo também haja Coca-Cola, desta forma, de alguma maneira,
mesmo que muito singela, eu estou me equiparando a ele. O consumo cria identidade sociais, ao
passo de que ao ver um sujeito sentado em uma lanchonete tomando café com açúcar demerara
orgânico, isso já traz inúmeras informações sobre a pessoa. O nosso sistema cultural é marcado pela
hierarquização social, a desigualdade não é apenas em nível de renda, ela também está no nível do
consumo.
A ampliação da diferenciação social ocorre no capitalismo contemporâneo através da dinâmica da
produção e consumo de signos (significantes sociais). Esse movimento é determinado pela lógica da
acumulação de capital, que necessita do consumo como força produtiva, expandindo a desigualdade
na esfera cultural e criando constantemente novas formas de segregação social por meio da maior
segmentação dos mercados. Nesta proposta de pesquisa, entende-se que a experiência como uma
possibilidade de romper com essa lógica de consumo apresentada, por meio de vivências outras por
meio das práticas artísticas, culinárias e de lazer.

Experienciar é colocar-se em outro tempo, é devagar-se na vivência. Saborear tudo com muita
calma, sem julgamentos e opiniões demasiadas. É como acordar no domingo de manhã, no campo,
e comer um bolo de fubá sentindo a brisa fresca batendo no rosto e causando um contraste de
temperaturas junto ao café quente e ao bolo que saiu do forno há pouco tempo. A experiência pode
ser o café da manhã no campo, junto à companhia (que compartilha o pão), da qual nos
lembraremos por muito anos. Mas, a experiência não pode ser a refeição que comemos rapidamente
sem sentir seu sabor, sem saber como foi feita num típico dia de semana do mundo moderno. É
claro que seria um equívoco se não levasse em consideração todas as questões que afastam as
pessoas das experiências, e dissesse que tudo é uma questão de escolha . É importante salientar que
a falta de tempo, instaurada por este sistema capitalista, também afasta as pessoas da experiência,
conforme já dito anteriormente. Bem como, a falta de condições financeiras cria barreiras para
acessar determinadas experiências. A cena do filme "Tempos Modernos", onde Charles Chaplin
repete os movimentos que eram necessários para realizar seu trabalho de maneira ininterrupta,
fazendo uma alusão a uma máquina, é perfeita para definirmos o que este sistema no qual estamos
inseridos faz conosco, nos transforma em humanos-máquina.
Nessa perspectiva, a alimentação humana pode ser entendida enquanto um processo de
transformação de natureza em humanidade, extrapolando sua faceta meramente química, de
absorção de nutrientes, e física, de simples apropriação da natureza sob a forma de alimentos,
transformando o processo alimentar em ritual de criatividade, partilha, carinho, amor, solidariedade
e comunhão entre seres humanos e natureza, permeado pelas características culturais de cada
agrupamento humano (VALENTE, 2002).

Esta proposta de pesquisa tem como foco compreender como a alimentação em ambientes escolares
pode ser adotada e reconhecida como prática de lazer por meio da elaboração e proposição de
atividades que envolvam experiências lúdicas, artísticas e culinárias nestes ambientes. Sabendo da
dificuldade de romper com a lógica de consumo que foi apresentada acima é necessário que antes
de propor um momento de criação, como uma oficina de pães, por exemplo, é necessário
contextualizar todo este processo, propor oficinas com formato de roda de conversa, para que se
possa inclusive entender quais são as particularidades daquele grupo de estudantes, como é que o
consumo acontece naquele território. Propõe-se como possibilidade de registro dessas atividades,
que serão desenvolvidas e elaboradas junto ao orientar, a escrita dramatúrgica, esta, se apresenta
como como uma forma diferenciada de registro, uma forma que talvez consiga possibilitar a
expressão variadas de significados e símbolos das práticas realizadas, além do mais, como forma de
manter uma memória dessas atividades realizadas, propõe-se que os registros das atividades,
escritos pelos participantes, sejam aglutinados e trabalhados para que possam dar origem a um
livreto de receitas e relatos, proposta que será melhor apresentada a seguir. Buscar-se-á no momento
da pesquisa desenvolver tais atividades com estudantes do Ensino Médio de 15 a 18 anos e com
estudantes da Educação de Jovens e Adultos de uma mesma instituição escolar pública. A
necessidade de desenvolver as atividades com estudantes de diferentes faixas etárias inseridos na
escola justifica-se pela possibilidade de compreender as diferenças nas práticas alimentares dos dois
grupos de estudantes, as relações estabelecidas com a alimentação, os rituais alimentares de cada
público de acordo com cada geração, por meio de uma análise comparativa. Além do mais,
compreende-se aqui a importância de construir um pensamento em que as experiências artísticas e
culinárias possam ser reconhecidas como práticas de sociabilidade, dentro da perspectiva que
conceitua o lazer enquanto necessidade humana e dimensão da cultura (GOMES, 2014).

Objetivo Geral

Promover experiências artísticas e culinárias lúdicas em ambientes escolares e investigar que


relações se estabelecem entre a alimentação, a arte e o lazer.
Objetivos Específicos

Investigar e perceber se são estabelecidas relações entre estudantes e alimentação no ambiente


escolar e apontar quais são elas.

Possibilitar a experiência culinária e artístico-teatral dos estudantes por meio de oficinas de criação
que evidenciem um diálogo entre a comida e a arte.

Construir oficinas de criação culinária e dramatúrgica calcadas na pedagogia da autonomia


valorizando o saber de cada sujeito participante.

Estabelecer as possíveis relações das práticas culinárias com a cultura e com o lazer, por meio da
análise das experiências propostas e da referência bibliográfica.

Construir um livreto de receitas e relatos com base nas criações dos estudantes possibilitadas pelas
oficinas, utilizando o gênero dramatúrgico como técnica de escrita.

Justificativa

Como apresentado no início deste texto, os hábitos de alimentação dos sujeitos, assim como outros
comportamentos sociais estão diretamente associados ao sistema econômico no qual estes sujeitos
estão inseridos. O consumo de alimentos ultra processados associado às questões de desigualdade
sociais tem nos distanciado de práticas alimentares que consistem, por exemplo, em cozinhar a
própria comida ou de cozinhar e comer com os outros. Além do mais, a indústria alimentícia utiliza
de duas estratégias para continuar promovendo esse consumo: massificação e diferenciação. As
desigualdades sociais são reforçadas à medida que esta indústria promove a diferenciação por meio
do consumo. E este consumo funciona como uma linguagem, que comunica signos e símbolos
existentes na sociedade capitalista, agrupando os indivíduos através da capacidade de manipulação
dos significados construídos por meio da produção e consumo capitalistas e que tem na publicidade
um importante mecanismo para veicular e difundir padrões e hábitos de consumo. Dentro desse
universo do consumo, os alimentos possuem a peculiaridade de serem mercadorias que participam
da construção energética, nutricional e cultural de nosso corpo, sendo por isso uma mercadoria
especialmente associada à construção da identidade. (PALMIERI, 2017). Esta pesquisa
compreende a importância de refletir sobre essas questões e propor experiências artísticas e
culinárias que possibilitem o desenvolvimento de uma forma outra de se relacionar com a
alimentação e assim contribuir para a construção de uma identidade outra, que paute a alimentação
como experiência cultural e não como consumo ou marcada pelo nutricionismo1 (2021), bem como
1
A palavra Nutricionismo foi criada pelo pesquisador Gyorgy Scrinis, professor associado de política e diretrizes
alimentares na Escola de Agricultura e Alimentos da Faculdade de Ciências Veterinárias e Agrícolas, na Universidade
de Melbourne, na Austrália. Nutricionismo é fusão das palavras “nutrição” e “reducionismo” este fenômeno acontece
quando encaramos os alimentos apenas como fontes de nutrientes e calorias.
refletir com os sujeitos participantes dessas experiências sobre o impacto que as mesmas tiveram na
maneira como se relacionam com a alimentação. Aliado ao pensamento que comida é mais do que
consumo, defende-se também a arte como experiência e o lazer como algo além de um momento
livre do trabalho, propondo então a reflexão da alimentação e da arte como práticas de lazer. Além
do mais, esta pesquisa visa contribuir para o campo dos Estudos do Lazer no momento que entende
que é preciso buscar compreender o lazer como uma necessidade humana e dimensão da cultura que
constitui um campo de práticas sociais vivenciadas ludicamente pelos sujeitos, estando presente na
vida cotidiana em todos os tempos, lugares e contextos (GOMES, 2011).

Trata-se aqui de investigar como a relação entre alimentação e arte como práticas de lazer, podem
transformar a maneira como lidamos com o nosso consumo, com as nossas experiências na cozinha
que aos poucos acabaram sendo substituídas por alimentos embalados porque em um comercial de
TV foi dito que isso era melhor. E por fim, contribuir para uma autonomia dos sujeitos, à medida
que se propõe a reflexão sobre o consumo e se proporciona experiências outras com a comida. Sem
a pretensão de esgotar as questões levantadas, porém na tentativa de traçar algumas linhas de
reflexão que possibilitem, não só afirmar, mas ampliar o entendimento do lazer como dimensão da
cultura e sua importância na construção das identidades sociais por meio da experiência lúdica,
compreendendo que ludicidade é uma possibilidade de expressão do sujeito criador, que se torna
capaz de dar significado à sua existência, ressignificar e transformar o mundo. (DEBORTOLI,
2002)

Comer é também ato político e, vale dizer que, novas questões têm permeado as decisões de
consumo alimentar, repercutindo em processos de produção e distribuição de alimentos, construindo
novos mercados, gerando tendências culinárias, transformando produtos e embalagens,
incorporando inovações tecnológicas, orientando políticas públicas. Assim é que temas críticos de
nosso tempo estão evidenciados no ato alimentar: comida é, entre outras coisas, meio ambiente,
cultura, lazer, arte, nostalgia, saúde e segurança alimentar.

Além do mais, esta pesquisa também visa continuar investigando as relações possíveis da arte e do
lazer, bem como contribuir para aproximação entre os profissionais, professores e investigadoras
dos dois campos de conhecimento, por meio de proposições de rodas de conversa para socialização
do andamento desta pesquisa. Pois como coloca Pimenta em sua dissertação de mestrado:

A arte e o lazer são campos amplos de produção e de atuação, cada qual com
suas especificidades, mas com muitos questionamentos e posicionamentos
comuns, apesar de um “curioso afastamento” entre pesquisadores e
profissionais das duas áreas. (PIMENTA, 2013, p.14)
Como coloca o pesquisador Victor Andrade de Melo (2007) em seu livro “Arte e Lazer: Desafios
para romper o abismo”, ainda que estes profissionais partilhem determinadas reflexões,
entendimentos e mesmo posicionamentos políticos, ainda persiste um curioso afastamento entre os
que estão envolvidos com o campo do lazer e os que atuam no campo da arte.
Assim, entende-se a importância de investigar as possíveis relações que podem ser estabelecidas
entre alimentação, lazer e arte, sem a pretensão de esgotar as questões levantadas, porém na
tentativa de traçar algumas linhas de reflexão acerca de que por meio das experiências de lazer e
artísticas, que envolvam a criação de pães e outros pratos, o grupo participante poderá desenvolver
a chamada autonomia, podendo exercitar a reflexão sobre a prática, a criação e a ressignificação dos
hábitos. Portanto, para que essa pesquisa consiga proporcionar uma reflexão acerca de como as
experiências artísticas e de lazer podem interferir nos processos de consumo, mesmo que em um
pequeno recorte social, como é o caso de uma escola, é necessário proporcionar experiências outras,
que não a de abrir o pacote de biscoito recheado. Mas de provocar a(o) própria(o) estudante a ser
protagonista de sua trajetória alimentar, buscando em sua família receitas antigas, criando pequenos
pães, tornando a própria produção e seus saberes não um fator de diferenciação social, mas um fator
de singularização, um momento onde este estudante se reconhece enquanto sujeito que possui
saberes, que possui história, e de que tudo isso tem valor, uma maneira onde a (o) sujeita (o)
consiga entender que não precisa de um biscoito recheado de determinada marca para se sentir
inserido em um determinado grupo.

Metodologia

Como coloca as autoras Christiane Luce e Maria Tereza Amaral no livro Metodologia de Pesquisa
Aplicada ao Lazer (2005), a escolha metodológica é complexa, pois cada tipo de pesquisa tem seus
limites e toda opção implicará sempre renúncias. As escolhas são limitadas e uma alternativa é
sempre uma das possibilidades, um dos olhares, e nunca detentora da validade absoluta, pois são
várias as opções de pesquisa.
Anunciado o objetivo geral da pesquisa, compreende-se que a pesquisa-ação possui procedimentos
e características que mais se adequam ao que se tem como desejo de investigação, no caso, a
alimentação como prática de lazer. A pesquisa-ação pressupõe a inserção num determinado
ambiente que se pretende investigar, de acordo com Thiollent:

Pesquisa-ação é um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e


realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema
coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou
problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo. (2011, p.14)
Em primeiro lugar, Thiollent (2011) nos diz que a pesquisa-ação é um instrumento de trabalho e
investigação com grupos, instituições, coletividades de pequeno ou médio porte, sendo assim,
encaixa-se com o desejo de que a pesquisa seja realizada em conjunto com estudantes de uma
escola. Além disso, o autor também menciona que a pesquisa-ação é vista como uma forma de
engajamento sócio-político a serviço da causa das classes populares, mais uma vez, é possível
perceber a aproximação do tipo da pesquisa com a temática proposta que já foi explicitada na
introdução e na justificativa.

Ainda sobre a pesquisa-ação, o autor apresenta os principais aspectos desta estratégia metodológica,
dentre eles, ressalto neste momento três que visualizo o diálogo com o trabalho proposto aqui.
Ao propor minha inserção em um ambiente escolar para a construção de uma reflexão sobre
alimentação, lazer e arte junto a estudantes por meio de oficinas artísticas e culinárias, fazendo jus
às referências teóricas que orientarão esta pesquisa, professor Paulo Freire e professor Jorge
Larrosa, é importante mencionar que durante todo o processo de vivência no âmbito escolar, as e os
estudantes participarão de todo o processo desta pesquisa, desde a proposta inicial de discussão
sobre alimentação até a socialização do livreto de receitas produzido em conjunto com as/os
estudantes. Para que essa participação seja alcançável é necessário uma ampla e explícita interação
entre pesquisadores e pessoas implicadas na situação investigada e um acompanhamento das
decisões, das ações e de toda a atividade intencional dos atores da situação, estes são dois aspectos
em diálogo com a ação.
Outro aspecto citado, diz respeito ao objeto de investigação, ele não é constituído pelas pessoas e
sim pela situação social e pelos problemas de diferentes naturezas encontrados nessa situação. Neste
momento é importante que a investigação componha pessoas sem as quais esta pesquisa é inviável,
entretanto, é necessário manter o olhar direcionado aos problemas relacionados à temática que
afetam este grupo, que no caso, estamos nos referindo a estudantes de escola pública. Para isso, será
necessário lançar mão de uma análise histórico-social do ambiente escolar, bem como do contexto
dos sujeitos presentes ali, que estarão participando da pesquisa.
Por meio das conversas com estudantes, das oficinas e dos momentos de degustação dos pratos
criados será possível refletir sobre as situações-problema que esta pesquisa apresenta, como o
consumo excessivo de alimentos ultraprocessados e a ausência do momento-ritual da preparação e
da degustação dos alimentos em coletivo ou individualmente, e então estabelecer de maneira
conjunta formas possíveis de mudar este cenário, dentro das possibilidades socioeconômicas locais
e dos desejos que vierem a ser apresentados pelas estudantes, esta ação corrobora com mais dois
aspectos mencionados pelo autor: que o objetivo da pesquisa-ação consiste em resolver ou pelo
menos esclarecer os problemas da situação observada e a pesquisa não se limita a uma forma de
ação (risco de ativismo): pretende-se aumentar o conhecimento dos pesquisadores e o conhecimento
ou o ”nível de consciência” das pessoas e dos grupos considerados.

Quanto aos instrumentos de pesquisa considerando os aspectos da pesquisa-ação, pretende-se a


proposição de oficinas2 artístico-culinárias que serão realizadas com os estudantes de uma escola
pública, para a elaboração destas oficinas será utilizado alguns princípios da pedagogia da
autonomia. Entende-se como pedagogia da autonomia o processo formativo que valoriza o saber
da(o educanda(o), a(o) respeita como sujeito e não como um ser que precisa apenas absorver as
informações prestadas, e não se coloca conhecimento técnico como maior que os outros
conhecimentos que compõem a formação do ser sociocultural. Ainda, o professor Paulo Freire diz:
ensinar não é transmitir conhecimento (FREIRE, 1996, p.21). Compreende-se também que essas
oficinas podem ser identificadas como práticas de educação não-formal e que devido a forma como
se organizam, se aproximam com mais facilidade da proposta da pedagogia da autonomia. Para que
se realize a proposta de autonomia é importante que a pesquisadora proponente respeite os saberes
existentes nos participantes, sempre entendendo que ensinar não é transferir conhecimento
meramente cabendo compreender o lugar do compartilhar e o de propor experiências estéticas,
reconhecendo e respeitando os limites e características do público participante, sempre estando
aberto ao novo, ao risco e combatendo toda forma de discriminação. Atrelado às oficinas, outro
instrumento é a avaliação das mesmas, por parte de todas e todos participantes. A prática e a
reflexão sobre a prática (ou seja, avaliar o que foi realizado) são fundamentais para que os saberes
se ampliem É o momento de refletir sobre tudo que aconteceu, sobre erros e acertos, impressões da
vivência, entre outros. A realização de uma avaliação é muito importante dentro do processo
formativo, as ferramentas para sua realização são diversas, mas nesses momentos, as mais comuns
são as auto-avaliações individuais e do coletivo participante, sendo esta a que se pretende utilizar.

Para colaborar com a coleta de dados, outro instrumento de pesquisa se fará necessário, a entrevista
semi-estruturada. A entrevista semi-estruturada, conforme apresentado pelas autoras Christiane
Luce e Maria Tereza Amaral no livro Metodologia de Pesquisa Aplicada ao Lazer (2005) é aquela
em que o/a pesquisador/a estabelece um roteiro prévio, porém flexível. Embora sejam feitas
perguntas específicas, o/a entrevistado/a possui um espaço para falar livremente, e o/a pesquisador/a
pode elaborar questões não previstas inicialmente, mas que podem ser importantes para a
compreensão de seu problema de pesquisa. A escolha da entrevista semi-estruturada parece ser a
ideal para a realização desta coleta de dados, visto que podem surgir questões, falas, não previstas
inicialmente e que podem ser de grande contribuição para a pesquisa, além do mais, sua realização
se faz necessária devido à abordagem qualitativa da pesquisa, que busca compreender um possível
2
Entende-se “oficina” como um espaço de formação, como a própria etimologia da palavra diz: lugar onde se elabora,
fabrica ou conserta algo.
fenômeno e que, portanto, precisa compreender as subjetividades e nuances que não são
quantificáveis por si só.

No momento da pesquisa tais atividades (oficinas e entrevistas)serão desenvolvidas com estudantes


do Ensino Médio de 15 a 18 anos e com estudantes da Educação de Jovens e Adultos de uma
mesma instituição escolar pública. A necessidade de desenvolver as atividades estudantes de
diferentes faixas etárias inseridos na escola justifica-se pela possibilidade de compreender as
diferenças nas práticas alimentares dos dois grupos de estudantes, as relações estabelecidas com a
alimentação, os rituais alimentares de cada público de acordo com cada geração, por meio de uma
análise comparativa. As atividades propostas por esse projeto serão apresentadas à escola anfitriã
como um projeto não-obrigatório aos estudantes, deixando às suas escolhas participar ou não,
caracterizando-as como um projeto de educação informal.

Entende-se, por fim, que esta pesquisa-ação busca gerar conhecimentos novos para avanço dos
Estudos do Lazer, por meio das experiências propostas, do registro e da reflexão das mesmas.

Referencial Teórico

Para o desenvolvimento desta pesquisa encontram-se, inicialmente, dois marcos teóricos que
servirão de pilares referencias no decorrer da investigação, são eles os processos formativos e as
experiências e as relações sociais com a alimentação, o lazer e a arte.

Processos formativos e experiências


Entende-se que a pesquisa-ação tem como aspecto a resolução de problema ou pelo menos
esclarecer os problemas da situação observada (THIOLLENT, 2011). Para tal, parece-me essencial
que os conceitos propostos dos professores Paulo Freire (1996) e Jorge Larossa Bondía (2002)
estejam presentes para refletir sobre os processos formativos sociais e as experiências
socioculturais. Percebe-se que estes dois teóricos propuseram pensamentos que atravessam os três
eixos principais desta pesquisa e possibilitam o diálogo entre eles: A arte, o lazer e a alimentação.
Percebendo estes três eixos ligados à dimensão da cultura e que eles, cada um com suas
especificidades, podem proporcionar experiências aos sujeitos. Dito isso, retornamos ao conceito de
experiência do professor Jorge Larrosa: a experiência é o que nos passa, o que nos acontece, o que
nos toca. Não o que se passa, não o que acontece, ou o que toca (LARROSA, 2002). O professor
também afirma que ter uma experiência é algo que vem se tornando cada vez mais raro, graças ao
excesso de informação. Segundo sua análise, o sujeito da informação sabe muitas coisas, passa seu
tempo buscando informação, o que mais o preocupa é não ter informação bastante, cada vez sabe
mais, cada vez está melhor informado, porém, com essa obsessão pela informação e pelo saber
(saber não no sentido de sabedoria, mas no sentido de estar informado), o que consegue é que nada
lhe aconteça. A partir disso, podemos compreender melhor quando o professor Gyorgy Scrinis
(2021) apresenta o termo nutricionismo, onde o que importa são as informações nutricionais dos
alimentos, e sua dimensão cultural e de vivência é ignorada. Tal questão também atravessa a arte e o
lazer, por exemplo, quando estamos em um teatro e um espetáculo está acontecendo, ou no cinema,
ou em reunião com amigos e um sujeito que está ao nosso lado desbloqueia seu smartphone, e
verifica as notificações de qualquer rede social ou confere as notícias no Google, ou abre um
aplicativo de conversas para responder alguém, este sujeito está rompendo com a experiência
proposta naquele momento pelo artista em cena, a experiência está se passando, mas não se
passando nele ou o tocando. Assim, podemos dizer, que o nosso ambiente social, seja qual for, está
repleto de possibilidades de experiências, mas que também, devido ao tempo do Online em que nos
encontramos, parte dessas experiências podem nem nos tocar, e podem se transformar para nós em
mera informação. Nos vídeos de peças de teatro que circulam na rede virtual, ali a experiência não
está presente, pois ela não pode ser entelada. Encontrar os outros, viver com os outros, vincular-se
ao acontecimento da companhia (do latim cum panis, companheiro, quem compartilha o pão) requer
demorar-se.
Podemos compreender por meio de Freire (1996) que os processos formativos e educativos, não são
apenas aqueles que acontecem na sala de aula formal. O conceito de formação deriva da palavra
latina formatĭo. Trata-se da ação e do efeito de formar ou de se formar (dar forma a/constituir algo
ou, tratando-se de duas ou mais pessoas ou coisas, compor o todo do qual são partes). Freire
criticava a ideia que aprender é transmitir saber porque para ele a missão do professor era
possibilitar a criação ou a produção de conhecimentos. Para o professor Paulo Freire (1981),
ninguém ensina nada a ninguém, mas as pessoas também não aprendem sozinhas. "Os homens se
educam entre si mediados pelo mundo", escreveu no livro Pedagogia do Oprimido. Assim, as
experiências que envolvem a arte, o lazer e a alimentação como aqui serão propostas fazer parte da
chamada educação informal, conforme apresentado ao final do trecho da metodologia, que é o
processo pelo qual durante toda a vida as pessoas adquirem e acumulam conhecimentos através das
suas experiências diárias e da sua relação com o meio, sendo esta extremamente importante para a
formação dos sujeitos por contribuírem para o pensamento crítico-social, por meio das rodas de
conversa e dos das vivências e apreciações artísticas, por meio das vivências afetuosas que ocorrem
ao longo da vida.

Relações sociais com a alimentação, o lazer e a arte.

Identificando as práticas culinárias, de lazer e artísticas como práticas culturais, entende-se a


importância de relacioná-las aqui, buscando compreender como o nosso modelo de sociedade tem
as encarado e como alguns autores e autoras problematizam tais maneiras de vivenciar essas
práticas. O professor Valter Palmieri (2017) afirma que as desigualdades sociais são reforçadas à
medida que a indústria alimentícia promove a diferenciação por meio do consumo. E este consumo
funciona como uma linguagem, que comunica signos e símbolos existentes na sociedade capitalista,
agrupando os indivíduos através da capacidade de manipulação dos significados construídos por
meio da produção e consumo capitalistas e que tem na publicidade um importante mecanismo para
veicular e difundir padrões e hábitos de consumo. Desta forma, podemos compreender como que tal
sistema econômico, se apropria da alimentação para perpetuar a diferenciação entre classes,
mantendo assim presentes as desigualdades sociais. Ainda sobre essa questão da alimentação, uma
outra forma de consumo que nos distancia das experiências alimentares é apontado pela professora
Ligia Amparo (2008) em seu livro “O corpo, o comer e a comida - um estudo sobre as práticas
corporais alimentares cotidianas a partir da cidade de Salvador”. Nesta pesquisa a autora descreve a
mídia como outro veículo de influência sobre a alimentação, desta vez, pautando os padrões
estéticos. A publicidade promove uma cultura de consumo que tem algumas vezes sido concebida
como uma anti-cultura, aberta à flexibilidade, mobilidade e ao novo. Assim como a alimentação
tem tido um papel dentro desta sociedade capitalista, Gomes (2014) comenta que o lazer constituiu
um objeto de reflexões sociológicas e passou a ser considerado por vários autores como uma esfera
típica do tempo de “não trabalho”. Portanto, a existência do que chamamos de lazer, estaria atrelada
ao trabalho. Entretanto, esta é uma visão hegemônica que necessita urgentemente ser repensada, A
autora ainda aponta o lazer como uma produção cultural humana, caracterizado por uma vivência
lúdica, este, portanto, possui diálogos com a educação, com a arte, com o trabalho, entre outras
dimensões da vida. Com base no que foi apresentado pelas autoras, podemos entender que as
relações desenvolvidas com a alimentação e com o lazer muitas vezes são desenvolvidas de maneira
funcional, ou seja, elas precisam ter alguma utilidade concreta. A alimentação precisa ser funcional
e o lazer precisa ser o momento de recarregar as energias para então voltar ao trabalho. E ainda, no
que diz respeito à arte, na tentativa de construir um diálogo entre os três eixos, o filósofo e
dramaturgo Bertold Brecht que nos apresenta o teatro como um importante mobilizador social.
Adentrando um pouco mais neste pensamento do teatro e de seu potencial mobilizador e
pedagógico, encontramos no ensaio “Teatro recreativo ou didático?” do autor Bertold Brecht escrito
em 1936, neste ensaio o autor analisa uma suposta oposição entre “aprender” e “se divertir” que não
é, ao contrário do que parece pela experiência nas instituições educacionais, uma oposição
necessária por natureza. O teatro, ( no caso deste projeto, a escrita dramatúrgica) seria inserido na
possibilidade de uma aprendizagem prazerosa, uma aprendizagem não restrita a uma faixa etária e
que não considera aqueles que têm algo a dizer superiores aos que têm algo a aprender, afinal, o
conhecimento nunca se encerra (BRECHT,1978, p. 48-49).
Ainda no que diz respeito às relações sociais com a arte, a alimentação e o lazer, serão utilizados
como referência o Guia Alimentar para a População Brasileira (2014) do Ministério da Saúde cujo o
objetivo é oferecer à população informações sobre alimentação saudável, portanto tão material se
torna valioso no momento da elaboração das oficinas culinárias, os artigos do projeto brasileiro de
jornalismo “O Joio e o Trigo” que investiga exclusivamente a alimentação e suas implicações
políticas. E os artigos e rodas de conversa do “Experimenta! – Comida, Saúde e Cultura” projeto do
SESC – SP que tem a intenção de promover a Alimentação Adequada e Saudável e ampliar a
autonomia em torno das escolhas alimentares. Além do mais, entendo estar propondo a construção
de uma relação entre três eixos que em algum momento da história da humanidade, foram tidos
como funcionais, a arte e o lazer como momento de não-trabalho e a alimentação como momento de
repor as calorias para fazer o corpo em funcionamento. A fim de contribuir para essa construção,
também serão tidos como referências trabalhos já desenvolvidos por outras profissionais da área da
educação e da culinária. Entre estes trabalhos, o projeto de convivência “Gastronomia Saudável”
desenvolvido pela LEcampina3 e cozinheira Eliziara Coutinho na Moradia Universitária da UFMG,
entre 2019 e 2020, o projeto consistia em oficinas culinárias de pizza e tortas, propondo aos
estudantes uma alternativa aos alimentos industrializados e promovendo a socialização por meio
dessas oficinas que aconteciam coletivamente.

Cronograma

Este cronograma foi estruturado levando em consideração os 24 meses referentes a duração deste
curso de Pós-Graduação, e também o Calendário Escolar da UFMG para o ano letivo de 2021, cujo
o segundo semestre se inicia no dia 13 de outubro de 2021 e finaliza no dia 25 de fevereiro de 2022.

Semestre/Etapas 2021/2 2022/1 2022/2 2023/1

Revisão Bibliográfica
Disciplinas Obrigatórias
Disciplinas Optativas
Elaboração das oficinas artístico-culinárias
Elaboração do questionário de entrevistas
Execução das oficinas artístico-culinárias
Realização das Entrevistas
Exame de Qualificação
Desenvolvimento do Livreto
Socialização do Livreto de Receitas e Relatos
Redação da Dissertação
3
O curso de Licenciatura em Educação do Campo da UFMG (Lecampo), oferecido pela Faculdade de Educação, recebe
Revisão
estudantes e redação
de diversos final sociais do campo. Criado em 2009, o curso forma discentes para atuarem,
segmentos
preferencialmente,
Defesa dacomo professores no campo. O curso funciona através do regime de alternância, isto é, através de
Dissertação
metodologia teórico-prática realizada no campo, além de aulas presenciais em janeiro e julho, no campus Pampulha da
UFMG.
Referências bibliográficas
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alimentação saudável. Normas e manuais técnicos: Brasília, 2014.
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